Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA Juliana Squizani Dutra REFEIÇÕES ALIMENTARES DE BEZERRAS DE CORTE EM FORRAGEIRAS DE ESTAÇÃO FRIA Santa Maria, RS 2017 Juliana Squizani Dutra REFEIÇÕES ALIMENTARES DE BEZERRAS DE CORTE EM FORRAGEIRAS DE ESTAÇÃO FRIA Trabalho de conclusão de curso defendido ao Curso de Zootecnia, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Zootecnia. Orientadora: Profª Dr a . Marta Gomes da Rocha Santa Maria, RS, Brasil 2017 Juliana Squizani Dutra REFEIÇÕES ALIMENTARES DE BEZERRAS DE CORTE EM FORRAGEIRAS DE ESTAÇÃO FRIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em Zootecnia, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Zootecnia. Aprovado em __ de novembro de 2017: ________________________________________ Marta Gomes da Rocha, Dra. (UFSM) (Presidente/Orientadora) ________________________________________ Fernando Ongaratto, Zootecnista (UFSM) ________________________________________ Lisiane Rorato Dotto, Zootecnista (UFSM) Santa Maria, RS 2017 AGRADECIMENTOS Meus mais sinceros agradecimentos à professora Marta Gomes da Rocha, pela confiança depositada em mim, pela orientação, ensinamentos e dedicação durante todo o período. Muito obrigada! A professora Luciana Pötter por sempre ajudar de forma tão grandiosa neste percurso. A todos os integrantes do Laboratório de Pastos & Suplementos, que de alguma forma me ajudaram, em especial ao Fernando Ongaratto, Tuani Bergoli e Paula Severo por sempre estarem ao meu lado auxiliando e pela ajuda mais que especial no TCC. Ao meu esposo Geraldo Pedrozo pela colaboração em tantos momentos, a minha mãe Lenir Dutra e meus padrinhos Leonir Melo e Valdenir Melo por não medirem esforços para me ajudar e a toda família em geral por sempre estarem de alguma forma ajudando em meu crescimento. As minhas colegas de faculdade Ana Clara, Andrea, Débora, Luiza e em nome de vocês os demais, obrigada por todos os cinco anos de coleguismo e amizade. A todos que se fizeram presente nesta trajetória me ajudando o meu sincero muito obrigada! REFEIÇÕES ALIMENTARES DE BEZERRAS DE CORTE EM FORRAGEIRAS DE ESTAÇÃO FRIA MEALS DYNAMICS OF BEEF HEIFERS ON COLD SEASON PASTURES Juliana Squizani Dutra 1 , Marta Gomes da Rocha 2 RESUMO Foram avaliadas as refeições alimentares de bezerras de corte em diferentes sistemas alimentares: pastagem de azevém (Lolium multiflorum) cv. Comum, exclusivo ou consorciado com ervilhaca (Vicia sativa) cv. Comum ou trevo vermelho (Trifolium pratense), cv. Eztanzuela 116. O método de pastejo foi o de lotação contínua, com número variável de animais para manter a altura do dossel em 15±1,5 cm. O número de refeições, o tempo de duração da refeição e o intervalo entre refeições foram calculados a partir dos dados coletados em cinco avaliações do comportamento ingestivo realizadas durante 12 horas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo de parcelas sub-subdivididas, sendo os sistemas alimentares as parcelas principais, os períodos de avaliação as sub-parcelas e os turnos de avaliação as sub-subparcelas e as bezerras foram consideradas como repetição. Quando verificadas diferenças, as médias foram comparadas pelo procedimento lsmeans. Houve interação entre sistemas alimentares × períodos de avaliação e períodos de avaliação × turnos. O intervalo entre refeições no início da utilização da pastagem foi superior à tarde. O uso de diferentes sistemas alimentares não modifica a duração das refeições enquanto o número de refeições aumenta quando o azevém é consorciado com leguminosas. Palavras-chave: Consórcio de pastagens, Lolium multiflorum, Trifolium pratense, Vicia sativa, interação planta-animal ABSTRACT The meals dynamics of beef heifers were evaluated on three different feeding systems: Italian ryegrass cv. Comum exclusive or intercropped with Vetch (Vicia sativa) cv. Comum or Red Clover (Trifolium pratense), cv. Eztanzuela 116. The grazing method was continuous stocking, with variable number of animals to maintain the sward height at 15±1,5 cm. The number of meals, its time of duration and the interval between meals were calculated from data collected during five twelve-hour evaluations of ingestion behavior. The experimental design was completely randomized in a sub-subdivided plot, the feeding systems were the main plot, the periods were the subplots, the shifts were the sub-subplots and heifers were considered as repetitions. When differences occurred, the means were compared by lsmeans procedure. We observed interaction between Feeding Systems x periods of evaluation and periods of evaluation × shifts. The interval between meals was higher in the afternoon. The use of different feeding systems is not able to modify the duration of the heifer´s meals and the number of meals increases when Italian ryegrass is intercropped with legumes. Keywords: Intercropping pastures, Lolium multiflorum Lam, Trifolium pratense, Vícia sativa, plant-animal relationship. 1 Acadêmica do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM – Brasil), autora. 2 Professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM – Brasil), orientadora. https://sites.google.com/site/florasbs/poaceae/azevem https://sites.google.com/site/florasbs/fabaceae/trevo-vermelho LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Precipitação pluviométrica e temperatura média durante o período de avaliação e medias históricas, Santa Maria/RS. ...................... Erro! Indicador não definido.3 Tabela 2 – Número de refeições (NR), duração de refeição (DR) de bezerras de corte em três sistemas alimentares: azevém exclusivo (AZ) ou consorciado com trevo vermelho (TV) ou ervilhaca (ER).. ....................................... Erro! Indicador não definido.7 Tabela 3 – Número de refeições (NR) e duração de refeições (DR) de bezerras de corte nos períodos de avaliação. ........................................... Erro! Indicador não definido.8 LISTA DE FIGURAS Fígura 1 – Representação das etapas da produção animal em pastagemErro! Indicador não definido.15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 99 2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 100 2.1 Gramínea ................................................................................................................ 100 2.1.1 Azevém (Lolium multiflorum Lam.) ..................................................................... 110 2.2. Leguminosas ............................................................................................................ 11 2.2.1Ervilhaca (Vícia sativa L.) ......................................................................................13 2.2.2 Trevo Vermelho (Trifolium pratense L.) ................................................................ 13 2.2 Interface planta - herbívoro ...................................................................................14 2.3 Comportamento Ingestivo ....................................... Erro! Indicador não definido. 3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 166 4 ARTIGO ................................................................................................................... 189 RESUMO: ......................................................................... Erro! Indicador não definido.9 ABSTRACT: ................................................................... Erro! Indicador não definido.19 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 190 MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................... 211 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 244 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 277 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 28 1 INTRODUÇÃO A área pastoril do Brasil corresponde a mais de 172 milhões de hectares (IBGE, 2007), o que nos remete para uma vasta área de produção de animal e, por conseguinte, produção de proteína. A pecuária brasileira é quase que exclusivamente baseada no “pasto”, como componente-chave do seu sistema de produção (FONSECA; MARTUSCELLO et al., 2013). Um fato a considerar é que boa parte desse sistema não produz o que poderia e nem de forma sustentável como deveria (FONTANELI et al., 2012). Há necessidade de uma intervenção no sistema, para que exista uma relação simbiótica entre a forragem e o animal, de forma que não basta pensarmos em apenas um destes fatores, é preciso correlacioná-los. O comportamento ingestivo dos herbívoros está relacionado com o manejo imposto ao pasto, e o tempo de pastejo diário desses animais é composto por várias refeições alimentares (SICHONANY, 2015). Uma refeição é definida por uma longa sequência de pastejo. Quando a refeição é interrompida por vários minutos, a refeição anterior se define, e a próxima refeição iniciará tão logo o animal inicie uma nova sequência de pastejo. O número de refeições parece ser um indicador da qualidade do ambiente pastoril (BAILEY et al., 1996). Quando se somam as refeições e suas durações ao longo do dia tem-se o tempo de pastejo diário (CARVALHO, 2005). O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é a gramínea mais cultivada para pastejo em regiões sub-tropicais quando se trata de espécies de inverno. Essa espécie permite consorciação com leguminosas como o trevo vermelho (Trifolium pratense L.) e a ervilhaca (Vícia sativa L.). Objetivou-se avaliar as refeições alimentares de novilhas de corte em pastejo contínuo sobre azevém ou azevém consorciado com leguminosas. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Gramíneas A família das gramíneas (Poaceae ou Gramineae) é uma das principais famílias na divisão Angiospermae e da classe Monocotiledoneae. Muitos dos cereais utilizados na alimentação, não só animal, mas humana, se enquadram nessa família, a exemplo do Azevém (Lolium multiflorum Lam). A raízes das gramíneas podem ser seminais ou permanentes. Estas gramíneas se dividem de acordo com o período de desenvolvimento (inverno ou verão), quanto ao período de vida (anual ou perene), sendo o seu valor nutritivo variado assim como suas exigências. No período de inverno, e com período de vida anual, podemos citar algumas gramíneas bastante conhecidas no Rio Grande do Sul como a Aveia (Avena spp.), o Azevém (Lolium multiflorum Lam), Centeio (Secale cereale L) e Triticale (X Triticosecale Wittmack) (HAHN et al., 2015). Durante o período de verão as espécies mais utilizadas são o Milheto (, Sorgos Forrageiros e o Capim Sudão. As plantas geralmente armazenam suas reservas nos locais mais perenes e as gramíneas geralmente acumulam essas reservas na base do colmo (Azevém, Aveia e espécies do gênero Panicum), nos estolões (Pangola, Grama Estrela e Pensacola) e rizomas (Bermuda e Quicuio) (FONTANELI et al., 2012). 2.1.1 Azevém (Lolium multiflorum Lam.) O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é uma gramínea anual de estação fria, de metabolismo C3, cespitosa, apresenta colmos eretos, e é oriunda da Bacia do Mediterrâneo. É uma espécie rústica e vigorosa, considerada naturalizada em muitas regiões sul-brasileiras e apresenta elevado valor nutritivo, sendo uma das gramíneas mais cultivadas no Rio Grande do Sul (FONTANELI et al., 2012) para pastejo, feno e produção de sementes. Dentre os motivos que fazem com que aumente mais a área cultivada com essa espécie são a sua capacidade de ressemeadura natural e fácil adaptação em quase todos os tipos de solo, apresentando raízes superficiais (5 a 15 cm). O valor médio do filocrono do azevém é de 125 graus-dia (CONFORTIN et al., 2010). O período de pastejo do azevém é de julho a outubro, mas se bem manejado pode chegar ao início de novembro o que resulta em uma média de 120 dias de utilização. Os ganhos médios diários em bezerras de corte em pastejo em azevém são de 0,750 a1,059 kg, com taxa de lotação entre 875,1 e 1.082 kg/ha de PC (Peso Corporal) (PILAU et al., 2004; ROSA et al., 2013). O azevém apresenta alto teor de proteína bruta e boa digestibilidade. Os teores de proteína bruta (PB) e fibra em detergente neutro (FDN) da forragem colhida por simulação de pastejo nos estádios vegetativo, pré-florescimento e florescimento são de 20,7 e 43,1; 18,6 e 49,9; 12,7 e 48,2, respectivamente (CAMARGO et al., 2012). Em pastagem de azevém, quando os animais recebem suplemento energético a taxa de lotação pode variar entre 997 kg/ha de PC (ROSO et al., 2009) a 1360,1 kg/ha de PC (ROCHA et al., 2003). Quando o azevém é manejado sob os métodos de pastejo contínuo e rotativo, foi identificada diferença nas suas características morfogênicas. Em pastejo contínuo essa espécie apresenta maior taxa de elongação, taxa de aparecimento e tempo de vida das folhas (CAUDURO et al., 2006). 2.2 Leguminosas As leguminosas são da família das dicotiledôneas, apresentam características que as diferem das gramíneas. Seu valor nutritivo é maior, tem um menor custo de produção pois reciclam o nitrogênio, reduzindo a dependência de energia fóssil (FONTANELI et al., 2012). As leguminosas forrageiras são relevantes na produtividade das pastagens, incorporando N atmosférico ao sistema solo-planta e melhorando a alimentação do rebanho. Segundo Pedreira (2001), o uso de leguminosas consorciadas com gramíneas em pastagens é vantajoso, pois aumenta a qualidade e a diversificação da dieta consumida pelos animais. Além disso, melhoram a disponibilidade de forragem pelo aporte de nitrogênio ao sistema solo por meio de sua reciclagem e transferência para a gramínea acompanhante (FONTANELI et al., 2012). A associação entre gramíneas e leguminosas é uma opção que contribui para o problema da disponibilidade e distribuição de forragem nas estações frias do ano no sul do Brasil. As misturas de espécies forrageiras anuais de inverno visam combinar os picos de produção de matéria seca atingidos em diferentes épocas, de acordo com a espécie, resultando em aumento da produção e do período de utilização da pastagem, podendo a utilização iniciar em meados de maio e se estender até novembro, com 182 dias de pastejo (ROSO et al., 1999). 2.2.1 Ervilhaca (Vicia sativa L.) A ervilhaca (Vícia sativa L.), como leguminosa anual de inverno, é a forrageira mais cultivada no Rio Grande do Sul, pois encontra ampla adaptação e responde bem em locais com clima temperado e subtropical, mas é sensível ao frio, déficit hídrico e calor. É semeada a lançoou em linha nos meses de abril a maio, podendo ser consorciada com azevém, centeio e aveia preta. A densidade de semeadura a ser usada varia de 40 a 60 kg/ha, mas quando consorciada pode ser usado 40 kg/ha de semente (FONTANELI et al., 2012). Em trabalho desenvolvido na Embrapa Trigo, com sistemas de integração lavoura- pecuária, durante três anos, sob plantio direto, na consorciação de aveia preta-azevém- ervilhaca, o ganho de peso animal não apresentou diferença significativa quanto em relação as espécies de gramíneas exclusivas (SANTOS et al., 2002). Ao avaliar a ervilhaca em solo Brunizem Avermelhado, preparado pelo sistema convencional, Aita (2001) obteve 2.527 kg/ha de matéria seca (MS). Já nos sistemas consorciados, a soma dos rendimentos de MS de aveia preta e ervilhaca comum foi similar à dos rendimentos da MS obtidos em seus cultivos isolados, com valores variando de 3,2 a 4 ton/ha de MS (BORTOLINI, 2000). Ao avaliaram o desempenho animal em pastagem de aveia com adubação nitrogenada ou consorciada com ervilhaca foi observado um ganho médio diário de 1,21 kg/dia para novilhos com peso médio inicial de 320 kg (CANTO et al., 1997). Paris et al. (2012) observaram que o teor de proteína bruta em pastagem de aveia preta, azevém e ervilhaca e aveia branca, azevém e ervilhaca, manteve-se acima de 20% e o teor de fibra em detergente neutro foi de 45,23% até 99 dias após a semeadura. 2.2.2 Trevo Vermelho (Trifolium pratense L.) O trevo vermelho (Trifolium pratense L.) é intensamente cultivado nos países de produção pecuária por ser rústico, palatável e nutritivo. O trevo vermelho é considerado uma leguminosa bienal ou perene de curta duração, mas, com verões secos, torna-se anual (FONSECA; MARTUSCELLO et al., 2013). O trevo vermelho necessita de solos bem drenados, sendo semeado entre abril e maio. Pode ser estabelecido sob plantio direto, e a quantidade de semente varia de 8 a 10 kg/ha; quando consorciado podem ser usados de 6 a 8 kg/ha de semente (FONTANELI et al., 2012). Ao avaliar a recria de bezerras de corte em alternativas de uso da pastagem de azevém, fornecendo 1% do PC de ração comercial e a pastagem de azevém consorciado com trevo vermelho, Roso et al. (2009) observaram teores de proteína e FDN de 24,8% e 36,4%, respectivamente e o GMD no consórcio com trevo vermelho de 0,925 kg/dia de PC, não diferiu do tratamento com suplemento. Em Santa Maria-RS, o trevo vermelho em mistura com azevém produziu 4510,0 kg/ha de MS e permitiu estender o período de produção de forragem até dezembro (GLIENKE et al., 2006). Em trabalho desenvolvido na Embrapa Trigo, com sistema de produção mista (lavoura + pecuária), no período de maio a outubro de 1994 a 1996, sob plantio direto, as pastagens perenes incluindo esta espécie proporcionaram ganho de peso de aproximadamente 300 kg/ha, durante a estação fria, e de 460 kg/ha, durante a estação quente (SANTOS et al., 2002). 2.3 Interface planta-herbívoro As plantas presentes nas áreas de pastejo são forrageiras que os animais podem selecionar, considerando que os mesmos escolhem diferentes espécies e partes da planta. Na área de pastejo, alguns fatores como contaminação com fezes e urina ou danos causados por insetos podem influenciar a preferência do animal e a habilidade de acessar a forragem (REIS et al., 2014). A produção animal em pastagem pode ser entendida, do ponto de vista do funcionamento, como resultado de três etapas interdependentes: crescimento, utilização e conversão (HODGSON, 1990; Figura 1). A fixação de energia proveniente do sol e sua transformação em tecido vegetal são processos responsáveis pela produção de forragem e correspondem à etapa de crescimento. Essa forragem, quando colhida pelo animal por meio do pastejo, caracteriza a etapa de utilização. A conversão, última etapa do processo produtivo, é a transformação da forragem consumida em tecidos e produtos de origem animal (FONSECA; MARTUSCELLO et al., 2013). Figura 1 - Representação das etapas da produção animal em pastagem. Fonte: Adaptado de HODGSON, 1990. Existe uma estreita relação entre as características do pasto e as características dos animais que teriam a capacidade de utilizá-lo. Pastagens de forrageiras com baixo valor nutritivo seriam mais bem aproveitadas por espécies animais de maior peso corporal, como bovinos e equinos. No entanto, pastos de forrageiras de elevada qualidade são mais adequadas aos animais menores, como caprinos, ovinos ou até mesmo animais jovens de espécies maiores, bezerros por exemplo. (FONSECA; MARTUSCELLO et al., 2013). 2.4 Comportamento ingestivo O conhecimento do comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na avaliação de dietas, pois possibilita ajustar o manejo alimentar dos animais para obtenção de melhor desempenho produtivo (CAVALCANTI et al., 2008). O comportamento alimentar de ruminantes em pastejo tem sido utilizado para nortear e embasar diversas discussões relacionadas ao consumo e, consequentemente, associando ao desempenho dos animais (JÚNIOR et al., 2013). Os animais tendem a concentrar sua atividade de pastejo nas camadas do pasto contendo principalmente lâminas foliares (HODGSON, 1990), essa seletividade propicia que o animal colha forragem de maior qualidade do que a pastagem como um todo (HAMPEL, 2014). As variáveis comportamentais estudadas são: tempo de pastejo, tempo de ruminação, tempo de alimentação no cocho e tempo em outras atividades. As atividades comportamentais são consideradas mutuamente excludentes, conforme definição de Pardo et al. (2003). O tempo gasto pelos animais na seleção e apreensão da forragem, incluindo os curtos espaços de tempo utilizados no deslocamento para a seleção da forragem é considerado tempo de pastejo. O tempo de ruminação corresponde aos processos de regurgitação, remastigação, reinsalivação e redeglutição. O tempo de alimentação no cocho é o tempo despendido pelo animal no consumo de suplemento. Enquanto o tempo em outras atividades entende-se como descanso, consumo de água, interações etc. (JÚNIOR, 2013). Uma estação alimentar é definida como a área disponível em forma de um semicírculo hipotético localizado na frente do animal, enquanto as suas patas dianteiras estiverem paradas (RUYLE; DWYER, 1985). A variação nos padrões de deslocamento e procura de forragem podem ser alterados pelo estádio fenológicos da forrageira. O menor número de bocados por estação alimentar e bocados por dia, no estádio reprodutivo, ocorre devido a um aumento na quantidade de material senescente, dificultando a formação do bocado. A distância percorrida entre as estações alimentares é maior quando a massa de lâminas verdes diminui (BAGGIO et al., 2009). O comportamento ingestivo de animais também pode ser analisado pelo uso das refeições alimentares. Uma refeição é considerada uma longa sequência de pastejo. Quando interrompida por vários minutos por qualquer outra atividade, a refeição anterior se define e a próxima é iniciada tão logo o animal realize uma nova sequência de pastejo (CARVALHO; MORAES, 2005). O número e duração das refeições são importantes e os fatores que controlam o início e fim das refeições, são a estrutura e a qualidade da forragem oferecida aos animais que podem interferir nas refeições alimentares (HAMPEL, 2014). As características das refeições (duração, número, distribuição ao longo do dia, etc.) e a magnitude da forragem ingerida são reflexos diretos da qualidade, quantidade e estrutura do pasto que se oferece ao animal (CARVALHO; MORAES, 2005). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AITA, C. et al. Plantas de cobertura de solo como fonte de nitrogênio ao milho. Revista Brasileira Ciência do Solo, v. 25, p. 157-165, 2001. BAGGIO, C. et al. Padrões de deslocamento e captura de forragem pornovilhos em pastagem de azevém anual e aveia-preta manejada sob diferentes alturas em sistema de integração lavoura pecuária. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.2, p.215-222, 2009. BAILEY, D.W. et al. Mechanisms that result in large herbivore grazing distribution patterns. Journal of Range Management, v. 49, p.386-400, 1996 CAMARGO, D. G. et al. Características da ingestão de forragem por cordeiras nos estádios fenológicos da pastagem de azevém. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 64, n. 2, p. 403-410, 2012. CANTO et al. Produção animal em pastagens de aveia (avena strigosa schreb) adubada com nitrogênio ou em mistura com ervilhaca (vicia sativa L). Revista Brasileira de Zootecnia, v. 25 n. 2 p. 396-402, 1997. CARVALHO, P. C. F. ; MORAES, A. Comportamento ingestivo de ruminantes: bases para o manejo sustentável do pasto. In: Ulysses Cecato; Clóves Cabreira Jobim. (Org.). Manejo Sustentável em Pastagem. Maringá-PR: UEM, v. 1, p. 1-20, 2005. CAUDURO, G. F. et al. Variáveis morfogênicas e estruturais de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) manejado sob diferentes intensidades e métodos de pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 35, n. 4, p. 1298-1307, 2006. CAVALCANTI, M. C. A. et al. Consumo e comportamento ingestivo de caprinos e ovinos alimentados com palma gigante (Opuntia ficus-indica Mill) e palma orelha-de-elefante (Opuntia sp.). Acta Scientiarum. Animal Sciences, Maringá, v. 30, n. 2, p. 173-179, 2008. DIEHL, A. et al. Massa de forragem e valor nutritivo de capim elefante, azevém e espécies de crescimento espontâneo consorciadas com amendoim forrageiro ou trevo vermelho. Ciência Rural, Santa Maria, v.44, n.10, p.1845-1852, out, 2014. EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre (Rio Branco, AC). Redução dos impactos ambientais da pecuária de corte no Acre. Rio Branco, 1999. 2p. FONSECA, D. M.; MARTUSCELLO, J. A. Plantas forrageiras. Editora UFV, v.1, p.14-27, 2013. FONTANELI, R. S.; SANTOS, H. P; FONTANELI, R. S. Forrageiras para integração lavoura-pecuária-floresta na região sul-brasileira. Embrapa, v.2, p.139-330, 2012. GLIENKE, C. L. et al. Avaliação de leguminosas de clima temperado cultivadas em estreme e em consorciação com azevém (Lolium multiflorum). In: reunião anual da sociedade brasileira de zootecnia, p.43, 2006, João Pessoa. Anais... SBZ, 2006. HAHN, L. et al. Gramíneas forrageiras anuais de inverno em cultivo estreme e em sobressemeadura em tifton 85. Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015. HAMPEL, V. S. Padrões do uso do tempo por bezerras recebendo ou não suplemento em pastagem de azevém 2014. 77 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014. HODGSON, J. Grazing management Science into Practice. Essex: Longman. 1990. 203 p. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://www.IBGE.gov.br>. Acesso em 20 out. 2017. JÚNIOR, H. A. S.; SILVA, R. R. et al. Correlação entre desempenho e comportamento ingestivo de novilhas suplementadas a pasto. Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 1, p. 367-376, 2013. PARDO, R. M. P.; FISCHER, V.; et al. Comportamento ingestivo diurno de novilhos em pastejo a níveis crescentes de suplementação energética. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v. 32, n. 6, p. 1408-1418, 2003. PEDREIRA, C.G.S.; MELLO, A.C.L. et al. O processo de produção de forragem em pastagem In: XXXVIII Sociedade Brasileira de zootecnia, 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: XXXVIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de zootecnia, v. 38, p. 772-807, 2001. PILAU, A.; ROCHA, M. G.; RESTLE, J. et al. Recria de novilhas de corte com diferentes níveis de suplementação energética em pastagem de aveia preta e azevém. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 6, p. 2104-2113, 2004. REIS, A.R et al. Forragicultura: Ciência, Tecnologia e Gestão dos Recursos Forrageiros. Funep, v.1, p. 1-23, 2014. ROCHA, M.G. et al. Alternativas de utilização da pastagem hibernal para recria de bezerras de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.2, p.383-392, 2003. ROSA, A. T. N. et al. Consumo de forragem e desempenho de novilhas de corte recebendo suplementos em pastagem de azevém. Ciência Rural, v. 43, n. 1, p. 126-131, 2013. ROSO, C. et al. Produção e qualidade de forragem da mistura de gramíneas anuais de estação fria. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.3, p.457-467, 1999. ROSO, D. et al. Recria de bezerras de corte em alternativas de uso da pastagem de azevém. Revista Brasileira de Zootecnia, v.38, n.2, p.240-248, 2009. RUYLE, G.B; DWYER, D.D. Alimentando estações de ovelhas como um indicador da diminuição da oferta de forragem. Journal of Animal Science , v.61, n.2, p.349-353, 1985. SANTOS, H. P.; FONTANELI, R. S. et al. Principais forrageiras para integração lavoura- pecuária, sob plantio direto, nas Regiões Planalto e Missões do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Embrapa Trigo, p.142, 2002. SILVA, R. R. SILVA, F. F.; PRADO, I. N.; CARVALHO, G. G. P. et al. Comportamento ingestivo de bovinos. Aspectos metodológicos. Archivos de Zootecnia, Córdoba, v. 55, n. 211, p. 293-296, 2006. REFEIÇÕES ALIMENTARES DE BEZERRAS DE CORTE EM FORRAGEIRAS DE ESTAÇÃO FRIA MEALS DYNAMICS OF BEEF HEIFERS ON COLD SEASON PASTURES Juliana Squizani Dutra 1 , Marta Gomes da Rocha 2 RESUMO Foram avaliadas as refeições alimentares de bezerras de corte em diferentes sistemas alimentares: pastagem de azevém (Lolium multiflorum) cv. Comum, exclusivo ou consorciado com ervilhaca (Vicia sativa) cv. Comum ou trevo vermelho (Trifolium pratense), cv. Eztanzuela 116. O método de pastejo foi o de lotação contínua, com número variável de animais para manter a altura do dossel em 15±1,5 cm. O número de refeições, o tempo de duração da refeição e o intervalo entre refeições foram calculados a partir dos dados coletados em cinco avaliações do comportamento ingestivo realizadas durante 12 horas. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em arranjo de parcelas sub-subdivididas, sendo os sistemas alimentares as parcelas principais, os períodos de avaliação as sub-parcelas e os turnos de avaliação as sub-subparcelas e as bezerras foram consideradas como repetição. Quando verificadas diferenças, as médias foram comparadas pelo procedimento lsmeans. Houve interação entre sistemas alimentares × períodos de avaliação e períodos de avaliação × turnos. O intervalo entre refeições no início da utilização da pastagem foi superior à tarde. O uso de diferentes sistemas alimentares não modifica a duração das refeições enquanto o número de refeições aumenta quando o azevém é consorciado com leguminosas. Palavras-chave: Consórcio de pastagens, Lolium multiflorum, Trifolium pratense, Vicia sativa, interação planta-animal ABSTRACT The meals dynamics of beef heifers were evaluated on three different feeding systems: Italian ryegrass cv. Comun, exclusive or intercropped with Vetch (Vicia sativa) cv. Comun or Red Clover (Trifolium pratense), cv. Eztanzuela 116. The grazing method was continuous stocking, with variable number of animals to maintain the sward height at 15±1,5 cm. The number of meals, its time of duration and the interval between meals were calculated from data collected during five twelve-hour evaluations of ingestion behavior. The experimental design was completely randomized in a sub-subdivided plot, the feeding systems were to the main plot, the periods were the subplots, the shifts were the sub-subplots and heifers were considered as repetitions. When differences occurred, the means were compared by lsmeans procedure. We observed interaction between Feeding Systems x periods of evaluationand periods of evaluation × shifts. The interval between meals was higher in the afternoon. The use of different feeding systems is not able to modify the duration of the heifer´s meals and the the number of meals increases when Italian ryegrass is intercropped with legumes. Keywords: Intercropping pastures, Lolium multiflorum Lam, Trifolium pratense, Vícia sativa, plant-animal relationship 1 Acadêmica do curso de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM – Brasil), autora. 2 Professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM – Brasil), orientadora. https://sites.google.com/site/florasbs/poaceae/azevem https://sites.google.com/site/florasbs/fabaceae/trevo-vermelho INTRODUÇÃO As pastagens formam o principal ingrediente das dietas de ruminantes e a forma mais econômica de todos os sistemas pecuários (FONTANELI, 2012). A utilização de pastagens de inverno é uma alternativa para a criação de bovinos. A consorciação de gramíneas e leguminosas é uma prática de manejo que vem sendo explorada em sistemas pecuários. Dentre as gramíneas de estação fria o azevém (Lolium multiflorum Lam) é a espécie mais utilizada no sul do Brasil e entre as leguminosas comumente presentes em consorciações estão a ervilhaca (Vícia sativa L.) e o trevo vermelho (Trifolium pratense L.). O uso de leguminosas consorciadas com gramíneas em pastagens é vantajoso, pois aumenta a qualidade e a diversificação da dieta consumida pelos animais. Além disso, melhoram a disponibilidade de forragem pelo aporte de nitrogênio (N) ao sistema solo por meio de sua reciclagem e transferência para a gramínea acompanhante, além de reduzir os custos com adubação nitrogenada em pastagens, pois esses fertilizantes aumentam o custo na produção (PEDREIRA, 2001). As misturas de espécies forrageiras anuais de inverno visam combinar os picos de produção de matéria seca atingidos em diferentes épocas, de acordo com a espécie (ROSO et al., 2000) O estudo do comportamento ingestivo é uma ferramenta para entender as interações que acontecem entre animal-pasto. Para que os animais apresentem uma produção desejada, o seu bem-estar deve ser promovido. O comportamento de pastejo é afetado por restrições climáticas, topográficas e predatórias. (HAMPEL, 2014). Durante o pastejo pode-se analisar as refeições alimentares, as quais de acordo com Carvalho e Moraes (2005) são consideradas uma longa sequência de pastejo, e podem ser modificadas pela qualidade da forragem, que afeta o número e a duração das refeições. Sendo assim o objetivo deste trabalho foi estudar as refeições alimentares de novilhas de corte em pastejo continuo sobre azevém ou azevém consorciado com trevo vermelho ou ervilhaca. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria, localizada na região fisiográfica da Depressão Central do Rio Grande do Sul. O clima da região é Cfa, subtropical úmido, segundo a classificação de Köppen (MORENO, 1961). O solo é classificado como Argissolo vermelho distrófico arênico (EMBRAPA, 1999). Os valores médios da composição química do solo foram: pH-H2O: 5,1; índice SMP: 5,6; argila: 21,1 m/V; P: 14,4 mg/dm3; K: 98 mg/dm3; MO: 2,36 m/V; saturação Al: 7,4 %; saturação bases: 41,7 %; CTC pH7: 11,9 cmol/dm3. Os dados de precipitação pluviométrica e temperatura foram obtidos junto a Estação Meteorológica da UFSM (Tabela 1). Tabela 2 - Precipitação pluviométrica e temperatura média durante o período de avaliação e médias históricas, Santa Maria/RS. Meses de avaliação Junho Julho Agosto Setembro Outubro -----------------------Médias observadas 1 ---------------------------- Temp. média ( º C) 15,1 14,8 20,0 16,6 18,2 Precipitação (mm) 146,8 236 94 182,2 462,4 -----------------------------Médias históricas 2 -------------------------- Temp. média ( º C) 14,1 14,5 15,3 16,6 19,5 Precipitação (mm) 145,7 148,6 137,4 153,6 145,9 ¹Médias observadas no período de 01/06/2015 – 31/10/2015; ² Médias históricas de 01/01/1975 – 31/10/2015 A área experimental é de 7,2 ha com nove divisões e uma área anexa de 1,5 ha. A utilização da pastagem foi de 27 de junho a 11 de novembro de 2015. Os tratamentos foram constituídos por: pastagem de azevém (Lolium multiflorum Lam) cv. Comum exclusivo ou consorciado com trevo vermelho (Trifolium pratense) cv. Estanzuela 116 ou ervilhaca (Vícia sativa) cv. Comum. A pastagem foi estabelecida em maio de 2015, com preparo do solo por meio de três gradagens. A adubação constou de 200 kg/ha de fertilizante NPK da fórmula 05- 20-20. A semeadura foi realizada a lanço, utilizando-se 45 kg/ha de sementes de azevém e, nos consórcios, mais 50 kg/ha de sementes de ervilhaca ou 10 kg/ha de sementes de trevo vermelho. As sementes das leguminosas foram inoculadas com Rhizobium específico e revestidas com carbonato de cálcio. Em cobertura, foram utilizados 80 kg/ha de nitrogênio (N), na forma de ureia, em quatro aplicações de igual quantidade, sendo a primeira em 15/06/15 e as demais com intervalo médio de trinta dias. Os animais experimentais foram bezerras Angus, com idade média inicial de oito meses e peso corporal de 143±5 kg, sendo utilizadas três bezerras-teste em cada unidade experimental. O método de pastejo foi o contínuo com lotação variável, para manter a altura do dossel de 15±1,5 centímetros. Semanalmente foram tomadas medidas de altura do dossel em 50 pontos em cada piquete. A massa de forragem (MF) foi avaliada por meio da técnica de estimativa visual com dupla amostragem. A forragem proveniente dos cortes foi homogeneizada e dividida em duas sub amostras, para determinação do teor de matéria seca (MS) e dos componentes botânicos e estruturais (colmo de azevém, lâminas foliares de azevém, leguminosas, material senescente e outras espécies) por meio de separação manual. Após a separação desses componentes e secagem em estufa com circulação forçada de ar a 55° C, por 72 h, obteve-se a contribuição de cada componente e foi calculada a participação percentual de cada um desses na massa de forragem em kg de MS/ha. A taxa de lotação (kg/ha de peso corporal (PC)) foi obtida pela soma do peso médio das bezerras-teste com a soma do peso médio das bezerras reguladoras da altura do dossel, multiplicado pelo número de dias que as mesmas foram mantidas no piquete e esse valor dividido pelo número de dias do período experimental. Para a avaliação do comportamento ingestivo, os animais testes foram observados por um período de 12 horas ininterruptas por cinco vezes, a intervalos de 10 minutos (JAMIESON E HODGSON, 1979). Foi calculada a duração das refeições, o número de refeições e o intervalo entre refeições a cada período de avaliação. Uma refeição foi caracterizada como uma sequência de pastejo com, no mínimo, duas observações sucessivas de 10 minutos nesta atividade. A interrupção do pastejo por qualquer outra atividade, também por um período mínimo de 20 minutos, caracterizou o término da refeição e início do intervalo entre refeições (BAGGIO et al., 2008). As variáveis duração das refeições, número de refeições e duração do intervalo entre refeições foram classificadas dentro dos turnos de avaliação: manhã (06:00 h-11:59 h) e tarde (12:00 h-17:59h). A simulação de pastejo foi realizada nas mesmas datas das avaliações de comportamento ingestivo. Da forragem da simulação de pastejo foram separadas duas sub- amostras, sendo uma para separação botânica e outra para análises laboratoriais. Essas amostras foram secadas em estufa de circulação forçada de ar a 55° C por 72 horas, e moídas em moinho tipo “Willey”, para as análises laboratoriais. O teor de matéria seca das amostras foi determinado por secagem em estufa á 105°C durante oito horas. O conteúdo de matéria mineral foi determinado por combustãoa 600°C durante quatro horas e a matéria orgânica por diferença de massa. O nitrogênio total foi de terminado pelo método Kjeldahl (Método 984.13; AOAC, 1997). A análise de fibra em detergente neutro foi realizada de acordo com Senger et al. (2008). A digestibilidade in situ da matéria seca (DISMS) das amostras de forragem foi determinada por meio de incubação por 48 horas no rúmen de um bovino fistulado. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo, com três tratamentos e três repetições de área. Para comparar os tratamentos, as variáveis que apresentaram normalidade (Shapiro-Wilk), foram submetidas à análise de variância pelo procedimento Mixed do programa estatístico SAS®, versão 9.4. A interação entre tratamentos e estádios fenológicos foi desdobrada quando significativa a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A temperatura média e a precipitação pluviométrica mensal foram de 16,9ºC e 224,2 mm, respectivamente, durante os meses que compreenderam o período experimental. A temperatura média durante o período experimental foi semelhante à média histórica (16ºC). A precipitação pluviométrica foi 78 mm inferior a precipitação esperada para o período. A massa de forragem (1.564,65 ± 60,8 kg/ha) foi similar (P>0,05) nos sistemas alimentares. Houve diferença (P<0,05) para a massa de forragem entre os períodos de avaliação, com maior valor no quarto período (1.854,06 ± 63,20 kg/ha), intermediário no primeiro e terceiro (1.533,15 ± 76,92 kg/ha) e inferior no segundo período (1.338,25 ± 63,20 kg/ha). A diferença deve-se, provavelmente, a maior ou menor participação de colmos do azevém na massa de forragem. A massa de colmos (402,37 ± 33,13 kg) foi similar entre os sistemas alimentares (P>0,05) e diferiu entre os períodos de avaliação (P<0,05), sendo maior no quarto período (728,37 ± 34,41 kg), intermediária no terceiro (405,82 ± 37,17 kg) e de menor valor no primeiro e segundo período, que não diferiram entre si (237,65 ± 40,50 kg). A altura do dossel (14,29 ± 0,28 cm) foi similar entre os sistemas alimentares (P>0,05), isso assegurou que os animais, nos diferentes sistemas, tivessem condição similar de consumo e seleção da forragem. Houve diferença (P<0,05) entre os períodos de avaliação, sendo a altura maior no primeiro período (16,75 ± 0,23 cm), intermediária no segundo e quarto (13,77 ± 0,19 cm) e menor no terceiro período (12,86 ± 0,20 cm). Esse manejo da altura do dossel entre 10 e 15 cm, resulta em altas taxas de crescimento do pasto, possibilitando elevada ingestão de forragem (PONTES et al., 2003). Para manter a mesma altura do dossel, a taxa de lotação (1.021,58 ± 49,57 kg) manteve-se similar entre os sistemas alimentares e os períodos de avaliação (P>0,05). A massa de lâminas foliares (672,03 ± 34,49 kg) manteve-se similar entre os sistemas alimentares (P>0,05) e diferiu entre os períodos de avaliação, sendo maior no primeiro período (904,1 ± 48,51 kg), intermediária no segundo e terceiro (653,28 ± 37,25 kg) e menor no quarto (477,46 ± 35,82 kg). Houve interação sistemas alimentares × período de avaliação (P<0,05) para a variável massa de leguminosas. A participação da ervilhaca foi superior no primeiro, segundo e terceiro período (181,1 ± 26,32 kg) e inferior no quarto (1,66 ± 5,21 kg). A participação do trevo vermelho foi superior no terceiro e quarto período (18,03 ± 5,21 kg) e inferior no primeiro e segundo (66,59 ± 24,67 kg). Observação similar quanto a este resultado foi feita por Fontaneli (1991), quando, em consorciação de aveia mais trevo vermelho, a aveia contribuiu de forma mais significativa nos meses julho a agosto e o trevo vermelho predominou no fim de dezembro. A massa de material morto (354,1 ± 42,3 kg) manteve-se similar entre os sistemas alimentares (P>0,05) e diferiu entre os períodos de avaliação (P<0,05), sendo maior no terceiro e quarto período (449,42 ± 32,7 kg) intermediário no segundo (335 ± 31,97 kg) e inferior no primeiro (182,81 ± 40,43 kg). A participação do material morto foi maior nos últimos períodos por ser o comportamento natural da planta, quando começa a se dirigir para o estágio final, o amadurecimento e florescimento, envelhecem os tecidos vegetais (DESCHAMPS, 1999). A relação folha:colmo (2,7 ± 0,31) manteve-se similar entre os sistemas alimentares (P>0,05), entre os períodos de avaliação houve diferença (P<0,05), sendo maior no primeiro período (5,06 ± 0,47) intermediária no segundo e no terceiro (2,56 ± 0,16) e inferior no quarto (0,77 ± 0,6). A variável fibra em detergente neutro (51,61 ± 0,89 %) foi similar entre os sistemas alimentares (P>0,05), e entre os períodos de avaliação houve diferença (P<0,05), sendo maior no quarto período (59,89 ± 0,61 %) intermediária no segundo (51,70 ± 0,59 %) e inferior no primeiro e terceiro (47,43 ± 0,9 %). Essa variável mostrou correlação negativa com a porcentagem de lâminas foliares, pois à medida que as lâminas foliares diminuem aumenta a proporção de colmos e, consequentemente, o teor de FDN (VICENTE, 2017). O teor de proteína bruta (18,73 ± 0,63 %) manteve-se similar entre os sistemas alimentares (P>0,05) estando dentro dos valores recomendados para a categoria de animais em pastejo (NRC, 1996). Entre os períodos de avaliação houve diferença, sendo maior no primeiro, segundo e no terceiro período (20,03 ± 0,66 %) e inferior no quarto (14,81 ± 0,64 %), e pode-se relacionar ao final de período, quando a quantidade de lâminas foliares é menor e, por consequência, há decréscimo no teor de PB. Não houve diferença (P>0,05) para a digestibilidade in vitro da matéria orgânica (80,8 ± 1,18 %) na forragem da simulação de pastejo nos sistemas alimentares. Houve diferença (P<0,05) nos períodos de avaliação, sendo a digestibilidade maior no terceiro período (85,47 ± 1,4 %) e menor no primeiro, segundo e quarto (79,34 ± 1,41 %). Rocha et al. (2003) observaram digestibilidade média de 62,71 % em consórcio de aveia preta (Avena strigosa) + azevém (Lolium multiflorum Lam) + trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi). Foi observada interação entre tratamento × período (P<0,05), para a variável intervalo entre refeições No primeiro, terceiro e quarto período o intervalo foi semelhante (90,05 ± 10,35 min) em todos os sistemas alimentares, No ciclo dois, as terneiras exclusivamente em azevém realizaram um maior intervalo entre refeições (148,98 ± 9,83 min), o intervalo teve duração intermediária em azevém + trevo vermelho (113,61 ± 81,83 min) e o intervalo foi menor em azevém + ervilhaca (73,43 ± 43 min). Segundo Carvalho et al. (2005), a duração da refeição está diretamente relacionada a velocidade de ingestão de matéria seca. Um animal em maior oferta de forragem, em pastos altos, obtém alta taxa de ingestão e isso reflete na mais rápida saciedade (menor duração de refeição) e maior tempo de saciedade, com maior duração de intervalos (MEZZALIRA et al. 2011). Ocorreu interação entre período × turno, para número de refeiçõs (P<0,05), no primeiro e segundo período a duração da refeição foi maior no turno da manhã (118,4 ± 8,77 min) e inferior à tarde (65,90 ± 8,77 min) e no terceiro e o quarto a duração foi similar nos dois turnos (93,35 ± 8,28 min). Tabela 2 – Número de refeições (NR), duração de refeição (DR), de bezerras de corte em três sistemas alimentares: azevém exclusivo (AZ) ou consorciado trevo vermelho (TV) ou ervilhaca (ER). Item Sistemas alimentares P 1 P 2 S×T 3 S×P 4 T×P 5 AZ ER TV NR 2,2±0,1b 2,5±0,11a 2,5±0,1a 0,0157 0,5180 0,0757 0,2602 0,4092 DR 74,2±3,5 69,8±3,8 67,2±3,4 0,3569 0,9999 0,0044 0,1366 0,5226 ¹Probabilidade entre sistemas alimentares, 2 Probabilidade entre turnos, 3 Probabilidade da interação entre sistemas alimentares × turnos,4 Probabilidade da interação entre sistemas alimentares × períodos, 5 Probabilidade entre turno × períodos, médias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (P>0,05) pelo procedimento lsmens. Não houve interação (P>0,05) sistema forrageiro × período de avaliação e sistema forrageiro × turno e período de avaliação × turno para número diário de refeições e intervalo entre refeições. O número diário de refeições foi maior (2,53 ±0,10) nos sistemas trevo e ervilhaca, que não diferiram entre si, e menor no sistema azevém (2,19 ±0,10). Nos turnos, o número diário de refeições foi semelhante (2,4 ±0,08). A mesma variável diferiu entre os períodos de avaliação (P<0,05), sendo maior no primeiro e terceiro período (2,6 ± 012) e menor no segundo e quarto período (2,23 ± 0,11). A variável duração da refeição não diferiu (P>0,05) entre os sistemas forrageiros (70,42 ±3,6 min) e entre os turnos (70,42 ±2,94 min) (Tabela 2). Tabela 3 – Número de refeições (NR) e duração de refeições (DR) de bezerras de corte nos períodos de avaliação. Item Período de avaliação P 1 27/07-24/08 25/08-22/09 23/09-20/10 21/10-11/11 NR 2,4±0,1a 2,2±0,1b 2,7±0,1a 2,2±0,1b 0,0032 DR 71,2±4,3ab 68,3±3,9b 60,4±4,3b 81,6±3,9a 0,0044 ¹Probabilidade entre períodos, médias seguidas por letras iguais na coluna não diferem entre si (P>0,05) pelo procedimento lsmens. O número de refeições foi maior (P<0,05), no primeiro e terceiro períodos, que foram semelhantes entre si e o número foi menor e não diferiu no segundo e quarto períodos. A duração da refeição foi superior no quarto período e semelhante ao primeiro período, que por sua vez não diferiu do segundo e terceiro períodos (Tabela 3). O início e fim das refeições são descritos pelo número e duração das refeições. Quando a qualidade da forragem é semelhante, a estrutura do dossel torna-se um importante determinante da escolha do padrão das refeições (HAMPEL, 2014). Baggio et al. (2008) trabalhando com consorcio de aveia e azevém verificaram uma média de duração das refeições de 84 minutos. CONCLUSÃO A duração da refeição de bezerras de corte não é modificada em pastagem de azevém ou azevém consorciado com leguminosas. O uso de leguminosas proporciona aumento do número de refeições de bezerras de corte. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGGIO, C. et al. Padrões de uso do tempo por novilhos em pastagem consorciada de azevém anual e aveia-preta. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.11, p.1912-1918, 2008. CARVALHO, P. C. F. ; MORAES, Anibal de . Comportamento ingestivo de ruminantes: bases para o manejo sustentável do pasto. In: Ulysses Cecato; Clóves Cabreira Jobim. (Org.). Manejo Sustentável em Pastagem. Maringá-PR: UEM, v. 1, p. 1-20, 2005. DESCHAMPS, F.C. Implicações do período de crescimento na composição química e digestão dos tecidos de cultivares de capim elefante. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.6, p.1178-1189, 1999. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. Brasília: EMBRAPA. Rio de Janeiro. 412 p, 1999 FONTANELI, R. S.; JÚNIOR, N. F. Avaliação de consorciações de aveia e azevém-anual com leguminosas de estação fria. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.26, n.5, maio 1991. HAMPEL, V. S. Padrões do uso do tempo por bezerras recebendo ou não suplemento em pastagem de azevém 2014. 77 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014. JAMIESON, W.S.; HODGSON, J. The effect of daily herbage allowance and sward characteristics upon the ingestive behavior of calves under strip-grazing management. Grass and Forage Science, 1979. MEZZALIRA, J. C. et al. Aspéctos metodológicos do comportamento ingestivo de bovinos em pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia. v.40, n.5, p.1114-1120, 2011. MORENO, J.A. Clima do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Secretaria da Agricultura, 41 p.1961. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirement of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C.: National Academy Press, 1996. 242p. PEDREIRA, C.G.S.; MELLO, A.C.L.; OTANI, L. O processo de produção de forragem em pastagem In: XXXVIII Sociedade Brasileira de zootecnia, 2001, Piracicaba. Anais... Piracicaba: XXXVIII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de zootecnia, v. 38, p. 772-807, 2001. PONTES, L. S.; NABINGER, C.; CARVALHO, P. C. F. et al. Variáveis morfogênicas e estruturais de azevém anual (Lolium multiflorum Lam.) manejado em diferentes alturas. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 32, n. 4, p. 814-820, 2003. ROCHA, M.G.; RESTLE, J.; FRIZZO, A. et al. Alternativas de utilização da pastagem hibernal para a recria de bezerras de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.2, p.383- 392, 2003b ROSO, C.; RESTLE, J. Aveia preta, triticale e centeio em mistura com azevém. 2. Produtividade animal e retorno econômico. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.1, p.8593, 2000. SENGER, C. C. D.; KOZLOSKI, G. V.; SANCHEZ, L. M. B. et al. Evaluation of autoclave procedures for fibre analysis in forage and concentrate feedstuffs. Animal Feed Science and Technology, v. 146, p. 169-174, 2008. VICENTE, J. M. Recria de bezerras de corte sob pastejo exclusivo em azevém ou em azevém consorciado com leguminosas. 2017. 61 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2017.
Compartilhar