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Adimplemento substancial

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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade abordar a Teoria do Adimplemento Substancial, a qual que vem sendo implantada no ordenamento jurídico e na jurisprudência brasileira, além do entendimento da purga da mora, o qual está presente no inadimplemento relativo. Dada esta breve apresentação, será abordada a sua relevante importância no ordenamento jurídico. 
Escolhi esse tema em virtude da importância que o adimplemento substancial vem conquistando no ordenamento jurídico, o qual não está formalmente previsto em um dispositivo legal, porém tem sido reconhecido através da relação existente com o princípio da boa-fé, elencando as diferenças existentes entre o adimplemento e o inadimplemento, o qual é dividido em absoluto e relativo, sendo que esse trará o entendimento da mora e de sua purgação.
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
No ordenamento jurídico brasileiro, a terminologia adimplemento significa o cumprimento da obrigação acarretando sua extinção. Por sua vez, Venosa (2012) conceitua obrigação como sendo a relação jurídica transitória existente entre um sujeito ativo denominado credor e outro sujeito passivo o devedor cujo objeto consiste numa prestação situada no âmbito dos direitos pessoais, positivos ou negativos, em que, havendo o descumprimento ou inadimplemento obrigacional, poderá o credor satisfazer-se do patrimônio do devedor.
Nesse contexto, de forma inovadora, aflora na doutrina e na jurisprudência a Teoria do Adimplemento Substancial, originaria do Direito Inglês, Common Law, onde é conhecido como Substancial Performace. Nesta teoria, entende-se que, em uma obrigação onde o devedor, aquele que deve algo, cumpri de forma quase que por completa a sua obrigação junto ao credor, atingindo a finalidade da obrigação em seu sentido essencial, ficará este impossibilitado de demandar judicialmente contra o devedor alegando o direito de resolução, pois, a finalidade desta teoria é agir com equidade, aplicar a norma de forma ideal observando de forma rigorosa cumprimento do Principio da Boa-fé e da Função Social do Contrato. Desse modo, corrobora Clovis (1976, p. 43):
“Um adimplemento tão próximo do resultado final, que, tendo-se em vista a conduta das partes, exclui-se o direito de resolução, permitindo tão somente o pedido de indenização.” 
O Novo Código Civil Brasileiro, não previu formalmente a Teoria do Adimplemento Substancial, entretanto, o direito privado tem acompanhado a evolução da sociedade admitindo, de forma ainda tímida, uma nova interpretação do ordenamento jurídico. A aplicação dessa teoria foi recepcionada no direito civil brasileiro por intermédio do Princípio da Boa-fé objetiva. Trata-se de uma exceção, por isso, alguns critérios são observados na hora da aplicação desta novidade. Para que o adimplemento seja considerado substancial são necessárias três circunstâncias: a proximidade entre o efetivamente realizado e o que estava previsto no contrato; que a prestação imperfeita satisfaça os interesses do credor, o esforço e a diligencia do devedor em adimplir integralmente. 
DA MORA
Para que abordemos as modalidades de inadimplemento relativo à mora é de suma importância conceituar o inadimplemento e suas espécies.
Toda obrigação possui seu percurso natural, isto é, ela inicia-se, desenvolve-se e extingue-se pelo adimplemento pelo devedor. Todavia, nem sempre isso ocorre, seja por culpa em sentindo amplo, por caso fortuito ou força maior o que pode gerar em todos estes sentidos responsabilidade civil para o solvente. 
Ocorre o inadimplemento então quando na obrigação de dar, o devedor recusa-se a entregar ou restituir a coisa, já na obrigação de fazer o devedor torna-se inadimplente no momento em que ele não cumpre a atividade que assumiu realizar.
Na obrigação de não fazer o descumprimento da obrigação se da a partir do momento em que o devedor executar o ato que ele deveria se abster.
Por força do dispositivo legal, artigo 389 do Código Civil de 2002, o devedor não adimplindo a obrigação por dolo ou culpa este será obrigado a reparar civilmente aos danos sofridos, o que inclui perdas e danos, mais juros e atualização monetária e honorários advocatícios.
Conceitua Diniz (2008, p. 130):
“O inadimplemento da obrigação consiste na falta da prestação devida ou no descumprimento, voluntario ou involuntário, do dever jurídico por parte do devedor”.
Também conhecido como inadimplemento voluntário, este ocorrerá se a obrigação não for cumprida, total ou parcialmente, nem houver possibilidade do fato vir a ocorrer.
Não obstante, nos casos de inadimplemento absoluto a doutrina considera que este é mínimo, valendo ao juízo aferir se o descumprimento ali acarretará ou não na extinção da obrigação, caso contrário, reconhecer que a parte adimpliu substancialmente a obrigação, devendo a mesma ser mantida.
 
Assim, o inadimplemento relativo, dar-se-á quando representar atraso culpável seja por parte do devedor, para cumprir, ou seja, por parte do credor, para receber.
Finalmente para tratarmos de nosso tema macro não há como negar que para a constituição em mora, exige-se o retardamento ou mau cumprimento da obrigação, sendo este ocasionado por culpa do devedor. Nota-se que a partir deste gênero destacam-se duas espécies, sendo a mora solvendi e a mora accipiendi, este diz respeito a um ato ou fato que se abstém da culpa, e quanto aquele se refere à essencialidade da culpa. Com isso pode-se verificar conjuntamente com o preceito trazido no artigo 396 do Código Civil que sem culpa não há responsabilidade de indenizar, não basta apenas o retardamento no cumprimento da obrigação para ocorrer à tipificação da mora.
Por outro lado, nota-se que quando a obrigação já é exigível irá ocorrer à mora solvendi, ou seja, não há como existir mora em uma dívida não vencida. Sendo a obrigação líquida e certa o devedor estará em mora, desde que estabelecido o cumprimento final do termo.
Existe a possibilidade de cumprir tardiamente a obrigação, ou seja, é necessário que se verifique para a purgação da mora. Podendo ela representar somente o inadimplemento relativo, sendo possível seu adimplemento, ressalvando que a mesma à de ser proveitosa ao credor. Não havendo aproveitamento por parte do credor, ocorrerá inadimplemento absoluto, devendo a obrigação ser convertida em perdas e danos.
Não havendo a execução desta obrigação no tempo devidamente ajustado, o inadimplente será imputado com a penalidade de indenizar os prejuízos que sua mora der causa, a qual não substituirá o correto cumprimento da obrigação, sendo o ato de indenizar considerado para amenizar os prejuízos causados ao credor pelo inadimplemento.
Conforme ao artigo 394 do Código Civil de 2002, quando o credor não quiser receber em tempo, lugar e forma convencionados, ocorrendo atraso culpável por sua parte de receber a prestação devida, esse se encontrará em mora. 
Portanto, a mora do credor, isenta o devedor de qualquer indenização, bem como pode pedir ressarcimento pelas despesas de conservação da coisa. 
PURGAÇÃO DA MORA
A purgação da mora consiste no pagamento do valor em que estava em aberto fazendo com que deixe de existir o debito em que se estava em atraso.
Neste sentido a purgação da mora é a faculdade que se submete o devedor e ou credor a efetuar pagamento o qual incorreu da mora, sendo um ato que gera efeitos para o futuro, feito o seu tempo, isenta o agente dos ônus da mora, sendo que o sujeito continuará a responder por todo montante de sua purgação onde estarão incluídos os juros e a correção monetária, honorários, custas, perdas e danos da mora ate sua conclusão. (VENOSA 2012).
 
Neste sentido é importante ressaltar que a purgação da mora só será possível em uma inadimplência relativa onde a tradição não foi efetuada em sua totalidade. 
No inadimplemento absoluto não é possível à purgação da mora, pois o cumprimento da obrigação não é mais útil para outra parte. 
Por parte do devedor conclui-se a purgação com a efetiva prestação com agravo de juros, penas, prejuízos, custas e honorários advocatícios,como consta no artigo 401 inciso I do atual Código Civil não podendo esquecer que também pode ser acrescidos das perdas e danos.
Já a purga da mora por parte do credor conclui-se com o recebimento do pagamento sujeitando-se da mora até tal data, como consta no artigo 401 inciso II do Código Civil, devendo arcar também com eventuais despesas com a conservação da coisa.
Para concluir, é importante dizer que:
“Estando ambos em mora, credor e devedor, a obrigação entre os mesmos será extinta, encontrando-se em igual situação, onde nada se pode exigir mutuamente”. (ROSENVALD e FARIAS 2010).
JURISPRUDÊNCIA
O adimplemento substancial, de acordo com a jurisprudência, tem como o objetivo, preservar o vinculo contratual obtido entre as partes, uma vez que este vínculo contratual vem acompanhado de vários princípios, sendo o principal deles o principio da boa-fé objetiva, visando também a equidade entre das partes envolvidas na relação contratual. A teoria do adimplemento substancial ultrapassa primeiramente, o dever de cumprir apenas a prestação principal, havendo entre o credor e devedor uma obrigação e cooperação. Assim desse modo seguindo para a conclusão do contrato e consequentemente o adimplemento. 
Conforme segue abaixo a opinião de nossa corte suprema:
A teoria do adimplemento substancial atua como instrumento de equidade, impondo que, nas hipóteses em que a extinção da obrigação pelo pagamento esteja muito próxima do final, exclua-se a possibilidade de resolução do contrato, permitindo-se tão somente a propositura da ação de cobrança do saldo em aberto. O adimplemento de mais de 80% das parcelas avençadas no contrato não admite o deferimento da busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente.
Quanto a purga da mora trata-se da quitação, ou seja, da complementação do saldo devedor. Não se tratando, portanto da quitação de todo o contrato, pois este resultaria na extinção do contrato e conforme esta ideia, o TJMG se posiciona da seguinte forma:
Purgar a mora significa deixar de ser inadimplente, estar em dia com suas obrigações, regularizar a situação junto ao credor. Por óbvio, não significa quitar todas as parcelas avençadas no contrato, pois, se assim o fosse estar-se-ia extinguindo o próprio contrato, tornando inócuo o direito do devedor de purgar a mora. 
Purgar a mora então, de acordo com a jurisprudência, seria o adimplemento sem quitação do contrato, assim não extinguindo o mesmo, e ficando em consonância com a obrigação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se observar que o tema proposto tem como objetivo informar e melhor expor as diferenças entre o adimplemento substancial, inadimplemento absoluto e relativo, sendo que a mora surge do inadimplemento relativo, apresentando também como é feita a sua purgação.
A evolução do judiciário vem com a nova interpretação a cerca do princípio da boa-fé e da função social dos contratos, nos quais acarretam a responsabilidade entre as partes no cumprimento dos seus deveres. Neste sentido, fora abordado também, quando não há o cumprimento das partes, ou quando este descumprimento ocorre de forma unilateral.
O adimplemento substancial vem com o sentido de aplicar o direito com proporcionalidade visando tutelar credor e devedor. Neste contexto, nota-se que a aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial esta em consonância com os princípios elencados na Constituição Federal, visto que, isso decorre da constitucionalização do direito civil, que passa a ter uma visão social deixando um pouco a sua essência individualista. Vislumbramos então a interdisciplinaridade entre o Direito Civil e o Direito Constitucional onde ambos buscam a isonomia entre as partes.
Sendo assim, concluo que a Teoria do Adimplemento Substancial é positiva, pois, visa à aplicação do direito de forma justa e proporcional, mesmo que acarretada de varias outras consequências, caso haja o descumprimento mínimo da obrigação.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei nº10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/2002/L10406.htm..
BRASILIA. Supremo Tribunal Federal. Embargos Infringentes. Ação de Busca e Apreensão Consórcio. Adimplemento Substancial. ARE 683464 RS, Rel. Min.
 Ricardo Lewandowiski. 22 jun. 2012.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Neslson. Direito das Obrigações. 4º ed. São Paulo: Lumen Juris, 2010.
SILVA, Clovis Veríssimo do Couto e. A obrigação como processo. São Paulo: José Buchatski, 1976.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. 12 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2012.

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