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Imposto sobre grandes fortunas - IGF - Maurício Salles

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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA - UNOESC 
ÁREA DAS CIÊNCIAS DAS HUMANIDADES 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
Maurício Walter Salles 
 
 
 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA INSTITUIÇÃO DO IMPOSTO SOBRE GRANDES 
FORTUNAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Xanxerê 
2019 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Vive-se em um Brasil permeado com disparidades sociais: isto não é novidade 
alguma. A política nacional tributária previu, basilarmente, que a capacidade contributiva 
deveria ser elemento de justiça fiscal, dirigida pelos Princípios da Progressividade e da 
Seletividade, de modo a efetivar a solidariedade entre o povo, impondo tributação 
proporcional à renda e patrimônio pessoais. 
A cobrança de impostos é inevitável, afinal, o Estado tem que ter renda para sua 
própria subsistência, bem como, para que preste seus serviços em prol da coletividade. A 
política fiscal de um País é o elemento determinante para a geração de renda, visando o 
crescimento do “bolo” a que se referia Delfim Neto, quando da expressão: “fazer o bolo 
crescer, para depois dividi-lo”, aumentando as divisas dos cofres públicos. 
Uma forma prevista na constituição de 1988 para arrecadar e diminuir os déficits 
governamentais com o fito de proporcionar a melhorias dos serviços estatais, é a instituição 
do Imposto sobre Grandes Fortunas, que, desde a promulgação daquela em 1988, está em 
discussão do Congresso Nacional, sem avanço efetivo algum nestes últimos 30 anos. 
 
 
2. O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS 
 
Apesar de previsto pela Constituição Federal de 1988, e até então regulamentado no 
Brasil por uma série de razões, mormente por divergências entre parâmetros e interesses 
pessoais de nossa classe política, o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), tem sua previsão 
no artigo 153, inciso VII, do ordenamento máximo. Esse dispositivo legal reza que a União, 
por meio de Lei Complementar, fica facultada a instituir esse imposto. E este é o ápice do 
problema: mexer no capital de quem o tem em grandes quantidades nunca foi nem será fácil 
neste Estado pré-colombiano no qual se comenta. 
Sua regulamentação teria como objetivo utópico a redução da desproporcionalidade 
tributária. Se aprovado, o Imposto sobre Grandes Fortunas teria suas alíquotas progressivas, 
assim como uma base de cálculo incidente sobre uma porcentagem do patrimônio da pessoa 
física ou jurídica que se enquadrasse nas ‘grandes fortunas’. 
 
 
 
2.1 DIFICULDADES À IMPLEMENTAÇÃO 
 
O Imposto Sobre Grandes Fortunas é um dos ideais de uma constituição social, 
daquela em que, outrora, a jurisprudência afirmava ser uma carta de ideais sem possibilidade 
de implementação. A implementação do IGF, em termos de desenvolvimento do Brasil, é 
pura ideologia, para não dizer demagogia. sendo demasiadamente controvertida, não somente 
entre políticos, como também entre os economistas, motivo pelo qual se questiona se o IGF 
seria um instrumento eficaz de arrecadação fiscal, ou acarretaria na diminuição de 
concentração de riqueza e de renda. 
No decorrer destes últimos 30 anos, no Brasil, foram muitos os Projetos de Lei 
objetivando a regulamentação do Imposto sobre as Grandes Fortunas, porém sem nenhum 
exitoso, semelhantes entre si. A problemática consistente nos projetos são a criação e a 
fixação de faixas alíquotas de maneira justa e aplicável ao imposto. Dentre os Projetos de Lei 
protocolados no Congresso Nacional, podem-se destacar os PLPs nº: 162/1989; 277/2008, 
534/2011 e 130/2012. 
Os apoiadores da regulamentação do Imposto Sobre Grandes Fortunas defendem que 
essa modalidade tributária seria um meio de firmar o conceito de solidariedade constitucional, 
tributando o patrimônio dos muito ricos, distribuindo a todos, propiciando melhor distribuição 
de renda. Procura-se salientar, como justificativa para a regulamentação do imposto, que 
apenas a tributação sobre renda apresenta-se ineficiente contra a diminuição da atual 
concentração de riquezas, vez que não onera a riqueza que foi acumulada ao longo dos anos. 
De certo modo, a meu pensar, é espécie de bitributação: se o patrimônio foi adquirido por 
renda própria ou herança, e nestes casos já houve o quinhão do Estado reservado, 
aparentemente o IGF seria uma prestação continuada destas duas outras formas tributárias. 
Ainda, sob a visão distribucionista de renda, o Imposto sobre as Grandes Fortunas não 
teria como objetivo desestimular o empreendedor a buscar a ‘fortuna’, mas sim gerar uma 
distribuição dos lucros acumulados através de uma tributação mais justa, reduzindo a 
disparidade social, sendo que a grande fortuna vem a ser considerada como uma riqueza 
extraordinária, merecendo assim uma tributação independente. 
Teóricos com visão antagonista à primeira afirmam que esse imposto possui finalidade 
meramente extrafiscal, por ter como única finalidade a arrecadação, já que não refutam 
válidas os princípios que levariam ao direito de tributar. Citam que a regulamentação do 
Imposto sobre Grandes Fortunas no Brasil seria tão pouco proveitoso quanto foi nos países 
que adotaram tal forma tributária, e ainda que a arrecadação mostrou-se pouco eficaz, e em 
alguns casos, os Estados optaram por sua exclusão do ordenamento tributário, por verem 
fortunas saindo de seus territórios. 
Considerando as exposições acima, é deduzível que o IGF não teria um impacto de 
promoção de igualdade social, tampouco acarretaria na redistribuição de renda, apenas 
truncaria alguns picos de concentração de riqueza, provocando, no mundo real, a retirada de 
bens do país para outros onde esta modalidade tributária não foi ainda cogitada. 
Outro impacto político que certamente emperra a fixação do tributo e suas alíquotas é 
que, os afetados são os grandes apoiadores dos “representantes do povo” e “respresentantes 
dos estados”, quando não são eles próprios. 
 
2.2 INTERNACIONALMENTE COMO SE APRESENTA O IMPOSTO SOBRE 
GRANDES FORTUNAS 
 
O Imposto sobre Grandes Fortunas assemelha-se a outros impostos incidentes sobre a 
riqueza dos indivíduos já existentes em outros países. Cada nação adotou livremente sua 
estratégia de tributação, nos seus ideiais, controlando as grandes concentrações de riquezas. 
Ocorre que, devido à baixa efetividade no que diz respeito a arrecadação desse tributo, 
hoje poucos os países que adotam o Imposto sobre Grandes Fortunas1, dentre eles: a 
Argentina; a Colômbia; o Uruguai; a França; a Noruega e; a Suíça. 
Criado em ano de 1914, o Imposto sobre Grandes Fortunas teve sua origem na França, 
sendo chamado de Taxe Anuelle sur la Fortune -Imposto Anual Sobre a Fortuna-, onde sua 
arrecadação era voltada para dar renda mínima aos menos favorecidos, em forma de 
assistência social (diga-se um costume bem francês). Atualmente o imposto varia suas 
alíquotas entre 0,5 a 1,5%, incidentes para pessoas que apresentarem um patrimônio acima de 
€1,3 milhões (algo em torno de R$ 6 milhões). 
Na Argentina, o Imposto sobre Bens Pessoais está previsto no ordenamento tributário 
desde 1973, passou por diversas mudanças estruturais com o passar dos anos, estabilizando-se 
no ano de 2003, hoje sua alíquota corresponde a 0,25% sobre o patrimônio bruto da pessoa 
que ultrapassar 1,05 milhões de pesos argentinos (algo em torno de R$ 170 mil). 
A Colômbia tributa fortunas superiores a 1 bilhão de pesos colombianos (R$ 1,2 
milhão), com alíquotas entre 0,3% e 1,5%. 
 
 
1 Disponível em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/16/imposto-sobre-fortunas-ricos-
milionarios-distribuicao-de-renda.htm. Acessado em 25/05/2019. 
No Uruguai2, o “Impuesto al Patrimonio” foi criado em 1964, incidindo sobre o 
patrimônio líquido das pessoas físicas e jurídicas, porém foi regulamentado apenas em 1989 
vigorando até a atualidade. Traz alíquotas de 0,1%. 
A Alemanha, encerrou a cobrança deste tributo em 1997, quando passou a considerar a 
medida tributáriapouco atraente, passando a cobrar apenas o imposto incidente sobre a renda 
(assim como ocorre atualmente no Brasil pela não regulamentação do IGF). 
Atualmente, na América Latina, apenas a Argentina, a Colômbia e o Uruguai adotam o 
Imposto sobre Grandes Fortunas. Como as alíquotas praticadas não são expressivas, não se 
pode creditar a saída dos capitais destas nações a este imposto, mas sim todo um conjunto de 
subdesenvolvimento provocado por políticas desmotivadoras à produção, por se tratarem de 
países com raízes socialistas. 
Esta baixa arrecadação parece ter sido a justificativa para países como a Áustria, a 
Itália e Alemanha terem acabado com o imposto sobre as grandes fortunas na década de 90. 
Cita-se o caso do ator francês Gérard Depardieu, que por muitas vezes tentou burlar a 
tributação transferindo seus bens e realizando suas declarações em países como a Bélgica e a 
Rússia, não adotantes dessa tributação. 
 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A adoção do Imposto sobre Grandes Fortunas no Brasil demanda um vigor legislativo 
cuidadoso, porque aqui é possível que se tenha como considerado grande fortuna um 
montante de um milhão de reais, o que, de forma imobilizada pode forçar o empobrecimento 
de classes que não conseguem ter força para se manter, a dita classe média. É necessário que a 
adoção de mais um tributo não promova a desmotivação da classe trabalhadora de trabalhar, 
lançando-se às cordas estatais como o boxeador o faz nos ringues. 
Alguns países adotantes desse regime tributário amargaram evasão de riquezas 
patrimoniais. Somente aqueles países onde há pujança econômica não foram profundamente 
afetados, e mesmo nesses, houve retrocesso sobre a adoção do tributo em alguns casos. 
Ainda que possa ser considerada medida de justiça, se teme que a distorção legislativa 
possa perverter a ideia do IGF aos que não possuem modo de sonegar renda, recaindo em 
mais um imposto às classes assalariadas, gerando impacto a elas e não fortalecendo ao Estado. 
 
2 Disponível http://repositorio.unesc.net/handle/1/6233. Acessado em 25/05/19. 
No contexto inteiro, depreende-se que este imposto, dentro do que se entende de atual 
política no país não será nem colocado em pauta, por mexer num segmento de patrimônio 
muito elevado, que sustenta a classe legislativa bem como a ela pertence. Poderia ainda ter 
como efeito uma migração patrimonial forte, desestabilizando a já fragilizada (por causa dos 
maus investimentos feitos) arrecadação. 
 
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL, Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil 
Brasília/DF, 05 de outubro de 1988. 7ª ed. São Paulo: Editora Manole LTDA, 2015. 
Jornal Folha de São Paulo. Disponível em 
https://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/personas/delfimNetto.html, 
acessado em 29/05/2019. 
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 10ª ed. ver. E ampl. São Paulo: 
Atlas, 2018. Disponível em <https://forumdeconcursos.com/wp-
content/uploads/wpforo/attachments/2/1697-Manual-de-Direito-Tributrio-Hugo-de-Brito-
Machado-Segundo-2018.pdf> Acesso em: 25 de outubro de 2018. 
MARCONDES, Aniele Imposto sobre grandes fortunas no Brasil: um breve estudo 
comparado frente à legislação da Argentina, Uruguai e Colômbia. Disponível em 
http://repositorio.unesc.net/handle/1/6233, acessado em 29/05/2019. 
UOL – Economia. Disponível em 
https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2018/03/16/imposto-sobre-fortunas-ricos-
milionarios-distribuicao-de-renda.htm. Acessado em 25/05/2019.

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