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Universidade Brasil Faculdade de Belo Horizonte 1 23 de março de 2020 Aluno: Jailson Teixeira Dissertação sobre Hannah Arendt Breve resumo do filme. O filme começa em Nova York, no ano de 1960, mostrando Arendt como uma professora universitária já consagrada devido à publicação de As Origens do Totalitarismo; as autoridades do recém-criado Estado de Israel investigam os oficiais nazistas exilados em vários países do mundo, até que encontraram na Argentina o oficial Adolf Einchman, criador da “Solução Final” e o levaram para ser julgado por seus crimes contra humanidade em Jerusalém. Arendt, devido ao seu interesse em entender todos os aspectos do totalitarismo, solicitou à revista The New Yorker que a enviasse à Israel como correspondente para fazer a cobertura das audiências de Einchman, depois de uma discussão entre os editores, a solicitação de Arendt é aceita e ela vai cobrir o julgamento. As filmagens originais do julgamento de 1961 são usadas para representar as audiências no filme, que ao não recriar um Einchman, passa para quem está assistindo a mesma visão que teve a filósofa na ocasião. A primeira coisa que impressiona Arendt é como Einchman, em uma “jaula de vidro” não corresponde a figura do oficial nazista clássico, não se trata de um psicopata sádico, mas sim de um “burocrata medíocre”, um homem comum, com família, cuja mentalidade não associava os seus atos contra judeus aos de um assassino, ele se julgava como um cumpridor de ordens, tanto que sustenta isso durante todo o julgamento, que apenas obedecia as ordens do Estado. Einchman, não se julgava responsável pela morte dos judeus porque nunca matou nenhuma pessoa diretamente, ele afirma apenas ter desenvolvido um sistema de transporte e locação para os campos de concentração, o seu trabalho era puramente burocrático. Após o retorno à Nova York, o filme mostra os conflitos causados pelas publicações dos artigos escritos por ela, que não se limitou a escrever a tentativa de legitimação do poder israelense com o julgamento de um homem sem condições de defender-se. Indo muito além do esperado, a filósofa desenvolveu duas linhas de artigos: a primeira sobre o mal radical de uma ideologia e a segunda, causadora de toda a polêmica, sobre a banalidade do mal. Esse raciocínio de Arendt, que explicava o pensamento padrão nazista de negação da culpa, junto à acusação contra alguns líderes religiosos que não organizaram movimentos de resistência do povo judeu, o que favoreceu a captura de várias pessoas, causaram uma grande comoção nas comunidades judaicas do mundo todo. A filósofa não foi compreendida pelos seus contemporâneos, que ainda sofriam com feridas do holocausto e foi duramente criticada, até por amigos próximos. Cortou laços com várias pessoas e quase foi expulsa da universidade em que trabalhava. O filme acaba da mesma forma que começou: mostrando o Universidade Brasil Faculdade de Belo Horizonte 2 23 de março de 2020 trabalho reflexivo de Arendt, que não se arrependeu do que escreveu, apesar das perseguições e afastamento de muitos dos seus amigos. O filme tem muitos méritos, não apenas conseguiu representar o conceito de banalidade do mal, mas também leva os espectadores a refletirem sobre o que constituiu a banalidade do mal, fazendo uma ligação com as atuais relações de poder das nossas instituições e de como o sistema capitalista mantido pela maioria dos países atual na vida das pessoas sem que reflitamos sobre as consequências humanas. A Banalidade do Mal A banalidade do mal foi o conceito criado através das análises das justificativas dadas pelos nazistas para se eximirem da culpa pelos crimes cometidos contra a humanidade, dizendo não serem culpados diretos, pois apenas cumpriam ordens. A banalidade do mal se pautava no sistema hierárquico e de divisão de tarefas, assim, qualquer ato contra um indivíduo não era causado por deliberação pessoal da pessoa responsável pelo extermínio direto desse individuo, mas sim por uma cadeia de ordens de superiores que culminavam no extermínio. Através dessa perspectiva as atitudes que causaram a morte de milhões de pessoas são amenizadas, a crueldade quando se torna um trabalho rotineiro de escrever nomes em papéis e não é vista com humanidade, deixa os agentes dessa crueldade cegos a ela. A sociedade nazista não parou para refletir sobre o extermínio racial de forma crítica, apenas cumpriam ordens, passando assim, por um processo de negação do pensamento, os alemães não eram mais seres humanos racionais e críticos, mas apenas peças nas engrenagens do sistema nazista. Liberdade e direitos humanos para Arendt Liberdade A concepção de Arendt sobre a ideia de cidadania, a qual chama de “o direito a ter direitos” e, quando exercido, torna possível a existência da liberdade. Conclui-se que retomar os apontamentos de Hannah, direciona o pensamento ao reconhecimento de um ser humano como sujeito de direitos pelo simples fato de sua existência, ao mesmo tempo em que deixa de ser necessário para esse reconhecimento a existência de um vínculo jurídico com determinado Estado ou seu status jurídico. A ideia de liberdade proposta por Arendt, está diretamente vinculada à capacidade de agir do ser humano, o qual torna-se livre quando exercita a ação e decide em conjunto com os demais, o seu futuro em comum, desta forma a política fundamenta-se na liberdade. Arendt nega que seja possível para o ser, experimentar plenamente a liberdade em sua interioridade enquanto sujeito, pois somente a convivência com os demais, e o exercício da ação é que o torna livre. Sendo assim, a liberdade só se desenvolve com plenitude onde a ação tiver Universidade Brasil Faculdade de Belo Horizonte 3 23 de março de 2020 criado seu próprio espaço concreto, desta forma, ser livre e agir é a mesma coisa. Se pensar é um exercício solitário, ser livre requer, por outro lado, a participação dos outros seres humanos. Partindo da ideia de que a liberdade é experimentada enquanto se age, enfatiza-se que ela consiste em feitos e palavras que são pronunciadas na presença dos demais seres humanos. Sendo assim, a autora considera o direito de fazer uso da palavra e expressar-se publicamente, como um elemento ligado à liberdade. Por fim, podemos compreender que a partir do conceito de liberdade arendtiano, a ação livre, além de superar, deve ultrapassar a vontade individual e os interesses particulares, pois o que importa ao mundo, é a coletividade, a pluralidade, e finalmente o bem comum. No atual contexto político, a liberdade não se enquadra dentro das classes sociais, sendo que Arendt aponta a educação como primeiro processo em direção a um novo modo de pensar, visando a formação de um modelo novo de homens, os quais devem ser capazes de pensar um modelo novo de mundo, voltado a capacidade do ser humano como agente que pensa e modifica o universo a sua volta. Direitos Humanos Arendt aborda a condição dos judeus, os quais perdem a sua condição de igualdade diante dos demais cidadãos quando inicia na Alemanha a campanha de desnacionalização deles, tirando-lhes assim a sua cidadania, a qual na época era vista através do vínculo jurídico que o indivíduo possuía com determinado Estado. Portanto os apátridas perderam a possibilidade de proteção jurídica por parte do Estado, pois sem a sua cidadania, também acabavam por não possuir personalidade jurídica. Sua crítica não se dirige a ideia dos direitos humanos, enquanto tais, mas ao pressuposto segundo o qual tais direitos encontrariam seu fundamento na natureza do homem, implicando-se assim uma redução política à natureza. Desta forma o nazismo instaurado na Alemanha, sem sombra de dúvidas, é um dos maiores exemplos de violação dos direitos dos seres humanos, pois as práticas violentas e a imposição totalitária, impossibilitou o exercício da cidadania a todos os habitantes neste período da história,além de disseminar o antissemitismo e promover a morte de milhares de pessoas. Portanto podemos concluir que as atrocidades que os regimes totalitários deram origem, explicitadas nos campos de concentração, mostram claramente que os direitos humanos, quando não estão vinculados a um determinado ordenamento jurídico são vazios e inúteis, além de demonstrar que tudo é possível; até mesmo a visão de seres humanos como objetos descartáveis. Os direitos humanos necessitam ser respeitados, pois embora assegurados em lei, ainda hoje não tem efetividade, sendo preciso políticas públicas e ações concretas que visem a sua real eficácia, evitando que minorias desamparadas sofram e sejam consideradas “descartáveis” como ocorreu na Alemanha nazista. Na perspectiva arendtiana os direitos humanos não se limitam aos cidadãos em seus respectivos países estabelecidos por espaços territoriais e políticos. O problema dos apátridas como Arendt chamava, estaria Universidade Brasil Faculdade de Belo Horizonte 4 23 de março de 2020 resolvido com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não fosse pelo fato de a nacionalidade, do ponto de vista jurídico e político, depender do reconhecimento de seu Estado de origem, ou seja, os indivíduos somente detém a titularidade dos seus direitos, mas o reconhecimento no âmbito internacional se subordina a soberania dos países. A ideia de Arendt, baseada na existência de um espaço internacional que garanta a tutela dos direitos humanos independente de seu estado nacional não se efetivou, contudo, sua ideia de direito a ter direitos foi decisiva para a compreensão do mundo contemporâneo.
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