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Ética em Psicologia e diversidade sexual: concepções de alunos de psicologia acerca da patologização da homossexualidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA-UFRR 
CENTRO DE EDUCAÇÃO-CEDUC 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
DANILO BRAGA DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
Ética em Psicologia e diversidade sexual: concepções de alunos de psicologia 
acerca da patologização da homossexualidade 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOA VISTA-RR 
2017 
 
DANILO BRAGA DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ética em Psicologia e diversidade sexual: concepções de alunos de psicologia 
acerca da patologização da homossexualidade 
 
 
 
 
Monografia apresentada como pré-
requisito para conclusão da disciplina 
Trabalho de Conclusão de Curso II, do 
curso de Psicologia da Universidade 
Federal de Roraima. 
 
 
Orientador: Prof. Me. Carlos Eduardo 
Ramos 
 
 
 
 
 
BOA VISTA-RR 
2017 
 
Agradecimentos 
Começarei agradecendo a algo que jamais imaginei que conseguiria a 
agradecer antes: A minha vida. O processo de estudo, reflexão e confecção que tive 
com este projeto não foi fácil, e em diversos momentos pareceu caótico, mas ao 
final, pude perceber o que estou rodeado de pessoas maravilhosas que me 
ajudaram neste processo de me descobrir, me entender e me perceber dentro, não 
somente do que estudei, mas também como um ser que se permite existir e ser feliz 
nessa sociedade. 
Não teria conseguido chegar até aqui se não fosse pelo acolhimento e 
cuidado que obtive do meu orientador, Carlos Eduardo Ramos, que soube me guiar 
com paciência e tranquilidade em todo este percurso. Estas atitudes, por mais 
pequenas que parecem ser, foram interpretadas por mim como um abraço 
gigantesco no momento em que eu mais me sentia incapaz de produzir a pesquisa, 
e é por isso que eu sou grato. 
Agradeço às professoras Fernanda Ax Wilhelm e a Pamela Alves Gil pela 
atenção e disponibilidade a participar da minha banca. A vocês e a todos os 
professores que tive contato durante esta graduação, estarão guardados em minha 
memória não somente como profissionais maravilhosos, mas como pessoas incríveis 
e dedicadas, com os quais pude aprender, além dos conteúdos formais do curso, 
lições para a vida toda. 
Agradeço imensamente aos meus pais, Elaine Sandra e Carlos Alberto, por 
todo carinho e amor que puderem me oferecer, além do suporte apoio em todos os 
âmbitos da minha vida. Sem eles, com certeza não estaria aqui escrevendo este 
agradecimento. 
Agradeço ao meu namorado, Luciano Cardenes, por todo o amor que 
compartilhamos, e por me acompanhar e motivar nos momentos mais intensos do 
desenvolvimento desta pesquisa. 
Agradeço do fundo do coração à todos os meus amigos: Alisson Silva; 
Alexya Cristal; Carol Fontenele; Dafny Mendes; Dayran Mábysson; Edgéssica Lima; 
Elís Marques; Fernanda Carvalho; Fernanda Ingredy; Glycya Ribeiro; Hendrix 
Ambrosio; Jay Caetano; Raquel Veras; Rayza Prado; Luiza Brasil; Maria Veras; e 
muitos outros que não caberia citar aqui. Muito obrigado por tornarem minha vida 
mais leve no ambiente universitário e fora dele também, por todas as conversas, 
tomadas de consciência, abraços e sorrisos compartilhados. 
Resumo 
Esta pesquisa apresenta uma discussão sobre questões éticas da Psicologia diante 
da temática da homossexualidade. Objetivou-se compreender como os estudantes 
de psicologia da região norte se posicionam diante do compromisso ético do 
psicólogo frente ao seu código de ética e a temática da intervenção psicológica na 
orientação sexual. Especificamente verificou-se a opinião dos alunos em relação ao 
código de ética, a resolução 01/99 do CFP, e sobre o Projeto de Decreto Legislativo 
– PDC 234/2011, bem como analisou-se a relação entre conhecimento ético diante 
da intervenção psicológica diante da homossexualidade. Foram realizadas 
entrevistas semi-estruturadas com estudantes de faculdades pública e privada do 
curso de psicologia. A pesquisa exploratória foi submetida a análise qualitativa do 
conteúdo, construindo-se categorias que condiziam com o objetivo proposto. Os 
resultados apontam que, embora exista boas reflexões diante do dever ético do 
psicólogo diante da homossexualidade, a ética ainda é vista como algo voltado à 
prática técnica do profissional, assim como a falta de conhecimento de projetos que 
tentam modificar resoluções já bem estruturadas demonstram a falta de diálogo 
sobre estas questões nas respectivas instituições de ensino. 
Palavras Chave: Ética; Psicologia; Homossexualidade. 
 
 
Abstract 
This research discussed the ethical issues in Psychology to the homosexuality 
theme. The objective was to understand how psychology students from the North 
region stand up to the psychologists’ ethical commitment in front of their ethical code 
and the theme of psychological intervention in sexual oriental. Concretely was 
verified the students opinion about the ethical code, the 01/99 CFP’s Resolution, and 
the PDC 234/2011, as it’s been also analyzed the relation between the ethical 
knowledge about the psychological intervention in the face of homosexuality. Semi-
structured interviews were conducted with psychology students from public and 
private colleges. The exploratory research was submitted to a qualitative analysis of 
the content, constructing up categories that were consistent with the suggested 
objective. The results indicate that, although there are good thoughts about the 
ethical duty of the psychologist in face of homosexuality, Ethics is still seen as 
something aimed at the technical practice of the professional, as well as the lack of 
knowledge about these projects that try to modify resolutions already well-structured 
evidences the lack of dialogue about those issues in those respective institutions. 
Key-words: Ethics; Psychology; Homosexuality 
 
 
 
Lista de Siglas 
 
APA – American Psychological Association (Associação Americana de Psicologia) 
CID-10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas 
Relacionados com a Saúde 
CNJ - Conselho Nacional de Justiça 
CFP – Conselho Federal de Psicologia 
CRP-PR – Conselho Regional de Psicologia do Paraná 
EUA – Estados Unidos da América 
FGV – Fundação Getúlio Vargas 
GGB – Grupo Gay da Bahia 
ILGA - Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e 
Interssexuais 
LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis, Transexuais e Transgêneros 
OMS – Organização Mundial da Saúde 
PDC – Projeto de Decreto Legislativo 
STF – Supremo Tribunal Federal 
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. Introdução ......................................................................................................................................... 8 
2. Sobre Ética e Psicologia ............................................................................................................... 10 
2.1. A Ética como uma categoria filosófica e sua relação com a Psicologia ........................ 10 
2.2. O Código de Ética Profissional do Psicólogo ..................................................................... 14 
3. Sobre Psicologia, homossexualidade e diversidade sexual ................................................... 19 
3.1 Psicologia e diversidade sexual ............................................................................................ 19 
3.2. A homossexualidade e os movimentos sociais ................................................................. 21 
3. Objetivos .......................................................................................................................................... 25 
3.1. Objetivo Geral ......................................................................................................................... 25 
3.2. Objetivos específicos ............................................................................................................. 25 
4. Método .............................................................................................................................................26 
5. Análise dos dados e discussão dos resultados......................................................................... 28 
5.1. Caracterização dos participantes da pesquisa .................................................................. 28 
5.2. Diferentes concepções de ética ........................................................................................... 29 
5.3. Atuação do Psicólogo diante da Homossexualidade ........................................................ 33 
5.4. Opiniões sobre o Projeto de Decreto Legislativo - PDC 234/2011 ................................ 39 
6. Considerações Finais .................................................................................................................... 42 
7. Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 44 
ANEXO ................................................................................................................................................. 47 
APÊNDICES ........................................................................................................................................ 50 
 
 
8 
 
1. Introdução 
 
O psicólogo se faz numa profissão que lida com diversas questões relativas 
ao comportamento humano. Sem restrições, seu trabalho pode ser indicado a 
qualquer pessoa, seja adulto ou criança, seja no âmbito empresarial, profissional, 
pessoal, amoroso, dentre outros. Diante destas demandas, este profissional se vê 
rodeado por diversas questões éticas que necessitam constantes revisões. 
Nos últimos anos os homossexuais encontravam-se num contexto de 
garantia e legitimação de direitos no território brasileiro. A exemplo na Psicologia, 
tem-se a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia que fez parte de uma 
das tomadas de direitos importantes a este grupo social, principalmente no que 
tange a atuação do psicólogo diante das questões de orientação sexual em contexto 
clínico e social, descaracterizando a concepção de doença em volta da 
homossexualidade em um momento histórico em que ela se via patologizada 
mediante aos discursos da área da saúde. Entretanto, um movimento contrário vem 
ganhando forças, iniciado pela criação do Projeto de Decreto Legislativo – PDC 234, 
em 2011, o qual ataca diretamente aspectos da Resolução 01/99 no que diz respeito 
às questões de despatologização da homossexualidade e proibição de serviços que 
possuam a finalidade de tratar ou propor uma cura para a homossexualidade. 
Projetos assim vem sendo criados até o momento atual como um processo 
insistente para derrubar a respectiva resolução a qual se encontra pautada no 
compromisso ético voltado aos Direitos Humanos. 
Com isto, esta pesquisa teve como objetivo compreender a opinião dos 
estudantes de psicologia diante do compromisso ético do psicólogo frente ao seu 
código de ética e sua relação com a temática da intervenção psicológica na 
orientação sexual. Para isto, é tratado no primeiro capítulo as reflexões ética de 
forma geral, para assim, chegarmos na discussão do código de ética do psicólogo, 
onde então, no segundo capítulo, se apresentará as dinâmicas entre a psicologia, 
com contribuições da psicanálise, e os estudos sobre a homossexualidade, para 
assim chegarmos a problemática atual enfrentada pelos homossexuais no Brasil, 
tendo em vista que este grupo, além das constantes violências sofridas, enfrentam o 
insistente movimento de projetos de lei que visam acabar com direitos já adquiridos 
por este grupo. Neste ponto, a pesquisa se fez do tipo exploratória através da 
9 
 
abordagem qualitativa, visto que este tipo de pesquisa o propósito de conhecer a 
realidade estudada, buscando a compreensão do fenômeno pesquisado. Utilizou-se 
como instrumento de entrevista semi-estruturada juntamente de um questionário 
sociodemográfico básico, participando assim, seis estudantes oriundos de 
Instituições pública e privada. As entrevistas foram gravadas e transcritas, e então, 
analisadas através do referencial teórico. 
Assim, entendendo que o profissional de psicologia possui um dever ético e, 
portanto, social, notou-se que a ética é entendida, de forma mais técnica, 
geralmente voltada para a prática técnica do profissional, sem muitas reflexões 
diante da mesma. Além disso, mesmo existindo reflexões acerca da 
homossexualidade que condizem com os ideais éticos da psicologia, a falta de 
conhecimento sobre a Resolução 01/99, assim como de projetos que tentam susta-
la, mostram que esta temática encontra-se pouco discutida no ambiente universitário 
destas respectivas instituições. 
 
 
 
 
10 
 
2. Sobre Ética e Psicologia 
 
2.1. A Ética como uma categoria filosófica e sua relação com a Psicologia 
 
A ética é um tema que faz parte da discussão nas diversas instâncias da 
sociedade. Para o autor Álvaro Valls (1994), quando falamos em ética, falamos, 
entre vários aspectos, sobre a própria vida, uma vez que a ética é sempre aplicada 
no nosso dia a dia, no trabalho, na família, etc. Neste sentido, observamos a 
definição de ética, pelo dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas 
(1987): 
 
A ciência dos costumes ou dos atos humanos, e seu objetivo é a 
moralidade, entendendo-se por moralidade a caracterização desses 
mesmos atos como bem ou mal; (...) A ética como sistema filosófico 
é parte fundamentalmente, da filosofia prática; a ética é filosofia do 
que é moral, i.e., busca a análise e o aprofundamento dos fatos 
morais que podem ser deduzidas as normas para qualquer humano 
(p.433). 
 
Já segundo o dicionário de psicologia da American Psychological 
Association (2010), ética é definida como: 
 
Ramo da filosofia que investiga tanto o conteúdo dos juízos morais 
(i.e., o que é certo e o que é errado) quanto sua natureza (i.e., se tais 
juízos devem ser considerados objetivos ou subjetivos); (...) Os 
princípios de conduta moralmente certa aceitos por uma pessoa ou 
grupo ou considerados adequados a um campo específico (p. ex., 
ética médica) (p.391). 
 
Estas definições nos mostram que ética é entendida como uma reflexão 
filosófica sobre o comportamento humano, cujo objetivo se encontra na 
compreensão moral destes comportamentos. Porém, enquanto o dicionário de 
Ciências Sociais da FGV (1987) nos traz como objetivo da ética uma compreensão 
universal do comportamento moral, ou seja, algo que diz respeito a todos os seres 
humanos, o dicionário de psicologia da APA (2010) nos traz também um conceito 
subjetivo, em que o conceito moral dependeria da caracterização dada pela pessoa 
que o compreende, ou por um grupo de pessoas, sendo assim, a ética é 
compreendida através da mediação social. Neste sentido, segundo Valls (1994), as 
problemáticas tratadas no âmbito da ética podem ser divididas didaticamente em 
11 
 
dois campos: Dos problemas gerais e fundamentais, como as concepções de 
liberdade, da consciência, da noção de bem, valor, e lei, e dos problemas 
específicos, como os da ética profissional, ética política, ética sexual, ética 
matrimonial, bioética, etc. 
Moral e ética são comumente identificados como sinônimos, o que, para La 
Taille (2006), se faz aceitável, visto que os vocábulos derivam das culturas grega e 
romana as quais nomeavam o campo da reflexão sobre costumes a se considerar 
normal. O autor propõe então uma diferenciação simples, onde a moral 
correspondendo às leis que normatizam as condutas humanas, e a ética 
correspondendo aos ideais que dão sentido à vida. 
Ética nesse sentido pode ser compreendida de forma plural, por éticas, uma 
vez que diversos contextos sociais apresentam comportamentos que são 
considerados corretos a serem seguidos, da mesma forma que essas concepções 
morais se modificam com o tempo e sua localidade. Assim, “uma boa teoria ética 
deveria atender a pretensão de universalidade, ainda que simultaneamentecapaz 
de explicar as variações de comportamento, características das diferentes 
formações culturais e históricas” (VALLS, 1994, p. 16). 
Toda profissão por exemplo, possui em sua base, normas orientadas por um 
código de ética. Um código de ética, por sua vez, é um acordo que estabelece os 
direitos e deveres de uma categoria profissional a partir de seu posicionamento 
social que orienta o profissional no exercício de suas funções. Com isso, os direitos 
devem constituir o perfil do profissional e os deveres são obrigações e condutas que 
o profissional deve tomar ao desempenhar seus serviços, visando o cumprimento 
das normas éticas e morais. Assim, um código de ética é passível de mudanças na 
medida em que as sociedades mudam, fazendo-se necessário repensar o exercício 
da profissão, exigindo constante reformulações sobre que normas podem orientar os 
profissionais (CFP, 2005). 
A psicologia, enquanto ciência e profissão, cujo objeto de trabalho e estudo 
é o ser humano e suas relações, também se guia por normas e reflexões éticas. No 
Brasil, o código de ética do psicólogo “(...)pautou-se pelo princípio geral de 
aproximar-se mais de um instrumento de reflexão do que um conjunto de normas a 
serem seguidas pelo psicólogo”(CFP, 2005, p.6). Entretanto, antes de analisar 
pontos importantes sobre o código de ética da psicologia, faz-se importante levantar 
uma discussão breve sobre a ética em suas esferas mais gerais. 
12 
 
Neste sentido, os gregos aparecem como figuras importantes para o 
ocidente, no campo da reflexão sobre as ações humanas. Segundo Valls (1994), a 
reflexão ética procede, inicialmente, de um contexto religioso, no caso a cosmologia, 
a qual se remetia à uma ciência da natureza, onde: 
 
[...] o ideal ético estava ou na busca teórica e prática da idéia do 
Bem, da qual as realidades mundanas participariam de alguma 
maneira (Platão), ou estava na felicidade, entendida como uma vida 
bem ordenada, uma vida virtuosa, onde as capacidades superiores 
do homem tivessem a preferência, e as demais capacidades não 
fossem, afinal, desprezadas, na medida em que o homem, ser 
sintético e composto, necessitava de muitas coisas (p.43). 
 
Ainda, Sócrates aparece como uma figura importante para a discussão da 
Ética grega, pois rompe com a cosmovisão das coisas e da natureza, situando seu 
pensamento e especulações na natureza propriamente humana e suas implicações 
sociais. Sócrates inicia assim um movimento de interiorização da reflexão e de 
valorização da subjetividade, uma vez que sua ética compreende o conhecer-se do 
próprio indivíduo, pois o conhecimento seria a base para o agir ético. (VALLS, 1994) 
Tais compreensões ganham outras formas a medida em que a sociedade se 
organiza no novo contexto histórico. A Idade Média europeia, por exemplo, 
apresenta características éticas influenciadas principalmente pelos ideais ligados à 
religião, à interpretação da Bíblia e à teologia de modo geral (VALLS, 1994). 
Entretanto, a partir da Renascença e o Iluminismo, com o fortalecimento da nova 
classe social, a burguesia, a ética medieval, teocêntrica e teológica, se desloca para 
uma ética eminentemente racionalista, que considera o homem como centro de toda 
manifestação cultural (VALLS, 1994). É neste contexto que Kant surge, identificando 
como ideal ético o ideal da autonomia individual, baseada no dever, onde a 
preocupação moral se encontra na consciência moral, uma vez que o dever ético 
não se dissocia do indivíduo. O reflexo desta razão absoluta, o princípio que todo 
indivíduo deve seguir como base para as suas ações é chamado por ele de 
‘imperativo categórico’, que preconiza que os indivíduos devem tomar suas atitudes 
de uma maneira que o princípio da sua ação possa ser tomado como um princípio 
de ação universal, ou seja, numa ação que possa necessariamente servir para 
todas as pessoas no mundo (VALLS, 1994; LA TAILLE, 2010). 
13 
 
Hegel, contemporâneo de Kant, compreende, entretanto, que a intenção do 
indivíduo não é suficiente para avaliar uma ação eticamente correta, mas que esta 
seria feita a partir da avaliação do contexto a qual o indivíduo se encontra agindo. É 
a partir do conceito de eticidade, ou vida ética, que Hegel compreende a ética dentro 
de um Estado livre, que se volta a preservar os direitos e a cobrar os deveres, a qual 
a consciência moral e as leis do direito não estejam em contradição. Assim, sua 
preocupação ética se encontra dentro de instituições históricas e sociais, como a 
família, sociedade civil e Estado (VALLS, 1994). 
Neste aspecto, como aponta Crochík (2011), tanto os imperativos categóricos 
de Kant apontam para a forma racional a exemplo do bem supremo, assim como a 
dialética e o universal de Hegel submete a vontade individual ao Estado racional. 
Assim: 
 
[...] tentar fazer coincidir a lógica do particular e a lógica do universal 
é recair no idealismo, mas em um idealismo empobrecido, pois 
perde-se a crítica que este trazia nessa distinção. Em primeiro lugar, 
porque se pede ao indivíduo que se reconheça imediatamente 
naquilo que o nega: o universal; em segundo lugar, porque tenta-se 
tomar como objetivo algo que se enraíza na razão subjetiva. Kant, ao 
menos, recusava-se a fazer coincidir a esfera transcendental- o 
mundo das idéias - e a esfera empírica - o mundo da contingência - 
uma vez que não considerava o mundo existente digno do homem tal 
como podia ser pensado: justo e livre. (p. 106). 
 
Ainda segundo o autor, embora a junção do particular com o universal, ou 
seja, a junção de sociedade e indivíduo poderia levar à uma ideologia, a qual 
naturaliza os fatos. Entender o indivíduo sem a relaciona-lo com a mediação social 
seria julgar que o indivíduo possui uma lógica própria. Com isso: 
 
[...] deve-se também evitar o risco de entender o materialismo como 
próprio da natureza, o que permitiu, entre outras coisas, a doutrina 
fascista, na qual tanto a cultura como os indivíduos devem ser 
tratados dentro de uma hierarquia natural. Nesse sentido, os 
conceitos de auto-regulação e equilíbrio dinâmico - homeostase -, 
como utilizados pela psicologia por empréstimo à biologia, devem ser 
entendidos com cuidado (CROCHIK, 2011, p. 106). 
 
Desta forma, a Psicologia, a Ética e a Razão se fazem inseparáveis, pois as 
questões éticas que envolvem as teorias e práticas psicológicas não podem ser 
consideradas de forma imediata e, neste sentido, a construção da realidade precisa 
ser constantemente revisada “[...] na contraposição, entre aquilo que a realidade é e 
14 
 
aquilo que ela poderia ser para proporcionar uma vida humana digna de ser vivida” 
(CROCHIK, 1992, p.12). 
 
2.2. O Código de Ética Profissional do Psicólogo 
 
A psicologia como profissão, no Brasil, é relativamente recente, sendo 
formalmente regulamentada em 27 de agosto de 1962 pela Lei nº 4.119, 
possibilitando assim definir não somente as condições de formação, mas também as 
áreas de domínio prático que viriam a ser consideradas próprias do profissional. Tal 
processo marca o reconhecimento da existência de um lugar para o psicólogo na 
divisão social e técnica do trabalho, a qual traça os contornos das atribuições da 
profissão, assim como normas e orientações. Este evento se marca a partir da 
criação do Conselho Federal de Psicologia pela Lei nº 5.766 de 1971, que 
possibilitou, entre outras funções, a de regulamentar a profissão do Psicólogo, com a 
obrigatoriedade de exercer função normativa e baixar atos à execução da legislação 
reguladora do exercício profissional. Assim, o Código de Ética Profissional do 
Psicólogo surge, neste sentido, a partir da necessidade de se organizar normas 
éticas para os profissionais durante aquele período. 
Hoje, o código se encontra em sua terceira edição, que está em vigor desde o 
dia 27 de agosto de 2005 através da resolução do CFP nº 010/05, e passa a 
reconhecer o psicólogo como um profissionalem constante relação com a 
sociedade, podendo oferecer respostas e possíveis soluções às demandas sociais, 
num contexto de tensões entre os interesses e direitos individuais e coletivos. Neste 
sentido, o código apresenta sete eixos como princípios fundamentais da profissão, 
sendo elas: 
 
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da 
liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser 
humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal 
dos Direitos Humanos. 
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de 
vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação 
de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. 
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando 
crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e 
cultural. 
15 
 
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo 
aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da 
Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. 
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do 
acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência 
psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. 
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado 
com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja 
sendo aviltada. 
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em 
que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades 
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância 
com os demais princípios deste Código. 
 
A compreensão dos princípios fundamentais é um importante norteador para 
a prática aos cuidados àqueles que procuram o profissional da psicologia. Como 
consta no próprio código, buscou-se: 
 
Valorizar os princípios fundamentais como grandes eixos que devem 
orientar a relação do psicólogo com a sociedade, a profissão, as 
entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos atravessam 
todas as práticas e estas demandam uma contínua reflexão sobre o 
contexto social e institucional (CFP, 2005, p.6). 
 
 
Se o objeto da psicologia, por excelência, é o indivíduo e sua subjetividade, o 
método para estuda-la seria entender no indivíduo as marcas da sociedade, 
compreendendo as finalidades, as instâncias, os meios pelos quais uma 
determinada cultura forma este indivíduo (CROCHIK, 2011). Neste ponto, o código 
de ética já identifica estas reflexões, vedando ao psicólogo inclusive, aspectos que 
descaracterizam os princípios fundamentais expostos. Vale assim destacar os itens 
A e B do Art. 2º, ao qual veta ao psicólogo: 
 
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou 
opressão; 
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, 
religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, 
quando do exercício de suas funções profissionais; 
 
A partir disso, se tomarmos o exemplo de uma pessoa que sofre por conta da 
sua sexualidade (neste caso o homossexual), e procura na psicoterapia uma ajuda 
para acabar com esse sofrimento, o psicólogo ao aceitar o problema como sendo do 
indivíduo e da sua sexualidade, estaria não apenas negligenciando o contexto social 
16 
 
ao qual este estaria inserido, mas sendo também conivente com atos de violência 
que são exteriores ao próprio indivíduo que sofre. Como Crochík (2011) ilustra: 
Se este mal-estar é prova do sofrimento existente, a ideologia tenta 
negá-lo para que a existência do indivíduo possa ser harmonizada 
com a existência da cultura que o nega. Dessa forma, ou o 
sofrimento é atribuído, quanto às suas fontes, ao indivíduo, ou seja, é 
ele o inadequado, e deve ser submetido aos tratamentos existentes, 
a psicoterapia entre eles, ou então o sofrimento é tornado ontológico 
e o indivíduo deve conviver com ele. Nos dois casos, a psicologia faz 
parte da ideologia e impede que os conflitos sociais possam ser 
vistos como origem do sofrimento (p. 104). 
 
Nesta temática, o CFP dispõe da Resolução 01/99, com seis artigos que 
consideram o trabalho do psicólogo diante da homossexualidade, sendo estes: 
 
Art. 1° - Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da 
profissão notadamente aqueles que disciplinam a não discriminação 
e a promoção e bem-estar das pessoas e da humanidade. 
Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento, 
para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de 
discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam 
comportamentos ou práticas homoeróticas. 
Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a 
patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem 
adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para 
tratamentos não solicitados. Parágrafo único - Os psicólogos não 
colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e 
cura das homossexualidades. 
Art. 4° - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de 
pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de 
modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos 
homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica. 
Art. 5° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. 
Art. 6° - Revogam-se todas as disposições em contrário. 
 
Os Art. 1º e 2º dizem respeito, respectivamente, à atuação do psicólogo 
pautada nos princípios éticos que o guiam à promoção do bem-estar do seu objeto, 
o ser humano, assim como sua contribuição científica voltada para a reflexão do 
preconceito e estigmas que homossexuais sofrem. Já o Art. 3º, um dos mais 
importantes a se identificar para este estudo, veta o psicólogo de exercer práticas 
que colaborem com a patologização da homossexualidade, além da própria 
orientação para tratamentos não solicitados, sendo neste caso, complementado por 
seu parágrafo único, que exclui toda a possibilidade de colaborar inclusive para 
17 
 
eventos ou serviços que possuam essa finalidade de tratar ou propor uma cura para 
a homossexualidade. O Art.º 4 reforça a importância da não patologização da 
homossexualidade, e com isso, identifica a importância do não pronunciamento nas 
diversas esferas sociais e midiáticas. Os últimos artigos, 5º e 6º certificam que toda 
a resolução seja validada, excluindo disposições contrárias. 
Tal resolução se encontra de acordo com os objetivos da psicologia e 
complementam os itens já dispostos no código de ética, ela inclusive se faz 
importante por acentuar o trabalho do psicólogo especificamente diante da 
homossexualidade e as demandas que possam surgir diante desta. 
Entretanto, na medida em que surgem projetos que procuram sustar 
elementos da resolução 01/99, como é o como é o caso da PDC 234/11, cujo 
objetivo propõem sustar o parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º desta resolução, 
possui como justificativa de sua criação, o seguinte argumento: “ao restringir o 
trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional, 
por intermédio do questionado ato normativo, extrapolou o seu poder 
regulamentar” (PDC 234/2011, p. 2). Notaríamos assim uma má interpretação 
quanto às normas dispostas no código de ética do psicólogo, porém, como explica o 
relator o deputado Roberto de Lucena 1, a origem do projeto se fez: 
 
[...] nas queixas de profissionais, que por conta da aplicação do 
parágrafo único do art. 3º e o art. 4º da Resolução nº 01/99 do 
Conselho Federal de Psicologia, tem sido levados a julgamento no 
Conselho de Ética de seu órgão de classe, já existindo, inclusive, 
profissionais que estão impedidos de exercerem a profissão 
(LUCENA, 2012, p.3). 
 
Ora, se a queixa surge por conta de psicólogos, que aparentemente estão 
impedidos de exercer a profissão por conta da resolução 01/99,nos possibilita assim 
pensar em dois casos importantes: A primeira é de que muitos psicólogos estariam 
interpretando de forma equivocada ou mesmo ignorando as implicações éticas do 
código e da resolução, assim como discutimos brevemente neste capítulo; A 
segunda questão nos fala à tentativa destes profissionais de apoiarem um projeto de 
lei que os possibilite exercer aquilo que os Art. 3º e 4º estão vetando. 
 
1
 Parecer do relator, Dep. Roberto de Lucena (PV-SP), pela aprovação da PDC 234/11 durante a Comissão de 
Seguridade Social e Família no dia 10 de dezembro de 2012. Acesso: 07 de fevereiro de 2017. Disponível em: 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=92E8868F29931001E8AC5B73CA
FCEE7F.proposicoesWebExterno1?codteor=1048492&filename=Tramitacao-PDC+234/2011 
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=92E8868F29931001E8AC5B73CAFCEE7F.proposicoesWebExterno1?codteor=1048492&filename=Tramitacao-PDC+234/2011
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=92E8868F29931001E8AC5B73CAFCEE7F.proposicoesWebExterno1?codteor=1048492&filename=Tramitacao-PDC+234/2011
18 
 
Em ambos os casos a situação se apresenta como um problema grave, e em 
meio a essa discussão, surgem as falas de uma psicóloga, Marisa Lobo, que se 
anuncia publicamente defendendo a PDC 234/2011. Em seu blog2, ela diz: 
 
Podemos, sim, tratar do sofrimento psíquico de qualquer paciente, 
seja ele quem for. A resolução 01/99 tem sido mal interpretada 
impondo um valor e um juízo falsos pois, desde que foi criada, nunca 
respeitou a vontade do paciente e sim impôs uma unilateralidade 
obrigatória(...) (LOBO, 2012, p.1). 
 
A autodenominada “psicóloga cristã” sofreu em 2013 um Processo Disciplinar 
Ético pelo CRP-PR que inicialmente resultou na cassação do exercício profissional, 
mas após recurso administrativo, o CFP reformou a penalidade, limitando-se a 
censura pública. Mesmo diante dos pronunciamentos feito pelo CFP à época, e com 
a arquivação da PDC 234/2011 em 2013, surge neste mesmo ano outro projeto 
semelhante, o PDC 993/2013, cujo status encontra-se devolvida ao autor, portanto, 
não arquivado. É a partir da insistência destes argumentos e projetos, que o 
Conselho Federal de Psicologia, junto com o Conselho Federal da Ordem dos 
Advogados do Brasil a se posicionaram em uma nota assinada em 2014 (Anexo I), a 
qual ressalta que: 
[...] é um princípio ético da(o) psicóloga(o) o respeito à livre 
orientação sexual dos indivíduos e o apoio à elaboração de formas 
de enfrentamento no lidar com as realidades sociais preconceituosas 
e discriminatórias. É dever do profissional de Psicologia fornecer 
subsídios que levem à felicidade e o bem-estar das pessoas, 
respeitando as orientações sexuais e as identidades de gênero 
(2014, p. 1). 
 
Como exposto no decorrer deste estudo, a psicologia tem um compromisso 
ético e, se ela não está exercendo seu compromisso ético, ela acaba por converter-
se em ideologia. Como ideologia, ela normatizaria eventos e situações, e no caso 
dos Projetos de Decreto Legislativos apresentados, expõem argumentos que vão 
contra este compromisso ético, numa tentativa de normatizar tratamentos referentes 
à homossexualidade. 
 
 
2
 Homossexuais podem ser tratados sim, afirma Psicóloga Marisa Lobo. Acesso: 20 de Janeiro de 2017. 
Disponível em: http://marisalobo.blogspot.com.br/2012/02/direitoshumano-homossexuais-podem-ser.html 
19 
 
3. Sobre Psicologia, homossexualidade e diversidade sexual 
 
3.1 Psicologia e diversidade sexual 
 
Vivemos atualmente num contexto de constantes mudanças, tanto 
econômicas quanto sociais e políticas. Neste contexto, não há como negar que a 
mobilização dos diversos setores sociais vem crescendo e se movimentando em 
favor do reconhecimento e legitimidade de suas diferenças. A sexualidade se 
encontra neste contexto e engloba diversas esferas de atuação humana. 
Diversidade sexual refere-se ao reconhecimento, ao longo da existência dos 
seres humanos, das diferentes possibilidades de expressão da sexualidade. Este 
termo, segundo Quartiero e Nardi (2011), vem sendo utilizado principalmente pelos 
movimentos sociais para tratar questões relativas à homossexualidade e demais 
expressões sexuais e culturais. Ainda, o conceito de ‘diversidade’ vem sendo 
utilizado como opção a termos como ‘diferente’ ou ‘diverso’, que traz consigo o 
referencial de ‘normal’. A homossexualidade, que acompanha um percurso histórico 
conturbado, é uma dessas expressões da diversidade sexual, sendo reconhecida, 
entretanto, a partir de 1860, atrelada ao discurso médico que, por sua vez, 
utilizavam-na para a descrever como patologia desviante ao comportamento 
heteronormativo da época (NAPHY, 2006). 
A sexualidade, entretanto, ganha diálogos significativos no campo da 
psicologia com o advento da psicanálise. Com isso, “Freud, ao desmistificar as 
concepções naturalizantes acerca da sexualidade humana, observou que a 
produção do desejo e as supostas ações sexuais seguem determinações 
inconscientes” (BRASIL, 2007, p. 18). 
Entretanto a discussão sobre a homossexualidade, em Freud, é relativa e 
varia conforme o desenvolver da sua teoria. (VIEIRA, 2009). Em seu texto ‘Três 
ensaios sobre a teoria da sexualidade’, Freud (1905/1996) demonstra que a pulsão 
possui caráter parcial e que isto não permitiria restringir a sexualidade à 
genitalidade, onde: 
 
A psicanálise considera, antes, que a independência da escolha 
objetal em relação ao sexo do objeto, a liberdade de dispor 
igualmente de objetos masculinos e femininos, tal como observada 
na infância, nas condições primitivas e nas épocas pré-históricas, é a 
20 
 
base originária da qual, mediante a restrição num sentido ou no 
outro, desenvolvem-se tanto o tipo “normal” como o “invertido”. No 
sentido psicanalítico, portanto, o interesse sexual exclusivo do 
homem pela mulher é também um problema que exige 
esclarecimento, e não uma evidência indiscutível que se possa 
atribuir a uma atração de base química (FREUD, 1905/1996, p.137-
138). 
 
O complexo de Édipo se apresenta na teoria freudiana como um processo 
que influencia diretamente na construção da estrutura psíquica do indivíduo. Este 
evento se caracteriza pela passagem da criança na sua fase fálica, onde o órgão 
genital assume maior importância na relação da busca pelo prazer. Geralmente, a 
criança sente uma forte atração pelo sexo oposto, e como Freud (1900/1969) relata, 
durante a infância, “apaixonar-se por um dos pais e odiar o outro figuram entre os 
componentes essenciais do acervo de impulsos psíquicos que se formam nessa 
época” (p.261). Neste sentido, o complexo de édipo ocorre quando a identificação 
com a figura paterna passa a carregar hostilidade, junto com o desejo de ocupar o 
seu lugar junto à mãe. É nesse momento que a criança se depara com privações, 
regras e limites, onde, pelo medo da castração. “Os investimentos objetais são 
abandonados e substituídos por uma identificação. A autoridade do pai introjetada 
no ego forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a 
proibição deste contra o incesto, defendendo o ego do retorno da libido” (FREUD, 
1977/1996, p. 221). 
Com isso Freud (1969/1976) compreende a origem da homossexualidade 
masculina a partir do fim do processo do complexo de Édipo, onde, a criança que via 
na mãe seu desejo sexual, precisa troca-la por outro objeto sexual em sua 
puberdade. A homossexualidade se daria quando este processo não ocorre e o 
jovem passa então a identificar-se com a mãe, na busca de objetos que possam “[...] 
substituir seu ego para ele, objetos aos quais possa conceder um amor e um carinho 
iguais aos que recebeu de sua mãe”(p. 59). 
Vale ressaltar ainda uma carta escrita por Freud em 1935,endereçada a 
uma mãe norte-americana que havia lhe solicitado ajuda em relação aos 
comportamentos e condutas que ela considerava anormais em seu filho. Nesta 
carta, ele diz: 
Cara Senhora, depreendi de sua carta que seu filho é homossexual. 
Fiquei impressionado pelo fato de que a senhora não menciona este 
termo em sua informação sobre ele. Posso perguntar-lhe porque 
21 
 
evitou isso? Homossexualidade não é seguramente uma vantagem, 
mas não há por que se ficar envergonhado com isso, pois não é um 
vício, nem degradação e não pode ser classificada como uma 
doença; nós a consideramos como uma variação da função sexual 
produzida por uma certa parada no desenvolvimento sexual. Muitos 
indivíduos altamente respeitáveis dos tempos antigos e modernos 
foram e são homossexuais, dentre os quais alguns dos maiores 
homens (Platão, Michelângelo, Leonardo da Vinci, etc.). É uma 
grande injustiça perseguir a homossexualidade como um crime, e 
também uma crueldade. Se a senhora não acreditar em mim, leia os 
livros de Havelock Elis. Peguntando-me se posso ajuda-la, a senhora 
acredita, eu suponho, que poderei eliminar a homossexualidade e 
substitui-la por uma heterossexualidade normal. A resposta é, de 
maneira geral, que não podemos prometer realizar isso. Num certo 
número de casos, conseguimos desenvolver as tendências 
heterossexuais que existem em cada homossexual, mas na maioria 
dos casos isto não é possível. É uma questão da qualidade e da 
idade do indivíduo. O resultado do tratamento não pode ser 
previsível. O que a análise pode fazer para que o seu filho tome um 
rumo diferente? Se é infeliz, neurótico, atormentado por conflitos, 
inibido na sua vida social, a análise pode dar-lhe harmonia, paz de 
espírito, plena eficiência, se ele permanece como homossexual ou se 
consegue mudar [...] (FREUD 1935, apud WEREBE, 1998, p. 51). 
 
Freud neste sentido trata a homossexualidade pelo viés do sujeito 
inconsciente, admitindo assim todas as variações possíveis da sexualidade humana, 
reforçando ainda, o caráter não patologizante da mesma. 
 
3.2. A homossexualidade e os movimentos sociais 
A homossexualidade certamente não é um fenômeno recente e acompanha 
a história humana há séculos, e, embora os diversos casos de violência e privação 
de direitos que a população homossexual sofreu durante seu processo histórico, é a 
partir da Revolta de Stonewall que se inicia o marco no movimento LBGT. Tal 
evento, ocorrido 28 de junho de 1969 em Nova York, caracterizou-se pelo 
enfrentamento às corriqueiras batidas policiais em lugares frequentados por gays e 
lésbicas nos EUA. Dali emergiram os primeiros grupos de militantes e jornais na luta 
pelos diretos aos grupos homossexuais. Desde então, a partir das primeiras 
manifestações como a Marcha do Orgulho Gay, em 1970 em Nova York, avanços 
significativos em relação à compreensão da homossexualidade no âmbito científico 
aconteceram, dentre eles: em 1973 a Associação Americana de Psiquiatria retira a 
homossexualidade da lista dos transtornos mentais e em 1975 a Associação 
22 
 
Americana de Psicologia adota esta mesma medida (SANTANA, SANTOS e 
MACHADO, 2016, p. 16). 
Tais eventos proporcionam também, em 17 de maio de 1990, pela 
Organização Mundial da Saúde (OMS), a retirada da homossexualidade e a 
orientação sexual como patologia do Código de Classificação de Doenças – CID-
103. O Dia Internacional de Luta contra a Homofobia se dá, inclusive, no dia 17 de 
maio a partir desta decisão da OMS. Fica claro que estas mudanças no âmbito 
científico proporcionam novas reflexões diante da sexualidade de forma geral. No 
Brasil, o Conselho Federal de Psicologia, através da Resolução nº 01/99 se 
preocupou em reforçar a sexualidade como parte da identidade do sujeito e que esta 
deva ser compreendida em sua totalidade, e com isso, a homossexualidade não se 
constitui como doença, nem distúrbio e nem perversão, vetando aos psicólogos 
quaisquer praticas que favoreçam a patologização de comportamentos 
homoeróticos, assim como orientar homossexuais à tratamentos não solicitados. 
Atualmente, segundo a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, 
Bissexuais, Transexuais e Interssexuais - ILGA (2016), que monitora leis 
relacionadas à comunidade LGBT em todo o mundo, indica que, ao todo, vinte e 
dois países legalizaram a união e vinte e seis estenderam o direito à constituição 
familiar por meio da filiação adotiva aos casais homossexuais. Isso mostra um 
contexto relativamente positivo aos homossexuais em relação à garantia de direitos 
no âmbito jurídico. O Brasil é um deste países, que em 2011, após a decisão tomada 
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) passou a considerar a conjugalidade 
homossexual como regime jurídico da união estável, assegurando assim a garantia 
de direitos formais aos casais homossexuais de todo o país, tais como o 
recebimento de herança, pensão alimentícia e a possibilidade de adoção, por 
exemplo, antes apenas devotados aos casais heterossexuais. Os desdobramentos 
desta decisão culminam em 2013 na Resolução Nº 175 criada pelo Conselho 
Nacional de Justiça, a qual obriga os cartórios de todo o país a celebrar o casamento 
civil e converter a união estável homoafetiva em casamento (CNJ, 2013). 
Outro aspecto importante no âmbito jurídico foi a decisão recente do Supremo 
Tribunal Federal, em março de 2015, retificar o direito à adoção homoparental assim 
como também legitimou os arranjos constituídos por pessoas do mesmo sexo como 
 
3
 OMS retira a homossexualidade da lista de doenças mentais. Acesso: 14 de fevereiro de 2017. Disponível em: 
http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/oms-retira-homossexualidade-da-lista-de-doencas-mentais/ 
23 
 
entidade familiar e, portanto, regidos pelas mesmas regras/direitos que se aplicam 
aos casais heterossexuais4. 
Entretanto, apesar deste contexto de garantia e legitimação de direitos em 
âmbito nacional se mostrar positivo, a manifestação do preconceito e discriminação 
contra homossexuais no Brasil continua crescendo (FREIRES, 2015). Apesar da 
homossexualidade ser discutida abertamente na literatura científica na mídia de 
maneira geral, ainda persistem concepções que fomentam preconceitos e práticas 
discriminatórias (MOTT, 2006). 
Como aponta Freires (2015), os crescentes índices de violência contra 
homossexuais ou simpatizantes verificada nos últimos anos ilustram essas práticas 
preconceituosas ou discriminatórias no contexto brasileiro. Nesse sentido, segundo 
o Relatório Anual do Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2015, 318 LGBTs foram 
assassinados numa proporção de um assassinato a cada 27 horas. Ainda segundo 
este relatório, 22 heterossexuais foram assassinadas por terem sido confundidos 
com homossexuais e três pessoas foram assassinadas por serem amantes de 
travestis (Grupo Gay da Bahia - GGB, 2015). Estes dados ficam alarmantes com o 
relatório de 2016, a qual foram registrados o maior número de mortes, totalizando 
343 casos de homicídios à homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis. O 
relatório GGB (2016) traz inclusive dois assassinatos bárbaros que marcaram o ano: 
O vendedor ambulante Luiz Carlos Ruas, que foi massacrado até a morte no Metrô 
de São Paulo no dia de Natal, ao tentar defender um gay e uma travesti que 
estavam sendo perseguidos por dois lutadores marciais; E o caso do adolescente 
Itaberly Lozano, de 17 anos, esfaqueado e carbonizado pela própria mãe. 
Em complemento, dados da Ouvidoria Nacional e do Disque Direitos 
Humanos (2016) mostram que, apenas no primeiro semestre de 2016, foram 
registradas 879 denúncias de violência contra a população LGBT. A violência 
psicológica apresentou 53,47% das ocorrências, onde 60,45% são caracterizados 
como humilhação, e a discriminação motivou 48,24% dos das ocorrências, onde 
87,46% são caracterizados a discriminação por orientação sexual. 
Mesmo diantedeste panorama violento, observa-se um investimento em 
projetos de lei que procuram extinguir ou atacar diretamente os direitos adquiridos 
 
4
 Pela primeira vez, STF reconhece direito de adoção por casais homossexuais. Acessado em 02 de fevereiro de 
2017. Disponível em: http://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/175556906/pela-primeira-vez-stf-
reconhece-direito-de-adocao-por-casais-homossexuais?ref=topic_feed. 
http://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/175556906/pela-primeira-vez-stf-reconhece-direito-de-adocao-por-casais-homossexuais?ref=topic_feed
http://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/175556906/pela-primeira-vez-stf-reconhece-direito-de-adocao-por-casais-homossexuais?ref=topic_feed
24 
 
pela população LGBTs no Brasil. Segundo Santana, Santos e Machado (2016), 
estes projetos: 
 
[...] que há anos foram apresentados e arquivados ou que 
caíram no esquecimento dos parlamentares são 
desengavetados e votados de forma precipitada, sem que 
haja discussão adequada ou sem que os movimentos 
sociais sejam ouvidos. A ofensiva neoconservadora, de 
caráter moralista, que atende a fundamentalismos 
religiosos e a ideologias políticas reacionárias, exige uma 
resposta imediata, orquestrada e firme por parte dos 
nossos sindicalizados (p. 7). 
 
 
É o caso da PDC 234/11, criada pelo deputado João Campus, do PSDB de 
Goiás, a qual transitou pela câmara dos deputados por três anos até ser arquivada. 
Este projeto é revivido no mesmo ano na forma de um semelhante, o PDC 993/2013, 
pelo deputado Anderson Ferreira do PR de Pernambuco, transitando até sua 
devolução para o autor em 2015. Estes projetos apresentam inclusive o apoio da, 
assim auto denominada psicóloga cristã Marisa Lobo, que expressa abertamente em 
seu blog, posicionamentos positivos à suspensão dos Art. 3º e 4º da Resolução 
01/99, além de divulgar o apoio que possui de diversas pessoas e políticos5, como, 
para citar alguns, o pastor Silas Malafaia, os deputados Jair Bolsonaro do Partido 
Social Cristão do Rio de Janeiro e Marco Feliciano do Partido Social Cristão de São 
Paulo. Atualmente, o último projeto com o mesmo objetivo das PDCs anteriores é a 
PDC – 539/2016, criada pelo deputado Pastor Eurico, criada no dia 21 de Outubro 
de 2016. 
Embora estes projetos passem despercebidos pela população, uma vez que 
os mesmos não se encontrem em situação de aprovação pelo judiciário, o diálogo 
trazido por eles se mostra constante e parecem caminhar contra, não somente às 
argumentações do CFP, mas também contra às lutas e conquistas da população 
LGBT diante da temática. 
 
 
5
 Trabalho de Marisa Lobo é apoiado por líderes de todo o Brasil. Acesso: 20 de Janeiro de 2017. Disponível 
em: http://marisalobo.com.br/uma-vereadora-com-influencia-nacional 
25 
 
3. Objetivos 
3.1. Objetivo Geral 
Compreender as concepções de alunos de cursos de Psicologia da Região 
Norte a respeito do código de ética profissional na sua relação diante da intervenção 
psicológica na temática da orientação sexual. 
3.2. Objetivos específicos 
 Levantar a opinião de alunos de psicologia a respeito dos princípios 
fundamentais e do artigo 2º do código de ética, bem como a resolução 
01/99 do CFP; 
 Levantar a opinião de alunos de psicologia a respeito do PDC 234/11; 
 Investigar e Analisar os argumentos dos alunos favoráveis e contrários 
à patologização da homossexualidade e à intervenção psicológica 
nesses casos. 
26 
 
4. Método 
 
Esta pesquisa é caracterizada em relação aos seus objetivos como sendo 
exploratória, pois conforme Rauen (2002), este tipo de pesquisa visa proporcionar 
maior familiaridade com o problema, e tem como propósito, torná-lo mais explícito. 
Segundo Gil (1999): 
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade 
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vistas na 
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis 
para estudos posteriores. Pesquisas exploratórias são desenvolvidas 
com o objetivo de proporcionar uma visão geral de tipo aproximativo, 
acerca de determinado fato. (GIL, 1999, p.43) 
 
A abordagem diante da temática caracteriza este estudo como uma pesquisa 
qualitativa visto que “o trabalho busca uma descrição do fenômeno estudado e está 
interessado nas histórias dos eventos e nas suas interdependências" (RAUEN 2002, 
p.189). A abordagem qualitativa tem o propósito de conhecer a realidade estudada, 
buscando a compreensão do fenômeno pesquisado. 
A coleta de dados foi realizada através de um instrumento com objetivo de 
levantar questões como idade, religião, sexualidade e semestre cursado pela 
amostra, além uma entrevista semi-estruturada (Apêndice 1) para a abordagem do 
tema. Nesse sentido, como apontam Lakatos e Marconi (2003), a entrevista semi-
estruturada consiste em uma maneira de analisar um maior horizonte de uma 
questão específica, onde normalmente as perguntas são abertas e possibilitam 
respostas que se encaixam dentro de um diálogo informal. 
Participaram da pesquisa o total de seis estudantes, onde três destes se 
encontravam cursando o nono semestre do curso de psicologia de uma instituição 
pública, com idades variando de 21 e 23 anos, e os estudantes da instituição 
particular, cursando o sétimo semestre do curso de psicologia, possuem idades de 
20, 40 e 65 anos. Os critérios para a escolha dos estudantes foram: Já ter cursado 
previamente a disciplina de ética e demonstrar interesse em participar da pesquisa. 
Ressalta-se que o contato com os estudantes se fez mediante a 
disponibilidade e interesse dos mesmos, sendo abordados em suas respectivas 
instituições, com autorização prévia das Instituições de Ensino a partir de uma carta 
de apresentação (Apêndice 2). 
27 
 
Em cumprimento aos procedimentos éticos, foram alterados os nomes, 
características individuais, referências aos locais de trabalho e estudo ou qualquer 
outra citação direta às instituições, lugares e pessoas nas entrevistas, exceto 
quando a informação se tornou relevante ao entendimento das informações dadas 
pelo entrevistado. Os alunos da instituição pública foram contatados durante o 
período da manhã, enquanto os alunos da instituição privada foram contatados 
durante o período da noite. Foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido (TCLE) a cada participante (Apêndice 3). 
As entrevistas foram gravadas com auxílio de um gravador, e então 
transcritas. Para esforço da análise teórica propriamente dita, inicialmente foi 
realizada uma caracterização dos seis participantes. A partir da leitura das 
entrevistas, as falas foram desmembradas em categorias construídas com base na 
relação entre as falas dos participantes, os objetivos propostos e o material teórico. 
As categorias encontradas foram: 1. Diferentes concepções de ética; 2. Atuação do 
Psicólogo diante da Homossexualidade; e 3. Opiniões sobre o Projeto de Decreto 
Legislativo - PDC 234/2011. As categorias serão expostas, detalhadas e discutidas 
mais adiante, no capítulo de Análise dos dados e discussão dos resultados. As 
entrevistas com todos os participantes encontram-se disponibilizadas integralmente 
em anexo (Apêndice 4). 
 
28 
 
5. Análise dos dados e discussão dos resultados 
 
5.1. Caracterização dos participantes da pesquisa 
Após a realização das entrevistas, ocorreu o processo de transcrição e 
analise destas. Primeiramente foram registrados e organizados os aspectos 
relevantes à caracterização dos sujeitos para a pesquisa, como idade, religião, 
orientação sexual e semestre atual do curso, assim demonstrado no quadro a 
seguir: 
 
Quadro 1 – Caracterização dos sujeitos da pesquisa 
Nome Idade Semestre atual Instituição Orientação 
sexual 
Religião 
Amanda 21 9º Semestre Pública Bissexual Espírita 
Laís 21 9º Semestre Pública Bissexual Católica 
Marye23 9º Semestre Pública Bissexual Não definida 
Handerson 40 7º Semestre Privada Heterossexual Católica 
Joanna 20 7º Semestre Privada Heterossexual Evangélica 
Manoel 65 7º Semestre Privada Heterossexual Católica 
 
Dada a natureza da pesquisa, foram entrevistados seis sujeitos no total, 
onde três destes são do nono semestre do curso de psicologia da instituição pública, 
com idades de 21 e 23 anos, todas mulheres, bissexuais. Na instituição privada, 
temos dois estudantes do sexo masculino e uma do sexo feminino, todos cursando o 
sétimo semestre do curso de psicologia, cujo as idades são de 20, 40 e 65 anos. 
Amanda é espírita; Laís, Handerson e Manoel são católicos; Joanna é evangélica e 
Marye não possui uma religião definida. 
Como descrito no método, os estudantes entrevistados foram selecionados a 
partir de sua disponibilidade em participar da pesquisa. A partir das transcrições, 
foram elencadas três categorias que condiziam com o objetivo proposto por este 
estudo, que são: a) diferentes concepções de ética; b) atuação do psicólogo diante 
da homossexualidade; c) opiniões sobre o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011. 
 
29 
 
 
5.2. Diferentes concepções de ética 
 
Partindo das informações cedidas pelos entrevistados no que diz respeito à 
definição de ética, criou-se uma categoria denominada “Diferentes concepções de 
ética”, onde foram agrupadas todas as referências feitas às definições dadas pelos 
entrevistados a partir da sua vivência acadêmica e aulas pela disciplina de ética 
oferecida pelo curso. 
Ética, como descrita anteriormente, se entende como uma reflexão filosófica 
sobre o comportamento moral do ser humano que se modifica pelo seu contexto 
temporal e local, da qual suas problemáticas se dividem em campos gerais, ou 
universais à sociedade, e campos específicos, como as éticas profissionais (VALLS, 
1994). É, portanto, determinada historicamente. Nesse sentido, entende-se que a 
moral como correspondente às leis que normatizam as condutas humanas, e a ética 
correspondendo aos ideais que dão sentido à vida. (LA TAILLE, 2006). Em outras 
palavras, a ética está para além das questões normativas. 
Exposto isso, os entrevistados apresentam as seguintes respostas: 
 
[...] É como você deve se portar, não só com o paciente em si, mas 
com o atendimento de modo geral e a sua produção de um jeito que 
não desrespeita o outro, de um jeito que você leva em consideração 
todos os princípios do seu fazer profissional mas que você pensa 
sempre no outro. Em você estar, de algum modo, desrespeitando ou 
não a existência daquela pessoa. (Amanda) 
 
Ética são os preceitos, as normas e técnicas que precisamos ter 
enquanto figura e ação do psicólogo. A forma dele se pautar diante 
da ciência através do outro, da sociedade. (Laís) 
 
Ética eu acho que tem a ver com um compromisso de respeito, de 
como você entende a profissão e o respeito pelo outro que você está 
ali tendo contato. Nós como profissionais entramos em contato com 
várias pessoas. Então eu acho que ética é no sentido de respeitar 
algumas diretrizes da profissão e respeitar sempre a outra pessoa 
também. (Marye) 
 
Profissionalmente ética seria a postura do profissional diante dessas 
decisões, não podendo expor a pessoa ou procedimento, nesse 
sentido. Trabalho muito com ética no meu trabalho, sou professor e 
também técnico na área da saúde, então tem muita ética lá [...]. 
(Handerson) 
 
Eu defino como a postura do profissional diante de todas as 
situações que ele vem enfrentando ou que possa enfrentar, como 
30 
 
moral, como sua conduta de respeito diante do próximo mesmo, em 
toda e qualquer situação. (Joanna) 
 
Ética são valores, regras de convivência em determinado grupo, 
comunidade ou sociedade. A ética ela serve para que o grupo, a 
comunidade ou a sociedade tracema maneira de como elas vão 
querer conviver diante dos valores que estas próprias estabelecem. 
A ética é uma regra de valores comunitários, (...)é uma produção 
humana de como se deve desenvolver um comportamento. (Manoel) 
 
Todos os estudantes possuem concepções parecidas sobre a ética 
enquanto uma postura profissional, onde as respostas de Amanda, Marye e Joanna, 
ao trazerem o conceito de respeito ao próximo, mostram uma concepção de ética 
que se apresenta num comportamento moral. A predominância de uma visão 
tecnicista sobre a ética, limitando-a à esfera da atuação profissional e ao bom uso 
dos instrumentos e técnicas da profissão, parece corroborar com uma Psicologia 
que de fato emancipou-se de outras áreas do conhecimento, como a filosofia. 
Crochik (2011), porém, ressalta a urgência de que uma Psicologia voltada para a 
Ética e para o cuidado com o indivíduo busque articular-se com outras ciências, tais 
como a sociologia, a filosofia, e mesmo outras esferas da vida humana, como a arte. 
A técnica sem ética, ou uma ética meramente técnica corre o risco de voltar-se 
contra si própria e fazer perder o sentido e a finalidade da ciência. 
As definições voltadas para uma concepção mais técnica da ética 
profissional se encontram principalmente nas respostas de Laís e Handerson, onde 
Handerson compreende a ética como atuação também em outras profissões. Um 
possível motivo para isso pode se dar no fato do próprio objetivo da pesquisa tratar 
diretamente sobre o comportamento profissional do psicólogo. Com isso, no intuito 
de aprofundar esse conceito, foi questionado a compreensão de ética para além da 
profissão: 
Tem a questão do respeito mútuo, da moral, das normas a qual 
vivemos dentro da sociedade, tanto na profissão quanto fora dela. 
(Laís) 
 
O ser ético é a cidadania consciente, nesse sentido [...] mas isso 
também vai da educação, da estruturação social que aquela pessoa 
faz parte [...](Handerson) 
 
Estas definições se complementam com a resposta anteriores e permitem 
entender a compreensão de ética a partir dos dois prismas, o mais geral relacionado 
31 
 
aos assuntos morais e sociais, e o mais específico ligado à própria prática 
profissional. 
Os estudantes foram solicitados a falar sobre suas experiências com a 
disciplina de ética, cursada por todos previamente em semestres anteriores de seus 
cursos. Tal pergunta ajudaria a entender com quais conteúdos eles entraram em 
contato, auxiliando a compreensão de suas respostas sobre a noção de ética: 
 
Quando eu fiz a disciplina, eu não fiz junto com a minha turma, eu fiz 
com a turma do ano seguinte, então eu peguei um semestre antes de 
ser ofertada. [...] A gente teve, pra além do código de ética, muitas 
questões de moral.[...] Discutíamos assuntos assim para levar além 
do âmbito profissional mesmo. Mas a gente destrinchou muito o 
código de ética sim. (Amanda) 
 
Acho que foi passado muito ao léu. Tivemos uma professora de fora 
do curso, que trazia alguns artigos sobre ética do psicólogo, não 
lembro se estudamos todo o código de ética da psicologia, mas foi 
bem a toa.[...] tanto que eu acho que essa disciplina deveria ser 
ofertada antes para nós, desde o começo, saber como se pauta a 
ética na psicologia. [...]Pra mim, ética tem muito a ver com o respeito, 
o ser humano, de deixar que o outro fale e sinta, e não pautar “isso 
está na ética então não pode fazer isso”, ou “o código permite ou 
não”, não vir com uma forma de imposição. (Laís) 
 
Então, nossa disciplina de ética não foi muito boa. A gente pagou 
com uma substituta, mas foi muito técnica no sentido de mostrar 
algumas leis e não trouxe de fato para a nossa prática. [...] como fica 
uma coisa técnica “leia a diretriz tal” e não traz para o nível prático, a 
gente vai quase esquecendo. Sei que tem algo que orienta e é 
importante voltar lá, sei da existência do código de ética, que vai 
normatizar algumas diretrizes, mas não posso dizer que tive um bom 
aproveitamento da disciplina. (Marye) 
 
Bom, literalmente as aulas, em três cursos superiores que fiz,e estou 
formando no meu terceiro, é muito superficial. Só lemos, e grandeparte dos profissionais pegam um artigo e falam que é para a gente 
ter aquela ética profissional, mas acaba a aula e o professor já está 
falando do outro professor. Então o que deveria ser ético, não é.[...] 
(Handerson) 
 
Foi boa, mas ainda deixou muito a desejar[...]Pra mim tem que andar 
tudo em linha reta, aquilo que você cobra, você também deve fazer. 
Então eu me deparei com coisas totalmente adversas, realmente na 
contramão em relação a isso. A disciplina foi boa, mas foi 
controversa. (Joanna) 
 
[...]A disciplina de ética aqui na faculdade...Você sabe que ética não 
é um tema que você simplesmente em uma disciplina, em um 
semestre você não consegue entender, principalmente de uma 
maneira reduzida que foi aplicada aqui na faculdade. [...]Então eu 
32 
 
digo assim, é mais que insuficiente qualquer estudo reduzido como 
se teve aqui. (Manoel) 
 
Os estudantes identificam, de maneira geral, problemas nas aulas que 
tiveram desta disciplina. Amanda, entretanto, demonstra satisfação com os assuntos 
estudados e, dos seis estudantes, é a única que expressa ter visto, além do código 
de ética, outras questões sobre moral. Os demais estudantes demonstram 
insatisfação ao entenderem que sua disciplina foi, em algum nível, insuficiente para 
abordar os conceitos desejados sobre ética, além da falta de diálogo entre o campo 
teórico e prático, reforçando a ideia da ética como uma reflexão voltada sempre ao 
agir profissional. 
As falas de Handerson e Joana parecem compreender o papel ético do 
professor enquanto articulador dessa disciplina; Já Laís trás uma consideração 
importante ao entender que esta disciplina poderia ser ofertada anteriormente para 
os alunos, o que parece complementar-se com a fala de Manoel, que considera 
insuficiente abordar a temática da ética em apenas uma disciplina. 
De forma geral, os cursos de psicologia deveriam trabalhar com assuntos de 
ética em todo o processo de formação do estudante, entretanto, como aponta 
Crochik (2011), seria necessário que os professores estivessem preparados para 
trabalhar com estes conceitos mais abrangentes de ética em outras disciplinas, uma 
vez que a ausência ou pouca ênfase desses conteúdos “[...] colaboraria para uma 
formação que faz do psicólogo um alienado da dominação da consciência.” (p.96). 
Consciência esta, que proporciona uma visão mais ampla do próprio objeto de 
trabalho da psicologia, o humano. 
Ao dialogar sobre a concepção de ética para a profissão, o código de ética 
aparece como ferramenta importante, e como discutido no capítulo 2.2, é uma 
ferramenta que procura valorizar seus princípios fundamentais como forma de 
orientar a relação do psicólogo com a sociedade ao mesmo tempo que permite ao 
profissional refletir sobre o conjunto de normas a serem seguidas. Neste sentido, ao 
serem questionadas sobre a importância do código de ética, Amanda, Laís, Marye e 
Joanna possuiram respostas muito parecidas, assim como Handerson e Manoel 
apresentaram respostas similares que complementam as demais. O destaque das 
respostas pode ser visto a seguir: 
 
Eu acho que em alguns sentidos sim. O código de ética é muito 
importante, como eu disse, por conta de algumas diretrizes que são 
33 
 
importantes, mas eu acho que a gente não pode ficar simplesmente 
preso nele. [...] nesse exemplo, o código estipula um preço mínimo 
mas temos que considerar que as vezes existem pessoas que não 
tem uma quantidade mínima a ser paga, então você tem sempre que 
averiguar a condição que está posta ali, né. Temos um código de 
ética que dá algumas diretrizes importantes, mas eu acho que ainda 
é necessário fazer algumas considerações. (Amanda) 
 
[...] Naturalmente, o código de ética em todas as profissões é muito 
importante porque regula um comportamento padrão, para que 
alguém que saia fora desse padrão seja penalizado por uma conduta 
errada. (Manoel) 
 
Com isto, os estudantes apresentaram uma visão similar sobre a ética do 
psicólogo, assim quanto a relevância e importância do código ao refletirem sobre as 
normas ali impostas, além de compreenderem o potencial punitivo para quem 
desrespeita algum procedimento ético expresso nele. 
 
5.3. Atuação do Psicólogo diante da Homossexualidade 
 
 A opinião dos estudantes sobre a resolução 01/99 do Conselho Federal de 
Psicologia foi escolhida para ser analisada nesta categoria justamente por esta 
estabelecer as normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da 
orientação sexual, tendo como recorte principal os art. 3º e 4º, que impedem os 
psicólogos de exercer práticas que colaborem com a patologização da 
homossexualidade. 
 Os estudantes não tinham conhecimento sobre tal resolução e, diante do 
contexto em volta da luta por direitos em que os homossexuais vêm enfrentando, 
esta resolução se apresenta como uma conquista em frente a própria psicologia. O 
não conhecimento sobre a resolução então se apresenta como um dado importante 
para se compreender o processo de formação destes estudantes. 
Com isso fez-se necessária uma breve explicação sobre o objetivo desta 
resolução, além da leitura dos artigos mencionados anteriormente e, após, os 
estudantes foram solicitados a oferecer uma opinião sobre a mesma, tendo assim as 
seguintes respostas: 
 
[...] Então a partir do momento em que isso está em discussão, eu 
acho que é preciso especificar isso, porque a gente vê e continua 
vendo psicólogos que estão sempre ligando o fazer profissional a 
religião, por exemplo, dizendo sobre a cura gay, que vão curar os 
34 
 
gays e tal. A partir do momento que você vê que existe isso, acho 
que é dever do Conselho deixar isso claro, específico “vocês não 
podem fazer isso”, sabe? (Amanda) 
 
Eu acho que eu sou a favor dela sim. [...]Inclusive acho que é 
necessário, de extrema importância que se tenha essa resolução 
para a pauta do que é psicologia diante da orientação sexual. E eu 
acho que isso tem muito a ver com relação à religião, sabe? Eu vejo 
que algumas atitudes que as pessoas estão misturando ainda. Quem 
faz psicologia ou quem tem uma religião muito definida fala “ah, não 
quero atender isso porque é pecado, etc” de forma de julgamento, 
sabe? [...] eu acho que é uma coisa que deve estar sendo passado 
constantemente pra sociedade, principalmente pros alunos de 
psicologia, em relação a essa resolução, de não ser determinado, de 
não ser tratado como uma doença quando se chega no espaço 
terapêutico, pra que justamente o psicólogo não corrobore com essa 
patologização, tanto na fala quanto na atuação. (Laís) 
 
Eu acho ela muito importante, porque eu sei que ela ,como 
resolução, não vai estigmatizar e não tem uma visão preconceituosa, 
ou uma visão que vá contra muitas coisas que temos dentro da 
psicologia [...] que é entender que o individuo é construído, e que ele 
se encontra dentro de um contexto, e que você precisa considerar 
muitas coisas, a forma dele se construir. A gente também estuda 
muito a homossexualidade, o que é a sexualidade, e uma pessoa se 
relacionar com outra pessoa do mesmo sexo isso não vai torna-la 
patológica [...] (Marye) 
 
Amanda, Laís, Marye trazem reflexões em que a resolução 01/99 se faz 
importante para regular a atuação do psicólogo de forma clara, a qual evitaria 
movimentos que procuram patologizar a homossexualidade. Laís atenta para o fato 
desta resolução ser passada aos alunos como pauta de discussão em sala de aula, 
assim como para a sociedade. Neste ponto, vale a pena ressaltar que o Conselho 
Federal de Psicologia vem atuando de forma extensiva na luta contra práticas 
profissionais que venham a patologizar as sexualidades, participando conjuntamente 
com o movimento LGBT. 
Na nossa sala temos uma turma unida, mas também muito complexa 
na questão da homofobia, com muita discriminação, a ponto de que 
um colega nosso deixou aqui porque ele se sentia desconfortável, e 
também um outro colega saiu por imposição de religião. [...] Mas eu 
acreditoque a norma, as resoluções, eu sou de acordo. Pois se 
formos contra a isso, ou induzir a discriminação, eu acredito que 
fariamos as pessoas se sentirem com maior mal estar. [...] 
(Handerson) 
 
Handerson traz consigo eventos preocupantes que aconteceram em sua 
turma, onde dois estudantes se afastaram do curso por conta do desconforto 
provocado pela não aceitação. Tal experiência demonstram os efeitos nocivos do 
35 
 
preconceito e não aceitação da homossexualidade dentro do próprio ambiente 
acadêmico, compreendendo a importância da resolução na oposição destas 
práticas. 
 
Bom, eu acho boa... Para quem defende, deve ser uma limitação, 
mas a minha posição em relação a isso: nessa questão eu respeito 
muito. Tenho amigos homossexuais, respeito bastante, mas é uma 
conduta que eu... não aceito. Respeito mas não aceito.[...] Pra mim é 
indiferente, por que enquanto ao tema homossexualidade eu não vou 
me posicionar. [...] Limitação por vocês não poderem fazer mais. 
Essa questão de cura, realmente é uma coisa que deu até polêmica 
um tempo atrás né, uma psicologa oferecendo cura gay...Mas, assim, 
essa questão de não se pronunciar, de não se reportar a esse 
assunto eu acredito que seja uma limitação. (Joanna) 
 
Amanda, Laís e Handerson citam a religião como uma ideia que se confunde 
com o fazer profissional, o que provoca reações aversivas dentro da temática da 
sexualidade, como a já citada “cura gay”. Nesse sentido, a religião traz fortes 
influências para a resposta de Joanna, que a impede de encarar a 
homossexualidade em seu âmbito profissional, optando assim por se manter 
indiferente ao tema, compreendendo-no como uma limitação aos psicólogos que 
trabalhariam frente ao tema da homossexualidade. Ela não se posiciona na medida 
em que a categoria profissional se posiciona de maneira diferente ao que ela pensa. 
Uma pergunta que pode ser levantada nesse caso: será que Joanna realmente se 
mantém indiferente e neutra ao tema? O não-posicionamento frente à possibilidade 
de violência a uma minoria já é por si só um posicionamento. Adorno (2008), no livro 
Minima Moralia, no segmento “que bonito da sua parte, senhor doutor”, faz uma 
provocação que talvez seja análoga a essa situação: 
 
A conversa ocasional com o homem no trem, ao qual para evitar um 
conflito se concede algumas sentenças das quais sabemos que o 
ponto final é o assassinato, já é uma traição; nenhum pensamento é 
imune à sua comunicação (p. 21). 
 
Já Manoel divide sua resposta em dois âmbitos, o pessoal e o profissional, 
que dialogam sobre o tema da seguinte forma: 
 
[...] Então a minha primeira questão é que pessoalmente eu vejo o 
homosexualismo como uma patologia.[...]Cientificamente eu não 
posso concordar que seja natural, eu sei que já falei isso em sala de 
aula, que um homem se una com outro homem, e se forem 
colocados todos numa ilha, a raça humana se extinguiria, então 
nessa base a humanidade já teria sido extinta. Por outro lado quando 
a homossexualidade era tratada por psicólogo, havia uma mudança 
36 
 
de comportamento porque o comportamento pode ser mudado. Essa 
é uma definição, em todas as abordagens que você fizer na 
psicologia você sabe que o comportamento pode ser mudado sim, se 
não fosse assim nós não precisariamos atuar pois, já que o 
comportamento não é dinamico, é estático, então pra que existiria o 
psicólogo e sua atuação, assim como as metodologias usadas?[...] 
Do ponto de vista profissional, para o atendimento, uma terapia de 
qualquer tipo de pessoas, eu tenho que estar preparado, porque toda 
a formação dela, tem que ter uma visão cósmica, uma visão integral, 
não posso intervir no que ela pensa ou no que ela faz, nas suas 
opções e nas suas relações, dentro de um consultório eu vou tratar a 
queixa principal que ela vai trazer. Se naturalmente ela dizer assim 
“eu tenho um problema de identificação sexual, eu gosto de, eu sei 
que sou homem mas estou tendo uma atração que eu não quero ter 
por uma outra pessoa do mesmo sexo” e esse comportamento pode 
ser mudado, né? Essa pode ser a queixa principal dela, então você 
(o terapeuta) vai ter de atuar der alguma maneira, então veja só, que 
nós encontramos ai uma barreira muito delicada em relação a 
atuação. Você me diz, eu não li a resolução, por isso não posso 
julgar, mas você me diz que o psicólogo não pode fazer nenhuma 
intervenção, se a queixa do teu cliente for essa, como que você vai 
me falar “não, eu não atuo sobre essa área” e o cliente vai buscar 
orientação onde e como? Se nós que podemos dar uma orientação 
científica, porque nós estudamos para tal. Então, eu acredito que á 
um movimento, e esse movimento cresceu e se solidificou, onda a 
minoria está ditando regras para a maioria, e é muito complicado e é 
temeroso quando nós chegamos a esse nível. [...] (Manoel) 
 
A argumentação de que a psicologia tratava a homossexualidade e que esta 
provocava mudança de comportamento, na qual a sexualidade se vê reduzidamente 
a um comportamento, envolve duas questões relevantes: a primeira é de que o 
mesmo discurso vem sendo divulgado em massa, nos diferentes tipos de mídia, por 
figuras políticas apoiadas por psicólogos, como por exemplo a já citada Marisa Lobo. 
A segunda, é que ao compreender a homossexualidade como uma patologia, 
Manoel entende o trabalho do psicólogo atrelado à uma orientação cujo objetivo final 
se vê na mudança de sexualidade do sujeito homossexual, e assim, a resolução 
01/99 aparece como uma limitação no momento em que orientar tal mudança 
encontra-se vetada. Esta reflexão parece ignorar os conflitos sociais como origem do 
sofrimento, atribuindo-o então ao homossexual toda a responsabilidade pelo seu mal 
estar, como apontado por Crochík (2011): 
 
Assim, paradoxalmente, temos uma contradição. O objeto 
por excelência da psicologia é o indivíduo, a sua 
subjetividade, mas ela não age em seu favor, pois oculta a 
gênese de seu sofrimento, substituindo-a por outra gênese, 
ao considerar que o indivíduo tem uma verdade, uma 
37 
 
lógica própria, independente da cultura. Quando isso 
ocorre, a psicologia não auxilia o esclarecimento, ou seja, 
não aponta o que impede o indivíduo de ser senhor de si 
mesmo, mas em vez disso colabora com a sua alienação. 
(p. 104-105) 
 
Certamente a psicologia é uma profissão que pode resultar em mudanças de 
comportamento e benefícios para os indivíduos, entretanto, quando ela se propõe 
enxergar, neste caso, o homossexual, apenas como produto de uma escolha 
comportamental, acaba por enxerga-lo de maneira reduzida, onde a autonomia 
deste sujeito que se encontra em sofrimento se manifestaria apenas entre o escolher 
deixar de ser aquilo que é para tornar-se o que o meio social considera ideal. Na fala 
de Manoel percebe-se uma cadeia de inversões, tais como a homossexualidade 
retroceder novamente ao estado de patologia; a orientação sexual converter-se em 
comportamento; e talvez a inversão mais perigosa: o sofrimento do homossexual, 
resultado de uma violência inerente à pressões sociais de adaptação, converte-se 
num sofrimento que tem origem no indivíduo. 
Aprofundando este diálogo, os estudantes foram questionados quanto a 
compreensão de qual, ou quais tipos de suporte a psicologia pode oferecer ao 
sujeito homossexual. Tal reflexão procura pensar no trabalho do psicólogo 
juntamente aos preceitos éticos discutidos na categoria anterior. Com isso, as 
respostas de Amanda, Laís, Marye e Handerson apresentam semelhanças, sendo 
destacada a resposta de Marye: 
 
Eu acho que depende de onde o profissional irá atuar. [...]Eu acho 
que o nosso trabalho é ouvir e dar sentido ao desejo, porque a 
questão da homossexualidade não é uma questão de cura, não é 
uma questão patológica, é uma questão de construção mesmo do 
gênero, e muitas vezes as pessoas sofrem porque não conseguem 
se sentir, ter um espaço dentro da sociedade dessas, então o 
psicólogo que tem o conhecimento dessas questões, ele

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