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Anotações do professor Ricardo Burrattino Félix 1 OMC – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO HISTÓRICO Ao final da Segunda Guerra Mundial, foi concluído em 1944 um acordo em Bretton Woods, nos Estados Unidos, cujo objetivo era reconstruir a economia mundial, criando um ambiente de maior cooperação na área econômica internacional, baseado no estabelecimento de três instituições internacionais. A primeira seria o FMI (Fundo Monetário Internacional), a segunda seria o Banco Mundial ou Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, a terceira seria a OIC (Organização Internacional do Comércio), cuja função era coordenar e supervisionar a negociação de um novo regime em construção para o comércio mundial, baseado nos princípios do multilateralismo e do liberalismo. A OIC acabou não sendo estabelecida, já que a Carta de Havana, que determinava seus objetivos e funções não chegou a ser ratificada pelos EUA. Dessa forma, um acordo provisório foi assinado em 1947, entre 23 países, cujo acordo adotava apenas o seguimento da carta de Havana, relativo às negociações de tarifas e às regras do comércio. O sistema hoje conhecido de regras do comércio internacional foi estabelecido ao longo de anos, através de rodadas de negociações multilaterais, que adotava um protocolo provisório para colocar o acordo geral sobre tarifas – GATT – em vigor. RODADAS DA OMC Rodada Local Período Temas 1 Genebra 1947 Tarifas 2 Annency 1949 Tarifas 3 Torquay 1950-51 Tarifas 1 Anotações que serviram de referências na aula expositiva. Este material não é apostila, tampouco texto acadêmico. Enviadas aos alunos em razão da solicitação dos mesmos. Não substitui consulta à doutrina e jurisprudência. 4 Genebra 1955-56 Tarifas 5 Dillon 1960-61 Tarifas 6 Kannedy 1964667 Tarifas e medidas antidumping 7 Tóquio 1973-79 Tarifas, medidas não tarifárias, cláusula de habilitação 8 Uruguai 1986-94 tarifas, agricultura, serviços,propriedade intelectual, medidas de investimento, novo marco jurídico, OMC 9 Doha 2001 até os dias atuais tarifas, agricultura, serviços, facilitação de comércio, solução de controvérsias, "regras" A oitava rodada foi a mais complexa das negociações estabelecidas no âmbito do GATT. A Rodada Uruguai foi iniciada em 1986, em Punta Del Leste, terminando em 1994 na cidade de Marraqueche. Um dos principais temas na Rodada Uruguai foi a criação da OMC, Organização Mundial do Comércio, que substituiu o GATT, que era um mero secretariado de um acordo multilateral, por uma nova organização internacional. A Organização Mundial do Comércio é a organização intergovernamental responsável pela aplicação e administração dos principais acordos multilaterais do comércio internacional. Detém uma estrutura de organização internacional, sob um sistema de negociações e decisões que privilegia a posição desses atores no sistema internacional. A organização tem caráter de um foro que visa à continuação do processo de negociação relativa ao comércio, com o objetivo de maior liberalização do comércio de bens e serviços. Serve também como um foro para discussão de temas como o meio ambiente, investimentos, concorrência, facilitação do comércio, comércio eletrônico e cláusulas gerais. A OMC exerce basicamente quatro funções (GATT, 1994): facilitar a implantação, a administração, a operação, bem como levar a diante os objetivos dos acordos da Rodada Uruguai; construir um foro para as negociações das relações comerciais entre os estados- membros, com o objetivo de criar ou modificar acordos multilaterais de comércio; administrar o Entendimento (Understanding) sobre Regras e procedimentos relativos às Soluções de Controvérsias, isto é administrar o “tribunal” da OMC; administrar o Mecanismo de Revisão de Políticas Comerciais (Trade Policy Review Mechanism) com objetivo de fazer revisões periódicas das Políticas de Comércio Externo de todos os membros da OMC, apontando os temas que estão em desacordo com as regras negociadas. ESTRUTURA DA OMC (GATT, 1994): CONFERÊNCIA MINISTERIAL, cujo órgão é composto pelos representantes de todos os seus membros, através dos Ministros das Relações Exteriores acompanhados ou não dos Ministros de Comércio Externo, que se reúnem, no mínimo, a cada dois anos. Este órgão tem autoridade para tomar decisões sobre todas as matérias dentro de qualquer um dos Acordos Multilaterais. CONSELHO GERAL, que é o corpo diretor da OMC, composto pelos representantes de todos os seus membros, que se reúnem quando apropriado, integrado pelos embaixadores, que são os representantes permanentes dos membros em Genebra, ou por delegados das missões em Genebra. ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIA, criado como mecanismo de solução de conflitos no âmbito do comércio, cujo sistema de regras para dirimir controvérsias é estabelecido pela OMC. Prevê a fase de consultas entre as partes, e se necessário, o estabelecimento de painéis, que analisa as questões, cujos pareceres podem ser submetidos ao órgão de Apelação. ÓRGÃO DE REVISÃO DE POLÍTICA COMERCIAL, servindo de mecanismo para examinar periodicamente as políticas de cada membro da OMC, confrontando a legislação e a prática comercial de cada membro da organização com as regras estabelecidas nos acordos, além de oferecer uma visão global, a cada membro, das políticas adotadas dentro do princípio da transparência. É integrado pelos delegados das missões dos membros em Genebra ou por integrantes dos governos dos membros. ÓRGÃO DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS O acordo constitutivo da OMC previu a criação de um instrumento de solução de controvérsias, cujas características foram definidas na Rodada Uruguai, no Entendimento sobre as Regras e Procedimentos que Governam a Solução de Controvérsias, responsável pelas alterações dos artigos XXII e XXIII do GATT. Dessa forma, originou-se o Órgão de Solução de Controvérsias, uma especialização funcional do Conselho Geral da OMC. Referido órgão devotou-se à tarefa de corrigir vícios que impregnavam o sistema anterior, tais como a excessiva fragmentação, a morosidade procedimental, e o não cumprimento das recomendações e decisões dos painéis. Com isso, a continuidade vincula a solução de controvérsias no GATT e na OMC, que se exprime nas alusões que os painéis e o Órgão de Apelação fazem à jurisprudência do GATT, quando resolve conflitos acerca da interpretação de tratados da OMC. Denota-se assim, a transição de um sistema predominantemente diplomático, baseado em negociações entre partes, característica do GATT, para um sistema organizado, pautado em regras jurídicas. Isso não exclui a possibilidade de entendimento entre as partes envolvidas em controvérsias, pois o órgão mantém o estímulo a realizações de consultas, durante um prazo prefixado, antes do estabelecimento do painel, não cerceando assim, o recurso às negociações diretas após a deflagração do procedimento formal para a solução da disputa. A realização de consultas acarreta, como benefício, a celeridade, os baixos custos e os resultados satisfatórios que, via de regra, produz. O pedido de constituição de um painel será formulado ao Órgão de Solução de Controvérsias, que só o rejeitará se houver consenso entre os membros, o que difere da exigência vigente do GATT, segundo o qual as partes contratantes deviam aprovar a instituição de um painel por unanimidade, o que gerava o bloqueio do sistema, prejudicial aos países em desenvolvimento, que dispõem de menos poder no cenário internacional. Outra significativa mudança constitui na definição clara de prazos em todas as etapas do procedimento de solução de controvérsias. Com isso, diminui-se o tempo de duração do procedimento, evitando que um caso se arrastasse por anos sem solução. O OSC procuroucombinar a lógica diplomática, que preza pela negociação direta entre as partes, à lógica jurisdicional, como reforço das garantias procedimentais e a produção de decisões para as partes da disputa. O Entendimento sobre Solução de Controvérsia revigorou o papel das normas de julgamento no comércio internacional, o que é imprescindível ao funcionamento do mercado global. A previsibilidade dos agentes econômicos tende a desaparecer caso não haja autoridade competente para interpretar eventuais divergências, baseadas em normas jurídicas, o que é indispensável para que se passe do mundo abstrato das normas ao mundo concreto da realidade. Sobre isso, determina o artigo 3.2 do Entendimento sobre Solução de Controvérsias: O Sistema de Solução de Controvérsias da OMC é elemento essencial para trazer segurança e previsibilidade ao sistema multilateral de comércio. Os Membros reconhecem que esse sistema é útil para preservar direitos e obrigações dos Membros dentro dos parâmetros dos acordos abrangidos e para esclarecer as disposições vigentes dos referidos acordos em conformidade com as normas correntes de interpretação do direito internacional público. Por fim, um dos aspectos mais relevantes do sistema de solução de controvérsias é a previsão de sanções ao desrespeito aos tratados que compõem o regime internacional do comércio. Contudo, nem o Acordo de Marraqueche, tampouco o Entendimento sobre Solução de Controvérsias empregam o termo sanção para designar as consequências jurídicas oriundas da violação de uma norma. SANÇÕES O artigo XXII do ESC concede ao demandante vitorioso a possibilidade de solicitar ao Órgão de Solução de Controvérsias a autorização para suspender, por um determinado período, contra o demandado, a aplicação de concessões ou de outras obrigações decorrentes dos acordos abrangidos, caso a decisão condenatória não for executada. Cumpre esclarecer que no âmbito das relações internacionais, a sanção é o ato coercitivo, autorizado pelo direito internacional, em resposta ao descumprimento de uma obrigação por parte do Estado. A aplicação das sanções não é considerada atividade corrente nas organizações internacionais, vez que a mediação, a conciliação e o jogo sutil das pressões desempenham funções mais destacadas que o exercício do poder coercitivo. As sanções se revelam úteis nas organizações internacionais, no sentido de fortalecer sua posição face dos Estados, como também para garantir a eficácia da ordem jurídica. A efetividade da sanção é, na maioria dos casos, o resultado da comparação entre o valor atribuído a uma dada política e o interesse em seguir as regras já criadas. Nesse aspecto, o ESC representou notável evolução no que diz respeito à disciplina do GATT, trazendo procedimentos que facilitaram a execução das decisões, já que no sistema anterior contemplava apenas a suspensão de concessões em casos de indiscutível gravidade, com base na deliberação tomada por alguma parte contratante. O ESC determina que transcorrido o período de tempo para que o demandado adote a recomendação formulada ou ofereça compensações, o OSC garante a autorização em suspender certas concessões ou obrigações. Com isso, os governos perderam o poder de bloquear a formação de um painel e a adoção dos relatórios elaborados com a eliminação da flexibilidade política que o artigo XXIII do GATT permitia. O nível de suspensão autorizado pelo ESC deve ser equivalente ao dano sofrido pelo demandante. Os efeitos das sanções na OMC, assim como no GATT, ultrapassam o plano bilateral, pois repercutem de modo amplo no sistema internacional. As sanções acabam por afetar o intercâmbio comercial entre os países e a própria dinâmica das cadeias produtivas, dada a interdependência das obrigações contraídas por seus membros. Os países atingidos pelas sanções podem perder mercado para seus concorrentes, que acabam esses, por se beneficiarem das reduções tarifárias havidas. Estrutura do Órgão de Solução de Controvérsias, constituído pelo Painel, Órgão de Apelação e o Secretariado. O PAINEL O Painel do Órgão de Solução de Controvérsias funciona da seguinte forma: Primeira fase – momento em que cada país apresenta suas razões iniciais. Primeira Audiência – onde cada país envolvido e demais países que se julgarem interessados apresentam suas razões em audiência, frente aos membros que compõem o Painel. Fase de Réplica – momento em que cada país envolvido na controvérsia se manifestam, de maneira escrita ou oral, sobre as alegações das outras partes. Fase de Perícia – se caso algum país apresenta ou requeira alguma consideração técnica ou científica, o Painel nomeará perito, para que o mesmo elabore um competente laudo sobre as questões suscitadas. Fase Intermediária – momento onde o Painel apresenta às partes um relatório minucioso com as etapas até então percorridas, destacando os pontos controversos, as provas apresentadas, para que as partes possam oferecer suas considerações. Primeiras Conclusões – o painel submete às partes as suas primeiras conclusões a respeito das alegações apresentadas, conferindo às partes oportunidade para apresentar novas alegações que justifiquem eventual revisão das conclusões apresentadas. Fase de Revisão – fase onde é concedido prazo ao Painel reexaminar suas primeiras alegações, assim como para as partes intentarem um acordo com base nas primeiras conclusões apresentadas. Relatório Final – é a decisão proferida pelo Painel, que é entregue às partes envolvidas e posteriormente divulgada para todos os Países-membros da OMC. Nesta decisão, são apontadas as ofensas às normas da OMC e sugeridas alternativas para que as mesmas sejam interrompidas. Decisão Final – após o prazo de 60 dias da apresentação do Relatório Final, as conclusões ali apontadas são consideradas como definitivas, sujeitando-as ao cumprimento das partes envolvidas. Tal decisão pode ser ainda levada à liça no Órgão de Apelação. Referente à decisão proferida pelo Painel, talvez tenha sido a mais importante modificação ocorrida no sistema de solução de controvérsia do GATT ao atual sistema da OMC. No antigo sistema, as decisões proferidas necessitavam, para ter aplicabilidade, da aprovação através de consenso dos Países-membros, o que representava um enorme entrave ao pleno desenvolvimento do sistema de solução de controvérsias, já que a insatisfação de uma nação obstruía unilateralmente os resultados do Painel. ÓRGÃO DE APELAÇÃO Outro órgão que compõe o sistema de solução de controvérsias é o Órgão de Apelação (OA), uma das novidades resultantes da Roda Uruguai. O OA é composto por sete indivíduos, os quais são aprovados por consenso pelo OSC, conforme disposto do art. 17:1 do ESC. Seus membros devem ser pessoas de reconhecida competência, com experiência comprovada em direito, comércio internacional e nos assuntos tratados pelos acordos da OMC. Devem também estar disponíveis permanentemente e deverão manter-se a par das atividades de solução de controvérsias e das demais atividades da OMC. O OA recebe o recurso contra as decisões dos painéis, onde três juízes, dos sete que compõem o órgão atuam em cada caso. Os juízes podem confirmar, modificar ou revogar as conclusões do painel. SECRETARIADO O ESC atribui algumas responsabilidades ao Secretariado da OMC, que atua na sede da organização, em Genebra. O Secretariado além de manter os registros das reuniões e outras responsabilidades burocráticas, também mantém uma lista indicativa de indivíduos para o painel, conforme dispõe o art. 27:3 do ESC. Cabe ao Secretariado organizar para os membros interessados, cursos especiais de treinamento, disposto no art. 27:3 do ESC. Importante destacar o dispositivo do o art. 27:1 do ESC, “o Secretariado terá a responsabilidade de prestar assistência aos painéis,em especial, nos aspectos jurídicos, históricos e de procedimentos dos assuntos tratados, e de fornecer apoio técnico e de secretaria.” IMPLEMENTAÇÃO DAS DECISÕES DO OSC. CASOS ENVOLVENDO O BRASIL. A fase de implementação das decisões do OSC é hoje o momento mais crítico das disputas enfrentadas no âmbito da OMC. A assimetria de poderes se acentua na medida em que os países mais desenvolvidos barganham seus interesses em detrimento ao cumprimento dos relatórios do Painel e do Órgão de Apelação. A disputa iniciada em 2002 pelo Brasil envolvendo subsídios agrícolas concedidos aos produtores estadunidenses de algodão, (caso algodão WT/DS 267), elucida bem a dificuldade sobre a implementação das decisões do OSC. O Brasil apresentou consulta ao OSC questionando políticas de incentivo à produção que violavam o Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias (ASMC) da OMC, bem como o Acordo sobre Agricultura e o GATT/1994. O Painel concluiu que a política de subsídios dos Estados Unidos influenciou no preço do algodão no mercado internacional, cuja decisão fora mantida pelo Órgão de Apelação. Os Estados Unidos demonstraram forte resistência a implementar as recomendações dos relatórios do Painel e do Órgão de Apelação, isso por não acreditarem que o Brasil poderia retaliá-los devido a disparidade econômica e à interdependência de mercado. Após o prazo razoável concedido pelo OSC, nada havia sido feito pelos Estados Unidos à implementação da decisão, excetuando a eliminação de um único programa, denominado Step 2, que beneficiava os produtores locais. Após a abertura de um Painel de revisão, solicitado pelo Brasil, confirmou-se que os programas estadunidenses continuavam gerando prejuízo aos produtores e exportadores de algodão brasileiros, sendo então, instaurado um procedimento arbitral, que ocasionou a autorização, em agosto de 2009, da retaliação cruzada pelo Brasil. Somente após o Brasil ter expedido resoluções contendo as listas de produtos a serem retaliados, os Estados Unidos buscaram o Brasil na tentativa de solucionar a questão, isso após oito anos da contenda e após o Brasil definir a estratégia de retaliação. O Brasil acabou aceitando a proposta estadunidense da criação de um fundo de US$ 147 milhões destinado ao apoio aos produtores brasileiros de algodão, além da redução das linhas de créditos à exportação de maneira parcial, com o compromisso de redução total até 2012. Esta demanda se tornou paradigmática, pois demonstrou a fragilidade das decisões da OMC, sobretudo quando da ausência de cooperação dos países desenvolvidos, mas também demonstrou, mesmo em um cenário político e econômico desigual, e apesar das dificuldades dos países em desenvolvimento, a possibilidade da utilização dos instrumentos do OSC. Outro caso relevante que vale destaque foi a disputa envolvendo os subsídios ao açúcar concedidos pela União Europeia. Brasil, Austrália e Tailândia apresentaram, em setembro de 2002, consulta ao Painel. A OMC havia estabelecido duas cotas de açúcar, em toneladas, as quais se beneficiariam de subsídios à exportação e do suporte de preço doméstico. A parte excedente da produção não poderia usufruir do suporte de preço, tampouco do subsídio à exportação. O Painel entendeu que a Comunidade Europeia estava ultrapassando o montante acordado que poderia subsidiar, decisão mantida pelo Órgão de Apelação. Iniciou-se em maio de 2005 o prazo para que a Comunidade Europeia providenciasse a implementação da decisão, contudo, as partes não conseguiram celebrar um acordo, dando início um procedimento de arbitragem. A Comunidade Europeia solicitou prazo de quase dois anos para o cumprimento da decisão, porém, as partes interessadas afirmavam que, caso houvesse interesse da Comunidade Europeia, a recomendação poderia ser implementada em poucos meses. O Órgão de Apelação fixou prazo de doze meses e três dias para adequação da legislação europeia em conformidade com os relatórios do Painel. A Comunidade Europeia apresentou um projeto para reforma das regras de seu regime açucareiro, visando o cumprimento das regras da OMC, com destaque à liberalização da venda ao mercado interno do açúcar excedente às cotas beneficiadas pelos subsídios à exportação, além da fixação do preço de referência ao invés de preço de interferência. As partes envolvidas firmaram acordo, que dentre outras exigências à implementação, estabelecia reuniões periódicas para verificação da efetividade nas regras adotadas pela Comunidade Europeia. Destaca-se com isso, que a Comunidade Europeia, mesmo com grande superioridade econômica e comercial em relação ao Brasil e os demais demandantes, mostrou-se disposta a cooperar com as decisões do OSC a fim de adequar às regras da OMC, não sendo necessário dar início à fase de retaliação. Isso não que dizer que os países mais desenvolvidos não utilizam da sua superioridade em detrimento aos países em desenvolvimento, contudo, o caso do algodão se tornou emblemático não somente pela decisão do OSC, mas também pela sua eficácia. Conclui-se que o OSC, mesmo sendo uma inovação ao sistema que o antecede, já que tenta trazer celeridade à solução das controvérsias comerciais com definições de prazos, e também busca revigorar o papel das normas de julgamento no comércio internacional, demonstra, muitas vezes, ineficácia em seu funcionamento. Destaca-se relativo avanço ao sistema de solução de controvérsias comercias, contudo, ainda prosperam os poderes político e econômico, os quais ainda imperam nas relações comerciais no cenário internacional, haja vista a disparidade de poderes e a interdependência entre os países, quando muitos interesses das nações mais ricas são privilegiados pelo sistema.
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