Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 1 RESUMO CASOS CLÍNICOS – SAÚDE DA CRIANÇA: PUBERDADE PRECOCE: ( É considerado o início da maturação sexual antes dos 8 anos nas meninas e dos 9 anos nos meninos. No entanto, a idade não deve ser utilizada como critério isolado. Deve-se analisar a progressão dos caracteres sexuais, a velocidade de crescimento e o ritmo de maturação óssea. ( Avaliação clínica: aparecimento precoce e/ou evolução acelerada dos caracteres sexuais secundários, sinais clínicos de virilização, estatura acima do padrão genético familiar e velocidade de crescimento acima do esperado para sexo e idade. Utilizar classificação do estadio puberal de Tanner. ( Exames: raio X idade óssea, USG pélvica/abdominal e dosagem das gonadotrofinas. ( O hipotireoidismo é uma causa de puberdade precoce que cursa também com baixa estatura, porém apresenta atraso na idade óssea. ( Na menina, a puberdade começa com o aparecimento do broto mamário, que ocorre junto com o aumento da velocidade de crescimento, e a menarca normalmente ocorre quando a velocidade já ultrapassou o pico. SÍNDROME DE TUNER: ( Sinais e sintomas: pescoço alado e tórax largo, mamilos invertidos e hipertelorismo mamário. Baixa estatura comparada ao dos familiares. implantação baixa de cabelos na nuca, pescoço curto, ptose, inúmeros nevos pigmentados, cúbito valgo, hipoplasia ungueal, clinodactilia (curvatura de um dedo no plano da palma. É mais comum no 5º dedo). ( Pode causar disgenesia gonádica/gonadal, que resulta em impossibilidade de desenvolver puberdade, tecido mamário e menarca. Além de anomalias cardíacas. ( Exames complementares: cariótipo (45,X) e exames de imagem (USG). Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 2 MEGACÓLON CONGÊNITO/DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG: ( Crianças que mamam no peito e que apresentam dificuldade para evacuar com fezes endurecidas, volumosas e distensão abdominal intensa devem ser investigadas por conta do megacólon. ( Apresenta abdome distendido, constipação, ampola retal vazia, passagem repentina de fezes estimulada pelo toque do examinador (sinal da explosão), pode ocorrer presença de Soiling (perda involuntária de fezes em portadores de constipação crônica, consequente a fezes impactadas no reto). Pode apresentar anorexia, vômitos e náuseas. ERRO ALIMENTAR E INTOLERÂNCIA A LACTOSE: ( Qd a criança é pequena, bem novinha e o levam na consulta com queixa de não ganhar peso, devemos pensar em: 1. Dificuldade de amamentação: muitas vezes a pega está errada, impedindo que o bebê mame direito, além de causar muita dor à mãe. 2. Estenose hipertrófica do piloro: queixa de vômito e não ganho de peso. 3. Alergia ao leite de vaca: o lactente não está preparado para receber esse tipo de proteína (lactose), pois é uma macromolécula e acaba lesando as vilosidades intestinais. Com isso, as enzimas lactase são destruídas, levando a intolerância a lactose. A lactose, quando chega no jejuno, íleo, provoca gases, distensão abdominal e fezes ácidas, causando dermatite na região da fralda. Além disso, a alergia ao leite pode causar sintomas de pele como dermatite (por diarreia com destruição das vilosidades intestinais), placa urticariforme, quadros de sibilância e respiratórios de repetição. - Nesses casos, devemos proceder da seguinte maneira: retirar o leite de vaca e dar uma fórmula que contenha a proteína quebrada, um hidrolisado protéico, que será melhor para a absorção. Se após esse procedimento a criança tiver melhora na diarreia, ganho de peso e melhora nos sintomas de pele, podemos considerar que ela realmente tinha alergia ao leite da vaca. Caso os sintomas melhorem, mas não apresente ganho de peso, devemos considerar que as vilosidades ainda não se refizeram e introduzir a fórmula de aminoácido puro. Tratar com essa fórmula por 4-6 semanas. Se houver melhora com ganho de peso, podemos continuar por mais 4-6 semanas e após isso, introduzir o leite de vaca sem lactose. 4. Erro alimentar: algumas mães tiram seus filhos do aleitamento materno exclusivo antes do período recomendado e introduzem mingais e engrossantes na dieta da criança ou até mesmo continuam o aleitamento, mas por acharem que não é suficiente, complementam com engrossantes. Nesses casos, a criança pode apresentar constipação intestinal ou fezes endurecidas e esforço do paciente para eliminá-las. Isso se dá pelo fato do mingau e engrossantes serem muito espessos e congestionarem o trato digestório. Essas alimentações complementares, quando feitas de forma equivocada, alteram o peso da criança, pois não apresentam valor nutritivo, por serem alimentos espessos, a criança acaba não mamando por conta da saciedade (como se essas fórmulas estufassem ela – podendo causar distensão do estômago). Todo esse processo pode levar a uma desnutrição aguda. É necessário corrigir a Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 3 alimentação o mais rápido possível, introduzindo apenas o aleitamento materno. DISTÚRBIOS ALIMENTARES/DE IMAGEM: ( Anorexia: caracteriza-se por busca incansável por magreza, medo mórbido da obesidade, imagem distorcida do corpo, e restrição da ingestão relativa à necessidade, levando a peso corporal significativamente baixo. A paciente pode apresentar purgação pelos alimentos. São comuns alterações endócrinas, como níveis baixos de hormônios gonadais, níveis moderadamente reduzidos de T3 e T4 e aumento da secreção de cortisol. Normalmente a paciente entra em amenorreia, declínio de massa óssea. Costumam apresentar distensão e desconforto abdominal, constipação intestinal, bradicardia, PA baixa, hipotermia. Deve-se avaliar o estado nutricional da paciente pelo IMC e colocar na curva. Caso esteja abaixo de -2, considerá-la desnutrida. É necessária a intervenção de psiquiatra e psicólogo. Além disso, a paciente precisa de recuperação nutricional e hormonal, porém, isso deve ser feito aos poucos, oferecendo aporte calórico devagar. Em pacientes que estão abaixo de -2 na curva do IMC, é necessário internar para fazer a introdução de alimentos por sonda, pois se dermos esse aporte calórico de forma normal, a paciente pode ter parada cardíaca. ( Bulimia: caracteriza-se por episódios recorrentes de compulsão alimentar seguidos por alguma forma de comportamento compensatório inapropriado como purgação (vômitos autoinduzidos, abuso de laxantes ou diuréticos). Diferente dos pacientes com anorexia, os pacientes com bulimia costumam ter peso normal ou acima do normal. TRIAGEM NEONATAL (TESTE DO PEZINHO): ( Triagem neonatal biológica (papel filtro): necessidade de exames confirmatórios. Exame negativo não exclui a doença. Na suspeita clínica, devemos investigar. ( A coleta da primeira amostra deve ser entre o 3º e 5º dias de vida. Devemos colocar o pé do bebê abaixo do nível do coração, para que haja maior circulação de sangue. O local de punção deve ser em uma das laterais da região plantar do calcanhar. Após a punção, aguardar a formação da primeira gota de sangue e limpá-la, já que pode conter outros fluidos teciduais. ( Não se deve virar o papel-filtro para fazer a coleta dos dois lados. É preciso que o sangue atravesse a camada e seja absorvido de forma homogênea. A superposição de camadas de sangue interfere nos resultados do teste. ( Alguns casos especiais, como os recém nascidos pré-termo, de baixo peso ao nascer ou agudamente doentes, também devem ser triados. Porém, estão mais propensos a resultados falso-positivos e falso-negativos, que devem ser reavaliados posteriormente. ( É responsável pela pesquisa de 6 doenças: 1. Fenilcetonúria: - Doença autossômica recessiva. Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 4 - É caracterizada pela deficiência na enzima Fenilalanina Hidroxilase, que resulta na elevação de fenilalanina e diminuição de tirosina.- Clinicamente caracterizada por atraso de desenvolvimento, deficiência mental, quadro convulsivo, quadro de espectro autista, eczema, pele e cabelos claros, hiperatividade e agitação psicomotora, além de odor característico na urina. - Diagnóstico: dosagem quantitativa de fenilalanina (papel filtro), com valor igual ou superior a 10 mg/dL, em 2 amostras distintas. Se o valor for entre 4-10 mg/dL: acompanhamento clínico. Falso negativo: geralmente ocorre quando a coleta de papel filtro é feita com menos de 48h de vida. - Classificação: Fenilcetonúria clássica: atividade enzimática < 1% e fenilalanina sanguínea 20 mg%. Fenilcetonúria leve: atividade enzimática 1 a 3% e fenilalanina sanguínea 10-20 mg%. Hiperfenilalanina permanente: atividade enzimática > 3% e fenilalanina sanguínea >4% e <10mg%. - TTO: dieta restrita em fenilalanina e fórmula isenta para esse aminoácido. - Sd da Fenilcetonúria Materna: defeitos cardíacos congênitos, microcefalia, RCIU e atraso no desenvolvimento. 2. Hipotireoidismo Congênito: - Considerada emergência pediátrica. - Deficiência do hormônio tireoidiano tendo como principal causa o hipotireoidismo primário. - 85% disgenesias e 15% defeito de síntese (autossômica recessiva). - Manifestações clínicas: hipotonia, dificuldades respiratórias, cianose, icterícia prolongada, constipação, bradicardia, sonolência, choro rouco, mixedema, macroglossia, letargia, atraso no DNPM, livedo. - Diagnóstico: TSH em papel filtro, TSH e T4 livre em soro. Falso negativo: elevação tardia do TSH. Coleta precoce (com menos de 48h de vida). - TTO: Levotiroxina sódica 10-15mcg/Kg/dia. 3. Doença Falciforme e Hemoglobinopatias: - Herança genética autossômica recessiva, causada por um defeito na estrutura da cadeia beta da hemoglobina. Isso leva as hemácias assumirem formas falcêmicas (de lua minguante). - A hemoglobina predominante em um homem adulto normal é a A (Hb A). Nos RN, há predominância da Hemoglobina F (Hb FA). Por outro lado, as hemoglobinas variantes mais frequentes são a S e a C. - Manifestações clínicas: anemia hemolítica, crises vaso-oclusivas, crises de dor, insuficiência renal progressiva, AVC, maior susceptibilidade a infecções e sequestro esplênico. - Diagnóstico: focalização isoelétrica e HPLC. Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 5 4. Fibrose Cística: - Doença autossômica recessiva. - É caracterizada pela ausência ou diminuição de uma proteína de membrana no transporte iônico nas células epiteliais de vias aéreas, glândulas salivares/sudoríparas/do pâncreas, intestino e aparelho locomotor. Isso causa espessamento do muco e consequente obstrução de ductos glandulares. - Ocorre proliferação bacteriana pela obstrução das vias aéreas, levando a infecções crônicas e internações. - Diagnóstico: IRT (tripsina imunorreativa), sendo > 70ng/dL em 2 amostras. Além de teste do suor. 5. Hiperplasia Adrenal Congênita: - Doença autossômica recessiva. - Caracterizada pela deficiência de uma das enzimas responsáveis pela síntese de cortisol (mais comum é a deficiência da 21 hidroxilase, que está envolvida na síntese de cortisol e de aldosterona). - Forma clássica (perdedora de sal 70-75%) e virilizante simples. - Diagnóstico: 17OH progesterona elevada (papel filtro) e 17OH progesterona, androstenediona, cortisol e testosterona (soro). 6. Deficiência de Biotinidase: - Doença autossômica recessiva. - A biotinidase catalisa a clivagem da biotina a partir de proteínas provenientes da dieta ou reciclagem da biotina endógena (síntese de ác graxos, catabolismo de aminoácidos e glicogenólise). - Forma total (<10%) e parcial (10-30% atividade enzimática). - Manifesta-se clinicamente com distúrbios neurológicos e cutâneos (crises epilépticas, hipotonia, microcefalia, atraso no desenvolvimento, dermatite eczematoide, letargia, perda de audição). - Diagnóstico: atividade da biotinidase (normal: >30% atividade; parcial: 10-30% e total <10%) e BM. - TTO: uso de biotina. ( Todas essas doenças têm cura, exceto anemia falciforme e fibrose cística, as quais apenas tratam os sintomas e evitam consequências graves, visando melhorar a qualidade de vida do paciente. AMAMENTAÇÃO: ( Muitas mães vão ao consultório com queixa de dor ao amamentar. Geralmente isso acontece porque a criança fez a pega de forma errada. Muitas vezes o bebê abocanha apenas o mamilo da mãe, fazendo com que entre em contato com o palato duro e cause dor. ( A posição correta para amamentação é o corpo do bebê estar de frente e em contato com o corpo da mãe. É importante que o nariz e o queixo estejam encostados no seio da mãe (as vezes a criança só vira a cabeça para pegar o peito e acaba doendo/mamando de forma errada). Além disso, é necessário que abocanhe todo o seio, para que o mamilo entre em contato com o palato mole e não cause dor na mãe. ( É importante verificar se há barulho enquanto a criança suga o peito. Se houver, significa que o bebê está mamando errado. O Saúde da Criança N1 – 2020 Izabelly Alvares 6 barulho acontece por conta da entrada do ar enquanto ocorre a sucção, o que pode ocasionar cólica e distensão abdominal no bebê. ( Algumas mães acham que apenas o seu leite não é suficiente para o bebê, então é necessário explicar a importância do aleitamento materno exclusivo e as vantagens do leite materno. ( O leite materno apresenta 2 fases: 1. Colostro: é o leite mais claro e ralinho, rico em imunoglobulina. Ele dá proteção para a criança. Equivale aos primeiros 5 minutos da amamentação. 2. Leite mais espesso e amarelo, rico em gordura. É o leite que faz o bebê ganhar peso. ( A amamentação deve durar pelo menos, 15 minutos, para que seja possível pegar as 2 fases do leite. ( Depois de amamentar e colocar o bebê para arrotar, é importante deitar ele virado para o lado direito, aguardar 10 minutos e depois virá-lo para o lado esquerdo, por mais 10 minutos. Esse processo promove esvaziamento gástrico. DOENÇA DIARREICA AGUDA (DDA): ( Dor abdominal, febre, vômitos, diarreia e inapetência são queixas que podem estar presentes na DDA. ( Febre e diarreia são bem importantes, pois são sintomas guias. Devemos perguntar o que apareceu primeiro, se foi a febre ou a diarreia. ( Febre: geralmente é manifestação sistêmica. Ao aparecer primeiro, significa que o agente infeccioso invadiu a mucosa intestinal, caiu na circulação e provocou o sintoma sistêmico da febre. Devemos pensar nos agentes etiológicos que apresentam esse quadro: rotavírus (intestino delgado), agentes do cólon (resultam em colite – Salmonela, Shigella, E. coli). ( Diarreia: a grande perda de líquido devido a diarreia, resultou em um aumento da concentração de sódio na circulação, causando febre. A hipernatremia pode causar aumento da temperatura corpórea. ( É importante investigar as características da diarreia: líquida, não tão líquida, volumosa, presença de muco ou sangue. ( Devemos lembrar que o muco é feito pelo cólon, então o agente etiológico deve ter afetado essa região, caso tenha presença de muco. ( Shigella: pode levar a convulsão, pode lesar o rim. Se adere as plaquetas, causando plaquetopenia. ( E. coli enterotoxigênica: encontra-se no delgado, causando diarreia bem líquida, o que ocasiona a perda de bicarbonato. Para compensar, há aumento da FR.
Compartilhar