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Notas de aula Prof. Expedito Baracho Jr baracho@dcfl.ufrpe.br Setembro - 2015 2 CONTEÚDO Página 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 04 2. HISTÓRIA DA TECNOLOGIA E USOS DA MADEIRA................................................................ 04 3. NOÇÕES DE ANATOMIA DA MADEIRA..................................................................................... 12 4. PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA.................................................................................. 20 4.1. Teor de umidade....................................................................................................................... 20 Métodos de determinação do teor de umidade......................................................................... 21 Fatores que afetam a umidade da madeira.............................................................................. 29 Higroscopicidade da madeira.................................................................................................... 29 4.2. Densidade da madeira.............................................................................................................. 35 Densidade aparente.................................................................................................................. 35 Métodos de determinação da densidade aparente................................................................... 36 Densidade real.......................................................................................................................... 38 Fatores que influem na densidade da madeira......................................................................... 38 Percentagem de vazios............................................................................................................. 40 4.3. Contração e inchamento........................................................................................................... 40 Determinação do inchamento e contração volumétricos máximos........................................... 42 Inchamento e contração lineares.............................................................................................. 43 Anisotropia dimensional............................................................................................................ 43 Determinação dos coeficientes de inchamento e contração..................................................... 44 Fatores que afetam a movimentação higroscópica da madeira................................................ 45 Estabilidade dimensional da madeira........................................................................................ 46 4.4. Propriedades térmicas.............................................................................................................. 47 Condutividade térmica............................................................................................................... 47 Calor específico......................................................................................................................... 48 Propagação térmica.................................................................................................................. 48 Dilatação térmica....................................................................................................................... 49 Poder calorífico.......................................................................................................................... 49 4.5. Propriedades elétricas............................................................................................................... 49 Condutividade elétrica............................................................................................................... 49 Constante dielétrica................................................................................................................... 50 Fator de potência dielétrica....................................................................................................... 50 4.6. Propriedades acústicas............................................................................................................. 51 Isolamento do som.................................................................................................................... 52 5. PROPRIEDADES MECÂNICAS DA MADEIRA........................................................................... 53 5.1. Propriedades viscoelásticas...................................................................................................... 54 5.2. Propriedades elásticas.............................................................................................................. 55 Módulo de elasticidade.............................................................................................................. 56 Coeficiente de Poisson.............................................................................................................. 57 3 Módulo de rigidez...................................................................................................................... 58 Constantes elásticas da parede celular e da madeira.............................................................. 58 5.3. Propriedades mecânicas........................................................................................................... 59 Considerações sobre a NBR 7190/1997................................................................................... 60 Compressão paralela às fibras.................................................................................................. 60 Compressão normal às fibras................................................................................................... 62 Flexão estática.......................................................................................................................... 64 Resistência ao Impacto na flexâo............................................................................................. 67 Tração........................................................................................................................................ 68 Tração paralela às fibras........................................................................................................... 69 Tração normal às fibras............................................................................................................. 70 Cisalhamento............................................................................................................................ 71 Dureza....................................................................................................................................... 72 Fendilhamento........................................................................................................................... 73 Torção....................................................................................................................................... 73 5.4. Ruptura na madeira..................................................................................................................74 5.5. Fatores que afetam as propriedades mecânicas da madeira................................................... 74 Fatores naturais........................................................................................................................ 74 Densidade................................................................................................................................. 74 Nós............................................................................................................................................ 75 Inclinação da grã....................................................................................................................... 76 Orientação dos anéis de crescimento....................................................................................... 77 Lenho de reação....................................................................................................................... 77 Madeira juvenil.......................................................................................................................... 77 Falhas de compressão.............................................................................................................. 78 Bolsas de resina ou de goma.................................................................................................... 78 Bicada de pássaro..................................................................................................................... 78 Extrativos................................................................................................................................... 79 Madeira morta........................................................................................................................... 79 Fatores ambientais e de utilização............................................................................................ 79 Umidade.................................................................................................................................... 79 Temperatura.............................................................................................................................. 80 Duração da carga...................................................................................................................... 80 Fadiga....................................................................................................................................... 81 Idade......................................................................................................................................... 82 Exposição a substâncias químicas........................................................................................... 82 Tratamento químico.................................................................................................................. 82 Radiação nuclear...................................................................................................................... 83 Fungos manchadores e emboladores....................................................................................... 83 Fungos apodrecedores............................................................................................................. 83 Insetos....................................................................................................................................... 84 6. Qualidade da madeira.................................................................................................................. 84 7. BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................ 84 * Capa Ilustração adaptada de Rowell (2013) 4 TECNOLOGIA DA MADEIRA 1. INTRODUÇÃO A norma brasileira NBR 7190:1997 prescre- ve os métodos a serem adotados nos ensaios para determinação de propriedades da madeira em projetos de estruturas, visando sua caracterização completa, mínima e simplificada. A Norma determina que para a investigação direta de lotes de madeira serrada considerados homogêneos, cada um não deve ter volume superi- or a 12 m 3 . De cada lote investigado deve-se extrair uma amostra, com corpos-de-prova (cp) distribuídos aleatoriamente, não se devendo retirar mais de um cp da mesma peça. Os cp devem ser isentos de defeitos e retirados de regiões afastadas das extre- midades das peças de pelo menos cinco vezes a menor dimensão da seção transversal, mas nunca inferior a 30 cm, pois as extremidades ou margens das peças de madeira são mais secas. O número mínimo de cp deve ser de 06 (seis) para caracterização simplificada e de 12 (doze) para caracterização mínima de espécies pouco conhecidas. A Norma ainda preceitua a obtenção de valores característicos das propriedades da madeira e a confecção de um relatório técnico para apresentação dos resultados. 2. HISTÓRIA DA TECNOLOGIA E USOS DA MA- DEIRA Embora existam poucos trabalhos sobre a história da Ciência da Madeira, alguns são impor- tantes ao registrarem eventos significativos que con- tribuíram com o progresso do uso e da tecnologia da madeira ao longo do tempo, a exemplo de MacDaniels (1925), Brotero (1932), Pereira (1933), Youngs (1982), Perlin (1991), Masri (1995), Meiggs (1998), Oosthoek (1998), Bowyer (2000), Brostow et al. (2010), Teischinger (2010), Grebner et al (2013) e Watkins (2014) . História da Tecnologia e Usos da Madeira. Teofrasto, (372 - 287 a.C) (“o que tem eloquência divina"). Filósofo grego, nasceu em Éreso, na ilha de Lesbos. Pai da Botânica. Descreveu a olho nu a anatomia interna de troncos, raízes e galhos, tipos de madeiras e suas utilizações. Real e Imperial Academia de Mineração. Selmecbánya, Eslováquia (1735) Curso de mineração e seleção, processamento e usos da madeira para minas. Primeiros livros sobre a madeira e suas propriedades. Uma edição de 1788 de Giovanni Antonio Scopoli denominou-se “Investigation of some wood species from the genus of spruce, of turpentine, of tar oil, or black or ship tar, of resin''. A expansão do ensino da madeira levou a criação da Academia Florestal em 1808. K. Karmarsch (1851) Publicou o “Handbuch der mechanischen Technologie“, em Hannover - Alemanha. Um capítulo foi dedicado a Tecnologia da Madeira. F. Freire Allemão, Custodio Alves Serrão, Ladisláu Netto e J. de Saldanha da Gama. Publicaram “Breve noticia sobre a collecção das madeiras do Brasil apresentada na exposição internacional de 1867”. Rio de Janeiro, Typographia Nacional. 1867. 32 p. O livro faz uma sinopse de diversas madeiras brasileiras, desde o Rio Grande do Sul até o Amazonas, várias identificadas por nome vulgar e ou por nome científico, além de seus usos. 5 Nicolau Joaquim Moreira (1824 - 1894) Médico, publicou o “Vocabulario das arvores brazileiras - que podem fornecer madeira para construcções civis, navaes e marcenaria seguido de um Indiculo botanico de algumas plantas do Paraguay. Typographia Universal de Laemmert, 1870. 63 p. André Pinto & José Rebouças Rebouças (1838 - 1898) Engenheiros. Publicaram dois livros sobre madeira: “Indice alphabetico dos pesos especificos das principaes madeiras nacionales e estrangeiras”. Rio de Janeiro, Typographia. de G. Leuzinger & Filhos, 1877. 46 p. “Ensaio de indice geral das madeiras do Brazil”. Rio de Janeiro, 3v. Typographia Nacional, 1877. 1374 p. Trata-se de três volumes com informa- ções disponíveis na época das madeiras brasileiras, ocorrência, usos e, de algumas, do peso específico.Além de cientista e inventor, André Rebouças é um famoso personagem histórico de sua época, pela destacada e aguerrida luta contra a escravidão reinante e defensor da democracia rural. Amigo de D. Pedro II, foi banido do Brasil junto com a família real. Ludwig Von Tetmajer (1883) Eng. Civil suiço. Publicou diversos trabalhos sobre a flambagem de peças de madeira, pesquisa considerada até hoje muito importante como o início do conhecimento da madeira como material estrutural. Suíça (1893) Primeira utilização de madeira laminada-colada, na construção de um Auditório em Basel. Inglaterra (1898) Desenvolvimento do precursor da chapa dura por prensagem a quente de resíduos de papel. Japão (1902) Criação do Laboratório de Processamento da Madeira no Departamento de Engenharia Florestal da Faculdade de Agricultura da Universidade de Tóquio. Início dos estudos acadêmicos do processamento da madeira. Japão (1905) Fundação do Instituto de Pesquisas Florestais e Produtos Florestais, em Tóquio. Hypólito Pujol Junior (1905) Engenheiro-Arquiteto. Liderou grupo de estudantes da ‘Escola Polytechnica de São Paulo’ em trabalhos para determinar as características mecânicas de 47 madeiras nacionais, publicados na ocasião no “Manual de Resistência dos Materiaes” (1905). http://www.estantevirtual.com.br/qau/nicolau-joaquim-moreira 6 Canadá (1908) Produção da primeira chapa de fibras. Instituto Federal Suíço de Tecnologia (1910) Início das pesquisas sobre anatomia da madeira, incluindo as propriedades básicas, tais como, resistência, estabilidade dimensional, durabilidade, densidade, relações de umidade e química da madeira e, aumento da vida útil da madeira através da secagem e tratamento. Estados Unidos (1910) Fundação do Forest Products Laboratory - FPL. Estados Unidos (1922) Descoberta da chapa dura (após sistematicamente desenvolvida). Hungria (1923) Criação do Departamento de Mecânica e Tecnologia da Madeira, na Universidade de Sopron; em 1924 inicia-se o curso de Tecnologia da Madeira. França (1925) Baseado nos trabalhos de Marcel Monnin a ‘Commission Permanente de Standardisation’ elabora o “Cahiers de Charges Unifiés Francais relatifs aux Bois”. Arthur de Miranda Bastos (1926) Pioneiro da Anatomia da Madeira no Brasil. Tese de formatura: “Estudo sobre algumas madeiras da Amazônia, sob o ponto de vista da sua identificação e propriedades industriais”. Ary Frederico Torres (1900 - 1973) Engenheiro Civil, fundador e primeiro diretor do ‘Instituto de Pesquisas Technologicas de S. Paulo’. Em 1927 reiniciou os estudos sobre as propriedades de algumas essências florestais nativas. Estados Unidos (1927) Uniformização pela ‘American Society for Testing Materials – ASTM’, dos métodos de ensaios das características físicas e mecânicas da madeira. Inglaterra (1929) A ‘British Engineering Standards Association’ prescreve os métodos de ensaios de madeiras. Estados Unidos (1929) Criação do primeiro curso universitário americano de Tecnologia da Madeira. Frederico Abranches Brotero (1935) Engenheiro da ‘Secção de Madeiras do Instituto de Pesquisas Technologicas de S. Paulo’, publicou o “Estudo dos caractéres physicos e mecanicos das madeiras”, Boletim nº 8 do IPT, 1935 (primeira edição em 1932, Boletim nº 6). Após sucessivas edições culminou no Boletim n° 31, aceito oficialmente como a norma brasileira de ensaios de madeiras. 7 Franz Friedrich Paul Kollmann (1906 - 1987) Cientista alemão. Publicação da primeira referência universal sobre Tecnolo- gia da Madeira, “Technologie des Holzes. Berlin, Julius Springer Verlag”, 1936. 764 p. Primeiro Presidente da IAWS. Suíça (1936) Criação do Departamento de Pesquisa e Teste da madeira no Laboratório Federal de Pesquisa e Testes de Materiais. Alemanha (década de 1930) Primeiro protótipo de chapas de partículas. Década 1940 O advento da microscopia eletrônica de transmissão incentivou a observação da estrutura e ultraestrutura da madeira. Noruega (1949) Criação do Instituto de Tecnologia da Madeira. Hungria (1949) Criação do Instituto de Pesquisa da Ciência da Madeira, em Budapeste. China (1952) Criação do Instituto Central de Pesquisa da Ciência Florestal, voltada para o estudo da madeira e desenvolvimento de produtos da madeira, em Beijing. 1966 Fundação da International Academy of Wood Science ((IAWS). Folheados, colagens e encaixes com madei- ra já eram realizados no Egito antigo há pelo menos 3000 a.C.; também, grandes embarcações egípcias navegaram o mediterrâneo há 2700 a.C.(Figura 01). O papel surgiu na China em 105 d.C. Che- gou na Europa Ocidental 1000 anos depois de inven tado A primeira fábrica de papel também surgiu na China em 704 d.C. No início o papel era feito de Figura 01. Egito Antigo. Obtenção de folheados. Embarcação da Rainha Hatshepsut (1.500 a.C.). 140 m. 8 casca, algodão ou linho, ao invés da fibra de madei- ra, o que aconteceu a partir da metade do século IXX. A uso da madeira como material de constru- ção era bem evoluído desde a antiguidade, o que é evidente pelas edificações que existem até os dias atuais. O Horyu-ji, templo budista de Nara (Japão), com 32 m de altura, concluído em 650 d.C. incorpo- ra elaboradas colunas, beirais, vigas e traves; é considerado o edifício de madeira mais antigo do mundo (Fig. 02). Localizado no Tibet a 3.700 m de altura, o Palácio Potala, de 637, forma um complexo de edificações de madeira e pedra, com o atual Palácio concluído em 1694 (Fig. 03). O Templo Fogong Shanxi, com 63 m de altura é considerado o Pagode de madeira mais antigo da China, de 1056 (Fig.04). Em forma octogonal, é considerado uma obra-prima chinesa em construção de madeira. Sem o uso de um único prego, parafuso ou grampo, ao empregar 54 tipos diferentes de suportes, é um exemplo complexo e intricado da construção de telhado com madeira. A Stave Church, na Noruega, data de 1150 e foi construída com lances íngremes de telhas de madeiras, de forma que o telhado confere notável Figura 02. Templo Horyu-ji, Japão (650 d.C). Figura 03. Palácio Potala, Tibet (677). durabilidade à estrutura, construída com madeiras de coníferas de baixa durabilidade natural (Fig. 05). O Portão de Sungnyemun (Portão do Sul), de 1396, era a mais antiga construção de madeira da Coreia. Destruído em 2008 por um incêndio criminoso (Fig. 06). Reconstruído em 2013. A cidade Proibida, na China, construída entre 1406 e 1420, constitui um complexo de 114 edificações de madeira e pedra (Fig. 07 e 08). No século XIV na Europa surgiu grande nú- mero de escultores, carpinteiros e arquitetos de ma- deira que contribuíram com obras que testemunham suas habilidades até hoje, a exemplo do Westminster Hall (1395), na Inglaterra, Chapel Bridge (séc. XIV), na Suiça e Church of the Transformation (1714), na Russia (Fig. 09, 10 e 11). É bom lembrar que nos dias atuais alguns produtos investigados em eventos técnicos-científi- cos têm sua origem a centenas ou milhares de anos atrás. 9 Figura 04. Templo Fogong Shanxi, China (1056). Figura 05. Stave Church, Noruega (1150). Figura 06. Portão de Sungnyemum (Portão do Sul), Coreia do Sul (1396). Reconstruído em 2013. 10 Figura 07. Cidade Proibida, China (1406 – 1420). Fonte Wikipedia. Figura 08. Cidade Proibida: detalhe de telhado. Fonte Wikipedia. 11 Figura 09. Westminster Hall, de 1395. Inglaterra. Possui 78 m de comprimento, 20 m de largura e 28 m altura; vão livre de18 m. Fonte Google imagens Figura 10. Chapel Bridge, Suiça 204 m (1333). Fonte Luzern.com 12 Figura 11. Church of the Transformation , Russia (1714). Fonte Como vimos, há uma longa história da evolução do uso sofisticado da madeira. Desde a antiguidade. 3. NOÇÕES DE ANATOMIA DA MADEIRA 3.1. Estrutura macroscópica do tronco A exceção do câmbio e a maioria dos raios, em um corte transversal de um tronco as seguintes estruturas se destacam (Fig. 12). 3.1.1. Alburno Porção externa, funcional do xilema, geral- mente clara (Fig. 13). Possui células vivas e mortas. Tem como função principal a condução ascendente de água ou seiva bruta nas camadas externas próxi- mas ao câmbio; também armazena água e substân cias de reserva tais como amido, açucares, óleos e proteínas, e produz tecidos ou compostos defensi- vos em resposta as injúrias. Sua permeabilidade é facilitada pela presença de pontoações funcionais não incrustadas. Possui mecanismos de defesa ati- vo e passivo contra os xilófagos: o ativo é induzido por ataque ou ferimento e o passivo é produzido antes da infecção. Contêm poucos extrativos tóxicos e geralmente é susceptível ao apodrecimento. Acei- ta bem tratamentos com preservativos e para me- lhorar suas características tecnológicas. Figura 12. Seção transversal típica de um tronco 13 Figura 13. Alburno e cerne na madeira. 3.1.2. Cerne É a camada interna e mais antiga do lenho, desprovida de células vivas e materiais de reserva. Em algumas espécies difere do alburno pela cor mais escura, baixa permeabilidade e aumento da durabilidade natural. Há apenas mecanismo de defe sa passiva contra os xilófagos, proveniente do arma zenamento de extrativos. Fornece suporte estrutu- ral, otimiza o volume do alburno e mantém o ambien te. Cumulativo, o volume de cerne aumenta com a idade. A transformação do alburno para cerne é denominada de cernificação e o resultado final des- se processo recebe o nome de cerne. A resistência da madeira não é essencialmente afetada pela cer- nificação, pois nenhuma célula é adicionada, retira- da ou sofre modificação anatômica no processo. Em algumas folhosas, associada a forma- ção do cerne, observa-se a ocorrência de tiloses, obstrução dos lumens dos vasos por tilos (Fig. 14). As tiloses integram a estratégia de defesa da árvore ao reduzir a quantidade de ar e umidade, dificultar a proliferação de xilófagos pelos vasos e permitir o acúmulo de extrativos, evitando serem diluídos pelo fluxo da transpiração. Nas folhosas, o fator determi- nante da permeabilidade da madeira é a presença ou não de tiloses. Os tilos são importantes na identi- ficação e principalmente na utilização da madeira, por aumentarem a densidade dentro de certos limi- tes e dificultarem a secagem, a impregnação com preservantes ou estabilizantes químicos e a infiltra- ção de licores na polpação, pois obstruem os ca- minhos naturais da circulação de líquidos. Tilos também podem ocorrer em coníferas. 3.1.3. Anéis de crescimento Nas seções transversais do caule, as cama- das resultantes da atividade cambial aparecem em forma de anéis (Fig. 15). Em zonas de clima tempe- rado os anéis representam os incrementos anuais Figura 14. Lumens de vasos invadidos por tilos. Figura 15. Anéis de crescimento. das árvores. Permitem estimar a idade da árvore; saber se a árvore possui incremento rápido e, sa- ber quais anos foram favoráveis e quais os desfa- voráveis. O anel de crescimento é constituído pelos lenhos inicial e tardio. 3.2. Parede celular A parede celular constitui uma rígida armação com determinadas funções na célula, entre as quais resistência estrutural, estabilidade, defesa contra xilófagos e evitar perda de água. Sua estru- tura assemelha-se ao concreto reforçado: a arma- ção interna de microfibrilas de celulose – análogas aos vergalhões de ferro – é embebida em uma substância amorfa, a matriz, constituída de lignina e hemiceluloses – equivalente ao cimento + areia (Figuras 16 e 17). O ângulo das microfibrilas de celulose na camada S2 dos traqueóides axiais é um indicador das propriedades da madeira, a exemplo do módulo de elasticidade e contração. 14 Figura 16. Parede celular com as diversas camadas e e orientação das microfibrilas de celulose na camada S 2 . À direita, detalhe das microfibrilas; as linhas retas representam regiões cristalinas; as irregulares, regiões amorfas. Figura 17. Composição da parede celular até a formação da madeira. 3.3. Estrutura microscópica da madeira 3.3.1. Coníferas 3.3.1.1. Traqueoides axiais São células grandes e estreitas, com extre- midades mais ou menos pontiagudas, imperfura- das, ocupando até 95 % da massa lenhosa e, por isso, dando uma aparência uniforme as madeiras de coníferas (Fig. 18). Os traqueoides axiais possuem dupla fun- ção: realizam a condução da seiva bruta e suporte da árvore. Figura 18. Traqueoides axiais. 3.3.1.2. Raios São células parenquimáticas perpendicula- res aos traqueoides axiais e em sua maioria, não lignificadas. Tem a função de armazenar e transportar horizontalmente substâncias nutritivas. Produzem extrativos e “substâncias químicas de ‘defesa” antes da formação do cerne ou após o ferimento de uma árvore. 3.3.1.3. Parênquimas axiais Realizam o transporte e armazenamento de substâncias nutritivas. Normalmente ausentes ou escassos nas coníferas. 3.3.1.4. Traqueoides radiais São células bem menores e da mesma natu reza que os traqueoides axiais, de forma paralelepi- pédica, que se encontram associados aos raios. Tem a função de condução horizontal de nutrientes e suporte. Figura 19. Traqueoides radiais com paredes lisas e identuras. 3.3.1.5. Canais resiníferos São espaços intercelulares que produzem resina. 15 3.3.1.6. Traqueoides em séries verticais Traqueoides mais curtos e de extremidades retas. Possuem a função de condução e suporte. 3.3.2. Folhosas 3.3.2.1. Vasos O vaso ou poros é uma série vertical de células coalescentes formando uma estrutura tubiforme de comprimento indeterminado (Fig. 20). Constituem de 7 a 55 % da massa lenhosa e reali- zam a condução ascendente da seiva bruta. O agrupamento, distribuição, abundância e tamanho dos poros são características importantes na identificação e propriedades tecnológicas da madeira. Figura 20. Elemento vascular. 3.3.2.2. Parênquima axial Bem mais abundante nas folhosas do que nas coníferas e raramente ausente ou muito raro. Apresentam parede fina não lignificada. A extrema abundância de parênquima (axial e radial) confere à madeira extraordinária leveza, baixa resistência mecânica e baixa durabilidade natural. 3.3.2.3. Fibras São células longas e estreitas, de paredes espessas, com extremidades afiladas, que ocorrem unicamente em folhosas, constituindo geralmente a maior parte do lenho (20 a 80 %). As fibras desempenham a função de suporte; sua porção no volume total e a espessura de suas paredes influem diretamente na densidade e na movimentação higroscópica e, indiretamente, nas propriedades mecânicas da madeira. Figura 21. Fibras 3.3.2.4. Raios Parênquima que possui a função de arma- zenar e transportar horizontalmente substâncias de reserva. 3.3.2.5. Traqueoides vasculares e vasicêntricos São de ocorrência limitada nas folhosas co- mo vestígios da evolução no reino vegetal. Possu- em função suplementar de condução. São mais curtos do que as fibras e diferem dos traqueoides axiais das coníferas por serem curtos com pon- toaçõespequenas e usualmente alternas. 3.4. Variabilidade da madeira Ocorre variação na estrutura e nas proprie- dades da madeira de espécie para espécie, na mesma espécie e na própria árvore. As causas des- sas variações são: · genéticas, · ambientais e · cambiais (idade do câmbio ao produzir lenho juve- nil ou maduro). 3.4.1 Madeira juvenil Madeira juvenil é produzida pelo câmbio jovem; ocupa o centro de todas as árvores. Árvores antigas possuem lenho maduro com o centro de lenho juvenil (Fig. 22). A madeira juvenil das coníferas apresenta: · qualidade inferior, · células mais curtas, · maior ângulo das microfibrilas da camada S2, · maior contração longitudinal), · baixa proporção de lenho tardio, 16 Figura 22. Lenhos juvenil, maduro de uma conífera. · baixa densidade e resistência, · alto teor de lignina. Além dos efeitos provocados pelo lenho juvenil, a variabilidade da madeira também é pro- vocada pela taxa de crescimento, galhos ou raízes. 3.5. Relação entre a estrutura anatômica da madei- ra com suas propriedades e comportamento tecnológico 3.5.1. Densidade e resistência mecânica A densidade é talvez a característica tecnológica mais importante da madeira, pois dela dependem outras propriedades como resistência, grau de alte- ração dimensional, etc. O grau de resistência que se pode deduzir da den- sidade é, no entanto altamente modificado pela es- trutura histológica (comprimento das células, espes- suras das paredes, quantidade de pontuações, etc). As fibras constituem os elementos mais importan- tes na resistência mecânica da madeira de folhosas. Há uma estreita relação entre volume de fibras, den- sidade e resistência mecânica. Os vasos constituem pontos fracos, sendo que sua abundância e distribuição reduzem consideravel mente a resistência mecânica da madeira. O lenho com porosidade em anel apresenta uma resistência menor a determinados esforços do que o de porosidade difusa. O parênquima axial é um tecido frágil, cuja abun- dância (20 a 100 % na madeira de folhosas) e distri- buição (principalmente em amplas faixas contínuas), reduz consideravelmente a resistência da madeira. Normalmente o lenho com maior volume de raios contém um grande volume de fibras com paredes espessas, possuindo elevada densidade. Nas coníferas, o lenho tardio é geralmente mais resistente devido ao maior volume de material lenho so nas paredes de suas células. A percentagem de lenho tardio e a regularidade na espessura dos anéis de crescimento afetam a densidade e a resis- tência mecânica da madeira. 3.5.2. Durabilidade natural Refere-se ao grau de susceptibilidade da madeira ao ataque de agentes destruidores como fungos, insetos e brocas marinhas. As madeiras de alta densidade são mais resis tentes aos xilófagos, pois apresenta uma estrutura mais fechada e freqüentemente elevado teor de substâncias especiais nas paredes das células. Tais substâncias (sílica, alcalóides, taninos), em parti- cular no cerne, aumenta a durabilidade natural da madeira devido ao efeito tóxico sobre os xilófagos. À sílica atribui-se a maior durabilidade das madeiras em contato com a água do mar. A grande abundância de tecido parenquimático confere baixa durabilidade natural, pois é um tecido macio, de fácil penetração e possui conteúdos nutri- tivos armazenados em suas células (amidos, açúca- res, proteínas, etc.). O Parênquima axial paratraque al favorece o desenvolvimento de certos xilófagos que depositam seus ovos nas cavidades dos vasos e, ao eclodirem, as larvas alcançam facilmente os nutrientes. Os vasos largos e livres de conteúdos e tilos favo- recem a penetração de fungos e insetos. O cerne apresenta maior durabilidade natural, porém depende da qualidade preservativa dos extrativos presentes, das condições de exposição e do tipo de fungo. As madeiras escuras são em geral mais duráveis. A madeira constantemente seca pode durar indefi- nidamente. A madeira submersa não se deteriora significativamente: bactérias e certos fungos de podridão mole podem atacar madeira submersa, mas a deterioração resultante é muito lenta. 3.5.3. Permeabilidade Refere-se ao grau de facilidade de circula- ção de fluidos através de um material poroso sub- metido a um gradiente de pressão. É uma carac- terística importante sob o aspecto da secagem e preservação de madeiras. Em geral, madeiras de elevada densidade são mais difíceis de serem secadas e impregnadas com soluções preservantes. 17 A maior entrada ou saída de líquidos se dá através dos capilares: os vasos nas folhosas e os traqueoi- des axiais nas coníferas. O tamanho, abundância, distribuição e a presença ou não de substâncias obstrutoras nos poros influem no grau de permeabilidade das folhosas. O parênquima axial é mais permeável que as fibras. O lenho inicial é mais permeável que o lenho tardio. O tamanho da peça de madeira e a orientação da grã afetam a permeabilidade. Na madeira a permeabilidade é maior no sentido axial do que no transversal; nas coníferas a permeabilidade axial é 15 a 80000 vezes maior do que a transversal. O número, forma e desempenho das pontoações areoladas (aspiradas ou não) nas paredes dos tra- queoides axiais determinam a permeabilidade da madeira de coníferas. A presença de substâncias especiais (gomas, resinas, látex, etc), canais celulares e intercelulares, pode afetar a penetração de preservativos e a seca- gem de madeiras por se liquefazerem, obstruindo a passagem de fluidos. 3.5.4. Trabalhabilidade Refere-se a facilidade de se processar a madeira com ferramentas. Varia diretamente com a densidade: quanto mais baixa a densidade mais fácil de cortar a madeira. A obtenção de uma superfície lisa depende da densidade, grã irregular, depósitos minerais duros e madeira de tração. Madeiras com grã reta facilitam a obtenção de um bom acabamento superficial, ao contrário daquelas com grã irregular, que apresentam acabamentos ásperos. Madeiras excessivamente mole (baixa densidade) apresentam dificuldade de acabamento, resultando em uma superfície lanosa. Espécies de elevada densidade são difíceis de serem trabalhadas por desgastarem as ferramentas. A presença de substâncias especiais pode causar dificuldades nas operações de desdobro, por aderi- rem-se as serras ou facas dos equipamentos. A presença de carbonato de cálcio e sílica em abundância é capaz de tornar antieconômico o aproveitamento da madeira, pelos danos que produz nos equipamentos. 3.5.5. Alteração dimensional Por ser higroscópica, a madeira apresenta os fenômenos de contração e inchamento pela perda ou adsorção de água. A entrada de água entre as moléculas de celulose da parede celular provoca o afastamento das mesmas e, como consequência, o inchamento. O processo inverso produz a aproximação das moléculas de celulose, resultando na contração da madeira. Já que o inchamento e a contração ocorrem pelo ganho ou perda de água nas paredes celulares, madeiras que possuem em abundância células de paredes espessas (alta densidade) apresentam esses fenômenos em grau mais acentuado. 3.4.6. Colagem e revestimentos superficiais A textura da madeira tem grande impor- tância sob esse aspecto. Madeira com textura grossa absorve em grande quantidade as substân- cias que lhe são aplicadas. No caso de pinturas, são necessárias várias demãos para se obter um bom acabamento. Na colagem, a excessiva absorção do adesivo pela superfície porosa pode causar uma má aderência, além do perigo de ultrapassagem da cola até a outra face do compensado, prejudicando a sua aparência. Madeira de estrutura muito fechada e superfície lisa apresentará deficiência depenetração do adesi- vo, reduzindo a área de colagem e ocasionando uma linha de cola fraca. A presença de substâncias especiais (canais secretores, células oleíferas, conteúdos nos vasos) pode dificultar o processo de colagem e a apli- cação de revestimentos superficiais como pinturas, vernizes, etc., pois impedem a aderência do adesivo ou inibem o processo químico de adesão (cura da cola). 3.4.7. Polpa e papel Madeira com grande volume de células de compri- mento longo é comumente preferida na fabricação de polpa e papel em função das propriedades de resistência ligadas a esta característica. Para isso, deve apresentar elevada proporção de fibras nas folhosas ou de traqueoides axiais nas coníferas e pouco tecido parenquimático (formado de células curtas). Madeiras de densidade elevada possuem grande proporção de células com paredes espessas e rijas, mantendo sua forma tubular após o desfibramento, apresentando pouca área de contato entre elas, o que implica na redução da resistência mecânica. Origina papéis volumosos, grosseiros, porosos, com alta absorção e elevada elasticidade. Além disso, não há uma boa flutuação da pasta, há risco de afundamento, como também maior consumo de energia e desgaste dos equipamentos na operação de desfibramento. Ao contrário, as células provenien tes de madeiras de menor densidade se amoldam melhor, apresenta maior área de contato e conse- qüentemente maior resistência: produz um papel 18 mais compacto, menos opaco e poroso, de superfí- cie homogênea e de maior resistência ao estouro (Fig. 23). A B Figura 23. Comportamento das células de madeiras de alta e baixa densidade. A – células de madei- ra de elevada densidade: pouca área de conta- to; B- células de madeira de densidade mais baixa: maior área de contato entre elas por se achatarem e se amoldarem melhor. A faixa ideal de densidade para a produção de papel situa-se entre 0,4 e 0,6 g/cm 3 . Nas coníferas, a proporção de lenho inicial e tardio constitui, talvez, o fator mais importante a influenciar as características do papel, tais como resistência, porosidade, capacidade de absorção, opacidade, cor, etc. A eficiência de penetração e difusão de substân- cias químicas nos traqueoides axiais depende do lúmen e do sistema de pontuações e a sua organiza ção; nos vasos depende da desobstrução, diâmetro e distribuição no lenho. A presença de canais secretores e conteúdos espe ciais como gomas, resinas, látex, etc., é indesejável por serem estranhas ao processo, causando proble- mas na operação de cozimento e por se deposita- rem nas peneiras, superfícies metálicas e filtros. Madeiras escuras comprometem a aparência do produto final ou aumentam o custo no processo de branqueamento. 3.4.8. Combustibilidade Determinada pela densidade e o teor de umidade. Madeiras de elevada densidade queimam melhor, uma vez que apresenta uma maior quanti- dade de matéria lenhosa por volume. A combusti- bilidade e o poder calorífico são altamente influen- ciados pelo teor de lignina e extrativos inflamáveis como óleos, resinas, ceras, etc. A presença de extra tivos é responsável pelo odor exalado durante a combustão. 3.5. DEFEITOS DA MADEIRA Defeitos são irregularidades, descontinui- dades ou anomalias estruturais, alteração químicas ou colorações normais que se apresentam no inte- rior ou exterior da madeira e podem desvalorizar, prejudicar, limitar ou impedir o seu uso. Depende do ponto de vista do usuário, pois são inerentes a particularidades próprias da árvore. Podem ser: 3.5.1. Defeitos de secagem Ocorrem pela retirada natural ou artificial da água da madeira, dificultando seu reaproveitamento em uma fase posterior (Fig. 24). Figura 24. Contrações e deformações características de peças de madeira de acordo com a forma e localização no tronco. Durante a secagem normal a superfície da madeira seca primeiro e estando abaixo da umidade de saturação das fibras (Usf) contrai, enquanto o interior está úmido, acima do Usf. Isto provoca tração na superfície e compressão no interior (Fig. 25). Se o esforço exceder a tração perpendicular das células, haverá rachaduras superficiais. Se a compressão exceder a das células do interior, haverá colapso. Então, a contração ocorre antes da peça inteira estar a um teor de umidade uniforme abaixo da Usf: a perda de umidade ocorre primeiro na superfície. Com a superfície seca, a umidade movimenta-se do interior para o exterior. Há duas maneiras de deslocamento da água: fluxo de água livre nos lumens das células e difusão de moléculas tanto da água higroscópica como do vapor d’água nos lumens das células. A difusão ocorre apenas abaixo do Usf. Continuando a secagem, o interior perde umidade enquanto a superfície permanece “imóvel”, invertendo as tensões: a superfície fica sob ação de compressão, enquanto o interior sob ação de tração, contrai. Essa distribuição de tensões pode ocasionar o aparecimento de rachaduras tipo favos de mel. O deslocamento da umidade é 12 a 15 vezes maior axial do que transversalmente. Os principais defeitos durante o processo de secagem são os empenos, as rachaduras, o colap- so e o endurecimento superficial. 19 3.5.2. Defeitos na estrutura anatômica 3.5.2.1. Nós Nó é uma porção do ramo de uma árvore Figura 25. Distribuição da água na madeira. incorporada à peça de madeira, com propriedades diferentes da madeira circundante. Podem ser nó fir- me ou nó morto ou solto. Os nós são mais densos, escuros e lignificados do que a madeira circun- dante e por isso mesmo mais duros e quebradiços. Dificultam a trabalhabilidade e apresenta deforma- ção desigual da madeira normal. Reduz acentuadamente as propriedades da madeira, principalmente à tração e flexão. 3.5.2.2. Lenho de reação É o mecanismo adotado pela árvore para manter ereto o tronco inclinado ou ângulos dos ga- lhos em resposta à gravidade e distribuição de hor- mônios (auxinas). Comum nas árvores com tronco curvo, em encostas acentuadas ou na base dos ramos. Pode estar presente em árvores que apre- sentam troncos cilíndricos e retos. O lenho de reação diferencia-se física, ana- tômica, química e mecanicamente do lenho normal. Coníferas e folhosas apresentam comportamento completamente distintos na formação do lenho de reação. As coníferas formam lenho de compressão e as folhosas, de tração (Fig. 26). 3.5.3. Danos causados por esforços mecânicos 3.5.3.1. Tensões de crescimento Há dois tipos de tensões de crescimento: as axiais e as tensões transversais. Quando a árvore está íntegra, há uma compensação entre as tensões internas e externas do tronco, ou seja, ocorre equilí- brio. Porém o abate, seccionamento ou desdobro pode liberá-las, ocasionando fendas e deformações muitas vezes exageradas (Fig. 27). Figura 26. Lenho de reação em coníferas e folhosas. Figura 27. Deformações provocadas por tensões de crescimento. 3.5.3.2. Falhas de compressão É o rompimento interno do lenho, as vezes perceptível apenas ao microscópio, que surge na madeira serrada como linhas quebradas claras, dispostas perpendicularmente à grã. Esse defeito resulta de micro-rupturas e de- formações nas paredes celulares. As falhas de com- 20 pressão constituem um grave defeito, pois afetam profundamente as propriedades mecânicas da ma- deira, fazendo com que esta quebre inesperada- mente. 3.5.3.3. Aceboladura Fenda circular que ocorre no interior do tronco. Corresponde a uma zona frágil em decorrência de um espaçamento brusco e exagerado entre anéis de crescimento. 3.5.3.4. Bolsas de resina ou de goma Quando a cavidade do defeito anterior é preenchida com resina ou goma têm-se as chama- das bolsas de resina ou goma. Afeta as proprieda- des de resistência e a aparência da madeira, além de prejudicá-la para folheados e compensados. 4. PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA 4.1. Teor de umidade A madeira, proveniente de árvores recém- abatidas, apresenta alto teor de umidade, que tende a reduzir-se lenta e espontaneamente à medida que as toras aguardam o desdobro inicial. A umidade diminui com maior ou menor rapidez em função da espécie, condições ambientais, dimensões das pe- ças e empilhamento utilizado. A presença da umidade é importante, pois influencia as propriedades que afetam a performan- ce e usos da madeira, tais como: movimentação higroscópica propriedades de resistência rendimento e qualidade da celulose trabalhabilidade poder calorífico biodegradação densidade (transporte e armazenamento) secagem e preservação laminação e faqueado aplicação de vernizes e tintas colagem fabricação de compensados Teor de umidade da madeira - é a quantida- de de água contida na madeira. É expressa em per- centagem da madeira totalmente seca. u o o P P U = 100 P (%) ou 1001 P P U o u (%) onde, U = teor de umidade da madeira. Pu = peso da madeira úmida, a u % de umidade. Po = peso da madeira seca, a 0 % de umidade. Os resultados obtidos são apresentados na forma de seu valor médio, representando a umidade média da madeira. Dimensões dos cp: NBR 7190: 2,0 x 3,0 x 5,0 cm Figura 28. Corpo-de-prova de umidade e densidade da NBR 7190, em cm. Exemplo: Qual o teor de umidade de um cp que pesou em estado úmido 11,29 g e, depois de seco em estufa 10,27 g? Resposta: Seco é o adjetivo empregado para designar madeira absolutamente seca, a 0 % de umidade. Usualmente o teor de umidade é baseado no peso seco e não no peso total da madeira, sendo assim denominada “base seca” (U). Determinado dessa forma, o máximo teor de umidade da madeira pode ultrapassar 100 %. Entre as vantagens de se utilizar a base seca está a relação linear da umidade com a movimentação higroscópica, a resistência mecânica e as propriedades térmicas, elétricas, acústicas, ópticas e radiométricas da madeira. A umidade pode ser também obtida basea- da no peso úmido, ou seja do peso total da madeira: u o bu u P P U 100 P (%) onde, Ubu - umidade base úmida Determinada dessa forma, a umidade é de- nominada “base úmida”. É utilizada na indústria de celulose e papel, combustível e energia da madeira. O máximo teor de umidade da madeira é < 100 %, 21 caso contrário indica a presença apenas de água e ausência de madeira. É possível relacionar U com Ubu (Fig. 29): bu bu 0,01U U 100 1 0,01U (%) bu 0,01U U 100 1 0,01U (%) Figura 29. Relação entre U e Ubu.. Exemplo: Uma amostra de madeira com Pu = 600 g apresenta umidade na base seca de 230 %. Qual a sua umidade na base úmida? Resposta: 100 23001,01 23001,0 Ubu = 69,70 %. Então, 69,70 % da amostra é constituída de água, ou seja: 0,6970 ∙ 600 = 418,20 g é o peso da água na amostra. Nesse caso o peso da madeira propriamente dita equivale a 181,80 g. E qual a umidade na base seca de uma madeira que apresenta Pu = 87 g e Ubu = 78 % ? Resposta: Verde é o adjetivo comumente utilizado para designar madeiras com teor de umidade superior a umidade de saturação das fibras (Usf). O FPL (1999) apresenta uma fórmula na qual é possível estimar o teor de umidade (Usub) na qual a madeira submerge. A madeira não mais flutua a partir dessa umidade (Fig. 30). B sub B 1 D U 100 D (%) onde, DB – densidade básica da madeira. Figura 30. Umidade de submersão da madeira. Classes de umidade - São os teores de umi- dade normalmente utilizados. Tem por finalidade a referência e o ajuste das propriedades da madeira às condições ambientais de uso. Para se adequar às normas internacionais, adotaremos as classes de umidade a seguir. 0 % - madeira seca, anidra. 12 % - teor padrão de umidade. Umidade de equilíbrio da madeira. Obtida em con- dições climáticas padronizadas (20°C e 65 % UR). Umidade aceita interna- cionalmente. verde - madeira com umidade acima da Usf. OBS.: teoricamente é possível a madeira ficar com- pletamente seca. Na realidade esse teor a 0 % nun- ca é alcançado, pois a umidade é menor que 1 %, mas não zero. Uma pequena fração de água conti- nua firmemente unida a madeira, sendo impossível sua remoção. Porém, muito pequena, seu volume é desprezível. 4.1.1. Métodos de determinação do teor de umidade Conhecer a umidade da madeira é muito importante para evitar que ocorram danos em construções, pisos, móveis, pontes, portas, etc. O teor de umidade pode ser determinado através de diversos métodos físicos e químicos (ana líticos). Esses por sua vez, classificam-se em méto- dos diretos e indiretos: Os processos mais utilizados são os de pe- sagem por secagem convencional (gravimétrico) e os medidores elétricos portáteis. 22 Secagem convencional Método de Pesagem Secagem com infravermelho Métodos de Medição Secagem com microondas Direta Métodos Químicos Karl Fischer Destilação Resistência Métodos Elétricos Capacitância Microondas Raios Nêutrons Métodos Radiométricos Raios-α, -β e -γ Raios-X Métodos de Medição Indireta Métodos Ópticos Reflexão do infravermelho Absorção do infravermelho Método higrométrico Métodos Acústicos Ultra-som Emissão acústica 4.1.1.1. Métodos de medição direta 4.1.1.1.1. Método de pesagem Consiste na determinação imediata do peso de cp, partículas, serragem, cavacos, pó de serra ou quaisquer outras amostras de madeira a serem expostas a uma fonte de energia com o objetivo de remover o conteúdo de umidade existente. Após a eliminação da água, nova pesagem é realizada. Aplicam-se os dados obtidos na fórmula de teor de umidade. A pesagem é determinada em balança de exatidão 0,01 g. A base do métodode pesagem reside na energia incidente para secar a madeira: térmica, infravermelha ou micro-ondas. É um método destrutivo, pois exige o sacrifí- cio da amostra. 4.1.1.1.1.1. Secagem convencional (gravimétrico) Realizada em estufa pequena de laboratório dotada de sistemas de aquecimento e ventilação. Apesar de permitir amostras de madeira de formato irregular, recomenda-se utilizar os cp NBR 7190, colocá-los na temperatura de 103 ± 2°C até peso constante, final da secagem. Os cp devem ser livres de nós, casca, bolsas de resinas e outras irregula- ridades. O cp é considerado seco quando submetido às condições de secagem expostas, após duas pe- sagens consecutivas no intervalo de 6 h, a alteração no peso for igual ou inferior a 0,1 %. Peso constante pode ser obtido num intervalo de 12 a 48 h. É o “verdadeiro” teor de umidade da madeira. É o método de referência para resolver disputas ou comparações entre métodos. bastante utilizado e exato: precisão de ± 0,1% Vantagens: baixa exigência tecnológica de medição. aceito universalmente e relativamente barato. Desvantagens: processo lento, minucioso e trabalhoso. a temperatura exigida provoca o início da degrada- ção térmica (hidrólise). não apresenta resultados seguros para madeiras com extrativos voláteis, pois resulta em valor supe- rior ao verdadeiro teor de umidade: as altas tempe- raturas provocam a evaporação de alguns voláteis presentes na primeira pesagem, introduzindo erro no experimento (5 a 10 %). a precisão do método depende da balança e do cui dado e rapidez do operador na pesagem do cp se- co, pois nessa condição o cp adquire rapidamente umidade do ambiente. o peso final constante – amostra absolutamente anidra – dificilmente será obtido, pois a umidade relativa dentro da estufa a 100 °C é > 0%. imprecisão na leitura da balança ou termômetro. peso inicial inexato devido a perda de umidade du- rante amostragem ou manipulação. peso constante avaliado incorretamente. Medidas preventivas podem ser adotadas através de secagem química com sais apropriados, p.ex., P2O2 em um dessecador na temperatura 23 ambiente. Ou com secagem a vácuo, decrescendo o ponto de ebulição a pressão < 1 atm. 4.1.1.1.1.2. Secagem infravermelha Consiste de balança de precisão 0,1 % com visor indicativo do teor de umidade, acoplada a um dispositivo de aquecimento infravermelho (Fig. 31). Cavacos, partículas ou serragem, em quan- tidade predeterminada de 60 a 120 g, são irradiadas por um bulbo infravermelho até peso constante, i.e., fim do processo. O peso final é convertido direta- mente em umidade no visor do equipamento. Precisão suficiente na determinação da umidade da matéria-prima destinada à indústria de painéis. Não confundir este com os métodos de absorção e reflexão infravermelha a serem comen- tados adiante; ambos são métodos indiretos. Figura 31. Equipamento de secagem infravermelha a&p instruments. 4.1.1.1.1.3. Secagem com microondas Consiste de uma estufa de microondas se- melhante aos fornos domésticos (Fig. 32). Depen- dendo do diâmetro do prato, permite a secagem simultânea de várias amostras de madeira, identifi- cadas e pesadas antecipadamente. Figura 32. Estufa de micro-ondas a&p instruments. Esse método admite a distribuição homo- gênea e precisa da energia de microondas dentro do gabinete, eliminando uniformemente a umidade dos cp. A estufa de micro-ondas oferece uma seca-gem criteriosa das amostras ao permitir o ajuste de intervalos regulares de impulsos e pausas, ao con- trário das unidades domésticas. O processo de se- cagem pode durar até 99 min. Ao final, pesam-se novamente os cp e obtém-se a umidade da madei- ra. O fabricante declara vantagens em precisão e economia de tempo comparado aos métodos de secagens convencional e infravermelha, porém retirou o equipamento para venda. No entanto, para alguns pesquisadores o método não apresenta resultados confiáveis. 4.1.1.1.2. Métodos químicos Raramente usados, estão restritos aos labo- ratórios. 4.1.1.1.2.1. Método por destilação Indicado para madeiras ricas em substân- cias voláteis, resinas, óleos essenciais, etc. O teor de água é determinado volumetricamente utilizando- se ~ 10 g de cavacos em um frasco com solventes orgânicos (extratores que não misturam com a água) menos denso (xileno ou tolueno) ou mais denso que a água (tetracloretano), o qual será aque cido até o solvente entrar em ebulição (Fig. 33). Figura 33. Aparato para retirada de água da madeira por destilação. A temperatura de ebulição do solvente – superior a da água – transmitida aos cavacos, faz a água existente no seu interior entrar em ebulição e ser removida com rapidez. Em conseqüência, sol- vente e água vaporizam, sendo posteriormente con- densados e, os respectivos líquidos, separados. Esse processo não admite chama direta. Dura ~ 6 h até o volume da água coletada ser cons- tante. Precisão de ± 1 %. 24 O teor de umidade é calculado pela expres- são a seguir: Pac U = 100 Pic-Pac (%) onde, Pic – peso inicial dos cavacos Pac – peso da água coletada Esse processo analítico necessita de labora tório e pessoal técnico qualificado, materiais e subs- tâncias caras, além da possibilidade de ocorrer gases inflamáveis ou prejudiciais à saúde. 4.1.1.1.2.2. Método Karl Fischer ou de titulação Baseado na determinação iodométrica da água, removida da madeira por destilação. Tritura-se 0,5 g de madeira e colocam-se as partículas umedecidas durante 6 h em metanol. Em seguida, trata-se no aparato de Fischer (Fig. 34). A adição do reagente torna a solução incolor. A quanti dade de líquido adicionado é uma medida exata do teor de umidade da madeira Precisão de ± 0,1 % Figura 34. Aparato para determinação da umidade da madeira pelo método Karl Fischer. 4.1.1.2. Métodos de medição indireta 4.1.1.2.1. Métodos elétricos 4.1.1.2.1.1. Medidores portáteis de umidade A determinação da umidade é realizada com medidores baseados na resistência e capacitância elétricas da madeira (Fig. 35). Figura 35. Medidores portáteis de umidade da madeira. 25 As propriedades elétricas variam de modo preciso e previsível. Aparelhos modernos são capazes de realizar e armazenar múltiplas leituras, realizar cálculos estatísticos e transferir dados de umidade para o computador. O emprego dos medidores elétricos é cada vez mais comum por serem portáteis, de pequenas dimensões, funcionarem a bateria, realizarem leitura rápida e precisa e checar imediatamente a madeira em serviço. Porém, estão sujeitos a falhas e muito imprecisos em madeiras tratadas com preservativos ou retardantes de fogo, devido a quantidade de sais depositados pelo tratamento químico. Os medidores de resistência e capacitân- cia praticamente realizam leituras com a mesma exatidão e intervalo de umidade e, embora um não seja claramente melhor do que outro, um deles atenderá melhor determinada finalidade. 4.1.1.2.1.1.1. Medidores de resistência elétrica A madeira é considerada um bom isolante elétrico. A resistência elétrica da madeira é inversa- mente proporcional ao seu teor de umidade, de forma que, do psf a 0 % de umidade, a resistência aumenta de 10 2 a 10 14 Ω (100 Ω a 100 TΩ). A madeira comporta-se como um resistor dentro do circuito elétrico via contato de eletrodos (pinos) apropriados, conforme esquema da Fig. 36. Na determinação da umidade da madeira, pinos de aço são cravados paralela ou perpendicular à grã. Trata-se, portanto, de um procedimento destrutivo. A condutividade elétricaparalela é duas vezes maior que a transversal (a tangencial equivale ~ 0,50 e a radial ~ 0,055 da axial). Uma resistência elétrica é medida entre os pinos e convertida em leitura de umidade. A determinação da umidade de- ve ser efetuada pelo menos 30 cm afastada das extremidades e a uma profundidade de 1 5 da peça aplainada e ¼ quando áspera (Fig. 37). Precisão de ± 1,0 - 1,5 %, desde que manti- das condições satisfatórias de conservação, uso correto, direção da medição (∕∕ ou⊥ às fibras), cali- bragem periódica e as indispensáveis correções para temperatura e espécie. Quando a temperatura aumenta a resistên- cia elétrica da madeira diminui, ao contrário dos metais. Para umidade > 10 % a condutividade elétri- ca da madeira dobra a cada 10 °C. Portanto, é abso lutamente imprescindível a correção da temperatu- ra para obter um resultado preciso do teor de umidade. Atua na faixa de umidade de 4 a 22 %, diminuindo a precisão próximo a esses limites. Uma melhor precisão é obtida na faixa de 8 a 20 %. Os medidores de resistência elétrica são indicados para madeiras espessas, com pinos ade- quados a cada situação, usualmente 1,25, 2,5 e 7,6 cm (Fig. 38). Os eletrodos podem ser de contato superficial (para folheados, chapas finas, etc.), pinos (semelhantes a pregos), revestidos ou não com uma camada isolante, etc. A camada mais úmida determina o resul- tado da medição com pinos não isolados. Superfíci- es molhadas devem ser evitadas (chuva, condensa- ção, vapor d’água). Figura 36. Circulação da corrente elétrica na madeira. Figura 37. Medidor de resistência elétrica. 26 Figura 38. Tipos de pinos. Densidade, teor de extrativos, porosidade, etc., também alteram a medição. Para tanto, torna- se necessário agrupar espécies semelhantes, com propriedades análogas, proporcionando uma calibra ção específica para o grupo; ou uma curva de cali- bração individual para cada espécie de madeira. Outros fatores – profundidade de penetra- ção, distância entre os pinos, isolados ou não, freqüência e duração da medida – também podem influenciar o resultado final. Em geral, para a maioria das aplicações, este método é o mais preciso para determinar a umidade da madeira. 4.1.1.2.1.1.2. Medidores de capacitância elétrica O medidor é mantido em contato com a su- perfície da madeira e um campo elétrico é projetado na mesma (Fig. 39). Uma constante dielétrica é me- dida e convertida em leitura de umidade. Os medido res dielétricos utilizam sensores superficiais, simila- res a chapas planas, não penetrantes; portanto, um procedimento não invasivo, isto é,não danifica a madeira (Fig. 40). A precisão é de ± 0,5 %. Atuam na faixa de umidade de 2 % a Usf, tornando-se imprecisos próximos a esses limites. Correção imprescindível para densidade. Não requer ajuste de temperatura na faixa de 5 a 40 °C. Os medidores dielétricos são mais precisos em madeira fina (de 1,25 a 2,5 cm), plana e lisa e a profundidade do campo elétrico deve ser a metade da espessura da peça testada. O campo elétrico é mais intenso próximo ao instrumento, não possi- bilitando medições profundas, a exemplo de amos- tras espessas. São importantes para identificar bol- sões úmidos localizados na superfície ou até 1,0 cm de profundidade, porém indetectáveis além dos 2,5 cm. Nas situações em que o campo elétrico é maior do que a espessura da madeira, a leitura é afetada pelo material abaixo. Para evitar erros deve-se reali- zar o teste em cima de uma pilha de material e umi- dade similares, utilizar folhas de isopor ou material similar como apoio ou ainda, simplesmente erguer a Figura 39. Campo elétrico projetado na madeira. Figura 40. Medidores dielétricos. 27 peça. O medidor deve ser apoiado plenamente em toda superfície da madeira, não permitindo es- paços entre ambos. Esses medidores são mais seguros em ma- deira com umidade bastante uniforme. Não são usu- ais para determinar gradientes de umidade significa- tivos – umidade superficial de orvalho ao amanhe- cer provoca erros de leitura. A leitura do instrumento resulta principal- mente da umidade da camada externa, combinando apenas parcialmente, com a alta umidade do interior da madeira. Realiza leitura de umidade através de cama das de tinta ou filme plástico. 4.1.1.2.1.2. Medidores em linha de produção Medidores portáteis maiores, com tecnolo- gia de resistência e capacitância elétricas, são utili- zados em linhas de produção. Situam-se em frente a esteira móvel medindo a umidade para classificar, marcar ou ejetar a madeira. Os de resistência assemelham-se a “túneis” com escovas de aço que entram em contato com a superfície da madeira, medindo a umidade. São mais apropriados para medir umidade de folheados secos, embora algumas vezes monitorem peças de madeira. Os de capacitância utilizam dois tipos de sensores não invasivos: O sensor longitudinal utiliza um módulo para medir a umidade (Fig.41). Realiza 400 leituras de umida- de por segundo em todo comprimento da prancha com espessura de 1,0 a 20,0 cm na velocidade de 600 m/min. Permite ajuste para detecção de nós e locais úmidos (Fig. 42). Precisão de ± 1 %. O sensor transversal mede a umidade na face inferior da prancha na esteira. Esse arranjo possibilita o esquadrinhamento da tábua com um ou mais módulos (Fig. 43). Realiza 400 leituras de umidade por segundo na largura de 40 ou 60 cm da prancha com espessura de 10 a 15 cm e velocidade de 200 tábuas por min. Figura 41. Campo elétrico do medidor longitudinal. Figura 42. Medidor axial Brookhuis Micro-Electronics. Figura 43. Campo elétrico e medidor transversal Brookhuis. 4.1.1.2.1.3. Método de micro-ondas Semelhante ao método de capacitância, po- rém a diferentes frequências (Fig. 44). Não é afeta- do pela densidade e espessura. 28 Muito rápido. Para determinadas aplicações pode ser equipado com compensação automática de densidade. Pouco utilizado para madeira maciça, porém bem estabelecido para partículas e fibras com baixo gradiente de umidade. Figura 44. Medidor de microondas. Pode ser utilizado para detectar nós e incli- nação da grã na madeira sólida. Não é eficaz para espessura e densidade. 4.1.1.2.2. Métodos radiométricos Normalmente não são utilizados para deter- minação do teor de umidade. Entretanto para aperfeiçoar a precisão de medidas radiométricas é indispensável o conhecimento do conteúdo de umidade. 4.1.1.2.2.1. Método de raios nêutrons O método utiliza um gerador de nêutrons de alta velocidade, os quais são dirigidos à madeira (Fig. 45). Parte dos nêutrons é moderada (tem sua velocidade diminuída) pelos hidrogênios das molécu las de água, e a sua contagem é efetuada por um detector. Como o teor de umidade é avaliado em função do peso seco da madeira, a densidade desta deve ser medida. Para isso, um feixe de raios -γ é dirigido à madeira, e a intensidade de radiação des- viada por ela, que é inversamente proporcional a sua densidade, é medida por um detector. Os dados dos dois detectores combinados fornecem o teor de umidade da madeira. Figura 45. Representação dos raios na madeira. 4.1.1.2.2.2. Métodos de raios-α,-β e -γ A madeira e a água absorvem ou refletem raios -α,-β e -γ em diferentes intensidades, pois a água é considerada um fator perturbante. É neces- sária a correção para densidade. 4.1.1.2.2.3. Método de raios-X O raio-X é absorvido pela madeira (a inten- sidade decresce exponencialmente ao longo da profundidade). A madeira e a água possuem um coeficiente característico. É necessária a correçãopara densidade e espessura da madeira. 4.1.1.2.3. Métodos ópticos 4.1.1.2.3.1. Medidores infravermelhos Mede a diferença de absorção/reflexão da energia infravermelha. Uma fonte de radiação infra- vermelha (calor) incide sobre a superfície da amostra para determinar o teor de umidade. Admite- se que a umidade superficial seja igual à umidade média da madeira. São comumente usados em par- tículas e fibras na produção de chapas de madeira, porém imprecisos para madeira maciça devido aos gradientes de umidade existentes. Sensores ou termógrafos infravermelhos medem a temperatura ou diferenças de temperatura na superfície, ora submetendo a amostra a uma fon- te de calor ou mapeando a temperatura em diversos pontos na superfície. Os medidores infravermelhos fornecem leitu ra rápida da umidade, não é destrutivo, é relativa- mente independente das propriedades físicas e mui- to exatos acima da Usf e não apenas abaixo da Usf. Entretanto, mede apenas a umidade superfi- cial, são caros e necessitam de calibração para cor e densidade. 4.1.1.2.4. Método higrométrico Consiste em introduzir um higrômetro em orifício aberto na madeira, o qual é imediatamente selado. Ocorre o equilíbrio entre a umidade da ma- deira e o ambiente fechado do orifício, que corres- ponderá a umidade de equilíbrio da madeira. Método invasivo e lento. Aplicado a qual- quer tipo de madeira, porém depende da densidade, porosidade, extrativos e lenho de reação, Baixa precisão, necessita de equipamento especial 4.1.1.2.5. Métodos acústicos 4.1.1.2.5.1. Método ultrassônico Consiste na relação direta entre a velocida- de do som e o módulo de elasticidade da madeira. Abaixo do psf o módulo de elasticidade é proporcio- nal ao teor de umidade. Portanto, para um valor do 29 módulo de elasticidade a umidade da madeira é determinada utilizando ultrassom. Resultados restritos a laboratórios, sem apli- cação industrial. Dificuldade de calibração. 4.1.1.2.5.2. Emissão acústica Abaixo da Usf a eliminação da água provoca contração, gerando tensões devido aos inevitáveis gradientes de umidade ao longo da espessura da peça da madeira. Essas tensões liberam pequenas emissões acústicas (micro-estalos) que são detecta- das e contadas utilizando microfones muito sensíve- is e instrumentos especiais de medição/contagem. Precisão relativa, resultado restritos a la- boratório, sem aplicação industrial, difícil calibração e sensível a variações ambientais. 4.1.2. Fatores que afetam a umidade da madeira 4.1.2.1. Densidade O máximo teor de umidade da madeira ocor re quando as paredes e os lumens das células es- tão completamente saturados de água. A densi- dade é o fator determinante para o máximo teor de umidade. O volume de vazios decresce com o au- mento da densidade: consequentemente a umidade máxima diminui devido a menor quantidade de espaços disponíveis para a água livre (Fig. 46). Conclui-se, portanto, que a Umáx é inversamente proporcional a densidade da madeira. Figura 46. Relação entre o máximo teor de umidade e a densidade da madeira. Podemos estimar o máximo teor de umida- de através de duas fórmulas adaptadas: 1) omáx psf o 1,53 D U 0,01U 100 1,53 D (%) Onde, Umáx = máximo teor de umidade da madeira Upsf = umidade no ponto de saturação das fibras 1,53 = densidade real Do = densidade aparente da madeira a 0 % de umidade 2) B máx B 1,54 - D U = 100 1,54 D (%) Onde, DB - densidade básica da madeira 1,54 - densidade básica da parede celular O uso de pequenas amostras de madeira por qualquer método experimental para obter a Umáx, raramente ocorre em serviço, particularmente para espécies de baixa permeabilidade. 4.1.2.2. Constituição anatômica ∙ Lenho inicial - possui maior teor de umidade. ∙ Lenho tardio - possui menor teor de umidade. Em coníferas a umidade é usualmente mai- or no alburno do que no cerne. Nas folhosas ocorre considerável variação dentro e entre árvores. 4.1.3. Higroscopicidade da madeira Todo material que atrai umidade em função das variações da umidade relativa (UR) do ar é denominado higroscópico. A madeira é uma subs- tância higroscópica. Variações de UR promove na parede celular a aquisição ou perda de água. A higroscopicidade é uma característica típica da madeira. Qualquer produto lenhoso atrai ou perde umidade do ar até alcançar um equilíbrio com o ambiente; consequentemente o teor de umidade da madeira muda constantemente. A higroscopicidade da madeira é determina- da pelos grupos hidroxílicos (OH) existentes nos po- límeros da parede celular, principalmente nas hemi- celuloses e celulose (Fig. 47). As hidroxilas atraem e retêm moléculas de água através de pontes de “hidrogênio”. Praticamente todas as propriedades da madeira são influenciadas por sua higroscopicidade. As moléculas de água são muito pequenas, em forma de V, fórmula química H2O e diâmetro molecular de ~ 0,275 nm ou 2,75 Å. Coincidente- mente, esse diâmetro é similar ao comprimento das pontes de hidrogênio (2,74 Å). A molécula de água é constituída por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio, unidos por ligações covalentes assim como as hidroxilas (OH). Ambas são polares: existe um polo positivo ao lado do hidrogênio e um polo negativo ao lado do oxigênio, conforme a Fig. 48. 30 Celulose Hemiceluloses Lignina Figura 47. Localização das hidroxilas nos polímeros da parede celular. 31 Água Hidroxila Figura 48. Molécula de água e hidroxila e suas cargas residuais elétricas. Devido a natureza dipolar, moléculas pola- res (ou partes delas) quando muito próximas, for- mam ligações químicas através da atração eletros- tática entre os átomos, denominadas pontes de hidrogênio (Fig. 49). Essas ligações são extrema- mente fracas (~ 1 - 5 %) comparadas às covalentes. No entanto, as inúmeras pontes de hidrogênio são suficientemente “fortes e estáveis”, exercendo papel determinante na madeira. Devido a polaridade, as moléculas de água são atraídas pelas hidroxilas dos polímeros da pare- Figura 49. Ponte de hidrogênio de celular (principalmente nas regiões amorfas) estabelecendo pontes de hidrogênio. Os extrativos diminuem a higroscopicidade, de forma que madeiras ricas nesses químicos apre- sentam baixa higroscopicidade, porém indícios de- monstram que isso não ocorre quando expostas a UR baixas e intermediárias. A região higroscópica corresponde a faixa de umidade compreendida entre 0 % e a Usf (Fig. 50). Os limites higroscópicos mínimo e máximo são, portanto, 0 % e a Usf. Figura 50. Condições limites da umidade na madeira. 4.1.3.1. Tipos de água na madeira São dois os tipos de água na madeira: Água livre (ou de capilaridade): é a água (líquida, vapor ou uma mistura de ambas) presente nos lumens e cavidades; é denominada “livre” por não ser química ou fisicamente unida a estrutura da madeira (Fig 51). Encontra-se acima da Usf. É relativamente fácil de ser removida da madeira: durante a secagem é a primeira a evaporar. O inverso ocorre quando a madeira seca umedece. A sua retirada requer menos energia do que a água higroscópica. Água higroscópica: é a água contida na parede celular. Está associada aos polímeros da parede celular através de pontes de hidrogênio. Encontra- se na região higroscópica, a nível molecular. Na secagem é a “última a evaporar”. A variação da água higroscópica provoca alteração no volume e nas propriedades da madeira.
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