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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIA DA SAÚDE – CCS
CURSO DE BACHARELADO EM ENFERMAGEM 
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS SOCIO-FILOSÓFICOS
PROF. EURIDÉIA 
DÉBORA ANDRADE DE ARAÚJO
ABORTO EUGÊNICO
FORTALEZA – CEARÁ
FEVEREIRO - 2020
INTRODUÇÃO
	Aborto (de ab-ortus) é a privação do nascimento, interrupção voluntária da gravidez, com a morte do produto da concepção. Na Medicina o aborto é definido como o nascimento de um feto com menos que 500 g ou antes de 20 semanas completadas de idade gestacional no momento da expulsão do útero, não possuindo nenhuma probabilidade de sobrevida.
	No Brasil, o ato de provocar um aborto é considerado crime (artigos 124-auto-abortamento, 126-abortamento consentido/outrem lhe provoque do Código Penal Brasileiro), sendo passíveis de pena, exceto em duas circunstâncias: quando não há outro meio para salvar a vida da gestante ou é resultado de estupro (artigo 128). Contudo, a lei não cogita doenças de transmissão genética, feto malformado, ingestão de fármaco teratogênico, virose contraída durante a organogênese. 
	Mesmo com sua criminalização na maioria dos casos estimam-se que ocorram 730 a 940 mil abortos anuais. Com isso a tentativa de fazer um aborto fora das condições legais no Brasil, coloca a vida da mulher em risco de morte ou lesões permanentes como sequelas do aborto clandestino, pois devido à sua criminalização, seu ato pode ser considerado como inseguro e figura na lista das principais causas de mortalidade materna no país. 
	O aborto oscila entre a terceira e a quarta causa de morte materna. Adiciona-se que a mortalidade materna é um dos grandes problemas de Saúde Pública, estimada para o ano de 2006 em 77,2 óbitos por 100 mil nascidos vivos, e tem sido considerada incompatível com o nível de desenvolvimento do país. 
	Ele é dividido em quatro tipos: terapêutico, salvar a vida da gestante ou impedir riscos iminentes à sua saúde em razão de gravidez anormal; criminológico, mulher vítima de estupro ou incesto; psicossocial, praticado por motivos de dificuldades financeiras/ prole numerosa e eugênico, interromper a gravidez em caso de vida extra-uterina inviável. Nesse estudo será abordado e desenvolvido sobre o aborto eugênico.
DESENVOLVIMENTO
	O aborto eugênico ou eugenésico, aquele em que o nascituro apresenta fundadas probabilidades de apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas e/ou mentais, mas não é permitido no Brasil. A Constituição Federal de 1998 garante o direito à vida (artigo 5º, caput), sendo pois criminalizado o aborto, para proteger a vida do feto. 
	Contudo, muitas vezes a permissão dessa gravidez em que o feto provavelmente não sobreviva gera mais sofrimento a mãe, a mulher e a sua família, pois prolongar esse sofrimento gera dor, angústia e frustração, resultando em violência às vertentes da dignidade humana - a física, a moral e a psicológica - e em cerceio à liberdade e autonomia da vontade, além de colocar em risco a saúde, tal como proclamada pela Organização Mundial da Saúde - o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.
	A grande discussão na doutrina e na jurisprudência é sobre quando se dá o início da vida intra-uterina para que se possa precisar em quais casos de interrupção da gravidez ocorreria ou não o delito de aborto. 
	Na ação se afirma serem distintas as figuras da antecipação terapêutica do parto e do aborto, no que este pressupõe a potencialidade de vida extra-uterina do feto. A violação do princípio da dignidade humana decorreria da imposição à mulher do dever de concluir a gestação por nove meses um feto que se sabe, com a certeza, que ele não sobreviverá. 
	Os artigos 124 ao 128 do Código Penal (CP) incriminam o aborto provocado, com exceções em casos de quando não houver outro meio de salvar a vida da mãe ou quando a gravidez se resultar de um estupro e também anencefalia, único em que o aborto eugênico se aplica. O Brasil autorizou em 2012 a realização do aborto para fetos com má formação no cérebro; de acordo com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54, para este específico caso não se caracteriza o aborto, já que é comprovado que o feto irá nascer e vir a óbito em tempo que também poderá durar até em seu 1° ano de idade, como vir e de imediato falecer. Neste caso os tribunais defenderam que poderá ser realizada a interrupção da gravidez ficando a critério da mãe o aborto para fetos anencéfalos.
	Algumas mulheres já sofreram com esse tipo de problema materno, isso mostra o o quanto esse processo é angustiante para uma mãe passar por esse tipo de “impacto”, que até mesmo pode mudar a sua vida. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	O aborto é uma prática que acompanha a humanidade no desenvolver de sua história, e que sua complexidade evolui na proporção em que avança a ciência. O que deve ser valorizado numa sociedade considerada avançada é sua capacidade de tratar o que é diferente visando o desenvolvimento de estruturas sociais inclusivas respeitando e acolhendo os considerados mais vulneráveis e não sua eliminação. 
O aborto é um problema social. A discussão a respeito de existência e consequências deve ser feita mediante a incorporação de justiça social, direitos humanos e saúde pública. Em várias conferências, chegou-se à constatação de que as legislações restritivas são danosas para a saúde da mulher e não reduzem o número de abortos praticados. Faz-se necessário aumentar a consciência social sobre os direitos humanos das mulheres e desenvolver atividades de capacitação para profissionais da saúde. Deve ser estudada uma forma de se descentralizar os serviços de aborto a fim de ampliar o acesso das mulheres aos serviços de saúde. 
O acesso também é dificultado em razão da alta incidência da escusa dos profissionais da saúde em realizarem os procedimentos abortivos em razão da objeção de consciência. Neste caso, mostra-se fundamental a elaboração de diretrizes para o seu uso.
São vários os motivos que levam a mulher a abortar: uma prole maior do que a planejada, dificuldades para se obter métodos anticonceptivos modernos, falta de orientação no planejamento familiar, pouca ou nenhuma instrução, comportamento sexual de alto risco, dentre outros. 
A dimensão dos números comprova que o aborto inseguro é um assunto de saúde pública que deve ser priorizado pelos governantes, pelos legisladores e pela sociedade, seja por meio de uma reforma da legislação ou de uma campanha educativa séria. As mulheres não podem ser condenadas à morte por não terem acesso aos seus direitos previstos na legislação maior e infraconstitucional. O Estado deve ser capaz de propiciar às mulheres condições de saúde adequadas, direito que está dentro do mínimo existencial e não lhe pode ser negado. A eficácia das políticas públicas depende do planejamento estatal e da participação popular e os gastos devem ser direcionados para as áreas prioritárias. Sendo o aborto a quarta causa de mortalidade materna, deve ser reavaliada a atenção que está voltada para a saúde da mulher, sem o comodismo da solução simplista de afirmar que o aborto é crime. 
REFERÊNCIAS
ANDORNO, Roberto. “Liberdade” e “Dignidade” da Pessoa: Dois paradigmas opostos ou complementares na bioética? Tradução: Fernanda Murano Bonatto. In: MARTINS- 
ABORTO de anencéfalos é descarte de ser humano frágil diz CNBB. O globo. [S.I.]: 13 de abril de 2012. Seção Brasil. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/aborto-de-anencefalos-descarte-de-ser-humano-fragil-diz-cnbb-4636918>. Acessado em 21 de maio de 2017. 
Brasil. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 dezembro 1940, alterado pela Lei nº 9.777, de 26 dezembro 1998 [Internet]. 1998 [citado 2010 Fev 19]. Disponível em: http://www.cejamericas.org/doc/legislacion/codigos/pen_brasil.pdf 
Brasil. Ministério da Saúde. Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA). Indicadores de mortalidade: C.3 razão de mortalidade materna [Internet]. 2008 [citado 2010 Fev 21]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2008/C03b. 
BRASIL. CódigoPenal; Código Civil; Constituição Federal de 1988. In: Vade Mecum compacto. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 
MENEZES, GLAUCO CIDRACK VALE. Aborto eugênico: alguns aspectos jurídicos. [S.I.:s.n], agosto de 2014.Disponível em:<https://jus.com.br/artigos/5622/aborto-eugenico-alguns-aspectos-juridicos>. Acessado em 21 de maio de 2017.

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