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Opinião Jurídica

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1 
Opinião jurídica 
A Associação de Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros nos solicitou 
opinião jurídica sobre a seguinte questão: 
“A criminalização da LGBTfobia, nos termos debatidos no Mandado de Injunção 4733 e 
na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 26, viola liberdade religiosa?” 
Respondemos, em parecer pro bono, a esta questão1. 
A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26 proposta pelo 
Partido Socialista Popular – PPS em face do Congresso Nacional e o Mandado de Injunção 
4733 proposto pela Associação de Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros 
têm por fim obter a criminalização específica de todas as formas de homofobia e 
transfobia, especialmente (mas não exclusivamente) das ofensas (individuais e coletivas), 
dos homicídios, das agressões e discriminações motivadas pela orientação sexual e/ou 
identidade de gênero, real ou suposta, da vítima, por ser isto (a criminalização específica) 
decorrência da ordem constitucional de legislar relativa ao racismo (art. 5º, XLII) ou, 
subsidiariamente, às discriminações atentatórias a direitos e liberdades fundamentais 
(art. 5º, XLI) ou, ainda subsidiariamente, ao princípio da proporcionalidade na acepção de 
proibição de proteção deficiente (art. 5º, LIV, da CF/88). 
O julgamento destas ações, marcado para o próximo dia 13 de junho de 2019, 
constitui um momento histórico para corrigir uma das maiores lacunas legislativas de 
nossa história recente – com repercussões graves a direitos e garantias fundamentais da 
população LGBT+ - bem como oportunizará a essa Egrégia Corte definir os limites 
constitucionais das cláusulas de exceção religiosa para crimes de preconceito e 
discriminação contra população LGBT+. 
 Com base em jurisprudência comparada de outras cortes constitucionais, bem 
como no direito internacional de direitos humanos, esta opinião jurídica argumenta que 
a criminalização da LGBTfobia não viola liberdade religiosa. Ademais, opina que medidas 
legislativas que permitam cláusulas genéricas de exceção religiosa para crimes de 
preconceito e discriminação contra população LGBT+ - atualmente discutidas no âmbito 
do legislativo brasileiro – contradizem o reconhecimento da LGBTfobia como crime de 
racismo, ora definido por essa Egrégia Corte, bem como caminha em sentido oposto ao 
do direito comparado e internacional a respeito. 
 
1 Esta opinião jurídica pro bono foi feita com o apoio e participação de alunos da FGV Direito SP, que contribuíram 
imensamente com a pesquisa, a saber: Beatriz Stefani Castro, Guilherme Horta de Souza Lima, Juliana Reimberg, 
Roberta Bolognese de Almeida, Thiago Aloe de Macedo e Vítor Rodrigues Saddi. 
 
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1. Mora Legislativa em Criminalizar a LGBTFobia e da Existência de PLs 
que buscam excluir templos e pessoas religiosas da obrigação de não-discriminação 
contra pessoas LGBTs 
É entendimento consolidado desta Corte que a existência de projetos de lei não 
afasta a mora legislativa. Corrobora com este entendimento a análise apresentada no 
Anexo desta opinião, no qual se pode vislumbrar a existência de 27 propostas legislativas 
referentes à discriminação LGBTfóbica, muitas delas arquivadas por decurso do tempo de 
tramitação. Tal levantamento evidencia a mora legislativa que esta corte está a enfrentar 
na presente ADO 26. 
 Ademais, é motivo de preocupação constitucional o fato de que, em reação ao 
julgamento da presente Ação Direita de Inconstitucionalidade por Omissão, o Congresso 
Nacional propôs nas últimas semanas medidas legislativas com vistas a afastar a 
aplicação de crimes de discriminação LGBTfóbica a condutas no contexto religioso. A 
exemplo disso, podemos ver: 
Proposta 
Legislativa 
Data e 
Autor Trecho da Cláusula de Exceção Religiosa 
EMENDA Nº 1 - 
CCJ 
SUBSTITUTIVO 
PROJETO DE LEI 
Nº 672, DE 
2019 
SENADO 
FEDERAL 
22/05/2019 
Senador 
Alessandro 
Vieira 
Art. 2º A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passam a 
vigorar com as seguintes alterações: 
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em 
estabelecimentos comerciais ou locais abertos ao público: 
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem impedir ou 
restringir a manifestação razoável de afetividade de 
qualquer pessoa em local público ou privado aberto ao 
público, ressalvados os templos religiosos. ” (NR) 
EMENDA Nº 1 - 
CCJ 
SUBSTITUTIVO, 
PROJETO DE LEI 
Nº 672, DE 
2019 
 
SENADO 
FEDERAL 
Senador 
Marcos 
Rogério 
Dê-se ao art. 20 da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, de 
que trata o art. 2º do Substitutivo ao Projeto de Lei nº 672, 
de 2019, a seguinte redação: 
“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a intolerância, 
discriminação ou o preconceito de raça, cor, etnia, religião, 
procedência nacional, sexo, orientação sexual ou 
identidade de gênero: 
§ 5º Não constitui crime a manifestação de opinião de 
qualquer natureza e por quaisquer meios sobre questões 
relacionadas a orientação sexual ou identidade de gênero, 
sendo garantida a liberdade de consciência e de crença, de 
convicção filosófica ou política e as expressões 
intelectuais, artísticas, científicas e de comunicação.” (NR) 
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PL 2672/20192 
 
CÂMARA DOS 
DEPUTADOS 
07/05/2019 
 
 
Deputado 
Marco 
Feliciano 
Art. 2º A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a 
vigorar com a seguinte redação: 
“Art. 1º Serão punidos, na forma desta lei, os crimes 
resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, 
etnia, religião, procedência nacional ou orientação sexual. 
Parágrafo único. Não incorrem nos crimes previstos nesta 
lei aqueles que professarem visão discordante a 
determinado comportamento social, desde que a mesma 
se dê no contexto do uso regular dos direitos de liberdade 
de crença e de livre exercício dos cultos religiosos, e que 
não incite a prática de violência. (NR)” 
PL 3266/2019 
CÂMARA DOS 
DEPUTADOS 
04/06/2019 
Deputado 
Márcio 
Labre 
Acrescenta Parágrafo Único - "Não se enquadra, nem de 
forma análoga, em qualquer hipótese e a qualquer tempo, 
nas tipificações de crime de preconceito de raça ou de cor, 
a homofobia ou outra forma de orientação sexual" ao 
Artigo 1º da Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989. 
 
Tais propostas violam o entendimento construído até o momento por este E. 
Tribunal no julgamento da ADO 26 e MI 4733, bem como a jurisprudência desta Egrégia 
Corte sobre discriminação e sobre liberdade religiosa, expostas a seguir. De formas 
distintas, tais propostas e outras que vierem a ser elaboradas pelo Legislativo em reação 
a este julgamento procuram instituir exclusão de ilicitude com base na religião a condutas 
discriminatórias lgbtfóbicas e não sanam, de nenhuma forma, a omissão inconstitucional. 
Sustenta esta opinião que tais medidas de exceção com base na religião não são 
necessárias para garantir liberdade religiosa, e tampouco são constitucionais. O Direito 
Brasileiro e a jurisprudência desta Corte já apresentam balizas jurídicas por meio das 
quais quaisquer violações à liberdade religiosa não serão constitucionalmente permitidas, 
ao mesmo tempo em que se pune, de maneira plenamente compatível com a liberdade 
religiosa, o intuito de ofender a outrem ou a um grupo todo, como a população LGBT. 
 
2. Compatibilidade entre liberdade religiosa e criminalização da 
LGBTfobia, segundo jurisprudência desta Egrégia Corte. 
Direitos LGBTs e liberdade religiosa, muitas vezes, são colocados em lados 
opostos, como se conflitantes fossem. Esta opinião jurídica argumenta que criminalização 
da LGBTfobia é compatível com a liberdade religiosa. Em primeiro lugar, muitos LGBTs 
 
2 Proposta retirada pelo autor. 
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são religiosos. Dados da organização da sociedade civil Vote LGBT, tomados a partir de 
2016, mostram que: 
“ao contrário do que estabelece o senso comum, que opõe 
cristãos a LGBTs, 40,2% dos participantes das paradas de SP 
e 47,5% em BH declararam possuir alguma religião cristã 
(entre católicos, evangélicos e kardecistas).”3 Em segundo 
lugar, muitas pessoas religiosas apoiam direitos LGBTs. De 
acordo com pesquisa Datafolha na Marcha para Jesus de 
São Paulo em 2018, “58,87% se dizem a favor do casamento 
entre pessoas do mesmo gênero”.4 
Criminalização da LGBTfobia e liberdade religiosa são, ademais, juridicamente 
compatíveis. Nas presentes ações, essa Corte tem procurado estabelecer os parâmetros 
jurídicos a fim de compatibilizar a discriminação do preconceito e discriminação contra 
população LGBT no Brasil, de um lado, e a liberdade religiosa de outro. 
Nessa seara, votos já proferidos na ADO 26 e no MI 4733 indicam tais parâmetros 
jurídicos. Em primeiro lugar, o que configura ilícito, esclarece o Min. Relator Celso de 
Mello é o intuito de ofender a outrem ou a um grupo como um todo e não a exposição 
de crenças religiosas e, em todo modo, nunca será juridicamente cabível a censura. Neste 
sentido, o ordenamento jurídico brasileiro – ao garantir ao mesmo tempo a liberdade 
religiosa e a proteção da honra alheia – não vê como conflitantes, mas sim como 
complementares a liberdade religiosa e criminalização da LGBTfobia. Assina o decano 
desta Egrégia Corte: 
“Não constitui demasia assinalar, neste ponto, que a 
divulgação objetiva de fatos ou de narrativas religiosas não 
basta, só por si, para configurar hipótese de ilicitude, civil 
e/ou penal, pois jamais se pode presumir o intuito doloso de 
ofender subjacente à exposição descritiva veiculada pelos 
líderes e pregadores religiosos com apoio no magistério 
contido nos Livros Sagrados. (...) O que não se revela lícito a 
qualquer pessoa, no entanto, além de não poder ofender a 
honra de terceiros em razão de sua preferência religiosa, é 
escarnecer de alguém, em público, por motivo de crença ou 
função religiosa, ou, então, de impedir ou perturbar 
cerimônia ou prática de culto religioso ou, ainda, 
 
3 VOTE LGBT, https://www.votelgbt.org/pesquisas, acessado em 10 de junho de 2019. 
4 Folha de SP, https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/06/religiao-tem-pouca-influencia-no-voto-dos-
eleitores-da-marcha-para-jesus.shtml, 4 de junho de 2018, acessado em 10 de junho de 2019. 
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vilipendiar, publicamente, ato ou objeto de culto religioso. ” 
(STF, ADO 26, voto do Ministro relator Celso de Mello) 
Em segundo lugar, o ordenamento jurídico já possui garantias legais contra a 
discriminação religiosa e, portanto, o reconhecimento da criminalização da LGBTfobia 
apenas concederá a mesma proteção jurídica integral a LGBTs de que já desfrutam 
pessoas religiosas contra discriminação. Por meio da Lei nº 7.716/89 onde está tipificada 
a discriminação e preconceito contra religião, bem como por meio de outros tipos penais 
como o que preserva o bem jurídico do sentimento religioso (Art. 208, Código Penal), a 
religião já desfruta de proteção integral no ordenamento jurídico existente sendo, 
portanto, desnecessária e inconstitucional a inclusão de outras cláusulas de exceção – ou 
excludentes de ilicitude – como as propostas do Legislativo em reação a esta Corte. 
Em terceiro lugar, em diversas ocasiões, o Supremo Tribunal Federal teve a 
oportunidade de oferecer concretude ao mandato constitucional da liberdade religiosa 
assegurado no Artigo 5º, VI, da Constituição Federal de 1988. Nestes momentos, 
Ministros dessa Corte interpretaram o direito à liberdade religiosa como um dever por 
parte do Estado de neutralidade consubstanciado pelo princípio da laicidade que consta 
do Artigo 19 da Constituição. 
Neste sentido, o Ministro Alexandre de Moraes, na Ação Direita de 
Inconstitucionalidade 4.439-DF – sobre ensino religioso nas escolas - expressou este 
dever: 
“O Estado deve respeitar todas as confissões religiosas, bem 
como a ausência delas, e seus seguidores, mas jamais sua 
legislação, suas condutas e políticas públicas devem ser 
pautadas por quaisquer dogmas ou crenças religiosas ou 
por concessões benéficas e privilegiadas a determinada 
religião. 
O Poder Público tem a obrigação constitucional de garantir 
a plena liberdade religiosa, mas, em face de sua laicidade, 
não pode ser subserviente, ou mesmo conivente com 
qualquer dogma ou princípio religioso que possa colocar em 
risco sua própria laicidade ou a efetividade dos demais 
direitos fundamentais, entre eles, o princípio isonômico no 
tratamento de todas as crenças e de seus adeptos, bem 
como dos agnósticos e ateus.” 
(STF, ADI 4.439, voto do ministro relator para acórdão 
Alexandre de Moraes) 
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Em outras palavras, a liberdade religiosa apenas será constitucionalmente 
garantida na medida em o Estado não revista dogmas ou crenças religiosas com força 
de lei, conduta estatal ou política pública, sob pena de excluir da proteção estatal outras 
crenças e seus adeptos, inclusive agnósticos e ateus. 
Em quarto lugar, esta Corte tem estabelecido sólida jurisprudência a favor de um 
constitucionalismo fraterno, por meio do qual seja reconhecido e respeitado o 
pluralismo de diversos grupos dentro da mesma ordem constitucional. Portanto, 
reconhece esta Corte que liberdade religiosa e de expressão devem ser exercidas em 
observância a demais direitos e garantias constitucionais. Neste sentido, expõe o Min. 
Edson Fachin no Recurso Ordinário em Habeas Corpus 134.682/2016 – sobre 
discriminação religiosa: 
“Nos termos da jurisprudência do STF, ‘a divisão dos seres 
humanos em raças resulta de um processo de conteúdo 
meramente político-social’, de modo que o conceito jurídico 
associado ao racismo não pode ser delineado a partir de 
referências raciais ancoradas em compreensões científicas 
há muito superadas. Assim, a imprescritibilidade de práticas 
de racismo deve ser aferida segundo as características 
político-sociais consagradas na Lei 7.716/89, nas quais se 
inserem condutas exercitadas por razões de 
ordem religiosa e que se qualificam, em tese, como 
preconceituosas ou discriminatórias. A liberdade religiosa 
e a de expressão constituem elementos fundantes da 
ordem constitucional e devem ser exercidas com 
observância dos demais direitos e garantias 
fundamentais, não alcançando, nessa ótica, condutas 
reveladoras de discriminação. O discurso discriminatório 
criminoso somente se materializa após ultrapassadas três 
etapas indispensáveis. Uma de caráter cognitivo, em que 
atestada a desigualdade entre grupos e/ou indivíduos; 
outra de viés valorativo, em que se assenta suposta relação 
de superioridade entre eles e, por fim; uma terceira, em que 
o agente, a partir das fases anteriores, supõe legítima a 
dominação, exploração, escravização, eliminação, 
supressão ou redução de direitos fundamentais do diferente 
que compreende inferior.” 
(STF, HC 134.682, ministro relator Edson Fachin,) 
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Tendo em vista os parâmetros apresentados na decisão acima, fica claro que esta 
Egrégia Corte já teceu em casos anteriores as formas de compatibilização entre combate 
à discriminação e liberdade religiosa, sendo, portanto, desnecessário que o legislador 
adote excludentes de ilicitude que permitam que templos religiosos ou pessoas religiosas 
sejam isentos da observância das leis que punem discriminação e preconceito contra 
LGBTs. Isto porque a legislação penal, conforme Min. Edson Fachin já assinalou acima, 
pune nãoa crença religiosa, mas sim a perpetuação da desigualdade e dominação de um 
grupo sobre outro, o que o STF tem chamado na presente ADO de racismo social. 
Neste sentido, o Presidente desta Corte, Ministro Dias Toffoli já teve a 
oportunidade de assinalar a diferença entre discurso religioso e discurso sobre a crença 
alheia com intuito discriminatório. Em Recurso Ordinário em Habeas Corpus 146.303-RJ 
de 2016, assinalou o Ministro Presidente: 
 “Nesse passo, há, em meu entender, que se fazer distinção 
entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença 
e nas razões da crença) e o discurso sobre a crença alheia, 
especialmente quando se faça com intuito de atingi-la, 
rebaixá-la ou desmerecê-la (ou a seus seguidores). Um é 
tipicamente a representação do direito à liberdade de 
crença religiosa; outro, em sentido diametralmente oposto, 
é o ataque ao mesmo direito” 
(STF, HC 146.303, ministro relator Dias Toffoli) 
Por fim, permitir que o legislador estabelece excludentes de ilicitude para eximir 
templos religiosos ou indivíduos religiosos da obrigação legal de não-discriminação contra 
pessoas LGBTs é incorporar no Direito a desigualdade que a própria criminalização da 
LGBTfobia procura endereçar. Tal medida seria inconstitucional segundo o entendimento 
desta Corte a respeito, quando da constitucionalização da união homoafetiva. Na ADPF 
132 e na ADI 4.277 ementa-se o seguinte entendimento nesta linha: 
“O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional 
expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta 
como fator de desigualação jurídica. Reconhecimento do 
direito à preferência sexual como direta emanação do 
princípio da “dignidade da pessoa humana”: direito a auto-
estima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. 
Direito à busca da felicidade. Salto normativo da proibição 
do preconceito para a proclamação do direito à liberdade 
sexual.” 
(STF, ADPF 132 e ADI 4.277, Ministro relator Ayres Britto) 
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Conclui-se, portanto, este E. Tribunal em seu percurso decisório tem reconhecido 
que o ordenamento jurídico nacional prevê a plena compatibilidade entre liberdade 
religiosa e combate à discriminação contra pessoas LGBTs. 
 
3. Direito internacional de direitos humanos e direito comparado 
reconhece limitações à liberdade de expressão e de religião, em razão do combate 
à discriminação e proteção da honra 
O direito internacional de direitos humanos há muito tempo reconhece limites à 
liberdade de expressão e religião, com o intuito de preservar os direitos de outrem. O 
Decreto nº 65.810 de 1969, que promulga no Brasil a promulga a Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial demanda 
que os Estados Partes da Convenção, entre eles o Brasil, criminalizem a propagação do 
ódio. Tendo em vista que esta Corte tem enquadrado LGBTfobia como forma de racismo 
social, é aplicável portanto o presente Artigo 4º da Convenção Internacional sobre a 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial à LGBTFobia: 
“Artigo 4º Os Estados partes condenam toda propaganda e 
todas as organizações que se inspirem em idéias ou teorias 
baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de 
pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem ética ou 
que pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de 
ódio e de discriminação raciais e comprometem-se a adotar 
imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar 
qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer 
atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os 
princípios formulados na Declaração universal dos direitos 
do homem e os direitos expressamente enunciados no 
artigo 5 da presente convenção, eles se comprometem 
principalmente: 
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de 
ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer 
incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer 
atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos 
contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de 
outra cor ou de outra origem técnica, como também 
qualquer assistência prestada a atividades racistas, 
inclusive seu financiamento”. (Convenção Internacional 
sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação 
Racial, grifo nosso) 
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Nesta seara, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU estabelece 
que prevê o respeito aos direitos e honra de outrem e demanda punição por atos de 
discriminação. 
“Artigo 19 (...) 
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse 
direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir 
informações e ideias de qualquer natureza, 
independentemente de considerações de fronteiras, 
verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, 
ou por qualquer outro meio de sua escolha. 
3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do 
presente artigo implicará deveres e responsabilidades 
especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas 
restrições, que devem, entretanto, ser expressamente 
previstas em lei e que se façam necessárias para: 
a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das 
demais pessoas; 
b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a 
moral públicas. 
Artigo 20. (...) 
2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, 
racial ou religioso que constitua incitamento à 
discriminação, à hostilidade ou a violência. ” (Pacto 
Internacional de Direitos Civis e Políticos da ONU, grifo 
nosso) 
A Convenção Americana sobre os Direitos Humanos avança neste debate ao 
garantir a liberdade religiosa com o respeito aos direitos de outrem, nos termos de seu 
artigo 12. 
Neste sentido, o Direito Internacional de Direitos Humanos já deixa clara a plena 
compatibilidade do combate à discriminação com liberdades religiosas. Ademais, direito 
comparado tem enfatizado a importância de se encontrar arranjos legais que 
compatibilizem os dois direitos. 
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Em um caso sul-africano em que se discutia discriminação contra uma pastora 
lésbica, a Corte Constitucional sul-africana foi enfática – no caso De Lange de 20155 - ao 
não reconhecer a existência de uma zona de não aplicação da Constituição [constitution-
free zone], adotada depois do período de apartheid racial e onde se garante o combate à 
discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero: 
“Parágrafo 76. Pode-se dizer que a Constituição não atinge 
nossas esferas religiosas e sociais privadas? Eu não estou 
convencido de que podemos. Não é verdade que a 
Constituição - como um conjunto de valores e direitos 
fundamentais protegidos - chega mesmo aos espaços mais 
íntimos; mas carrega consigo todos os direitos e valores que 
reconhece? Isso incluiria não apenas a igualdade e a não 
discriminação, que é de grande importância em nossa 
constelação constitucional, mas também a privacidade, a 
liberdade de associação e a autonomia de escolha que 
necessariamente acompanha o reconhecimento da 
dignidade humana. Todos estes foram violados durante o 
nosso passado antidemocrático. ” 
 No caso decidido pela Suprema Corte dos EUA em 2018 referente exceção com 
base na religião, a Corte revelou ponderação e respeito aos direitos LGBTs. Segundo a 
Corte, embora não se possa ter hostilidade quanto a uma religião: 
“essas disputas [entre religião e direitos LGBT] devem ser 
resolvidas com tolerância, sem desrespeito indevido a 
sincera crenças religiosas e sem submeter os homossexuais 
a indignidades quando procuram bens e serviços de forma 
aberta mercado.”6 
Exceções à legislação antidiscriminação com base na religião até o momento 
cogitadas pelos legisladores se mostram contrárias à Constituição. Em primeiro lugar, taispropostas impõem proteção menor [ou proteção insuficiente] à população LGBT em 
relação à proteção integral que a legislação brasileira – em particular a Lei nº 7.716/89 
– concede à população negra e igualmente a religiosos contra discriminação com base 
na raça e religião. Tal disparidade em si já demonstra a inconstitucionalidade de tais 
 
5 África do Sul, De Lange v Presiding Bishop of the Methodist Church of Southern Africa for the time being and 
Another (CCT223/14) [2015] ZACC 35; 2016 (1) BCLR 1 (CC); 2016 (2) SA 1 (CC) (24 Novembro de 2015), 
disponível em: http://www.saflii.org/za/cases/ZACC/2015/35.html. 
6 Estados Unidos, Masterpiece Cakeshop, Ltd, et. al. V. Colorado Civil Rights Commission et al., 2018, disponível 
em: https://www.supremecourt.gov/opinions/17pdf/16-111_j4el.pdf. 
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medidas, especialmente porque LGBTfobia é uma espécie de racismo social e, portanto, 
permitir exceções à punição da LGBTfobia é permitir exceções ao racismo social.7 
Em segundo lugar, existe uma diferença juridicamente relevante entre exceção 
à religião institucional ou pessoal. Exceções de consciência como aquela garantida na 
Constituição Federal de 1988 “decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou 
política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar” (Art. 143, 
parágrafo primeiro) são exceções a uma regra geral (serviço militar), com base em 
profundas convicções pessoais diante da divergência de um dever legal. 
No caso das propostas feitas pelo legislador brasileiro, procura-se criar uma 
exceção com base na religião de natureza institucional, ou seja, aplicável a todos os 
templos religiosos. Desta feita, permitir-se-ia zonas onde a proibição da LGBTfobia 
deixaria de existir, em evidente violação à proteção integral à população LGBT. 
A Corte Constitucional Colombiana e outras já decidiram pela limitação de tais 
objeções institucionais.8 Lembra-se aqui que o ordenamento jurídico brasileiro e a 
jurisprudência deste tribunal já garantem que não se criminaliza a crença religiosa, mas 
sim o intuito de ofender a outrem. 
Em contextos menos cosmopolitas, mais afastados dos grandes centros urbanos, 
permitir uma exceção generalizada à criminalização da LGBTfobia poderá significar 
esvaziar as garantias à população LGBT. Em terceiro lugar, permitir ofender com motivos 
LGBTfóbicos em alguns contextos religiosos impõem danos profundos à população LGBT. 
Conformem expõem os professores da Faculdade de Direito da Universidade de Yale, 
Reva Siegel e Douglas NeJaime:9 
“reivindicações de consciência afirmadas em conflitos sobre 
(...) igualdade LGBT são propensas a infligir danos 
direcionados a outros cidadãos e, portanto, suscitam 
preocupações menos comumente apresentadas por 
reivindicações tradicionais de isenção religiosa - por 
exemplo, a pretensão de se participar de ritual religioso. 
Quando uma pessoa de fé busca uma isenção de deveres 
legais para com outro cidadão, na crença de que o cidadão 
que a lei protege está pecando, conceder a isenção 
religiosa pode infligir danos materiais e dignitários 
 
7 MINOW, Martha. Should religious groups be exempt from civil rights laws. BCL Rev., v. 48, p. 781, 2007. 
8 Colombia, Corte Constitucional, T-388/2009, disponível em: 
http://www.corteconstitucional.gov.co/relatoria/2009/t-388-09.htm. 
9 SIEGEL, Reva e NEJAIME, Douglas NeJaime, Conscience Wars in Transnational Perspective: Religious Liberty, 
Third-Party Harm, and Pluralism. In: The Conscience Wars: Rethinking the Balance between Religion, Identity, 
and Equality (Susanna Mancini & MIchel Rosenfeld eds., Cambridge Univ. Press 2018, no prelo). Disponível em: 
https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2714017. 
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àqueles que não compartilham as crenças do requerente” 
(grifo nosso). 
Ademais, os países cujas legislações criminalizam a discriminação LGBTfóbica não 
preveem exceções gerais com base na religião em suas legislações. Tanto na legislação 
penal do Reino Unido10 que garante agravante em caso de discriminação LGBTfóbica, 
quanto a legislação antidiscriminação da Colômbia11 tais exceções não estão presentes. 
Países tão diversos como Canadá, Chile, Espanha, França, Filândia, Suíça, e Austrália 
punem discriminação LGBTfóbica. Se o legislador brasileiro caminhar para garantir tal 
exceção genérica estará caminhando na direção oposta de outros parlamentos 
democráticos ao redor do mundo. 
 
4. Conclusão 
Diante do ora argumentado, respondemos à pergunta: “A criminalização da LGBTfobia, 
nos termos debatidos no Mandado de Injunção 4733 e na Ação Direta de 
Inconstitucionalidade por Omissão 26, viola liberdade religiosa? ” 
1. Criminalização da LGBTfobia e liberdade religiosa são constitucionalmente 
compatíveis, uma vez que ao reconhecer como ilícita a discriminação contra LGBTs 
estar-se-á garantindo plena igualdade jurídica entre os diferentes fundamentos 
da lei brasileira antidiscriminação, respeitando, portanto, o princípio da proteção 
integral; 
2. Ao estabelecer cláusulas genéricas de exceção com base na religião nesta seara, 
o Legislativo viola o princípio constitucional da laicidade ao incorporar no Direito 
preferência a uma crença religiosa; 
3. Direito comparado e internacional caminham no sentido de não garantir cláusulas 
genéricas de exceção à lei antidiscriminação com base na religião, pois não é 
possível admitir “zonas-livres de Constituição”. 
 
Thiago de Souza Amparo Eloisa Machado de Almeida 
OAB/SP 272.768 OAB/SP 201.790
 
10 Reino Unido, Criminal Justice Act 2003, disponível em: 
https://www.legislation.gov.uk/ukpga/2003/44/section/146. 
11 Colombia, Ley 1752/2015, disponível em: 
http://wp.presidencia.gov.co/sitios/normativa/leyes/Documents/LEY%201752%20DEL%2003%20DE%20JUNIO
%20DE%202015.pdf. 
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ANEXO – Propostas Legislativas Referentes à Criminalização da LGBTfobia e Liberdade 
Religiosa 
Projeto Casa Ementa e Informações Complementares Autor(a) Data Situação 
5003/2001 Câmara 
dos 
Deputados 
Determina sanções às práticas 
discriminatórias em razão da orientação 
sexual das pessoas. 
Iara 
Bernardi 
PT/SP 
07/08/01 Arquivada 
6077/2002 Câmara 
dos 
Deputados 
Introduz o Código de Ética da 
programação televisiva e dá outras 
providências. 
"Art. 25) A programação televisiva não 
incitará à homofobia e deve afirmar um 
compromisso com uma cultura que 
reconheça o direito à livre expressão das 
orientações sexuais, notadamente aquela 
vivida pelos homossexuais que se 
obrigam a enfrentar uma carga histórica 
de intolerância." 
Marcos 
Rolim 
PT/RS 
20/02/02 Arquivada 
5/2003 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 
5 de janeiro de 1989, e o § 3º do art. 140 
do Código Penal, para incluir a punição 
por discriminação ou preconceito de 
gênero e orientação sexual. 
Iara 
Bernardi 
PT/SP 
18/02/03 Arquivada 
1600/2003 Câmara 
dos 
Deputados 
Introduz o Código de Ética da 
programação televisiva e dá outras 
providências. 
"Art. 19 A programação televisiva não 
incitará a homofobia e 
deve afirmar um compromisso com uma 
cultura que reconheça o direito à livre 
expressão das orientações sexuais."" 
Orlando 
Fantazzini 
PT/SP 
31/07/03 Arquivada 
337/2003 Senado Define o crime de veiculação de 
informações que induzam ou incitem a 
discriminação ou preconceito de raça, 
cor, etnia, religião ou procedência 
nacional, na rede Internet, ou em outras 
redes destinadas ao acesso público. 
Senador 
Paulo Paim 
PT/RS19/08/03 Arquivada 
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2612/2007 Câmara 
dos 
Deputados 
Introduz o Código de Ética da 
programação televisiva e dá outras 
providências. 
"Art. 25) A programação televisiva não 
incitará à homofobia e deve afirmar um 
compromisso com uma cultura que 
reconheça o direito à livre expressão das 
orientações sexuais, notadamente aquela 
vivida pelos homossexuais que se 
obrigam a enfrentar uma carga histórica 
de intolerância." 
Pepe 
Vargas 
PT/RS 
12/12/07 Arquivada 
7382/2010 Câmara 
dos 
Deputados 
Penaliza a discriminação contra 
heterossexuais e determina que as 
medidas e políticas públicas 
antidiscriminatórias atentem para essa 
possibilidade. 
Eduardo 
Cunha 
PMDB/RJ 
25/05/10 Arquivada 
582/2011 Câmara 
dos 
Deputados 
Acresce dispositivos ao Decreto-Lei nº 
2.848, de 7 de dezembro de 1940 - 
Código Penal, e à Lei no 4.898, de 9 de 
dezembro de 1965. Dados 
complementares: Institui como 
circunstância que agrava a pena e 
qualifica o crime de homicídio a de ter o 
agente cometido o crime em função da 
orientação sexual do ofendido. Constitui 
abuso de autoridade qualquer atentado à 
livre orientação sexual da pessoa. 
Dalva 
Figueiredo 
PT/AL 
23/02/11 Arquivada 
457/2011 Senado Aumenta a pena dos crimes contra a 
honra, previstos nos arts. nº 138, 139 e 
140, caput e § 2º; altera a redação do § 3º 
do art. 140, para incluir a orientação 
sexual e identidade de gênero como 
elementos para injúria qualificada e 
acrescenta a possibilidade de aumento de 
pena para dois terços no art. 141, todos 
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 - Código Penal. 
Senador 
Pedro 
Tanques 
PDT/MT 
09/08/11 Arquivada 
236/2012 Senado Reforma do Código Penal Brasileiro. 
Acrescenta na forma qualificada do Art. 
121 "preconceito de raça, cor, etnia, 
orientação sexual e identidade de 
gênero..." 
Senador 
José Sarney 
MDB/AP 
09/07/12 Em 
tramitação 
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6424/2013 Câmara 
dos 
Deputados 
Estabelece a notificação compulsória, no 
território nacional, no caso de violência 
contra transexuais, travestis, lésbicas, 
bissexuais e gays que forem atendidos em 
serviços de saúde públicos ou privados. 
Paulão 
PT/AL 
25/09/13 Arquivada 
310/2014 Senado Altera e a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, e o § 3º, do art. 140, do Código 
Penal, para punir os crimes resultantes de 
discriminação ou preconceito de 
orientação sexual ou identidade de 
gênero. 
Senador 
Vital do 
Rêgo 
MDB/PB 
11/04/14 Retirado 
pelo autor 
622/2015 Câmara 
dos 
Deputados 
Dispõe sobre a proibição do uso de 
recursos públicos para contratação de 
artistas que, em suas músicas, 
desvalorizem, incentivem a violência ou 
exponham as mulheres a situação de 
constrangimento, ou contenham 
manifestações de homofobia, 
discriminação racial ou apologia ao uso 
de drogas ilícitas 
Moema 
Gramacho 
PT/BA 
06/03/15 Arquivada 
1411/2015 Câmara 
dos 
Deputados 
Tipifica o crime de Assédio Ideológico e 
dá outras providências. 
Rogério 
Marinho 
PSDB/RN 
06/05/15 Retirado 
pelo autor 
2138/2015 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, para punir a discriminação ou 
preconceito quanto à identidade de 
gênero ou orientação sexual. 
Erika Kokay 
PT/DF 
30/06/15 Apesando ao 
PL 
1959/2011 
5944/2016 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, para incluir na referida legislação os 
crimes de discriminação ou preconceito 
de orientação sexual e/ou identidade de 
gênero. 
Laura 
Carneiro 
PMDB - RJ 
09/08/16 Apensado ao 
PL 
6418/2005 
7292/2017 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, 
de 7 de dezembro de 1940 - Código 
Penal, para prever o LGBTcídio como 
circunstância qualificadora do crime de 
homicídio, e o art. 1o da Lei no 8.072, de 
25 de julho de 1990, para incluir o 
LGBTcídio no rol dos crimes hediondos. 
Luizianne 
Lins 
PT/CE 
04/04/17 Aguardando 
Parecer do 
Relator na 
Comissão de 
Direitos 
Humanos e 
Minorias 
(CDHM) 
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7702/2017 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, para incluir na referida legislação os 
crimes de discriminação ou preconceito 
de orientação sexual e/ou identidade de 
gênero. 
Weverton 
Rocha 
PDT/MA 
23/05/17 Apensado ao 
PL 
5944/2017 
191/2017 Senado Altera a redação do art. 2º da Lei nº 
11.340, de 7 de agosto de 2006 – Lei 
Maria da Penha –, para assegurar à 
mulher as oportunidades e facilidades 
para viver sem violência, 
independentemente de sua identidade de 
gênero. 
Senador 
Jorge Viana 
PT/AC 
13/06/17 Em 
tramitação 
8540/2017 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 - Código Penal, para 
dispor sobre a criminalização da 
intolerância, ódio, preconceito, exclusão 
e violência por meio da Internet, 
dispositivos eletrônicos e ambiente 
virtual. 
Assis Melo 
PCdoB/RS 
09/12/17 Apensado ao 
PL 
1749/2015 
515/2017 Senado Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 – Código Penal, para 
punir a discriminação ou preconceito de 
origem, condição de pessoa idosa ou com 
deficiência, gênero, sexo, orientação 
sexual ou identidade de gênero 
Comissão 
de Direitos 
Humanos e 
Legislação 
Participativ
a 
19/12/17 Em 
tramitação 
508/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Dispõe sobre a proibição do uso de 
recursos públicos para contratação de 
artistas que, em suas músicas, 
desvalorizem, incentivem a violência ou 
exponham as mulheres a situação de 
constrangimento, ou contenham 
manifestações de homofobia, 
discriminação racial ou apologia ao uso 
de drogas ilícitas. 
Marco 
Feliciano 
PODE/SP 
06/02/19 Apensado ao 
PL5941/13 
1051/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei 7.716, de 05 de janeiro de 
1989, que define os crimes resultantes de 
preconceito de raça ou de cor, para 
incluir a orientação sexual. 
Luiz Flávio 
Gomes 
PSB/SP 
21/02/19 Retirado 
pelo autor 
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1650/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Dispõe sobre a proibição do uso de 
recursos públicos em produtos culturais 
que desvalorizem, incentivem a violência 
ou exponham as mulheres a situação de 
constrangimento, ou contenham 
manifestações de homofobia, 
discriminação ou preconceito racial ou 
étnico, outras formas de discriminação ou 
preconceito, apologia ou incitação ao 
crime ou apologia ao criminoso. 
Marília 
Arraes 
PT/PE 
20/03/19 Apensado ao 
PL 508/2019 
2057/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei 7.716, de 05 de janeiro de 
1989, que define os crimes resultantes de 
discriminação de raça, cor, etnia, religião, 
procedência nacional, identidade de 
gênero ou orientação sexual. 
Luiz Flávio 
Gomes 
PSB/SP 
04/04/19 Apensado ao 
PL 
7702/2017 
2672/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, para dispor sobre os crimes 
resultantes de discriminação ou 
preconceito de raça, cor, etnia, religião, 
procedência nacional ou orientação 
sexual. 
Art. 2º A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, passa a vigorar com 
a seguinte redação: “Art. 1º Serão 
punidos, na forma desta lei, os crimes 
resultantes de 
discriminação ou preconceito de raça, 
cor, etnia, religião, procedência nacional 
ou orientação sexual. 
Parágrafo único. Não incorrem nos crimes 
previstos nesta lei 
aqueles que professarem visão 
discordante a determinado 
comportamento social, desde que a 
mesma se dê no contexto do 
uso regular dos direitos de liberdade de 
crença e de livre exercício 
dos cultos religiosos, e que não incite a 
práticade violência. (NR)” 
Marco 
Feliciano 
PODE/SP 
07/05/19 Retirado 
pelo autor 
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3266/2019 Câmara 
dos 
Deputados 
Acrescenta Parágrafo Único - "Não se 
enquadra, nem de forma análoga, em 
qualquer hipótese e a qualquer tempo, 
nas tipificações de crime de preconceito 
de raça ou de cor, a homofobia ou outra 
forma de orientação sexual" ao Artigo 1º 
da Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989. 
Márcio 
Labre 
PSL/RJ 
04/06/19 Aguardando 
Despacho do 
Presidente 
da Câmara 
dos 
Deputados 
 
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FERRER E VECCHIATTI SOCIEDADE DE ADVOGADOS 
 
 
Alameda Campinas, n.º 433, cf. 141, São Paulo/SP, CEP 01404-901. 
E-mail: pauloriv71@gadvs.com.br 
1 
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO CELSO DE MELLO, DO 
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 
 
 
 
ADO n.º 26 e MI n.º 4733 
PPS – Partido Popular Socialista e ABGLT – Associação 
Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos, 
por seu advogado signatário, vêm, respeitosamente, à presença de Vossas 
Excelências, com fulcro em seu direito constitucional de petição, tendo em vista 
que a continuidade do julgamento está remarcada para quinta-feira, dia 23 de 
maio de 2019, contribuir para a formação da tese do julgamento, pelas 
razões que passa a expor: 
Desde a proximidade da continuidade do julgamento nesta 
próxima quinta-feira, há rumores de que o Congresso Nacional estaria interessado 
em aprovar uma lei que criminalize a homotransfobia, “resguardando” a liberdade 
religiosa, para impedir que o STF finalize o presente julgamento. Obviamente, 
tudo que se quer é a aprovação de uma lei que criminalize, sem hierarquização de 
opressões, a discriminação e os discursos de ódio contra a população LGBTI+ 
(condutas que não são criminalizadas pelo Código Penal, apenas pelo art. 20 da 
Lei Antirracismo), bem como se considere a homotransfobia como motivo torpe, 
agravante de penas relativamente a crimes praticados em razão da orientação 
sexual ou identidade de gênero, real ou atribuída, da vítima. Permita-se, contudo, 
apontar um certo ceticismo nessa seara, tendo em vista que não é a primeira vez 
que, nas vésperas de retomada de julgamento sobre omissão legislativa 
inconstitucional do Congresso Nacional, este solicita que o julgamento não se 
finalize (que alguém peça vista etc) porque ele “irá” aprovar uma lei, o que, de 
fato, na grande maioria das vezes, não ocorre. Temos uma tradição de blefes do 
Congresso Nacional nesse tema, data maxima venia. 
Por outro lado, decisão favorável do STF que considere a 
homotransfobia crime de racismo, nos termos dos quatro brilhantes votos já 
proferidos, além de evidentemente não impedir o Congresso Nacional de 
legislar, ao contrário, dará ao Legislativo um incentivo para que haja uma 
vontade real de aprovar uma lei sobre o tema. Ao passo que é irreal imaginar 
que algo será aprovado em curto espaço de tempo, ainda mais na retórica que 
tem sido corrido os corredores do Congresso, de que integrante de Bancada 
Religiosa [Fundamentalista], notoriamente opositora do tema, iria apresentar um 
novo projeto de lei sobre o tema. É fato notório que a tramitação em ambas as 
Casas Legislativas, na melhor das hipóteses, demoraria meses, e não podemos 
esperar indefinidamente o Legislativo se dignar a aprovar uma lei, ante a 
evidente mora inconstitucional sobre o tema, que tanto prejudica a 
população LGBTI – aliás, 99% da população LGBTI+ sente-se insegura no 
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Brasil, consoante recente pesquisa da ANTRA – Associação Nacional de 
Travestis e Transexuais (doc. anexo)1. 
Então, o término do julgamento, com a procedência das ações, 
seguindo os quatro brilhantes votos já proferidos, longe de inviabilizar o debate 
parlamentar ou se afigurar como “ingerência indevida” no Poder Legislativo, 
configurar-se-á como frutífero diálogo institucional desta Suprema Corte 
com o Congresso Nacional, fazendo este sair de sua inércia inconstitucional 
sobre o tema. 
Ao passo que, como bem destacou hoje (21.05.2019) a 
Deputada Federal Erika Kokay (PT/DF), em audiência pública sobre o PL 
2.138/2015, que inclui a discriminação e os discursos de ódio motivados por 
orientação sexual e identidade de gênero entre os crimes da Lei Antirracismo, não 
se deve aprovar, de forma açodada, um projeto de lei apenas para que o Supremo 
Tribunal Federal não finalize seu julgamento. A busca do consenso não pode vir 
por imposições da vontade das Bancadas Conservadoras e Fundamentalistas do 
Congresso Nacional. E, seja como for, é notório que é inviável aprovar-se uma 
lei sobre tema tão polêmico em período curto de meses, sendo se se estimar que 
somente no fim do ano uma lei tal seria aprovada, na melhor das hipóteses. Mas a 
banalidade do mal homotransfóbico que assola a sociedade brasileira não pode 
esperar tanto. 
Para se ter ideia da dificuldade que haverá no Congresso, 
pegue-se o curioso caso do Deputado Federal Marco Feliciano, notório opositor do 
reconhecimento de direitos da população LGBTI+ - tanto que, quando se iniciou o 
julgamento deste tema por esta Suprema Corte, declarou que gostaria que o 
assunto “morresse”2. Ele apresentou o PL 2.672/2019, retirando-o (pedindo seu 
arquivamento) no dia seguinte (cf. tramitação anexa), no qual pleiteava a inclusão 
da expressão “orientação sexual” nos critérios de discriminação e discursos de 
ódio criminalizados pela Lei Antirracismo, incluindo uma ressalva de que 
manifestações regulares de liberdade de crença e consciência não seriam crimes, 
exceto quando incitassem a violência. Seria um projeto que poderia gerar um bom 
debate, mas veja que não se incluiu identidade de gênero, pela verdadeira 
demonização que o termo gênero sofre pelos setores conservadores e 
fundamentalistas, donde se for aprovado um projeto tal, a omissão 
inconstitucional persistirá relativamente à transfobia, ou seja, à 
discriminação e aos discursos de ódio contra travestis, transexuais e intersexos 
(estes últimos sofrem discriminação por identidade de gênero, ao vivenciarem um 
gênero distinto daquele que lhes foi imposto, ao nascer, mediante cirurgia 
genital). Veja-se a dificuldade do debate que há no Congresso Nacional, portanto, 
que foi a mesma que fez com que, no Rio de Janeiro, fosse aprovada a Lei 
Estadual n.º 7.041/2015, punindo administrativamente a discriminação por 
orientação sexual, mas não por identidade de gênero. 
 
1 Cf. <https://antrabrasil.org/2019/05/21/99-da-populacao-lgbti-nao-se-sente-segura-no-brasil/>. Acesso 
em 21.05.2019. 
2 Cf. <https://exame.abril.com.br/brasil/queria-que-o-assunto-morresse-diz-feliciano-sobre-criminalizar-
homofobia/>. Matéria de 13.02.2019. Último acesso em 21.05.2019. 
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https://antrabrasil.org/2019/05/21/99-da-populacao-lgbti-nao-se-sente-segura-no-brasil/
https://exame.abril.com.br/brasil/queria-que-o-assunto-morresse-diz-feliciano-sobre-criminalizar-homofobia/
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Entenda-se, Excelência(s), obviamente deseja-se construir 
um texto de consenso no Congresso Nacional, ocorre que isso é 
notoriamente impossível no curtíssimo prazo, daí a importância 
paradigmáticae fundamental desta Suprema Corte finalizar o julgamento da 
ADO 26 e do MI 4733, porque isto dará ao Congresso Nacional motivação 
real para aprovar uma lei sobre o tema. Do contrário, provavelmente tudo 
continuará em berço esplêndido, algo verossímil de ocorrer (nada se decidir e 
aprovar se o STF não finalizar o julgamento), visto que do dia 20 de fevereiro para 
cá nada andou no Congresso Nacional até a semana passada. Algo que torna 
compreensível a desconfiança da sinceridade destes rumores que correm os 
corredores do Congresso Nacional, de que uma lei será, de fato, aprovada no 
curto prazo. O que fazer com os graves casos de homotransfobia que não 
configuram crime até lá? As discriminações e discursos de ódio serão 
“toleradas” até lá? Com todas as venias, não parece a melhor solução... 
Lembre-se, ainda, que o julgamento já está suspenso há 
meses, em situação inédita nesta Suprema Corte, de julgamento não continuar 
na sessão seguinte quando não há pedido de vista, em situação, data maxima 
venia, que equivale a verdadeiro pedido de vista antecipado pelo Eminente 
Ministro Dias Toffoli. Então, já houve tempo mais que necessário para que 
os(as) Ministros(as) restantes pudessem terminar de formar sua convicção 
sobre o tema, dado seu notável saber jurídico e a notoriedade do caso, além dos 
riquíssimos votos já proferidos e disponibilizados para todas e todos (pelo menos, 
relativamente aos dois Eminentes Relatores, Ministros Celso de Mello e Edson 
Fachin). 
Entrando no tema desta petição, ou seja, a construção de uma 
TESE que criminalize a discriminação e os discursos de ódio motivados na 
orientação sexual e na identidade de gênero da vítima, aponte-se, 
preliminarmente, que, em tese, afigurar-se-ia desnecessária qualquer ressalva 
sobre liberdade religiosa e de expressão sobre o tema, ante o notório conceito de 
tipicidade material, pacífica na doutrina e jurisprudência penal, pela qual se 
um fato se enquadra no silogismo do tipo penal, mas, ao mesmo tempo, 
configura-se como exercício regular de direito (ou em ausência de ofensa a bem 
jurídico penal), então, materialmente/substantivamente, o fato não é considerado 
crime. Entendam, Excelências, inclusive porque o próprio advogado signatário, 
da Tribuna, em sua sustentação oral, aduziu que ninguém quer prender padres 
ou pastores por dizerem que a homossexualidade seria “pecado”, donde não se 
quer prejudicar a liberdade religiosa, apenas se coibir os discursos de ódio. 
Ninguém no Movimento LGBTI+ quer interferir nas crenças religiosas alheias, 
querendo-se apenas coibir discursos de ódio, reitere-se. O temor de uma ressalva 
sobre liberdade religiosa encontra-se no receio de que, por mais que a redação 
concreta isto não permita, muitas pessoas homotransfóbicas passem a acreditar 
que, se invocarem sua liberdade de expressão, religião ou crença, poderiam 
discriminar e proferir discursos de ódio contra pessoas LGBTI+. Se pelo conceito 
de tipicidade material a ressalva é desnecessária, então não se entende o motivo 
de se cria-la. Mas se sabe que, para fins de composição e demonstração de boa-
fé, talvez seja necessário deixar isso expresso na lei. Contudo, se religiosos 
querem acalmar suas consciências com a colocação de uma ressalva 
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desnecessária, então, por dever de coerência, precisam aceitar que haja uma 
ressalva na ressalva, no sentido de ficar expresso que discursos de ódio, 
entendidos como a incitação ao ódio, ao preconceito, à discriminação, à 
segregação e à violência, não estão abarcados na ressalva que pretendem 
criar. 
Ou seja, ninguém será punido criminalmente por dizer que 
“isto” ou “aquilo” configuraria pecado, mas deverá sê-lo se, ainda que a pretexto 
de “liberdade religiosa”, incitar ao ódio, ao preconceito, à discriminação, à 
segregação ou à violência. Esse o princípio que se entende, aqui, tornar possível 
uma “composição” entre os setores em questão: da mesma forma que ninguém 
pode seriamente dizer que a liberdade religiosa “permitiria” alguém apedrejar 
mulheres ou defender a segregação de negros em escolas distintas das de 
brancos (como pessoas negrofóbicas defendiam no passado, muitas vezes 
invocando a liberdade religiosa), então, da mesma forma, não se pode 
seriamente dizer que a liberdade religiosa daria o “direito” de se incitar ao 
preconceito, à discriminação, à segregação ou à violência contra pessoas LGBTI+. 
Ressalte-se que se fala, aqui, em criminalização da 
discriminação e dos discursos de ódio homotransfóbicos, porque são as condutas 
não criminalizadas pelo Código Penal (o crime de constrangimento ilegal supõe 
violência ou grave ameaça, não é qualquer discriminação que é por ele punida; e 
bem se sabe que os crimes de injúria e difamação supõem pessoa individualizada, 
não ofensas a coletividades – ambas condutas punidas pelo art. 20 da Lei 
7.716/89). Ademais, como mencionado pelo signatário no fim de sua sustentação 
oral e acolhido pelo Ministro Roberto Barroso, importante que se declare que a 
agravante genérica de motivo torpe abarca a homotransfobia. Assim, punindo-se a 
discriminação e os discursos de ódio homotransfóbicos e aumentando-se a pena 
da homotransfobia pela agravante genérica do motivo torpe, criminalizada estará 
a homotransfobia de maneira eficiente. 
Ante o exposto, pedindo-se máximas vênias pela ousadia, para 
fins de contribuir com a formação da cognição desta Suprema Corte e para 
mostrar boa-fé, no sentido de se mostrar que não se quer criminalizar a liberdade 
religiosa de ninguém quando não usada para oprimir, ofender, discriminar, 
agredir, matar ou induzir ou incitar tais condutas, sugere-se, como PARTE 
DISPOSITIVA e TESE fruto do julgamento da ADO 26 e do MI 4733, o 
seguinte enunciado: 
PARTE DISPOSITIVA. Julga(m)-se procedente(s) a(s) ação(ões), para que o crime de 
discriminação por raça, previsto no art. 20 da Lei 7716/89, bem como o crime de 
injúria racial (art. 140, §3º, do Código Penal) e os demais delitos raciais recebam 
interpretação conforme a Constituição, para entender a discriminação e os 
discursos de ódio homofóbicos e transfóbicos como crime de racismo e de injúria 
racial, por força da acepção político-social de raça e racismo já afirmadas pelo STF 
(HC 82.424/RS). Igualmente, julgam-se procedentes as ações para que a motivação 
homofóbica ou transfóbica gere a incidência da agravante genérica relativa ao 
motivo torpe (art. 61, II, “a”, do Código Penal). Nada nesta decisão deve ser 
interpretado como proibindo manifestações de liberdade religiosa e proselitismo 
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religioso que não se configurem como discursos de ódio, entendidos como a 
incitação ao ódio, à intolerância, à discriminação, à segregação e/ou à violência. 
TESE. O crime de discriminação por raça, previsto no art. 20 da Lei 7.716/89, bem 
como o crime de injúria racial (art. 140, §3º, do Código Penal) e demais delitos 
raciais, abarcam os discursos de ódio, injúrias e discriminações caracterizados 
como homofóbicos ou transfóbicos, por interpretação conforme a Constituição 
decorrente do conceito constitucional, político-social, de raça e racismo, já afirmado 
pelo STF (HC 82.424/RS). Igualmente, a motivação homofóbica ou transfóbica deve 
gerar a incidência da agravante genérica relativa ao motivo torpe (art. 61, II, “a”, do 
Código Penal). Nada nesta decisão deve ser interpretado como proibindo 
manifestações de liberdade religiosa e proselitismo religiosoque não se configurem 
como discursos de ódio, entendidos como a incitação ao ódio, à intolerância, à 
discriminação, à segregação e/ou à violência". 
 
Termos em que, 
Pede e Espera Deferimento. 
Brasília, 21 de maio de 2019. 
 
 
Paulo Roberto Iotti Vecchiatti 
OAB/SP n.º 242.668 
 
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UMA RESPOSTA
Racismo homotransfóbico e a população LGBTI como
um grupo racializado
Advogado propositor das ações que levaram a tese do racismo abarcar a homotransfobia ao STF responde
críticas
PAULO ROBERTO IOTTI VECCHIATTI
28/05/2019 15:36
Foto: Leo Pinheiro/Fotos Públicas
Foi publicado, no JOTA, artigo de Wallace Corbo, no qual ele questiona a maioria
formada pelo STF pelo reconhecimento da homotransfobia como crime de
racismo (ADO 26/MI 4733). Aduz que o conceito de racismo social seria
problemático, por supostamente criar a �gura do “racismo sem raça”. Entende que
isso implicaria “apagar o negro da Constituição”, “apagando” a história das “vidas
perdidas e sangue preto derramado pela liberdade e pelo reconhecimento
constitucional” de suas lutas e reivindicações.
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https://www.jota.info/autor/paulo-roberto-iotti-vecchiatti-2
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/racismo-sem-raca-criminalizacao-da-homotransfobia-e-a-invisibilizacao-da-negritude-27052019
https://www.jota.info/
Diz, ainda, que o conceito de “racismo social” seria “desnecessário”, porque se
confundiria com o de “discriminação institucional”, que “signi�ca precisamente a
existência de estruturas que geram opressão, dominação e negação de direitos de
grupos marginalizados em uma sociedade”. Cita, ainda, tradicionais acusações
contra as ações, de que o STF estaria ilegitimamente “tipi�cando crimes” ou
“julgando por analogia” (a�rmações que ou não leram os votos proferidos ou os
deturparam, como se verá adiante).
Como advogado propositor das ações que levaram a tese do racismo abarcar a
homotransfobia ao STF, cabe-me responder às críticas do articulista.
+JOTA: Assine o JOTA e não deixe de ler nenhum destaque!
Primeiramente, considero extremante injusta e arbitrária (por não fundamentada) a
a�rmação de que considerar a homotransfobia como crime de racismo “apagaria” a
pessoa negra da Constituição. Quando o STF a�rmou o antissemitismo como crime
de racismo (HC 82.424/RS), a partir do conceito de racismo social que embasa este
julgamento, não se “apagou” a pessoa negra da Constituição, o que também não
ocorreu quando a Lei Antirracismo (Lei 7.716/89) passou a considerar como
racistas, além das opressões por “raça” e “cor”, aquelas por “etnia, religião ou
procedência nacional” (v.g., art. 20).
Logo, a grave acusação vem destituída de fundamentação que lhe torne defensável
para além de um intuicionismo que não pode servir ao debate acadêmico (muito
menos, judicial). Lembre-se, ainda, o relato do Min. Nelson Jobim (que foi deputado
constituinte), no HC 82.424/RS: aduziu que não se pretendeu limitar a repressão
constitucional ao racismo apenas à pessoa negra, sendo esta a razão de se
separarem os conceitos de “raça” e “cor” no texto constitucional, precisamente para
permitir que racismos não percebidos em 1988 pudessem sê-lo futuramente
1
.
Em segundo lugar, o autor citou um conceito particular (de sua doutrina) sobre
“discriminação institucional”, mesclando-a com o elemento estrutural. Mas são
coisas distintas, como nos mostra a doutrina de Silvio Almeida, que, tratando do
racismo, divide a discriminação estrutural da institucional. A opressão estrutural é
aquela que forma um “elemento que integra a organização econômica e política da
sociedade”, enquanto “manifestação normal de uma sociedade, e não um fenômeno
patológico ou que expressa algum tipo de anormalidade”, de sorte que “fornece o
sentido, a lógica e a tecnologia para as formas de desigualdades e violência que
moldam a vida social contemporânea”, sendo, em suma, “uma decorrência da
própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se constituem as
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relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia
social e nem um desarranjo institucional”
2
.
Já a opressão institucional, no contexto do racismo, “signi�ca que, de algum modo, a
imposição de regras e padrões racistas por parte da instituição é de alguma maneira
vinculada à ordem social que ela visa resguardar”. Como se vê, embora próximos e
muitas vezes interligados, os conceitos não se confundem: pode haver
discriminação institucional a determinada pessoa sem que ela integre um grupo
estruturalmente discriminado pela sociedade.
Em terceiro lugar, o conceito de racismo social não foi inventado pelo STF, ao aduzir
que o racismo é a inferiorização de um grupo social relativamente a outro (HC
82.424/RS), a partir da constatação de que a Constituição Federal (art. 3º, IV) e a Lei
Antirracismo falam em “raça” e “cor” em palavras diferentes (aplicando-se a máxima
hermenêutica pela qual “a lei não possui palavras inúteis”, de sorte que “raça” não
pode signi�car apenas “cor”) e pelo fato de o Projeto Genoma ter acabado com a
crença de que a humanidade seria formada por “raças biologicamente distintas
entre si”. De sorte que, para o racismo não virar crime impossível, pela unicidade
biológica da humanidade, foi necessário adotar o conceito político-social, motivado
em elementos históricos, antropológicos e sociológicos, em detrimento dos
biológicos.
A literatura negra antirracismo referenda esse conceito, ainda que com importantes
nuances, aduzindo que o racismo não é um conceito vinculado a elementos
biológicos (como o senso comum ainda acredita), mas é um elemento político-
social. Na síntese de Djamila Ribeiro, o racismo é um sistema de opressão social que
supõe relações de poder
3
 entre um grupo dominante, detentor de privilégios sociais,
e um grupo dominado, socialmente inferiorizado, e não uma mera discriminação
isolada (por isso, não existe “racismo reverso”).
Para Silvio Almeida, a “raça é um elemento essencialmente político, sem qualquer
sentido fora do âmbito socioantropológico, de sorte que a noção de raça visa
naturalizar desigualdades e justi�car a segregação de grupos socialmente
minoritários, razão pela qual o racismo é uma forma sistemática de discriminação
que se manifesta por meio de práticas conscientes e inconscientes que culminam
em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo social a que
pertencem. O mesmo autor a�rma, assim, que o preconceito racial é baseado em
estereótipos, tendo a discriminação racial como requisito fundamental o poder, ou
seja, a efetiva possibilidade de uso da força para manutenção de privilégios de um
grupo dominante sobre um grupo dominado
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Ademais, Achille Mbembe a�rma que raça e racismo revelam-se na prática do
alterocídio, isto é, a constituição do “Outro” não como “semelhante” a si mesmo, mas
como “objeto ameaçador”, que caberia destruir ou controlar, sendo que a raça foi
sempre utilizada como um dispositivo de poder criado para designar um ser inferior,
como um re�exo despauterado do “homem ideal”, sendo a lógica da raça, na
produção de sujeitos raciais, a bestialização de grupos considerados “inferiores”,
tendo a cultura e a religião assumido o lugar da biologia no tema do racismo.
Aduz-se, assim, que o racismo consiste na obstinação de dividir, classi�car,
diferenciar e hierarquizar, a partir de uma categoria essencial da diferença, de sorte
que o racismo consiste em processos de diferenciação, classi�cação e
hierarquização,para �ns de exclusão, expulsão e erradicação. Assim, aduz que a raça
não tem nenhuma essência, mas caracteriza-se por um processo perpétuo de poder,
movediço em seu conteúdo, visando o racismo substituir aquilo que “é” por uma
realidade “diferente”, de forma necessariamente inferiorizante. Dessa forma, aduz
que a raça é, portanto, aquilo que permite situar, em meio a categorias abstratas,
aqueles que procura estigmatizar, desquali�car moralmente e, eventualmente,
internar ou expulsar
5
.
Nesse sentido, lembre-se que pessoas LGBTI em geral sempre foram
desumanizadas, consideradas degeneradas, bem como animalizadas/bestializadas,
como supostamente não aptas a controlar seus instintos, tidas como “perigosas” e
que precisariam ser “controladas”, consideradas assim longo do modelo de pessoa
ideal (heterossexual e cisgênera) que a ideologia de gênero heteronormativa e
cisnormativa dominante nos padrões e estereótipos culturais e religiosos
dominantes na sociedade (a não-heterossexualidade e não-cisgeneridade já foram
consideradas crimes de lesa-majestade e, até hoje, internam-se pessoas LGBTI em
hospitais psiquiátricos para deixarem de sê-lo, perseguição mais comum no
passado).
Para, com isso, serem inferiorizadas relativamente a pessoas heterossexuais
cisgêneras, como uma forma de se fabricar uma diferença relativamente a estas
maiorias sexuais e de gênero, usada para “justi�car” a discriminação estrutural,
sistemática, institucional e histórica voltada a estigmatizar, desquali�car moralmente,
expulsar do convívio familiar ou até internar em hospitais psiquiátricos as minorias
sexuais e de gênero (a população LGBTI), em prol de ideologias normalizadoras do
heterossexismo e do cissexismo dominantes. E, até quando mais toleradas,
direcionadas a determinadas pro�ssões ou presumidas como detentoras de
determinados comportamentos, também por estereótipos culturais.
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Como se vê, a homotransfobia se enquadra nas categorias-chave do conceito de
racismo, em sua acepção político-social, enquadram-se no gênero de racismo e,
assim, no crime de discriminação por raça do art. 20 da Lei n.º 7.716/89. E isso não
por “analogia”, mas por se enquadrarem no próprio conceito político-social de raça e
de racismo, logo, por interpretação literal/declarativa do termo legal “raça” e do
termo constitucional “racismo”, ainda que “evolutiva”, caso se entenda que a
compreensão biológica teria sido a “original” do tema. Uma interpretação que se
enquadra no limite do teor literal (Roxin) da moldura normativa (Kelsen) respectiva,
portanto.
Entenda-se, não se trata de “analogia”, porque não se argumenta por “equivalência”,
de situações “diferentes, mas idênticas no essencial”. Argumenta-se que nesse
conceito político-social de raça e racismo, a população LGBTI e a homotransfobia se
enquadram. Então, que �que claro: as ações negam, os pareceres da PGR negam
6
 e
os votos já proferidos negam estarem realizando “analogia”.
Criminalizar por analogia implicaria um especí�co raciocínio, que dissesse que a
homotransfobia “é tão grave quanto o racismo” e, por isso, deveria ser punida da
mesma forma, mas não é isso que as ações, os pareceres da PGR e os votos já
proferidos fazem. Em todos os casos, o fundamento utilizado é que a
homotransfobia se enquadra no conceito político-social e constitucional de racismo,
já a�rmado pelo STF no célebre caso Ellwanger (HC 82.424/RS), de sorte a se
enquadrar no crime de praticar, induzir ou incitar o preconceito ou discriminação por
raça (art. 20 da Lei 7.716/89), dentro da moldura normativa do limite de seu teor
literal, como mencionado. E não por um “ato arbitrário de vontade”, mas por um
conceito já a�rmado em precedente histórico do STF e referendado pela literatura
antirracismo, donde não pode ser considerado como de “intolerável vagueza” e
violador do princípio da taxatividade (lembrando-se que as leis penais desde sempre
criminalizarm condutas por conceitos valorativos, carentes de concretização
interpretativa, e isso sempre foi aceito, quando não intoleravelmente vagos).
Portanto, no citado conceito de racismo social (HC 82.424/RS) enquadram-se
inequivocamente a homofobia e a transfobia (ou seja, a opressão motivada na
orientação sexual ou identidade de gênero da vítima).
A�nal, a homofobia decorre do heterossexismo e a transfobia do cissexismo,
ideologias que pregam, respectivamente, que a heterossexualidade seria a única
sexualidade “digna”/“válida” de ser vivida e que a cisgeneridade (a autoidenti�cação
com o gênero socialmente atribuído ao seu corpo, a pessoas de determinado
genital/sexo biológico), seria a única identidade de gênero “aceitável” (“digna”, “válida”
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etc) na vida em sociedade. Logo, são ideologias ontologicamente racistas, são
espécies do gênero racismo, enquanto racismo social.
A�nal, na doutrina de Daniel Borrillo
7
, pela qual a homofobia é a atitude de
hostilidade contra homossexuais que prega a supremacia da heterossexualidade
sobre a homossexualidade, de forma idêntica ao que o antissemitismo faz contra
judeus e a xenofobia contra estrangeiros, de sorte que os comportamentos
heterossexuais são (ideologicamente e na prática) a�rmados como os únicos
merecedores a quali�cação de modelo social e (acrescente-se) de merecedores de
respeito e consideração social, de sorte que o heterossexismo é entendido e
a�rmado como a crença de uma hierarquia da heterossexualidade sobre as demais
orientações sexuais (com imposições heteronormativas, acrescente-se).
E, continua Borrillo, mais do que uma dimensão pessoal (afetiva, intencional), a
homofobia tem uma dimensão cultural (social, cognitiva), em que não se considera
o homossexual como indivíduo, mas a homossexualidade como categoria (inferior à
heterossexualidade). Daí que, segundo a doutrina de Roger Raupp Rios
8
,
heterossexismo é “um sistema onde a heterossexualidade é institucionalizada como
norma social, política, econômica e jurídica, não importa se de modo explícito ou
implícito”, sendo “homofobia é a modalidade de preconceito e de discriminação
direcionada contra homossexuais” quali�cando os não-heterossexuais como uma
categoria inferior a heterossexuais.
O mesmo se diga, acrescente-se, relativamente à transfobia e ao cissexismo
relativamente à opressão de pessoas transgênero relativamente às pessoas
cisgênero decorrente da cisnormatividade. Tudo a demonstrar a correção da
conclusão da homotransfobia se enquadrar no conceito de racismo.
Esclareça-se, por honestidade intelectual, que obviamente se sabe que as doutrinas
negras supra citadas falam do racismo a partir da perspectiva da pessoa negra, que
historicamente foi vítima concreta de racismos mesmo antes de sua teorização.
Ocorre que se entende que os conceitos trazidos pelos autores e pela autora supra,
por sua amplitude e expressa desvinculação da biologia reforçam o entendimento
aqui defendido, da homotransfobia como espécie do crime de discriminação por
raça do art. 20 da Lei n.º 7.716/89. Não se pode incorrer em originalismo conceitual,
impassível de evoluções.
O STF fala desde o HC 82.424/RS que o racismo é um conceito que precisa ser
interpretado à luz do princípio da igualdade, para �ns de garantia de sua
racionalidade. Então, cabe indagar (e aos críticos da tese, responder): por que o
racismo seria uma opressão desumanizante apenas contra a população negra e não
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a outras também submetidas a opressões estruturais, sistemáticas, institucionais e
históricas geradoras de inferiorização social e desumanização? Por que o racismo é
uma forma mais grave de discriminação que as discriminações em geral? Qual a
�nalidade pretendida pelo conceito de racismo, cuja teleologia justi�ca ele ser
tratado como forma especial (mais grave, punido maisduramente) que as demais
formas de discriminação? Como sair da lógica biologizante do conceito de racismo
(negada pela própria literatura negra antirracismo, acima exposta) se este é
vinculado “ontologicamente” apenas ao aspecto biológico do fenótipo, da cor de
pele? (características físicas).
Em quarto lugar, o elemento que aparentemente causa maior estranhamento, mas é
uma decorrência lógica do exposto. Equivoca-se o autor ao dizer que o julgamento
do STF na AD 26 e no MI 4733 implicaria no reconhecimento de “racismo sem
raças”. Ora, se o racismo é um conceito político-social, também o é a raça, como
mostram as doutrinas supra citadas.
Nesse sentido, para Adilson José Moreira, “A racialização seria uma forma de
construção e de diferenciação de pessoas, o que possui um objetivo especí�co: a
raça é uma marca que representa as relações de poder presentes em uma dada
sociedade”, de sorte que “o processo de racialização de grupos humanos é um
exercício de poder que proporciona os instrumentos para a dominação de certas
populações, pois elas são criadas como diferentes e inferiores”. Embora o autor
também fale a partir da população negra e, em outros momentos, vincule o racismo
a elementos fenotípicos ou características físicas, esses seus conceitos de raça e
processo de racialização de grupos humanos abarcam aquilo que, de fato, ocorre
com a população LGBTI, de sorte que esta se con�gura, sim, como grupo racial, na
acepção político-social do termo.
Cabendo lembrar, aqui, parafraseando, a fala do ministro Maurício Correa, do STF, no
julgamento do HC 82.424/RS: não importa o que o STF ou o grupo social pensa a
respeito (sobre ser ou não uma “raça”), importa como esse grupo é socialmente
tratado, donde se é tratado como uma “raça apartada” pela opressão social que lhe
assola, o STF não pode fechar os olhos a essa realidade objetiva. Não somos nós,
pessoas LGBTI, que nos consideramos uma raça apartada, são neonazistas e
homotransfóbicos em geral que nos consideram uma “raça do demônio”, ou uma
“raça maldita” a ser exterminada (neonazista, em 2014, em entrevista ao SBT,
chamou homossexuais de “raça do demônio”, por exemplo). Esse dado da realidade
objetiva não pode ser desconsiderado.
Em suma, a tese defendida com sucesso perante o STF aduz que só será racismo a
inferiorização desumanizante de grupos sociais, em processos de relações de poder,
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geradores de inferiorização de um grupo social relativamente a outro, de forma
estrutural, sistemática, institucional e histórica, geradora da quali�cação de um
grupo como “dominante”, imputando-lhe ideologicamente as condições de “natural,
neutro, bondoso e modelo de pessoa ideal”, bem como a quali�cação de outro grupo
como “dominado”, imputando-lhe ideologicamente as condições de “antinatural,
ideológico, perigoso e pessoa degenerada” (pessoas LGBTI também já o foram, pela
“teoria da degeneração sexual”). Tudo que se enquadrar nesse conceito geral e
abstrato de racismo merecerá esse quali�cativo.
Longe disso permitir que “qualquer coisa” seja considerada como racismo, isso
aumenta a dignidade constitucional do conceito de racismo para que não seja
qualquer discriminação assim considerada, mesmo por lei. Então, o conceito deve
ser celebrado, por não prejudicar o combate à opressão contra pessoas negras e, ao
mesmo tempo, possibilitar a proteção de outros grupos vulneráveis pela repressão
constitucional ao racismo, quando se enquadrem nesses taxativos requisitos.
———————————–
1� STF, HC n.º 82.424-2/RS, con�rmação de voto do Ministro Nelson Jobim, p. 04.
Vide Réplica ao Senado na ADO 26 (petição eletrônica n.º 47), p. 10.
2� ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural, Belo Horizonte: Grupo Editorial
Letramento, 2018, pp. 15-16 e 38-39.
3� RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do Feminismo Negro? São Paulo: Ed.
Letramento, 2018, p. 41.
4� ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural, Belo Horizonte: Grupo Editorial
Letramento, 2018, pp. 19-22.
5� MBEMBE, Achille. Crítica da Razão Negra. Tradução de Sebastião Nascimento,
N1-Edições, 2018, pp. 20-22, 27-28, 42, 53-54, 62 e 72-74.
6� Para íntegra do parecer da PGR na ADO 26, que trata especi�camente do tema (de
inexistência de analogia in malam partem), vide:
<https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI222328,11049-
PGR+defende+que+homofobia+seja+julgada+como+crime+de+racismo>. Último
acesso: 26.05.2019.
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https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI222328,11049-PGR+defende+que+homofobia+seja+julgada+como+crime+de+racismo
7� BORRILLO, Daniel. Homofobia. História e crítica de um preconceito. Tradução de
Guilherme João de Freitas Teixeira, Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2000, pp. 13-
14, 15-16, 22, 31-32 e 106.
8� Nesse sentido, RIOS, Roger Raupp. O conceito de homofobia na perspectiva dos
direitos humanos e no contexto dos estudos sobre preconceito e discriminação. In
RIOS, Roger Raupp (org.). Em defesa dos Direitos Sexuais, Porto Alegre: Editora
Livraria do Advogado, 2006, pp. 113, 114, 118, 119, 120, 122, 128-129 e 131-134.
PAULO ROBERTO IOTTI VECCHIATTI – Doutor em Direito Constitucional pela Instituição Toledo de Ensino.
Diretor-Presidente do GADvS - Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero.
Os artigos publicados pelo JOTA não re�etem necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas importantes para o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.
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12/06/2019 A LGBTIfobia saiu do armário e diariamente assina nosso atestado de óbito. – Associação Nacional de Travestis e Transexuais
https://antrabrasil.org/2019/06/05/lgbtifobia­saiu­do­armario­e­assina­nosso­atestado­de­obito/ 1/3
Associação Nacional de Travestis e
Transexuais
A Maior Rede de Pessoas Trans do Brasil
A LGBTIfobia saiu do armário e diariamente
assina nosso atestado de óbito.
Direitos e Política, Violência
A violência LGBTIfóbica no Brasil em uma semana (27/05 a 03/06/2019):
 
– 5 Travestis Assassinadas (tiros, pauladas, espancamento, corpo incendiado)
 
– Lésbica encontrada morta com sinais de espancamento e violência sexual
 
– Homem gay encontrado morto em matagal com sinais de espancamento
 
– Homem trans vitima de estupro corretivo
 
– Mulher trans internada compulsoriamente pela família
 
– Homem trans se suicida (assassinato social).
 
– Diversos ataques homofóbicos
 
– Psicólogos a favor da ”Cura‑gay” lançam candidatura no CFP
 
Estes são apenas os casos que chegam através das redes sociais. Estimamos que sejam
muito mais diante pelo agravamento da violência cotidiana que identificamos nos relatos
e casos que conseguem ser trazidos ao público, e pela inexistência de dados e estatísticas
oficiais.
 
O serviço Disque 100, do governo federal, registrou 4,6 denúncias por dia contra a
comunidade LGBT durante o ano de 2018.
 
Há dificuldade de levantar dados de violência LGBTIfobica nos atendimentos de saúde,
assim como nas delegacias e IML que muitas vezes não identificam a orientação sexual
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https://antrabrasil.org/
https://antrabrasil.org/category/direitos-e-politica/
https://antrabrasil.org/category/violencia/
12/06/2019 A LGBTIfobia saiu do armário e diariamente assina nosso atestado de óbito. – Associação Nacional de Travestis e Transexuais
https://antrabrasil.org/2019/06/05/lgbtifobia­saiu­do­armario­e­assina­nosso­atestado­de­obito/ 2/3
assim como nas delegacias e IML que muitas vezes não identificam a orientação sexual
ou identidade de gênero das vitimas – apesar de haver campo para tal, assim como não
constam os motivos presumidos, visto que não há um qualificador ou a tipificação de
crimes específicos contra a nossa população. E os dados acabam se perdendo

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