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Sobre o conteúdo Esse material não visa em momento algum obter ganhos financeiros ou de quaisquer outro aspecto, que não seja de compartilhamento do conhecimento e o melhoramento do conteúdo teórico de estudantes e profissionais da Educação Física. Caso você aprecie esse material, lembre-se que a leitura e o estudo são incentivados. Porém, em hipótese alguma, admite-se o plágio ou cópia para benefício próprio em alguma atividade acadêmica ou profissional. Ainda, é terminantemente proibida a venda deste material. Região do Quadril: Considerações anátomo-cinesiológicas a respeito dessa área Normalmente quando pensamos em áreas corporais que mais encontramos lesionadas ou com objetivos de desenvolvimento muscular para fins de melhora da estética, raramente pensamos no quadril como primeiro nessa suposta lista imaginária. Isso talvez esteja associado ao fato de que muitos profissionais desvinculam, de modo infeliz, os músculos glúteos da região do quadril. Ou ainda, o maior anseio da população iniciante e já praticante de treinamentos, principalmente em ambientes de academias, é diminuir a perimetria abdominal ou aumentar a braquial, antes de qualquer outra modificação corporal. Com frequência ouvimos "comecei a acadêmia, já perdi barriga". Mas a região do quadril não possui apenas os músculos glúteos em sua constituição múscular, fato que também, de modo bastante infeliz, é negligenciado diversas vezes pelos profissionais da Educação Física e que trabalham com o movimento humano. Outro aspecto que também é pouco contemplado quando se pensa em quadril e suas relações com o exercício físico, são os movimentos que lhe são permitidos e suas implicações em outras importantes estruturas anatômicas, como a coluna vertebral ou o fêmur. Nesse sentido, o presente ensaio tem como objetivo descrever a região do quadril, numa perspectiva anátomo-cinesiológica, portanto, muito aplicada a anatomia do aparelho locomotor desse local. Não obstante, o presente ensaio também contempla os exercícios que são aplicados e envolvem o quadril, procurando sempre discutir os corretos posicionamentos e métodos de movimento. Em perspectivas ósseas o quadril é formado por três elementos que se unem progressivamente ao longo da vida, sendo que ao alcançar a idade próxima dos 65 anos, esses ossos que o compõe estão completamente consolidados entre si e não se verificam divisões formadas por materiais que não sejam matriz óssea mineralizada. Sendo assim, superiormente verifica-se um grande osso denominado ilío que constitui a porção do quadril que mantém relações constantes com as vértebras sacrais, por meio de ligamentos denominados sacroiliacos. Nesse mesmo osso, ílio, há uma grande área de formação óssea que reveste a margem superior do osso, nomeada como crista ilíaca. Ao fim dessa área, numa perspectiva anterior, pode ser observada a espinha ilíaca ântero superior. Em uma vista posterior, por sua vez, também se observa uma outra espinha ilíaca, porém póstero-superior. Ainda no ílio, se verifica duas áreas planas que servem de fixação de importantes músculos, anteriormente uma dessas áreas é nomeada como fossa ilíaca e posteriormente asa do ílio. Os músculos e de mais estruturas que se fixam nesses locais serão discutidos adiante neste texto, após o aprofundamento do tecido esquelético do quadril. Formando a porção posterior do quadril e mantendo relações de modo póstero-inferior do ílio, encontra-se o ísquio. Esse importante osso também possui diversos acidentes que nos servem de fixação múscular e ligamentar, além de possui uma tuberosidade essêncial para que o quadril fique adequadamente posicionado quando nos encontramos sentados. O ísquio é um osso irregular com localização posterior ao púbis (outro osso do quadril) e ao ílio. Seus acidentes ósseos são caracterizados por receberem ligamentos importantes para a estruturação da postura, além de estarem envolvidos na recepção das cargas corporais quando o indivíduo está sentado. Destaque em especial para a espinha isquiática, ramo isquíatico (que se direciona ao ramo inferior do púbis), incisura isquiática maior e menor e para o túber isquiático, esses nos quais estão envolvidos com as funções acima comentadas. O púbis é o outro osso que forma o quadril, sendo o menor dos três até o momento mencionados. Sua localização é anterior ao ísquio e inferior ao ílio, sendo um local de importantes fixações musculares para a região do abdome e coxa medial. No púbis podem ser verificados dois ramos, um superior e outro inferior – esse no qual dá seguimento no osso ísquio, conforme descrito anteriormente. Ainda, observa-se, no local em que ambos os ramos se encontram, a face symphysialis do púbis, conhecida em português por face da sinfise púbica (local em que o antímero direito e esquerdo se unem pela cartilagem da sínfise púbica). Ainda, se verifica no púbis o acidente tubérculo púbico, local de fixação distal do músculo reto abdominal. A união dos três ossos acima mencionados se dá de modo bastante adequado em perspectivas geométricas em uma estrutura denominada fossa do acetábulo ou apenas, acetábulo. Nesse local, o acetábulo, podem ser verificadas características anatômicas que permitem o aclopamento de um segmento adjacente ao quadril, de modo a encaixar em sua superfície convexa alguma esfera, ou soquete, de modo, portanto, concavo. Isso pode ser facilmente identificado se observar que a fossa acetabular possui uma condição ideal de encaixe da cabeça femoral, sendo a primeira estrutura convexa e a segunda, por sua vez, côncava. Revestindo as paredes periféricas da fossa do acetábulo, se encontra a face lunata ou face semilunar. Que tem o formato de meia lua e facilita o encaixe da cabeça femoral a essa região. Ainda, em indivíduos vivos e com a articulação coxo-femoral saudável, observa-se que a face semilunar é vastamente preenchida por cartilagem articular, fato que conota uma habilidade de distribuir adequadamente por toda a sua superfície as cargas que são impostas ao osso durante a marcha, a corrida ou quaisquer outros movimentos da vida cotidiana e esportiva. Devido ao fato, portanto, da fossa do acetábulo possuir uma área periférica que a circunda com característica semilunar, próxima a região medial inferior há a incisura acetabular. Local que o colo do fêmur tem grande associação. A conexão entre o fêmur e o quadril se dá, principalmente, por meio de três importantes ligamentos que emergem dos ossos do quadril (ílio, ísquio e púbis) e se fixam ao longo do colo femoral. O ligamento iliofemoral, conecta o osso ílio ao fêmur e está localizado, quando visto em posição anatômica, anteriormente aos de mais. O ligamento pubofemoral, inicia-se no pubis, precisamente em seu ramo inferior e segue até o colo do fêmur para conectar ambos os osso. Percebe-se que esse ligamento está inferiorizado ao primeiro, o ligamento iliofemoral. Entre o ligamento pubofemoral e iliofemoral há a bolsa de líquido sinovial denominada pectínea, uma vez que por essa área o músculo pectíneo também está passando. O último ligamento que conecta o quadril ao fêmur é o isquiofemoral, porém esse é melhor visualizado em uma perspectiva dorsal do indivíduo. Antes de prosseguir para as estruturas musculares do quadril, vale destacar nesse momento que a conexão entre os ossos do quadril com as vétebras sacrais se dá por diversos ligamentos variados e com ações de contenção óssea bem desenvolvida. O ligamento sacroiliaco, que já fora mencionado nesse texto, emergem de toda a região posterior da crista ilíaca e se direcionada as vértebras sacrais, precisamente para os corpos dessas, em abundância de fibras colágenas com baixa capacidade de extensibilidade. O ligamento sacrotuberal, porém, conecta o túber isquiático ao osso sacral de modo que sua constituição secaracteriza por um feixe de direção oblíqua superior, demonstrando grande resistência ainda em imagens ilustrativas. O ligamento sacroespinhal, o qual permite a interação da espinha isquiática as vértebras sacrais também possui uma morfologia semelhante ao sacrotuberal. Ainda, nesse complexo emanharado de ligamentos dessa região, observa-se o ligamento iliolombar, conectando o ílio ao processo transverso da última vértebra lombar(L5). Os elementos que compõem os ligamentos são de estudo de outras ciências dentro da grande área de ciências da saúde. Todavia, vale destacar que, em perspectivas histológicas, o tecido conjuntivo fibroso é o de maior presença em ligamentos e tendões, uma vez que sua constituição celular se dá por condrócitos e fibroblastos com grande síntese de colágeno e proteínas não colágenas, como a elastina. A capacidade de extensibilidade desses materiais é baixa, portanto, cargas que sobreponham os seus limites poderão causar-lhes deformidades ou leva-los a rompimentos e perca da conexão. A musculatura da região do quadril é de grande interesse ao profissional que estuda o movimento humano e suas implicações orgânicas. Percebe-se que diferentes músculos realizam funções que são triviais as tarefas mais corriqueiras do cotidiano, por exemplo, ao sentar-se para a leitura deste texto, você realizou um movimento de flexão do tronco e posicionamento adequado de seu quadril para ajustar a sua região glútea na maior superfície disponível do seu banco ou cadeira. Ainda, quando resolver se levantar, haverá um movimento de extensão do quadril que deverá ser coordenado para que todo o seu tronco seja suspendido em conjunto. Se observar um praticante de exercícios resistido realizando movimentos de agachamento tradicional (back squat) perceberá que ele faz de modo coordenado a flexão e a extensão de seu quadril. Enfim, em muitas ocasiões do dia e da vida o movimento do quadril é necessário, sendo, deste modo, importante conhecer a fundo os músculos que fazem parte dessa região. O principal flexor do quadril é o iliopsoas. Músculo com vasta área de fixação, tanto em sua origem, quanto em sua trajetória. Todavia, sua inserção ou fixação distal ocorre no trocânter menor do fêmur, em uma área, portanto, pertencente a coxa. Logo, em estudos de livros textos de anatomia, você encontrará detalhes do iliopsoas na região femoral, precisamente no compartimento anterior. O iliopsoas é formado por dois músculos grandes e um pequeno, psoas maior, ilíaco e psoas menor, respectivamente. A origem do músculo psoas maior se dá nas laterais dos corpos vertebrais da última vértebra torácia e de todas as lombares (T12-L5). Sua trajetória descendente se une ao músculo ilíaco, na fossa iliaca, conectando assim a coluna vertebral a cintura pélvica (quadril) e concluindo-se no trocânter menor do fêmur. O músculo ilíaco, conforme mencionado segue o trajeto, porém com sua origem na fossa iliaca. O músculo psoas menor, por sua vez, se origina na crista ilíaca, fossa ilíiaca, asa do sacro e ligamentos sacroilíacos anteriores. Sua trajetória acompanha o músculo ilíaco e psoas maior, concluíndo-se no tendão desses a nível de trocânter menor do fêmur. A inervação do músculo iliopsoas (portanto nomeado assim, haja vista que os músculos que o compõem atuam em conjunto e compartilham inervação) é feita pelos ramos anteriores dos nervos lombares (L1, L2 e L3). Devido a sua localização entre três grandes áreas importantes, sendo a coluna vertebral, quadril e fêmur, o iliopsoas assume papel único na manutenção da postura do indivíduo. Quando em posição em pé, o iliopsoas se contrai e estende de modo que mantém a curvatura lombar em lordose e, concomitantemente, a cifose da curvatura da região torácica. Ainda, durante a fase de balanço, ou seja, um dos momentos da marcha humana, o iliopsas auxilia se contraindo concentricamente para acelerar a coxa e adequar a cadência desejada. Existem variações e movimentos que podem prejudicar a sua atividade ou fortalecer um antímero mais que outro. Logo, os efeitos a nível visual são alterações posturais que podem comprometer a qualidade de vida do aluno e desenvolver dores na região lombar desse, além de incomodos na área anterior da coxa, mas de modo mais raro. Nesse sentido, o aspecto que deve ser levado em consideração durante exercícios que façam movimento de flexão do quadril, é a adequada postura da coluna vertebral, precisamente da região lombar, evitando assim maior sobrecargar do músculo e estimulação inadequada. Outro músculo de grande importância na região do quadril e que também atua flexionando essa área é o reto femoral. Constituinte do grande grupamento muscular denominado quadriceps, o reto femoral é inervado pelo nervo femoral (proveniente do plexo lombossacral) e atua na extensão do joelho, em conjunto com os de mais músculos do quadríceps, e na flexão do quadril, auxiliando o iliopsoas. A sua origem se dá na espinha ilíaca ântero inferior e sua inserção é compartilhada, à nível do tendão patela (tuberosidade tibial). Suas fibras tem trajetória peniforme, deste modo ao se contrairem, recrutam de modo mais amplo a área múscular, dispersando a carga por uma maior quantidade de fibras. Percebe-se esse aspecto ao verificar a grande força que o reto femoral possui ao flexionar a coxa em relação ao quadril quando o indivíduo está deitado em decúbito dorsal. No compartimento posterior da coxa, de modo a atuar quase que como antagonistas dos músculos até o momento mencionados, estão o três grandes músculos do Jarrete e o adutor magno, uma de suas cabeças. O músculo que será inicialmente descrito é o semi-tendíneo, devido a sua importância e relação com outros músculos do compartimento anterior. O músculo semi-tendíneo é um extensor do quadril e flexor do joelho. Por possuir uma ação dupla, verifica-se que sua inserção se dá em conjunto com os músculos grácil (adutor da coxa) e sartório (flete a coxa) em uma estrutura denominada pata de ganso. Sua origem, entretanto, ocorre no túber isquiático, no ísquio. A inervação deste músculo é feita pela porção tibial do nervo isquiático. Inferiormente ao semi-tendíneo, basicamente atuando como uma membrana que envolve esse músculo, está o semimembranáceo. Importante músculo que atua de modo a flexionar o joelho, exercendo a sua fixação, portanto seu tracionamento, na região medial do joelho. Logo, o tendão colateral medial, também chamado de colatetal tibial, possui ramos tendíneos do semimembranáceo, uma vez que sua exata inserção se dá no côndilo medial da tíbia. O músculo bíceps femoral, outro extensor do quadril, se origina também no túber isquiático e se insere, por sua vez, na face lateral da cabeça da fíbula. A inervação é a mesma dos outros dois músculos mencionados e localizados nessa área, ramo tibial do nervo isquiático. O músculo adutor magno também auxilia em movimentos da região posterior da coxa, todavia, são movimentos de flexão do joelho, portanto não sendo do interesse deste material. A região glútea, uma das mais destacadas quando se estuda o quadril, também possui compartimentalizações derivadas de estratos formados por fáscias musculares. Essa compartimentalização nomeia duas áreas de grande importância, superficial e profunda. A primeira, pertencem os músculos glúteo máximo e tensor da fáscia lata. A segunda, os músculos glúteo médio, mínimo, piriforme, gêmeo superior, obturador interno, gêmeo inferior e quadrado femoral. O músculo glúteo máximo atua como o principal extensor do quadril, todavia quando se há alguma sobrecarga. Nesse sentido, ao executar exercícios como o agachamento, o glúteo máximo somente será recrutado de modo efetivo ao se adicionar cargas na barra ou anilhas e halteres as mãos do executante. Caso contrário, se execute sem cargas e prefira movimentos isométricos ou por tempo,os músculos do compartimento posterior da coxa, já mencionados nesse texto, serão os principais agonistas durante a subida do movimento. O músculo glúteo máximo, portanto, possui sua origem na região posterior do ílio, precisamente na linha glútea posterior, na face dorsal do sacro e cóccix, além do ligamento sacrotuberal. Sua fixação distal, inserção, ocorre na tuberosidade glútea, do fêmur. Todavia, a maior parte das fibras acompanha a fascia lata e se inserem no côndilo lateral da tíbia. Ao se analisar os músculos inferiores ao glúteo máximo, se verificará os músculos glúteo médio e sequencialmente o glúteo mínimo. O glúteo médio se origina na face externa do ílio, entre as línhas glúteas anterior e posterior. Sua inserção ocorre na face lateral do trocânter maior do fêmur. Assim. Verifica-se com facilidade que ele é um importante abdutor da coxa, auxiliado pelo glúteo mínimo. Esse último, glúteo mínimo, tem sua origem na face externa do ílio, entre as línhas glúteas inferior e superior, todavia a inserção desse é a mesma que ao do glúteo médio. A inervação dos músculos glúteos, tanto o médio quanto mínimo, é feita pelos nervos glúteo superior. Enquanto que a inervação do potenten glúteo máximo, é feita pelo nervo glúteo inferior. Na camada profunda dos músculos da região glútea, observa-se o piriforme. Esse músculo é nomeado dessa maneira devido ao seu formato de pera. A origem do músculo piriforme se dá na face anterior do sacro e no ligamento sacrotuberal. Sua inserção, todavia, ocorre na margem superior do trocânter maior do fêmur. A inervação do piriforme é feita pelos ramos nervosos anteriores de S1 e S2. Frequentemente pessoas apresentam dores na região lombar e profunda glútea, isso pode ter relações diretas com a atividade do músculo piriforme. Para o observado atento, o músculo que estamos comentando passa de uma área (sacral e ligamento sacrotuberal) para outra (margem superior do troncanter maior) de grande quantidade de ramificações nervosas. Inclusive, abaixo dele, numa divisa entre o músculo piriforme e gêmeo superior, há a passagem do nervo isquiático, uma grande inervação que atua quase que em todo o membro inferior. Deste modo, quando o piriforme, que tem ações de abdução da coxa em conjunto com os músculos já mencionados, está com encurtamentos ou mal adaptado a movimentos repentinos, dores podem surgir devido a sua relação com as estruturas nervosas que o rodeiam. Para alívio muitos medicamentos são recomendados, bem como fisioterapia. Todavia, pode-se evitar a lesão com a progressão das cargas para movimentos de flexão, extensão e abdução do quadril de maneira lenta e gradual, bem como uma maior estimulação da mobilidade do quadril. Deste modo, percebe-se que os músculos do quadril estão atuando de modo a permitir uma vasta gama de movimentos dessa articulação. Todavia, lesões podem ser frequentes nessa área, bem como o enrijecimento da articulação por motivos de falta de estímulos adequados. Sendo assim, conclui-se que o profissional de educação física, bem como qualquer sujeito que atue na prática do ensino do movimento humano, deve conhecer aprofundadamente essa região, evitando assim lesões e comprometimentos dos seus alunos, pacientes e clientes. Coxa: Anatomia e Cinesilogia Evolutivamente observa-se que o membro inferior do ser humano se adaptou para a postura bípede. Essa afirmação pode ser observada na curvatura que o osso apresenta, sendo auxiliada por um colo femoral que adequa o encaixe da cabeça do fêmur ao acetábulo (no quadril) e ainda sim é capaz de estar devidamente posicionado inferiormente. Não obstante, observa-se também que esse osso, o fêmur, possui trocânteres que servem de fixação múscular de importantes músculos envolvidos neste movimento de marcha com a postura bípede, sendo o trocânter maior fundamental para a fixação dos músculos abdutores da coxa. Neste sentido, pode-se organizar a coxa em três compartimentos diferentes conforme a sua localização no fêmur. Outro aspecto que também deve ser compreendido, principalmente pelo profissional que atua na prescrição do movimento humano, seja para exercícios terapêuticos, seja para exercícios performáticos, é que cada compartimento também possui características motricionais comuns. A tabela a seguir apresenta as relações entre cada compartimento e o movimento que ele proporciona, seja em relação ao quadril, seja em relação ao joelho: Compartimento Articulação do Quadril Articulação do Joelho Anterior da coxa (1) Músculo reto femoral contribui para o movimento de flexão do quadril; (2) fletir a coxa, por meio dos músculos auxiliares sartório e pectíneo (não são os principais a executarem o movimento de adução e fletir, mas contribuem). (1)Extensão do joelho, mediada pela contração concêntrica do quadríceps femoral; (2) estabilização do joelho, realizada pelos feixes tendíneos dos músculos vasto lateral e medial; Medial da coxa (1) adução da coxa. (1) contribuem com a estabilização do joelho, sendo, principalmente, os adutores longo, curto e magno os envolvidos nessa ação. Posterior da coxa (1) extensão do quadril, principalmente quando o sujeito se encontra em uma posição sentada. (1) flexão do joelho; (2) rotação interna e externa, exercícidas pelos músculos semitendíneo, semimembranáceo e bíceps femoral, respectivamente. Músculos do Compartimento Anterior da Coxa: Os músculos do compartimento anterior da coxa estão localizados na área ventral desta região do membro inferior. Observa-se que os músculos anteriores da coxa possuem fixações proximais e distais, em muitas ocasiões, em ossos do quadril e na área proximal da tíbia, precisamente na tuberosidade dessa. Nesse sentido, eles cruzam duas articulações diferentes, o quadril e o joelho, podendo, portanto, movimentar essas duas articulações em conjunto ou isoladamente. Sabe-se que indivíduos acidentados ou sedentários os músculos anteriores da coxa sofrem demasiada atrofia, quando em comparação a outros compartimentos da região femoral. Isso poderá levar o sujeito a uma perca da estabilidade patelar, haja vista o envolvimento que alguns dos músculos localizados neste compartimento possuem com a estabilidade desse osso sesamóide, além de quedas repentinas, como observado em idosos que possuem uma massa magra reduzida nesta região. Fazem parte do compartimento anterior da coxa os seguintes músculos: Sartório, Pectíneo, Iliopsoas e Quadríceps Femoral. Os dois últimos mencionados, Iliopsoas e Quadríceps são constituídos por mais de um músculo e nas explicações detalhadas a cada um deles serão amplamente discutidas as suas origens e inserções. Antes de serem iniciadas as descrições anatômicas, destaca-se que alguns estudos biomecânicos utilizam os músculos anteriores da coxa como referência para verificação de atividades eletromiográficas durante exercícios variados. Isso ocorre devido a facilidade de serem paupados e identificados, além de estarem envolvidos em movimentos básicos dos membros inferiores: extensão do joelho e flexão do quadril. Músculo Pectíno: um músculo de transição O músculo pectíneo é um pequeno músculo com fixação proximal (origem) no ramo superior do púbis e inserção na linha pectínea do fêmur, imediatamente inferior ao trocânter menor. Seu trajeto, portanto, é curto e oblíquo, tendo suas fibras uma citoarquitetura paralela em relação aos tendões de origem e inserção. A inervação do pectíneo é feita pelo nervo femoral (raízes L2 e L3), porém esse músculo também pode receber contribuições do nervo obturatório, haja vista que frequentemente é observado dois ventres neste músculo, um anterior e outro posterior. Destaca-se que o pectíneo é considerado um músculo de transiçãoentre o compartimento anterior e medial da coxa, uma vez que os adutores (sendo o longo anteriormente e curto, posteriormente) estão bastante próximos a esse músculo. A literatura apresenta o músculo pectíneo como um flexor do quadril e rotador interno do fêmur, ou seja, movimento de rotação interna da coxa. Os pesquisadores Giphart et al (2012)1 observaram em seu estudo eletromiográfico os movimentos reabilitacionais que mais ativavam regularmente o pectíneo (e também o piriforme, mas esse será comentado oportunamente) e quais movimentos possuiam a maior taxa de ativação. De modo suscinto, constatou-se que os movimentos de flexão da coxa em decúbito dorsal, ou seja, deitados sobre uma maca ou no chão, possuiam grandes picos de ativação do pectíneo. Além disso, movimentos de flexão da coxa em pé, possuiam frequências da ativação moderadas. Esses resultados indicam que os trabalhos para o desenvolvimento do músculo pectíneo são melhores aproveitados em movimentos de flexão da coxa prescritos em decúbito dorsal. Figura 1: Músculo pectíneo (indicado pela seta). Localize em A o músculo sartório e B o músculo reto femoral. Vasos femorais podem ser devidamente identificados próximos ao pectíneo. Músculo Iliopsoas: Principal flexor do quadril Um grande músculo com origens variadas devido a constituição deste músculo ser feita por 1 Referência: Giphart JE. Et al. Recruitment and activity of the pectineus and piriformis muscle during hip rehabilitation exercises:; an eletromiography study. Am J Sports Med 2012. doi: 10.1177/0363546512443812. três músculos. Nesse sentido, fazem parte do iliopsoas o músculo psoas maior, psoas menor e ilíaco. Verifica-se que o iliopsoas é notável devido a sua disposição no contexto orgânico. Possui origens nas vértebras lombares e primeira sacral (psoas menor e maior), possui origem na fossa iliaca, estando, portanto, situado na pelve maior (músculo ilíaco) e sua inserção se dá no trocânter menor do fêmur (psoas maior e ilíaco) e no ramo superior do púbis (psoas menor). Outro aspecto de grande importância clínica é atribuído ao fato do músculo iliopsoas atuar na fase inicial da marcha (pré-balanço e balanço inicial) contribuindo com a contração concêntrica que flete a articulação do quadril e eleva o membro livre. Ainda, o músculo iliopsoas atua como um importante músculo postural, mantendo a curvatura lombar do indivíduo e de modo indireto a curvatura cifótica, quando o sujeito se encontra parado. Nesse sentido, caso o indivíduo possua um músculo iliopsoas desequilibrado em relação ao músculo do antímero contrário, poderá contribuir para poblemas posturais, tais como escoliose da coluna vertebral. Destaca-se que o músculo iliopsoas é formado pelo músculo iliaco (origem na fosse ilíaca), músculo psoas maior (origem nos corpos vertebrais, discos intervertebrais e processos transversos das vértebras lombares T12-L5), e pelo músculo psoas menor (origem nos corpos vertebrais e disco intervertebral de L1-L2). A inserção do músculo ilipsoas ocorre no trocânter menor do fêmur e sua principal ação é flexionar do quadril, sendo o principal flexor desta articulação. A inervação do iliopsoas é feita por ramos espinhais lombares e pelo nervo femoral (L2-L3). Em uma elegante revisão da literatura Christian Anderson2 descreve que estatísticamente são encontradas taxas altas de lesões no iliopsoas na população atlética, ou seja, em jovens que praticam exercício físico de modo profissional. As lesões mais comuns identificadas por esse pesquisador em sua revisão foram bursite do iliopsoas, tendinite do iliopsoas, impactos na articulação coxo-femoral que levam a microlesões no músculo iliopsoas e rompimento do tendão de inserção do músculo (esse mais raro que os de mais eventos encontrados pelo autor). O mesmo estudo verificou que movimentos fisioterapêuticos como flexão da coxa em diferentes planos, bem como estimulação da mobilidade do músculo podem contribuir, cada qual, com essas condições dolorosas que acometem o músculo. Figura 2: Músculo iliopsoas sendo evidênciado. Observe a seta branca indicando a origem (nas vértebras lombares) do músculo psoas maior e próximalmente do psoas menor. A seta verde indica a origem do músculo iliaco e a seta azul o músculo iliopsoas formado se direcionando para o trocânter menor do fêmur. Imagem obtida no google imagens e de fonte desconhecida. Músculo Sartório: O sinergista do membro inferior A origem do músculo sartório ocorre na espinha ilíaca ântero-superior. Sua inserção, por outro lado, se dá na face medial da tíbia, precisamente na epífise superior, bastante próximo a 2 Anderson CN. Iliopsoas: Pathology, Diagnosis, and Treatmente. Clin Sports Med 2016; 35(3):419-433. doi: 10.1016/j.csm.2016.02.009 tuberosidade da tíbia, no entanto medialmente a esse acidente característico e facilmente identificável. O sartorio percorre súpero-medialmente a coxa, por dentro de uma fáscia tendínea própria. Estando destacado dos outros músculos do compartimento da coxa, em peças cadavéricas normalmente se rebate o sartório para a observação da saída dos nervos femorais, logo abaixo do ligamento inguinal. A inervação do sartório é feita pelo nervo femoral (L2-L3) e suas ações são aplicadas a articulação do quadril e do joelho, sendo um auxiliar em ambas as condições, por isso um sinergista. Atua, portanto, fletindo,abduzindo e girando a coxa lateralmente na articulação do quadril e fletindo o joelho, mas sempre de modo sinergista aos músculos mais adequados a esses movimentos. Outro aspecto que deve ser lembrado pelo profissional e estudante da saúde é que o sartório se fixa em conjunto com o músculo grácil e semitendíneo (que serão comentados e descritos oportunamente) nessa área (região superior da face medial da tíbia) num tendão que recebe o nome de pata-de-ganso ou pes anserinus Figura 3: Evidênciando o músculo sartório. Setas brancas indicam o músculo sartório percorrendo de modo súpero- medialmente a coxa. A seta verde indica o local de sua inserção (face medial da tíbia, próximo a tuberosidade tibial e abaixo do côndilo medial) e pode-se identificar a relação tendínea da pata-de-ganso. Músculo Quadríceps Femoral: quatro origens uma inserção. O músculo quadríceps femoral possui uma constituição feita por quatro músculos, sendo o vasto intermédio (mais profundo), vasto lateral, vasto medial e reto femoral (mais superficial). Cada um desses músculos possui origens diferentes, sendo, desse modo, mais facilmente observadas na tabela 2. Músculo do Quadríceps Origem Reto Femoral Espinha Iliaca Ântero-Inferior e região abaixo dela; Vasto lateral Trocânter Maior e Lábio Lateral da Linha Áspera do Fêmur Vasto Medial Linha Intertrocantérica e Lábio Medial da Linha Áspera do Fêmur Vasto Intermédio Faces Anterior e Lateral do Corpo do Fêmur A fixação distal ou inserção é feita de modo comum (por meio do tendão do quadríceps) que se fixam na patela. Convém saber que os músculos vastos lateral e medial projetam retináculos em direção a patela para auxiliar na estabilização deste osso. Outro aspecto importante é a inervação do músculo, sendo feita pelo nervo femoral (L2, L3 e L4). As ações do quadríceps em conjunto é a extensão do joelho, sendo esse o principal extensor. Mas o reto femoral também auxilia na flexão do quadril, devido a sua origem ser no osso iliaco, e os vastos medial e lateral, conforme foi descrito, auxiliam na estabilização da patela. Muitos estudos são feitos para a identificação do comportamento motor e de frequência de ativação do quadríceps frente a diferentes movimentos físicos. Alguns deles, como o de Ruas et al (2018)3 buscam comparar movimento típicos para identificação da atividade neuromuscular. Nesse sentido, os pesquisadores deste elegante estudo objetivaram comparar três protocolos de ativação muscular concêntrica e excêntrica do quadriceps femoral e dos músculos isquiotibiais (que serão mencionadose descritos oportunamente). Para isso fizeram a seleção de 40 homens saudáveis que praticaram treinamento com pesos durante seis semanas (precisamente duas vezes por semana). Para verificar o comportamento dos músculos que os autores pretendiam avaliar, utilizaram um dinamometro isocinético, um aparelho científico altamente específico e muito utilizado por pesquisadores do mundo todo. Os indivíduos selecionados foram organizados em quatro grupos, sendo eles: CON/CON composto por 10 indivíduos; ECC/ECC também constituído por 10 indivíduos; CON/ECC constituído por 10 sujeitos e o grupo controle, consistindo em 10 pessoas sedentárias. Ao grupo CON/CON era proposto que os participantes realizassem movimentos concêntricos de quadríceps e concêntricos dos isquiotibiais. O Grupo ECC/ECC era proposto, por sua vez, que os participantes realizassem movimentos excêntricos de quadríceps e isquiotibiais. Quanto ao grupo CON/ECC era proposto movimentos movimentos concêntricos de quadriceps e excêntrico dos isquiotibiais4. A intensidade do treinamento foi aumentada a cada semana, bem como houve o aumento da angulação em 30º dos movimentos excêntricos a cada semana. O volume também foi modificado semanalmente, sendo uma série a mais por semana. As variáveis observadas foram o enrijecimento muscular, a qualidade muscular, ativação dos músculos, coativação dos músculos e o atraso eletromecânico dos músculos, sempre antes e após o treinamento. Os resultados indicaram que todos os grupos aumentaram as áreas musculares do quadríceps e dos isquiotibiais, entretanto os grupos que realizaram o movimento excêntrico em seu plano de treinamento obtiveram resultados mais significativo das variáveis observadas. Além disso, o movimento excêntrico parece apresentar resultados mais significativos na redução de atrasos eletromecânicos dos músculos, fato que poderia ocasionar em melhoras da estimulação muscular e redução de lesões em caso de praticantes de treinamento que se encontrem em estado próximos a fadiga periférica. Figura 4: Evidênciando o quadríceps femoral. A indica o reto femoral. B apresenta o vasto medial. C indica o músculo 3 Ruas CV, Brown LE, Lima CD, Gregory Haff G, Pinto RS. Different Muscle Action Training Protocols on Quadriceps – Hamstrings Neuromuscular Adaptations. Int J Spors Med 2018; 39(5):355-365. doi: 10.1055/s-0044- 100391. 4 Movimentos concêntricos consistem em movimentos nos quais o sujeito deverá encurtam as fibras dos músculos que estão realizando o gesto, no caso deste estudo seria o movimento de extensão do joelho. O movimento excêntrico, por sua vez, é o alongamento das fibras que compõem os músculos que fazem o gesto. No caso deste estudo, seria a flexão do joelho. Perceba que os movimentos executados de extensão do joelho e flexão do joelho alternam entre si como concêntrico e excêntrico, alternando com o isso o músculo agonista para tais ações. Ora o quadríceps, ora os isquiotibiais. vasto lateral. Seta verde apresenta o tendão do quadríceps. Uma vez que você compreenda a anatomia e as relações anatômicas e funcionais, portanto cinesiológicas, do compartimento anterior da coxa, poderá prosseguir em seus estudos para o compartimento medial e o detalhamento topográfico desta região. Compartimento Medial da Coxa O compartimento medial da coxa, também nomeado de uma perspectiva motricional de compartimento adutor, é uma importante área do membro inferior. Sua importância se associa a diversos movimentos que extrapolam a sua denominação biomecânica/cinesiológica. Neste sentido, identifica-se que o compartimento medial da coxa também auxilia na estabilização da patela, bem como na flexão do joelho. Não obstante, seu adequado fortalecimento previne desequilíbrios musculares que podem ocasionar em comprometimento das duas articulações envolvidas com a região femoral, o quadril e o joelho. Fazem parte do compartimento medial da coxa os músculos obturador externo, adutor curto, adutor longo, adutor magno e o grácil. Além deles, observa-se nessa área, medial da coxa, o nervo obturatório (os ramos que o compõem – anterior e posterior), o ramo profundo da artéria femoral (percorrendo por cima dos músculos adutores curto, longo e pectíneo (que não faz parte do compartimento medial mas se trata de um músculo de transição), verifica-se também a veia femoral e a safena magna (essa percorrendo fora da fáscia muscular que reveste a coxa, fascia lata). O enfoque deste conteúdo literário se atribui a uma perspectiva do aparelho locomotor, portanto, serão discutidos em detalhes os músculos, mas sem o devido direcionamento da atenção as de mais estruturas presentes nessa região. Músculo adutor curto O músculo adutor curto é um pequeno músculo localizado no compartimento medial da coxa. Sua origem ocorre no ramo inferior do púbis e sua inserção se dá no lábio medial da linha áspera do fêmur. A inervação é feita pelo nervo obturartório, precisamento o ramo anterior deste. Sua ação é adução do fêmur em relação a articulação coxo-femoral, ou seja, a articulação do quadril. Deste modo, observa-se que este músculo contribui com os movimentos executados durante exercícios nos quais o indivíduo pressiona uma bola de ginástica entre suas coxas. Músculo adutor longo O músculo adutor longo tem sua origem no ramo superior do púbis e uma inserção que ocorre ao longo de quase toda a extensão do lábio lateral da linha áspera do fêmur. Devido a essa sua área de inserção ser maior, o adutor longo acaba escondendo em peças cadavéricas o adutor curto, haja vista que esse se encontra inferiormente ao adutor longo (observe que a origem do adutor curto o coloca em posição inferior). O nervo no qual inserva o adutor longo é o ramo anterior do nervo obturatório e sua ação é adução. O adutor longo pode ser testado em verificações ou exames de anatomia palpatória. Para isso, recomenda-se que peça ao cliente, aluno ou paciente que realize uma adução sentado em posição ortostática, enquanto que o examinador posiciona seus dedos indicador e médio sobre o local de origem do músculo. Todavia, devido a proximidade desta origem com os órgãos externos do aparelho genital, convém aplicar essa avaliação apenas em casos extremos ou em situações de mesmo sexo entre o avaliador e o avaliado. Músculo adutor magno O músculo adutor magno tem sua origem na região do túber isquiático e sua inserção ocorre em dois locais, uma no tubérculo do adutor na região superior do epícondilo medial e outra na linha áspera do fêmur (face posterior). Logo, sua ação principal é aduzir a coxa, todavia também contribui com os músculos posteriores da coxa na flexão da articulação do joelho (reduzindo o ângulo da articulação e tracionando a perna para próximo do compartimento posterior). A inervação do adutor magno é feita pelo ramo tibial do isquiático, haja vista que contribui com os músculos do compartimento inervado de modo majoritário por este nervo, e também pelo nervo obturatório. Músculo obturador externo O pequeno músculo obturador externo tem sua origem no ramo inferior do púbis, precisamente no forame obturado (na margem inferior) e na membrana obturadora, segue sentido lateral e se insere na fossa trocantérica, uma depressão próxima ao trocanter maior. Sua inervação é feita pelo nervo obturatório e sua ação consiste em rotacionar lateralmente a coxa e estabilizar a cabeça do fêmur no acetábulo. Músculo grácil O extenso músculo grácil é o mais fraco dos adutores, sendo esse um músculo de referência topográfica bastante importante, haja vista que se insere na face medial do côndilo medial da tíbia, em conjunto com o músculo semitendíneo e sartório (pata-de-ganso). Sua origem ocorre no ramo inferior do púbis. Sua inervação é feita pelo nervo obturatório e suas ações são adução da coxa e auxilio na rotação medial da coxa. Todavia, devido a sua inserçãona pata-de-ganso, também pode contribuir de modo sinérgico com o músculo semitendíneo, na flexão da perna (flexão do joelho). Relações Clínicas e Práticas: Praticantes de hipismo podem desenvolver lesões no músculo adutor longo, devido a contração isométrica que impõem constantemente a esse músculo. Nesse sentido, já foram documentados casos de pessoas que desenvolvem calcificações dos tendões do músculo adutor longo, tornando o movimento de adução da coxa bastante reduzido e doloroso. Compartimento Posterior da Coxa O compartimento posterior da coxa é constituído por três músculos de ventres musculares fortes e carnosos. A origem desses músculos ocorre em um ponto bastante próximo, no osso ísquio, e suas inserções variam, estando de cada lado da articulação do joelho para auxiliar no tracionamento desta grande e importante articulação. A inervação também é feita de modo compartilhado, por ramos que derivam do grande nervo isquiático. A peculiaridades de cada músculo serão descritas nos respectivos itens dedicados a descrição topográfica deles. Músculo bíceps femoral Como a nomenclatura do músculo já preconiza, o músculo bíceps femoral possui duas cabeças, uma longa e outra curta. A origem da cabeça longa se dá no túber isquiático, a origem da cabeça curta ocorre no lábio lateral da linha áspera do fêmur. A inserção do músculo é única, sendo que os ventres se reunem durante o trajeto inferior que segue até a face lateral da cabeça da fíbula. Convém observar que o tendão de inserção é dividido em dois pelo ligamento colateral fibular que percorre do epicôndilo lateral do fêmur até a cabeça da fíbula também. A inervação é feita pelo ramo tibial do nervo isquiático e as suas ações são: • Flexão da articulação do joelho; • rotação externa da perna quando o membro está livre. Essa rotação só ocorre quando o membro está fletido. Músculo semitendíneo A origem do semitendíneo também ocorre no túber isquiático, precisamente no mesmo local em que o bíceps femoral se origina (cabeça longa do bíceps femoral). Sua inserção ocorre na face medial do côndilo medial da tíbia, em conjunto com os músculos sartório e grácil, ou seja, na pata- de-ganso. Sua inervação é feita pelo ramo tibial do nervo isquiático e sua ação é flexionar a articulação do joelho, além de auxiliar na rotação medial da tíbia quando a articulação do joelho está fletida. Músculo semimembranáceo A origem do semimembranáceo ocorre também no túber isquiático e sua inserção na face posterior do côndilo medial da tíbia. Sua inervação é feita pelo ramo tibial do nervo isquiático e sua ação é de flexionar o joelho e rotacionar a tíbia medialmente, assim como o semitendíneo. Normalmente pode-se confundir os três músculos do compartimento posterior da coxa ao se visualizar em peças cadavéricas ou em peças de estudo anatômico, haja vista a semelhança aparente que possuem. Todavia, convém indicar que o músculo bíceps femoral segue sentido lateral, enquanto que o semitendíneo medial. O semimembranáceo está inferior ao semitendíneo, fatos esses que podem auxiliar ao estudante e profissional durante e identificação topográfica. Região da Perna Introdução Posteriormente o estudo atencioso a articulação do joelho, haja vista que essa se encontra superiormente a área descrita nesta sessão, bem como se trata de uma articulação que tem diretas relações com os ossos e acidentes da perna, principalmente os acidentes proximais. Nesse sentido, será extensamente discutido ao longo desta sessão a região da perna, bem como os processos infecciosos que a acomentem, as lesões esportivas recorrentes e os traumas comuns. Para isso, inicialmente serão descritos os ossos que estão localizados nesta região, tíbia e fíbula, bem como os acidentes mais importantes de serem apresentados. Posteriormente, serão os músculos e os seus respectivos nervos serão descritos, sem deixar de lado as suas ações em contextos práticos. Após essas descrições, as articulações do tornozelo, tibiofibular e a sindesmose tibifibular serão apresentadas e minuciosamente descritas. Por fim os vasos que estão nessa região, haja vista o grande número de pessoas que possuem acometimentos vasculares na perna. Generalidades A perna está localizada no membro inferior, precisamente entre as articulações do joelho e do tornozelo, proximal e distal, respectivamente. A constituíção óssea da perna é feita por dois ossos classificados como longos, a tíbia e a fíbula. Entre esses ossos pode-se identificar três estruturas articulares de grande importância, sendo a articulação tibiofibular (superior), a membrana interóssea (localizada entre as diafises dos ossos) e a sindesmose tibiofibular (inferiormente). Cada uma dessas articulações são reforçadas por ligamentos potentes e que resistem aos movimentos contrários as direções dos feixes colagenosos dos tecido conjuntivo deste local. Ainda, na região da perna indentifica-se a passagem de importantes estruturas vasculares, tais como a artéria tibial e fibular, com seus ramos anterior, posterior, recorrentes e maleolares, além da veia safena magna. Não obstante, nessa região o nervo isquiático já está bifurcado e passa a ser nervo tibial e nervo fibular comum, sendo ainda que este último se divide mais uma vez, pelo menos, em nervos fibular superficial e profundo. De uma perspectiva mecânica a região da perna é submetida a cargas compressivas com bastante frequência, haja vista que o peso corporal é transmitido do quadril para a tíbia e dessa para a articulação do tornozelo, precisamente ao tálus (osso do tarso). Assim, convém adiantar que o detalhamento dessa importante articulação sinovial do tipo gínglimo (tornozelo) também será um dos tópicos a serem aprofundados nesta sessão. Atualmente existem mais de 159 mil estudos que dissertam a respeito da região da perna5 e não se espera esgotar o tema relacionado a essa área. Todavia, a anatomia detalhada dos ossos, articulações, músculos e a biomecânica envolvida com a perna, será dada uma extensão atenção e busca de maior aprofundamento teórico. Tíbia: O segundo ossos mais longo do corpo humano A tíbia é o osso mais volumoso da perna. Possui duas extremidades, sendo a superior relacionada com o joelho, e uma inferior, envolvida com a articulação do tornozelo. As extremidades da tíbia possuem largura maior que a diafise do osso. Todavia, a extremidade superior é mais larga que a inferior. Na extremidade superior da tíbia pode-se identificar duas formações ósseas proeminentes, os côndilos tibiais. Os côndilos tibiais, sendo um lateral e outro medial, estão envolvidos com a articulação do joelho, haja vista que superiormente nos côndilos é possível identificar as faces articulares da tíbia (faces articular superior lateral e medial – faceta articular).As facetas articulares possuem uma aparência lisa e servem para a relação dos côndilos femorais e dos meniscos da articulação do joelho. As porções centrais das facetas articulam-se com os côndilos femorais e as porções periféricas com os meniscos. Ao se observar em uma vista superior, identifica-se entre as facetas articulares duas 5 Verificado no dia 24 de março do ano de 2020 na plataforma PUBMED utilizando a palavra-chave "leg" proeminências ósseas, os tubérculos intercondilares. O tubérculo intercondilar medial está próximo a faceta articular do côndilo medial, enquanto que o tubérculo intercondilar lateral está próximo a face articular do côndilo lateral. Adiante e posteriormente aos tubérculos intercondilares pode-se observar duas leves depressões, nomeadas de áreas intercondilares anterior e posterior, respectivamente. Nesses locais, nas áreas intercondilares, se originam os ligamentos cruzados (ligamentos intra-articulares) do joelho. Em uma vista anterior constata-se que a tíbia possui uma margem medial que percorre o osso anteriormente,dividindo-o em duas faces, medial e lateral. A face medial está voltada para a área mediana do corpo, quando se analisa em posição anatômica. A face lateral, por sua vez, está voltada para a fíbula (osso da perna localizado lateralmente). Ainda observando o osso em uma vista anterior, constata-se que há uma elevação óssea sensível, inclusive, em palpação anatômica, a tuberosidade tibial. Nesse local, tuberosidade tibial, se insere o tendão patelar. Lateralmente a tuberosidade tibial encontra-se o "tubérculo de Gerdy", na área do côndilo lateral. Nesse tubérculo o trato iliotibial se insere. Mais lateralmente ao tubérculo de Gerdy, encontra-se a fóvea que se articula com a cabeça da fíbula. Medialmente, em uma vista posterior, pode-se observar o sulco para a inserção do músculo semimembranáceo. Posteriormente observa-se na tíbia uma proeminete linha óssea, nomeda de linha para o músculo sóleo, local de fixação deste músculo. Além disso, pode-se observar, também em vista posterior, Na região distal da tíbia destaca-se a formação do maleolo medial, um acidente importante que será discutido em maior detalhamento na articulação do tornozelo, adiante neste material. Convém apresentar que a tíbia por ser um osso longo possui em sua diafise um canal medular, local em que a medula óssea amarela está protegida. A medula óssea amarela é um importante órgão que está relacionado com a manutenção dos elementos sanguíneos, principalmente as células imunológicas (precursores dos linfócitos e leucócitos), eritrócitos e magacariócitos (precursores das plaquetas). A tíbia é nutrida pelo ramo nutrício da artéria tibial posterior, que se origina da artéria poplítea. Fíbula: O osso longo mais delgado A fíbula é o osso longo mais delgado do corpo humano. Sua posição na perna está precisamente póstero-lateralmente a tíbia. Não possui finalidades de recepção do peso corporal, apenas de fixação de músculos envolvidos com o movimento do pé. Destaca-se que a fíbula se mantém unida a tíbia por meio da articulação tibiofibular (superior), membrana interóssea e da sindesmose tibiofibular6. A cabeça da fibula se articula com a tíbia em uma região foveal no côndilo lateral da tíbia. Nesse local indentifica-se uma articulação sinovial plana, na qual o movimento é bastante reduzido. Essa articulação é nomeada de articulação tibiofibular (superior) e sua cápsula articular é reforçada pelos ligamentos anterior e posterior da cabeça da fíbula. Não obstante, posteriormente a essa articulação o tendão do músculo poplíteo percorre, por meio do recesso poplíteo da articulação do joelho7. Em sentido inferior, observa-se o colo da fíbula, logo abaixo da cabeça. O corpo do osso ou a diafise dele, segue póstero-lateralmente à tíbia e se relaciona novamente com ela na epífise distal desses óssos, por meio da incisura fibular da tíbia. Após isso, a fíbula forma o maleolo lateral, uma importante estrutura que será descrita em detalhes adiante neste material. Por todo o comprimento do osso a relação com a tíbia é feita por meio da membrana interóssea. Na área da incisura fibular da tíbia, a articulação tibiofibular inferior, precisamente a sindesmose tibiofibular pode ser verificada. Nessa articulação encontra-se três importantes ligamentos que conectam os ossos firmemente, sendo o ligamento tibiofibular anterior, ligamento tibiofibular posterior e ligamento 6 Alguns autores consideram a membrana interóssea como parte da sindesmose. Enquanto que outro as descrevem separadamente. Neste material serão descritas em conjunto. 7 Por estar tão próximo a articulação tibiofibular superior, pode haver conexões entre o recesso poplíteo e essa articulação. 20% dos casos se mostram conectados. Infecções ou processos patológicos podem migrar de um local para o outro por meio dessa relação. interósseo. Por se tratar de uma articulação fibrosa, a sindesmose tibiofibular tem movimento bastante reduzido. Logo, verifica-se que movimentos anteriores são inviáveis nesta articulação, apenas movimentos discretos em sentido superior, precisamente durante a dorsiflexão total da articulação do tornozelo. Destaca-se que na face lateral da cabeça da fíbula o músculo bíceps femoral se insere, tendo bifurcado o seu tendão pelo ligamento colateral fibular. Ainda, ao longo de todo o corpo da fíbula e da membrana interóssea, os músculos do compartimento lateral, anterior e posterior da perna se fixam. A fíbula tem relações vasculares com o ramo circunflexo fibular (na área do colo do osso) e com a artéria fibular. Articulações da perna A perna se relaciona com as grandes articulações do joelho e do tornozelo, todavia há articulações menores que também são importantes e estão localizadas nesta área. Logo, conforme já fora descrito em capítulo exclusivo a articulação do joelho, serão aprofundadas as outras articulações da perna neste momento do material. Articulação tibiofibular A articulação tibiofibular está localizada entre a cabeça da fibula e a fóvea da tíbia, a qual se encontra na área lateral do côndilo lateral desse último osso. Se trata de uma articulação sinovial plana, com movimento bastante restrito e condicionado as articulações talocrural (tornozelo) e a sindesmose tibiofibular. Por se tratar de uma articulação sinovial, identificam-se elementos básicos desse tipo de articulação, tais como: • Cápsula articular: constituída de membrana sinovial (interna) e membrana fibrosa (externa). A Membrana sinovial secreta o liquido sinovial, importante na lubrificação e na nutrição da articulação. A membrana externa, fibrosa, serve de local de fixação tendínea e ligamentar. A cápsula articular contém e reveste os outros elementos articulares. • Ossos revestidos por Cartilagem Articular: Esse importante elemento das articulações sinoviais tem funções de proteção das extremidades ósseas, melhora da dispersão das cargas e também adequada distribuição dessa. Além disso, por ser um local pouco vascularizado, auxiliam na nutrição das extremidades ósseas, além de permitir o movimento com maior facilidade. Esse material é constituído por cartilagem hialina. • Liquido sinovial: o liquido sinovial é produzido pelas células da membrana sinovial, precisamente pela camada de células de revestimento, da cápsula articular. Secretado na cavidade articular e responsável pela nutrição e lubrificação, devido a sua origem ser um dialisado sanguíneo e constituição derivada de ácido hialurônico. Logo, também atua na melhora do movimento por redução do atrito entre as cartilagens articulares. Não obstante, o liquido sinovial também atua na absorção e distribuição adequada das cargas, sendo um importante responsável por essa tarefa em movimentos lentos da articulação. • Cavidade articular: constituída a partir das pregas que a membrana sinovial (cápsula articular) faz ao revestir a articulação, salvo os locais em que há cartilagem articular. • Discos e Bolsas Sinoviais: os discos são estruturas constituídas por uma fibrocartilagem externa nas quais atuam na melhora do encaixe por adaptar as superfícies dos ossos que se articulam. As bolsas armazenam e secretam o líquido sinovial armazenados. • Ligamentos: São estruturas constituídas de tecido conjuntivo fibroso, com baixa capacidade elástica e capacidade de resistência a tração considerável. Atenta-se que os ligamentos conectam os ossos a outros ossos, principalmente quando se estuda a anatomia do aparelho locomotor8 8 Ao se estudar o sistema urogenital feminino irá ser identificado o ligamento largo do útero, no qual conecta o úteo (um órgão) a parede da cavidade pélvica, relacionado também a tuba uterina e o ovário ao longo de sua trajetória. No caso da articulação tibiofibular (superior) a cápsula articular que reveste os ossos que se articulam (cabeça da fíbula e fóvea no côndilo lateral da tíbia) é fortementerevestida externamente, ou seja, em sua membrana fibrosa, pelos ligamentos anterior e posterior da cabeça da fíbula. Como mencionado anteriormente, os movimentos dessa articulação são bastante reduzidos e estão condicionados ao movimento da articulação talocrural. Todavia, ao se realizar a máxima dorsiflexão, é possível sentir a elevação da cabeça da fíbula na articulação tibiofibular. A inervação desta articulação é feita pelos nervos para o músculo poplíteo, haja vista que o tendão desse músculo percorre posteriormente a articulação tibiofibular e segue sentido côndilo lateral do fêmur, e pelo nervo fibular comum, muitas vezes pelo nervo fibular superficial. Articulação fibrosa: Sindesmose tibiofibular A articulação fibrosa composta denominada sindesmose tibiofibular une distalmente a fíbula à tíbia, por meio da incisura fibular que está localizado no osso mais anterior desses dois. Compreende-se que, devido ser uma articulação fibrosa, portanto de baixa mobilidade, o movimento dessa articulação é modesto. Ainda, observa-se que os ligamentos tibiofibular anterior, tibiofibular posterior e principalmente o ligamento tibiofibular interósseo, são importantes conexões que estabilizam essa articulação. Destaca-se também que o movimento da articulação tibiofibular (superior) só é possível devido ao adequado movimento dessa articulação (sindesmose). O suprimento sanguíneo dessa articulação é feito pelo ramo perfurante da artéria fibular (que percorre pelo hiato menor, localizado inferiormente na membrana interóssea que conecta a margem medial da fíbula com a margem lateral da tíbia). A inervação é feita pelos nervos fibular profundo, tibial e safeno (que percorre superficialmente a articulação e também toda a perna). Articulação talocrural: Articulação do tornozelo A articulação talocrural ou articulação do tornozelo é uma articulação sinovial do tipo gínglimo, também nomeada de articulação de dobradiça. Está localizada entre as extremidades distais da tíbia e da fíbula e relacionando com a tróclea do tálus (osso do tarso). A articulação do tornozelo possui uma mobilidade interessante, sendo muito móvel no movimento de flexão plantar e menos no movimento de dorsiflexão. De uma perspectiva cinesiológica observa-se que isso ocorre devido as faces articulares desta articulação. Logo, percebe-se que a trócela do tálus, região superior desse osso do tarso, possui uma área anterior muito mais volumosa que a sua área posterior. Não obstante, a face lateral dessa trócela se relaciona com a face medial do maleolo lateral (que pertence a fibula), enquanto que a face medial da trócle se relaciona com a face medial do maleolo medial (que pertence a tíbia). Ainda, a tíbia, por meio de sua face articular inferior, se relaciona com o corpo da tróclea, de tal modo que se assemelha ao teto da cavidade articular que se forma por meio dessa relação. Os maleolos seguram firmemente a tróclea quando o indivíduo realiza o movimento de dorsiflexão, uma vez que ao rotacionar em sentido posterior, a região anterior da trócle se encaixa de modo firme contra as paredes mediais dos maleolos lateral e medial. Todavia o mesmo não ocorre em movimento de flexão plantar. Logo, ao realizar esse movimento, percebe-se que a região posterior da tróclea é menos volumosa, deixando um espaço virtual na articulação9, fato que corrobora com um alto indice de lesões durante esse gesto. A cápsula articular do tornozelo é fina em sua área anterior e em sua área posterior. Porém, bastante reforçada em suas laterais. Neste sentido, verifica-se que os ligamentos colateral medial e colateral lateral realizam um importante papel de estabilizadores dessa articulação. Ligamento colateral lateral: constituído pelos ligamentos talofibular anterior, talofibular posterior e calcâneofibular. Suas conexões entre o maleolo lateral com o talús e com o calcâneo fazem esse ligamento o reforço lateral da articulação talocrural. Normalmente movimento repentinos de inversão do pé durante o gesto de flexão plantar ocasionam em lesões no ligamento talofibular anterior. 9 Que pode ser sentido com movimento curtos de abdução e adução ou até mesmo circundução do tornozelo Ligamento colateral medial: Constituído pelo ligamento deltóideo, que possui quatro porções importantes: • Porção tibionavicular: conectando o maleolo medial com o osso navicular (osso do tarso); • Porção tibiotalar anterior: conectando o maleolo medial com o tálus, precisamente com a cabeça do osso. • Porção tibiotalar posterior: conectando o maleolo medial com o tálus, precisamente com os tubérculos do tálus. • Porção tibiocalcânea: conectando o maleolo medial com o calcâneo. O ligamento colateral medial é mais forte e resistente que o ligamento colateral lateral. Músculos da perna: Após o entendimento detalhado das estruturas esqueléticas e articulares da perna, o estudo dos elementos musculares se torna facilitado. Isso ocorre pois, uma vez que as origens desses ocorre em locais já apresentados durante a descrição dos ossos e das suas relações. A perna possui três compartimentos organizados pela fáscia de revestimento que se aprofunda formando séptos musculares. Logo, os compartimentos da perna podem ser classificados do seguinte modo: • Compartimento anterior ou dorsiflexor; • Compartimento posterior ou flexor plantar; • Compartimento lateral ou eversor. Esses compartimentos possuem músculos importantes com a movimentação da articulação talocrural, sendo assim, descritos de modo detalhado a seguir. Compartimento anterior da perna O compartimento anterior, também nomeado de compartimento dorsiflexor, está localizado entre as faces lateral da tíbia e medial da fíbula, repousando anteriormente a membrana interóssea da articulação fibrosa deste local (sindesmose tibiofibular). Devido ao seu posicionamento em um local bastante estreito, além de estar firmemente pressionado pela fáscia da perna (após a tela subcutânea), esse compartimento é bastante suscetível a síndromes compartimentais (principalmente atletas de endurance que percorrem longas distâncias). Inferiormente a essse compartimento, pode-se verificar dois retináculos que envolvem os tendões dos músculos presentes neste local. O retináculo superior é nomeado de retináculo superior dos músculos extensores, enquanto que o retináculo inferior é nomeado de retináculo inferior dos músculos extensores (esse já repousa uma grande parte de seu conteúdo sobre o dorso do pé). Músculo tibial anterior Considerado o músculo mais delgado e está situado bastante próximo a face lateral da tíbia. O tendão longo do tibial anterior se inicia logo na metade do trajeto inferior deste músculo, passando profundamente nos retináculos superior e inferior dos extensores. Deste modo, por estar mais distante do eixo articular do tornozelo, esse músculo é considerado o mais potente dorsiflexor do tornozelo. Sua origem ocorre no côndilo lateral e na metade superior da face lateral da tíbia, além de também se originar na membrana interóssea. Seu tendão longo e delgado se insere nas faces medial e inferior do cuneiforme medial (osso tarsal) e na base do 1º metatarso (começo do hálux) . A inervação deste músculo é feita pelo nervo fibular profundo (L4 e L5). Suas ações são a dorsiflexão, já descrita, e também inversão do pé. Atletas de endurance podem sofrer de uma síndrome denominada síndrome do estresse tibial. Essa disfunção ocorre devido a uma alta carga de treinamento e uma baixa recuperação. Deste modo, o músculo tibial anterior sofre microlesões progressivas que podem ocasionar na difusão de moléculas pró-inflamatórias pelo compartimento anterior da perna. Conforme foi descrito, o compartimento anterior está pressionado contra a fáscia da perna e entre as faces lateral da tíbia e medial da fíbula,fato que ocasiona em difusão dos metabólitos. Essas moléculas alcançam o periósteo do tecido esquelético local e leva a um processo doloroso, sentido pelo atleta no início da prática e que se potencializa conforme o movimento repetitivo. Alguns exercícios podem ser prescritos para atenuação deste quadro, além de aplicação de gelo no local e repouso. Figura 3: Perna vista anterior. Seta preta indicando o músculo tibial anterior. Observe o tendão deste músculo percorrendo inferiormente ao retináculo superior dos extensores e seguindo em direção a face dorsal do cuneiforme medial e a base do primeiro metatarso. Músculo extensor longo dos dedos O músculo extensor longo dos dedos é o mais lateral dos músculos do compartimento anterior da perna. Possui três locais de origem, sendo uma pequena parte no côndilo lateral da tíbia, a maior parte na face medial da fíbula e o restante na região superior da membrana interóssea. Segue sentido inferior e pouco antes de alcançar o tornozelo emite quatro tendões que se fixam nas falanges distais dos quatro dedos laterais (somente o hálux que não). Sua inervação é feita pelo nervo fibular profundo e suas ações são extender os dedos (quatro que se insere) e auxiliar na dorsiflexão. O teste para verificar o músculo extensor longo dos dedos consiste em pressionar levemente os dedos nos quais seus tendões se insere, os quatro laterais, e pedir ao avaliado que realize a contração ou, mais adequadamente, a extensão dos dedos. Figura 4: Músculo extensor longo dos dedos indicado pela seta branca. Observe que está lateralmente em relação ao músculo tibial anterior (figura 3). Observe que esse músculo possui vários tendões que se inserem nas bases (faces ventrais) dos ossos metatarsos 2 a 5. Músculo extensor longo do hálux Situado entre o músculo tibial anterior e o músculo extensor longo dos dedos. Sua origem ocorre no terço médio da face anterior da fíbula e na membrana interóssea. Sua fixação se dá na face dorsal da base da falange distal do hálux. Sua inervação também é feita pelo nervo fibular profundo e sua ação é a extensão do hálux e auxílio na dorsiflexão. Músculo fibular terceiro Se origina no terço inferior da face anterior da fíbula e na membrana interóssea. Sua inserção ocorre no dorso da base do 5º osso metatarsal. O nervo fibular profundo também o inerva e sua ação é auxiliar na dorsiflexão. Compartimento lateral da perna O compartimento lateral da perna é o menor dos compartimentos dessa região. Limitado pela face lateral da fíbula e pela fáscia da perna, seu limite inferior ocorre no retináculo superior dos extensores, uma vez que essa estrutura de tecido cojuntivo se extende da fibula até o calcâneo. Convém observar que os dois músculos deste compartimento possuem seus tendões passando posteriormente ao maleolo lateral, utilizando esse acidente ósseo como uma polia. Músculo fibular longo É o maior dos dois músculos do compartimento lateral. Sua origem ocorre na cabeça e nos dois terços superiores da face lateral da fíbula e sua inserção se dá na base do 1º metatarsal e no cuneiforme medial. A inervação deste músculo é feita pelo nervo fibular superficial. Suas ações são auxilio na flexão plantar e eversão do pé. Figura 5: Músculo fibular longo indicado pela letra A. Seta branca aponta o maleolo lateral, local na qual o tendão do fibular longo (e também do curto) percorre posteriormente e seguindo para os seus locais de fixação distal. Músculo fibular curto A origem do menor músculo do compartimento lateral da perna é nos dois terços inferiores da face lateral da fíbula. Sua inserção ocorre na face dorsal da tuberosidade do 5º metatarso. Sua inervação é feita pelo nervo fibular superficial e sua ação é auxiliar na flexão plantar e eversão do pé. Os músculos do compartimento lateral podem ter sua inervação (nervo fibular superficial) comprometida com grande frequência em caso de traumar na região da cabeça da fíbula ou do colo da fibula. Isso ocorre pois o nervo fibular comum, ramo principal, se bifurca em nervos fibulares superficial e profundo logo após passar pelo colo da fíbula, sendo que o nervo fibular superficial continua seu trajeto de modo bastante aproximado da superfície, enquanto que o nervo fibular profundo, por sua vez, penetra pelo hiato superior da membrana interóssea tibiofibular e segue inferiormente para inervar os músculos do compartimento anterior da perna. Compartimento posterior da perna O compartimento posterior da perna, também nomeado de compartimento flexor plantar, pode ser considerado o mais volumoso dos três compartimentos. Isso ocorre devido a presença de vários músculos, sendo, inclusive, organizados em camadas. A camada superficial é constituída pelos potentes flexores plantares sóleo, plantar e gastrocnêmio. A camada profunda é constituída pelos músculos poplíteo, flexor longo do hálux, flexor longo dos dedos e tibial posterior. A seguir serão descritos cada uma dessas estruturas, com suas respectivas origens, inserções, inervações e ações musculares. Camada superficial de músculos do compartimento posterior da perna Essa camada é constituída pelos grandes músculos sóleo e gastrocnêmio, conjuntamente com o pequeno músculo plantar. Figura 6: Compartimento posterior (músculos superficiais, salvo o plantar). Seta branca apresenta o músculo sóleo. Seta verde o músculo gastrocnêmio e seta amarela o tendão calcâneo seguindo para inserir esses músculos na face posterior do osso calcâneo. Músculo gastrocnêmio Um potente músculo constituído por dois ventres. Um ventre nomeado de cabeça lateral e outro de medial. O ventre lateral tem sua origem na face lateral do côndilo lateral do fêmur. O ventre medial se origina superiormente ao côndilo medial ( ambos na face posterior do fêmur). A inserção é conjunta, no grande e potente tendão calcâneo. O tendão calcâneo se fixa na face posterior do osso de mesmo nome. A inervação é feita pelo nervo tibial (S1 e S2). A ação do gastrocnêmio é realizar a flexão plantar do tornozelo, sendo essa condicionada a situações nas quais o joelho está em extensão. O gastrocnêmio é um importante músculo envolvido no movimento de elevação do calcanhar durante a fase de balanço da marcha. Músculo sóleo A origem do sóleo ocorre de modo a iniciar na face posterior da cabeça da fíbula, percorrer pelo terço proximal da face posterior da fíbula e seguir até a linha para o músculo sóleo e na margem medial da tíbia. Sua inserção também ocorre no tendão calcâneo. A inervação é feita pelo nervo tibial e sua ação é a flexão plantar, independente do posicionamento do joelho durante esse movimento. Ainda, o músculo sóleo auxilia na estabilização do tornozelo10 Músculo plantar Esse músculo de ventre pequeno e tendão delgado tem sua origem na linha supracondilar do côndilo lateral do fêmur, assim que percorre por cima da cáspula articular do joelho, aproximadamente na altura da fossa intercondilar, começa a emitir feixes tendíneos que se converem num delgado tendão que se percorre por cima do músculo sóleo até se inserir no tendão calcâneo. A inervação é feita pelo nervo tibial e sua ação é auxiliar os outros dois músculos na flexão plantar. Músculos profundos do compartimento posterior da perna Músculo poplíteo Sua origem ocorre na face posterior da tíbia, superiormente a linha para o músculo sóleo. Sua inserção se dá na face lateral do côndilo lateral do fêmur, próximo ao epicôndilo lateral. Sua inervação é feita pelo nervo tibial e sua ação é fletir fracamente o joelho (auxiliar na flexão da articulação) e girar medialmente a tíbia quando essa não está apoiada, ou seja, livre de cargas. Músculo flexor longo do hálux Origem do músculo flexor longo do hálux ocorre nos dois terços distais da face posterior da fíbula e se aproxima da membrana interóssea. Sua inserção ocorre na face dorsal da base da última falange do hálux (falange distal). Sua inervaçãoé feita pelo nervo tibial e sua ação e flexionar o hálux, como seu nome já estipula. Músculo flexor longo dos dedos Origem na face posterior da tíbia e sua inserção ocorre na face dorsal da base das falanges distais dos quatro dedos laterais. Sua inervação é feita pelo nervo tibial e sua ação é flexionar os dedos (os quatro em que se insere). Músculo tibial posterior Origina-se na face posterior da fíbula, na membrana interóssea da sindesmose tibiofibular e na face lateral da tibia. Sua inserção é vasta, sendo esse um músculo policaudado. Logo, tem suas fibras tendíneas se inserindo nas faces dorsais do cuneiforme (medial, intermédio e lateral), bem como nas bases (faces dorsais das bases) dos 1-4 metatarso, além de se inserir no osso navicular (tuberosidade) e em alguns casos no osso cubóide (sempre na face voltada para a planta do pé). Sua inervação é feita pelo nervo tibial e sua ação é auxiliar na flexão plantar e na inversão do pé (em conjunto com o tibial anterior). 10 Ajudando os ligamentos colateral lateral e medial nessa função.
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