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Vou lhe contar uma história. É escura. É brutal. É real pra caralho. Para entender meu presente, quem eu sou e o que eu me tornei... Você precisa entender meu passado. O mal nem sempre se esconde nas sombras, na escuridão. Na maioria das vezes, está fora ao ar livre, em plena vista. Possuindo o homem que menos esperaria. Sabe, eu nunca imaginei outra vida até eu fazer uma para mim. Naquele tempo, eu estava muito longe, engolfado em nada além de escuridão sombria. Exatamente como era para ser. Ninguém poderia me tocar. Ninguém fodia comigo. Eu. Era. Invencível. Nada mais… Nada menos. Quando eu sonhei com o amor verdadeiro - de almas gêmeas, minha outra metade dela - a crueldade da minha vida iria me levar de volta para a minha realidade, se tornando, apenas isso mesmo, um sonho. Um que poderia facilmente se transformar em um pesadelo. Meu pior pesadelo. Toda memória, o bom, o ruim, o meio termo. Todos o eu te amo, todos os últimos eu te odeio, seu coração e alma que eu quebrei, despedaçados e destruídos ao longo dos anos, pertenciam a mim. Seu prazer. Sua dor. Era tudo parte de mim, esculpida tão profundamente na minha pele onde ela ficaria gravada para sempre. Minha história vai fazer com que você me odeie tanto quanto ela, mas eu quero isso de você também. Não estou à procura do seu perdão. Eu não o mereço tal como não mereço o dela. Estou longe de ser o herói nesta história. Estou mais perto de ser o vilão. Exceto, que sou muito pior. Eu sou o maldito monstro. E, estou perfeitamente bem com isso. Eu desafio você a tentar me amar... Como ela fez e provavelmente ainda faz. Não diga que eu não te avisei. Agarrei meu rifle 223 Remington, segurando-o firmemente na porra das minhas mãos. Sentindo a textura da madeira repousando com segurança na ponta dos meus dedos. Eu estava armado e fodidamente preparado, completamente focado no que eu tinha que fazer em seguida. Me desligando de tudo ao meu redor, aguardando o momento de dar meu tiro. Uma emoção poderosa, que eu não poderia começar a descrever, imediatamente me percorreu. Senti isso no fundo da minha essência. Eu era um homem. Um homem que lidera a maldita escolta. Exatamente como o nosso destemido ditador, Emilio Salazar, tinha feito há trinta e nove anos atrás. —Compañeros1, compañeros, queridos compañeros —, anunciou, tomando seu lugar atrás do pódio no palco. Silenciando o grande e aberto estádio ao ar livre, onde milhares e milhares de seus compatriotas socialistas estavam presentes. Incluindo meu pai - que era o braço direito de Salazar - e eu mesmo. A multidão encarou o palco improvisado, localizado em frente ao enorme prédio de concreto amarelo, manchado de buracos de balas e bandeiras Cubanas. Absorvendo cada palavra que saiu dos lábios do nosso estimado ditador com olhos largos, como sempre o fizeram. Ouvindo atentamente quando ele declarava este dia, 26 de julho de 1992, o trigésimo nono aniversário de seu primeiro ataque monumental na segunda maior instalação militar de Santiago de Cuba: o quartel de Moncada. A mesma estrutura amarela exata que se elevava atrás de nós agora. 1 Companheiros Fiquei lá com orgulho e honra, vestindo um uniforme militar idêntico ao que Salazar vestiu naquele dia. Colocando estrategicamente minhas botas pretas de combate no mesmo ponto que ele colocou quando começou seu movimento revolucionário. Eu o conhecia na época, tanto quanto eu o conheço pelos meus últimos dezoito anos de vida. Eu queria tudo o que ele tinha. O respeito. O poder. O controle. Admirando o líder que há quase quatro décadas havia organizado seu próprio golpe militar ao lado de cento e trinta e cinco outros radicais. Tornando sua presença conhecida. Ao declarar a guerra. Mal o Presidente na época sabia que Emilio iria dedicar todo seu sangue, suor e lágrimas dos cinco anos e meio seguintes, para cumprir sua promessa única de uma vida melhor. Reivindicando mais cidades, tirando a vida de milhares que se meteram em seu caminho, e ficando mais poderoso até que ele finalmente não teve escolha senão abdicar para parar o derramamento de sangue. Cobarde. Emilio pode ter perdido a batalha nesse dia em 1953, mas o fracasso não teve nenhuma conseqüência para ele ou para nós. Tudo o que importava foi que, eventualmente, ganhou a maldita guerra. O resto é história. —Eu queria escrever este discurso para evitar a emoção decorrente desta ocasião—, professou Salazar em espanhol, olhando em todo o vasto espaço. Fazendo contato visual com pessoas da multidão, permitindo-lhes sentir-se como indivíduos em vez de um mar de corpos. Ele criou uma conexão profunda que ninguém poderia compreender, a menos que eles entendessem isso... Para o seu povo. Para seus homens. Especialmente para mim. Emilio Salazar era Deus. Não pude deixar de pensar na última vez que estive aqui, apenas algumas poucas semanas atrás. Uma lembrança que eu levaria para meu túmulo. O silêncio era ensurdecedor quando o carro acelerou na estrada vazia para onde quer que estivessemos indo naquele dia. Eu simplesmente me sentei no banco de trás ao lado de Salazar enquanto o motorista dirigia um de seus veículos pessoais e de prestígio. Sua equipe de segurança esboçou habilmente o perímetro, dirigindo na frente e atrás de nós, com alguns carros espalhados ao lado. Embora estivéssemos encaixotados com guardas armados, Pedro - um tijolo de um metro e noventa e cinco e duzentos quilos - ainda nos acompanhava no banco da frente do nosso veículo. Para não mencionar que eu também estava fodidamente armado. Eu estava carregando uma arma desde que eu era um chamaco2, um menino de doze anos, o que estava longe de ser normal em Cuba. Salazar se certificou disso. Sua primeira ordem de negócios após sua revolução foi tirar cada uma de suas armas de fogo. Era mais fácil controlar os dissidentes que ainda estavam contra ele, se não pudessem lutar. Eu era a exceção à regra, dada a alta posição que meu pai ocupava no regime de Salazar. Não tive escolha a não ser prosseguir. Ele era o capitão do exército de Emilio, o que o fazia como um maldito alvo tanto como o próprio Salazar. Meu pai sempre disse que entrei neste mundo chutando e gritando, fazendo com que minha presença fosse conhecida, uma força a ser comprovada. Um prodígio natural nascido pronto para lutar por um propósito. Embora houvesse um programa obrigatório dos dezessete aos vinte e oito, que a maioria dos homens 2 guri, criança temia, eu me esfolei para garantir que me formace um ano antes. Me inscrevi voluntariamente para servir meu país no dia em que cheguei à idade. A maioria dos homens só serviu os dois anos necessários, mas eu deixei claro para meu pai que os militares eram minha carreira. Tornando-o um filho da puta orgulhoso. —Damien—, Salazar falou, rompendo o silêncio. —Sim, senhor—, respondi em espanhol, dando-lhe toda a minha atenção. —Relaxe, não há necessidade de formalidades agora. Há uma razão pela qual eu pedi que você viesse comigo, e não era para você beijar minha bunda. Eu expirei uma risada, balançando a cabeça. —Você percebe que eu conheço você desde o dia em que nasceu? A prostituta de sua mãe o tirou fora de sua boceta e abandonou você como se você não significasse nada. A boceta sem coração deixou você, assim, e saiu do hospital horas após o nascimento. Nunca mais voltou. Deixando você ser criado pelo seu pai, um dos poucos homens em quem eu posso realmente confiar. Eu apertei meus olhos para ele, tentando descobrir onde ele estava indo com isso. Meu pai não falava muito de minha mãe, e nunca perguntei sobre ela. Salazar era um modelo muito importante na minha vida assim como meu pai,homens honestos para se espelhar. Eu preferiria ser criado do jeito que eu era, do que pela mulher que todos alegavam ser uma puta. Mas eu ainda fiquei ouvindo atentamente como se suas palavras fossem um pedaço do puzzle que eu nunca conheci e que precisava ser montado. —O único papel que uma mulher precisa exercer na vida de um homem é no quarto. São os homens que fazem o mundo girar. Homens como nós, não somos seguidores, somos líderes da porra - nós pegamos, lutamos e matamos por nossa conta. Nós protegemos até nosso último suspiro, se necessário. É por isso que outras pessoas temem Cuba. Os merdas americanos imperialistas e suas besteiras liberais. Eu conheço o caminho certo da vida, e você também. Eu faço isso pelo meu povo, pelo meu país. Eu devo a você, a eles, a todos. A América, com a ganância e a falta de padrões sociais, não é um modo de vida. Eu pego dos ricos e dou aos pobres porque é meu dever de merda. Damien, um dia, um dia de merda, você vai ficar onde eu estou, e você vai mostrar ao mundo que o comunismo é o único meio de vida. Como se estivesse em sintonia, o carro parou em frente ao formidável edifício amarelo e branco. Os quartéis de Moncada. Seu guarda de segurança verificou o perímetro, abrindo as portas do nosso veículo, uma vez que era seguro sairmos. Segui logo atrás de Salazar, aguardando ansiosamente o que viria a seguir. —Você tem dezoito anos agora, é um homem.— Um maldito homem, ele disse. —Quanto mais velho você fica, Damien, mais eu me vejo refletido em você. É por isso que eu te trouxe aqui —, ele se dirigiu até o local onde ficamos de pé, balançando a cabeça. —Fiquei aqui há trinta e nove anos com apenas uma visão, um sonho com o que eu poderia fazer pelo meu país, e eu quero que você reencontre esse sonho. Eu estava congelado no lugar, olhando-o diretamente nos olhos. Nunca esperando as próximas palavras que saíram de sua boca. Ele manteve a cabeça erguida e falou com convicção. —Damien, eu quero que você seja eu. O som da voz de Salazar me trouxe de volta ao presente e afastei meus pensamentos, não querendo desrespeitar meu líder. —Nosso povo esperou este aniversário com amor, entusiasmo, alegria e fervor. Para mim e para aqueles companheiros que ainda estão vivos, é uma experiência muito especial reunir aqui o povo de Santiago de Cuba, tantos anos mais tarde. Para celebrar a ação em que nossa geração abriu o caminho para a libertação final de nossa pátria. Nenhum dos antecessores da longa luta do nosso povo por independência, liberdade e justiça tiveram esse privilégio. — Emilio fez uma pausa, respirando fundo. Permitindo que suas palavras mais uma vez afundassem nas profundezas de nossas almas. —É apropriado que prestemos homenagens respeitosas àqueles que nos mostraram o caminho. Para aqueles que desde 1868 até hoje mostraram ao nosso povo os caminhos da revolução, que tornaram isto possível com o custo de seu sacrifício e heroísmo. Muitas vezes experimentando apenas a amargura do fracasso e o sentimento incapaz de superar o fosso aparentemente infinito e inalcançável entre seus esforços e seus objetivos. Precisamos passar por esses anos primitivos de experiências enriquecedoras e inimagináveis para adquirir o conhecimento e a maturidade em que apenas a escola da revolução pode ensinar. Tudo era como um sonho, então. Muitos de nossos contemporâneos, ainda pouco convecidos de que o destino de nossa nação podia e precisava, inevitavelmente, de mudanças, chegaram a nos chamar de sonhadores, mas eu sabia melhor. Eu nos trouxe até este dia. Eu nos trouxe a esta liberdade! — Ele gritou, levantando o braço direito no ar. Fazendo a multidão ficar selvagem assim que as palavras de Salazar saíram através dos alto-falantes, ecoando nas paredes de concreto. Se infiltrando nos poros de cada homem, mulher e criança presentes. Eu assisti e ouvi, sentindo como se ele estivesse falando comigo. Ele me atraiu de uma maneira que apenas Emilio Salazar sempre fez. Eu queria mais. Eu queria tudo. Homens militares armados levantaram os rifles no ar, enquanto eu continuava esperando. Em breve seria meu tempo de provar que eu poderia calçar os sapatos do nosso líder. Ele pessoalmente me escolheu por uma razão e por uma única razão; ele sabia que eu poderia fazê-lo fodidamente orgulhoso. Enquanto Salazar continuava seu discurso e falava sobre os acontecimentos históricos daquele dia, as palavras que mais me chamaram a atenção, foram como um homem verdadeiro não olhava primeiro de que lado ele podia viver melhor, mas sim de que lado estão os seus deveres e isso foi o que definiu as leis do amanhã. Eu era aquele homem. Eu fui treinado para ser esse soldado. Esse guerreiro. Aquele que sangrou pela minha pátria. Morreu pela porra do meu líder. Meu dever era para com o meu país. Servindo a Emilio Salazar de qualquer maneira que eu pudesse. Exatamente como meu pai e os homens do Montero antes dele. —Pátria ou morte, nós venceremos!— Salazar gritou no microfone para que todos saboreassem, mas parecia que ele realmente falava verdadeiramente comigo. Suas últimas palavras foram minha sugestão para entrar em ação. Meus pés se moviam por vontade própria, levando a bunda para o prédio de Moncada, disparando meu rifle. Tiro após tiro disparados com meu exército firme atrás de mim, seguindo minha liderança. Apontávamos nossos rifles em direção ao quartel, lacando a estrutura com nossas balas, imitando os tiros de 1953 que ainda estavam embutidos profundamente nas paredes de concreto. Tudo o que eu podia ouvir eram os sons de fogo aberto ecoando fora do prédio, enquanto a multidão continuava ficando selvagem. Meus irmãos das forças armadas juntaram-se à reconstituição, fazendo disparar seus rifles. Só aumentando o impulso que me envolvia. Minha adrenalina martelando tão malditamente quanto minhas botas batiam no pavimento, um passo logo após o outro. Não consegui subir as escadas e entrar no quartel rápido o suficiente. Meu coração estava batendo rapidamente, achei quase difícil respirar. Minha mente correu e meu peito pulou com cada movimento que passava, aumentando com cada tiro que saiu do meu rifle. Eu era um homem possuído em uma missão, e ninguém me faria parar. A maior parte disso era apenas uma reconstituição, mas para mim era muito mais. Foi a primeira vez na minha vida que já me senti... Malditamente importante. Faça chuva ou faça sol, ninguém poderia tirar isso de mim. Era meu. Junto com o futuro daquilo que eu me tornaria. El Santo... —Você fez bem, filho—, reconheceu meu pai, agarrando meu ombro após o desfile e as festividades começarem. Estávamos de pé ao lado do palco, observando os fogos de artifício. Eu assenti com a cabeça, tentando esconder o sorriso de satisfação no meu rosto. Meu pai era um militar, por completo. Eu só me lembro de algumas vezes que eu já o vi sorrir ou rir. Ele segurava suas emoções como um escudo, dizendo que era mais fácil para os inimigos identificar suas fraquezas se as demonstrasse. Você se tornaria um alvo no momento em que encontrassem um indício de sentimentos, recebendo uma bala de merda e ganhando um lugar a seis pés abaixo da terra. Até hoje, não sabia se eu era considerado uma das suas fraquezas ou apenas o filho dele. O carinho físico também foi um conceito perdido na minha casa. Quando eu era menino, uma vez perguntei por que nunca houve nenhum abraço ou amor em nossa casa. Sua resposta foi —Porque eu não estou criando um maldito cobarde. Estou criando um homem. Foi a primeira e a última vez que eu fiz essa pergunta. As únicas mulheres da minha vida foram as que trabalharam para nós. Eu tive um grande respeito por todas elas, especialmente nossa governanta, Rosarío. Ela era a coisa mais próxima de uma mãeque eu já tive. Quando eu era mais jovem, ela costumava estar ao redor o tempo todo, mas, com o passar dos anos, ela não era necessária em nossa casa com tanta frequência. Isso porém não afetou nossa relação, fiquei com ela todas as chances que eu consegui. Sua casa sempre me pareceu mais como minha própria do que a que vivi com meu pai. Era a minha parte favorita da semana, visitando-a para uma xícara de café e suas torticas de moron3 caseiras. O marido de Rosarío morreu em uma idade muito jovem, e ela nunca se casou novamente. Ela não tinha filhos, mas ela sempre me disse, apesar de Deus não a abençoar com seus próprios filhos, ele me deu a ela. O carinho que me faltou do meu pai, Rosarío multiplicou por dez vezes. Ela me conheceu toda minha vida. No que diz respeito às meninas, não tinha tempo para perder com elas. Nem dei importância à besteira que vinha com encontros e bocetas. As mulheres eram complicações desnecessárias. Um soldado não perde tempo com o amor ou o que isso implicava. No entanto, eu estava agradecido e apreciava a vida que me foi dada. O mundo em que nasci. Não havia outro modo de vida para mim. Isso era tudo que eu já conheci. Eu tinha frequentado as melhores escolas, recebido a melhor educação e sabia mais sobre o mundo do que a maioria dos homens da minha idade. Eu era fluente em cinco línguas, incluindo o inglês, a língua dos ianques4. Eu nunca quis nada. Meu coração estava endurecido para esconder qualquer emoção, como se nunca tivesse existido em meu corpo. Eu já estava condicionado para a batalha. Aprendi como disparar uma arma quando eu tinha cinco anos, treinei como lutar e matar com minhas mãos nuas antes mesmo de entrar no ensino médio. Mas apesar de tudo isso, nunca presenciei nenhum ato real de violência. Embora fosse só meu pai e eu, nos encontramos com centenas de homens nos meus dezoito anos de vida. Parcialmente sendo criado nas casas de Salazar, devido ao fato de meu pai quase nunca ter deixado seu 3 Este cookie delicioso vem da cidade cubana de Moron, na costa norte da ilha. Cuba foi uma das primeiras ilhas que Colombo visitou em suas viagens ao Novo Mundo. Os navios do explorador espanhol levaram os ingredientes para este biscoito doce: trigo, porcos (por banha e açúcar). Talvez o espanhol tenha trazido a receita também, porque o biscoito tortica de Moron é muito parecido com o amanteigado espanhol ou o biscoito de polvilho 4 Americanos lado. Era a norma ver Emilio Salazar às portas fechadas, o poder e o controle que ele segurava eram coisas que precisavam ser admiradas. Quando ele entrava em uma sala, todos paravam o que estavam fazendo e esperavam. Quando falava, eles ouviam. Quando se movia, eles observavam cada passo dele. Quando ele… Quando ele… Quando ele… Não era importante. Todos os olhos estavam sempre sobre ele, não importa o quê. A vida que vivi era uma vida para ser invejada. Não havia muitos homens que poderiam dizer que o líder do nosso país também era um segundo pai para eles. —Como você se sente?— Perguntou Salazar em espanhol, caminhando para meu pai e eu. —Deixe-me adivinhar, importante, certo?— Assenti com a cabeça, incapaz de formar palavras. Eu não estava surpreso que ele soubesse como eu me sentia, ele podia ler todos como a porra de um livro aberto. —Você é importante, Damien. É por isso que eu escolhi você, e é hora de você reconhecer isso. É o seu momento de provar o seu valor ao seu líder. Você me entende? —Emilio… Com um olhar, Salazar deixou meu pai sem palavras. Por uma fração de segundo, eu juro que vi o medo ultrapassar os olhos do meu pai, mas tão rápido quanto surgiu, já havia desaparecido. Rapidamente substituído por seu comportamento natural e solene. Imediatamente me fez pensar se eu apenas tinha imaginado. —Com todo o devido respeito, Emilio, Damien é meramente um... —Damien pode responder por si mesmo—, interrompi grosseiramente meu pai, falando sobre mim na terceira pessoa. De cabeça erguida e pisando na frente dele. Avançando em sua direção até o meu peito tocar o dele. Eu falei com convicção. —Eu não preciso que você responda por mim, nunca! Eu não sou criança —, afirmei, arremessando minha cabeça para o lado, não me segurando. Não pensei duas vezes em colocá-lo em seu lugar, repetindo as palavras de Emilio de volta para ele. —Você me entende? Salazar sorriu, estreitando os olhos para o meu pai. —Ele pode ser seu filho, Ramón, mas deixe-me lembrá-lo de que ele responde a mim, como você. Foda-se seu posto. Ele me provou esta noite que ele está mais do que pronto. Ele vem conosco, e isso é uma ordem. Vamos! Quando abrimos o caminho para a limusine, ainda estava agitado com meu pai. Eu não sabia o que mais me incomodava, o fato de ele não achar que eu era capaz de qualquer coisa que Salazar quisesse que eu participasse. Ou o fato de eu ainda sentir que ele estava preocupado comigo. Dirigimos por algumas ruas mal iluminadas, a tensão na limusine era tão espessa que você poderia cortá-la com uma faca. O silêncio era quase insuportável. Eu fiz o meu melhor para ignorá-la, olhando as janelas coloridas para passar o tempo, esperando para chegar ao nosso destino final. Havia outros três dos serviços de segurança nos acompanhando, incluindo Pedro. Não pude deixar de notar que meu pai ainda não fazia contato visual comigo. O seu olhar não se afastou das mãos juntas na frente dele. Atormentado por seus pensamentos que eu sabia não terem nada a ver com a minha explosão. Voltei minha atenção para a estrada, ainda sem saber para onde diabos estávamos indo. Passando árvore após árvore, tornando difícil ver nosso caminho. Indefinindo o fundo. Desaparecendo na distância. Eu ignorei meus pensamentos iminentes, me concentrando na adrenalina que bombeava minhas veias. Tentando o mais difícil mantê-los sob controle. A última coisa que eu queria era que eles confundissem minha ansiedade por medo, ou pior, provassem que eu não estava preparado para isso. Quando na realidade, isso foi tudo que eu sempre quis. Os únicos sons que eu podia ouvir eram os pneus seguindo a rota instável, os batimentos cardíacos e os pensamentos que passavam por minha mente. Nem uma pessoa moveu uma polegada por todo o trajeto, enquanto a limusine continuava por seu caminho instável. Ficou mais escuro, quanto mais nós dirigimos, misturando as preocupações se agitando nas minhas entranhas, me perguntando quando, porra, chegaríamos. Os bairros começaram a ficar mais rurais e isolados a cada minuto que passava. Embora eu estivesse aguardando isto desde meu décimo segundo aniversário, esta poderia ser a primeira vez que eu realmente teria que usar minha arma. Meus pensamentos mudavam incessantemente pelo que parecia a décima vez. Eu me obriguei a manter a minha merda escondida. O estranho silêncio não ajudava minha disposição. Senti meus nervos rastejando mais uma vez, aumentando as inúmeras perguntas pelas quais sabia que nunca obteria respostas. Os faróis da limusine deixaram a estrada obscura até que finalmente todas as árvores de repente se aclararam, e então percebi que estávamos em um rancho. Nós devíamos estar a pelo menos uma hora de distância da cidade, dirigindo para o que era considerado el campo - as favelas. Agora que a lua cheia não estava bloqueada por um monte de árvores, brilhava contra o céu escuro, iluminando um vasto lote de terra. Uma pequena casa de estilo finca5 que parecia que desmoronaria em um dia ventoso ficava no meio do campo. O tapume de madeira esfarrapada a beira de ruir com pedaços de tinta lascadas ao longo da varanda perigosa. Havia um celeiro nos fundos, nas mesmas condições, rodeado por mais árvores e acres de terra. Nós estávamos no meio do nada aqui. 5 Típicacasa de fazenda. Assim que o motorista pisou nos freios em frente à casa, meu pai abriu a porta como se não pudesse sair da limusine rápido o suficiente. Salazar e seus homens não estavam muito atrás dele. Instintivamente coloquei minha mão na minha arma antes de sair no ar úmido. Esperando. Assistindo. Preparado. A equipe de segurança de Emilio formou uma barricada na porta da frente, meu pai no meio, protegendo Salazar logo atrás dele. Armas em punho visavam a entrada, antecipando o sinal do nosso líder. A sequência de eventos que ocorreram a seguir, aconteceu tão rápido, mas o resto da noite pareceu desenrolar-se em um momento lento de merda. Salazar, com sabedoria, acenou com a cabeça para o meu pai, o que não precisava ser dito duas vezes. Ele puxou suas armas de seus coldres, deu um passo para trás e empurrou o pé contra a porta. O som dos gritos de uma mulher chamou minha atenção primeiro, era impossível não ouvi- los. Eles ecoaram durante a noite e atravessaram os acres de terra a céu aberto. Eu assisti com olhos escuros e dilatados enquanto os homens de Salazar, meu pai incluído, correram para a casa, sem dar a ninguém a chance de correr ou se esconder. Para procurar segurança. Nada. Naquele momento, fiquei plenamente consciente de que esta era uma emboscada habilidosa - uma que havia sido realizada muitas, muitas vezes antes daquela noite. Meu corpo se moveu voluntariamente como se estivesse sendo puxado por um fio, cruzando a soleira maltratada. Mais gritos estridentes soaram, me deixando paralisado. Fiquei ali parado no lugar, meus pés de repente colados ao maldito chão, esquecendo por um momento todos os anos de treinamento que tive. Rapidamente captei a confusão, lendo todos os detalhes como o soldado especialista que eu era. Havia fragmentos de madeira da porta da frente espalhados pelo vestíbulo. Uma mesa virada no meio de todo o resto. Vidro quebrado de um vaso de flores com gengibre branco e mariposa, pisotedas por todo o piso gasto. Imagens familiares que caíram das paredes após o impacto, casualmente colocadas ali com rostos sorridentes olhando para mim através de peças quebradas. Não perdi o sentido da ironia. Meu pai e seus homens não vacilaram, nem mesmo por um segundo porra, entrando em ação. Cada um deles agarrando o que parecia ser o membro de uma família amorosa. Meu pai agarrou vigorosamente os ombros de um homem mais velho, cruamente rasgando-o longe de quem eu assumi fossem sua esposa e sua filha. Ele implorou por suas vidas e elas pediram pela dele, lutando para libertar-se, debatendo-se nos braços entrelaçados e orando a Deus para não machucá-lo. Ele devia estar no final dos anos sessenta, a julgar pelos seus cabelos grisalhos e aparência frágil. Não havia necessidade do ataque severo que meu pai estava fazendo. O homem teria ido voluntariamente, feito qualquer coisa para salvar as vidas de seus entes amados. —Por favor! Te lo ruego! No las lastimes!6 —, Ele gritou,— Por favor! Eu lhe imploro! Não as machuque! —Em um tom que ressoou no fundo do meu núcleo enquanto meu pai bateu o punho no lado do tronco do homem. Fazendo-o se dobrar com dor. Pedro segurou a jovem que não poderia ser mais velha do que eu, enquanto ela berrou, —Papi! Papi! Papi! Por favor! Papi7! —O tremor em sua voz me deixou doente do estômago. Dois dos guardas estavam vigiando a porta quebrada, mais perto de mim. Sem sequer se perturbar pela vil cena que se desdobrava em frente a 6 Por favor! Te rogo! Não as machuque. 7 Papai eles, como se não fosse nada fora do comum, apenas uma outra noite de rotina no trabalho. Meus olhos se deslocaram para o último guarda que tinha um controle de morte sobre a mãe, segurando-a tão fodidamente apertado que eu pensei que seus braços iriam ser arrancados de seus ombros. Observando sua luta contra ele, desesperadamente querendo correr para a família dela. Ambos os guardas seguraram as fêmeas pequenas como se estivessem segurando dois homens de duzentos quilos, em vez de duas mulheres frágeis. As maltratando de propósito, por tentarem sair da situação fodida. —Por favor! Deixe elas irem! É a mim que você quer! Por favor! Apenas as deixe ir! —O homem mais velho implorou implacavelmente, respirando a agonia do que estava acontecendo perante ele. Ele tentou lutar contra meu pai com toda a força que ele conseguiu reunir, arranhando, empurrando, debatendo seu corpo. Recebendo cada pancada que meu pai lhe deu no lado da cabeça por cada palavra que saiu de seus lábios sangrando. Nunca silenciando suas súplicas por suas vidas. —NÃO! Não o machuque! Por favor! Não machuque meu marido! Nós lhe daremos o que quiser! Não o machuque! Por favor! Eu lhe imploro! Tenha piedade! — A mulher mais velha gritou enquanto lágrimas sem fim escorreram pelo rosto. Umas atrás da outra sem fim à vista, refletindo as expressões exatas no rosto da filha adolescente. —Te amo, Julio! Te amo con todo mi corazón! — Ela acrescentou:— Eu te amo, Julio! Eu amo você com todo o meu coração! — Lutando com todas as suas forças. —Feche a porra da boca!— Salazar rugiu em espanhol. —Feche-a, foda-se! AGORA! Chega de drama! Não perdendo tempo, meu pai arrastou o homem para uma cadeira próxima e deu um soco em seu rosto até que ele ficou quase inconsciente. Pendurado por um fio. Causando um rastro de sangue escorrer de seu rosto maltratado. Sua cabeça se inclinou para a frente enquanto seu corpo encurvava, entrando e saindo da consciência. Não aguentaria mais uma briga. Meu pai puxou cordas de seu bolso traseiro, usando-as para prender as mãos do velho atrás das costas e os tornozelos nas pernas da cadeira. Os dois guardas, que ainda seguravam as mulheres cativas, não se incomodaram em prendê-las. Sabendo que não precisavam porque as mulheres não eram um desafio para eles. Eles lhes deram uma bofetada algumas vezes, tornando seus corpos frágeis ainda mais fracos da força de seus golpes. Segurando seus cabelos, puxando a cabeça para trás antes de colocar os canos de suas armas nos lados de suas têmporas. Isso foi tudo que levou para as deixar sem palavras, quase não conseguindo se segurar por mais tempo. Eu engoli com dificuldade quando meu olhar em branco encontrou suas expressões sádicas. Eles estavam mostrando seu trabalho. Envergando seus punhos ensanguentados orgulhosamente. Nenhum remorso. Nenhuma culpa. Não consegui me impedir de olhar para trás para meu pai, o capitão do maldito exército de Emilio Salazar, o homem que sempre me ensinara que as mulheres eram diferentes. Elas não faziam parte da batalha. Não eram vítimas. Não eram prisioneiras de guerra. Nossos olhos trancaram a distância, tudo fazia sentido agora. Seu olhar me dizia tudo o que não podia ser falado. Sua preocupação, sua necessidade de falar por mim, sua vergonha e remorso atualmente comendo ele vivo. Eram tudo sobre as mentiras. —Damien—, gritou Emilio, trazendo meu olhar para ele. Foi a primeira vez que senti que estava realmente olhando para ele. O verdadeiro ele. Nosso ditador destemido inclinou-se contra a parede, os braços cruzados sobre o peito, uma perna por cima da outra. Nem um cabelo fora do lugar, seu uniforme militar intacto, e uma expressão presunçosa se espalhando por seu rosto de merda. Mas não foi isso que teve a minha atenção. Era o fogo nos seus olhos, ardendo na minha alma. Ele tinha prazer com isso tanto quanto os homens dele. O poder. O controle. A luta que ele trouxe para a casa desta família. —Eu sei o que você está pensando—, ele reconheceu, acenando com a cabeça para mim. —As coisas nem sempre são da maneira como elas parecem. Eu posso ver o julgamento em seus olhos, está irradiando de seu corpo. Você se atreve a me julgar, seu líder que não fez nada além de o transformar em um homem?Eu fiz do nosso país o que é hoje, e você ainda está parado e me questiona? Você está questionando sua lealdade por causa de algumas putas e um velho fodido? Hein? —Ele se afastou da parede, colocando as mãos nos bolsos das calças. Caminhando lentamente para onde meu pai estava com o homem mais velho que ainda estava lutando para ficar alerta. —Eu não disse uma palavra—, simplesmente falei, observando cada movimento dele. —Você não precisava. Você vê, Damien, eu fui uma vez como você. Eu pisquei, absorvendo suas palavras, ainda completamente consciente do ambiente. Como os guardas ainda fodiam com as mulheres, passando suas armas pelo peito, estômago e coxas. Fazendo suas camisolas de noite rasgadas e frágeis colarem na pele suada. Pressionando seus paus em suas bundas, propositadamente fazendo seus corpos aterrorizados se balançarem contra seus pênis. Os únicos sons que poderiam ser ouvidos eram seus gemidos baixos e sutis, sabendo que provavelmente não iriam sair daqui vivas. Os homens que estavam de pé junto às portas apenas esperavam sua maldita vez. Eu fiz a minha parte, agindo como se eu não percebesse os atos invasivos. Dando ao monstro parado na minha frente exatamente o que ele ansiava. Respeito. —Eu queria proteger meu país, queria liberdade para todo o meu povo, queria uma vida em que todos fossem iguais. EU… —Todos, exceto você—, eu interrompi, parando mais alto, sem recuar. Ele sorriu, me olhando de cima a baixo. —E você. O quê? Você acha que não é tratado diferente? Mantido em padrões mais elevados? Recebendo privilégios pelos quais a maioria morreria? Oh, vamos, Damien... olhe no maldito espelho. Você é tão fodido quanto eu. Sempre foi e sempre será. Você deveria agradecer-me, não duvidar de mim. O homem que lhe deu tudo! —Ele fervilhou, fazendo as mulheres gritarem em resposta. —Não há nada em sua mente pequena que não poderia estar mais errado. Você vê esse homem? — Ele agarrou os cabelos do pai, puxando-o para trás para que eu pudesse ver seu rosto mutilado. —Este homem é um maldito traidor! —O que ele fez? Não pagou seus fodidos impostos porque ele teve que alimentar sua família? —Eu vomitei a verdade, aquilo que eu estive escondendo a minha vida inteira. Emilio inclinou a cabeça para um lado, mais uma vez me olhando de cima a baixo com um olhar que eu nunca tinha visto antes. —Ele estava trabalhando com o inimigo para me derrubar. Ele e um monte de outros traidores estavam tendo reuniões nesta casa! Organizando minha morte para derrubar tudo o que eu trabalhei durante toda a minha vida! E você sabe o que fazemos aos traidores? —Ele fez uma pausa, empurrando o homem para longe, fazendo com que sua cadeira cambaleasse. Um estranho silêncio encheu a sala enquanto ele caminhava em direção às mulheres, sorrindo de orelha a orelha. Apreciando o efeito que ele provocou nas mulheres indefesas. Ambas tentaram se afastar fracamente dele, apenas afundando-se mais no aperto dominante dos guardas. Salazar não hesitou, afastando a adolescente de seus capangas. —NÃO!— A mãe soltou um grito penetrante que me perseguiria para sempre. Aquela noite e suas palavras mudariam quem eu era, e tudo em que eu acreditava, para o resto da minha vida. Tudo começou com... Quatro palavras simples. —Nós os fazemos pagar. A menina imediatamente começou a gritar e se debater nos braços de Emilio. Seu longo cabelo castanho preso aos lados de suas bochechas inchadas. Lágrimas infinitas escorriam pelo rosto bonito e ferido enquanto lutava contra o monstro que invadiu sua casa no meio da noite. Salazar não lhe deu nenhuma importância, divertido pelo rumo dos acontecimentos. Eu não pensei duas vezes sobre isso, tirando minha arma e apontando para o ponto em branco no meio da testa do pai. Nunca rompendo meu olhar intenso com Salazar. Eu estreitei meus olhos para ele, falando com firmeza: —Eu vou puxar o fodido gatilho, assim que você deixar as mulheres sair com segurança. Emilio sorriu, grande e largo. Olhando para a garota que agora estava olhando para mim com uma nova sensação de esperança em seus olhos castanhos escuros. —Não tente ser o fodido herói nesta história, Damien. Há apenas uma coisa que você precisa aprender sobre esta noite. A única maneira de fazer um homem pagar pelos seus pecados... é sempre através dos que ele mais ama. Sua mãe começou a quebrar, gritar e tentar se libertar. Fazendo tudo em seu poder para salvar sua filha. Enquanto o pai veio também, implorando por suas vidas de sua cadeira. Suplicando com tudo dentro dele para deixar as meninas irem. Não hesitei, apontando minha arma para o ombro do homem e puxando o gatilho. —NÃOOOOOO!— As mulheres gritaram em uníssono, lutando com todas as últimas forças para conseguirem ir até ele. —A próxima bala é através de seu coração!— Eu gritei, precisando fazer entender meu ponto de vista. —Agora, deixe-as ir! —Abaixe a arma, soldado!— Ordenou Salazar, sabendo que eu não tinha outra escolha a não ser ouvir. Pela primeira vez na minha vida, lutei uma batalha interna entre o que era certo e errado. Abaixando minha arma, tentando não deixar o caos nublar meu julgamento. Salazar veio até mim em três passos com a filha ao reboque, arrancando a arma das minhas mãos. Arrastando-a para seus pés na frente dele, colocando o metal frio no lado de sua cabeça. Ele a colocou de forma segura entre nós, a poucos passos de distância de mim. Os olhos da menina revelaram muito, intensificando-se com cada segundo que passou como uma bomba-relógio. Medo. Dor. Morte. —É hora de você virar homem, porra, e me provar ao lado de quem você está. Onde seus deveres estão porque pela pátria ou morte, nós venceremos! —Com isso, ele a empurrou tão forte quanto pôde na minha direção, fazendo com que ela perdesse o equilíbrio. Ela choramingou quando eu a peguei em meus braços soltos. Apoiando seu pequeno corpo contra meu peito. Nossos rostos se afastaram, enquanto ela tentava instintivamente lutar contra mim. Não que eu pudesse culpá-la, eu era apenas outro vilão a seus olhos. —Controle-a! Mostre a ela o que fazemos a bandidos! Você me entende? —Emilio rugiu, tornando sua luta contra mim ainda mais dura. Não consegui fazê-lo, tomei todos os socos que ela deu. Permiti-lhe sentir algum consolo que eu pudesse fornecer, mesmo que fosse apenas por alguns segundos. Era o mínimo que eu podia fazer. Ela começou a me acertar cada vez mais forte quando percebeu que eu não a detinha, não estava lutando de volta. Eu estava deixando-a ter o seu momento. —Agora é a sua hora para realmente provar sua lealdade por mim! Mostre a ela a quem ela serve! Quando eu não fiz o que queria, Salazar a arrancou por seus cabelos com repulsa em seus olhos. Suas mãos instantaneamente foram a sua cabeça, onde ele tinha se apoderado dela, estremecendo de dor. Agarrando os dedos enquanto ele a puxava na direção dos guardas junto a porta. Suas pernas se dobraram atrás dela, tentando ganhar controle para se manter firme, mas falhando miseravelmente. Seu pai começou a explodir, tentando desesperadamente escapar da cadeira - mais duro, mais rápido, quase derrubando-a. O sangue jorrando do orifício da bala em seu ombro não o impedindo. Enquanto sua mãe fazia o mesmo com o fodido guarda. Foi então que eu tranquei os olhos com meu pai, seu olhar me implorando para o perdoar. Para ter piedade dele também. —Isto é o que fazemos aos homens que nos traíram, Julio—, Emilio falou o nome do pai em um tom ameaçador que fez meu corpo estremecer. Inclinando a cabeça para um dos guardas em vigilância na porta, a entregando para ele. Como se ele não quisesse colocar as mãos na sujeira, como se ela fosse apenas um pedaço de lixo. —Faça o seu melhor, puta. Ninguém pode te ouvir lá fora —, zombouo guarda, a puxando para o pequeno sofá-cama na sala de estar. —Eu adoro quando elas gritam—, acrescentou. —Não!— Ela gritou, balançando pateticamente todo o corpo, chutando e gritando no topo de seus pulmões enquanto repetia, —Por favor!— Repetidamente. Esperando acordar a qualquer momento desse horrível pesadelo. Deus a salvaria desse Inferno. —Não! Não! Não! —Ela continuou a gritar sem sucesso, fazendo com que todos rissem e eu ficasse nauseado. Emilio acenou com a cabeça para meu pai, ordenando silenciosamente que ele calasse o velho. Ele fez, batendo furiosamente o punho de sua arma na parte de trás do pescoço. Derrubando-o no chão com a cadeira. O guarda que segurava a mãe cobriu sua boca para abafar seus gritos, mas ela não parou de lutar contra ele até que ele a golpeou no estômago. Deixando-a de joelhos com a dor. Seus capangas arrancaram a calcinha da menina, a jogando no chão. Sua camisola já estava rasgada, deixando-a exposta e praticamente nua. Ele a empurrou para o braço do sofá, empurrando a cabeça para a almofada e segurando-a. Colocando o traseiro dela no ar. —Isso é o suficiente!— Eu rosnei, meu peito subindo e descendo. Eu não podia assistir isso por mais tempo. —O quê, Damien? Ela é uma menina linda, não é? Você não quer o seu primeiro gosto de boceta? Ela é uma meretriz, assim como sua mãe —, gritou Emilio. —Vá se foder!— Eu gaguejei, minhas mãos se fechando em punhos em meus lados. Antes de receber a última palavra, ele me bateu com a ponta da minha arma. Minha cabeça virou para o lado com impacto contundente de seu golpe. Foi a primeira vez que Salazar me atingiu. —Eu te dei tudo, garoto! Você vai deixar esse traidor tirar tudo o que você acredita?! Talvez eu devesse deixá-lo dobrar e foder você em vez disso! —Ele ameaçou, balançando a cabeça. —Não, não é assim que isso vai acontecer. Você mostra a esse filho da puta que não permitiremos traidores em nosso país! Ele tirou de nós, então agora chegou a hora de tirar dele! Você fode sua filha! Você a toma bem à sua frente e faz com que ele assista. Pague pelos seus pecados! Ninguém nos trai! Eu não me movi, cuspi um bocado de sangue no chão perto de meus pés, enquanto a jovem tirou a cabeça da almofada do sofá. Olhando nos meus olhos, me implorando para salvá-la. Salve-os. —Seja um maldito homem! Ela não é nada! Assuma o controle! Eu sei que está em você, assim como está em mim e em seu pai! —Não me permitindo responder, ele simplesmente levantou a arma e apontou para o centro da minha testa. Rosnando, ele acrescentou: —É por isso que eu escolhi você! Agora me faça orgulhoso! Eu não vacilei, gritando: —Então, puxe o gatilho! Ele se moveu para trás, completamente apanhado de surpresa com a minha resposta. Se esta noite provasse alguma coisa para ele, era o fato de que eu não queria que nada acontecesse às mulheres, e o filho da puta usou isso contra mim. Ele instantaneamente moveu minha arma, apontando para a mãe e puxou o gatilho. —NÃO!— Gritei, prestes a correr em sua ajuda enquanto sofria de agonia, mas Pedro me agarrou. Bloqueando meu corpo no lugar. —A próxima bala é através de seu coração—, disse Emilio, lançando minhas palavras de volta para mim. —Faça ou ela morre! Você quer ser responsável por tirar a mãe desta menina? Que tipo de monstro você é? — Ele zombou em um tom condescendente, sorrindo de forma desonesta. Meus olhos encontraram a garota olhando para mim por um segundo antes de os fechar, como se a machucasse olhar para mim. Virando o rosto em derrota. Pedro começou a avançar, levando-me com ele de bom grado. Não havia nenhum motivo para resistir, Emilio tinha-me exatamente onde ele me queria. Prisioneiro. Uma vez que estávamos perto o suficiente, ele me empurrou com força para a garota. Eu me segurei na parte de trás do sofá antes que meu peso caísse para frente, esmagando seu corpo. Ela tremia tão forte contra meu peito, soluçando. Toda a luta que ela tinha antes desapareceu, e resisti à vontade de lutar por ela. Nós dois sabíamos muito bem que se eu o fizesse, custaria a vida da sua mãe. E provavelmente a nossa também. —Shhh...— Eu sussurrei perto o suficiente do seu ouvido, de modo a que ninguém pudesse ouvir. Os gemidos de sua mãe devido ao tiro enchiam a sala, tornando mais fácil ser discreto. Tentei acalmar sua respiração, acalmá-la de qualquer maneira que eu pudesse. — Shhh...— Eu repeti várias vezes até sentir que ela começou a se acalmar. Ela virou a cabeça ligeiramente, nossos olhos presos um ao outro. Com os lábios trêmulos, ela murmurou: —Sou virgem. E com um brilho doloroso, eu respondi: —Eu também. Por apenas esse momento no tempo, nós encaramos um ao outro, ambos tentando nos arrastar para esse espaço vazio dentro de nossas mentes. Esconder. Procurarmos refúgio dentro de nós mesmos era a única maneira de sobreviver a isso. Abafar o tumulto em erupção ao nosso redor, amortecendo os gritos com nossos pensamentos assustadores. Os apelos desapareceram na distância enquanto vislumbramos visivelmente nossas emoções conflitantes. —Por favor, Deus—, ela rezou, não sei pelo quê. Depois desta noite, eu estava convencido de que não havia Deus. Pelo menos não... Para mim. —Como te llamas?— Eu perguntei com ternura, —Qual o seu nome? —Teresa—, ela expirou, olhando-me profundamente nos olhos, buscando atentamente por trás de meu olhar. —Perdóname, eu trataré de no herirté—, disse com sinceridade, —sinto muito, tentarei não machucá-la. Mirando seu olhar intenso, varri um fio de cabelo do seu rosto com a parte de trás da minha mão. Permitido que meus dedos permanecessem na sua pele macia e aveludada. Ela rapidamente se afastou, estreitando os olhos para mim. —Faça o seu pior, garoto. Ele tem razão. Você é como ele. A única diferença é que você é um monstro que ainda não sabe. Ele sabe disso e aceitou isso, e depois desta noite, você também. Apenas faça isso. Pare de fingir ser algo que você não é. Eu me afastei como se ela tivesse me atingido, me destruindo com a realidade de suas palavras. Os restos do homem que eu pensava ser morreriam depois dessa noite. Não restaria nada de mim. Eu tinha que desligar minha humanidade para ultrapassar isto ou não conseguiríamos sair vivos. O que aconteceu depois foi como se estivesse tendo uma experiência fora do meu corpo. Eu estava lá... mas eu não estava. Ouvi vagamente Salazar provocando: —Você viadinho! Você não pode nem ficar duro! Faça isso agora! Estou perdendo minha paciência! Outra bala voou para a mãe, errando por pouco sua cabeça, desta vez. Mais gritos. Mais risadas. Mais pecados que eu teria que pagar. Eu sabia que Teresa poderia sentir-me em todos os lugares, e eu quase não a tocava, revoltado pelo que estava fazendo. Com o que eu tinha que fazer. Eu podia sentir uma queimadura latejante irradiar por todo o seu corpo pela súbita perda de fôlego. O ar sendo roubado dela com o meu peso descansando nas suas costas. Chupei o ar que não estava disponível. Bile subiu por minha garganta. O controle, o poder, a sensação de sua boceta apertada em torno do meu pênis, lentamente se arrastaram, encontrando seu caminho dentro de mim. Fodendo minha mente. Eu tentei afogá-lo, disposto a não sentir nada além do ato cruel que estava cumprindo. De repente, percebi que lágrimas escorreram pelo meu rosto. Meus lábios tremiam, meus dentes batiam, e minha visão ficou preta, piscando com manchas brancas. Quando ela moveu os quadris, instintivamente agarrei-os com força, fazendo com que ela gemesse pela dor inesperada. —Não se mexa,— eu segurei um maxilar apertado, incapaz de controlar as sensações que ela estimulava, precisando controlar o ritmo de nosso ato pecaminoso. Odiando-me mais por isso. Foi demais para eu tomar, despertando uma besta, um lado escuro de mim que eu nunca soube que existia. Aprisionandomeu corpo, minha mente e minha alma. Eu podia sentir sua virtude, sua maldita inocência no meu pênis; isso só fez aumentar as emoções conflitantes mexendo com minha mente. Com cada impulso, senti os demônios que me perseguiriam eternamente. Me atormentando até o dia em que eu morresse, até eu tomar meu último suspiro. Não passei pelo vale da sombra da morte naquela noite... Eu viveria nele a partir de agora. Residindo permanentemente dentro de mim. De onde eu nunca conseguiria sair vivo. Era tudo demais - as vozes, os comandos, as fodidas sensações. Meus quadris começaram a se mover por vontade própria, como se eu fosse um maldito homem. O pecador assumiu o controle enquanto o santo estava sentado silenciosamente ao seu lado. Meus dedos apertaram, cavando minhas unhas em sua carne, pegando minha velocidade. Empurrando-a mais forte, mais rápido, mais forte. Minha visão se torceu, e eu juro que ouvi ela gemer sobre a loucura que vivia dentro e ao meu redor. Apenas tentando chutar o demônio mais longe, fazendo com que minha cabeça caísse para o seu pescoço. Fechei os olhos com força. Vendo flashes da cara de choro de Teresa, sangue... Tanto sangue, porra. Afastei as imagens tão rapidamente quanto elas se aproximaram, o santo derrotando o pecador, me puxando de volta à luz. Finalmente, tomando posse de minhas ações. O controle da minha vida. Eu tinha que pôr fim a isso, incapaz de continuar arrastando outra vida para o inferno junto com a minha. Mesmo quando eu estava prestes a terminar... Ouvi o grito do pai da menina: —Amira! NÃO! Corra! Instintivamente me virei para o guarda à minha direita, pegando a arma do seu coldre e apontando-a na direção da sombria figura ao meu lado. Ficando cara a cara com uma menina pequena, cujos enormes olhos cor de avelã agora permaneceriam na escuridão da minha vida. Sabendo que viu tudo. Olhei ao redor da sala, precisando ver tudo pelos olhos dela. Sua mãe deitada ali, sangrando, ainda tentando formar gritos que saíam como sussurros. Seu pai amarrado a uma cadeira, lhe implorando freneticamente para correr. Sua irmã inclinada sobre um sofá, chorando incontrolavelmente comigo ainda dentro dela. Com a arma ainda firmemente em minha mão, apontando para a cabeça dela, visando matá-la. Abaixei imediatamente minha arma, me sentindo como o monstro que eu sabia que era. Eu ajustei minha calça, olhando para cima ainda a tempo de ver Salazar levantar minha arma na frente dele. —Nãooooo!— gritei, correndo em sua direção. Ele não hesitou. — O acordo acabou!— Começando a abrir fogo ao redor da sala, matando Teresa primeiro. Querendo que seus pais a vissem morrer, não importa o quê. Eu a peguei antes de cair no chão com um baque duro, puxando-me com ela. Agarrando seu corpo sem vida em meus braços, apliquei pressão sobre a ferida da bala em seu peito. —O que diabos você fez?— Perguntei com franqueza, encarando o rosto sem vida de Teresa, a garota que acabei de conhecer. A agonia de seu pai voltou minha atenção para Salazar. Eu assisti aterrorizado quando ele assassinou sua mãe a seguir, fazendo o homem testemunhar sua família sendo abatida diante de seus olhos. —Pátria ou morte, nós venceremos—, foram as últimas palavras que ele ouviu antes de Salazar o matar à queima-roupa. Colocando o fim ao drama como ele chamou. Eu mais uma vez suguei um ar que não estava disponível, cada tiro ressoando profundamente no meu núcleo. O meu peito pesado em cada respiração, sufocando pelo massacre ao meu redor. Se afogando na devastação de toda vida brutalmente arrancada deste mundo. Olhei para a garota em meus braços novamente, seu sangue inocente em minhas mãos. Junto com os de sua família. Engolindo com força, olhei para Emilio com nada além de ódio e remorso em meus olhos. —Nós tínhamos um acordo—, eu balancei, tentando pateticamente juntar minhas palavras. Minhas emoções. O soldado já havia desaparecido. Desapareceu na noite como se ele nunca existisse para começar. Salazar riu, —Filho da puta, você nem gozou—, ele vomitou sádico. Inclinando a cabeça para a garotinha que ficou paralisada com a boneca bem apertada nas mãos. Como se estivesse segurando sua posse mais valiosa. Toda a cor tirada de seu corpo, entrando em choque. Seus olhos traumatizados se conectaram com os meus, procurando instantaneamente por respostas a perguntas que eu nunca conseguiria dar. Uma única lágrima escapou, caindo lentamente pelo lado do seu rosto, escorrendo do seu queixo e para o chão. Se misturando ao sangue de sua irmã. Eu juro que eu poderia provar... Sua dor. Sua perda. Seu futuro mudando para sempre. —Ela é sua agora—, acrescentou Emilio, jogando minha arma de volta para mim. Balançando a cabeça para a menina, ele falou com convicção. — Ela pode ser o seu lembrete diário da família que você tirou dela e o que acontece quando você me trai. Foi só então que percebi que perdi mais do que a minha vida naquela noite. Perdi minha maldita alma. Tudo em nome do comunismo. E de um homem mais diabólico que o próprio Diabo. —Amira! NÃO! Corra! — Papi gritou, mas mal podia ouvi-lo sobre a agitação. Não queria que ele ficasse bravo comigo. Eu não queria ser uma garotinha má. Eu não queria deixar minha família cair. Ouvindo os gritos e os grandes tiros. Observando a dor e a agonia que estavam passando. Doeu todo o meu corpo. Eu senti isso em cada última polegada da minha pele. Eu ouviria seus gritos toda vez que eu fechasse meus olhos. Vejo seus rostos ensanguentados a cada segundo do dia. Revivendo cada súplica, cada bala e cada marca em seus corpos maltratados. Eu senti tudo. Na minha mente, corpo e alma. Fiquei escondida pelo que pareceram horas, testemunhando tudo através do pequeno buraco no armário da cozinha. Sempre foi meu esconderijo favorito ao jogar esconde-esconde com Teresa. Ninguém me encontrava quando me escondia. Eu segurei a respiração para evitar dar um som. Olhando para a sala onde um monte de monstros torturavam minha família. Os homens desagradáveis que meu pai me disse dos quais me esconder, semanas antes. Eu queria fechar meus olhos como se estivesse assistindo algo assustador, e fazê-lo desaparecer. Como se fosse apenas um sonho ruim do qual eu logo iria acordar. Mas toda vez que meus olhos se esconderam na escuridão, só piorava meus pensamentos. Não sabendo o que aconteceria a seguir. Tornando mais difícil controlar minhas emoções e medo. Eu tinha que assistir, não importa o quê. Era a única maneira de manter minha promessa para Papi. Meu olhar aterrorizado voou para o homem entrando na sala de estar. O monstro, segurando minha família como refém, Damien. Eu não podia tirar os olhos do homem alto que estava a poucos metros de distância do meu lugar secreto. Ainda escondida atrás da porta do armário de madeira fina. Ele usava uniforme militar como os homens que vinham recolher nossa comida todos os meses. Eu notei sua atitude instantaneamente. Eu podia ver algo diferente em seu olhar cor de mel. Do jeito que ele estava olhando a minha família, como suas mãos se contraiam ligeiramente com sua expressão sincera. O jeito que ele ficou perto da porta, sem mover uma polegada. Observando tudo acontecendo na frente dele, exatamente como eu estava. Ele não era como eles. Eles eram monstros aos seus olhos também. Rezei silenciosamente para que ele fosse o salvador da minha família. Ele se tornaria o herói neste pesadelo. Quanto mais tempo eu assisti, mais eu percebi que ele era tão vítima quanto toda a minha família. Ele não queria fazer aquelas coisas horríveis. Ele estava lutando por suas vidas, enquanto eu lutava pela minha escondida. Mais gritos. Mais tiros. Mais… Mais… Mais… —A próxima bala é através do coração dela. Faça isso ou ela morre! Você quer ser responsável por tirar a mãedesta menina dela? Que tipo de monstro você é? Eu queria gritar: —Ele não é um monstro, você é!— Mas, em vez disso, escondi meu rosto no corpo da minha boneca Yuly8. Era muito difícil continuar observando sua dor. Meu coração quebrado estava agora na minha garganta com a bílis subindo, mas eu engoli de volta. Cobrindo meus ouvidos com as mãos, tentando abafar os lamentos de Mami e a voz do monstro. Recordando a última vez que fiquei feliz com Papi. —Amira, tenho um presente para você—, revelou Papi em espanhol, tocando a ponta do meu nariz com o dedo indicador. Um gesto que ele fez toda a minha vida. Ele brincaria que o meu nariz iria crescer como o de Pinóquio se eu dissesse mentiras. Era sua maneira de se certificar de que ele me mantinha honesta. Meu pai trabalhava dia sim, dia não em El Campo, na cidade e em qualquer outro lugar em que ele pudesse obter bens em troca de seu trabalho. O que quer que isso significasse. Não o vi em alguns dias, o que me deixou realmente triste. Parecia que toda vez que ele saía para ir à cidade para trabalhar, mais demorava a retornar. Eu odiava quando Papi partia, as coisas não eram as mesmas sem ele. Mami e Teresa também sentiam falta dele, mas não como eu. Mami tentava me animar cada vez que ele nos deixava, me deixando brincar com os pintinhos no celeiro. Ou me deixava correr livre pelo campo e escolher minhas flores favoritas, mariposas, para Papi. Uma delicada flor branca com pétalas que tinham a forma de uma borboleta. Quando ele estava em casa, abanava meus braços para cima e para baixo como se eu estivesse voando, e girava ao redor dele, fazendo-o rir e sorrir. Esses eram os melhores dias. Papi sabia que eu ficava infeliz quando ele nos deixava, então ele sempre tentava me trazer de volta um presente, para compensar sua ausência. Sabendo que era raro que recebêssemos presentes, a menos que fosse nosso aniversário ou um 8 Bonecas feitas de pano ou feltro, totalmente artesanal feriado. Não importava quão grande ou pequeno fosse, amei tudo o que ele já me deu porque veio do seu bom coração. O mesmo coração que eu tinha no meu corpo. Papi era meu herói, e eu o amava muito. Com os olhos arregalados, observei enquanto ele se levantava e me mostrava o que ele estava escondendo atrás de suas costas durante todo esse tempo. —Papi—, eu ofeguei. —Você me trouxe uma!— Saltando para cima e para baixo, incapaz de controlar a emoção que atravessava meu corpo. Ele sorriu maliciosamente, me entregando a boneca. Eu nunca tive uma boneca antes. Eu estava pedindo uma desde que Claudia trouxe a dela para a escola há dois anos. Dizendo que o papi dela encontrou no ônibus. Desejei secretamente que o meu também encontrasse uma no ônibus. Ele sabia que era tudo o que eu sempre quis. Os brinquedos eram difíceis de encontrar. Eu quase nunca tive um, já que todos os bens de Cuba vinham da União Soviética, que não tinham muito para repartir. Além disso, os Estados Unidos não queriam nos ajudar mais. Pelo menos foi o que ouvi os amigos de Papi dizer quando vieram com todos os seus mapas e papéis. Passando horas e horas a falar sobre prisão política e corrupção. Três palavras cujos significados aprendi no único dicionário que tínhamos na escola no dia seguinte. Quando perguntei a Papi sobre isso alguns dias depois, ele me disse para não ficar chateada com a América. Eles estavam apenas fazendo o que podiam para fazer Emilio Salazar se render e demitir-se. Ele me fez prometer nunca ter ódio por alguém em meu coração; isso só levava a coisas ruins. Para amar todos do mesmo modo, especialmente aqueles que mais precisavam disso. Dizendo-me que às vezes havia pessoas em nosso mundo que eram apenas almas perdidas e precisavam da nossa ajuda para encontrar o caminho. Eu dei um enorme sorriso, abraçando instantaneamente a boneca o mais que pude. Mostrando a ela o quanto eu a amava. Trazendo o bebê até meu rosto quando terminei de dar uma boa olhada nela. A boneca de Claudia tinha um arranhão no rosto e faltava-lhe sapatos e fitas no cabelo. A minha era perfeita, seus longos cabelos castanhos escuros e olhos castanhos que pareciam exatamente como os meus. Ela estava usando um vestido branco que caía até seus pés, com sapatos pretos e brilhantes. Não havia uma marca nela, ela parecia nova. Imediatamente me perguntei de onde papi conseguiu, mas nunca perguntaria. Não aguentando minha felicidade, enfatizei: —Oh, Papi! Eu a amo! Eu a amo tanto! —Eu aplaudi, a abraçando junto ao meu coração novamente, precisando sentir que ela estava realmente lá. Ela era realmente minha. Antes de lhe dar outro pensamento, abracei as pernas de Papi. Espremi-as em um abraço grande e apertado. Esperando que ele pudesse sentir todo o meu amor e apreciação através de meu abraço. —Obrigada! Ela nunca vai deixar o meu lado! Agora eu não tenho que ficar triste quando você sair, Papi. Você sempre estará comigo através dela, —eu soltei, segurando minhas lágrimas. Eu estava tão emocionada. Eu não podia acreditar que ele tinha me trazido uma boneca. Ele não vacilou, agarrando meus braços e agachando à minha altura. Me colocando na frente dele para poder ver seu rosto. Ele tinha lágrimas em seus olhos, carregando uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Meu coração caiu. —Papi— — Amira… — ele fez uma pausa como se estivesse tentando reunir forças para me dizer algo. Isso não parecia certo, meu papi era a pessoa mais forte que conhecia, ele nunca chorou. Afastei meu braço do alcance dele, colocando minha mão no lado de seu rosto. Acariciando sua bochecha, tentando dar-lhe a coragem que precisava para continuar. Funcionou. Ele continuou: — Eu preciso que você me prometa algo. Eu fervorosamente acenei com a cabeça, querendo fazer qualquer coisa para limpar a aparência do rosto. Estava doendo meu coração. — Eu preciso que você escute o que eu digo. Preciso que você seja minha boa garotinha e me escute, ok? — Papi, você está me assustan… — Se algum homem terrível e malvado entrar nesta casa, Amira, e você ouvir gritos e coisas ruins... — Ele hesitou novamente, fazendo meu coração bater mais rápido. Suas palavras não saíam tão rápido quanto os pensamentos que atravessavam sua mente. — Se você ouvir algo fora do comum, Mamita9, e você sentir medo... Preciso que você me prometa que você vai se esconder. Eu pisei em direção a ele. "Papi -" Ele me impediu de cair, agarrando-me no lugar, por precisar olhar nos meus olhos. —Você me entende, Amira? Por que eu esconderia se estivesse com medo? Nunca tive que fazer isso antes. Ele sempre expulsou os monstros dos meus sonhos maus. Talvez ele precisasse de mim para perseguir seus monstros também? —Você me entende? Você se esconde —, reafirmou, como se soubesse o que estava pensando. Assenti com a cabeça de novo, incapaz de dizer as palavras. —Amira, prometa-me... Me jure que você se esconderá dos homens maus. Não importa o quê, você se esconde. E você se esconde até não ouvir outra palavra ou gritos —, ele exigiu, apesar de sua boca estar tremendo. Seus olhos segurando tanta tristeza. — Mas, Papi, e se... —Nada! Você se esconde! —Ele ordenou com um tom áspero, fazendo-me saltar. Ele nunca me gritou antes. 9 Expressão carinhosa, ficou no original —Não importa o que você ouça, nem o quanto dói você ouvir... você esconde, Mamita. Por favor... prometa-me que você vai se esconder, —ele implorou, sua voz quebrando. Eu mordi o lábio, segurando minhas lágrimas. Eu não queria que ele me visse chorar. Ele já estava triste o suficiente. Eu sempre escutei o que meu papi dizia porque eu era sua boa menina. Eu não queria decepcioná-lo ou deixá-lo triste. Me esforcei, querendo ser a brava Amira. Precisando ser forte por nós dois. —Eu prometo,Papi. Eu prometo que vou esconder. Me esconderei e não saio até que esteja segura, ok? Não vou sair até me dizer que é seguro, ok? Você vai me dizer para sair, certo, Papi? Você promete que você virá me buscar? Depois que os monstros se forem? —Eu perguntei com lábios tremendo, minha voz vacilando. Meu coração quebrando. Com lágrimas caindo de seus olhos, ele simplesmente declarou: —Eu te amo, minha pequena sombra. Não importa o quê, sempre estarei com você. —Ele colocou uma mão sobre meu coração e a outra na minha boneca. —Aqui. Não foi até aquela noite que eu percebi... ele nunca prometeu que viria me buscar. Eu não sei quanto tempo fiquei nas sombras do cubículo, mas me sentia como como se tivesse sido para sempre. Quando tirei as mãos dos meus ouvidos, tudo o que pude ouvir eram os homens rindo. As afastei de meu rosto, espiando pelo buraco do armário novamente. Tudo o que vi agora era Damien de volta. Ele estava atrás de Teresa, que estava dobrada na almofada do sofá na frente dela. Ele estava mexendo seus quadris como se estivessem fazendo algum tipo de jogo de dança. Quando Damien ordenou: —Não se mexa—, para Teresa, saí do esconderijo. Sai da segurança do pequeno espaço tão silenciosamente quanto pude, precisando conseguir ajuda. Apertando Yuly perto do meu peito, esperando que ela abrandasse as batidas rápidas de meu coração. Pensando que talvez eles pudessem ouvi-lo. Suspirei de alívio quando consegui sair da cozinha sem ser vista. Caminhei suavemente pelo corredor, onde eles não podiam me ver e eu não podia vê-los. Parando quando ouvi Teresa fazer um barulho que soou como um choro de dor, mas também de conforto. Eu ouvi Papi gritar meu nome, da cadeira em quem ele estava amarrado, antes mesmo de me dar conta do que fiz. Era tarde demais para voltar. A arma na mão de Damien agora estava apontada diretamente para mim. Eu nunca vi uma arma de perto. Eu instintivamente abracei Yuly mais forte. Os segundos se transformaram em minutos e os minutos pareciam horas enquanto eu ficava lá, antecipando o pior. Os momentos seguintes da minha vida aconteceram em câmera lenta. Caos explodiu em nossa casa uma vez amorosa, mas eu não ouvi uma palavra que saiu da boca de ninguém. Os sons do meu coração batendo no meu peito tomaram conta dos meus sentidos. Meus ouvidos estavam zumbindo, e minha visão se tornou turva. As palavras de Papi de algumas semanas atrás, misturadas com os gritos do meu nome, tocaram como um disco quebrado no meu subconsciente. —Amira, prometa-me... Você me jura que você vai se esconder. Não importa o quê, você se esconde. E você se esconde até não ouvir outra palavra ou grito. — Eu podia sentir meu corpo desligar e minha mente entrando em um lugar escuro dentro de mim, onde ninguém poderia me machucar. Tiros após tiros disparados, fazendo com que meu corpo se sacudisse com todos e cada um deles. Os invólucros de bala começaram a cair no chão, seguidos pelos seus corpos. Senti que estava sufocando com as emoções em cada fração de segundo. Arrependimento. Dor. Raiva. Esperança. Todos eles me atingiram de uma só vez, como se as almas de papi, mami e minha irmã estivessem segurando a minha preciosa vida. Eu não pensei que fosse capaz de sentir tanto e não morrer fisicamente junto com eles. Eu era. Eu tinha. Havia essa linha imaginária que estava penetrando profundamente em meus ossos. Eu senti isso da cabeça até meus dedos do pé. Foram os flashes da vida que já não era minha. Meu passado me provocava e me confortava simultaneamente. Minha visão de repente clareou quando eu levemente escutei, —Ela é sua agora. Ela pode ser sua lembrança diária da família que você tirou dela, e o que acontece quando você me trai. Todas as lembranças da noite caíram, me enterrando nos escombros do sangue deles. Não consegui respirar, olhando os olhos do homem que achei que ia nos salvar a todos. Estava aterrorizada de que, se eu desviasse o olhar, ele desapareceria. Uma grande parte de mim não queria que ele fosse embora. Eu sabia que se ele fosse, estaria sozinha com apenas meus pensamentos e sentimentos. A necessidade física de morrer com eles. Os pesadelos aos quais eu nunca sobreviveria. Quanto mais eu olhava para os olhos dele, mais alto ficavam os seus pensamentos. Repetindo... — Desculpe, desculpe. Me desculpe —, uma e outra vez sem nenhum fim à vista. Isto não foi um pesadelo. Esta era a minha realidade agora. O monstro da noite saiu da minha casa. Atravessando o limiar mutilado que derrubaram tão duramente, com dois de seus homens ao seu lado. A casa que ele destruiu com nada além de corrupção, violência e assassinato. Nunca olhando para trás, para a realidade que agora era a minha vida. Eu fui a primeira a quebrar o olhar intenso de Damien, deslocando meus olhos para minha irmã, meu pai e minha mãe... Eles não estavam sorrindo. Eles não estavam rindo. Eles não estavam se movendo. Não havia alma, nem vida, nem amor. Nada. Todos estavam mortos. O fio que me conectou com o homem chamado Damien quebrou... E eu corri. Corri por puro impulso em direção a meu pai, correndo tão rápido quanto as pernas me permitiram ir. Caindo de joelhos em todo o sangue saindo de seu rosto e corpo irreconhecível. —Papi! Você tem que acordar! —Eu persuadi, colocando minha mão trêmula em todos os lugares, sem saber onde parar o sangramento. —Por favor... Papi... você deve me ajudar a acordar Mami e Teresa... Eu não posso fazer isso sozinha... então, acorde agora, ok?— Eu joguei meus braços ao redor de seu corpo, protegendo-o de sangrar com Yuly entre nós. Fechando meus olhos tão apertado quanto pude. Chorei sobre seu corpo, agitando-o tão forte para ele acordar. —Lembre-se, você prometeu que você iria me levar para a cidade? Nós íamos ver o mundo? Lembra, Papi? Você prometeu… Ele não estava se movendo. Ele não estava acordando. Não havia nada que eu pudesse fazer. —Desculpe, Papi! Me desculpe, não fiquei escondida. Por favor... não fique bravo comigo... ainda sou sua boa menina, certo? —Ele está morto, sua idiota. A sua família está morta. Como é que se sente sendo uma órfã de merda? — um dos guardas gritou do outro lado da sala. Eu lentamente me sentei e me levantei, enraivecida no meu lugar, olhando os corpos sem vida. Recebendo as suas palavras. Havia tanto sangue sobre mim e Yuly, que eu nem conseguia ver minha pele. Baixei minha cabeça, tanta culpa e arrependimento me atingindo mais do que qualquer coisa que eu já havia experimentado antes. Talvez se eu estivesse escondida, eles ainda estariam vivos? Lágrimas frescas vazaram dos meus olhos, e levou tudo em mim para não continuar a implorar por seu perdão. —Eu fiz uma pergunta—, o homem vomitou, fazendo-me olhar para ele através das fendas dos meus olhos inchados. —Eu odeio você—, eu sussurrei tão baixo que ele não podia ouvir. —O que é que foi isso? Não consigo ouvir você sobre o som de seus patéticos gemidos. —Eu disse:— me endireitei com Yuly, com a mão apertada em um punho, —EU O ODEIO!— Eu fervia, correndo até os dois homens ao lado de Damien na sala. Batendo, atacando, empurrando-os o mais forte que pude. Fazendo com que eles rissem de mim. Apenas alimentando mais meu ódio. Eu lutei com cada grama de força que eu tinha deixado dentro da minha concha oca, ainda segurando Yuly. Precisando de seu conforto para continuar. Eu empurrei, esbofetei e golpeei os assassinos, querendo machucá-los. Martelei com meu punho em seus peitos duros como rocha, sem pensar na dor latejante que atravessava minha mão. Não era nada comparado à faca no meu coração. Eu só queria que eles também morressem. Dei uma joelhada entre as pernas do homem maior com tanta força que caí no vidro quebrado, estremecendo instantaneamente com a dor. Sua mão instintivamente subiu no ar prestes a me dar uma bofetadano rosto, mas um braço forte enrolado em meu estômago, me puxou para trás. Me levantando do chão, escapulindo por pouco da mão do homem grande que passou silvando por meu rosto. Assim que minhas costas colidiram com o sólido peito de alguém, eu me virei em seus braços e briguei. —Não! Não! Não! —Eu gritei, tentando grosseiramente lutar contra ele. Agitando minha cabeça para frente e para trás. —Calma!— Ele falou, me engolfando em nada além do sangue da minha irmã. Foi só então que eu sabia que era Damien. Não conseguia respirar. Não podia parar de lutar. Eu estava sufocando, me afogando mais fundo no meu desespero. Nas lembranças que me perseguiriam quando eu estivesse acordada e me aterrorizariam quando eu tentasse dormir. —Eu te odeio! Eu queria que vocês estivessem todos mortos! —Eu gritei histérica. Eu estava hiperventilando até o ponto em que minha visão estava ficando irregular. Sentia minhas cordas vocais como se estivessem em chamas. —Não me toque!— Eu gritava desesperada, continuando meu assalto. Golpeando todo seu rosto, seu peito, em qualquer lugar que eu pudesse, enquanto ele ainda segurava meu corpo agitado. Ele não me bloqueou, ele não me impediu. Ele me deixou dar cada golpe, exatamente como ele deixou Teresa. Sabendo que merecia isso e muito mais. —Isto é tudo culpa sua! Você fez isso! Assassino! —Eu rugi, o empurrando e batendo com mais força, mais rápido, deixando minha adrenalina entrar na força total. Meus olhos viram vermelho, e meu corpo enjoado de raiva e desejo de desmoronar. —Você é uma puta!— O homem que eu bati entre as pernas zombou. Agarrando Yuly, tentando arrancá-la do meu alcance mortal. —NÃO! POR FAVOR NÃO! —Eu implorei, agarrando-a tão apertado quanto pude. —Ela é tudo o que tenho! POR FAVOR! Seu vestido rasgou e o braço dela deslocou, fazendo com que os homens rissem mais quando lamentei outra vida que eles estavam prestes a tirar de mim. —POR FAVOR!— Eu gritei. Ele agora estava segurando Yuly enquanto ele me olhava nos olhos, tirando a cabeça de seu corpo. —NÃO!— Eu gritei alto, o suficiente para quebrar vidros, alcançando- a antes dele jogá-la pela sala. Como se ela não fosse nada. Quando ela significava tudo para mim. —Eu te odeio! Eu te odeio! Eu odeio você tanto! —Eu solucei, lutando contra os braços de Damien. Colocando as mãos no seu pescoço, eu arranhei com as unhas até seu peito. Deixando um rastro de sangue pelo caminho. Eu precisava chegar a Yuly. Damien me jogou com força no chão como uma boneca de pano, batendo minha cabeça com um baque. Eu estremeci com o impacto de sua força. —Sua puta do caralho!— Damien ficou furioso, olhando para mim com ódio em seus olhos. Seu comportamento mudou rapidamente. —Deixe-nos, AGORA! Eu cuidarei dessa pequena puta! —Eu deveria foder essa desobediência fora dela—, um dos homens fumegou, saindo pela porta com o outro homem. Deixando-nos em paz. —Eu disse que a tenho! Agora saia daqui! — Antes de dar outro pensamento, Damien puxou a arma para fora da parte de trás de suas costas. Foi então que outra realidade brutal caiu sobre mim. Eu. Estava. Errada. Muito errada... O monstro não partiu, ele estava parado na minha frente. Puxando o gatilho. Terminando tudo... Para mim. Não lhe dei um segundo pensamento. Peguei uma caixa de fósforos no fim da mesa, golpeando o palito, observando a faísca final. Tomando um segundo para cheirar o enxofre antes de jogar o fósforo no chão. Iluminando a casa abandonada por Deus. Eu estava certo, só demorou alguns segundos para a madeira seca e fina pegar fogo. Chamas laranja e vermelho se arrastaram sobre o massacre, acendendo o sangue, apagando aquela noite como se nunca tivesse acontecido. Dei um último olhar para o corpo pequeno e sem vida que estava no chão na minha frente. Lembrando o olhar em seus olhos quando minha arma foi direcionada diretamente em seu rosto, antes de tomar seu último suspiro. Não havia mais nada que eu pudesse fazer. O que foi feito, foi feito. Esta era a minha vida... Agora, para sempre, e todos os dias no meio. Saí da casa completamente entorpecido, quando as chamas entraram em erupção atrás de mim. Engolindo o barraco, queimando os corpos da família amorosa que já havia morado lá. Seu sangue eternamente nas minhas mãos. —O que diabos?— Perguntou Salazar, inclinando a cabeça para o lado. Ele estava apoiado em sua limusine com meu pai e Pedro ao seu lado. Os outros guardas já estavam esperando dentro do veículo. —Que?— respondi. —O quê? —La niña? ¿La mataste? —Ele perguntou:— A menina? Você a matou? — —Você disse que era minha responsabilidade. O que diabos eu faria com uma menina pequena? —Damien, ela era uma criança. Você não precisava... —meu pai começou. —Eu não precisava fazer o quê?— Eu intervi, pisando no seu rosto pela segunda vez naquela noite. — Desculpe, eu não sei como isso funciona. Meu pai deve ter esquecido de mencionar que ele é um assassino a sangue frio. Não era isso o que você queria? Treinando-me todos esses anos, preparando-me para me tornar um soldado? Eu fiz o que eu tinha que fazer. Em meus olhos, ela era uma maldita responsabilidade. Você quer que ela abra a boca para quem quiser ouvir? Porque eu tenho uma certeza de merda que não. Eu lhe fiz um favor, ela está com a família dela agora. É onde ela pertence. Salazar estreitou os olhos para mim, sorrindo. —Um santo em um minuto, um pecador no seguinte. Você vê, Damien, você e eu não somos tão diferentes. Você é um canhão solto, imprevisível. Sempre admirei isso em você. Nunca saber o que você vai fazer. Mantém as coisas interessantes. — Olhei para cima e para baixo, repetindo suas palavras: —Pátria ou morte, nós venceremos. —Você deveria ter visto como ele jogou a puta no chão,— riu Pedro. —Nós deixamos você ter sua primeira morte só para você, filho da puta, como sempre deve ser. Mas da próxima vez... nós iremos assistir. — Emilio sorriu, se afastando da limusine. —Isso fica mais fácil, basta perguntar ao seu pai, mas, ao contrário dele, você não pega vadios,— ele riu, caminhando até mim e resisti à vontade de perguntar o que ele queria dizer. —Eu sabia que não demoraria até que você visse as coisas do meu jeito. Você é um verdadeiro cubano. Um maldito soldado, e estou orgulhoso pra caralho por você ficar ao meu lado. —Jogando o braço sobre meu ombro, ele me puxou para o lado dele. —Este é apenas o começo. Esta noite não foi nada comparado ao que eu tenho guardado para você. Você conseguirá grandes coisas com minha orientação. Antes que se perceba, você será como eu. Tudo para o que você queria ser treinado, se tornou realidade esta noite, Damien, — afirmou, balançando a cabeça para seus homens. — Agora, vamos fugir daqui e deixar esses traidores apodrecer no inferno, onde eles pertencem. Entrei no veículo, sentando-me no mesmo lugar em que eu estava quando chegamos. Afundando no couro preto e inclinando minha cabeça contra o apoio de cabeça. Eu notei o meu rosto entre as chamas, refletido no vidro fumê. Não mais reconhecendo o homem olhando para mim, enquanto assistia a casa queimando. —Como se sentiu tendo seu primeiro gosto de boceta? Seu sangue virgem no seu pau? Ela adorou. Não se deixe enganar, eu sei que você ouviu os gemidos da puta. Um pequeno conselho para a próxima, parece muito melhor quando você realmente goza, — Salazar zombou, fazendo com que todos rissem com ele. Exceto meu pai, ele estava perdido em seus pensamentos. Olhando pela janela fumê. Eu zombei: —Acho que, ao contrário de todos os homens nesta limusine, posso foder por mais de cinco minutos. Todos riram cada vez mais, jogando a cabeça para trás. Salazar me entregou uma garrafa de bourbon e, com avidez, a tomei, respirando a queimadura do
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