Buscar

SUÍCIDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 27 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

26
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS
BACHARELADO EM PSICOLOGIA
ELCIO WAGNER SOBRAL DA SILVA
SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS 
JATAÍ-GO
2019
ELCIO WAGNER SOBRAL DA SILVA
SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS 
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Federal de Goiás, como requisito para o recebimento do Bacharelado em Psicologia
Orientadora: Prof.ª Pós Drª Cristiane Souza Borzuk
JATAÍ-GO
2019
“O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem”.
Arthur Schopenhauer
RESUMO
Na contemporaneidade uma série de suicídios vem ocorrendo com uma intensidade alarmante nos diversos segmentos sociais e entre indivíduos dos mais diferentes níveis sociais e profissionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 2016, o suicídio é um comportamento complexo e tem sido um grave problema de saúde pública, sendo responsável por uma morte a cada 40 segundos com mais de 800 mil casos fatais anualmente.
 O que tem causado assaz preocupação é o número elevado de líderes religiosos no exercício de seu trabalho cometendo o ato suicida, uma vez que as pressões e tensões do dia a dia surgem de todas as direções: da família, da comunidade religiosa e sociedade tem contribuído para tal ato.
Neste contexto, o presente trabalho propõe evidenciar os elementos que contribuem para o comportamento suicida entre os líderes religiosos que estão em sofrimento psíquico que tem sido negligenciado pelas comunidades religiosas contemporâneas, pela sociedade e a religião como um todo, uma vez que o não reconhecimento desses sofrimentos que é inerente a todo ser humano pode levá-los inevitavelmente a consumação do suicídio.
Palavras-chave: suicídio; stress; coping; escuta; conscientização
 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................06
SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS.............................................................08
FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O SOFRIMENTO MENTAL ENTRE OS LÍDERES RELIGIOSOS... ..........................................................................................11
STRESS........................................................................................................................11
 3.1.2 STRES OCUPACIONAL ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS .................................12
 3.1.3 COPING.....................................................................................................................14
 3.1.4 COPING RELIGIOSO...............................................................................................15
 4. O PAPEL DA RELIGIÃO FRENTE AO SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS
 E A ESCUTA PSICOLÓGICA......................................................................................20
 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................24
 6. REFERÊNCIAS.............................................................................................................26
1. INTRODUÇÃO
Segundo Chagas (2013) nos últimos anos tem acontecido uma série de suicídios entre líderes religiosos[footnoteRef:1]no Brasil e no mundo. Houve um aumento significativos de suicídios, 03 líderes religiosos norte-americanos se mataram em circunstancias misteriosas. Nascimento (2017), aponta no cenário brasileiro o suicídio de 03 líderes religiosos evangélicos das cidades de Cornélio Procópio (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Criciúma (SC), todos na mesma semana. Segundo Bernardo (2017), o fenômeno do suicídio entre os líderes religiosos católicos tem sido alarmante, 03 sacerdotes católicos das cidades de Corumbá (MS), Salvador (BA) e Contagem (MG) cometeram suicídio em menos de 15 dias, o que traz um alerta sobre estes atos suicidas com múltiplas indagações. [1: Para efeito deste trabalho consideramos líderes religiosos pastores e padres, tendo em vista outros líderes religiosos como: budistas, umbandistas, kardecistas, entre outros, independente da orientação religiosa.
] 
As pressões e tensões sobre a vida dos líderes religiosos no exercício de seu trabalho são corriqueiras, surgem de todas as direções: da família, da comunidade religiosa e sociedade. Um dos aspectos que deve ser considerado é que lideranças cristãs evangélicas e católicas são pessoas como outras que também padecem de todo tipo de sofrimentos, em virtude das demandas da vida. Uma hipótese que norteia este trabalho pode ser o não reconhecimento desses sofrimentos, que é inerente a todo ser humano, além de que os líderes religiosos também são afetados por discurso de carácter preconceituoso.
Nesta vertente, este estudo terá como objetivo de uma maneira geral colocar em evidência os elementos que contribuem para o sofrimento psíquico entre líderes religiosos, culminando no comportamento suicida e de modo mais específico verificar se o stress as exigências do trabalho do líder religioso contribuí para a ideação suicida, bem como verificar se há um enfraquecimento do coping religioso, podendo também contribuir para a ideação suicida.
Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica de literatura, levantamento de dados estatísticos de fatores que podem contribuir para o comportamento suicida e conta com três tópicos principais: o primeiro é suicídio entre líderes religiosos; o segundo abordar-se-á sobre os fatores que contribuem para o sofrimento mental entre os líderes religiosos: stress e coping religioso e o terceiro sobre o papel preventivo da religião frente o suicídio entre os líderes religiosos e a escuta psicológica que contribuirá tanto para saúde mental dos mesmos bem como para futuros estudos da psicologia na compreensão e reflexão deste fenômeno em evidência, uma vez que atualmente após consulta ao banco de teses e dissertações da CAPES, verificou-se que há poucos estudos sobre a temática, por isso a necessidade de tal análise sobre este fenômeno. E por último as considerações finais apresentam as conclusões do estudo da temática.
2. SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS
Na contemporaneidade vem ocorrendo episódios de suicídio com uma intensidade alarmante nos diversos seguimentos sociais entre indivíduos das mais diferentes classes sociais e profissionais. Segundo dados publicados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no ano de 2016 o suicido tem sido um grave problema de saúde pública, responsável por uma morte a cada 40 segundos. Conforme dados de 2012 da agência da ONU (Organização da Nações Unidas), mais de 800 mil pessoas se suicidam todos os anos no mundo. Barros (2013), reitera que estes dados da ONU ultrapassam mais de um milhão de pessoas que se suicidam todos os anos e que se trata de um problema social de grande relevância para saúde pública, e que pode ser evitado.
O suicídio de forma geral não é um fenômeno novo, tem sido alvo de pesquisas de filósofos, teólogos, psiquiatras, psicólogos e sociólogos através dos séculos. Apesar da trajetória histórica das discussões e estudos a respeito do suicídio, esse ainda se configura como um tabu na sociedade que por vezes não reconhece o suicídio como algo muito complexo, sendo banalizado, tratado de forma especulativa e sensacionalista. Enquanto isso sem a devida atenção sobre este fenômeno, o número de suicídios vem aumentando em todo o mundo atingindo indivíduos cristãos e não cristãos. A compreensão do comportamento suicida se configura em um fenômeno intrigante e extremamente complexo dentro e fora das instituições religiosas. Sua complexidade se torna ainda maior quando se trata de suicídio entre líderes religiosos, o que tem causado assaz preocupação.
Oliveira (2006) entende que historicamente foi construída por parte das comunidades religiosas cristãs uma imagem distorcida da figura dos líderes religiosos no exercício de suas funções, atribuindo a eles o título de “semideuses”, cuja atribuiçãode poder delegada à pessoa do pastor ou padre elimina a possibilidade de que os mesmos externem seus sentimentos, suas crises e temores, isto é, qualquer sinal de limitação, desgaste, fragilidade e cansaço seja ele de ordem física, mental ou espiritual na realização de suas atividades pessoais e comunitárias. Assim, segundo o mesmo autor, isso implicará que os líderes religiosos desenvolvam um estilo de vida demasiadamente exaustivo que não se pode viver por ser autêntico, podendo os mesmos estarem de tal forma identificados com o seu papel de ‘super-humanos’, que se perde a sua subjetividade em função do seu trabalho. 
Os líderes religiosos [footnoteRef:2] em suas instituições eclesiásticas como trabalhadores a serviço da religião tem como em uma de suas diversas atribuições o de ser mediador de conflitos sociais e espirituais, contribuindo com orientações quase sempre de cunho teológico e filosófico aos indivíduos nas suas variadas demandas, tendo o intuito ajudar a solucionar os problemas emocionais ou espirituais a eles reportado. Estresse, ansiedade, depressão, burnout e outros transtornos graves podem ser diagnósticos certos para essas líderes religiosos em sofrimento mental, podendo contribuir para o comportamento suicida. [2: Segundo Charles (2013), os líderes religiosos são aqueles que devem ensinar a doutrina religiosa pautados nos ensinamentos cristãos, tendo os textos religiosos como regra de fé e conduta moral. O trabalho do líder religioso dentro desta perspectiva apontada pelo autor é o de ensinar os preceitos religiosos para promover o bem-estar espiritual e emocional de seus fiéis ou simpatizantes. Logo, é exigido que a vida do líder religioso nas atribuições de seu trabalho, seja autêntica, irrepreensível, cuja maneira de viver, reputação e atitudes não podem sofrer qualquer reprovação. Ser transparente perante a sociedade, tendo o caráter justo, ou seja, exercer um trabalho ético, uma vez que o êxito do trabalho eclesiástico nesta perspectiva está fundamentalmente ligado ao caráter inquestionável do líder religioso.
] 
Segundo Lacerda (2017, p.42), estatísticas compiladas pelo Instituto Fuller [footnoteRef:3]a respeito de estudos relacionados ao trabalho dos líderes religiosos evangélicos revelam que: [3: Este Instituto é localizado em Pasadena, Califórnia, e é destinado a formação de diversos líderes religiosos.
] 
 
“90% disseram que o ministério é completamente diferente do que eles pensavam que seria; 70% dizem que sofrem de baixa autoestima;40% relatam ter conflitos com membros da igreja pelo menos uma vez ao mês; 85% disseram que seu maior problema é que eles estão cansados de lidar com pessoas problemáticas e/ou descontentes, como presbíteros, diáconos, líderes de louvor, equipes de louvor, outros líderes e pastores auxiliares; 40% afirmam que pensaram em deixar seus pastorados nos últimos três meses; 70% não têm alguém que consideram um amigo próximo; 50% acreditam que seu ministério não vai durar mais 05 anos; 70% sentiram que Deus os chamou para o ministério pastoral antes de seu ministério começar, mas após três anos de ministério, apenas 50% ainda se sentia chamado; 50% dos pastores sentem-se tão desanimados que deixariam o ministério se pudessem, mas não têm outra maneira de ganhar a vida; 45,5% dos pastores dizem que estão deprimidos ou tiveram um ‘burnout’ e, se pudessem, tirariam uma licença médica por algum tempo.”
De acordo com Bernardo (2017), pesquisas realizadas em 2008 pela ISMA BRASIL[footnoteRef:4] apontou entre os líderes religiosos católicos que: [4: Associação Internacional sem fins lucrativos voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento de stress no mundo. Tem por objetivo capacitação e atualização de profissionais de diversas partes do mundo como: psicólogos (as), enfermeiros (as), médicos (as), entre outros. 
] 
“448 entre 1,6 mil padres e freiras entrevistados (28%) se sentiam “emocionalmente exaustos”, sendo que, o percentual de cléricos nessa situação era superior ao de policiais (26%), executivos (20%) e motoristas de ônibus (15%). A psicóloga Ana Maria Rossi, que coordenou o estudo, relatou que padres diocesanos, que trabalham em paróquias, estão mais propensos a sofrer de estresse do que monges e frades que vivem reclusos. ”
Estes dados estatísticos evidenciam uma amostra da condição de saúde mental da maioria dos líderes religiosos que estão a serviço da religião, investindo energia psíquica, física e tempo considerável para ajudar aqueles que buscam a sua assistência. Bernardo (2017) ainda nesta mesma linha de ideia salienta ao consultar especialistas que as incidências de comportamento suicida entre líderes religiosos apresentam vários possíveis fatores sendo eles: “excesso de trabalho, falta de lazer, perda de motivação”.
 Assim tais circunstâncias relativas ao trabalho dos líderes religiosos evangélicos e católicos, indicam que o atual cenário vivenciado pelos mesmos na gestão de suas instituições eclesiásticas e as somas de tais fatores mencionados devem ser compreendidos como potenciais fontes para o desencadeamento de graves crises da saúde mental, emocional, social, familiar e também eclesiológica, podendo portanto esses líderes religiosos no clímax do seu sofrimento chegar inevitavelmente a consumação do suicídio.
3. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O SOFRIMENTO MENTAL ENTRE OS LÍDERES RELIGIOSOS
 3.1. Stress
O termo stress é de origem latina “stringere” e tem o sentido de afligir, angustiar. Sendo assim “stress é a combinação de sensações físicas, mentais e emocionais que resultam de variados estímulos de preocupações, medos, ansiedades, pressões psicológicas e fadiga física e/ou mental, que irão exigir uma adaptação e/ou produção de tensão (LIPP; NOVAES, 2000). Conforme Rangé (2001), o termo stress foi utilizado originalmente no século XVII, ganhando conotação de “adversidade” ou “aflição”, descrevendo o complexo fenômeno de “tensão-angustia e desconforto” que caracteriza o cenário contemporâneo. Ainda segundo Rangé (2001), o termo foi utilizado pela primeira vez da área da saúde em 1936 pelo médico austríaco Hans Selye ao identificar o stress como um problema médico e seus efeitos sobre as pessoas, sugerindo assim o uso da palavra stress para definir a síndrome produzida por diversos agentes aversivos e a ruptura do equilíbrio homeostático do organismo. Observou que alguns pacientes que sofriam de diversas patologias apresentavam um conjunto de reações não específicas de forma muito semelhante independentemente do tipo de doença, tendo em vista os sintomas apresentados: ansiedade, tristeza e angustia. 
Segundo Selye (1936, n.p.) apud Rangé (2001, n.p), os pacientes manifestam uma resposta física às emoções negativas que estavam experimentando devido a estressores. Os pacientes sofriam de doenças comumente chamada por Selye de “Síndrome de Adaptação Geral” ou “síndrome de stress biológica”. Apresentando assim o modelo biológico que explica o stress como uma condição interna do organismo. 
Selye, em 1959, na sua obra “Stress: a tensão da vida” salienta que “toda doença tem como elemento próprio o stress, que produz alterações estruturais e químicas no organismo, e que são capazes de se mensurar e observar. ”
 A Síndrome Geral de Adaptação, portanto se trata da manifestação do stress e engloba a dilatação do córtex da suprarrenal[footnoteRef:5], enfraquecimento do sistema linfático[footnoteRef:6], úlceras gastrointestinais, ganho ou perda de massa corporal, padrões de sono irregulares, problemas respiratórios, predomínio da angústia causando depressão e introversão, podendo o indivíduo negligenciar a família, não desenvolvendo suas atribuições de forma adequada as exigências do trabalho, além de outras alterações como ter oscilações de humor e de comportamento suicida” [5: Região da glândula suprarrenal que produz dois importantes hormônios: adrenalina e noradrenalina, que atuam em reações psíquicas e físicas geradas por situações emocionais fortes (principalmente ao estresseemocional)] [6: Principal sistema de defesa do organismo, atuando junto ao sistema imunológico.] 
Sendo assim, Selye através desses conceitos anteriormente citados definiu stress como uma quebra da homeostase do organismo. Desde então, várias pesquisas e estudos têm sido realizados para detectar, prevenir, reduzir e controlar as causas e efeitos do stress sobre a saúde física, mental e psicológica do indivíduo. 
Conforme Baptista (2006, p.02 apud Battison ,1998) 
“Stress é um termo muito utilizado para descrever os sintomas produzidos pelo organismo em resposta à tensão crescente. Certo nível de stress é normal para ajudar o indivíduo a enfrentar os desafios da vida, porém, níveis elevados de stress causam inúmeras reações desagradáveis aos indivíduos. ”
Cabe salientar que os sinais e sintomas do stress variam de pessoa para pessoa. As causas originárias do stress são inúmeras, podendo algumas ser mais relevantes ou não, dependendo da forma em que o indivíduo reage aos fatores estressores, apesar da matriz emocional ser biológica, a emoção é biográfica, ou seja, cada pessoa tem a sua, diferente das outras. Assim, cada indivíduo reage de forma menos ou mais intensa que o outro. A idiossincrasia é uma variável de peso nas reações dos agentes estressores.
 3.1.2 Stress Ocupacional entre líderes religiosos
 Morais (2008) considera que todos aqueles que desempenham papéis sociais de ajuda possuem maiores índices de stress, pois são profissionais que atuam em ocupações emocionalmente desgastantes e destaca que em vários países da África, Europa e América Central, psicoterapeutas tem equiparado o trabalho dos líderes religiosos a outros profissionais de ajuda humanitária, por identificarem o crescente número de padres e pastores com sintomas de esgotamento físico e mental. 
Segundo Pereira (2012) a partir da década de 1980 do século passado diversos sintomas passaram a ser estudados nas pessoas que escolheram exercer o trabalho de líder religioso. Pereira (2012, p.67) ressalta que os líderes religiosos 
“Aventuram-se na vida religiosa com coragem e idealismo, posteriormente sentem-se diminuídos quanto à realização pessoal, desvalorizados e impotentes perante as expectativas inalcançáveis. Com o tempo se tornam esgotados emocionalmente e impossibilitados de recuperar as motivações e forças espirituais iniciais”. 
Se os sintomas provenientes dos fatores estressores permanecerem podem ocasionar consequências graves para esses líderes religiosos culminando em intenso sofrimento mental, podendo ocasionar comportamento suicida. Para Pereira (2012) “ o grau de exigência da Igreja é muito grande”. Segundo ele espera-se que o líder religioso seja, no mínimo, “modelo de virtude e santidade”.
Para Oliveira (2006, p.91)
“No meio eclesial, ministros religiosos, tem sofrido sob fortes pressões na área do seu trabalho. Algumas são impostas pela comunidade, outras são assumidas pelos mesmos, uma vez que as necessidades emocionais lhes são negadas ou atrofiadas por fatores como: compreensão errônea do seu papel desempenhado na comunidade “semideuses”; sobrecarga de atividades e agenda sempre cheia. ” 
O autor salienta também expectativas em relação à sua família, ser uma família eticamente correta, etc. Além das muitas limitações e as fraquezas dos líderes religiosos, assim também são muitas as crises vivenciadas por eles. Oliveira (2010, p.100) acrescenta ainda 
“A incapacidade de reagir diante das exigências utópicas e desmedidas que lhes são impostas tem colaborado para o desenvolvimento de graves crises que não são tratadas adequadamente, como crises relacionadas as suas atribuições de identidade, vocacionais, crises de relevância e metodologia, crises diante da queda de um colega de ministério clerical mediante um pecado capital como por exemplo o adultério, crise diante do desalento e temor, crises familiares, sociais, econômicas e espirituais”. 
Dentro desse complexo contexto, é de grande importância o relato do líder religioso norte-americano Hybels (2002), quando diz que uma das maiores preocupações e foco de grande tensão e conflito pessoal interno demonstrado por pastores, estão diretamente relacionados ao elevado nível de estresse e ao peso das pressões que são exercidas sobre eles. Portanto, nenhum líder religioso está imune de vivenciar a experiência de sentir que a emoção de servir a sua religião foi “ Substituída por uma sensação de morte iminente” (p.234). Tais aspectos de comportamentos mencionados por Hybels são alarmantes e dão claras evidências de sinais de depressão que pode sugerir ideação suicida, uma vez que de acordo com Lacerda (2018, p. 52-53) ao citar Collins apud Pintor (2012, p.141) descrevendo que 
“os sinais de depressão incluem tristeza, apatia e inércia, tornando difícil continuar vivendo ou tomar decisões, perda de energia e fadiga, normalmente acompanhadas de insônia, pessimismo e desesperança, medo, autoconceito negativo, quase sempre acompanhado de autocrítica e sentimento de culpa, vergonha, senso de indignidade e desamparo, perda de interesse no trabalho, sexo e atividades usuais, perda de espontaneidade, dificuldade de concentração, incapacidade de apreciar acontecimentos ou atividades agradáveis, e frequentemente perda de apetite” 
Oliveira (2006), faz também um alerta para uma doença chamada Síndrome de Burnout ou “Síndrome da desistência, de exaustão ou de consumição”, que pode implicar em comportamento suicida. Esta síndrome é provocada pelo excesso ou sobrecarga de trabalho e tem sido muito diagnosticada entre os líderes religiosos que segundo o mesmo autor provoca não somente esgotamento físico, mas também mental, devido as demandas desmedidas e metas utópicas as quais se submetem e se frustram por não atingirem. Oliveira ainda ressalta que a exaustão emocional dos líderes religiosos é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão, que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos próprios para lidar com as rotinas de prática profissional, ou seja, não conseguem de forma eficaz desenvolver o seu papel segundo os padrões religiosos a qual estão submetidos.
Reiterando, segundo Lacerda (2018, p. 54 apud Codo,1999), essa síndrome 
“É uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto e excessivo com outros seres humanos, particularmente quando estes estão preocupados ou com problemas”, seus sintomas produzem “exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal” 
 
Assim os desdobramentos mediante o não acolhimento dos líderes religiosos no exercício de seu trabalho que estão sendo acometidos por fatores estressantes podem originar um aumento da angústia e possivelmente levar a um quadro depressivo grave, resultando não apenas na continuidade permanente das suas atividades religiosas, mas também contribuir para a consumação do suicídio.
 3.1.3 Coping 
Todos os seres humanos possuem modos diferentes de lidar com os acontecimentos da vida, sendo que fatores estressantes e de extrema complexidade podem ser considerados perturbadores variando de indivíduo para indivíduo. Isso ocorre porque cada indivíduo tem uma forma diferente de enfrentar as situações adversas que a vida lhes impõe, uma vez que mediante aquilo que é aversivo como a dor, sendo ela de ordem física ou psíquica, o medo de enfrentar a vida, as cobranças pessoais ou sociais, além de outros fatores fazem com que o organismo se ajuste e reaja a esses fatores de tensão, que podem causar angústia, depressão e consequentemente comportamento mais graves a vida do indivíduo como o ato suicida. Para tanto se faz necessário que os indivíduos que estão em conflitos recorram às estratégias de coping para auxilia-los na adaptação, especialmente em situações de vulnerabilidade.
O Coping ou enfrentamento é definido por diversos autores ao longo dos anos. De acordo com Folkman (1980, n.p.) e Lazarus (1985, n.p.) apud Baptista (2014, p.26), o coping são esforços cognitivos e comportamentais realizados por indivíduos para gerenciar as demandasespecíficas externas ou internas, que são vistas como desgastantes e, portanto, a alternativa de administrar os conflitos entre eles.
Quando o indivíduo se depara com conflitos que é inerente a todo ser humano se faz necessário estratégias de coping. Essas estratégias que segundo os autores Folkman e Lazarus são esforços para resoluções de problemas e também para tomadas de decisão que venham fazer com que os indivíduos consigam lidar e administrar as circunstâncias aversivas que estão sobrecarregando seus recursos pessoais e ameaçando seu bem-estar. O objetivo desses esforços segundo os mesmos autores é alterar o ambiente o qual o indivíduo está submetido, fazendo-o se adaptar de maneira assertiva à situação ameaçadora, de modo a diminuir seus efeitos colaterais, proporcionando melhor qualidade de vida. Assim quando se está diante de uma grande dificuldade e não se sabe como lidar com determinada situação adversa, faz se necessário de alguma forma tentar superar o infortúnio através do coping.
3.1.4 Coping Religioso 
Para Dalgalarrondo (2008), entre cientistas, filósofos e psicólogos sociais existe um consenso a respeito da importância da religião enquanto esfera de significados para os reveses da vida e que a religião parece imprescindível aos momentos de impacto como o suicídio, doenças graves, perda de pessoas próximas, entre outras. 
Sabe-se que uma das formas dos indivíduos lidarem com seus conflitos se faz por meio da religião, na busca por sentido e significado de modo particular e institucional. Faz parte da cultura religiosa o indivíduo se apegar a crenças e práticas religiosas que podem estimular comportamentos positivos, podendo fazê-los lidar na melhor forma com as tensões internas e externas que os mesmos vivenciam, na busca do bem-estar físico, mental e espiritual. Para Pargament (1997, p.548), “quando as pessoas se voltam para a religião para lidar com fatores estressantes de grande complexidade, ocorre o coping religioso”.
O coping religioso está diretamente associado à saúde e a qualidade de vida dos indivíduos. Mesmo tendo poucos estudos referente a temática, segundo Panzini e Bandeira (2007), atualmente muitas evidências cientificas conectam religião e espiritualidade à saúde, tanto por questões físicas quanto psicológicas; essa qualidade de vida e outros constructos relacionando-os como bem-estar. 
Uns números satisfatórios de pesquisas indicam que crenças e práticas religiosas estão associadas com uma melhor qualidade de vida em todos os âmbitos humanos, seja na esfera física, psíquica e social. Segundo (Koening et al.,2001, p.97-109) 
 “Quase 850 pesquisas examinando a relação com saúde mental, a maioria defende associação do envolvimento religioso com maiores níveis de satisfação de vida, bem-estar, senso de propósito e significado da vida como esperança, otimismo, estabilidade nos casamentos e menores índices de ansiedade, depressão e abusos de substâncias. ”
Sob estes apontamentos que fazem da prática religiosa e suas crenças de fatores que implicam em uma melhor qualidade de vida aos indivíduos é pertinente nos dispormos a refletir sobre o suicídio, que nos remete a [mergulharmos num mar de interrogações]. Ao mesmo tempo que nos detemos na busca de respostas numa tentativa de se achar explicações convincentes sobre as razões que levam os indivíduos a cometerem o ato suicida, uma vez que o fenômeno do suicídio na atualidade se mostra ainda mais intrigante e perturbador pelo elevado índice de líderes religiosos estarem consumando tal ato.
Dentre as indagações sobre o ato suicida entre líderes religiosos podemos ser levados a pensar em um primeiro momento que os mesmos são indivíduos mentalmente frágeis em suas convicções religiosas, uma vez que tem por regra de verdade incontentável as escrituras religiosas, como por exemplo: não podem os religiosos cometerem o ato suicida como registrado no texto religioso, “Não matarás”[footnoteRef:7], sendo um delito grave quem transgredi este princípio religioso, sendo autoextermínio deliberado. Em outras palavras aquele que comete suicídio assassina a si mesmo e consequentemente está condenado e isso inclui o líder religioso. Afirmar isso seria negar a humanidade dos líderes religiosos, o que não coaduna com um outro princípio religioso que diz: Deus é amor[footnoteRef:8], e sendo amor não poderia condenar ninguém. Seria os líderes religiosos covardes entre outros estereótipos, ou estariam interpretando as escrituras religiosas de modo menos alienante. Para Pinto (2009), a religiosidade tanto pode se constituir em força, quanto refúgio, contribuir para o desenvolvimento pessoal, ético e comunitário ou aprisionar e provocar a esquiva da ansiedade diante de enfrentamentos. Esta religiosidade pode estar em conformidade com a espiritualidade promovendo sentido ou alienação e superficialidade existencial, inclusive se sobrepor a esta última, o que é visto nos fanatismos religiosos de pessoas que, de modo ingênuo, sequer criticam a própria religião. [7: Referente ao livro de Êxodo capítulo 20, versículo 13, texto da Bíblia.] [8: Referente ao livro de João capítulo 4, versículo 8c, texto da Bíblia.] 
Pode-se inferir que os líderes religiosos poderiam estar cometendo suicídio em resposta a uma religião que perdeu seu real significado, lhes obscurecendo a mente tornando-se sem sentido. Uma religião que não lhes dão ‘ouvidos’ a seus sofrimentos, as suas subjetividades, podendo assim estar criticando a sua própria religião através de suas dores e em seus atos suicidas. As convicções religiosas dos líderes religiosos podem estar se mostrando frágeis e superficiais uma vez que os conceitos e princípios religiosos que no século passado eram tidos como inquestionáveis e que na atualidade podem estar perdendo sua “força de verdade” irrevogável, se mostrando incoerentes na tentativa de explicar todo o eu humano em sua totalidade existencial. Tende a sociedade como um todo, em especial a comunidade religiosa na sua cultura e convicções religiosas explicar a conduta humana apenas pela ótica da religião, todavia se torna perigoso inferir que o fenômeno do suicídio entre líderes religiosos é ocasionado por fraqueza espiritual, falta de “fé” ou outros fatores e tabus que fogem da racionalidade. Não se pode explicar o comportamento suicidada do líder religioso por uma perspectiva teológica reducionista, mas sim por múltiplos fatores anteriormente citados. 
Assim a conduta humana haja em vista deve sempre se ater a subjetividade, expondo o que de mais normal e humano existe: a racionalidade, sentimentos, desejos entre outros pressupostos que envolve esse todo humano, que perpassa pela sua cultura, pela sua história de vida, pela sua individualidade. O anseio inconsciente dos líderes religiosos que cometem o ato suicida creiamos é o de não quererem conviver mais com a dor que se tornou insuportável, impossível de se conviver. Não sendo vistos na sua singularidade como alguém que também tem o direito de errar como qualquer outro no curso da sua existência, no exercício de seu trabalho. 
 Podem os líderes religiosos estarem sinalizando com os atos suicidas, o quão grande são os seus conflitos psíquicos que os fazem estarem em uma via “sem saída”, no dilema de serem líderes religiosos perfeitos em toda conduta perante sua religião e sociedade, tendo uma postura ética e moralmente aceita a ponto de não poder transgredir suas convicções religiosas e ao mesmo tempo ter o desejo de ser tudo aquilo que gostaria de ser e poder fazer na sua humanidade, mas que fogem dos princípios irrevogáveis religiosos, uma vez que não podem dentro de uma cultura que supostamente se tornou repressora, que obscura a mente e sufoca a subjetividade. Tais dilemas podem ser um dos fatores que trazem desequilíbrio mental e espiritual, acompanhado de sentimento de culpa, medo, perturbando a consciência, levando ao suicídio.
Tais sentimentos angustiantes nesta “via sem saída” são eventualmente carregados de pré-conceitos do que é politicamente certo ou errado, podendo se constituirna mente dos líderes religiosos como sem solução, se tornando patológicos e insuportáveis, podendo assim culminar na consumação do suicídio. Há aqui o embate entre a fé e a razão, onde a verdade não pode estar em posse de nenhum dos dois conceitos, mas se faz necessário buscar um equilíbrio progressivo do conhecimento científico, aliado ao saber religioso para minimizar este fenômeno em ascendência.
 De acordo com Schumaker (1992, n.p. apud Baptista,2014, p.29), sobre características do lado positivo e negativo da religião, descreveu 
“O primeiro incluiria a capacidade de reduzir a ansiedade existencial, dar significado e contribuir para o bem-estar emocional, auxiliar no enfrentamento da dor e sofrimento, orientar moralmente e o segundo contribuiria para gerar níveis de culpa patológicos, diminuir a autoestima, reprimir a raiva, os sentimentos entre outros”. 
O que realmente se sabe é que o homem é finito e que no decorrer da sua vida irá inevitavelmente adoecer. Não há quem não passe ou passará por adoecimento e/ou sofrimentos. Para Gomes (2014, p.316 apud Lacerda,2018, p.64) afirma que “as pessoas adoecem, sofrem e se deprimem porque são humanas”. Salienta Lacerda (2018, p.64) cita Gomes (2014, p.316-317) que 
“A doença não tem uma causa teológica, espiritual ou pecaminosa, tem sim uma causa ontológica. Todo ser humano é passível de sofrimento e de enfermidade. Parece que até hoje a religião não resolveu esse problema. Os cristãos são passíveis, assim como doenças cardíacas, asma, prisão de ventre e outras enfermidades comuns. ”
 O suicídio entre líderes religiosos de forma geral ainda tem sido ignorado dentro das instituições religiosas e pouco discutido. O tema tem sido irrelevante e indiferente mesmo que em ascendência, demonstra “tabus” de caráter preconceituoso que mostram o despreparo dos indivíduos na sua cultura religiosa por não refletirem sobre esta realidade. Importante enfatizar que os tabus nas suas muitas falácias são acompanhados por outro tema proibido aos líderes religiosos que já foi anteriormente citado: a depressão. 
Segundo Malta (2014, p.157), o líder religioso no exercício de seu trabalho que lhe proporciona desgaste físico, mental e espiritual, pode desencadear um quadro patológico de depressão uma vez que a
“Depressão é uma síndrome biopsicossocial, um distúrbio de humor. Atualmente é uma doença que mais tem incidência nos consultórios médicos. Em termos biológicos, há uma alteração fisiológica; em termos psicossociais, a depressão pode estar relacionada a algum sofrimento individual ou coletivo. O relacionamento do ser consigo mesmo, como os outros ou com um Ser divino influência seu modo de atuação e percepção do mundo. A depressão pode ser um resultado da interação do homem com o mundo, que muitas vezes lhe é inóspito. Pode ser a manifestação da escolha inautêntica do Ser.”
Tais tabus de senso comum e desconhecimento de fatores estressores da vida cotidiana impossibilitam que se identifique a real possibilidade de que os líderes religiosos possam estar em risco de suicídio, impedindo uma ação corretiva ou preventiva.
O ser humano é muito complexo e deve ser compreendido em sua totalidade, não de maneira fragmentada, uma vez que segundo Oliveira (2006, p.105) “o conflito entre a religião e a ciência médica é o que proporciona a fragmentação humana, tendo em vista que a primeira se apropriou do corpo e a segunda da alma. ” Os desdobramentos desse conflito criam um abismo entre as ciências, isto é, essa fragmentação do ser humano limita a cada ciência o estudo de uma das partes em detrimento da outra. Esse paradigma deve ser eliminado para que o ser humano seja compreendido e cuidado em sua totalidade, a partir de todas as dimensões que interligadas e entrelaçadas constituem o ser humano em toda sua subjetividade. 
Ainda segundo o mesmo autor, o ser humano para ser beneficiado no processo de desfragmentação, deve visar o equilíbrio espiritual, corpóreo, psíquico e social que envolve todas as suas dimensões, incluindo o elemento “fé”. Sob estes apontamentos do referido autor, se torna indispensável a abertura para o diálogo respeitoso entre as áreas do conhecimento científico e teológico, pois a importância deste diálogo poderá implicar na possibilidade de “construir pontes de comunicação entre as ciências” que juntas poderão beneficiar de forma integral a saúde dos líderes religiosos em seus sofrimentos, podendo inviabilizar a ideação suicida.
4. O PAPEL PREVENTIVO DA RELIGIÃO FRENTE AO SUICÍDIO ENTRE LÍDERES RELIGIOSOS E À ESCUTA PSICOLÓGICA	
A consequência dos atos suicidas entre os líderes religiosos tem deixado um impacto profundo na comunidade religiosa e sociedade como um todo, especialmente na vida daqueles que de alguma maneira estão envolvidos com a pessoa do líder religioso que apresenta comportamento suicida no exercício do seu trabalho. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2012, p.07)
“O impacto psicológico e social do suicídio em uma família e na sociedade é imensurável. Em média, um único suicídio afeta pelo menos outras seis pessoas. Se um suicídio ocorre em uma escola ou em algum local de trabalho, tem impacto em centenas de pessoas. ”
Segundo Fukumtisu (2013, p.75) no que se refere ao luto ocasionado pelo ato suicida, diz
 
 “[...] o luto por suicídio não é somente um fenômeno que pertence ao território da pessoa que se mata, mas se trata de uma morte que pertence ao coletivo”. Sabe-se que o impacto ocasionado pelo suicídio, possivelmente permanecerá por toda a vida dos sobreviventes podendo seus efeitos permanecerem por outras gerações, isso porque “Além da necessidade de compreender a morte, surge a redefinição de seu papel na família. Trata-se de um imenso investimento emocional, pois a morte da pessoa amada exige um reposicionamento diante de novos papéis. ”
 
Segundo Fukumitsu, podemos inferir que além da dor da perda ser imensurável, compreender a morte por suicídio do líder religioso se torna ainda maior por parte da família envolvida não sendo algo agradável e muito menos de fácil explicação, uma vez que este impacto psicológico e social do suicídio gera uma diversidade de fatores: sentimento de culpa, arrependimento, tristeza, choque, raiva, abandono, vergonha, estigmatizarão, busca de sentido, entre outros fatores. Destaca-se ainda a dificuldade para se compreender o porquê deste ato na vida de alguém que como abordamos anteriormente era tido como um “semideus”. 
Podemos nesta mesma linha de ideia conjecturar outra família envolvida na vida dos líderes religiosos: “a família religiosa[footnoteRef:9]”. Grande parte da comunidade religiosa sabe pouco a respeito de como lidar com um indivíduo apresentando ideação suicidada em seu meio e muito menos com líderes religiosos com tal comportamento, uma vez que reconhecem na maioria das vezes este comportamento como algo puramente fora dos padrões religiosos. Cabe enfatizar que os “tabus” como depressão e principalmente o suicídio entre os líderes religiosos são permeados por discursos preconceituosos, de caráter pejorativo e desumanos evidenciando que tais comportamentos fogem do plano da coerência, expondo assim o desconforto e despreparo da religião diante desta presente realidade, impedindo uma ação corretiva e preventiva por parte da mesma. [9: Entendida neste contexto como: seus seguidores e/ou discípulos da religião] 
Barro (2015, n.p.) enfatiza que, para que haja a possibilidade de uma relevante ação preventiva visando o bem-estar e continuidade da vida do líder religioso, que não estão imunes a nenhum infortúnio desta contemporaneidade, faz-se necessário a efetiva abordagem e contribuição da comunidade religiosa mediante uma mudança de mentalidade que vise uma “ação conscientisadora para mudar este quadro”. Essa ação deve ser capaz de quebrar este paradigma que se apresenta como uma fronteira a ser superada pela religião, para que a mesma possa atuar com profundidade e coerência no trato dos problemas psíquicos.
Para tanto, na ação conscientizada paraalcançar sua real eficácia, além de romper as fronteiras dos tabus, deve-se estar alerta e sensível para poder compreender o “fardo árduo” que o líder religioso carrega devido à continua demanda de questões advindas no exercício de seu trabalho eclesiástico. Demandas espirituais e sociais que proporcionam desgaste físico, mental e espiritual, desencadeiam no líder religioso como em qualquer outro líder que está a serviço da religião muitos danos emocionais, crises de ordem psíquica onde não percebidas, entendidas e tratadas, levarão inevitavelmente ao suicídio.
No processo de prevenção ao suicídio entre os líderes religiosos é, indispensável que a comunidade religiosa não questione a espiritualidade, escolhas ou a fé do líder religioso em suas crises, seja ela de qualquer ordem: emocional, espiritual ou existencial. Bomilcar (2019, n.p.) salienta a dificuldade da religião, de sua comunidade em integrar temas de saúde mental e espiritualidade cristã, dizendo:
“Como comunidade cristã, sofremos de maneira geral com a dificuldade de integração entre temas de saúde mental e espiritualidade cristã”. Precisamos incentivar o diálogo para auxiliar na prevenção desta questão do suicídio, por exemplo, bem como de tantas outras que assolam a saúde emocional. ” 
Para Bombicar (2019, n.p.), é imprescindível nesse processo de conscientização e prevenção que existam:
“Comunidades que estejam atentas para discernir os sinais de adoecimento psíquico e fatores de risco. Que respeitem as fragilidades, que caminhem na direção do outro com ação e espiritualidade. O primeiro passo é nossa abertura para ouvir sobre estes temas e falar abertamente sobre eles. Esta realidade está presente em todas as comunidades religiosas. ”
Assim faz-se necessário que as comunidades religiosas, a religião como um todo, tenha sensibilidade e percepção para identificar quando os líderes religiosos estão enfrentando sofrimentos de ordem psíquica que se mostram multifatoriais[footnoteRef:10], onde apresentam quadros de crises de transtorno mentais, como ansiedade, depressão, burnout e até mesmo sinais que evidenciam pensamentos suicidas. É preciso intervir, dando suporte e propor encaminhamento terapêutico através de uma escuta especializada, a psicológica. [10: Desequilíbrios químicos, aspectos biológicos, socioculturais e até mesmo “religiosos”.] 
Para Oliveira (2006), a escuta psicológica “livre e sem restrições visa ajudar a pessoa a reorganizar seus sentimentos e cognições a partir da fala”. Seu objetivo é proporcionar um ambiente acolhedor e ausente de ‘preconceitos e objeções preliminares’ por parte do psicólogo para o desabafo sem restrições. Trata-se de um ambiente seguro para o líder religioso expor e verbalizar as pressões, sentimentos, angústias, pensamentos intrusivos, dentre outras demandas internas que permeia seu ser, semelhante às registradas por Oliveira (2006, p.82) apud Smith:
[...]. Reconheço que poderia ter mudado minha programação, a fim de dar mais tempo a minha família. O verdadeiro motivo...é que a coisa não funciona, não é mesmo? É só falatório inócuo e celebração de costumes religiosos, mas ninguém se transforma!
[...]. Havia ocasiões em que eu me sentia como um traficante de drogas. A congregação me pagava para que eu lhe desse injeções regulares de ânimo. Eu tinha de convencer as pessoas de que deveriam prosseguir tentando ser bons crentes durante mais uma semana! E elas iam embora acreditando que, daquela vez, seriam melhores. Mas sabíamos que nada ia mudar, porque o negócio não funciona” [..]. 
Segundo Oliveira (2006), é perceptível que tal desabafo evidência um nível de exaustão emocional, com uma fala carregada de pesar, tristeza, podendo inferir também um autoconceito negativo deste líder religioso em si mesmo e na religião que prática. Um desprazer frente ao seu trabalho (“perda de motivação”) com sentimento depreciativo, onde constata-se em sua fala: “ como um traficante”; “não fazer sentido algum”. O que faz “saltar aos olhos” é a iminente necessidade de uma intervenção terapêutica não julgadora capaz de transcender a superficialidade de conselhos simplistas do tipo “leia mais o texto religioso” ou “busque mais sua divindade e medite mais”. A intervenção psicológica, deverá considerar a crise dos líderes religiosos a partir de uma análise adequada, aprofundada do contexto de vida desses líderes e primordialmente humanizada, observando de forma atenta suas dificuldades que engloba as dimensões “bio-psico-social-espiritual”, permitindo que os mesmos exponham seus desconfortos e suas angústias sem se preocupar com o julgamento alheio, seja de sua família, comunidade religiosa ou sociedade como todo.
 Assim sendo, cabe a comunidade religiosa uma mudança de concepção em relação a uma visão objetivada no que se refere ao sofrimento psíquico desses referidos líderes religiosos ao perceber a subjetividade dos mesmos em suas dores, reconhecendo importância e a necessidade da psicologia enquanto uma ciência humana, que surgiu na história para promover meios que venham proporcionar saúde psíquica a qualquer indivíduo acometido por disfunções psíquicas, independente de raça, credo, posição partidária, classe social e etc. 
 A psicologia sendo um importante referencial terapêutico para além da teologia como um processo de saúde mental, busca quebrar tabus preconceituosos e paradigmas abordando os aspectos do cuidado integral de modo assertivo, de forma a resultar em líderes religiosos mentalmente saudáveis sem ideação suicida e com melhor qualidade de vida: emocional, familiar, social e eclesiológica. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O suicídio entre os líderes religiosos na sua complexidade continua intrigando e causando desconforto para as comunidades religiosas, para a religião como um todo e a sociedade. A falta de conscientização, as críticas severas, destrutivas e desumanas sem reflexão, reportada a pessoa do líder religioso sem fazer uma leitura objetiva da subjetividade dos mesmos, trazem depreciação a sua imagem e desrespeita o seu sofrimento.
Diante deste impressionante fenômeno de atos suicidas entre líderes religiosos, nos debruçamos na análise desta incômoda realidade com o propósito de evidenciar os sofrimentos que os mesmos vivenciam diariamente, propondo uma ação preventiva e corretiva para promover saúde mental e qualidade de vida. Certamente não se pode negar os fatos que tabus e discursos preconceituosos e a falta de conhecimento que orbitam em torno do suicídio entre os líderes religiosos no exercício de seu trabalho podem proporcionar adoecimento mental grave como depressão, burnout e outros transtornos psíquicos de ordem multifatoriais que se não forem percebidos e tratados podem levar inevitavelmente ao suicídio.
Evidentemente, tais posicionamentos apontados dificultam a possibilidade de um diálogo respeitoso desprovido de julgamentos e preconceitos religiosos a respeito do assunto, criando barreiras e um “profundo abismo” impedindo que os líderes religiosos expõem suas crises e seu desejo pela morte, fazendo com que pensamentos intrusivos permeados por angústia se instalem e os impeça de acharem uma saída diante deste sofrimento psíquico. Este abismo impede que os líderes religiosos em suas dores, busquem recursos especializados como a ciência psicológica, que pode atuar de modo eficaz através de uma ação psicoterápica, respeitando as dimensões que envolvem a vida dos líderes religiosos, contribuindo para a não consumação do suicídio. 
Conclui-se que a “onda de suicídios” na contemporaneidade entre líderes religiosos pode ser evitada, quando os agentes envolvidos com os mesmos procuram de forma conscientizada e humanizada perceber toda a subjetividade finita e limitada dos mesmos, respeitando-os como homens singulares e não como super-humanos, proporcionando apoio em suas crises para que possam melhor gerir as diferentes demandas no exercício de seu trabalho religioso, além das suas próprias demandas permeadas por tensões e conflitos que tendem a se instalar noseu psiquismo. 
Porém vale enfatizar a necessidade de estudos que abordem os construtos apontados deste trabalho, além de considerar como alternativa para saúde emocional dos líderes religiosos católicos, evangélicos dentre outros, programas de conscientização, intervenção e prevenção que desenvolvam o uso de ferramentas eficazes de enfrentamento capazes de assegurar maiores possibilidades de sucesso terapêutico, com reflexo positivo em sua qualidade de vida no seu cotidiano.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, D.R.; PANZINI, R. G. Coping (enfrentamento) religioso/espiritual,2007.
BAPTISTA, M. R. A atividade física no controle do stress, 2006, p.02. Artigo (revisão de literatura) - Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo).
 
BAPTISTA, F. S. Vulnerabilidade ao stress e estratégias de enfrentamento de líderes religiosos cristãos, 2014. Tese (mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Campus Universitário de Bauru - Faculdade de Ciências.
Barro, Antônio Carlos. Suicídio pastoral é um tabu. Faculdade Teológica Sul Americana. Disponível em: https://www.ftsa.edu.br/home/index.php/en/artigo/360-suicidio-pastoral-e-um-tabu,2015. Acesso em: 30 out.2019.
BARROS, Monalisa Nascimento dos Santos. O suicídio e os desafios para a psicologia. Conselho Federal de Psicologia. Brasília: 2013, p.10. 
BERNARDO, André. Depressão no altar: quando padres e sacerdotes precisam de ajuda. Disponível em < https:// bbc.com/portugueses/brasil-3940596.html,2017. >. Acesso 18 jul.2019.
BOMILCAR, Karen. O papel preventivo da igreja. Ultimato. Disponível em http://www.servodecristo.org.br/post/o-suicidio-e-o-papel-preventivo-da-igreja,2019. Acesso em 31 out.2019
 CHAGAS, Tiago. Série de suicídio de pastores acende alerta contra a depressão,2013. Gospel mais. Disponível em <https:// noticias.gospelmais.com.br/serie-suicídioos-pastores-acende-alerta-depressão-63378.html>. Acesso em 07 agost.2019.
DALGALARRONDO, P. Religião, psicopatologia e saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2008. 288p. 
FUKUMITSU, K. O. Suicídio e Luto: história de filhos sobreviventes. São Paulo: Digital Publish e Print Editora, 2013, p.75.
HYBELS, Bill. Liderança corajosa. São Paulo: Vida,2002.
Koenig, H.G. - Religion and Medicine II: religion, mental health and related behaviors. Int J Psychiatry Med 31(1):97-109, 2001a. 
LACERDA, E. A. P. Suicídio de pastores: uma análise dos fatores de risco que contribuem para a consumação do suicídio. 1ª. ed. São Paulo: Clube de Autores, 2018,p.48;52-53.
LIPP, M.E.N. & NOVAES, L.E. O Stress: 3 ed. São Paulo, Contesto, 2000.
MALTA, Dâmaris Cristina de Araújo. Eclipse da alma: angustia, fé e sentido da vida na pós-modernidadde.2.ed. São Paulo: Fonte Editorial,2014.
MORAIS, M. F. A. Stress, burnout, coping em padres responsáveis pela formação de seminaristas católicos. 2008. 182f. Tese (Doutorado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
NASCIMENTO, Anderson. Quem eram os pastores que se suicidaram em 2017? Conheça cada um deles. 1Disponível em<. >. Acesso 07 agost.2019.
OLIVEIRA, Roseli M. Kuhnrich. Cuidando de quem cuida: um olhar de cuidados aos que ministram a palavra de Deus. 2. Ed. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Ação de saúde pública para a prevenção de suicídio: uma estrutura. Genova, 2012, p.07.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS): Suicídio é responsável por morte a cada 40 segundos no mundo, 2016. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-suicidio-e-responsavel-por-uma-morte-a-cada-40-segundos-no-mundo/Acessso em: 29 set.2019.
PARGAMENT, K. I. The psychology of religion and coping: Theory, research, practice. New York: Guilford Press, 1997, p.548. 
PEREIRA, W. C. C. Sofrimento psíquico dos presbíteros: dor institucional. Petrópolis: Vozes, 2012, p.67. 
RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. São Paulo: Artmed, 2001.
SELYE, H. Stress: a tensão da vida. São Paulo: Ibrasa, 1959.
.

Outros materiais