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Prévia do material em texto

ALUNO ; João Guilherme Dos Santos. 2° PERÍODO. 
 matricula; 201908231777. 
PROFESSORA ; ANNE CAROLINE FERNANDES ALVES. 
 
DISCIPLINA ; Redação Instrumental 
 
 
FICHAMENTO DO CONTEÚDO - capítulo 3 
• ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA. 
 
3.1 Características: Argumentação Jurídica. 
 
.Introdução 
“Ao longo do processo evolucionista da escrita e da fala, adquiriram 
o que se chama hoje de - Técnica Retórica , já trabalhado por 
Aristóteles em seu livro A RETÓRICA, que deu início, portanto, ao 
pronunciamento breve, técnico e persuasivo. Hodiernamente, o 
pronunciamento breve hoje se tornou o que nós chama de Debate, 
onde existe um argumento provindo de uma tese, acompanhada 
também de um ponto de vista analítico.” 
 
 
 
 
 
• RESUMO TÉCNICO ; ARGUMENTAÇÃO. 
O entendimento da importância da argumentação para o 
profissional do Direito está cada vez mais presente no mundo 
jurídico. Diversas são as teorias, os livros, os autores que buscam 
desenvolver teorias de argumentação eficientes para a prática 
jurídica. Um bom jurista é um bom argumentador e não poucas 
vezes é a qualidade da argumentação que determinará a vitória 
ou a derrota. Apesar de sua importância, destaca Atienza (2003, 
p.17) que: “[...] pouquíssimos juristas leram uma única vez um 
livro sobre a matéria e, seguramente, muitos ignoram por 
completo a existência de algo próximo a uma “teoria da 
argumentação jurídica.” 
Abbagnano (1998, p.79), em seu “Dicionário de Filosofia”, afirma que argumento: “[...] 
é qualquer razão, prova, demonstração, indício, motivo capaz de captar o 
assentimento e de induzir à persuasão ou à convicção.” - PÁGINA (83) 
 
Narrativa Jurídica O pescador Ademar Manoel Pereira morava com a família, 
em julho 2004, em um barraco de madeira que incendiou e todos os móveis foram 
destruídos, não podendo nada ser recuperado. E, por isso, devido às dificuldades 
financeiras, atrasou o pagamento das contas de água à CASAN (Companhia Catarinense 
de Águas e Saneamento). Conforme afirmou Marlene Teixeira Pereira, esposa do 
pescador, ela foi ao escritório da companhia para pedir o parcelamento da dívida, pois 
não teriam condições de pagar a quantia à vista, porque o marido estava reconstruindo 
a casa com a ajuda da comunidade local, e não poderia a sua família ficar sem água. 
Entretanto, o representante da CASAN negou o pedido de Marlene Pereira e a 
companhia cortou o fornecimento de água devido ao atraso de pagamento por parte do 
usuário, em dezembro de 2004. O pescador trabalha na Prefeitura de Piçarras (SC) e 
recebe mensalmente um salário mínimo. 
 
Conclusão; Em face do exposto, requer-se que a requerida 
Companhia Catarinense de Águas seja obrigada a fazer a 
religação da água e cobrança pelas vias adequadas para 
recebimento de pagamentos em atraso. 
 
 
 
 
 
3.3 Estrutura Formal: Parágrafo Argumentativo 
(Página 92) 
Descreve-se que o desenvolvimento do parágrafo 
dependerá, naturalmente, da macroestrutura do texto. Há 
certos tipos de desenvolvimento mais adequados ao texto 
argumentativo, outros, ao discurso narrativo. Quanto à 
forma, o parágrafo é indicado materialmente na página 
digitada ou manuscrita por um ligeiro afastamento da 
margem esquerda da folha (aproximadamente dois 
centímetros). Isso facilita ao produtor de texto a tarefa de 
isolar e depois juntar convenientemente as ideias 
principais de sua composição, permitindo ao leitor 
acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes 
estágios. Observe que, à semelhança do texto como um 
todo e do desenvolvimento das teses, também cada 
parágrafo é estruturado em introdução, desenvolvimento 
e conclusão. Lembrar que essas três partes do texto são 
compostas de um ou de vários parágrafos e que esses são 
constituídos por períodos que, por sua vez, são 
constituídos por orações, mas nunca se constrói um texto 
com paragrafação única, seguindo o estilo de Ata de 
reunião, pois essa falha é gravíssima. 
• RESOLUÇÃO ; 
• • Introdução: Temos três espécies de preclusão: temporal, lógica e consumativa. Introduz e 
delimita o tema, estabelecendo um roteiro do que vai ser discutido, conceituado. 
• Desenvolvimento: Corresponde ao conceito de cada espécie de preclusão. 
• • Conclusão: Corresponde ao último período, funcionando como uma confirmação dos 
conceitos, apresentando a consequência da preclusão, qualquer que seja ela. 
 
 
 
 
 
 
3.4 Planejamento: Argumentação Jurídica 
(página 97) 
O trabalho argumentativo pressupõe uma liberdade na 
escolha dos vários argumentos que irão fundamentar a tese, 
com o objetivo de persuadir o auditório (juiz). Deve ser feito, 
pois, um planejamento com as ideias principais a serem 
abordadas. Primeiramente, após a construção da tese, parte-
se da seleção dos fatos [narrativa jurídica] que serão 
transformados em argumentos. 
No segundo momento, os tipos de argumentos que serão 
usados e a ordem lógica a ser dada por cada um deles, 
buscando sempre a que for mais persuasiva. A estruturação 
da tese (ou de cada tese) deve vir com introdução, 
desenvolvimento e conclusão para que se torne mais 
consistente e persuasiva. É fato que uma boa organização 
textual e apresentação consistente dos raciocínios passam 
maior veracidade e confiabilidade ao juiz, além de evitar que 
o magistrado não entenda o teor do pedido por falta de 
clareza textual. O desenvolvimento e a conclusão são as 
etapas mais trabalhosas para o advogado e o pedido ao juiz é 
feito na conclusão da argumentação. Desse modo fica 
bastante didático o planejamento, reitera-se: após o texto 
narrativo, vem a elaboração da tese ou das teses. Em seguida 
é o momento de escolher os fatos que serão interpretados 
(valorados), transformando-se em argumentos e os tipos de 
argumentos e provas que servirão de sustentação para a tese 
na argumentação a ser elaborada. 
 
 
 
 
Em síntese, seguem os principais pontos do planejamento: os 
fatos que necessitam ser narrados; a (s) tese (s) ; os diversos 
tipos de argumentos que vão reforçar a(s) tese(s) em uma 
ordem lógica de raciocínio e persuasiva; os elementos de 
comprovação (provas, documentos); a(s) tese(s) por ordem 
de importância; argumentos que devem fundamentar cada 
uma dessas teses apresentadas a cada parágrafo; apresentar, 
ao final, conclusão, que é o pedido feito ao juiz. De posse de 
todas as informações necessárias fica mais fácil organizar a 
ordem e exposição lógica dos argumentos no texto e, desse 
modo, iniciar a argumentação jurídica. A forma verbal deve 
ser usada na terceira pessoa do singular, no presente do 
indicativo (atemporal) e em forma de paragrafação. 
Conforme já visto a estrutura da argumentação jurídica deve 
apresentar as seguintes partes para facilitar a compreensão e 
alcançar a clareza textual: introdução, desenvolvimento e 
conclusão. Na introdução apresenta-se a tese, seguida de 
elementos fáticos valorados, que passam a ter função de 
argumentos, e que estão a serviço da sustentação da tese; no 
desenvolvimento entram aqueles elementos de 
comprovação (provas), juntamente acompanhado dos 
demais argumentos que fundamentarão a tese e, finalmente, 
a conclusão com o pedido feito ao juiz. Segue a estrutura a 
ser feita a cada parágrafo argumentativo: 
1º PARÁGRAFO Introdução Apresenta-se a tese e trabalha-se 
com os fatos que a sustentam em raciocínios 
argumentativos. 
 
 
 
 
 2º PARÁGRAFO E DEMAIS Desenvolvimento As provas e os 
argumentos que darão sustentação à tese. 
ÚLTIMO PARÁGRAFO Conclusão O resultado e o pedido que 
se faz diante da tese. 
 
3.5 Operadores ou Conectores Argumentativo – Discursivos: 
Argumentação. 
Ao figurar a estrutura do texto, podemos destacar um ponto 
mais importante na hora de fazer uma peça processoal. 
OS CONECTIVOS, MOSTRA UMA COERÊNCIA TEXTUAL, ONDE, 
O FORMATO DA ARGUMENTAÇÃO CONECTA AOS 
RESPECTIVOS CONECTIVOS. PARA, NO ENTANTO, DAR 
COESÃO AO TEXTO.(referência; João Guilherme Dos Santos) 
OPERADOR /CONECTOR FUNÇÃO ‘mesmo’, ‘até’, ‘até mesmo’, ‘inclusive’ 
Organizam a hierarquia dos elementos numa escala, assinalando o argumento 
mais forte para uma conclusão R. ‘ao menos’, ‘pelo menos’, ‘no mínimo’ 
Introduzem dado argumento deixando subentendida a presença de uma escala 
com outros argumentos mais fortes. ‘portanto’, ‘logo’, ‘por conseguinte’, 
‘pois’, ‘em decorrência’, ‘consequentemente’ Introduzem uma conclusão 
relativa a argumentos apresentados em enunciados anteriores. ‘ou’, ‘ou 
então’, ‘quer...quer’, ‘seja...seja’ Introduzem argumentos alternativos que 
conduzem a conclusões diferentes ou opostas. ‘mais que’, ‘menos que’, 
‘tão...como’ Estabelecem relações entre elementos, com vista a uma dada 
conclusão. ‘porque’, ‘que’, ‘já que’, ‘pois’ Introduzem uma justificativa ou 
explicação relativa ao enunciado anterior; ‘mas’, ‘porém’, ‘contudo’, ‘todavia’, 
‘no entanto’, ‘embora’, ‘ainda que’, ‘posto que’, ‘apesar de (que)’ Contrapõem 
argumentos orientados para conclusões contrárias; opostas. 
Partindo da importância desses operadores discursivo-argumentativos na construção da 
argumentação jurídica, apresenta-se a análise da fundamentação, fragmentada 
intencionalmente em parágrafos, extraída de um Acórdão, para melhor compreensão da 
 
 
 
 
função que cada um desses operadores ou conectores exerce na organização do raciocínio 
nos parágrafos construídos. (PÁGINA 101) 
§ lº: É fato provado e incontroverso (NCPC, 373, I; 374, III) o aponte do nome do autor no 
cadastro de restrição ao crédito (fls. 15), muito embora inexistente qualquer 
inadimplemento (fls. 17/28). Ou seja, no momento da inclusão, inexistia um dos requisitos 
legais para tanto: a inadimplência do devedor (S.323 STJ; S.90 TJ/RJ a contrario sensu). O 
ilícito é flagrante, consubstanciado na conduta abusiva da ré, contrária ao megadever 
jurídico da boa-fé (CR, 1º, III; CC, 187, 422; Lei 8.078/90, 4º, caput, III, VI; 42, caput; 43, §1º), 
do que resulta inequívoca a responsabilidade da apelada. O parágrafo se inicia por uma 
expressão modalizadora – “É fato provado e incontroverso[...]”. As expressões 
modalizadoras são elementos linguísticos que funcionam como indicadores de intenções, 
sentimentos e atitudes do relator em relação ao seu discurso. É por meio delas que o 
interlocutor percebe se o relator crê no que diz, se seu grau de certeza é forte ou atenuado, 
se ele se coloca como quem pode dizer o que sabe deve ou não fazer. E mais, elas são 
importantes para a construção do sentido e indicam o modo, a maneira como o que se diz é 
dito. Elas revelam a atitude do relator diante do enunciado que produz (KOCH, 2012). Por 
conseguinte, esse início de parágrafo mostra como as construções é certo, é fato, é preciso, 
é necessário, é provável, é obrigatório, dentre outras; 
são usadas com a intenção de desprestigiar, de pronto, qualquer outra tese que possa vir 
em direção contrária. O operador, “Ou seja”, tem a função geral de introduzir uma 
asserção derivada que visa a um ajustamento ou a um ajuste de precisão de sentido. O 
produtor de texto deve ficar atento para que esse conector não seja usado 
inadequadamente, tornando-se um vício de linguagem (“muleta argumentativa”). É muito 
comum, em textos jurídicos, deparar-se de forma excessiva e inadequada quanto ao uso 
dessa expressão que se volta para informar um sentido preciso ou mais esclarecedor do 
que foi dito antes. Na maioria das vezes, é usada pela dificuldade que demonstra o 
produtor do texto em articular os parágrafos entre si com os elementos coesivos 
adequados àquela situação semântica estabelecida entre eles. Assim, os operadores, isto 
é, quer dizer, ou melhor, ou seja, entre outras expressões visam a esclarecer, retificar, 
desenvolver ou explicar uma enunciação anterior e só quando houver, realmente, 
necessidade devem ser utilizados. No caso em análise, visa a dar um entendimento preciso 
à asserção anterior, reforçando que, no momento da inclusão“[...]do nome do autor no 
cadastro de restrição ao crédito[...]”, pois, não havia termo legal para a conduta 
praticada, o que passou a ser entendido como medida ilícita e abusiva por parte da ré. 
Os conectores, “portanto”, “por conseguinte”, “logo”, “isso posto”, na parte do dispositivo 
do Acórdão, introduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados em parágrafos 
anteriores. Aqui, o conector aponta, na verdade, a decisão final dada à matéria. Tem-se, 
neste momento, o fecho do voto “Isso posto,” dá-se parcial provimento ao recurso[...]”. 
Cada uma das partes do esquema do Acórdão (Ementa, Relatório, Fundamentação) serve 
para guiar esse percurso argumentativo. 
3.6 Tipos de Argumentos 
 
 
 
 
 
A Retórica é definida por Aristóteles como arte de procurar, 
em qualquer situação os meios de persuasão disponíveis. 
Esse conceito é ampliado pelo filósofo Chaim Perelman, ao 
afirmar que o objetivo da Nova Retórica é o estudo das 
técnicas discursivas que visam a provocar ou aumentar a 
adesão das mentes às teses apresentadas. Para se elaborar 
uma argumentação jurídica é necessário construir 
argumentos, aduzir raciocínios que a constituem e para isso é 
necessário conhecer alguns tipos, entre muitos outros 
existentes, para maior consistência em sua construção. Dessa 
forma, as possibilidades de construções argumentativas são 
bastante numerosas, razão por que a classificação de alguns 
dos argumentos, a seguir, é meramente didática. 
3.6.1 Argumento por Vínculo Causal ou Causa e 
Consequência As ligações de sucessão mais importantes são 
a argumentação por vínculo causal, que dão origem à 
argumentação pela causa e consequência, ou seja, a um dado 
acontecimento, infere-se uma causa para buscar a provável 
consequência. O argumento por vínculo causal é o 
argumento das consequências que avalia um ato, um 
acontecimento reportando-se às suas consequências 
presentes ou futuras. Consoante suas consequências 
favoráveis ou desfavoráveis; transfere-se todo o valor destas, 
ou parte delas, para o que é considerado causa ou obstáculo. 
Pode-se mostrar por meio do argumento por vínculo causal 
que um acontecimento constitui a condição necessária e 
suficiente de outro. Habitualmente, o acontecimento será 
 
 
 
 
apenas uma condição necessária ou uma causa parcial. Esse 
argumento desempenha um papel tão importante na 
argumentação, que muitos autores veem nele o esquema 
único da lógica dos juízos de valor, isso porque, geralmente, 
ele não requer pelo senso comum nenhuma justificação 
maior, entretanto o ponto de vista que lhe é contrário é que 
precisa ser bem argumentado. Destaca-se que esse tipo de 
argumento tem que ligar causa e consequência de forma 
aceitável e prudente, pois o encadeamento exagerado causal 
não pode gerar uma transferência exagerada, não requer 
pelo senso comum nenhuma justificação maior, entretanto o 
ponto de vista que lhe é contrário é que precisa ser bem 
argumentado. Destaca-se que esse tipo de argumento tem 
que ligar causa e consequência de forma aceitável e 
prudente, pois o encadeamento exagerado causal não pode 
gerar uma transferência exagerada, não autorizada pelo 
raciocínio coerente, lógico. Enquanto as reflexões sobre a 
causa são feitas a partir do fato, as considerações 
circunstanciais sobre o fato dão-se a partir de certa 
interpretação da causa, cuja busca corresponde, em outras 
circunstâncias, a da consequência. 
3.6.2 Argumento de Concessão: Coordenativo e 
Subordinativo 
Concessão, no sentido retórico do termo, é a aceitação de 
um argumento do adversário, que não se refuta, mas que se 
faz seguir de um argumento em sentido inverso, a partir do 
qual se conclui. É um tipo de manobra argumentativa muito 
utilizada na argumentação jurídica, por ser um meio 
 
 
 
 
persuasivo muito importante. Concordando 
“aparentemente” com o adversário que sua tese é justae 
pertinente, o advogado, de um lado, concilia-se com ele, de 
outro, torna-lhe menos penoso admitir os argumentos 
contrários a ele. A concessão é uma estratégia argumentativa 
e como tal ela é parte integrante e constitutiva da lógica 
argumentativa. A organização da lógica argumentativa, 
segundo Charaudeau (1992, pp. 787-794), engloba cinco 
componentes, dentre eles: os elementos de base da relação 
argumentativa, que são a asserção inicial (premissa), a 
asserção final (conclusão) e a asserção de passagem 
(inferência, argumento, prova). Dentro dessa relação 
argumentativa ainda há os modos de encadeamento, dentre 
eles a concessão, as relações semânticas, os tipos de ligações 
lógicas e a posse do valor de verdade. Pela convivência de 
perspectivas ou teses opostas, o texto se constrói numa 
direção e busca a adesão do auditório para a direção oposta 
à sua própria construção. A concessão surge, assim, como um 
passo feito em direção ao adversário; ela é constitutiva de 
um ethos positivo (abertura, atenção para com o outro)”, 
mas para tirar a força da tese do adversário. Esclarece-se, 
portanto, o fato de que o valor de concessão não é veiculado 
somente por estruturas com conectores que 
tradicionalmente são chamados de concessivos (embora, 
apesar de, mesmo que, ainda que). O processo da concessão 
teve seu enfoque discursivo em destaque, a princípio, em 
1976, por intermédio de Oswald Ducrot e Jean Claude 
Anscombre (1983, p. 31). Os autores, ao descreverem, em 
suas pesquisas, enunciados do tipo “P MAS Q”, registraram o 
 
 
 
 
valor concessivo dessa construção. Isso significa que as 
estruturas com os conectores adversativos (mas, porém, 
todavia, contudo, entretanto) também veiculam a ideia de 
concessão. 
3.6.3 Argumento de Autoridade Argumentar por autoridade 
 significa trazer ao discurso a opinião de pessoa reconhecida 
em determinada área do saber, para que suas palavras 
funcionem como reforço à veracidade da tese que se 
apresenta. Quando o argumentante usa esse tipo de técnica, 
toma de empréstimo o conhecimento e o renome da 
autoridade citada e acrescenta-os a seu próprio discurso - 
por assim dizer, enchendo-o de razão. Por seu alto valor, o 
argumento de autoridade é um dos mais utilizados nos textos 
jurídicos, por meio da citação da doutrina, jurisprudência 
O argumento a contrario sensu volta-se para a interpretação 
inversa (restrição/ exclusão) é tipicamente jurídico e tem 
estrita relação com o princípio da legalidade, inscrito no 
inciso II, do art. 5º, da Constituição da República Federativa 
do Brasil (CRFB/88), que assim dispõe: “ ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em 
virtude de lei”. Sua origem fundamenta-se na observação de 
que, se uma norma jurídica prescreve uma conduta e a ela 
uma sanção a um sujeito, deve-se excluir de seus efeitos 
todos os sujeitos que não tenham sido alvo do texto literal da 
lei. Desse modo, se o artigo 312 do Código Penal comina uma 
pena para a conduta e “Apropriar-se o funcionário público de 
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel...” significa, 
contrario sensu, que aquele que não for funcionário público 
 
 
 
 
não responde por esse crime. O argumento a contrario sensu 
– de interpretação inversa- é utilizado pelo argumentante 
não apenas ao interpretar os dispositivos legais, dentro do 
princípio da legalidade, mas também articulado para 
trabalhar, a favor do argumentante, jurisprudências e 
doutrinas, transformando-lhes o sentido, de maneira lógica, 
para adequar-se a uma tese qualquer pela interpretação por 
via inversa: Pois bem, se o querelante pode oferecer queixa 
crime quando faz a prova da autorização do entrevistado 
para a publicação dos ditos ofensivos, depreende-se, 
contrario sensu, que não o pode fazer se não realizar, 
anteriormente, essa mesma prova. 
3.6.8 Argumento por Senso Comum; 
 É o argumento que traz declarações aceitas pela maioria, 
sendo difícil combatê-las. No Direito, poucas teses específicas 
são de senso comum, porque a concordância quanto à 
interpretação da lei é rara. Ainda pode-se dizer, segundo 
Rodriguez (2004, p.263), que essas declarações trazidas pelo 
argumento de senso comum não podem ser negadas pela 
parte contrária, pois são óbvias. Apesar, de parecer 
convincente, até porque não aceita réplica, esse argumento 
tem força de persuasão fraca, “pois seu alcance é por demais 
vago, obtuso” além do que, as duas partes do litígio podem 
utilizá-la. Dessa forma, para garantir a eficácia desse 
argumento, ele deve estar acompanhado de outros 
argumentos que lhe venham a dar sustento. Nas lides 
judiciais, o argumento de senso comum funciona dando mais 
ênfase ao texto, “como um recurso retórico”, sua utilização 
 
 
 
 
deve ser com o objetivo de reforçar o contexto do que se 
pretende. Caso contrário, a argumentação aproxima-se do 
lugar comum. O combate desse tipo de argumento pela parte 
contrária é feito pedindo-se argumentações mais pertinentes 
ou exigindo comprovação de que houve “violação aos 
princípios aceitos por unanimidade” (RODRIGUEZ, 2004, p. 
264-265) 
3.7 Discurso Jurídico: Descritivo, Valorativo e Normativo 
Todo o discurso jurídico comporta necessariamente três 
valências, a saber: a descritiva (exposição dos fatos), a 
valorativa (qualificação dos fatos) (fatos transformados em 
argumentos por meio da interpretação) e a 
normativa(aplicação do Direito). As proposições descritivas 
estabelecem que algo é ou não é, quer dizer, que sucedeu 
algo que afetou uma coisa ou uma pessoa. As proposições 
valorativas apreciam as pessoas e as condutas, qualificando-
as de valiosas ou desvaliosas. Já as proposições normativas 
mandam, permitem ou proíbem as pessoas de fazer algo ou 
alguma coisa. Como as proposições descritivas estabelecem 
que algo é ou não é, a característica própria dos juízos 
descritivos que as integram é que são juízos em que se 
informa ou estabelece se algo é ou não é real. 
Consequentemente, as 3.6.10 Argumento por Antimodelo O 
antimodelo indica o que deve ser repugnado: o não exemplo, 
e é uma técnica típica da escola de Górgias, o qual foi a ponta 
de lança na criação das primeiras técnicas destinadas a 
estimular, com meios apropriados, a invenção dos conceitos. 
Essa técnica parte da convicção de que se, na invenção dos 
conceitos, referir-se, como ponto de partida a um modelo 
 
 
 
 
precedente, espontaneamente imitá-lo e, portanto, será 
difícil dizer algo original. Perelman (2000, p. 388) notou como 
essa técnica do antimodelo conjuga a vantagem de estimular 
a criatividade a contrário com a de não excluir a possibilidade 
de derivar alguma ideia ou algum procedimento parcial 
precisamente do próprio antimodelo: “É sabido que a 
competição desenvolve a semelhança entre antagonistas que 
acabam tomando um do outro todos os procedimentos 
eficazes”. A técnica argumentativa do antimodelo pressupõe 
a existência prévia de um tema ou de um conceito e ensina a 
partir deste para derivar outros. Esse tipo de argumento foi 
denominado pela retórica antiga como tópica, ou como 
“ciência dos lugares dos argumentos”. Tal ciência tem como 
seu instrumento essencial a localização do argumento dado 
para depois buscar outros que se encontrem no lugar mental 
mais próximo de tal localização. Em um outro caso concreto 
semelhante, trazendo como réu Augusto Eduardo da Rocha 
Monteiro Gallo, a acusação utilizou-se do mesmo texto de 
Shakespeare só que como um antimodelo, ou seja, a 
acusação utilizando-se das falas de Otelo, sem nenhuma 
encenação, tentava persuadir o Tribunal do Júri da sua tese 
em uma linha do homicídio qualificado, indesculpável. Disse 
o promotor de Justiça Alcides Amaral Salles, por ocasião do 
recurso da pronúncia, citando Nélson Hungria (ELUF, 2002, p. 
53): O marido que surpreende a mulher e o amante em 
flagrante e, em desvario decólera, elimina a vida de uma ou 
de outro, ou de ambos, pode invocar a violenta emoção, mas 
aquele que, por simples ciúme ou meras suspeitas, repete o 
gesto bárbaro e estúpido de Otelo terá de sofrer a pena 
 
 
 
 
inteira dos homicídios vulgares. Embora a acusação tenha 
também se utilizado de alguns fragmentos da peça do 
escritor inglês, não saiu vitoriosa, pois Gallo foi absolvido por 
legítima capítulo 3 • 123 defesa da honra. Os jurados 
consideraram que ele agiu moderadamente, sem nenhum 
excesso em sua conduta ao matar a esposa. Ficou livre de 
qualquer penalidade (ELUF, 2002, p. 53). A eficácia retórica 
de um antimodelo define-se pela inversão e negação 
irrestrita dos atributos que ele leva em conta, ou seja, o 
antimodelo é tão mais eficaz à medida que em nenhum 
ponto do modelo sugerido encontre paridade com o 
antimodelo (PERELMAN, 2000). Surge, assim, uma estratégia 
retórica inversa, definida a partir da negação de um 
antimodelo sobre o qual se estabeleceu um consenso 
negativo. 3.6.11 Argumento Pelo Absurdo e Pelo Ridículo O 
argumento por absurdo consiste em levar o interlocutor a 
uma conclusão absurda para convencê-lo a admitir uma 
determinada tese. Ao se admitir a concepção do mal 
cometido conscientemente, chega-se pela lógica a 
conclusões absurdas. A mais caracterizada argumentação 
quase-lógica pelo ridículo consistirá em admitir 
momentaneamente uma tese oposta àquela que se quer 
defender, em desenvolver-lhe as consequências, em mostrar 
a incompatibilidade destas com o que se crê por outro lado e 
em pretender passar daí a verdade da tese que se sustenta. 
Exemplifica-se esse tipo de argumento com a fábula do “Lobo 
e o cordeiro”, de Esopo (REBOUL, 2005, p. 145): No tempo 
em que o lobo e o cordeiro estavam em tréguas, desejava 
aquele que se oferecesse ocasião para as romper. Um dia em 
 
 
 
 
que ambos se acharam na margem de um regato, indo beber, 
disse o lobo muito encolerizado contra o cordeiro: – Por que 
me turbais a água que vou beber? Respondeu ele 
mansamente: – Senhor fulano lobo, como posso eu turbar à 
vossa mercê a fonte, se ela corre de cima, e eu estou cá mais 
abaixo? Reconheceu o adversário a clareza do argumento, 
porém, variando de meio, instou dizendo: – Pois se não 
turbastes agora, a turbastes o ano passado. Satisfez o 
cordeiro, dizendo: – Como podia eu cometer um crime há um 
ano, se eu não tenho ainda de idade mais que seis meses? 
Então o lobo, enfadado tanto mais quanto mais convencido, 
disse: – Pois se não fostes vós, foi fulano carneiro vosso pai. 
E, investindo ao pobrezinho, o levou nos dentes. Assim fazem 
os ímpios e maliciosos, a quem não há inocência que 
satisfaça nem desculpa que contente. 124 • capítulo 3 O 
argumento pelo absurdo consiste, de modo geral, em se 
refutar uma asserção, mostrando-lhe a falta de cabimento ao 
contrariar a evidência. É o argumento contrário à razão ou 
que está para além dos limites da racionalidade. No exemplo 
dado, absurdo foi o argumento do primeiro ao dizer que o 
cordeiro lhe turvava a água, porque este (o cordeiro) estava 
muito mais abaixo. O filósofo Perelman explica que o ridículo 
está para a argumentação, assim como o absurdo para a 
demonstração. A figura que bem elucida esse fato é a ironia, 
pretendendo desqualificar a tese pelo riso. Segundo, ainda, o 
filósofo (2000, p. 219), o empenho em dirimir 
incompatibilidade é muito comum a todos os níveis da 
atividade jurídica, característico do legislador, do teórico do 
Direito e do juiz. 
 
 
 
 
3.7 Discurso Jurídico: Descritivo, Valorativo e Normativo 
Todo o discurso jurídico comporta necessariamente três 
valências, a saber: a descritiva (exposição dos fatos), a 
valorativa (qualificação dos fatos) (fatos transformados em 
argumentos por meio da interpretação) e a 
normativa(aplicação do Direito). As proposições descritivas 
estabelecem que algo é ou não é, quer dizer, que sucedeu 
algo que afetou uma coisa ou uma pessoa. As proposições 
valorativas apreciam as pessoas e as condutas, qualificando-
as de valiosas ou desvaliosas. Já as proposições normativas 
mandam, permitem ou proíbem as pessoas de fazer algo ou 
alguma coisa. Como as proposições descritivas estabelecem 
que algo é ou não é, a característica própria dos juízos 
descritivos que as integram é que são juízos em que se 
informa ou estabelece se algo é ou não é real. 
Consequentemente, as 126 • capítulo 3 proposições e os 
juízos descritivos são proposições ou juízos racionais que se 
podem qualificar de verdadeiros ou falsos, acabando por ser 
o tópico basilar da argumentação forense. Ao se considerar 
esse entendimento sobre o discurso jurídico, parte-se do 
pressuposto que uma interpretação deve ser ativa, 
construtiva, e não passiva e meramente descritiva. Os 
valores, juridicamente considerados, não se confundem com 
os modismos nem com a comoção pública, pois estes são 
inconstantes. Ao contrário, os argumentos de valor impõem-
se como instrumentos de estabilidade, demolindo conduta 
ultrapassada, em busca da vivificação e da efetivação do 
Direito e forma mais justa, razoável e humana, por isso deve 
estar sempre contextualizado à luz do contexto histórico 
 
 
 
 
político-social em que o homem está inserido. Quando o 
Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, 
concedeu habeas corpus a um acusado de estupro 
presumido contra uma menor de doze anos, disse que 
sempre adota nas suas decisões os padrões do homem 
comum. A situação fática mencionada informou que o 
acusado manteve conjunção carnal consentida com uma 
menor de 12 anos, que não era mais virgem. Processado o 
réu, a Sentença condenatória saiu cinco anos depois, quando 
ele já era casado e pai de um filho. “Condená-lo por um crime 
hediondo e prendê-lo em regime fechado se mostrou outro 
paradoxo. Por que ele e não qualquer dos outros rapazes que 
haviam mantido relações antes com a moça?”, fundamentou 
o Ministro. É de conhecimento comum, fundamenta ainda o 
ministro, que a prostituição adulta nem sempre, mas a 
infantil é famélica. No caso, a presunção legal de violência 
abrigada no Direito estático foi relativizada no direito em 
movimento, porque é mais próxima da realidade social. 
Assim, se a menor consente na conjunção carnal, tem 
aparência de l4 anos de idade ou mais, confessando ela em 
juízo a ausência de qualquer coação, conforme o caso, pode-
se elidir a presunção legal de violência, fundamenta o 
ministro. O Ministro fundamenta, ainda, em seu voto que, 
nos tempos atuais (década de 90), com a televisão e outros 
meios de comunicação, não se pode presumir a 
desinformação da menor sobre o sexo, como era na década 
de 1940, quando foi feito o Código Penal brasileiro. Como se 
vê, o caso é um típico julgamento de valor, opondo-se ao 
pensamento do dogma da justiça formal, corrente esta 
 
 
 
 
conservadora e muito expressiva capítulo 3 • 127 ainda no 
Brasil, que defende que a presunção de violência, na 
hipótese dada, é absoluta. O ministro também fundamenta 
que não é recolhendo em regime fechado os homens que 
praticam sexo com as menores soltas na rua que se resolve o 
problema da prostituição infantil. Primeiro deve-se atacar o 
problema de base, de ordem social. Por sua vez, a doutrina 
da presunção absoluta de violência, na hipótese sob 
comento, é tão desconforme com a atualidade que, se o 
namorado, de 18 anos, transa com sua namorada de 13 anos 
e 11 meses, por puro amor e paixão, consentido e curtido, 
poderá ser punido severamente tal qual por assassinato. É a 
valoração que assegura a efetividade dos direitos, 
modificando o conteúdo de aplicação de regras antigas e até 
revogando regras ultrapassadas. O concubinato, por 
exemplo, já foi muito hostilizado pela sociedade e pelo 
Direito. Até que o Supremo Tribunal Federal, sem que a lei 
houvesse mudado, passou a interpretar o direitoda união de 
fato em favor da concubina, reconhecendo-lhe direito a 
pensão do falecido companheiro. Posteriormente, o Direito 
Previdenciário evoluiu para também admiti-lo. Até que a 
Constituição de 1988 atribuiu pleno efeito à união de fato. A 
mudança operou-se no campo dos valores. Por fim, o 
Supremo Tribunal Federal já proclamou a legitimidade da 
união estável entre homossexuais, e a Previdência Social já 
lhes confere direitos previdenciários. Em outro caso – mas 
sem argumento de valor – um rapaz solteiro casou-se com 
uma moça que já tinha um filho não reconhecido pelo pai. 
Em um gesto nobre, ele registrou a criança como seu filho, 
 
 
 
 
dando-lhe, portanto, nome e pai. Um promotor de justiça da 
região, de ofício, sem provocação, processou-o pela prática 
de ato ilegal e o juiz condenou-o. Aqui, a letra fria do texto 
violentou o Direito, o direito mais sagrado do amparo à 
família (arts. 226 e 227, da Constituição Federal). Os valores 
podem ser classificados em materiais e espirituais. Os 
primeiros dizem respeito ao ser humano como ser na 
natureza; os segundos, como ser cultural. Entre os 
espirituais, interessa evidenciar os éticos, como o amor, a 
humildade, a honestidade, a bondade, a dignidade; os 
estéticos ou do belo; os lógicos e os religiosos; dentre os 
materiais, os vitais compõem o topo da pirâmide, ocupando a 
vida o cume, daí derivando a integridade moral e física, a 
saúde, a segurança; e os patrimoniais vêm em segundo 
plano. Mas até estes sobem na 128 • capítulo 3 espiral 
quando compõem o piso da dignidade, como a moradia e os 
bens que a guarnecem, tornados impenhoráveis pela Lei nº 
8.009/90. 
3.7.1 Silogismo Retórico ou Entimema: Raciocínio Indutivo e 
Retórico Silogismo, do grego, significa “ligação” ou “conexão 
de ideias”, em que por meio de duas proposições, 
denominadas premissas, se extrai uma terceira, a conclusão. 
O silogismo lógico-formal é um argumento dedutivo (parte 
de argumentos gerais para argumentos particulares). Na 
definição de Aristóteles, “o silogismo é um raciocínio em que, 
postas algumas coisas, seguem-se necessariamente algumas 
outras pelo simples fato de aquelas existirem. Quando digo 
‘pelo simples fato de aquelas existirem’, pretendo dizer que 
delas deriva alguma coisa, e, por outro lado, quando digo 
 
 
 
 
‘delas deriva alguma coisa’, pretendo dizer que não é preciso. 
capítulo 3 • 129 Para Aristóteles (2005, p.99), alguns meios 
de persuasão são próprios da arte retórica e outros não. “As 
provas de persuasão fornecidas pelo discurso são de três 
espécies: umas residem no caráter moral do orador; outras, 
no modo como se dispõe o ouvinte; e outras, no próprio 
discurso, pelo que este demonstra ou parece demonstrar”. 
Com essa noção devem-se formar silogismos, isto é, 
raciocinar logicamente, compreender o caráter humano e 
suas virtudes, bem como entender as paixões ou emoções, e 
como podem ser provocadas. Para se alcançar a persuasão 
por meio de demonstração evidente ou aparente, há por um 
lado o exemplo e o entimema (=considerar, ponderar, 
refletir). Aristóteles considera o exemplo como indução e o 
entimema como silogismo. Assim, o filósofo afirma que 
chama entimema ao silogismo retórico e exemplo à indução 
retórica”. Os entimemas são silogismos retóricos por serem 
formal ou logicamente imperfeitos, suas conclusões não 
decorrem necessariamente de suas premissas, ao contrário 
dos silogismos apodíticos; mas são pragmaticamente úteis se 
o objetivo é persuadir sem as exigências de rígida coerência 
lógica, quando esta não é possível ou mesmo 
estrategicamente desejável (ADEODATO, 2012, p.359). 
Assim, o raciocínio retórico objetiva persuadir alguém a uma 
ação concreta, um fazer ou não fazer. Busca influenciar o 
destinatário do discurso com elementos diretos e concretos, 
exigindo uma posição final, uma ação que siga ao discurso, 
como forma de aprovação ou não à tese apresentada. O 
objetivo do discurso retórico é persuadir, já o do dialético é 
 
 
 
 
convencer, já que a natureza do discurso retórico traz 
sempre, explícita ou não, uma ordem ou um pedido que 
exige do destinatário uma ação específica, segundo a 
persuasão obtida. Dessa maneira, a credibilidade do discurso 
retórico consiste em fazer o ouvinte agir de acordo com sua 
vontade e, para tanto, deve igualar-se à sua vontade, deve 
persuadir o destinatário de que sua vontade é aquela 
proposta pelo discurso. A participação do destinatário no 
discurso retórico é ativa, segundo uma manifestação e 
identificação de vontade, a saber: do titular do discurso e seu 
destinatário. Por essa razão que a lógica formal não se aplica 
ao Direito, uma vez que a definição do argumento válido 
dedutivamente se refere a proposições (premissas e 
conclusões) que podem ser verdadeiras ou falsas, por isso a 
inferência silogística não funciona com relação às normas. Ao 
se considerar a norma jurídica, uma das premissas, pode ser 
válida ou não, e se baseia num ato de vontade, não tendo 
sentido em se falar em verdade ou falsidade. No máximo, 
fala-se 130 • capítulo 3 em silogismo normativo ou prático, 
em contraposição ao silogismo retórico (ATIENZA, 2006, 
p.29). Assim sendo, o entimema ou silogismo retórico é 
aquele tipo de silogismo em que as premissas não se referem 
àquilo que é certo, mas àquilo que é provável, e tem 
importância fundamental para a retórica já que, na maioria 
dos casos em que estão em jogo assuntos humanos, nem 
sempre se pode basear a argumentação apenas naquilo que 
é verdadeiro, mas apenas no que é verossímil. Destacase, 
pois, a importância atribuída por Aristóteles ao 
conhecimento do auditório. De todo modo, se o discurso 
 
 
 
 
jurídico é realizado com finalidade persuasiva e justificadora, 
os fundamentos estão presentes no silogismo retórico ou 
argumentativo. Cita-se, como exemplo de raciocínio lógico-
formal ou raciocínio dedutivo, o caso concreto em que “a 
autora ajuizou uma ação em face do pai, após ter obtido 
reconhecimento judicial da paternidade, por ter sofrido 
abandono material e afetivo durante a infância e 
adolescência e, na primeira instância, o pedido foi julgado 
improcedente, mas, em fase recursal, a ministra Nancy 
Andrighi, da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça 
(STJ), julgou o pedido procedente, fazendo uma crítica às 
decisões judiciais muito calcadas ainda em axiomas, e com 
esta frase Amar é faculdade, cuidar é dever, fundamentou a 
sua decisão. Segundo ela, a interpretação técnica e 
sistemática do Código Civil e da Constituição Federal 
apontam que o tema dos danos morais é tratado de forma 
ampla e irrestrita, regulando inclusive “os intrincados 
meandros das relações familiares”. Para a ministra, porém, 
não há por que excluir os danos decorrentes das relações 
familiares dos ilícitos civis em geral. “Muitos, calcados em 
axiomas que se focam na existência de singularidades na 
relação familiar – sentimentos e emoções –, negam a 
possibilidade de se indenizar ou compensar os danos 
decorrentes do descumprimento das obrigações parentais a 
que estão sujeitos os genitores”. 
3.8 Raciocínios: Dedutivo, Indutivo, Dialético (Ou Jurídico) 
Raciocínio é entendido como uma operação mental, uma 
forma de reflexão ordenada e coerente que pode ser 
comunicada por uma expressão verbal. O raciocínio 
 
 
 
 
caracteriza-se por um encadeamento lógico de proposições, 
que forma a matéria argumento. O raciocínio se apresenta 
sob a forma de indução e dialética. Os raciocínios dedutivos 
são também chamados explicativos, analíticos e os 
raciocínios indutivos, de amplificativos, sintéticos. O 
raciocínio analítico ou dedutivo caracteriza-se por um 
processo que, independentemente de provas experimentais, 
desenvolve-se de uma verdade sabida ou admitida a uma 
nova verdade. No raciocínio dedutivo existe o silogismo que a 
partir de suasproposições, chamadas premissa maior e 
premissa menor, delas resulta necessariamente uma 
conclusão, a qual, se esclarece ou particulariza um ponto, 
nada acresce substancialmente ao já sabido. É um 
conhecimento que se obtém de forma inevitável e sem 
contraposição. Como exemplo de raciocínio dedutivo temse 
uma situação fática em que um homem raspa a casca de uma 
árvore para fazer chá para a sua mulher e é preso em 
flagrante delito por crime ambiental inafiançável, sendo 
colocado em uma cela somente com acusados de homicídio e 
roubo. O delegado preocupou-se apenas em fazer a aplicação 
da estrutura do raciocínio jurídico, sem valoração alguma do 
fato e de suas circunstâncias, ou seja, fez apenas, de forma 
matemática, informatizada, de forma irrazoável, a subsunção 
da norma ao fato, sem considerar em momento algum as 
circunstâncias em que o fato ocorreu e a sua particularidade, 
assim como não considerou o princípio da razoabilidade e o 
da proporcionalidade, embora tivesse discernimento para tal, 
em decorrência da sua formação jurídica. Observe: 132 • 
capítulo 3 Josias raspava a casca de uma árvore chamada 
 
 
 
 
almesca, em 7 de junho de 2011, em uma área de 
preservação permanente que fica às margens do córrego 
Pindaíba, em Planaltina (a 44 km de Brasília). O lavrador disse 
que usava a casca para fazer chá para a mulher, Erotildes 
Guimarães. Ela tem Doença de Chagas. Josias conta que 
soube que o chá melhorava as condições dos acometidos 
pela doença.. Josias foi surpreendido com um tiro para o alto, 
dado por soldados da Polícia Florestal, quando raspava a 
almesca. Preso em flagrante delito, algemado, Josias foi 
levado para a delegacia, e o lavrador foi enquadrado na Lei 
do Meio Ambiente (Nº 9.605/ 98). Segundo o delegado 
Ivanilson Severino de Melo, Josias provocou "danos diretos 
ao patrimônio ambiental”, crime previsto no artigo 40 da lei. 
O delito, inafiançável, é punido com 1 a 5 anos de prisão. 
Josias foi colocado em uma cela com outros cinco presos, 
acusados de homicídio e roubo Outro exemplo em que se 
aplica o raciocínio dedutivo (GRAZINOLI, 2009, p.138): “A” foi 
presa em flagrante no Aeroporto internacional de uma 
grande capital brasileira tentando embarcar com 2kg de 
droga para o exterior. O exame pericial comprovou que a 
substância apreendida era mesmo entorpecente, cujo uso é 
considerado proibido por ato administrativo do Ministério da 
Saúde. As testemunhas confirmaram que a substância foi 
encontrada presa por fitas adesivas ao redor da barriga de 
“A” quando esta se dirigia para o avião. ”A” confessou o 
crime. Logo, em uma aplicação silogística da norma Penal, 
“A” deve ser condenada, não pode ter a pena substituída, 
deve cumpri-la integralmente em regime fechado. Isso 
satisfaz o princípio da universalidade, da igualdade e da 
 
 
 
 
justiça (formal): todas as pessoas devem ser tratadas da 
mesma forma; todos são iguais perante a lei. Agora, trabalha-
se individualizando o mesmo exemplo: capítulo 3 • 133 “A” é 
uma senhora de 60 anos, que mora na zona periférica de 
uma grande capital brasileira. Ela foi abandonada há anos 
pelo marido, mora sozinha e cria um neto de quatro anos, 
filho da sua filha. A filha de “A” tem problemas psiquiátricos 
e não trabalha nem tem condições de cuidar do próprio filho. 
”A” possui uma “vendinha” próxima a uma favela, de onde 
provém todo o seu sustento, de sua filha doente e do seu 
neto. O neto de “A” nasceu com um problema congênito - 
decorrente do uso excessivo de bebidas alcoólicas e de 
drogas por parte da mãe, doente mental, durante a gravidez - 
que consiste na perda gradativa da visão: a criança é 
praticamente cega. Existe cura para a doença, mas a cirurgia 
custa cerca de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), e o SUS – 
Sistema Único de Saúde- não a realiza nem paga a sua 
realização em rede privada. Se “A” for encarcerada, o menino 
ficaria aos cuidados de sua filha, doente mental, mãe da 
criança. “A” nunca cometeu qualquer tipo de crime 
anteriormente; nunca foi presa ou processada; sempre 
trabalhou desde muito nova. “A”, além da pressão sofrida 
pelos traficantes da favela em que possui sua “vendinha”, 
receberia como pagamento pelo transporte da droga cerca 
de R$15.0000,00 (quinze mil reais), dinheiro que usaria para 
a operação do neto de quatro anos, que com isso voltaria a 
enxergar. Provas documentais provaram a existência da 
doença e a possibilidade de cura cirúrgica. A primariedade de 
“A” foi provada por sua Folha de Antecedentes Criminais. 
 
 
 
 
Documentos e testemunhas corroboraram os outros 
argumentos apresentados em favor da ré, como o problema 
da filha e a existência da “vendinha”. “A” foi condenada por 
tráfico de drogas. O juiz, contrariando jurisprudência pacífica 
do Supremo Tribunal Federal (STF), substituiu a pena 
privativa de liberdade por penas restritivas de direito 
(prestação de serviços à comunidade). O Ministério público 
não recorreu da Sentença. No caso concreto, segundo o juiz 
federal Granzinoli (2009, p.138), foi criada uma regra de 
exceção para superar no caso particular à regra geral, a rigor, 
a jurisprudência do STF, que veda a substituição da pena. 
Argumentos particulares existentes no caso concreto, aliados 
a outras regras previstas no próprio Código Penal, 
funcionaram na criação da regra de exceção, pois as decisões 
não devem ter em conta apenas a aplicação literal da lei 
(presunção de legalidade), mas também sua aceitabilidade 
moral pela sociedade (presunção de razoabilidade). 134 • 
capítulo 3 Diferentemente do dedutivo, tem-se o raciocínio 
indutivo – utilizado no raciocínio retórico-que se caracteriza 
por ser um processo que se desenvolve a partir dos fatos 
particulares até atingir uma conclusão de ordem geral, 
mediante a qual se possa explicar o que há de constante ou 
comum nos fatos observados e em outros da mesma 
natureza. Segue mais um julgado que comprova que, de fato, 
em Direito, o raciocínio indutivo é o mais justo e razoável, 
porque se deve analisar caso a caso, visto que os casos 
podem ser semelhantes, mas as circunstâncias em que 
aconteceram podem ser diferentes, o que justifica a tese de 
ser o discurso jurídico descritivo, valorativo e normativo: A 
 
 
 
 
Terceira Seção da Corte decidiu, em 5 de abril e 2012 que 
atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser 
caracterizados como estupro, de acordo com o caso. O 
tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato 
que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade 
sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é 
acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. 
Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o 
inocentaram com o argumento de que as crianças “já se 
dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”. 
A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do STF 
(Supremo Tribunal Federal) sobre a questão. Em 1996, o 
ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de 
um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, 
que presunção violência em estupro de menores de 14 anos 
é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da 
mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e 
mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, 
impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do 
tipo penal”. Essas decisões reforçam a tese de que o Direito 
jamais pode sair de uma máquina porque ele supõe que 
sejam ouvidas e confrontadas dialeticamente uma e outra 
parte no processo. A solução do Direito nasce, assim, do 
choque dos discursos contraditórios. Portanto, em todo 
litígio de ordem jurídica, cabe considerar, no que diz respeito 
ao raciocínio e, independentemente das questões de 
procedimento, três aspectos, que são: a prova dos fatos, a 
sua qualificação e as consequências legais daí decorrentes,levando-se em consideração o sistema de Direito em vigor. 
 
 
 
 
capítulo 3 • 135 Como se vê pelo exemplo dado, a indução é 
um processo mental por intermédio do qual, partindo de 
dados particulares, suficientemente constatados, infere-se 
uma verdade geral ou universal, não contida nas partes 
examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é 
chegar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do 
que os das premissas nas quais se basearam. O estudo de 
Perelman, quanto aos tipos de raciocínio, relaciona-se às 
provas que Aristóteles, nos Tópicos, chama de dialéticas e 
utiliza na Retórica. A evocação da terminologia do pensador 
grego “teria justificado a aproximação da teoria da 
argumentação à dialética, concebida pelo próprio Aristóteles 
como a arte de raciocinar a partir de opiniões geralmente 
aceitas. No entanto, o professor belga (2000, p. 36) prefere a 
aproximação da teoria da argumentação à retórica. Em 
primeiro lugar, para não haver risco de confusão que a volta 
a Aristóteles poderia trazer: Em segundo lugar, afirma o 
filósofo: O raciocínio dialético é considerado paralelo ao 
raciocínio analítico, mas trata do verossímil em vez de tratar 
de proposições necessárias. A própria ideia de que a dialética 
concerne a opiniões, ou seja, a tese às quais se adere com 
uma intensidade variável, não foi aproveitada. Dir-se-ia que o 
estatuto do opinável é impessoal e que as opiniões não são 
relativas aos espíritos que a elas aderem. Em contrapartida, 
essa ideia da adesão e de espíritos aos quais se dirige um 
discurso é essencial em todas as teorias antigas da retórica. 
(PERELMAN, 2000, p.39) A aproximação da Retórica ao 
dialético visa a enfatizar o fato de que é em função de um 
auditório que qualquer argumentação se desenvolve. O 
 
 
 
 
estudo do opinável dos Tópicos poderá, nesse contexto, 
inserir-se em seu lugar. O raciocínio dialético ou jurídico 
corresponde à apreensão discursiva do conhecimento a 
partir da análise dos opostos e da interposição de elementos 
diferentes. Procede de tal modo crítico, ponderando 
polaridades contrárias, até o alcance da síntese. Quando 
esses raciocínios adentram a área jurídica, produzem 
resultados diferentes, pois a peculiaridade do direito é a 
questão do juízo, não analítico, mas valorativo. Por essa 
razão que todo raciocínio que procure eliminar a discussão, o 
debate, a controvérsia, em Direito, não poderá prosperar. 
Sendo assim, o raciocínio dialético ou jurídico busca tratar 
das deliberações e controvérsias, típicas de um discurso, a 
fim de criticar as teses do adversário, de defender e justificar 
suas próprias, utilizando argumentos. (PERELMAN, 136 • 
capítulo 3 2000, p.40) e transcende os aspectos meramente 
formais, preocupando-se em persuadir ou convencer pelo 
discurso. Perelman (2000, p.39), tratando da Lógica 
aristotélica, destaca também a ideia de sobre raciocínio 
analítico: é aquele que, “partindo de premissas necessárias, 
ou pelo menos indiscutivelmente verdadeiras, redundam, 
graças a inferências válidas, em conclusões igualmente 
necessárias ou válidas”. Assim, é impossível que a conclusão 
seja falsa, se o raciocínio foi feito corretamente, com suporte 
em premissas corretas, conforme o padrão simbólico da 
Lógica Formal. O raciocínio jurídico, que Perelman (2000) 
caracteriza como dialético, é tomado pelo desacordo, pela 
controvérsia, portanto não pode ser considerado verdadeiro 
ou falso, conforme a exigência do raciocínio lógico-dedutivo. 
 
 
 
 
O raciocínio jurídico é o raciocínio dialético e é deste 
raciocínio que se valem as partes, por meio de seus 
representantes judiciais, postulando a aplicação do direito a 
seu favor, e é dele que se vale o juiz para afirmar a sua 
convicção de julgamento por meio de uma decisão. O 
raciocínio jurídico, antes de mais nada, é um raciocínio 
prático, isto é, guia as ações humanas. Dessa forma, o 
raciocínio jurídico ou dialético desenrola-se com base em 
fatos concretos, em situações flagrantes, em meio a 
contextos políticos de onde emergem decisões que 
condensam a justiça concreta de cada caso. Trata-se de um 
modelo teórico que apela para a decisão do justo e que 
inscreve a tarefa de instrumentalizar as atividades dos 
juristas e operadores do direito à argumentação. ATENÇÃO A 
conclusão de uma argumentação não-formal resulta de uma 
escolha que sempre pode ser discutida e contestada, 
contrariamente a uma lógica do tipo matemático; trata-se, 
antes de tudo, de uma lógica dos valores, uma lógica do 
razoável, do preferível, como afirma Perelman (2000), por 
essa razão que o raciocínio jurídico não tem forma 
demonstrativa, mas argumentativa. capítulo 3 • 137 Segundo 
Monteiro (2001) há dois tipos de raciocínio no Direito: os 
raciocínios lógico-dedutivos, também chamados de 
explicativos ou analíticos ou lógico-formais e os raciocínios 
jurídicos, que Perelman (2000) caracteriza como dialéticos. 
Os raciocínios lógico-dedutivo são procedimentos de ordem 
geral que podem ser encontrados na teoria e na vida jurídica. 
Os dialéticos também chamados de metalógicos tratam da 
argumentação jurídica. 3.9 Lógica Jurídica: Lógica dos Juízos 
 
 
 
 
de Valor Ao desenvolver profunda análise acerca do 
raciocínio judiciário que lhe era contemporâneo, Perelman 
(2005, p.40) buscou destacar como a lógica formal aplicada 
apresentava uma natureza puramente lógica-dedutiva; e 
como a aplicação desse raciocínio tornava o Direito muito 
engessado e, por conseguinte, alheio aos verdadeiros anseios 
reclamados pela sociedade. A adoção desse raciocínio lógico-
dedutivo decorreu do positivismo jurídico imposto pelo 
Código Civil Francês de 1804 (Código de Napoleão), e logo se 
infiltrou nos sistemas jurídicos das diversas nações da 
Europa, inclusive da Bélgica, país para o qual Perelman 
migrou, permaneceu grande parte de sua vida, e no qual 
desenvolveu todo o seu trabalho acadêmico-filosófico. Ao 
surgir na França do século XIX, o positivismo jurídico teve a 
sua razão de ser, e, inclusive, forneceu vários contributos 
para o desenvolvimento de institutos jurídicos, os quais 
dificilmente encontrariam espaço para esse desenvolvimento 
em outros sistemas. No entanto, com o passar do século e 
com o avanço das relações sociais, o positivismo jurídico 
tornou-se insuficiente para atender aos verdadeiros ideais de 
justiça que se buscava na solução dos conflitos. Esse fato 
ocorreu porque, para essa corrente jurídico-filosófica, todo o 
Direito estava contemplado na lei. Sendo assim, seria 
correto, portanto, afirmar que o Direito era a própria lei e 
que, por tal razão, a lei deveria ser sobrepor, de forma 
igualitária, a todo e qualquer conflito, independentemente 
das circunstâncias inerentes a cada situação. Com o 
desenvolvimento das relações sociais e das diversas escolas 
de hermenêutica jurídica (cuja evolução possibilitou uma 
 
 
 
 
relativa flexibilização dos métodos de interpretação da lei), 
alguns estudiosos passaram a observar que, 138 • capítulo 3 
não obstante a variedade de tais métodos interpretativos, 
subsistiam situações nas quais a lei não poderia lhe ser 
aplicada. Esta inaplicabilidade da lei, por sua vez, decorria 
basicamente de uma inegável constatação, a saber: o 
imaginário humano, não obstante sua vasta extensão 
criativa, não havia previsto, e, portanto, não pudera 
normatizar, a solução de alguns conflitos decorrentes da 
evolução das relações sociais. Nesse ínterim, Perelman 
destaca (2005, p.43) que, já nesta fase, os juristas foram 
confrontados com a percepção de que, em sendo a 
sociedade dinâmica, o Direito também deveria tornar-se 
dinâmico, sob pena de perder o elo que o conectava à 
própria sociedade. Além isso, ao prolatar uma decisão, o juiz 
deveria indagar se a sua decisão, além de ser legal, também 
seria justa e harmoniosa com os valores morais entãovigentes na sociedade para a qual a decisão se destinava. 
Essa possibilidade, todavia, foi completamente rechaçada 
pela doutrina de então, cujo caráter prevalente ainda era 
centrado no positivismo jurídico decorrente da Revolução 
Francesa. A grande mudança, contudo, operou-se por 
imposição de fator histórico, cuja ocorrência silenciou todas 
as vozes que pregavam a soberania absoluta da lei, e que, em 
sendo a lei soberana, ninguém jamais poderia se insurgir 
contra ela. Tal fator consistiu na assunção do Estado Nacional 
Socialista na Alemanha, e, por conseguinte, nos atos 
realizados em nome desse sistema que, sob o comando de 
Adolf Hitler, foi responsável por um dos mais abjetos 
 
 
 
 
genocídios registrados pela história da humanidade. Assim, 
tão logo encerrado o período beligerante tornou-se a 
percepção de que os atos realizados sob a égide do Estado 
Nacional Socialista não poderiam permanecer incólumes, sob 
pena de motivar a formação de outros Estados que 
pudessem repetir os mesmos atos abomináveis cometidos 
sob a orientação desse sistema. Todavia, como resolver essa 
questão, se o Estado Nacional Socialista, estrategicamente, 
promulgou previamente inúmeras leis que legitimaram os 
atos abomináveis cometidos por Hitler e seus oficiais, de 
modo a isentá-los de qualquer responsabilidade jurídica, sob 
o argumento de que agiram no estrito cumprimento da lei? 
Opera-se, então, a respeito do que era pregado pelo 
positivismo jurídico, o ressurgimento da concepção 
aristotélica, segundo a qual, além do Direito positivado, 
existe um Direito principiológico que, embora não escrito 
expressamente na legislação, vem a ser reconhecido por 
todos. Em face do ressurgimento dessa concepção, instaura-
se o Processo de Nuremberg que, ao ser capítulo 3 • 139 
fundamentado em um enunciado principiológico, possibilitou 
o julgamento dos alemães dirigentes do Estado Nacional 
Socialista (e de seus colaboradores diretos), por terem 
cometido crimes de guerra, quais sejam: todo e qualquer ato 
que tenha violado o princípio que tutela o respeito à 
dignidade da pessoa humana. A partir desse momento, 
vislumbra-se o ressurgimento do valor atribuído aos 
princípios gerais do Direito e, com eles, aos tópicos jurídicos 
que, embora menos abrangentes que os princípios, passaram 
a contribuir para a elaboração de uma decisão mais justa, à 
 
 
 
 
medida que, ao serem invocados, vieram possibilitar uma 
maior aproximação entre o Direito positivado e o caso 
concreto. O ressurgimento dos tópicos, contudo, não foi 
acatado por uma parcela da comunidade jurídica que lhe fez 
sérias críticas ao exaltar, de forma exacerbada, a imprecisão 
que eles encerravam. Essas críticas, na visão de Perelman 
(2005), são motivadas não pelo caráter impreciso dos 
tópicos, mas sim pela constatação, levada a efeito pelos 
próprios relutantes adeptos do positivismo jurídico, de que 
não existe um valor (ou regra de direito) absoluto, ou seja, 
que se sobreponha sobre todas as situações, sempre da 
mesma forma, independentemente das circunstâncias que as 
distinguem. Ao abraçar essa discussão, Perelman (2005, 
p.123) vislumbrou a possibilidade de conciliação entre a 
utilização dos tópicos e a sistematização do Direito, 
ressaltando que o papel dos tópicos não seria mudar o 
ordenamento jurídico, ao sabor das situações circunstanciais, 
mas sim possibilitar a obtenção de uma solução mais 
equitativa para os conflitos que batessem à porta do Poder 
Judiciário, clamando por uma solução. E para possibilitar uma 
clara compreensão de seu pensamento, desenvolveu uma 
perspectiva racional capaz de conciliar os valores à aplicação 
do Direito, afastando, de acordo com as possibilidades 
máximas permitidas, toda a imprecisão que eles 
naturalmente encerram, e que poderiam torná-los 
instrumentos aptos à execução de arbitrariedades judiciais 
de todos os matizes. Por essa razão, buscaram-se as fontes 
da filosofia clássica, sobretudo no pensamento socrático e 
aristotélico, para desvendar os mecanismos mediante os 
 
 
 
 
quais seria possível à lógica jurídica, mesmo em utilizando 
elementos variáveis e imprecisos, conservar a racionalidade e 
a precisão necessárias à legitimação da prestação 
jurisdicional. Ao aprofundar os seus estudos, Perelman 
(2000) reabilitou a retórica, a qual ele a denominou como 
“técnicas argumentativas” ou “nova retórica”, e, 140 • 
capítulo 3 de forma pioneira, buscou sustentar como a 
argumentação poderia ser aplicada à lógica jurídica, 
diferenciando-se das demais, por ser uma lógica dialética ou 
argumentativa. Ao elaborar uma metodologia para a 
utilização das técnicas argumentativas, Perelman (2000)teve 
de contestar o pensamento de Descartes segundo o qual 
quando duas pessoas manifestam concepções distintas 
acerca do mesmo fato, pelo menos uma delas deve estar 
errada. De forma inédita, ele expressamente demonstrou 
que, em tal situação, é possível que ambas estejam certas e 
que suas concepções, embora distintas, possam ser 
conciliadas (ou mesmo complementadas) dialeticamente em 
uma argumentação para, enfim, serem colocadas em prática. 
De fato, a aplicação subsidiária dos valores, sobretudo os 
manifestos nos princípios gerais do Direito, tornou-se 
amplamente permitida pelas legislações de diversos países, 
inclusive pelo Ordenamento Jurídico brasileiro, passando a 
constituir em uma das mais importantes fontes que os 
juristas contemporâneos se utilizam para argumentar o 
raciocínio jurídico e, por conseguinte, pleitear a aplicação do 
Direito como corolário para a efetivação da justiça. Segue um 
fragmento de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça 
(STJ), cuja matéria é o “abandono afetivo”, que bem ilustra o 
 
 
 
 
entendimento da Lógica Jurídica perelmaniana ou a Lógica do 
Razoável de Recaséns, por serem sinônimas: A autora ajuizou 
uma ação em face do pai, após ter obtido reconhecimento 
judicial da paternidade, por ter sofrido abandono material e 
afetivo durante a infância e adolescência. Na primeira 
instância, o pedido foi julgado improcedente, tendo o juiz 
entendido que o distanciamento se deveu ao 
comportamento agressivo da mãe em relação ao pai. [...]” 
[...] No caso analisado, a ministra ressaltou que a filha 
superou as dificuldades sentimentais ocasionadas pelo 
tratamento como “filha de segunda classe”, sem que fossem 
oferecidas as mesmas condições de desenvolvimento dadas 
aos filhos posteriores, mesmo diante da “evidente” 
presunção de paternidade e até depois de seu 
reconhecimento judicial. [...] [...] Alcançou inserção 
profissional, constituiu família e filhos e conseguiu “crescer 
com razoável prumo”. Porém, os sentimentos de mágoa e 
tristeza causados pela negligência paterna perduraram. [...] 
capítulo 3 • 141 [...] “Esse sentimento íntimo que a recorrida 
levará, ad perpetuam, é perfeitamente apreensível e exsurge, 
inexoravelmente, das omissões do recorrente no exercício de 
seu dever de cuidado em relação à recorrida e também de 
suas ações, que privilegiaram parte de sua prole em 
detrimento dela, caracterizando o dano in reipsa e 
traduzindo-se, assim, em causa eficiente à compensação”, 
concluiu a ministra. [...] Amar é faculdade, cuidar é dever. ” 
Com essa frase, a ministra Nancy Andrighi, a Terceira Turma 
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) asseverou ser possível 
exigir indenização por dano moral decorrente de abandono 
 
 
 
 
afetivo pelos pais. A decisão é inédita. Em 2005, a Quarta 
Turma do STJ, que também analisa o tema, havia rejeitado a 
possibilidade de ocorrência de dano moral por abandono 
afetivo. A importância do pensamento de Perelman para a 
Ciência do Direito, portanto, consiste no ineditismo de seu 
trabalho que, ressuscitar as técnicas de argumentação 
(conhecidas desde a filosofia clássica como componentes da 
retórica), e adaptá-las ao pensamento jurídicocontemporâneo. Na realidade, Perelman desejou 
sistematizar de forma argumentativa e dialética o raciocínio 
jurídico por meio de uma metodologia mais ampla e 
verdadeiramente democrática, que possibilitasse a 
manifestação de novas formas de pensar e de agir, nas quais 
fosse possível a utilização harmoniosa de todas as técnicas 
jurídicas de interpretação (mesmo as contrapostas), que 
fossem capazes de conciliar os valores em litígio, mesmo 
quando aparentemente inconciliáveis. LEITURA A Lógica do 
Razoável, criada pelo filósofo Recaséns(1997),Professor da 
Universidade Nacional Autônoma do México, em 1926, 
conhecida também como “logos do humano” ou, ainda, 
“logos da razão vital”, é um método de interpretação jurídica 
que muito se assemelha à Lógica Jurídica apresentada por 
Perelman. Recaséns (1997, p.257) sustenta a tese de que o 
Juiz deve submeter-se à lógica do razoável. Explica as fases 
por que passa o julgador para chegar à decisão: filtra os 
fatos, avalia a prova, confronta com a lei, faz aportes de 
circunstâncias extralegais, pondera as consequências de sua 
decisão e, depois de passar e repassar por esse complexo de 
fatores, chega finalmente à sua conclusão por intuição 
 
 
 
 
intelectiva, momento em que a questão se esclarece e é 
fixada uma posição. 142 • capítulo 3 A Lógica do Razoável 
tem como característica não se apoiar no silogismo nem 
tampouco na subsunção formal das decisões judiciais e se 
fundamenta na prudência, na equidade e no sentimento do 
justo. A Lógica do Razoável apresenta, ainda, outras 
características, que sustentam a sua existência e importância 
para o mundo jurídico, visto que está condicionada pela 
realidade concreta do mundo em que opera e é impregnada 
de critérios estimativos ou axiológicos, o que a distingue, 
decisivamente, da lógica formal. A Lógica do Razoável 
reporta-se a uma determinada situação real, é regida por 
razões de congruência ou adequação: entre os valores e os 
fins; entre os fins e a realidade concreta; entre os fins e os 
meios; entre fins e meios e a correção ética dos meios; entre 
fins e meios e a eficácia dos meios; e, por fim, a lógica do 
razoável está orientada pelos ensinamentos da experiência 
da vida humana e da experiência histórica. A Lógica do 
Razoável enseja a aplicação das normas jurídicas, segundo 
princípios de razoabilidade, ou seja, elegendo a solução mais 
razoável para o problema jurídico concreto, dentro das 
circunstâncias sociais, econômicas, culturais e políticas que 
envolvem a questão, sem se afastar, completamente, dos 
parâmetros legais. 3.9.1 Nascimento da Retórica 
Historicamente, o surgimento da retórica remonta o século V 
a.C. e está associado ao movimento sofista na mesma época 
do nascimento da democracia grega. “Lá Corax e seu pupilo 
Tísias davam assistência àqueles que tinham sido 
expropriados para convencer os magistrados quanto à justiça 
 
 
 
 
de suas reivindicações de restituição”(BARILLI, 1987, p.15). 
Contudo, as ideias dos sofistas foram combatidas por Platão. 
O contraste entre filosofia e sofística é um tema que 
perpassa vários diálogos platônicos. Platão distingue os 
filósofos dos sofistas (retóricos) pelas diferenças no caráter e 
nas intenções morais. Sua doutrina contrapunha a 
superioridade do conhecimento, realidade e ensino sobre 
crença, aparência e persuasão (BARILLI,1987, p.62). Assim a 
retórica, que surgiu ligada à sofística, carrega o preconceito 
contra si. A mudança de um sentido mais amplo e positivo da 
expressão retórica a um mais negativo e limitado parece ter 
ocorrido gradualmente ao longo do século V. Mas não só a 
Platão cabe o descrédito que houve em relação à retórica. 
Talvez a maior atribuição ao seu sentido negativo seja o 
modelo cartesiano da razão como protótipo do Racionalismo 
Moderno. capítulo 3 • 143 Assim, a retórica clássica grega 
perde a sua importância no século I e passa a ser 
profundamente criticada no século XIX com as ideias 
cartesianas e com o positivismo de Auguste Comte. A partir 
daí, as evidências ganham valor absoluto e a linguagem 
servirá apenas como instrumento de demonstração. 
Retirada, portanto, a força da retórica, ela se converteu em 
um conjunto de técnicas ornamentativas, sem objetivo 
persuasivo. Nessa época, o Direito, ao se reivindicar como 
ciência, tenta divorciar-se da retórica, sem sucesso, pois seu 
objeto não é a certeza. Os sucessos da ciência e dos métodos 
cartesianos ameaçaram e preponderaram sobre o 
humanismo retórico, inclusive no que concerne ao direito e 
seu processo de dogmatização na modernidade ocidental. 
 
 
 
 
Talvez o repúdio à retórica se tenha tornado ainda mais forte 
sob a influência do novo racionalismo moderno do que na 
Europa da Idade Média, apesar de impregnada pelas críticas 
de Platão à Sofística e pelos textos ontológicos de Aristóteles 
(BARILLI,1987, p.17). Seguindo a perspectiva de Descartes 
(BARILLI,1987,p.10), o conhecimento científico deve 
progredir por inferências providas de evidência interna por 
meio da dedução. Não há dúvidas que o ideal de uma ciência, 
principalmente a jurídica, pautada na busca de verdades 
claras e distintas, guarda, até hoje, as marcas do legado 
“cartesiano”. LEITURA Sob a rubrica de sofistas, agrupam-se 
diversos pensadores que, mesmo não constituindo uma 
escola no sentido técnico do termo, mantiveram entre si 
certa afinidade de métodos e propósitos. Propunham-se os 
sofistas a ensinar a arte da política e as qualidades 
indispensáveis para a formação de bons cidadãos, o que 
incluía a retórica, ou "a arte da persuasão exercida nos 
tribunais e nas outras assembleias a propósito daquelas 
coisas que são justas e injustas". São os sofistas, portanto, os 
primeiros protagonistas importantes da história da Retórica. 
Mestres na arte de bem falar, adquiriram extraordinária 
reputação e seus ensinamentos eram disputados avidamente 
pelos jovens bem-nascidos. Se os sofistas gozavam de 
excelente reputação em sua própria época, o mesmo não se 
pode dizer de sua posteridade; graças a Platão, o termo 
"sofista" e seus derivados adquiriram uma irredutível 
conotação pejorativa. Muitas das acepções atuais da palavra 
Retórica - como a que a identifica com "adornos empolados 
ou pomposos de um discurso", segundo o dicionário Aurélio - 
 
 
 
 
correspondem a distorções de fundo platônico daquilo que 
originariamente se chamou Retórica na Grécia antiga. 144 • 
capítulo 3 3.9.2 Retórica Aristotélica A elaboração de 
pequenos tratados sobre a "arte retórica" era uma prática 
comum na Grécia antiga. Todos os sofistas e oradores 
proeminentes elaboraram em alguma parte de suas vidas 
pequenos textos que pudessem servir de orientação para 
seus alunos; mas a retórica só receberia uma sólida base 
teórica por meio da obra daquele que foi o mais influente e 
mais versátil dos filósofos gregos: Aristóteles. Aristóteles 
nasceu em Estagira, no norte da Grécia, em 384 a.c., e 
morreu na ilha de Euboea em 322 a.c. Aluno de Platão na 
Academia, fundador de sua própria escola - o Liceu - e tutor 
de Alexandre, o Grande, Aristóteles foi a primeira pessoa a 
dar importância ao estudo sistemático das diversas 
disciplinas das artes e ciências que surgiam como entidades 
separadas pela primeira vez no século IV a.c., inclusive no 
que diz respeito à definição dos conceitos básicos e das 
relações entre cada uma. Possuidor de um verdadeiro 
espírito enciclopédico, Aristóteles escreveu centenas de 
obras sobre os mais variados campos do saber, da poesia à 
biologia, textos que serviram aos seus alunos no Liceu e 
continuariam servindo como fontes fundamentais de 
conhecimento durante muitos séculos após a sua morte. 
Entre estes textos, encontra-se a Arte Retórica. Nessa obra 
clássica, Aristóteles elabora uma conceitualização da retórica 
dividindo-a em categorias e dando nomes às diversas 
técnicasutilizadas, a exemplo do que fez em diversos outros 
campos do conhecimento. Em alguns momentos a retórica é 
 
 
 
 
concebida como uma ferramenta, uma disciplina puramente 
formal utilizável em diversos campos do conhecimento. É 
essa a concepção vigente entre os estudiosos antigos e 
medievais. Os estudiosos modernos, entretanto, tem 
preferido ver na retórica uma arte produtora, a exemplo da 
poética e das belas artes. A retórica é classificada em 
gêneros, de acordo com o objetivo a que se propõe: pode ser 
deliberativa, se o auditório tiver que julgar uma ação futura; 
judicial, se o auditório tiver que julgar uma ação passada; e 
epideitica, se o auditório não tiver que julgar ações passadas 
nem futuras. Para Aristóteles, o discurso é composto 
necessariamente de no mínimo quatro elementos: exórdio, 
enunciação da tese, prova e epílogo. A função do exórdio é 
tornar o auditório receptivo à atuação do orador e fornecer 
uma introdução geral ao discurso, tornando claro seu 
propósito. Quanto aos meios de capítulo 3 • 145 prova 
utilizados, podem ser não artísticos ou artísticos. Meios de 
prova não artísticos são as provas em sentido estrito, as 
evidências, tais como testemunhas ou documentos. Meios de 
prova artísticos são os argumentos inventados pelo orador, e 
podem ser de três tipos, como: aqueles derivados do caráter 
do próprio orador, que empresta sua credibilidade à causa 
(ethos); aqueles em que o orador procura lidar com as 
emoções do auditório (pathos); e aqueles derivados da razão 
(logos). Os argumentos lógicos se apresentam sob duas 
formas: induções, ou o uso de exemplos, e deduções, 
chamadas em retórica de "entimemas". O entimema, ou 
silogismo retórico, é aquele tipo de silogismo em que as 
premissas não se referem àquilo que é certo, mas àquilo que 
 
 
 
 
é provável, e tem importância fundamental para a retórica já 
que na maioria dos casos em que estão em jogo assuntos 
humanos nem sempre se pode basear a argumentação 
apenas naquilo que é verdadeiro, mas apenas no que é 
verossímil. O epílogo tem por objetivo deixar no auditório 
uma boa impressão do orador (e uma má impressão de seu 
oponente) e recapitular brevemente os pontos principais do 
discurso. Em síntese, a técnica retórica de Aristóteles – 
Retórica II (1998, p. 67) – consiste nos principais meios ou 
recursos persuasivos de que se vale o orador para persuadir 
o auditório. Esses meios de persuasão podem classificar-se 
em técnicos e não técnicos. Os meios de persuasão não 
técnicos são os que existem independentemente do orador, 
como: leis, tratados, testemunhos, documentos; já os meios 
de persuasão técnicos são aqueles que o próprio orador 
inventa para incorporar a sua própria argumentação ou 
discurso e que se repartem por três grupos, tantos quantas 
as instâncias da relação retórica: ethos, o caráter do orador; 
pathos, a emoção do auditório e logos, a argumentação. 
Impõe-se, contudo, precisar um pouco melhor cada uma 
destas instâncias: aquele que fala, a quem se fala e o que se 
fala, significando redizer que a persuasão é obtida por meio 
do ethos, do pathos e do logos. Em primeiro lugar, o ethos, 
pois persuade-se pelo caráter quando o discurso é proferido 
de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser digno 
de fé, porque se acredita mais e bem mais depressa em 
pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas 
sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que 
deixam margem para dúvida. É, porém, necessário que essa 
 
 
 
 
confiança seja resultado do discurso e não de uma opinião 
prévia sobre o caráter do orador; pois não se deve considerar 
sem importância para a persuasão a probidade do que 146 • 
capítulo 3 fala, como, aliás, alguns autores dessa arte 
propõem, mas que se poderia dizer que o caráter é o 
principal meio de persuasão. Quanto ao pathos, persuade-se 
pela disposição dos ouvintes, quando estes são levados a 
sentir emoção por meio do discurso, pois os juízos emitidos 
variam, conforme sentimentos de tristeza ou alegria, amor 
ou ódio. É dessa espécie de prova e só dessa que se tentam 
ocupar os autores atuais de artes retóricas. Tem-se de 
reconhecer que a emoção que o orador consiga produzir nos 
seus ouvintes pode ser determinante na decisão de serem a 
favor ou contra a causa defendida. Se o orador suscita nos 
juízes sentimentos de alegria ou tristeza, amor ou ódio, 
compaixão ou irritação, estes poderão decidir num sentido 
ou no outro. Foi, aliás, este o ponto mais estudado nos 
anteriores tratadistas da retórica. Por último, os logos, 
persuade-se, enfim, pelo discurso, quando se mostra a 
verdade ou o que parece ser verdade, a partir do que é 
persuasivo em cada caso particular, constituindo, assim, o 
discurso argumentativo, que é a parte mais importante da 
oratória, aquela a que se aplicam as principais regras e 
princípios da técnica retórica – é a arte de persuadir – e os 
recursos argumentativos. A partir da década de 50, no século 
XX, é que começou a se esboçar uma corrente filosófica e 
acadêmica de vulto que tinha por objetivo recuperar a 
dignidade dessa forma de conhecimento tão antiga e tão 
intimamente ligada à história da humanidade. A partir da 
 
 
 
 
importância dada à filosofia da linguagem e à filosofia dos 
valores, diversos filósofos e estudiosos começaram a 
considerar a retórica como um objeto digno de estudo, seja 
sob a sua vertente formal, seja sob a ótica que privilegia seu 
aspecto de instrumento de persuasão. Segundo Perelman 
(2000), o objeto da Retórica é o estudo das técnicas 
discursivas que visam a provocar ou a intensificar, aumentar 
a adesão das mentes, ou seja, de certo auditório, às teses 
apresentadas a seu assentimento. Trata-se de um processo 
racional de decisão em situação de incerteza, de 
verossimilhança, de probabilidade. Sendo assim, a 
configuração contemporânea do pensamento jurídico 
provoca uma ruptura com o contorno básico de 
compreensão do Direito conforme descrito acima. A partir da 
década de 50, surgem diversas críticas ao modelo lógico do 
raciocínio jurídico próprio do positivismo jurídico. Essas 
críticas, ressaltam a inadequação e a insuficiência da 
metodologia lógico-formalista e sublinham a necessidade de 
elaborar novos instrumentos de pesquisa da argumentação 
prática, em geral, e a jurídica em particular e a retórica 
começou a recuperar seu prestígio. capítulo 3 • 147 Como o 
objeto do estudo deste capítulo também diz respeito a esse 
segundo aspecto, será dada uma atenção exclusiva sobre a 
obra do pensador que mais ajudou a romper com a tradição 
cartesiano-positivista de desconsideração da retórica: Chaim 
Perelman, filósofo de origem polonesa radicado na Bélgica. 
MULTIMÍDIA Doze Homens e Uma Sentença. Título original: 
“Twelve Angry Men”. Direção: Sidney Lumet. 
Produção/Distribuição: Fox/MGM. Elenco: Henry Fonda, Lee 
 
 
 
 
J. Cobb, Ed Begley, E.G. Marshall, JackWarden, Martin 
Balsam, John Fiedler, Jack Klugman, Edward Binns, Joseph 
Sweeney, George Voskovec, Robert Webber. EUA. 1957. 
Drama. DVD. 96 min. 3.9.3 Algumas questões teóricas da 
argumentação de Chaim Perelman Chaïm Perelman, 
professor na Universidade Livre de Bruxelas, publicou, em 
1958, em coautoria com a professora Lucie Olbrecht-Tyteca, 
Tratado da argumentação: a nova retórica. O próprio 
subtítulo do livro já denota e acentua o caminho pelo qual o 
jurisfilósofo percorreu: a herança aristotélica. O primeiro 
parágrafo da introdução é muito significativo quanto a essa 
intenção do autor, pois escreve o filósofo e jurista, ao iniciar 
o seu Tratado da argumentação, tratar-se da “[...] publicação 
de um tratado consagrado à argumentação e a sua ligação a 
uma velha tradição, a da Retórica e da Dialética gregas” 
(PERELMAN, 2000, p. 1). A primeira parte do primeiro 
parágrafo serve para afirmar com toda a clareza, desde o 
início, uma

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