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ALUNO ; João Guilherme Dos Santos. 2° PERÍODO. matricula; 201908231777. PROFESSORA ; ANNE CAROLINE FERNANDES ALVES. DISCIPLINA ; Redação Instrumental FICHAMENTO DO CONTEÚDO - capítulo 3 • ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA. 3.1 Características: Argumentação Jurídica. .Introdução “Ao longo do processo evolucionista da escrita e da fala, adquiriram o que se chama hoje de - Técnica Retórica , já trabalhado por Aristóteles em seu livro A RETÓRICA, que deu início, portanto, ao pronunciamento breve, técnico e persuasivo. Hodiernamente, o pronunciamento breve hoje se tornou o que nós chama de Debate, onde existe um argumento provindo de uma tese, acompanhada também de um ponto de vista analítico.” • RESUMO TÉCNICO ; ARGUMENTAÇÃO. O entendimento da importância da argumentação para o profissional do Direito está cada vez mais presente no mundo jurídico. Diversas são as teorias, os livros, os autores que buscam desenvolver teorias de argumentação eficientes para a prática jurídica. Um bom jurista é um bom argumentador e não poucas vezes é a qualidade da argumentação que determinará a vitória ou a derrota. Apesar de sua importância, destaca Atienza (2003, p.17) que: “[...] pouquíssimos juristas leram uma única vez um livro sobre a matéria e, seguramente, muitos ignoram por completo a existência de algo próximo a uma “teoria da argumentação jurídica.” Abbagnano (1998, p.79), em seu “Dicionário de Filosofia”, afirma que argumento: “[...] é qualquer razão, prova, demonstração, indício, motivo capaz de captar o assentimento e de induzir à persuasão ou à convicção.” - PÁGINA (83) Narrativa Jurídica O pescador Ademar Manoel Pereira morava com a família, em julho 2004, em um barraco de madeira que incendiou e todos os móveis foram destruídos, não podendo nada ser recuperado. E, por isso, devido às dificuldades financeiras, atrasou o pagamento das contas de água à CASAN (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento). Conforme afirmou Marlene Teixeira Pereira, esposa do pescador, ela foi ao escritório da companhia para pedir o parcelamento da dívida, pois não teriam condições de pagar a quantia à vista, porque o marido estava reconstruindo a casa com a ajuda da comunidade local, e não poderia a sua família ficar sem água. Entretanto, o representante da CASAN negou o pedido de Marlene Pereira e a companhia cortou o fornecimento de água devido ao atraso de pagamento por parte do usuário, em dezembro de 2004. O pescador trabalha na Prefeitura de Piçarras (SC) e recebe mensalmente um salário mínimo. Conclusão; Em face do exposto, requer-se que a requerida Companhia Catarinense de Águas seja obrigada a fazer a religação da água e cobrança pelas vias adequadas para recebimento de pagamentos em atraso. 3.3 Estrutura Formal: Parágrafo Argumentativo (Página 92) Descreve-se que o desenvolvimento do parágrafo dependerá, naturalmente, da macroestrutura do texto. Há certos tipos de desenvolvimento mais adequados ao texto argumentativo, outros, ao discurso narrativo. Quanto à forma, o parágrafo é indicado materialmente na página digitada ou manuscrita por um ligeiro afastamento da margem esquerda da folha (aproximadamente dois centímetros). Isso facilita ao produtor de texto a tarefa de isolar e depois juntar convenientemente as ideias principais de sua composição, permitindo ao leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios. Observe que, à semelhança do texto como um todo e do desenvolvimento das teses, também cada parágrafo é estruturado em introdução, desenvolvimento e conclusão. Lembrar que essas três partes do texto são compostas de um ou de vários parágrafos e que esses são constituídos por períodos que, por sua vez, são constituídos por orações, mas nunca se constrói um texto com paragrafação única, seguindo o estilo de Ata de reunião, pois essa falha é gravíssima. • RESOLUÇÃO ; • • Introdução: Temos três espécies de preclusão: temporal, lógica e consumativa. Introduz e delimita o tema, estabelecendo um roteiro do que vai ser discutido, conceituado. • Desenvolvimento: Corresponde ao conceito de cada espécie de preclusão. • • Conclusão: Corresponde ao último período, funcionando como uma confirmação dos conceitos, apresentando a consequência da preclusão, qualquer que seja ela. 3.4 Planejamento: Argumentação Jurídica (página 97) O trabalho argumentativo pressupõe uma liberdade na escolha dos vários argumentos que irão fundamentar a tese, com o objetivo de persuadir o auditório (juiz). Deve ser feito, pois, um planejamento com as ideias principais a serem abordadas. Primeiramente, após a construção da tese, parte- se da seleção dos fatos [narrativa jurídica] que serão transformados em argumentos. No segundo momento, os tipos de argumentos que serão usados e a ordem lógica a ser dada por cada um deles, buscando sempre a que for mais persuasiva. A estruturação da tese (ou de cada tese) deve vir com introdução, desenvolvimento e conclusão para que se torne mais consistente e persuasiva. É fato que uma boa organização textual e apresentação consistente dos raciocínios passam maior veracidade e confiabilidade ao juiz, além de evitar que o magistrado não entenda o teor do pedido por falta de clareza textual. O desenvolvimento e a conclusão são as etapas mais trabalhosas para o advogado e o pedido ao juiz é feito na conclusão da argumentação. Desse modo fica bastante didático o planejamento, reitera-se: após o texto narrativo, vem a elaboração da tese ou das teses. Em seguida é o momento de escolher os fatos que serão interpretados (valorados), transformando-se em argumentos e os tipos de argumentos e provas que servirão de sustentação para a tese na argumentação a ser elaborada. Em síntese, seguem os principais pontos do planejamento: os fatos que necessitam ser narrados; a (s) tese (s) ; os diversos tipos de argumentos que vão reforçar a(s) tese(s) em uma ordem lógica de raciocínio e persuasiva; os elementos de comprovação (provas, documentos); a(s) tese(s) por ordem de importância; argumentos que devem fundamentar cada uma dessas teses apresentadas a cada parágrafo; apresentar, ao final, conclusão, que é o pedido feito ao juiz. De posse de todas as informações necessárias fica mais fácil organizar a ordem e exposição lógica dos argumentos no texto e, desse modo, iniciar a argumentação jurídica. A forma verbal deve ser usada na terceira pessoa do singular, no presente do indicativo (atemporal) e em forma de paragrafação. Conforme já visto a estrutura da argumentação jurídica deve apresentar as seguintes partes para facilitar a compreensão e alcançar a clareza textual: introdução, desenvolvimento e conclusão. Na introdução apresenta-se a tese, seguida de elementos fáticos valorados, que passam a ter função de argumentos, e que estão a serviço da sustentação da tese; no desenvolvimento entram aqueles elementos de comprovação (provas), juntamente acompanhado dos demais argumentos que fundamentarão a tese e, finalmente, a conclusão com o pedido feito ao juiz. Segue a estrutura a ser feita a cada parágrafo argumentativo: 1º PARÁGRAFO Introdução Apresenta-se a tese e trabalha-se com os fatos que a sustentam em raciocínios argumentativos. 2º PARÁGRAFO E DEMAIS Desenvolvimento As provas e os argumentos que darão sustentação à tese. ÚLTIMO PARÁGRAFO Conclusão O resultado e o pedido que se faz diante da tese. 3.5 Operadores ou Conectores Argumentativo – Discursivos: Argumentação. Ao figurar a estrutura do texto, podemos destacar um ponto mais importante na hora de fazer uma peça processoal. OS CONECTIVOS, MOSTRA UMA COERÊNCIA TEXTUAL, ONDE, O FORMATO DA ARGUMENTAÇÃO CONECTA AOS RESPECTIVOS CONECTIVOS. PARA, NO ENTANTO, DAR COESÃO AO TEXTO.(referência; João Guilherme Dos Santos) OPERADOR /CONECTOR FUNÇÃO ‘mesmo’, ‘até’, ‘até mesmo’, ‘inclusive’ Organizam a hierarquia dos elementos numa escala, assinalando o argumento mais forte para uma conclusão R. ‘ao menos’, ‘pelo menos’, ‘no mínimo’ Introduzem dado argumento deixando subentendida a presença de uma escala com outros argumentos mais fortes. ‘portanto’, ‘logo’, ‘por conseguinte’, ‘pois’, ‘em decorrência’, ‘consequentemente’ Introduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados em enunciados anteriores. ‘ou’, ‘ou então’, ‘quer...quer’, ‘seja...seja’ Introduzem argumentos alternativos que conduzem a conclusões diferentes ou opostas. ‘mais que’, ‘menos que’, ‘tão...como’ Estabelecem relações entre elementos, com vista a uma dada conclusão. ‘porque’, ‘que’, ‘já que’, ‘pois’ Introduzem uma justificativa ou explicação relativa ao enunciado anterior; ‘mas’, ‘porém’, ‘contudo’, ‘todavia’, ‘no entanto’, ‘embora’, ‘ainda que’, ‘posto que’, ‘apesar de (que)’ Contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias; opostas. Partindo da importância desses operadores discursivo-argumentativos na construção da argumentação jurídica, apresenta-se a análise da fundamentação, fragmentada intencionalmente em parágrafos, extraída de um Acórdão, para melhor compreensão da função que cada um desses operadores ou conectores exerce na organização do raciocínio nos parágrafos construídos. (PÁGINA 101) § lº: É fato provado e incontroverso (NCPC, 373, I; 374, III) o aponte do nome do autor no cadastro de restrição ao crédito (fls. 15), muito embora inexistente qualquer inadimplemento (fls. 17/28). Ou seja, no momento da inclusão, inexistia um dos requisitos legais para tanto: a inadimplência do devedor (S.323 STJ; S.90 TJ/RJ a contrario sensu). O ilícito é flagrante, consubstanciado na conduta abusiva da ré, contrária ao megadever jurídico da boa-fé (CR, 1º, III; CC, 187, 422; Lei 8.078/90, 4º, caput, III, VI; 42, caput; 43, §1º), do que resulta inequívoca a responsabilidade da apelada. O parágrafo se inicia por uma expressão modalizadora – “É fato provado e incontroverso[...]”. As expressões modalizadoras são elementos linguísticos que funcionam como indicadores de intenções, sentimentos e atitudes do relator em relação ao seu discurso. É por meio delas que o interlocutor percebe se o relator crê no que diz, se seu grau de certeza é forte ou atenuado, se ele se coloca como quem pode dizer o que sabe deve ou não fazer. E mais, elas são importantes para a construção do sentido e indicam o modo, a maneira como o que se diz é dito. Elas revelam a atitude do relator diante do enunciado que produz (KOCH, 2012). Por conseguinte, esse início de parágrafo mostra como as construções é certo, é fato, é preciso, é necessário, é provável, é obrigatório, dentre outras; são usadas com a intenção de desprestigiar, de pronto, qualquer outra tese que possa vir em direção contrária. O operador, “Ou seja”, tem a função geral de introduzir uma asserção derivada que visa a um ajustamento ou a um ajuste de precisão de sentido. O produtor de texto deve ficar atento para que esse conector não seja usado inadequadamente, tornando-se um vício de linguagem (“muleta argumentativa”). É muito comum, em textos jurídicos, deparar-se de forma excessiva e inadequada quanto ao uso dessa expressão que se volta para informar um sentido preciso ou mais esclarecedor do que foi dito antes. Na maioria das vezes, é usada pela dificuldade que demonstra o produtor do texto em articular os parágrafos entre si com os elementos coesivos adequados àquela situação semântica estabelecida entre eles. Assim, os operadores, isto é, quer dizer, ou melhor, ou seja, entre outras expressões visam a esclarecer, retificar, desenvolver ou explicar uma enunciação anterior e só quando houver, realmente, necessidade devem ser utilizados. No caso em análise, visa a dar um entendimento preciso à asserção anterior, reforçando que, no momento da inclusão“[...]do nome do autor no cadastro de restrição ao crédito[...]”, pois, não havia termo legal para a conduta praticada, o que passou a ser entendido como medida ilícita e abusiva por parte da ré. Os conectores, “portanto”, “por conseguinte”, “logo”, “isso posto”, na parte do dispositivo do Acórdão, introduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados em parágrafos anteriores. Aqui, o conector aponta, na verdade, a decisão final dada à matéria. Tem-se, neste momento, o fecho do voto “Isso posto,” dá-se parcial provimento ao recurso[...]”. Cada uma das partes do esquema do Acórdão (Ementa, Relatório, Fundamentação) serve para guiar esse percurso argumentativo. 3.6 Tipos de Argumentos A Retórica é definida por Aristóteles como arte de procurar, em qualquer situação os meios de persuasão disponíveis. Esse conceito é ampliado pelo filósofo Chaim Perelman, ao afirmar que o objetivo da Nova Retórica é o estudo das técnicas discursivas que visam a provocar ou aumentar a adesão das mentes às teses apresentadas. Para se elaborar uma argumentação jurídica é necessário construir argumentos, aduzir raciocínios que a constituem e para isso é necessário conhecer alguns tipos, entre muitos outros existentes, para maior consistência em sua construção. Dessa forma, as possibilidades de construções argumentativas são bastante numerosas, razão por que a classificação de alguns dos argumentos, a seguir, é meramente didática. 3.6.1 Argumento por Vínculo Causal ou Causa e Consequência As ligações de sucessão mais importantes são a argumentação por vínculo causal, que dão origem à argumentação pela causa e consequência, ou seja, a um dado acontecimento, infere-se uma causa para buscar a provável consequência. O argumento por vínculo causal é o argumento das consequências que avalia um ato, um acontecimento reportando-se às suas consequências presentes ou futuras. Consoante suas consequências favoráveis ou desfavoráveis; transfere-se todo o valor destas, ou parte delas, para o que é considerado causa ou obstáculo. Pode-se mostrar por meio do argumento por vínculo causal que um acontecimento constitui a condição necessária e suficiente de outro. Habitualmente, o acontecimento será apenas uma condição necessária ou uma causa parcial. Esse argumento desempenha um papel tão importante na argumentação, que muitos autores veem nele o esquema único da lógica dos juízos de valor, isso porque, geralmente, ele não requer pelo senso comum nenhuma justificação maior, entretanto o ponto de vista que lhe é contrário é que precisa ser bem argumentado. Destaca-se que esse tipo de argumento tem que ligar causa e consequência de forma aceitável e prudente, pois o encadeamento exagerado causal não pode gerar uma transferência exagerada, não requer pelo senso comum nenhuma justificação maior, entretanto o ponto de vista que lhe é contrário é que precisa ser bem argumentado. Destaca-se que esse tipo de argumento tem que ligar causa e consequência de forma aceitável e prudente, pois o encadeamento exagerado causal não pode gerar uma transferência exagerada, não autorizada pelo raciocínio coerente, lógico. Enquanto as reflexões sobre a causa são feitas a partir do fato, as considerações circunstanciais sobre o fato dão-se a partir de certa interpretação da causa, cuja busca corresponde, em outras circunstâncias, a da consequência. 3.6.2 Argumento de Concessão: Coordenativo e Subordinativo Concessão, no sentido retórico do termo, é a aceitação de um argumento do adversário, que não se refuta, mas que se faz seguir de um argumento em sentido inverso, a partir do qual se conclui. É um tipo de manobra argumentativa muito utilizada na argumentação jurídica, por ser um meio persuasivo muito importante. Concordando “aparentemente” com o adversário que sua tese é justae pertinente, o advogado, de um lado, concilia-se com ele, de outro, torna-lhe menos penoso admitir os argumentos contrários a ele. A concessão é uma estratégia argumentativa e como tal ela é parte integrante e constitutiva da lógica argumentativa. A organização da lógica argumentativa, segundo Charaudeau (1992, pp. 787-794), engloba cinco componentes, dentre eles: os elementos de base da relação argumentativa, que são a asserção inicial (premissa), a asserção final (conclusão) e a asserção de passagem (inferência, argumento, prova). Dentro dessa relação argumentativa ainda há os modos de encadeamento, dentre eles a concessão, as relações semânticas, os tipos de ligações lógicas e a posse do valor de verdade. Pela convivência de perspectivas ou teses opostas, o texto se constrói numa direção e busca a adesão do auditório para a direção oposta à sua própria construção. A concessão surge, assim, como um passo feito em direção ao adversário; ela é constitutiva de um ethos positivo (abertura, atenção para com o outro)”, mas para tirar a força da tese do adversário. Esclarece-se, portanto, o fato de que o valor de concessão não é veiculado somente por estruturas com conectores que tradicionalmente são chamados de concessivos (embora, apesar de, mesmo que, ainda que). O processo da concessão teve seu enfoque discursivo em destaque, a princípio, em 1976, por intermédio de Oswald Ducrot e Jean Claude Anscombre (1983, p. 31). Os autores, ao descreverem, em suas pesquisas, enunciados do tipo “P MAS Q”, registraram o valor concessivo dessa construção. Isso significa que as estruturas com os conectores adversativos (mas, porém, todavia, contudo, entretanto) também veiculam a ideia de concessão. 3.6.3 Argumento de Autoridade Argumentar por autoridade significa trazer ao discurso a opinião de pessoa reconhecida em determinada área do saber, para que suas palavras funcionem como reforço à veracidade da tese que se apresenta. Quando o argumentante usa esse tipo de técnica, toma de empréstimo o conhecimento e o renome da autoridade citada e acrescenta-os a seu próprio discurso - por assim dizer, enchendo-o de razão. Por seu alto valor, o argumento de autoridade é um dos mais utilizados nos textos jurídicos, por meio da citação da doutrina, jurisprudência O argumento a contrario sensu volta-se para a interpretação inversa (restrição/ exclusão) é tipicamente jurídico e tem estrita relação com o princípio da legalidade, inscrito no inciso II, do art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB/88), que assim dispõe: “ ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Sua origem fundamenta-se na observação de que, se uma norma jurídica prescreve uma conduta e a ela uma sanção a um sujeito, deve-se excluir de seus efeitos todos os sujeitos que não tenham sido alvo do texto literal da lei. Desse modo, se o artigo 312 do Código Penal comina uma pena para a conduta e “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel...” significa, contrario sensu, que aquele que não for funcionário público não responde por esse crime. O argumento a contrario sensu – de interpretação inversa- é utilizado pelo argumentante não apenas ao interpretar os dispositivos legais, dentro do princípio da legalidade, mas também articulado para trabalhar, a favor do argumentante, jurisprudências e doutrinas, transformando-lhes o sentido, de maneira lógica, para adequar-se a uma tese qualquer pela interpretação por via inversa: Pois bem, se o querelante pode oferecer queixa crime quando faz a prova da autorização do entrevistado para a publicação dos ditos ofensivos, depreende-se, contrario sensu, que não o pode fazer se não realizar, anteriormente, essa mesma prova. 3.6.8 Argumento por Senso Comum; É o argumento que traz declarações aceitas pela maioria, sendo difícil combatê-las. No Direito, poucas teses específicas são de senso comum, porque a concordância quanto à interpretação da lei é rara. Ainda pode-se dizer, segundo Rodriguez (2004, p.263), que essas declarações trazidas pelo argumento de senso comum não podem ser negadas pela parte contrária, pois são óbvias. Apesar, de parecer convincente, até porque não aceita réplica, esse argumento tem força de persuasão fraca, “pois seu alcance é por demais vago, obtuso” além do que, as duas partes do litígio podem utilizá-la. Dessa forma, para garantir a eficácia desse argumento, ele deve estar acompanhado de outros argumentos que lhe venham a dar sustento. Nas lides judiciais, o argumento de senso comum funciona dando mais ênfase ao texto, “como um recurso retórico”, sua utilização deve ser com o objetivo de reforçar o contexto do que se pretende. Caso contrário, a argumentação aproxima-se do lugar comum. O combate desse tipo de argumento pela parte contrária é feito pedindo-se argumentações mais pertinentes ou exigindo comprovação de que houve “violação aos princípios aceitos por unanimidade” (RODRIGUEZ, 2004, p. 264-265) 3.7 Discurso Jurídico: Descritivo, Valorativo e Normativo Todo o discurso jurídico comporta necessariamente três valências, a saber: a descritiva (exposição dos fatos), a valorativa (qualificação dos fatos) (fatos transformados em argumentos por meio da interpretação) e a normativa(aplicação do Direito). As proposições descritivas estabelecem que algo é ou não é, quer dizer, que sucedeu algo que afetou uma coisa ou uma pessoa. As proposições valorativas apreciam as pessoas e as condutas, qualificando- as de valiosas ou desvaliosas. Já as proposições normativas mandam, permitem ou proíbem as pessoas de fazer algo ou alguma coisa. Como as proposições descritivas estabelecem que algo é ou não é, a característica própria dos juízos descritivos que as integram é que são juízos em que se informa ou estabelece se algo é ou não é real. Consequentemente, as 3.6.10 Argumento por Antimodelo O antimodelo indica o que deve ser repugnado: o não exemplo, e é uma técnica típica da escola de Górgias, o qual foi a ponta de lança na criação das primeiras técnicas destinadas a estimular, com meios apropriados, a invenção dos conceitos. Essa técnica parte da convicção de que se, na invenção dos conceitos, referir-se, como ponto de partida a um modelo precedente, espontaneamente imitá-lo e, portanto, será difícil dizer algo original. Perelman (2000, p. 388) notou como essa técnica do antimodelo conjuga a vantagem de estimular a criatividade a contrário com a de não excluir a possibilidade de derivar alguma ideia ou algum procedimento parcial precisamente do próprio antimodelo: “É sabido que a competição desenvolve a semelhança entre antagonistas que acabam tomando um do outro todos os procedimentos eficazes”. A técnica argumentativa do antimodelo pressupõe a existência prévia de um tema ou de um conceito e ensina a partir deste para derivar outros. Esse tipo de argumento foi denominado pela retórica antiga como tópica, ou como “ciência dos lugares dos argumentos”. Tal ciência tem como seu instrumento essencial a localização do argumento dado para depois buscar outros que se encontrem no lugar mental mais próximo de tal localização. Em um outro caso concreto semelhante, trazendo como réu Augusto Eduardo da Rocha Monteiro Gallo, a acusação utilizou-se do mesmo texto de Shakespeare só que como um antimodelo, ou seja, a acusação utilizando-se das falas de Otelo, sem nenhuma encenação, tentava persuadir o Tribunal do Júri da sua tese em uma linha do homicídio qualificado, indesculpável. Disse o promotor de Justiça Alcides Amaral Salles, por ocasião do recurso da pronúncia, citando Nélson Hungria (ELUF, 2002, p. 53): O marido que surpreende a mulher e o amante em flagrante e, em desvario decólera, elimina a vida de uma ou de outro, ou de ambos, pode invocar a violenta emoção, mas aquele que, por simples ciúme ou meras suspeitas, repete o gesto bárbaro e estúpido de Otelo terá de sofrer a pena inteira dos homicídios vulgares. Embora a acusação tenha também se utilizado de alguns fragmentos da peça do escritor inglês, não saiu vitoriosa, pois Gallo foi absolvido por legítima capítulo 3 • 123 defesa da honra. Os jurados consideraram que ele agiu moderadamente, sem nenhum excesso em sua conduta ao matar a esposa. Ficou livre de qualquer penalidade (ELUF, 2002, p. 53). A eficácia retórica de um antimodelo define-se pela inversão e negação irrestrita dos atributos que ele leva em conta, ou seja, o antimodelo é tão mais eficaz à medida que em nenhum ponto do modelo sugerido encontre paridade com o antimodelo (PERELMAN, 2000). Surge, assim, uma estratégia retórica inversa, definida a partir da negação de um antimodelo sobre o qual se estabeleceu um consenso negativo. 3.6.11 Argumento Pelo Absurdo e Pelo Ridículo O argumento por absurdo consiste em levar o interlocutor a uma conclusão absurda para convencê-lo a admitir uma determinada tese. Ao se admitir a concepção do mal cometido conscientemente, chega-se pela lógica a conclusões absurdas. A mais caracterizada argumentação quase-lógica pelo ridículo consistirá em admitir momentaneamente uma tese oposta àquela que se quer defender, em desenvolver-lhe as consequências, em mostrar a incompatibilidade destas com o que se crê por outro lado e em pretender passar daí a verdade da tese que se sustenta. Exemplifica-se esse tipo de argumento com a fábula do “Lobo e o cordeiro”, de Esopo (REBOUL, 2005, p. 145): No tempo em que o lobo e o cordeiro estavam em tréguas, desejava aquele que se oferecesse ocasião para as romper. Um dia em que ambos se acharam na margem de um regato, indo beber, disse o lobo muito encolerizado contra o cordeiro: – Por que me turbais a água que vou beber? Respondeu ele mansamente: – Senhor fulano lobo, como posso eu turbar à vossa mercê a fonte, se ela corre de cima, e eu estou cá mais abaixo? Reconheceu o adversário a clareza do argumento, porém, variando de meio, instou dizendo: – Pois se não turbastes agora, a turbastes o ano passado. Satisfez o cordeiro, dizendo: – Como podia eu cometer um crime há um ano, se eu não tenho ainda de idade mais que seis meses? Então o lobo, enfadado tanto mais quanto mais convencido, disse: – Pois se não fostes vós, foi fulano carneiro vosso pai. E, investindo ao pobrezinho, o levou nos dentes. Assim fazem os ímpios e maliciosos, a quem não há inocência que satisfaça nem desculpa que contente. 124 • capítulo 3 O argumento pelo absurdo consiste, de modo geral, em se refutar uma asserção, mostrando-lhe a falta de cabimento ao contrariar a evidência. É o argumento contrário à razão ou que está para além dos limites da racionalidade. No exemplo dado, absurdo foi o argumento do primeiro ao dizer que o cordeiro lhe turvava a água, porque este (o cordeiro) estava muito mais abaixo. O filósofo Perelman explica que o ridículo está para a argumentação, assim como o absurdo para a demonstração. A figura que bem elucida esse fato é a ironia, pretendendo desqualificar a tese pelo riso. Segundo, ainda, o filósofo (2000, p. 219), o empenho em dirimir incompatibilidade é muito comum a todos os níveis da atividade jurídica, característico do legislador, do teórico do Direito e do juiz. 3.7 Discurso Jurídico: Descritivo, Valorativo e Normativo Todo o discurso jurídico comporta necessariamente três valências, a saber: a descritiva (exposição dos fatos), a valorativa (qualificação dos fatos) (fatos transformados em argumentos por meio da interpretação) e a normativa(aplicação do Direito). As proposições descritivas estabelecem que algo é ou não é, quer dizer, que sucedeu algo que afetou uma coisa ou uma pessoa. As proposições valorativas apreciam as pessoas e as condutas, qualificando- as de valiosas ou desvaliosas. Já as proposições normativas mandam, permitem ou proíbem as pessoas de fazer algo ou alguma coisa. Como as proposições descritivas estabelecem que algo é ou não é, a característica própria dos juízos descritivos que as integram é que são juízos em que se informa ou estabelece se algo é ou não é real. Consequentemente, as 126 • capítulo 3 proposições e os juízos descritivos são proposições ou juízos racionais que se podem qualificar de verdadeiros ou falsos, acabando por ser o tópico basilar da argumentação forense. Ao se considerar esse entendimento sobre o discurso jurídico, parte-se do pressuposto que uma interpretação deve ser ativa, construtiva, e não passiva e meramente descritiva. Os valores, juridicamente considerados, não se confundem com os modismos nem com a comoção pública, pois estes são inconstantes. Ao contrário, os argumentos de valor impõem- se como instrumentos de estabilidade, demolindo conduta ultrapassada, em busca da vivificação e da efetivação do Direito e forma mais justa, razoável e humana, por isso deve estar sempre contextualizado à luz do contexto histórico político-social em que o homem está inserido. Quando o Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, concedeu habeas corpus a um acusado de estupro presumido contra uma menor de doze anos, disse que sempre adota nas suas decisões os padrões do homem comum. A situação fática mencionada informou que o acusado manteve conjunção carnal consentida com uma menor de 12 anos, que não era mais virgem. Processado o réu, a Sentença condenatória saiu cinco anos depois, quando ele já era casado e pai de um filho. “Condená-lo por um crime hediondo e prendê-lo em regime fechado se mostrou outro paradoxo. Por que ele e não qualquer dos outros rapazes que haviam mantido relações antes com a moça?”, fundamentou o Ministro. É de conhecimento comum, fundamenta ainda o ministro, que a prostituição adulta nem sempre, mas a infantil é famélica. No caso, a presunção legal de violência abrigada no Direito estático foi relativizada no direito em movimento, porque é mais próxima da realidade social. Assim, se a menor consente na conjunção carnal, tem aparência de l4 anos de idade ou mais, confessando ela em juízo a ausência de qualquer coação, conforme o caso, pode- se elidir a presunção legal de violência, fundamenta o ministro. O Ministro fundamenta, ainda, em seu voto que, nos tempos atuais (década de 90), com a televisão e outros meios de comunicação, não se pode presumir a desinformação da menor sobre o sexo, como era na década de 1940, quando foi feito o Código Penal brasileiro. Como se vê, o caso é um típico julgamento de valor, opondo-se ao pensamento do dogma da justiça formal, corrente esta conservadora e muito expressiva capítulo 3 • 127 ainda no Brasil, que defende que a presunção de violência, na hipótese dada, é absoluta. O ministro também fundamenta que não é recolhendo em regime fechado os homens que praticam sexo com as menores soltas na rua que se resolve o problema da prostituição infantil. Primeiro deve-se atacar o problema de base, de ordem social. Por sua vez, a doutrina da presunção absoluta de violência, na hipótese sob comento, é tão desconforme com a atualidade que, se o namorado, de 18 anos, transa com sua namorada de 13 anos e 11 meses, por puro amor e paixão, consentido e curtido, poderá ser punido severamente tal qual por assassinato. É a valoração que assegura a efetividade dos direitos, modificando o conteúdo de aplicação de regras antigas e até revogando regras ultrapassadas. O concubinato, por exemplo, já foi muito hostilizado pela sociedade e pelo Direito. Até que o Supremo Tribunal Federal, sem que a lei houvesse mudado, passou a interpretar o direitoda união de fato em favor da concubina, reconhecendo-lhe direito a pensão do falecido companheiro. Posteriormente, o Direito Previdenciário evoluiu para também admiti-lo. Até que a Constituição de 1988 atribuiu pleno efeito à união de fato. A mudança operou-se no campo dos valores. Por fim, o Supremo Tribunal Federal já proclamou a legitimidade da união estável entre homossexuais, e a Previdência Social já lhes confere direitos previdenciários. Em outro caso – mas sem argumento de valor – um rapaz solteiro casou-se com uma moça que já tinha um filho não reconhecido pelo pai. Em um gesto nobre, ele registrou a criança como seu filho, dando-lhe, portanto, nome e pai. Um promotor de justiça da região, de ofício, sem provocação, processou-o pela prática de ato ilegal e o juiz condenou-o. Aqui, a letra fria do texto violentou o Direito, o direito mais sagrado do amparo à família (arts. 226 e 227, da Constituição Federal). Os valores podem ser classificados em materiais e espirituais. Os primeiros dizem respeito ao ser humano como ser na natureza; os segundos, como ser cultural. Entre os espirituais, interessa evidenciar os éticos, como o amor, a humildade, a honestidade, a bondade, a dignidade; os estéticos ou do belo; os lógicos e os religiosos; dentre os materiais, os vitais compõem o topo da pirâmide, ocupando a vida o cume, daí derivando a integridade moral e física, a saúde, a segurança; e os patrimoniais vêm em segundo plano. Mas até estes sobem na 128 • capítulo 3 espiral quando compõem o piso da dignidade, como a moradia e os bens que a guarnecem, tornados impenhoráveis pela Lei nº 8.009/90. 3.7.1 Silogismo Retórico ou Entimema: Raciocínio Indutivo e Retórico Silogismo, do grego, significa “ligação” ou “conexão de ideias”, em que por meio de duas proposições, denominadas premissas, se extrai uma terceira, a conclusão. O silogismo lógico-formal é um argumento dedutivo (parte de argumentos gerais para argumentos particulares). Na definição de Aristóteles, “o silogismo é um raciocínio em que, postas algumas coisas, seguem-se necessariamente algumas outras pelo simples fato de aquelas existirem. Quando digo ‘pelo simples fato de aquelas existirem’, pretendo dizer que delas deriva alguma coisa, e, por outro lado, quando digo ‘delas deriva alguma coisa’, pretendo dizer que não é preciso. capítulo 3 • 129 Para Aristóteles (2005, p.99), alguns meios de persuasão são próprios da arte retórica e outros não. “As provas de persuasão fornecidas pelo discurso são de três espécies: umas residem no caráter moral do orador; outras, no modo como se dispõe o ouvinte; e outras, no próprio discurso, pelo que este demonstra ou parece demonstrar”. Com essa noção devem-se formar silogismos, isto é, raciocinar logicamente, compreender o caráter humano e suas virtudes, bem como entender as paixões ou emoções, e como podem ser provocadas. Para se alcançar a persuasão por meio de demonstração evidente ou aparente, há por um lado o exemplo e o entimema (=considerar, ponderar, refletir). Aristóteles considera o exemplo como indução e o entimema como silogismo. Assim, o filósofo afirma que chama entimema ao silogismo retórico e exemplo à indução retórica”. Os entimemas são silogismos retóricos por serem formal ou logicamente imperfeitos, suas conclusões não decorrem necessariamente de suas premissas, ao contrário dos silogismos apodíticos; mas são pragmaticamente úteis se o objetivo é persuadir sem as exigências de rígida coerência lógica, quando esta não é possível ou mesmo estrategicamente desejável (ADEODATO, 2012, p.359). Assim, o raciocínio retórico objetiva persuadir alguém a uma ação concreta, um fazer ou não fazer. Busca influenciar o destinatário do discurso com elementos diretos e concretos, exigindo uma posição final, uma ação que siga ao discurso, como forma de aprovação ou não à tese apresentada. O objetivo do discurso retórico é persuadir, já o do dialético é convencer, já que a natureza do discurso retórico traz sempre, explícita ou não, uma ordem ou um pedido que exige do destinatário uma ação específica, segundo a persuasão obtida. Dessa maneira, a credibilidade do discurso retórico consiste em fazer o ouvinte agir de acordo com sua vontade e, para tanto, deve igualar-se à sua vontade, deve persuadir o destinatário de que sua vontade é aquela proposta pelo discurso. A participação do destinatário no discurso retórico é ativa, segundo uma manifestação e identificação de vontade, a saber: do titular do discurso e seu destinatário. Por essa razão que a lógica formal não se aplica ao Direito, uma vez que a definição do argumento válido dedutivamente se refere a proposições (premissas e conclusões) que podem ser verdadeiras ou falsas, por isso a inferência silogística não funciona com relação às normas. Ao se considerar a norma jurídica, uma das premissas, pode ser válida ou não, e se baseia num ato de vontade, não tendo sentido em se falar em verdade ou falsidade. No máximo, fala-se 130 • capítulo 3 em silogismo normativo ou prático, em contraposição ao silogismo retórico (ATIENZA, 2006, p.29). Assim sendo, o entimema ou silogismo retórico é aquele tipo de silogismo em que as premissas não se referem àquilo que é certo, mas àquilo que é provável, e tem importância fundamental para a retórica já que, na maioria dos casos em que estão em jogo assuntos humanos, nem sempre se pode basear a argumentação apenas naquilo que é verdadeiro, mas apenas no que é verossímil. Destacase, pois, a importância atribuída por Aristóteles ao conhecimento do auditório. De todo modo, se o discurso jurídico é realizado com finalidade persuasiva e justificadora, os fundamentos estão presentes no silogismo retórico ou argumentativo. Cita-se, como exemplo de raciocínio lógico- formal ou raciocínio dedutivo, o caso concreto em que “a autora ajuizou uma ação em face do pai, após ter obtido reconhecimento judicial da paternidade, por ter sofrido abandono material e afetivo durante a infância e adolescência e, na primeira instância, o pedido foi julgado improcedente, mas, em fase recursal, a ministra Nancy Andrighi, da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), julgou o pedido procedente, fazendo uma crítica às decisões judiciais muito calcadas ainda em axiomas, e com esta frase Amar é faculdade, cuidar é dever, fundamentou a sua decisão. Segundo ela, a interpretação técnica e sistemática do Código Civil e da Constituição Federal apontam que o tema dos danos morais é tratado de forma ampla e irrestrita, regulando inclusive “os intrincados meandros das relações familiares”. Para a ministra, porém, não há por que excluir os danos decorrentes das relações familiares dos ilícitos civis em geral. “Muitos, calcados em axiomas que se focam na existência de singularidades na relação familiar – sentimentos e emoções –, negam a possibilidade de se indenizar ou compensar os danos decorrentes do descumprimento das obrigações parentais a que estão sujeitos os genitores”. 3.8 Raciocínios: Dedutivo, Indutivo, Dialético (Ou Jurídico) Raciocínio é entendido como uma operação mental, uma forma de reflexão ordenada e coerente que pode ser comunicada por uma expressão verbal. O raciocínio caracteriza-se por um encadeamento lógico de proposições, que forma a matéria argumento. O raciocínio se apresenta sob a forma de indução e dialética. Os raciocínios dedutivos são também chamados explicativos, analíticos e os raciocínios indutivos, de amplificativos, sintéticos. O raciocínio analítico ou dedutivo caracteriza-se por um processo que, independentemente de provas experimentais, desenvolve-se de uma verdade sabida ou admitida a uma nova verdade. No raciocínio dedutivo existe o silogismo que a partir de suasproposições, chamadas premissa maior e premissa menor, delas resulta necessariamente uma conclusão, a qual, se esclarece ou particulariza um ponto, nada acresce substancialmente ao já sabido. É um conhecimento que se obtém de forma inevitável e sem contraposição. Como exemplo de raciocínio dedutivo temse uma situação fática em que um homem raspa a casca de uma árvore para fazer chá para a sua mulher e é preso em flagrante delito por crime ambiental inafiançável, sendo colocado em uma cela somente com acusados de homicídio e roubo. O delegado preocupou-se apenas em fazer a aplicação da estrutura do raciocínio jurídico, sem valoração alguma do fato e de suas circunstâncias, ou seja, fez apenas, de forma matemática, informatizada, de forma irrazoável, a subsunção da norma ao fato, sem considerar em momento algum as circunstâncias em que o fato ocorreu e a sua particularidade, assim como não considerou o princípio da razoabilidade e o da proporcionalidade, embora tivesse discernimento para tal, em decorrência da sua formação jurídica. Observe: 132 • capítulo 3 Josias raspava a casca de uma árvore chamada almesca, em 7 de junho de 2011, em uma área de preservação permanente que fica às margens do córrego Pindaíba, em Planaltina (a 44 km de Brasília). O lavrador disse que usava a casca para fazer chá para a mulher, Erotildes Guimarães. Ela tem Doença de Chagas. Josias conta que soube que o chá melhorava as condições dos acometidos pela doença.. Josias foi surpreendido com um tiro para o alto, dado por soldados da Polícia Florestal, quando raspava a almesca. Preso em flagrante delito, algemado, Josias foi levado para a delegacia, e o lavrador foi enquadrado na Lei do Meio Ambiente (Nº 9.605/ 98). Segundo o delegado Ivanilson Severino de Melo, Josias provocou "danos diretos ao patrimônio ambiental”, crime previsto no artigo 40 da lei. O delito, inafiançável, é punido com 1 a 5 anos de prisão. Josias foi colocado em uma cela com outros cinco presos, acusados de homicídio e roubo Outro exemplo em que se aplica o raciocínio dedutivo (GRAZINOLI, 2009, p.138): “A” foi presa em flagrante no Aeroporto internacional de uma grande capital brasileira tentando embarcar com 2kg de droga para o exterior. O exame pericial comprovou que a substância apreendida era mesmo entorpecente, cujo uso é considerado proibido por ato administrativo do Ministério da Saúde. As testemunhas confirmaram que a substância foi encontrada presa por fitas adesivas ao redor da barriga de “A” quando esta se dirigia para o avião. ”A” confessou o crime. Logo, em uma aplicação silogística da norma Penal, “A” deve ser condenada, não pode ter a pena substituída, deve cumpri-la integralmente em regime fechado. Isso satisfaz o princípio da universalidade, da igualdade e da justiça (formal): todas as pessoas devem ser tratadas da mesma forma; todos são iguais perante a lei. Agora, trabalha- se individualizando o mesmo exemplo: capítulo 3 • 133 “A” é uma senhora de 60 anos, que mora na zona periférica de uma grande capital brasileira. Ela foi abandonada há anos pelo marido, mora sozinha e cria um neto de quatro anos, filho da sua filha. A filha de “A” tem problemas psiquiátricos e não trabalha nem tem condições de cuidar do próprio filho. ”A” possui uma “vendinha” próxima a uma favela, de onde provém todo o seu sustento, de sua filha doente e do seu neto. O neto de “A” nasceu com um problema congênito - decorrente do uso excessivo de bebidas alcoólicas e de drogas por parte da mãe, doente mental, durante a gravidez - que consiste na perda gradativa da visão: a criança é praticamente cega. Existe cura para a doença, mas a cirurgia custa cerca de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), e o SUS – Sistema Único de Saúde- não a realiza nem paga a sua realização em rede privada. Se “A” for encarcerada, o menino ficaria aos cuidados de sua filha, doente mental, mãe da criança. “A” nunca cometeu qualquer tipo de crime anteriormente; nunca foi presa ou processada; sempre trabalhou desde muito nova. “A”, além da pressão sofrida pelos traficantes da favela em que possui sua “vendinha”, receberia como pagamento pelo transporte da droga cerca de R$15.0000,00 (quinze mil reais), dinheiro que usaria para a operação do neto de quatro anos, que com isso voltaria a enxergar. Provas documentais provaram a existência da doença e a possibilidade de cura cirúrgica. A primariedade de “A” foi provada por sua Folha de Antecedentes Criminais. Documentos e testemunhas corroboraram os outros argumentos apresentados em favor da ré, como o problema da filha e a existência da “vendinha”. “A” foi condenada por tráfico de drogas. O juiz, contrariando jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal (STF), substituiu a pena privativa de liberdade por penas restritivas de direito (prestação de serviços à comunidade). O Ministério público não recorreu da Sentença. No caso concreto, segundo o juiz federal Granzinoli (2009, p.138), foi criada uma regra de exceção para superar no caso particular à regra geral, a rigor, a jurisprudência do STF, que veda a substituição da pena. Argumentos particulares existentes no caso concreto, aliados a outras regras previstas no próprio Código Penal, funcionaram na criação da regra de exceção, pois as decisões não devem ter em conta apenas a aplicação literal da lei (presunção de legalidade), mas também sua aceitabilidade moral pela sociedade (presunção de razoabilidade). 134 • capítulo 3 Diferentemente do dedutivo, tem-se o raciocínio indutivo – utilizado no raciocínio retórico-que se caracteriza por ser um processo que se desenvolve a partir dos fatos particulares até atingir uma conclusão de ordem geral, mediante a qual se possa explicar o que há de constante ou comum nos fatos observados e em outros da mesma natureza. Segue mais um julgado que comprova que, de fato, em Direito, o raciocínio indutivo é o mais justo e razoável, porque se deve analisar caso a caso, visto que os casos podem ser semelhantes, mas as circunstâncias em que aconteceram podem ser diferentes, o que justifica a tese de ser o discurso jurídico descritivo, valorativo e normativo: A Terceira Seção da Corte decidiu, em 5 de abril e 2012 que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como estupro, de acordo com o caso. O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”. A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”. Essas decisões reforçam a tese de que o Direito jamais pode sair de uma máquina porque ele supõe que sejam ouvidas e confrontadas dialeticamente uma e outra parte no processo. A solução do Direito nasce, assim, do choque dos discursos contraditórios. Portanto, em todo litígio de ordem jurídica, cabe considerar, no que diz respeito ao raciocínio e, independentemente das questões de procedimento, três aspectos, que são: a prova dos fatos, a sua qualificação e as consequências legais daí decorrentes,levando-se em consideração o sistema de Direito em vigor. capítulo 3 • 135 Como se vê pelo exemplo dado, a indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é chegar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que os das premissas nas quais se basearam. O estudo de Perelman, quanto aos tipos de raciocínio, relaciona-se às provas que Aristóteles, nos Tópicos, chama de dialéticas e utiliza na Retórica. A evocação da terminologia do pensador grego “teria justificado a aproximação da teoria da argumentação à dialética, concebida pelo próprio Aristóteles como a arte de raciocinar a partir de opiniões geralmente aceitas. No entanto, o professor belga (2000, p. 36) prefere a aproximação da teoria da argumentação à retórica. Em primeiro lugar, para não haver risco de confusão que a volta a Aristóteles poderia trazer: Em segundo lugar, afirma o filósofo: O raciocínio dialético é considerado paralelo ao raciocínio analítico, mas trata do verossímil em vez de tratar de proposições necessárias. A própria ideia de que a dialética concerne a opiniões, ou seja, a tese às quais se adere com uma intensidade variável, não foi aproveitada. Dir-se-ia que o estatuto do opinável é impessoal e que as opiniões não são relativas aos espíritos que a elas aderem. Em contrapartida, essa ideia da adesão e de espíritos aos quais se dirige um discurso é essencial em todas as teorias antigas da retórica. (PERELMAN, 2000, p.39) A aproximação da Retórica ao dialético visa a enfatizar o fato de que é em função de um auditório que qualquer argumentação se desenvolve. O estudo do opinável dos Tópicos poderá, nesse contexto, inserir-se em seu lugar. O raciocínio dialético ou jurídico corresponde à apreensão discursiva do conhecimento a partir da análise dos opostos e da interposição de elementos diferentes. Procede de tal modo crítico, ponderando polaridades contrárias, até o alcance da síntese. Quando esses raciocínios adentram a área jurídica, produzem resultados diferentes, pois a peculiaridade do direito é a questão do juízo, não analítico, mas valorativo. Por essa razão que todo raciocínio que procure eliminar a discussão, o debate, a controvérsia, em Direito, não poderá prosperar. Sendo assim, o raciocínio dialético ou jurídico busca tratar das deliberações e controvérsias, típicas de um discurso, a fim de criticar as teses do adversário, de defender e justificar suas próprias, utilizando argumentos. (PERELMAN, 136 • capítulo 3 2000, p.40) e transcende os aspectos meramente formais, preocupando-se em persuadir ou convencer pelo discurso. Perelman (2000, p.39), tratando da Lógica aristotélica, destaca também a ideia de sobre raciocínio analítico: é aquele que, “partindo de premissas necessárias, ou pelo menos indiscutivelmente verdadeiras, redundam, graças a inferências válidas, em conclusões igualmente necessárias ou válidas”. Assim, é impossível que a conclusão seja falsa, se o raciocínio foi feito corretamente, com suporte em premissas corretas, conforme o padrão simbólico da Lógica Formal. O raciocínio jurídico, que Perelman (2000) caracteriza como dialético, é tomado pelo desacordo, pela controvérsia, portanto não pode ser considerado verdadeiro ou falso, conforme a exigência do raciocínio lógico-dedutivo. O raciocínio jurídico é o raciocínio dialético e é deste raciocínio que se valem as partes, por meio de seus representantes judiciais, postulando a aplicação do direito a seu favor, e é dele que se vale o juiz para afirmar a sua convicção de julgamento por meio de uma decisão. O raciocínio jurídico, antes de mais nada, é um raciocínio prático, isto é, guia as ações humanas. Dessa forma, o raciocínio jurídico ou dialético desenrola-se com base em fatos concretos, em situações flagrantes, em meio a contextos políticos de onde emergem decisões que condensam a justiça concreta de cada caso. Trata-se de um modelo teórico que apela para a decisão do justo e que inscreve a tarefa de instrumentalizar as atividades dos juristas e operadores do direito à argumentação. ATENÇÃO A conclusão de uma argumentação não-formal resulta de uma escolha que sempre pode ser discutida e contestada, contrariamente a uma lógica do tipo matemático; trata-se, antes de tudo, de uma lógica dos valores, uma lógica do razoável, do preferível, como afirma Perelman (2000), por essa razão que o raciocínio jurídico não tem forma demonstrativa, mas argumentativa. capítulo 3 • 137 Segundo Monteiro (2001) há dois tipos de raciocínio no Direito: os raciocínios lógico-dedutivos, também chamados de explicativos ou analíticos ou lógico-formais e os raciocínios jurídicos, que Perelman (2000) caracteriza como dialéticos. Os raciocínios lógico-dedutivo são procedimentos de ordem geral que podem ser encontrados na teoria e na vida jurídica. Os dialéticos também chamados de metalógicos tratam da argumentação jurídica. 3.9 Lógica Jurídica: Lógica dos Juízos de Valor Ao desenvolver profunda análise acerca do raciocínio judiciário que lhe era contemporâneo, Perelman (2005, p.40) buscou destacar como a lógica formal aplicada apresentava uma natureza puramente lógica-dedutiva; e como a aplicação desse raciocínio tornava o Direito muito engessado e, por conseguinte, alheio aos verdadeiros anseios reclamados pela sociedade. A adoção desse raciocínio lógico- dedutivo decorreu do positivismo jurídico imposto pelo Código Civil Francês de 1804 (Código de Napoleão), e logo se infiltrou nos sistemas jurídicos das diversas nações da Europa, inclusive da Bélgica, país para o qual Perelman migrou, permaneceu grande parte de sua vida, e no qual desenvolveu todo o seu trabalho acadêmico-filosófico. Ao surgir na França do século XIX, o positivismo jurídico teve a sua razão de ser, e, inclusive, forneceu vários contributos para o desenvolvimento de institutos jurídicos, os quais dificilmente encontrariam espaço para esse desenvolvimento em outros sistemas. No entanto, com o passar do século e com o avanço das relações sociais, o positivismo jurídico tornou-se insuficiente para atender aos verdadeiros ideais de justiça que se buscava na solução dos conflitos. Esse fato ocorreu porque, para essa corrente jurídico-filosófica, todo o Direito estava contemplado na lei. Sendo assim, seria correto, portanto, afirmar que o Direito era a própria lei e que, por tal razão, a lei deveria ser sobrepor, de forma igualitária, a todo e qualquer conflito, independentemente das circunstâncias inerentes a cada situação. Com o desenvolvimento das relações sociais e das diversas escolas de hermenêutica jurídica (cuja evolução possibilitou uma relativa flexibilização dos métodos de interpretação da lei), alguns estudiosos passaram a observar que, 138 • capítulo 3 não obstante a variedade de tais métodos interpretativos, subsistiam situações nas quais a lei não poderia lhe ser aplicada. Esta inaplicabilidade da lei, por sua vez, decorria basicamente de uma inegável constatação, a saber: o imaginário humano, não obstante sua vasta extensão criativa, não havia previsto, e, portanto, não pudera normatizar, a solução de alguns conflitos decorrentes da evolução das relações sociais. Nesse ínterim, Perelman destaca (2005, p.43) que, já nesta fase, os juristas foram confrontados com a percepção de que, em sendo a sociedade dinâmica, o Direito também deveria tornar-se dinâmico, sob pena de perder o elo que o conectava à própria sociedade. Além isso, ao prolatar uma decisão, o juiz deveria indagar se a sua decisão, além de ser legal, também seria justa e harmoniosa com os valores morais entãovigentes na sociedade para a qual a decisão se destinava. Essa possibilidade, todavia, foi completamente rechaçada pela doutrina de então, cujo caráter prevalente ainda era centrado no positivismo jurídico decorrente da Revolução Francesa. A grande mudança, contudo, operou-se por imposição de fator histórico, cuja ocorrência silenciou todas as vozes que pregavam a soberania absoluta da lei, e que, em sendo a lei soberana, ninguém jamais poderia se insurgir contra ela. Tal fator consistiu na assunção do Estado Nacional Socialista na Alemanha, e, por conseguinte, nos atos realizados em nome desse sistema que, sob o comando de Adolf Hitler, foi responsável por um dos mais abjetos genocídios registrados pela história da humanidade. Assim, tão logo encerrado o período beligerante tornou-se a percepção de que os atos realizados sob a égide do Estado Nacional Socialista não poderiam permanecer incólumes, sob pena de motivar a formação de outros Estados que pudessem repetir os mesmos atos abomináveis cometidos sob a orientação desse sistema. Todavia, como resolver essa questão, se o Estado Nacional Socialista, estrategicamente, promulgou previamente inúmeras leis que legitimaram os atos abomináveis cometidos por Hitler e seus oficiais, de modo a isentá-los de qualquer responsabilidade jurídica, sob o argumento de que agiram no estrito cumprimento da lei? Opera-se, então, a respeito do que era pregado pelo positivismo jurídico, o ressurgimento da concepção aristotélica, segundo a qual, além do Direito positivado, existe um Direito principiológico que, embora não escrito expressamente na legislação, vem a ser reconhecido por todos. Em face do ressurgimento dessa concepção, instaura- se o Processo de Nuremberg que, ao ser capítulo 3 • 139 fundamentado em um enunciado principiológico, possibilitou o julgamento dos alemães dirigentes do Estado Nacional Socialista (e de seus colaboradores diretos), por terem cometido crimes de guerra, quais sejam: todo e qualquer ato que tenha violado o princípio que tutela o respeito à dignidade da pessoa humana. A partir desse momento, vislumbra-se o ressurgimento do valor atribuído aos princípios gerais do Direito e, com eles, aos tópicos jurídicos que, embora menos abrangentes que os princípios, passaram a contribuir para a elaboração de uma decisão mais justa, à medida que, ao serem invocados, vieram possibilitar uma maior aproximação entre o Direito positivado e o caso concreto. O ressurgimento dos tópicos, contudo, não foi acatado por uma parcela da comunidade jurídica que lhe fez sérias críticas ao exaltar, de forma exacerbada, a imprecisão que eles encerravam. Essas críticas, na visão de Perelman (2005), são motivadas não pelo caráter impreciso dos tópicos, mas sim pela constatação, levada a efeito pelos próprios relutantes adeptos do positivismo jurídico, de que não existe um valor (ou regra de direito) absoluto, ou seja, que se sobreponha sobre todas as situações, sempre da mesma forma, independentemente das circunstâncias que as distinguem. Ao abraçar essa discussão, Perelman (2005, p.123) vislumbrou a possibilidade de conciliação entre a utilização dos tópicos e a sistematização do Direito, ressaltando que o papel dos tópicos não seria mudar o ordenamento jurídico, ao sabor das situações circunstanciais, mas sim possibilitar a obtenção de uma solução mais equitativa para os conflitos que batessem à porta do Poder Judiciário, clamando por uma solução. E para possibilitar uma clara compreensão de seu pensamento, desenvolveu uma perspectiva racional capaz de conciliar os valores à aplicação do Direito, afastando, de acordo com as possibilidades máximas permitidas, toda a imprecisão que eles naturalmente encerram, e que poderiam torná-los instrumentos aptos à execução de arbitrariedades judiciais de todos os matizes. Por essa razão, buscaram-se as fontes da filosofia clássica, sobretudo no pensamento socrático e aristotélico, para desvendar os mecanismos mediante os quais seria possível à lógica jurídica, mesmo em utilizando elementos variáveis e imprecisos, conservar a racionalidade e a precisão necessárias à legitimação da prestação jurisdicional. Ao aprofundar os seus estudos, Perelman (2000) reabilitou a retórica, a qual ele a denominou como “técnicas argumentativas” ou “nova retórica”, e, 140 • capítulo 3 de forma pioneira, buscou sustentar como a argumentação poderia ser aplicada à lógica jurídica, diferenciando-se das demais, por ser uma lógica dialética ou argumentativa. Ao elaborar uma metodologia para a utilização das técnicas argumentativas, Perelman (2000)teve de contestar o pensamento de Descartes segundo o qual quando duas pessoas manifestam concepções distintas acerca do mesmo fato, pelo menos uma delas deve estar errada. De forma inédita, ele expressamente demonstrou que, em tal situação, é possível que ambas estejam certas e que suas concepções, embora distintas, possam ser conciliadas (ou mesmo complementadas) dialeticamente em uma argumentação para, enfim, serem colocadas em prática. De fato, a aplicação subsidiária dos valores, sobretudo os manifestos nos princípios gerais do Direito, tornou-se amplamente permitida pelas legislações de diversos países, inclusive pelo Ordenamento Jurídico brasileiro, passando a constituir em uma das mais importantes fontes que os juristas contemporâneos se utilizam para argumentar o raciocínio jurídico e, por conseguinte, pleitear a aplicação do Direito como corolário para a efetivação da justiça. Segue um fragmento de uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), cuja matéria é o “abandono afetivo”, que bem ilustra o entendimento da Lógica Jurídica perelmaniana ou a Lógica do Razoável de Recaséns, por serem sinônimas: A autora ajuizou uma ação em face do pai, após ter obtido reconhecimento judicial da paternidade, por ter sofrido abandono material e afetivo durante a infância e adolescência. Na primeira instância, o pedido foi julgado improcedente, tendo o juiz entendido que o distanciamento se deveu ao comportamento agressivo da mãe em relação ao pai. [...]” [...] No caso analisado, a ministra ressaltou que a filha superou as dificuldades sentimentais ocasionadas pelo tratamento como “filha de segunda classe”, sem que fossem oferecidas as mesmas condições de desenvolvimento dadas aos filhos posteriores, mesmo diante da “evidente” presunção de paternidade e até depois de seu reconhecimento judicial. [...] [...] Alcançou inserção profissional, constituiu família e filhos e conseguiu “crescer com razoável prumo”. Porém, os sentimentos de mágoa e tristeza causados pela negligência paterna perduraram. [...] capítulo 3 • 141 [...] “Esse sentimento íntimo que a recorrida levará, ad perpetuam, é perfeitamente apreensível e exsurge, inexoravelmente, das omissões do recorrente no exercício de seu dever de cuidado em relação à recorrida e também de suas ações, que privilegiaram parte de sua prole em detrimento dela, caracterizando o dano in reipsa e traduzindo-se, assim, em causa eficiente à compensação”, concluiu a ministra. [...] Amar é faculdade, cuidar é dever. ” Com essa frase, a ministra Nancy Andrighi, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) asseverou ser possível exigir indenização por dano moral decorrente de abandono afetivo pelos pais. A decisão é inédita. Em 2005, a Quarta Turma do STJ, que também analisa o tema, havia rejeitado a possibilidade de ocorrência de dano moral por abandono afetivo. A importância do pensamento de Perelman para a Ciência do Direito, portanto, consiste no ineditismo de seu trabalho que, ressuscitar as técnicas de argumentação (conhecidas desde a filosofia clássica como componentes da retórica), e adaptá-las ao pensamento jurídicocontemporâneo. Na realidade, Perelman desejou sistematizar de forma argumentativa e dialética o raciocínio jurídico por meio de uma metodologia mais ampla e verdadeiramente democrática, que possibilitasse a manifestação de novas formas de pensar e de agir, nas quais fosse possível a utilização harmoniosa de todas as técnicas jurídicas de interpretação (mesmo as contrapostas), que fossem capazes de conciliar os valores em litígio, mesmo quando aparentemente inconciliáveis. LEITURA A Lógica do Razoável, criada pelo filósofo Recaséns(1997),Professor da Universidade Nacional Autônoma do México, em 1926, conhecida também como “logos do humano” ou, ainda, “logos da razão vital”, é um método de interpretação jurídica que muito se assemelha à Lógica Jurídica apresentada por Perelman. Recaséns (1997, p.257) sustenta a tese de que o Juiz deve submeter-se à lógica do razoável. Explica as fases por que passa o julgador para chegar à decisão: filtra os fatos, avalia a prova, confronta com a lei, faz aportes de circunstâncias extralegais, pondera as consequências de sua decisão e, depois de passar e repassar por esse complexo de fatores, chega finalmente à sua conclusão por intuição intelectiva, momento em que a questão se esclarece e é fixada uma posição. 142 • capítulo 3 A Lógica do Razoável tem como característica não se apoiar no silogismo nem tampouco na subsunção formal das decisões judiciais e se fundamenta na prudência, na equidade e no sentimento do justo. A Lógica do Razoável apresenta, ainda, outras características, que sustentam a sua existência e importância para o mundo jurídico, visto que está condicionada pela realidade concreta do mundo em que opera e é impregnada de critérios estimativos ou axiológicos, o que a distingue, decisivamente, da lógica formal. A Lógica do Razoável reporta-se a uma determinada situação real, é regida por razões de congruência ou adequação: entre os valores e os fins; entre os fins e a realidade concreta; entre os fins e os meios; entre fins e meios e a correção ética dos meios; entre fins e meios e a eficácia dos meios; e, por fim, a lógica do razoável está orientada pelos ensinamentos da experiência da vida humana e da experiência histórica. A Lógica do Razoável enseja a aplicação das normas jurídicas, segundo princípios de razoabilidade, ou seja, elegendo a solução mais razoável para o problema jurídico concreto, dentro das circunstâncias sociais, econômicas, culturais e políticas que envolvem a questão, sem se afastar, completamente, dos parâmetros legais. 3.9.1 Nascimento da Retórica Historicamente, o surgimento da retórica remonta o século V a.C. e está associado ao movimento sofista na mesma época do nascimento da democracia grega. “Lá Corax e seu pupilo Tísias davam assistência àqueles que tinham sido expropriados para convencer os magistrados quanto à justiça de suas reivindicações de restituição”(BARILLI, 1987, p.15). Contudo, as ideias dos sofistas foram combatidas por Platão. O contraste entre filosofia e sofística é um tema que perpassa vários diálogos platônicos. Platão distingue os filósofos dos sofistas (retóricos) pelas diferenças no caráter e nas intenções morais. Sua doutrina contrapunha a superioridade do conhecimento, realidade e ensino sobre crença, aparência e persuasão (BARILLI,1987, p.62). Assim a retórica, que surgiu ligada à sofística, carrega o preconceito contra si. A mudança de um sentido mais amplo e positivo da expressão retórica a um mais negativo e limitado parece ter ocorrido gradualmente ao longo do século V. Mas não só a Platão cabe o descrédito que houve em relação à retórica. Talvez a maior atribuição ao seu sentido negativo seja o modelo cartesiano da razão como protótipo do Racionalismo Moderno. capítulo 3 • 143 Assim, a retórica clássica grega perde a sua importância no século I e passa a ser profundamente criticada no século XIX com as ideias cartesianas e com o positivismo de Auguste Comte. A partir daí, as evidências ganham valor absoluto e a linguagem servirá apenas como instrumento de demonstração. Retirada, portanto, a força da retórica, ela se converteu em um conjunto de técnicas ornamentativas, sem objetivo persuasivo. Nessa época, o Direito, ao se reivindicar como ciência, tenta divorciar-se da retórica, sem sucesso, pois seu objeto não é a certeza. Os sucessos da ciência e dos métodos cartesianos ameaçaram e preponderaram sobre o humanismo retórico, inclusive no que concerne ao direito e seu processo de dogmatização na modernidade ocidental. Talvez o repúdio à retórica se tenha tornado ainda mais forte sob a influência do novo racionalismo moderno do que na Europa da Idade Média, apesar de impregnada pelas críticas de Platão à Sofística e pelos textos ontológicos de Aristóteles (BARILLI,1987, p.17). Seguindo a perspectiva de Descartes (BARILLI,1987,p.10), o conhecimento científico deve progredir por inferências providas de evidência interna por meio da dedução. Não há dúvidas que o ideal de uma ciência, principalmente a jurídica, pautada na busca de verdades claras e distintas, guarda, até hoje, as marcas do legado “cartesiano”. LEITURA Sob a rubrica de sofistas, agrupam-se diversos pensadores que, mesmo não constituindo uma escola no sentido técnico do termo, mantiveram entre si certa afinidade de métodos e propósitos. Propunham-se os sofistas a ensinar a arte da política e as qualidades indispensáveis para a formação de bons cidadãos, o que incluía a retórica, ou "a arte da persuasão exercida nos tribunais e nas outras assembleias a propósito daquelas coisas que são justas e injustas". São os sofistas, portanto, os primeiros protagonistas importantes da história da Retórica. Mestres na arte de bem falar, adquiriram extraordinária reputação e seus ensinamentos eram disputados avidamente pelos jovens bem-nascidos. Se os sofistas gozavam de excelente reputação em sua própria época, o mesmo não se pode dizer de sua posteridade; graças a Platão, o termo "sofista" e seus derivados adquiriram uma irredutível conotação pejorativa. Muitas das acepções atuais da palavra Retórica - como a que a identifica com "adornos empolados ou pomposos de um discurso", segundo o dicionário Aurélio - correspondem a distorções de fundo platônico daquilo que originariamente se chamou Retórica na Grécia antiga. 144 • capítulo 3 3.9.2 Retórica Aristotélica A elaboração de pequenos tratados sobre a "arte retórica" era uma prática comum na Grécia antiga. Todos os sofistas e oradores proeminentes elaboraram em alguma parte de suas vidas pequenos textos que pudessem servir de orientação para seus alunos; mas a retórica só receberia uma sólida base teórica por meio da obra daquele que foi o mais influente e mais versátil dos filósofos gregos: Aristóteles. Aristóteles nasceu em Estagira, no norte da Grécia, em 384 a.c., e morreu na ilha de Euboea em 322 a.c. Aluno de Platão na Academia, fundador de sua própria escola - o Liceu - e tutor de Alexandre, o Grande, Aristóteles foi a primeira pessoa a dar importância ao estudo sistemático das diversas disciplinas das artes e ciências que surgiam como entidades separadas pela primeira vez no século IV a.c., inclusive no que diz respeito à definição dos conceitos básicos e das relações entre cada uma. Possuidor de um verdadeiro espírito enciclopédico, Aristóteles escreveu centenas de obras sobre os mais variados campos do saber, da poesia à biologia, textos que serviram aos seus alunos no Liceu e continuariam servindo como fontes fundamentais de conhecimento durante muitos séculos após a sua morte. Entre estes textos, encontra-se a Arte Retórica. Nessa obra clássica, Aristóteles elabora uma conceitualização da retórica dividindo-a em categorias e dando nomes às diversas técnicasutilizadas, a exemplo do que fez em diversos outros campos do conhecimento. Em alguns momentos a retórica é concebida como uma ferramenta, uma disciplina puramente formal utilizável em diversos campos do conhecimento. É essa a concepção vigente entre os estudiosos antigos e medievais. Os estudiosos modernos, entretanto, tem preferido ver na retórica uma arte produtora, a exemplo da poética e das belas artes. A retórica é classificada em gêneros, de acordo com o objetivo a que se propõe: pode ser deliberativa, se o auditório tiver que julgar uma ação futura; judicial, se o auditório tiver que julgar uma ação passada; e epideitica, se o auditório não tiver que julgar ações passadas nem futuras. Para Aristóteles, o discurso é composto necessariamente de no mínimo quatro elementos: exórdio, enunciação da tese, prova e epílogo. A função do exórdio é tornar o auditório receptivo à atuação do orador e fornecer uma introdução geral ao discurso, tornando claro seu propósito. Quanto aos meios de capítulo 3 • 145 prova utilizados, podem ser não artísticos ou artísticos. Meios de prova não artísticos são as provas em sentido estrito, as evidências, tais como testemunhas ou documentos. Meios de prova artísticos são os argumentos inventados pelo orador, e podem ser de três tipos, como: aqueles derivados do caráter do próprio orador, que empresta sua credibilidade à causa (ethos); aqueles em que o orador procura lidar com as emoções do auditório (pathos); e aqueles derivados da razão (logos). Os argumentos lógicos se apresentam sob duas formas: induções, ou o uso de exemplos, e deduções, chamadas em retórica de "entimemas". O entimema, ou silogismo retórico, é aquele tipo de silogismo em que as premissas não se referem àquilo que é certo, mas àquilo que é provável, e tem importância fundamental para a retórica já que na maioria dos casos em que estão em jogo assuntos humanos nem sempre se pode basear a argumentação apenas naquilo que é verdadeiro, mas apenas no que é verossímil. O epílogo tem por objetivo deixar no auditório uma boa impressão do orador (e uma má impressão de seu oponente) e recapitular brevemente os pontos principais do discurso. Em síntese, a técnica retórica de Aristóteles – Retórica II (1998, p. 67) – consiste nos principais meios ou recursos persuasivos de que se vale o orador para persuadir o auditório. Esses meios de persuasão podem classificar-se em técnicos e não técnicos. Os meios de persuasão não técnicos são os que existem independentemente do orador, como: leis, tratados, testemunhos, documentos; já os meios de persuasão técnicos são aqueles que o próprio orador inventa para incorporar a sua própria argumentação ou discurso e que se repartem por três grupos, tantos quantas as instâncias da relação retórica: ethos, o caráter do orador; pathos, a emoção do auditório e logos, a argumentação. Impõe-se, contudo, precisar um pouco melhor cada uma destas instâncias: aquele que fala, a quem se fala e o que se fala, significando redizer que a persuasão é obtida por meio do ethos, do pathos e do logos. Em primeiro lugar, o ethos, pois persuade-se pelo caráter quando o discurso é proferido de tal maneira que deixa a impressão de o orador ser digno de fé, porque se acredita mais e bem mais depressa em pessoas honestas, em todas as coisas em geral, mas sobretudo nas de que não há conhecimento exato e que deixam margem para dúvida. É, porém, necessário que essa confiança seja resultado do discurso e não de uma opinião prévia sobre o caráter do orador; pois não se deve considerar sem importância para a persuasão a probidade do que 146 • capítulo 3 fala, como, aliás, alguns autores dessa arte propõem, mas que se poderia dizer que o caráter é o principal meio de persuasão. Quanto ao pathos, persuade-se pela disposição dos ouvintes, quando estes são levados a sentir emoção por meio do discurso, pois os juízos emitidos variam, conforme sentimentos de tristeza ou alegria, amor ou ódio. É dessa espécie de prova e só dessa que se tentam ocupar os autores atuais de artes retóricas. Tem-se de reconhecer que a emoção que o orador consiga produzir nos seus ouvintes pode ser determinante na decisão de serem a favor ou contra a causa defendida. Se o orador suscita nos juízes sentimentos de alegria ou tristeza, amor ou ódio, compaixão ou irritação, estes poderão decidir num sentido ou no outro. Foi, aliás, este o ponto mais estudado nos anteriores tratadistas da retórica. Por último, os logos, persuade-se, enfim, pelo discurso, quando se mostra a verdade ou o que parece ser verdade, a partir do que é persuasivo em cada caso particular, constituindo, assim, o discurso argumentativo, que é a parte mais importante da oratória, aquela a que se aplicam as principais regras e princípios da técnica retórica – é a arte de persuadir – e os recursos argumentativos. A partir da década de 50, no século XX, é que começou a se esboçar uma corrente filosófica e acadêmica de vulto que tinha por objetivo recuperar a dignidade dessa forma de conhecimento tão antiga e tão intimamente ligada à história da humanidade. A partir da importância dada à filosofia da linguagem e à filosofia dos valores, diversos filósofos e estudiosos começaram a considerar a retórica como um objeto digno de estudo, seja sob a sua vertente formal, seja sob a ótica que privilegia seu aspecto de instrumento de persuasão. Segundo Perelman (2000), o objeto da Retórica é o estudo das técnicas discursivas que visam a provocar ou a intensificar, aumentar a adesão das mentes, ou seja, de certo auditório, às teses apresentadas a seu assentimento. Trata-se de um processo racional de decisão em situação de incerteza, de verossimilhança, de probabilidade. Sendo assim, a configuração contemporânea do pensamento jurídico provoca uma ruptura com o contorno básico de compreensão do Direito conforme descrito acima. A partir da década de 50, surgem diversas críticas ao modelo lógico do raciocínio jurídico próprio do positivismo jurídico. Essas críticas, ressaltam a inadequação e a insuficiência da metodologia lógico-formalista e sublinham a necessidade de elaborar novos instrumentos de pesquisa da argumentação prática, em geral, e a jurídica em particular e a retórica começou a recuperar seu prestígio. capítulo 3 • 147 Como o objeto do estudo deste capítulo também diz respeito a esse segundo aspecto, será dada uma atenção exclusiva sobre a obra do pensador que mais ajudou a romper com a tradição cartesiano-positivista de desconsideração da retórica: Chaim Perelman, filósofo de origem polonesa radicado na Bélgica. MULTIMÍDIA Doze Homens e Uma Sentença. Título original: “Twelve Angry Men”. Direção: Sidney Lumet. Produção/Distribuição: Fox/MGM. Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley, E.G. Marshall, JackWarden, Martin Balsam, John Fiedler, Jack Klugman, Edward Binns, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber. EUA. 1957. Drama. DVD. 96 min. 3.9.3 Algumas questões teóricas da argumentação de Chaim Perelman Chaïm Perelman, professor na Universidade Livre de Bruxelas, publicou, em 1958, em coautoria com a professora Lucie Olbrecht-Tyteca, Tratado da argumentação: a nova retórica. O próprio subtítulo do livro já denota e acentua o caminho pelo qual o jurisfilósofo percorreu: a herança aristotélica. O primeiro parágrafo da introdução é muito significativo quanto a essa intenção do autor, pois escreve o filósofo e jurista, ao iniciar o seu Tratado da argumentação, tratar-se da “[...] publicação de um tratado consagrado à argumentação e a sua ligação a uma velha tradição, a da Retórica e da Dialética gregas” (PERELMAN, 2000, p. 1). A primeira parte do primeiro parágrafo serve para afirmar com toda a clareza, desde o início, uma
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