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EDUCAÇAO CONTEMPORÂNEA APRESENTAÇÃO Definição A História Contemporânea da Educação como determinante das transformações sociais e suas influências até os tempos atuais. Propósito Demonstrar que a História é um discurso do presente que olha para o passado para entender melhor as dinâmicas de seu tempo. Com isso, você verá as inovações trazidas por essas iniciativas, sem perder de vista os desafios de pensar a Educação no contexto da globalização e das desigualdades sociais. Objetivos Módulo 1 Identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo Módulo 2 Comparar as perspectivas futuras da Educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países Módulo 3 Reconhecer como a História da Educação nos prepara para os desafios da sociedade tecnológica Introdução do Tema Tente por um segundo imaginar uma grande inovação tecnológica. No mundo contemporâneo, o que mais emblematicamente mostraria um mundo em transformação? Durante séculos, homens usaram seus pés, animais, carroças e barcos para se locomoverem. Até que o desenvolvimento de sistemas, máquinas com engrenagens, vapor e caldeiras aceleraram o mundo. A velocidade mudou quando colocamos a máquina a vapor nos caminhos marcados com ferro e dormente. O mundo ficou menor, mais veloz. A integração entre as pessoas tornou-se cada vez mais rápida, as trocas de mercadorias e informações aceleraram. Precisávamos aprender mais, ter novas possibilidades. O trem, que estampa a nossa imagem de abertura, é um ícone da sociedade contemporânea e seus avanços. Passamos a ser supervelozes, andar por baixo da terra e até mesmo por baixo do mar. A metáfora do trem serve para toda a Era Contemporânea, carregada de conhecimentos cada vez maiores, mais velozes e intensos. O trem da tecnologia é o trem do conhecimento e da Educação, que, sem dúvida alguma, marcou os séculos XIX, XX e XXI. Sigamos viagem! Identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo Introdução Neste módulo, você será apresentado ao mundo contemporâneo e sua relação com a História da Educação, para que as discussões não pareçam ter surgido de um momento para o outro. Este é um dos grandes desafios da disciplina: tirar a face de algo cristalizado para mostrar que está viva e presente. A História é um exercício de discurso, uma reflexão sobre o presente, só que o presente não existe sem essa memória, sem a reflexão sobre o passado. A verdade depende do ponto de vista, das influências que você tem, das escolhas que você faz, pois a verdade não é uma realidade indiscutível. Em especial, nas Ciências Humanas. Pessoas respondem como se sentem em relação ao período que passaram na escola, e o professor Rodrigo Rainha comenta. A divisão do tempo Provavelmente, você já ouviu dizer que determinada pessoa é alguém à frente do seu tempo. Mas será que existe alguém que viva fora do seu próprio tempo? A resposta é não. Todos nós somos, sem exceção, frutos da nossa própria época. Talvez você esteja se perguntando: “Eu aprendi na escola que a Idade Contemporânea começou após a Revolução Francesa, lá no século XVIII. Como é possível, então, que a gente ainda seja contemporâneo?”. A razão é simples: a ideia de separar o tempo foi criada por pessoas que viviam seu próprio tempo. Elas não tinham noção de como aquele momento seria chamado no futuro. Dessa forma, o tempo foi dividido em: A visão de tempo europeia visava exaltar o que eles entendiam como seu auge: do desenvolvimento da escrita em áreas próximas ao Mediterrâneo – com gregos e romanos, incluindo as civilizações reconhecidas como poderosas, como os egípcios –, passando por um período considerado pouco produtivo para o homem – Idade Média –, quando retoma o seu caminho de crescimento, na Era Moderna, até atingir o ápice, no início da Era Contemporânea. Antes de falarmos mais sobre isso, faremos uma provocação... E se o tempo fosse contado de outra forma? Maias, astecas, chineses e muçulmanos, por exemplo, têm calendários bem diferentes, em formato circular ou espiral. Calendário maia Calendário chinês Calendário asteca Calendário muçulmano Como vimos, a vitória da visão europeia construiu o conceito de um calendário, uma vivência e, consequentemente, um mundo ocidental. Dessa forma, em sua divisão do tempo, tudo o que estava após o seu auge passa a ser chamado de contemporaneidade. Em outras palavras, essas divisões cronológicas da História foram pautadas pelos acontecimentos ocorridos na Europa e por sua forma de pensar os acontecimentos históricos, ou seja, a História da humanidade ficou restrita, durante muito tempo, às definições dos historiadores europeus. A História Contemporânea Agora que já entendemos a História como um fenômeno ativo, dinâmico e, sobretudo, presente, que não é apenas um amontoado de fatos e pessoas do passado, daremos o próximo passo. Se alguém lhe perguntar em qual século estamos neste momento, a resposta é simples: século XXI! Se a mesma pessoa disser que nós somos contemporâneos dos homens e das mulheres que viveram no século XIX, por exemplo, você saberia responder o que isso significa? A contemporaneidade nada mais é do que a ideia de estar em seu próprio tempo. Estar no seu tempo é perceber que a História é viva. Alguns dizem que é a recuperação da imagem de Cronos – dos gregos – e o tempo que engole seus filhos. Mas, aqui, no nosso cronotopo, ele é constantemente recriado. O que chamamos de contemporaneidade em História é a junção de dois grandes eventos europeus: Revolução Francesa Nome dado ao levante da burguesia contra a nobreza e a Igreja no final do século XVIII. Seu principal resultado é a mudança dos regimes políticos, com impactos no mundo inteiro. Ferdinand Delacroix (1798-1863) “Liberdade nas barricadas” (1830). Reprodução do álbum ilustrado “Delacroix”, publicado em Budapeste, Hungria, 1963. / Ferro e Carvão, de William Bell Scott (1855-60). Revolução Industrial Fenômeno inglês do século XVIII. Representa o desenvolvimento das corporações de ofício e a multiplicação do uso de maquinário. No início, o desenvolvimento é pautado em máquinas a vapor e carvão mineral, e o foco era a indústria têxtil. É seguido pelo desenvolvimento dos transportes e pela mudança de todo o regime econômico. A contemporaneidade é nosso tempo, nossa Era. Ela começa com uma leve aceleração, mas, ao longo do século XX, a velocidade só aumentou: As Revoluções Industriais mudam economicamente o mundo, criando novos padrões comerciais, sedimentando o capitalismo que dominaria o século XX, além da mudança dos modelos políticos, com a ascensão de repúblicas, democracias e federações. O resultado da mudança é um incremento de trocas comerciais em todo o planeta e disputas intensas por mercados, que fomentaram conflitos mundiais fortes, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e ajudaram a consolidar novas potências, como França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética. Após os conflitos mundiais, as guerras não cessaram, mas se tornaram mais locais, dentro de novas modalidades de comércio e disputa por hegemonia mundial, entre União Soviética (URSS) e Estados Unidos (EUA). O fim do século trouxe muitas mudanças: O Muro de Berlim cai, marcando o fim da Guerra Fria. Mais do que isso, consolida-se a ideia de globalização e trocas comerciais que se materializam em todo o mundo. As guerras não cessaram e continuaram definindo nosso cotidiano. Alguns exemplos de conflitos são: Guerra do Golfo, Guerra do Iraque, Guerra da Síria, conflitos nos Balcãs, na África e na América Latina, além da presença do terrorismo. A tecnologia é o grande marco, levando-nos para a Era da Informação, com microcomputadores, redes de Internet, multiplicação de mídias e difusão de informações.Por que estamos falando de tudo isso? Para chamar sua atenção para o fato de que a compreensão europeia da História e da divisão do tempo também esteve presente de forma marcante na maneira de fazer e pensar a Educação. Essas ideias não estão soltas ou desconectadas no tempo e espaço. A Educação Contemporânea é fruto de uma grande expansão das características da Educação europeia. Já reparou como a escola vem mudando?Será? Repare abaixo os modelos que herdamos dos europeus e como elas modernizam, mas o formato é sempre muito parecido... As matérias que nós costumamos estudar, a implementação de linhas educacionais adotadas nas escolas, as formas de construir a Pedagogia e a Didática e suas principais teorias: tudo isso foi produzido por europeus ou intelectuais influenciados pelo pensamento eurocêntrico. É claro que o mundo já mudou muito, que não seguimos mais cegamente o modelo europeu, pois cada país tem buscado desenvolver novas formas de pensar, de educar, de aproximar as pessoas de sua forma de ver o mundo. Sempre houve sociedades que resistiram mais a essa influência, como o mundo muçulmano, mas também é inegável que os anos de dominação econômica europeia, depois expandida pela continuidade da dominação estadunidense, marcaram o mundo. A noção de mundo ocidental contemporâneo é um processo de expansão de valores europeus. Esse impacto está vivo na Educação. A seguir, notaremos a quantidade de modelos pedagógicos europeus incorporados à realidade brasileira nos últimos anos. Hoje, o mundo inteiro tende a dividir o processo de formação em: Formação voltada às crianças Formação voltada aos jovens Formação voltada aos adultos Não restam dúvidas de que o eurocentrismo, que marcava isoladamente a nossa cultura nas últimas décadas, de 1980 em diante, sofreu a influência de novos fenômenos: a globalização, com maior integração tecnológica, política e econômica, e o encurtamento de distâncias favoreceu esse movimento. Mas qual é a origem desse modelo? Podemos dizer que, atualmente, o mundo inteiro tem adotado uma Educação mais técnica. Esse modelo é bastante antigo, veio do grande movimento das industrializações, quando precisavam preparar funcionários para assumir cargos e funções técnicas. Os primeiros eram empiristas, olhavam, tentavam, erravam e acertavam, e, se acertavam mais do que erravam, viravam grandes técnicos, e passavam a treinar e formar aqueles que os substituiriam. Atente para o fato de que o capitalismo transformou a Educação em um bem para o trabalhador. Acreditava-se que as nações só iriam se desenvolver plenamente nesse novo urbano com a formação de mão de obra mais qualificada. Não significa que o modelo pedagógico é tecnicista, mas, sim, que a formação é de especialistas, isto é, sujeitos que se assumem como técnicos em uma função. Durante o período da Primeira e da Segunda Guerra Mundial – entre 1914 e 1945 –, a Educação passa a ganhar um novo papel: atender aos anseios nacionalistas. Fascistas e nazistas apostavam no papel da Educação como um importante instrumento de convencimento das massas, trabalhando de maneira incisiva a ideia de que o jovem precisava estar integrado à noção de país, civilidade e nacionalismo. Tais valores deveriam ser estimulados e mantidos na escola. Do lado da URSS e de seus signatários, a Educação também era fomentada. Ali, seu papel era afastar os jovens dos valores tradicionais da sociedade – entendidos como atrasados – para que atendessem aos anseios do Partido e da Ideologia norteadora. Na Alemanha nazista, os alunos recebiam na escola livros antissemitas. Uma reflexão interessante é notar que a Educação se tornou vital para os governos como estratégias políticas. Note que até mesmo regimes bem diferentes tinham uma coisa em comum: viam a Educação como algo vital. Repare: Socialistas Formar para atender aos anseios da sociedade e do governo. Fascistas/nazistas Formar para despertar paixão, ordem e respeito pela nação. Capitalistas Formar para o mundo do trabalho. Essas influências se espalharam pelo mundo e não devem ser entendidas de forma fechada, mas de uma maneira dinâmica e com constantes adaptações. Em outras palavras, será que isso é engessado e cada um faz de um jeito? Claro que não. Percebemos que a Educação se tornou um bem, um objeto governamental, parte do mundo do trabalho, uma marca do mundo contemporâneo. Vejamos a opinião do especialista para entendermos melhor a Educação em transformação com foco no Brasil. Professor doutor da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira, fala do valor da Educação na história recente do Brasil. Adicione um comentário Tendência: o mundo em contestação A Educação, ao mesmo tempo em que representa diálogo com o governo e manutenção da ordem, também pode ser a base da luta contra determinadas estruturas políticas. É isso que visamos apresentar com as tendências. Com a Guerra Fria, eclodiram uma série de guerras locais na África, Ásia e América Latina. Entre as décadas de 1950 e 1960, o mundo assistiu ao surgimento de movimentos de contestação da ordem política. Toda essa efervescência também se fez sentir no campo educacional. Vamos conhecer alguns desses movimentos: Levante de Paris Movimentos sociais – Direitos Civis Protesto da Praça da Paz Celestial O que destacamos aqui é a contradição central da Educação Contemporânea, pois seu crescimento é uma ação e responsabilidade de Estados. No entanto, ela está envolta em projetos políticos e econômicos em que a Educação pode funcionar como negação, libertação e crítica ao cotidiano social. Imagens emblemáticas Algumas imagens ficaram marcadas na História como símbolos dos importantes movimentos que influenciaram a Educação, como estas: A pequena Ruby Bridges, em 1960, em Nova Orleans, foi escoltada por oficiais para ter o direito de frequentar uma escola, por meio de mandado judicial. Protestante resistindo aos tanques enviados pelo governo para debelar os protestos na praça Tian'anmen (praça da Paz Celestial), em Pequim, em 4 de junho de 1989. Estudantes franceses no protesto de maio de 1968, conhecido como Levante de Paris. Inspirados pelo movimento dos Panteras Negras, atletas que ganharam a medalha de ouro e bronze nas Olimpíadas do México, em 1968, foram punidos e perderam suas medalhas pelo gesto de punho cerrado. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A relação entre contexto histórico e Educação pode ser percebida quando observamos a questão da Industrialização, pois: a) Os modelos de divisão do trabalho se relacionam às divisões e às escalas educacionais. b) As escolas se organizam no século XX aos moldes das fábricas e do mundo do trabalho. c) A Educação passa a ser um capital passível de ser adaptado e instrumentalizado para as empresas. d) Os trabalhadores da Educação lhes ofertam a possibilidade de lutar contra o sistema. Comentário Parabéns! A alternativa C está correta. A Revolução Industrial é o fenômeno central, mas precisamos perceber a relação entre a mudança da Educação e esse fenômeno. Historicamente, todas as relações descritas nas alternativas acontecem em alguma medida. No entanto, como relação direta entre contexto histórico e Educação, o fenômeno correto é a letra C, pois, a partir da industrialização, temos uma verdadeira explosão das fronteiras educacionais para que trabalhadores possam atingir as fábricas. 2. História da Educação serve para perceber que não existe um passado inquestionável. Por exemplo: a Educação estadunidense era apresentada como modelo no Brasil pelo ideal tecnicista. No entanto, aparece como algo atrasado e crítico durante a crise dos Direitos Civis. A relação entre Direitos Civis e História da Educação pode ser compreendida a partir: a) Do discurso de Martin Luther King sobre igualdade em Washington. b) Da resistênciade Rosa Parks ao se levantar da área segregada do ônibus. c) Do levante da praça da Paz Celestial contra a corrupção do governo. d) Da luta pelo fim da segregação e ação na justiça movida por Linda Brown. Comentário Parabéns! A alternativa D está correta. Todas as opções têm relação com o contexto, mas a referência específica à História da Educação pela ruptura que representa no sistema americano está representada por Linda Brown. Adquiriu a capacidade de identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo. 20.4.2020 / Segunda-feira #25071986 MÓDULO 2 Comparar as perspectivas futuras da Educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países Introdução Ao nos debruçarmos sobre os modelos e as estratégias pedagógicas adotadas no Brasil e no mundo nas últimas décadas, notamos que muita coisa mudou para melhor. Isso significa que o trabalho está terminado e que o Brasil pode ser considerado um modelo quando o assunto é Educação? Provavelmente, não. Apesar da Constituição de 1988 determinar que se trata de um direito inalienável, o Brasil ainda conta com altas taxas de analfabetismo, evasão escolar, falta de infraestrutura etc. Precisamos caminhar bastante para chegar a um patamar em que a Educação de qualidade seja considerada um direito de todos. Uma das vantagens do encurtamento de distâncias promovido pelo processo de globalização em curso é pensar como podemos aprender com outros modelos ao redor do mundo. E ensinar também. Por isso, este módulo é um convite para pensarmos a Educação brasileira contemporânea inserida em um contexto mais global de iniciativas. Afinal de contas, uma das grandes características do mundo em que vivemos é justamente a construção de redes que interligam pessoas e ideias. Sem dúvidas, a Internet é um fator fundamental nesse processo. O Brasil está inserido no contexto mundial, ou seja, todas as principais mudanças que acontecem no mundo, de alguma forma, chegam até nós. Veja a linha do tempo: Brasil 1889 Torna-se República 1910 Brasil inicia seu processo de urbanização 1930 “Revolução” – chegada de Vargas ao poder 1942 Brasil entra na Guerra 1945 Retorno ao regime democrático 1964 Ditadura civil-militar 1985 Retorno do governo civil 1990 Retorno ao governo democrático Mundo 1789 Revolução Francesa 1850 – 1900 Imperialismo (domínio de África e Ásia) 1914 – 1918 Primeira Guerra Mundial 1929 Crise de 1929 1939 Início da Segunda Guerra Mundial 1945 Fim da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria 1989 Queda do Muro de Berlim 1991 Fim da Guerra Fria Conceitos Qual é o grande ícone de “mundialização” da Educação Contemporânea? Sem dúvida, podemos indicar dois documentos, a saber: Declaração Universal dos Direitos Humanos No ano de 1948, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Naquele momento, o mundo teve conhecimento dos campos de concentração (nazistas e soviéticos), responsáveis pela morte de milhões de pessoas. Assim, essa declaração nasceu como uma forma de negar a guerra e todas as formas de violência. Outro ponto de destaque presente na declaração é justamente a ideia que “toda pessoa tem direito à Educação”. Declaração Universal do Direito das Crianças Essa declaração representa o reconhecimento da criança como um ente com os mesmos direitos, mas com especificidades. O direito ao cuidado, ao desenvolvimento, à proteção e à segurança acabam criando um pacto mundial nesse sentido. Alguns países, no entanto, demoram a ser signatários desses documentos. O Brasil só vai reconhecer e transformar seus fundamentos em lei em 1988, com a Constituição Cidadã. A despeito do proposto, veja estes números: Mais de 100 milhões de crianças não têm acesso ao ensino primário. Mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, e o analfabetismo funcional ainda é um problema significativo em países industrializados ou em desenvolvimento. Cerca de 2,5 bilhões dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Mais de 100 milhões de crianças e adultos não conseguem concluir o ciclo básico. Além disso, milhões de pessoas, apesar de concluí-lo, não adquirem conhecimentos e habilidades essenciais. De 1988 para cá, houve muitas discussões, como: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) Além de outros documentos que pensavam a formação do professor, estrutura das escolas, entre outros. Mas qual é o resultado? Como podemos pensar a contemporaneidade em termos de Educação? Como é possível imaginar, os desafios para melhorar os índices educacionais estão presentes no mundo inteiro, não apenas no Brasil. Dessa forma, com o aprofundamento do processo de globalização, cada vez mais presenciamos a necessidade de uma reflexão conjunta sobre como alcançar a justiça social e a convivência harmoniosa entre os povos. A solução para tornar a Educação uma linguagem universal pode ser a cooperação internacional entre os países, já que é um problema de todos. As ações praticadas pela Unesco, por exemplo, têm essa perspectiva: contribuir para o estabelecimento da paz entre os povos, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento de políticas públicas para a Educação, o estímulo à diversidade cultural etc. Podemos perceber até aqui que desafio é a palavra-chave para todos aqueles que assumem a Educação, profissionalmente ou não, como algo com grande relevância na vida das pessoas. É neste mesmo contexto de desafios a serem enfrentados que somos levados a percebê-los também como perspectivas e oportunidades. Na impossibilidade de levantar todas as propostas e ações educativas da Educação Contemporânea, destacamos aquelas que, de alguma forma, estão ou podem estar relacionadas não somente à reflexão necessária sobre a Educação que somos convidados a fazer cotidianamente, mas porque afetam a prática educativa que temos ou podemos ter nas próximas décadas. “Educação: um tesouro a descobrir” Tomemos como ponto de partida o documento Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Esse relatório, publicado em 1996, foi solicitado à equipe de educadores de várias parte do mundo, liderada por Jacques Delors, para que pudesse refletir os caminhos da Educação nos países ligados à ONU. Esse documento influenciou de forma intensa e definitiva os rumos da Educação, reforçando ou questionando ações já realizadas e propondo novas ações a fim de alcançar seus objetivos. Este, aliás, é um ponto de convergência: o mundo precisa dialogar aos moldes dos congressos que levaram à formação do documento. A Educação deve considerar o indivíduo, mas ainda é pensada como um fenômeno social. Jacques Delors: Economista e político francês. Entre 1992 e 1996, presidiu a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI da Unesco. No documento, Delors traz o conceito de que a Educação é baseada em quatro Pilares: Juntos, esses pilares servem de base para a transmissão da informação e da comunicação adaptada à sociedade. Veremos um pouco mais sobre esse assunto no vídeo a seguir. O professor Rodrigo Rainha o convida a conhecer os pilares de Delors a partir da prática de educadores da cidade de São Paulo, vencedores do prêmio Territórios Educativos. Adicione um comentário Base Nacional Comum Curricular Um importante passo para a Educação brasileira foi a preparação e publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pelo menos dois aspectos são fundamentais para compreendermos melhor a importânciada BNCC: Logo da Base Nacional Comum Curricular 1 Foi pensada na esteira da LDB/96, dos PCN e das DCNEB, portanto faz sentido pensar todos esses documentos conjuntamente, como se um auxiliasse e completasse o outro. 2 É mais do que um documento que estabelece como, quando e por que determinados conteúdos serão ensinados. Assim, o que importa é construir um projeto educacional que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano, como os aspectos cognitivo e socioemocional, o desenvolvimento físico, cultural etc. A ideia é que o aluno consiga aplicar o conhecimento aprendido no seu cotidiano. O objetivo é formar o indivíduo para a vida cidadã, por meio da transmissão de valores que permitam a boa convivência social. Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico de cada escola ganha destaque no cenário, pois será preciso que toda comunidade seja reunida para discutir, refletir e planejar os rumos do processo de ensino- aprendizagem. Os professores também terão a incumbência de elaborar seus planos de aula de acordo com a BNCC. Outro ponto importante a ser destacado é que a BNCC não é uma medida vinculada a determinado governo ou partido. Ela é uma política de Estado, prevista no Plano Nacional de Educação, na LDB/96 e na Constituição de 1988. Competências na Base Nacional Comum Curricular A palavra-chave da Base Nacional Comum Curricular é competências. Na Introdução da BNCC, competência é definida como: “Mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”. Percebeu que aqui aparecem novamente, assim como está nos PCN, a importância das três dimensões da condição humana: estudo, cidadania e trabalho? A BNCC propõe o desenvolvimento de dez competências distribuídas nas disciplinas curriculares e que devem, por meio do desenvolvimento das diversas habilidades, serem respondidas pelas atitudes concretas do aluno em todos os locais de sua convivência. Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, cada área do conhecimento tem competências específicas que foram traçadas a partir das dez competências gerais. As competências específicas devem influenciar diretamente as habilidades que se pretendem formar ao estudar os componentes curriculares. Mas quais são essas dez competências gerais? Vamos conferir! Competências Gerais – BNCC Confira as dez Competências Gerais da Educação Básica (Ensinos Infantil, Fundamental e Médio): 1 Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital PARA Entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2 Pensamento científico, crítico e criativo Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade. PARA Investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3 Senso estético Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais PARA Fruir e participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4 Comunicação Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica. PARA Expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5 Argumentação Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares). PARA Comunicar-se, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6 Cultura Digital Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências. PARA Entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7 Autogestão Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis. PARA Formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8 Autoconhecimento e autocuidado Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional. PARA Compreender-se na diversidade humana e reconhecer suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9 Empatia e cooperação Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação. PARA Fazer-se respeitar e promover o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, suas identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10 Autonomia Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação. PARA Tomar decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Agora veja quais são as cinco Áreas de Conhecimento, de acordo com o Parecer CNE/CEB nº 11/201025: As competências previstas devem ser desenvolvidas nas atividades que serão realizadas nas salas de aula. Dessa forma, haverá uma sintonia entre o que se espera alcançar a longo prazo e a curto prazo. Por isso, a BNCC aponta os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica. Todas as competências são igualmente importantes. O professor Francisco Carlos nos convida a pensar sobre a tradição curricular brasileira e os desafios que estão sendo propostos pela BNCC. Por se tratar de um documento novo, as diretrizes da BNCC podem parecer, em um primeiro momento, algo muito difícil de ser implementado e realizado. A mudança de hábitos não é um processo fácil, sobretudo quando envolve tantas pessoas ao mesmo tempo, não é mesmo? Porém, o importante é dar o passo inicial. Para os professores, é essencial ler a BNCC em sua totalidade para pensar como introduzir as mudanças no contexto da sala de aula. Os desafios são muitos, e a renovação passa por toda a comunidade escolar. Para entendermos melhor, veremos uma linha do tempo começando na Lei de Diretrizes e Bases (Lei n° 9394/96) e finalizando na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 1996 Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases. 1997 Parâmetros Curriculares Nacionais (primeiras quatro séries da Educação Fundamental 1999 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, preparado para cada disciplina. 2000 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, definidos pelas áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias. 2001 Criação do Plano Nacional de Educação. 2003 Lei nº 10639 – Obrigatoriedade do ensino de História e cultura afro- brasileira. Além disso, entra para o calendário escolar o dia 20 de novembro, quando é celebradoo Dia da Consciência Negra. 2004 Lei nº 10861: É criado o SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. 2005 Lei nº 11096: criação do PROUNI – Programa Universidade para Todos. 2006 Emenda Constitucional nº 53 cria o FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. 2007 Decreto nº 6096: criação do REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. 2008 Lei nº 11465: Obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Indígena na rede de ensino. 2012 Lei nº 12711: Lei de Cotas raciais nas universidades federais. 2017 Homologação da Base Nacional Curricular Comum. A proposta das competências do BNCC já estava sendo gestada e aplicada em outros países. Talvez o caso mais emblemático seja o Common Core (Currículo Comum) dos Estados Unidos. Lançado em 2010, chegou a receber apoio de 90% da população e de 80% dos professores. Hoje, uma década após sua implantação, este índice caiu pela metade nos dois casos. Uma reflexão sobre isso pode nos ajudar a olhar de forma perspectiva para a situação nacional. O exemplo americano é importante para que tenhamos uma compreensão clara do que significa uma Base Comum, seus limites e suas perspectivas positivas. Modelos tradicionais de Educação x Modelos inovadores Um ponto bastante atual é a contradição (aparente ou não) entre os modelos tradicionais de Educação e aqueles considerados inovadores. Esta é uma situação presente em grande parte do mundo. Veja alguns exemplos: img-fluid ctHover Embora a proposta da “Educação centrada no aluno” não tenha sido aceita de forma unânime no exterior (como o caso da pedagoga sueca Inger Enkvist), no Brasil, esse pensamento tem crescido e confunde-se com a utilização das tecnologias digitais na Educação por meio das chamadas metodologias ativas. Vamos aprofundar um pouco mais o conhecimento sobre os modelos de ensino ao redor do mundo? Veja o vídeo. O professor Antônio Giacomo faz um comparativo entre os sistemas de ensino brasileiro e internacionais. Tendências Para que não percamos a percepção do que isso significa, levantamos um questionamento simples: O que é uma Educação de sucesso? De acordo com publicação do jornal O Globo, os países nórdicos e asiáticos possuem altas taxas de suicídio. Isso nos leva a perguntar por que, nos locais onde a Educação é mais bem-sucedida e nos países que possuem as maiores rendas per capta do mundo, as pessoas se matam? Essa reflexão é relevante para que busquemos um modelo educacional que, além da formação técnica do indivíduo, possa formá-lo de forma integral. Imagens emblemáticas Vejamos algumas imagens representativas de importantes acontecimentos relacionados à Educação. Malala Yousafzai foi baleada na cabeça por Talibãs ao sair da escola. Ela lutava para que as meninas paquistanesas tivessem o direito de estudar. Massacres cometidos por estudantes que retornam à escola em que estudaram têm se multiplicado. Isso mostra como o ambiente escolar pode ser marcado pela exclusão e violência. Casos famosos, como Columbine, nos Estados Unidos, e Suzano, em São Paulo, mostram a continuidade do problema. Protesto e organização de estudantes em prol de uma escola pública de qualidade em 2015. O filme O aluno é baseado em fatos. Em 2003, após ouvir uma propaganda do governo que dizia que a escola era para todos, Kimani Ng'ang'a Maruge começa a lutar para poder estudar. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. No ano de 1996, foi publicado o relatório “Educação: um tesouro a descobrir”, no âmbito da UNESCO. Esse documento foi importante porque sistematizou que a Educação deveria estar ancorada em quatro grandes pilares. Ao comparar a influência no Brasil e no restante do mundo, podemos apontar que: a) A Educação não deve se centrar no exercício de mera transmissão, mas pautar-se no retorno a elementos clássicos, exercícios que historicamente se mostraram eficientes. b) A Educação se tornou um elemento primordial para a formação de uma sociedade mais justa e equilibrada, que permita aos sujeitos atingirem seu potencial. c) A Educação no século XXI precisa refletir sobre si e o papel que deve assumir para atingir as demandas sociais do mundo contemporâneo. d) A Educação, no século XXI, deve pautar-se na necessidade do aluno. A busca do desenvolvimento da Educação depende do interesse individual de cada sujeito e deve se orientar de acordo com essa perspectiva. Parabéns! A alternativa C está correta. Os pilares organizados por Delors devem ser tratados como um documento histórico, sendo mais uma das reflexões necessárias sobre os desafios da Educação. Porém, tendo em vista que não existe uma fórmula mágica, definitiva. Por isso, seu papel lida, ainda, com demandas sociais em que o sujeito está inserido, não em demandas focadas exclusivamente no sujeito. 2. Na comparação entre o Brasil e o mundo em termos de Educação na contemporaneidade, em especial pensando nas influências da UNESCO, podemos destacar como uma busca de integração com as propostas mundiais: a) Base Nacional Comum Curricular. b) Constituição de 1988. c) Declaração Universal do Direito dos Homens. d) Adoção do modelo Common Care. e) Retomada conversadora nos fundamentos da Educação. Comentário Parabéns! A alternativa A está correta. A Base Nacional Comum Curricular é um debate histórico no Brasil, um país de dimensões continentais que precisa ofertar condições básicas para sua Educação, partindo de um atraso difícil de lidar. Evoluímos, mas, mesmo com planos nacionais, estaduais e municipais, faltava a modernização, que foi buscada de acordo com a linha de habilidades e competências proposta a partir da BNCC. Todos os demais movimentos aqui mencionados influenciam, mas somente a BNCC significa esta transformação. Muitas das ideias presentes no relatório da Unesco podem ser visualizadas nas competências da BNCC. Por exemplo, o estímulo ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos indivíduos. Adquiriu a capacidade de comparar as perspectivas futuras de Educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países. MÓDULO 3 Reconhecer como a História da Educação nos prepara para os desafios da sociedade tecnológica 20.4.2020 / Segunda-feira INTRODUÇÃO A partir das diversas leis, medidas e dos decretos estruturados para o âmbito educacional, é possível entender que uma das grandes inovações nas últimas décadas é a ampliação dos currículos escolares para além do desenvolvimento das habilidades cognitivas. Isso significa que o espaço escolar não tem como finalidade apenas transmitir conhecimento, mas proporcionar instrumentos para que as potencialidades dos alunos sejam exploradas. Afinal de contas, qual é o papel do ambiente escolar e de seus profissionais em um mundo globalizado? O século XXI é marcado por muitas contradições. Imaginamos, de forma geral, o futuro do mundo e da Educação da seguinte forma: O desenvolvimento de tecnologias velozes e poderosas. Mas na prática o mundo ainda é marcado por: Desigualdades O agravamento das desigualdades sociais, sobretudo em regiões periféricas. Consumo sustentável acelerado Aceleração da sociedade de consumo descartável em todos os sentidos. Essa nova ordem mundial causou e ainda causa impactos profundos no ambiente escolar. Uma das dúvidas colocadas para os educadores é como lidar com os chamados “novos desafios do mundo contemporâneo”, que envolvem o conhecimento de tecnologias e a crescente competitividade no mercado de trabalho. Nas bases legais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, temos a reafirmação constante de que a Educação não deve ser estruturada a partir do acúmulo de conhecimentos, mas a partir da preparação do alunopara o desenvolvimento da capacidade de lidar com os desafios da sociedade tecnológica. “O volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias reativas às áreas de atuação”. Parâmetros Curriculares Nacionais Portanto, neste módulo, vamos buscar as respostas para as seguintes perguntas: Qual é o papel da História da Educação na observação do mundo contemporâneo em permanente processo de mudança? Será que a História não deve observar isso? Devemos esperar esses movimentos ficarem mais velhos para analisá-los? A História é uma ciência humana que estuda a relação de homens e sociedade, utilizando o tempo como seu objeto de referência. Mas isso não a transforma em uma ciência do passado, pois seu objeto e suas práticas estão no presente. Usamos o passado para refletir sobre nossa própria sociedade, com o passado nos iluminando, permitindo debates. Se imergíssemos na contemporaneidade, poderíamos nos afastar dessas reflexões. O compromisso das ciências humanas é compreender como os estudos sobre a Educação nos fornecem ferramentas para enfrentarmos os desafios da sociedade contemporânea e refletirmos sobre o futuro. Os personagens da Educação no século XXI Antes de mais nada, é preciso ter em mente que todos os modelos e as experiências pedagógicas que vimos até agora são fundamentais para compreender o papel da Educação atualmente. O desafio é pensar como o ambiente escolar e os profissionais que nele atuam estão respondendo a tantas mudanças estruturais e éticas. Durante muito tempo, a transmissão do conhecimento se dava da seguinte maneira: PROFESSOR O detentor do conhecimento, que passava o conteúdo para os alunos sem muita crítica ou embasamento. ALUNO Absorvia o conteúdo sem questionamento sobre o que era transmitido pelo docente. Precisamos provocar o olhar sobre esses personagens presentes na escola e avaliar nossa responsabilidade como educadores. A professora Nilda Alves é doutora em Educação, e um de seus objetivos é fazer a escola reconhecer os conhecimentos do mundo. A professora Nilda Alves é professora titular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e comenta sobre os saberes e seu papel. Esse cenário não mudou completamente, mas podemos afirmar que o ambiente escolar não é o mesmo. Ele vem sendo reciclado continuamente. Ainda assim, muitos educadores olham para as transformações com certa desconfiança. De fato, sair da zona de conforto e se abrir para novas possibilidades não é tarefa fácil. O uso de tecnologias em sala de aula, por exemplo, depara-se com a falta de habilidade do professor em dominar as tecnologias e suas linguagens: web, podcast, software, armazenar na nuvem, Google, Facebook etc. Ou seja, é cada vez mais difícil supor que o docente em sala de aula seja o único detentor do conhecimento. Com a explosão tecnológica, a um clique de distância, o aluno tem acesso a uma quantidade infinita de informações de todos os tipos possíveis. Ao mesmo tempo, sabemos que, na Era da Informação, não faltam conteúdos falsos ou notícias com fontes desconhecidas. São as famosas fake news! No âmbito das novas propostas pedagógicas adotadas pela legislação brasileira, a ideia é que a Educação forneça instrumentos para que o aluno construa seu próprio conhecimento e tenha curiosidade sobre tudo aquilo que o rodeia. A formação de um indivíduo para a vida cidadã parte, em primeiro lugar, da sua atuação como sujeito ativo. Segundo Paulo Freire (1985): “Conhecer não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto recebe dócil e passivamente os conteúdos que o outro lhe dá ou lhe impõe. O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica invenção e reinvenção”. (FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1985, p. 7) A formação de sujeitos críticos implica, portanto, a revisão das práticas educativas. Como já vimos, uma das propostas presentes na BNCC é a formação por competências. A ideia é que o aluno tenha autonomia para decodificar determinada informação, pesquisar outras referências, comparar fontes e saber estabelecer conexões entre o passado e o presente. A Educação do futuro tem como pressuposto incentivar o aluno a construir seu próprio conhecimento, associando o conteúdo ensinado na escola à sua trajetória de vida. Nesse sentido, a tecnologia, quando usada de modo correto, é um instrumento bastante eficaz na democratização da informação e do conhecimento. O importante é capacitar o educador para que conheça as potencialidades e os limites dos recursos virtuais. Você considera que o projeto “Escola sem Partido” se encaixa nesse tipo de abordagem que supõe a autonomia dos indivíduos na construção do conhecimento? Que caminhos seguir? Você provavelmente deve se recordar do seu tempo de escola. Se estudou em um colégio privado, mais tradicional, ou mesmo em alguma escola pública que sofria em razão dos problemas de infraestrutura e escassez de profissionais mais qualificados, deve lembrar que muitas aulas se resumiam a copiar o que o professor escrevia no quadro. Os espaços de discussão não eram incentivados, quase não havia dinamismo nas aulas, e era muito comum que o corpo docente não entendesse por que os alunos pareciam tão pouco interessados em prestar atenção no conteúdo. A História da Educação está atenta a esse debate e, hoje, nota que tem se discutido a possibilidade de que muitos desses problemas poderiam ser resolvidos a partir da adoção de modelos pedagógicos ativos. Ou seja, colocar o aluno como agente central no processo de aprendizagem. Como isso pode ser feito na prática? A despeito das ferramentas utilizadas, a noção é sempre a mesma: incentivar a autonomia, reconhecer e respeitar a diversidade no ambiente escolar e estimular a cooperação e integração entre alunos, estimulando a construção de projetos em grupos. Veja alguns exemplos: Feiras de talentos Mostras artísticas Rodas de leitura A ideia é que cada vez mais os projetos educacionais adotem a chamada metodologia ativa de aprendizagem. Metodologia ativa de aprendizagem O psiquiatra americano William Glaser, a partir de suas pesquisas no campo da Educação, construiu uma pirâmide que avalia como aprendemos. Como aprendemos A modalidade EaD (Ensino a Distância) é um ótimo exemplo da adoção da metodologia ativa de aprendizagem. Essa metodologia parte da ideia de que o aluno é o principal responsável pela sua própria aprendizagem. O ideal é que ele seja estimulado a aprender a partir de exemplos concretos, que tenham correspondência com seu cotidiano. A transmissão de conhecimento levando em consideração a vivência do estudante confere mais dinamismo e interatividade. Segundo essa lógica, a simples memorização de conteúdos não seria eficiente. Qual é o caminho da aprendizagem nesse processo? É o que descobriremos no vídeo a seguir.Os professores Rodrigo Rainha, Guilherme Dutra e Luís Claudio Dallier dialogam sobre o ponto de vista de suas áreas sobre o Ensino a Distância. Temas Tranversais Os chamados temas transversais não são disciplinas curriculares, mas debates de cunho social e político presentes na sociedade contemporânea, como meio ambiente, ética, consumo etc. A função dos temas transversais é conduzir o professor, em sua ação educativa, a sintonizar o cotidiano do aluno com a aprendizagem cognitiva. Os temas transversais anunciaram a responsabilidade de formar o indivíduo para avivência cidadã em todas essas dimensões. A ética é compreendida como o principal tema, que permeia os demais. Imagens emblemáticas Conheça algumas das escolas mais inovadoras da atualidade. Consegue pensar em uma escola sem salas, sem séries, sem separações, sem turmas, com aulas sendo pensadas e trocadas por projetos feitos pelos próprios alunos? Leia sobre a Escola da Ponte. E se as atividades da escola fossem feitas a partir de jogos? O tempo todo, os alunos estão praticando, trocando e construindo com base em jogos e níveis de interações diferentes. Duvida? Conheça a Quest to Learn, em Nova York. Escolas para recuperação de alunos, ou, ainda, para jovens infratores, crianças em condição de rua. É preciso muita disciplina para controlar os alunos, certo? Não! Você precisa conhecer a Escola Meninos e Meninas do Parque...“Em locais pobres, é impossível desenvolver centros de tecnologia”. Sugata Mitra discorda dessa afirmação e, a partir da tecnologia, desenvolveu na Índia a busca de um novo modelo. Sua proposta consiste em leitura de livre aprendizagem, sem a presença de uma autoridade, e pelo computador... VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. (Adaptada de SEPLAG-MG, 2015) O uso das novas tecnologias na Educação pode promover algumas mudanças na abordagem pedagógica, tornando o processo de transmissão de conhecimento mais dinâmico e criativo. Diversas habilidades podem ser praticadas no ensino escolar para facilitar os tipos de comunicação e interação entre os professores e os alunos. A única alternativa que não se adequa ao uso das novas tecnologias na escola é: a) Oportunizar ao professor diferentes formas e recursos de ensino e aprendizagem. b) Estabelecer novas relações com o saber. c) Envolver os alunos para novas descobertas. d) Contribuir para as práticas educacionais. e) Utilizar o computador somente como fonte de informação. Comentário Parabéns! A alternativa E está correta. A utilização de recursos tecnológicos no ambiente escolar pode significar importantes ganhos. Além de aproximar o professor dos alunos, pode enriquecer a aula com suas experiências prévias, além de estimular a autonomia e integração coletiva. A tecnologia, usada de modo responsável, pode contribuir de diversas formas na construção do conhecimento. 2. Os temas transversais, que constam nos PCN, estão inseridos no contexto de renovação das práticas de ensino e dos modelos pedagógicos nas últimas décadas. Qual alternativa melhor descreve a função dos temas transversais? a) Educação de cunho tecnicista. b) A orientação sexual não é considerada um tema transversal. c) Valorização da individualidade. d) Foram criados para substituir os currículos escolares. e) O professor como mediador do processo de aprendizagem. Comentário Parabéns! A alternativa E está correta. Os temas transversais estão inseridos num movimento maior (incluindo a LDB/96, os PCN e a BNCC) de renovação das práticas pedagógicas, que valoriza a participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem, cabendo ao professor atuar como mediador nesse contexto. O aluno é compreendido como um indivíduo complexo e dotado de habilidades e competências. Você chegou ao final da experiência! E, com isso, você conquistou: A capacidade de reconhecer como a História da Educação nos prepara para os desafios da sociedade tecnológica. Conclusão A Educação Contemporânea dialoga com a História Contemporânea. Quer dizer, a partir do momento em que foi identificada a ascensão do mundo capitalista, a Educação passou por profundas transformações. Ao longo do século XX, o mundo começou a defender uma Educação mais popular, mais disseminada. Os motivos são muitos: industrialização, crescimento das cidades, desenvolvimentos dos estados – olhando pelo prisma do governo –, mas que geram linhas de resistência, isto é, Educação que liberte, Educação que fortaleça disputas, Educação como um bem individual. Diante dessas transformações, chegamos ao século XXI ricos em debates, mas sem conseguir resolver muitas de nossas mazelas históricas. Ainda que países como o Brasil tenham se fortalecido em termos legislativos e de sistema de Educação, trata-se de uma discussão que não cessa, como aponta a BNCC no Brasil, e ainda existem divergências profundas mundo afora. Conquistas Adquiridas A capacidade de identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo. A capacidade de comparar as perspectivas futuras de educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países. A capacidade de reconhecer como a História da Educação nos prepara para os desafios da sociedade tecnológica. Referências Bibliográficas ALMEIDA, M. E. B.; VALENTE, J. A. Tecnologias Digitais, Linguagens e Currículo: investigação, construção de conhecimento e produção de narrativas. São Paulo: Coleção Agrinho, 2012. ANTUNES, Celso. Como desenvolver competências em sala de aula. Petrópolis: Vozes, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. Consultado em meio eletrônico em: 10 set. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília: MEC, 1999. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental: referentes às quatro primeiras séries da Educação Fundamental. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Consultado em meio eletrônico em: 10 set. 2018. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir (Relatório para UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI). São Paulo: Cortez, UNESCO e MEC, 2001. FERACINE, Luiz. O professor como agente de mudança social. São Paulo: EPU, 1990. FERRETI, C. et al. Novas tecnologias, trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis: Vozes, 1994. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1985. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. FREITAS, Lourival C. de. Mudanças e inovações na educação. 2. ed. São Paulo: EDICON, 2005. Busque as seguintes sugestões de texto: Artigo Perspectivas atuais da educação. Artigo Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Matéria Quase metade do planeta ainda não tem acesso à internet, aponta estudo. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Parâmetros Curriculares Nacionais. Terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Temas transversais.
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