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Aula 5 - Educação Contemporânea

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Educação Contemporânea
Definição
A História Contemporânea da Educação como determinante das transformações sociais e suas influências até os tempos atuais.
Propósito
Demonstrar que a História é um discurso do presente que olha para o passado para entender melhor as dinâmicas de seu tempo. Com isso, você verá as inovações trazidas por essas iniciativas, sem perder de vista os desafios de pensar a Educação no contexto da globalização e das desigualdades sociais.
Introdução do Tema
Tente por um segundo imaginar uma grande inovação tecnológica. No mundo contemporâneo, o que mais emblematicamente mostraria um mundo em transformação? Durante séculos, homens usaram seus pés, animais, carroças e barcos para se locomoverem. Até que o desenvolvimento de sistemas, máquinas com engrenagens, vapor e caldeiras aceleraram o mundo. A velocidade mudou quando colocamos a máquina a vapor nos caminhos marcados com ferro e dormente. O mundo ficou menor, mais veloz. A integração entre as pessoas tornou-se cada vez mais rápida, as trocas de mercadorias e informações aceleraram. Precisávamos aprender mais, ter novas possibilidades. O trem, que estampa a nossa imagem de abertura, é um ícone da sociedade contemporânea e seus avanços. Passamos a ser supervelozes, andar por baixo da terra e até mesmo por baixo do mar. A metáfora do trem serve para toda a Era Contemporânea, carregada de conhecimentos cada vez maiores, mais velozes e intensos. O trem da tecnologia é o trem do conhecimento e da Educação, que, sem dúvida alguma, marcou os séculos XIX, XX e XXI. Sigamos viagem!
· MÓDULO 1 - Identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo
Introdução
Neste módulo, você será apresentado ao mundo contemporâneo e sua relação com a História da Educação, para que as discussões não pareçam ter surgido de um momento para o outro.
Este é um dos grandes desafios da disciplina: tirar a face de algo cristalizado para mostrar que está viva e presente. A História é um exercício de discurso, uma reflexão sobre o presente, só que o presente não existe sem essa memória, sem a reflexão sobre o passado.
A verdade depende do ponto de vista, das influências que você tem, das escolhas que você faz, pois a verdade não é uma realidade indiscutível. Em especial, nas Ciências Humanas.
A divisão do tempo
Provavelmente, você já ouviu dizer que determinada pessoa é alguém à frente do seu tempo. Mas será que existe alguém que viva fora do seu próprio tempo? A resposta é não. Todos nós somos, sem exceção, frutos da nossa própria época. Talvez você esteja se perguntando: “Eu aprendi na escola que a Idade Contemporânea começou após a Revolução Francesa, lá no século XVIII. Como é possível, então, que a gente ainda seja contemporâneo?”.
A razão é simples: a ideia de separar o tempo foi criada por pessoas que viviam seu próprio tempo. Elas não tinham noção de como aquele momento seria chamado no futuro.
Dessa forma, o tempo foi dividido em:
A visão de tempo europeia visava exaltar o que eles entendiam como seu auge: do desenvolvimento da escrita em áreas próximas ao Mediterrâneo – com gregos e romanos, incluindo as civilizações reconhecidas como poderosas, como os egípcios –, passando por um período considerado pouco produtivo para o homem – Idade Média –, quando retoma o seu caminho de crescimento, na Era Moderna, até atingir o ápice, no início da Era Contemporânea.
Antes de falarmos mais sobre isso, faremos uma provocação...
E se o tempo fosse contado de outra forma?
Maias, astecas, chineses e muçulmanos, por exemplo, têm calendários bem diferentes, em formato circular ou espiral.
· Calendário circulares ou em espiral - O tempo para a tradição cristã ocidental é sempre linear, com um início e um fim, mas há culturas marcadas por modelos de tempo circular, em ciclos, principalmente as orientais.
Outra forma de contar o tempo tem relação com o modelo solar, muito usado no ocidente, e o lunar, que é presente, por exemplo, nas culturas tupi e islâmica.
Como vimos, a vitória da visão europeia construiu o conceito de um calendário, uma vivência e, consequentemente, um mundo ocidental. Dessa forma, em sua divisão do tempo, tudo o que estava após o seu auge passa a ser chamado de contemporaneidade. Em outras palavras, essas divisões cronológicas da História foram pautadas pelos acontecimentos ocorridos na Europa e por sua forma de pensar os acontecimentos históricos, ou seja, a História da humanidade ficou restrita, durante muito tempo, às definições dos historiadores europeus.
A História Contemporânea
Agora que já entendemos a História como um fenômeno ativo, dinâmico e, sobretudo, presente, que não é apenas um amontoado de fatos e pessoas do passado, daremos o próximo passo. Se alguém lhe perguntar em qual século estamos neste momento, a resposta é simples: século XXI! Se a mesma pessoa disser que nós somos contemporâneos dos homens e das mulheres que viveram no século XIX, por exemplo, você saberia responder o que isso significa?
A contemporaneidade nada mais é do que a ideia de estar em seu próprio tempo. Estar no seu tempo é perceber que a História é viva. Alguns dizem que é a recuperação da imagem de Cronos – dos gregos – e o tempo que engole seus filhos. Mas, aqui, no nosso cronotopo, ele é constantemente recriado.
O que chamamos de contemporaneidade em História é a junção de dois grandes eventos europeus:
1º Revolução Francesa - Nome dado ao levante da burguesia contra a nobreza e a Igreja no final do século XVIII. Seu principal resultado é a mudança dos regimes políticos, com impactos no mundo inteiro.
2º Revolução Industrial - Fenômeno inglês do século XVIII. Representa o desenvolvimento das corporações de ofício e a multiplicação do uso de maquinário. No início, o desenvolvimento é pautado em máquinas a vapor e carvão mineral, e o foco era a indústria têxtil. É seguido pelo desenvolvimento dos transportes e pela mudança de todo o regime econômico.
A contemporaneidade é nosso tempo, nossa Era. Ela começa com uma leve aceleração, mas, ao longo do século XX, a velocidade só aumentou:
· As Revoluções Industriais mudam economicamente o mundo, criando novos padrões comerciais, sedimentando o capitalismo que dominaria o século XX, além da mudança dos modelos políticos, com a ascensão de repúblicas, democracias e federações.
· O resultado da mudança é um incremento de trocas comerciais em todo o planeta e disputas intensas por mercados, que fomentaram conflitos mundiais fortes, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e ajudaram a consolidar novas potências, como França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética.
· Após os conflitos mundiais, as guerras não cessaram, mas se tornaram mais locais, dentro de novas modalidades de comércio e disputa por hegemonia mundial, entre União Soviética (URSS) e Estados Unidos (EUA).
O fim do século trouxe muitas mudanças:
· O Muro de Berlim cai, marcando o fim da Guerra Fria. Mais do que isso, consolida-se a ideia de globalização e trocas comerciais que se materializam em todo o mundo.
· As guerras não cessaram e continuaram definindo nosso cotidiano. Alguns exemplos de conflitos são: Guerra do Golfo, Guerra do Iraque, Guerra da Síria, conflitos nos Balcãs, na África e na América Latina, além da presença do terrorismo.
· A tecnologia é o grande marco, levando-nos para a Era da Informação, com microcomputadores, redes de Internet, multiplicação de mídias e difusão de informações.
Por que estamos falando de tudo isso?
Para chamar sua atenção para o fato de que a compreensão europeia da História e da divisão do tempo também esteve presente de forma marcante na maneira de fazer e pensar a Educação. Essas ideias não estão soltas ou desconectadas no tempo e espaço.
A Educação Contemporânea é fruto de uma grande expansão das características da Educação europeia.
As matérias que nós costumamos estudar, a implementação de linhas educacionais adotadas nas escolas, as formas de construir a Pedagogia e a Didática e suas principais teorias: tudo isso foi produzido por europeus ou intelectuais influenciados pelo pensamentoeurocêntrico (Voltado para o ponto de vista da Europa como centro do pensamento mundial. Um excelente exemplo é o modo como os mapas mundi ainda são apresentados, com Greenwich, na Inglaterra, como o meridiano zero).
É claro que o mundo já mudou muito, que não seguimos mais cegamente o modelo europeu, pois cada país tem buscado desenvolver novas formas de pensar, de educar, de aproximar as pessoas de sua forma de ver o mundo. Sempre houve sociedades que resistiram mais a essa influência, como o mundo muçulmano, mas também é inegável que os anos de dominação econômica europeia, depois expandida pela continuidade da dominação estadunidense, marcaram o mundo.
A noção de mundo ocidental contemporâneo é um processo de expansão de valores europeus.
Esse impacto está vivo na Educação.
A seguir, notaremos a quantidade de modelos pedagógicos europeus incorporados à realidade brasileira nos últimos anos.
Hoje, o mundo inteiro tende a dividir o processo de formação em:
· Formação voltada às crianças
· Formação voltada aos jovens
· Formação voltada aos adultos
Não restam dúvidas de que o eurocentrismo, que marcava isoladamente a nossa cultura nas últimas décadas, de 1980 em diante, sofreu a influência de novos fenômenos: a globalização, com maior integração tecnológica, política e econômica, e o encurtamento de distâncias favoreceu esse movimento. Mas qual é a origem desse modelo?
Podemos dizer que, atualmente, o mundo inteiro tem adotado uma Educação mais técnica. Esse modelo é bastante antigo, veio do grande movimento das industrializações, quando precisavam preparar funcionários para assumir cargos e funções técnicas. Os primeiros eram empiristas, olhavam, tentavam, erravam e acertavam, e, se acertavam mais do que erravam, viravam grandes técnicos, e passavam a treinar e formar aqueles que os substituiriam.
Atente para o fato de que o capitalismo transformou a Educação em um bem para o trabalhador. Acreditava-se que as nações só iriam se desenvolver plenamente nesse novo urbano com a formação de mão de obra mais qualificada.
Não significa que o modelo pedagógico é tecnicista, mas, sim, que a formação é de especialistas, isto é, sujeitos que se assumem como técnicos em uma função.
Durante o período da Primeira e da Segunda Guerra Mundial – entre 1914 e 1945 –, a Educação passa a ganhar um novo papel: atender aos anseios nacionalistas.
Fascistas e nazistas apostavam no papel da Educação como um importante instrumento de convencimento das massas, trabalhando de maneira incisiva a ideia de que o jovem precisava estar integrado à noção de país, civilidade e nacionalismo. Tais valores deveriam ser estimulados e mantidos na escola.
Do lado da URSS e de seus signatários, a Educação também era fomentada. Ali, seu papel era afastar os jovens dos valores tradicionais da sociedade – entendidos como atrasados – para que atendessem aos anseios do Partido e da Ideologia norteadora.
Na Alemanha nazista, os alunos recebiam na escola livros antissemitas.
Uma reflexão interessante é notar que a Educação se tornou vital para os governos como estratégias políticas. Note que até mesmo regimes bem diferentes tinham uma coisa em comum: viam a Educação como algo vital. Repare:
· Socialistas - Formar para atender aos anseios da sociedade e do governo.
· Fascistas/nazistas - Formar para despertar paixão, ordem e respeito pela nação.
· Capitalistas - Formar para o mundo do trabalho.
Essas influências se espalharam pelo mundo e não devem ser entendidas de forma fechada, mas de uma maneira dinâmica e com constantes adaptações.
Em outras palavras, será que isso é engessado e cada um faz de um jeito? Claro que não. Percebemos que a Educação se tornou um bem, um objeto governamental, parte do mundo do trabalho, uma marca do mundo contemporâneo.
Tendência: o mundo em contestação
A Educação, ao mesmo tempo em que representa diálogo com o governo e manutenção da ordem, também pode ser a base da luta contra determinadas estruturas políticas. É isso que visamos apresentar com as tendências.
Com a Guerra Fria, eclodiram uma série de guerras locais na África, Ásia e América Latina. Entre as décadas de 1950 e 1960, o mundo assistiu ao surgimento de movimentos de contestação da ordem política. Toda essa efervescência também se fez sentir no campo educacional.
Vamos conhecer alguns desses movimentos:
· Levante de Paris - Um dos movimentos mais famosos é o Levante de Paris. Em maio de 1968, os estudantes parisienses se levantaram contra as formas tradicionais de ensino. Os temas abordados eram, em especial, o modo como as academias de Ciências Sociais e Economia davam base a novas formas de pensar, visando uma nova forma de fazer a Educação. O movimento também recebeu apoio dos trabalhadores e teve como marco a proposta de uma Universidade popular para abrir espaço para novos segmentos na Educação universitária.
· Movimentos sociais – Direitos Civis - Provavelmente você já deve ter assistido a algum filme em que as pessoas negras, nos Estados Unidos, não podiam frequentar os mesmos espaços públicos que as pessoas brancas. As chamadas leis de segregação racial deixaram marcas que são sentidas até hoje na sociedade norte-americana. Mas, sobretudo após os anos 1950, foram muitos os ativistas que lutaram e se insurgiram contra essas leis. O pastor protestante Martin Luther King foi uma dessas personalidades que passaram a denunciar os graves crimes que atingiam a população negra. Além dele, destacam-se Malcom X, líder da luta contra opressão e racismo, e a resistente e silenciosa luta de Rosa Parks. A Educação também foi atingida em cheio pelas leis de segregação racial, já que existiam escolas separadas para pessoas negras e brancas. Todos esses líderes foram formados em tais espaços. Sobre a relação entre o Direitos Civis e a Educação, também podemos falar de Linda Brown.
· Protesto da Praça da Paz Celestial - Durante a organização do modelo comunista na China, intelectuais foram perseguidos. No entanto, com a chegada de Deng Chao Pin ao poder, o modelo chinês assumiu características reformistas. Neste contexto, Yaobang chega ao governo. As medidas políticas passaram a afastar os líderes mais radicais do reformismo, e o secretário-geral foi afastado. Os estudantes iniciam um movimento lento de ocupação da praça Tian'anmen para pressionar o governo a desistir de suas ações. Liderados por estudantes, os protestos foram ganhando simpatizantes até a ocupação do local e a decisão do governo de impor lei marcial contra os protestos. Esse movimento, apesar de ter sido registrado pelas câmeras do mundo inteiro, foi negado pela China em diversos momentos de sua história. Isso mostra que, mesmo em regimes diversos, como o chinês, a Educação e os estudantes são vistos como uma forma de negação ao poder estabelecido.
O que destacamos aqui é a contradição central da Educação Contemporânea, pois seu crescimento é uma ação e responsabilidade de Estados. No entanto, ela está envolta em projetos políticos e econômicos em que a Educação pode funcionar como negação, libertação e crítica ao cotidiano social.
· MÓDULO 2 - Comparar as perspectivas futuras da Educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países
Introdução
Ao nos debruçarmos sobre os modelos e as estratégias pedagógicas adotadas no Brasil e no mundo nas últimas décadas, notamos que muita coisa mudou para melhor. Isso significa que o trabalho está terminado e que o Brasil pode ser considerado um modelo quando o assunto é Educação?
Provavelmente, não. Apesar da Constituição de 1988 determinar que se trata de um direito inalienável, o Brasil ainda conta com altas taxas de analfabetismo, evasão escolar, falta de infraestrutura etc. Precisamos caminhar bastante para chegar a um patamar em que a Educação de qualidade seja considerada um direito de todos.
Uma das vantagens do encurtamento de distâncias promovido pelo processo de globalização em curso é pensar como podemos aprender com outros modelos ao redor do mundo. E ensinar também. Por isso, este módulo é um convite para pensarmos a Educaçãobrasileira contemporânea inserida em um contexto mais global de iniciativas. Afinal de contas, uma das grandes características do mundo em que vivemos é justamente a construção de redes que interligam pessoas e ideias. Sem dúvidas, a Internet é um fator fundamental nesse processo.
O Brasil está inserido no contexto mundial, ou seja, todas as principais mudanças que acontecem no mundo, de alguma forma, chegam até nós.
Veja a linha do tempo:
Brasil
· 1889 -Torna-se República
· 1910 - Brasil inicia seu processo de urbanização
· 1930 - “Revolução” – chegada de Vargas ao poder
· 1942 - Brasil entra na Guerra
· 1945 - Retorno ao regime democrático
· 1964 - Ditadura civil-militar
· 1985 - Retorno do governo civil
· 1990 - Retorno ao governo democrático
Mundo
· 1789 - Revolução Francesa
· 1850 – 1900 - Imperialismo (domínio de África e Ásia)
· 1914 – 1918 - Primeira Guerra Mundial
· 1929 - Crise de 1929
· 1939 - Início da Segunda Guerra Mundial
· 1945 - Fim da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria
· 1989 - Queda do Muro de Berlim
· 1991 - Fim da Guerra Fria
Conceitos
Qual é o grande ícone de “mundialização” da Educação Contemporânea? Sem dúvida, podemos indicar dois documentos, a saber:
· Declaração Universal dos Direitos Humanos - No ano de 1948, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Naquele momento, o mundo teve conhecimento dos campos de concentração (nazistas e soviéticos), responsáveis pela morte de milhões de pessoas. Assim, essa declaração nasceu como uma forma de negar a guerra e todas as formas de violência. Outro ponto de destaque presente na declaração é justamente a ideia que “toda pessoa tem direito à Educação”.
· Declaração Universal do Direito das Crianças - Essa declaração representa o reconhecimento da criança como um ente com os mesmos direitos, mas com especificidades. O direito ao cuidado, ao desenvolvimento, à proteção e à segurança acabam criando um pacto mundial nesse sentido. Alguns países, no entanto, demoram a ser signatários desses documentos. O Brasil só vai reconhecer e transformar seus fundamentos em lei em 1988, com a Constituição Cidadã.
A despeito do proposto, veja estes números:
· Mais de 100 milhões de crianças não têm acesso ao ensino primário.
· Mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, e o analfabetismo funcional ainda é um problema significativo em países industrializados ou em desenvolvimento.
· Cerca de 2,5 bilhões dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais.
· Mais de 100 milhões de crianças e adultos não conseguem concluir o ciclo básico. Além disso, milhões de pessoas, apesar de concluí-lo, não adquirem conhecimentos e habilidades essenciais.
De 1988 para cá, houve muitas discussões, como:
· Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
· Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)
· Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
Além de outros documentos que pensavam a formação do professor, estrutura das escolas, entre outros. Mas qual é o resultado? Como podemos pensar a contemporaneidade em termos de Educação?
Como é possível imaginar, os desafios para melhorar os índices educacionais estão presentes no mundo inteiro, não apenas no Brasil. Dessa forma, com o aprofundamento do processo de globalização, cada vez mais presenciamos a necessidade de uma reflexão conjunta sobre como alcançar a justiça social e a convivência harmoniosa entre os povos.
A solução para tornar a Educação uma linguagem universal pode ser a cooperação internacional entre os países, já que é um problema de todos.
As ações praticadas pela Unesco (A Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura (Unesco) foi criada em 1945 e conta com 195 países membros), por exemplo, têm essa perspectiva: contribuir para o estabelecimento da paz entre os povos, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento de políticas públicas para a Educação, o estímulo à diversidade cultural etc.
Podemos perceber até aqui que desafio é a palavra-chave para todos aqueles que assumem a Educação, profissionalmente ou não, como algo com grande relevância na vida das pessoas. É neste mesmo contexto de desafios a serem enfrentados que somos levados a percebê-los também como perspectivas e oportunidades.
Na impossibilidade de levantar todas as propostas e ações educativas da Educação Contemporânea, destacamos aquelas que, de alguma forma, estão ou podem estar relacionadas não somente à reflexão necessária sobre a Educação que somos convidados a fazer cotidianamente, mas porque afetam a prática educativa que temos ou podemos ter nas próximas décadas.
“Educação: um tesouro a descobrir”
Tomemos como ponto de partida o documento Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Esse relatório, publicado em 1996, foi solicitado à equipe de educadores de várias parte do mundo, liderada por Jacques Delors, para que pudesse refletir os caminhos da Educação nos países ligados à ONU.
Esse documento influenciou de forma intensa e definitiva os rumos da Educação, reforçando ou questionando ações já realizadas e propondo novas ações a fim de alcançar seus objetivos. Este, aliás, é um ponto de convergência: o mundo precisa dialogar aos moldes dos congressos que levaram à formação do documento. A Educação deve considerar o indivíduo, mas ainda é pensada como um fenômeno social.
No documento, Delors traz o conceito de que a Educação é baseada em quatro Pilares:
Juntos, esses pilares servem de base para a transmissão da informação e da comunicação adaptada à sociedade.
Base Nacional Comum Curricular
Um importante passo para a Educação brasileira foi a preparação e publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pelo menos dois aspectos são fundamentais para compreendermos melhor a importância da BNCC:
1. Foi pensada na esteira da LDB/96, dos PCN e das DCNEB, portanto faz sentido pensar todos esses documentos conjuntamente, como se um auxiliasse e completasse o outro.
2. É mais do que um documento que estabelece como, quando e por que determinados conteúdos serão ensinados. Assim, o que importa é construir um projeto educacional que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano, como os aspectos cognitivo e socioemocional, o desenvolvimento físico, cultural etc. A ideia é que o aluno consiga aplicar o conhecimento aprendido no seu cotidiano. O objetivo é formar o indivíduo para a vida cidadã, por meio da transmissão de valores que permitam a boa convivência social.
Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico de cada escola ganha destaque no cenário, pois será preciso que toda comunidade seja reunida para discutir, refletir e planejar os rumos do processo de ensino-aprendizagem. Os professores também terão a incumbência de elaborar seus planos de aula de acordo com a BNCC. Outro ponto importante a ser destacado é que a BNCC não é uma medida vinculada a determinado governo ou partido. Ela é uma política de Estado, prevista no Plano Nacional de Educação, na LDB/96 e na Constituição de 1988.
Competências na Base Nacional Comum Curricular
A palavra-chave da Base Nacional Comum Curricular é competências. Na Introdução da BNCC, competência é definida como:
“Mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”.
Percebeu que aqui aparecem novamente, assim como está nos PCN, a importância das três dimensões da condição humana: estudo, cidadania e trabalho?
A BNCC propõe o desenvolvimento de dez competências distribuídas nas disciplinas curriculares e que devem, por meio do desenvolvimento das diversas habilidades, serem respondidas pelas atitudes concretas do aluno em todos os locais de sua convivência.
Ao longo da Educação Básica, as aprendizagensessenciais definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, cada área do conhecimento tem competências específicas que foram traçadas a partir das dez competências gerais. As competências específicas devem influenciar diretamente as habilidades que se pretendem formar ao estudar os componentes curriculares.
Mas quais são essas dez competências gerais? Vamos conferir!
Competências Gerais – BNCC
Confira as dez Competências Gerais da Educação Básica (Ensinos Infantil, Fundamental e Médio):
1. Conhecimento - Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social e cultural para entender e explicar a realidade (fatos, informações, fenômenos e processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e naturais), colaborando para a construção de uma sociedade solidária.
2. Pensamento científico, crítico e criativo - Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Repertório cultural - Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Comunicação - Utilizar conhecimentos das linguagens verbal (oral e escrita) e/ ou verbo-visual (como Libras), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
5. Cultura digital - Utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas.
6. Trabalho e projeto de vida - Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao seu projeto de vida pessoal, profissional e social, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentação - Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.
8. Autoconhecimento e autocuidado - Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a pressão do grupo.
9. Empatia e cooperação - Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual, idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se comprometer.
10. Responsabilidade e cidadania - Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões, com base nos conhecimentos construídos na escola, segundo princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Agora veja quais são as cinco Áreas de Conhecimento, de acordo com o Parecer CNE/CEB nº 11/201025:
As competências previstas devem ser desenvolvidas nas atividades que serão realizadas nas salas de aula. Dessa forma, haverá uma sintonia entre o que se espera alcançar a longo prazo e a curto prazo. Por isso, a BNCC aponta os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica.
Todas as competências são igualmente importantes.
Por se tratar de um documento novo, as diretrizes da BNCC podem parecer, em um primeiro momento, algo muito difícil de ser implementado e realizado. A mudança de hábitos não é um processo fácil, sobretudo quando envolve tantas pessoas ao mesmo tempo, não é mesmo? Porém, o importante é dar o passo inicial. Para os professores, é essencial ler a BNCC em sua totalidade para pensar como introduzir as mudanças no contexto da sala de aula. Os desafios são muitos, e a renovação passa por toda a comunidade escolar.
Para entendermos melhor, veremos uma linha do tempo começando na Lei de Diretrizes e Bases (Lei n° 9394/96) e finalizando na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
· 1996 - Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases.
· 1997 - Parâmetros Curriculares Nacionais (primeiras quatro séries da Educação Fundamental
· 1999 - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, preparado para cada disciplina.
· 2000 - Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, definidos pelas áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias.
· 2001 - Criação do Plano Nacional de Educação.
· 2003 - Lei nº 10639 – Obrigatoriedade do ensino de História e cultura afro-brasileira. Além disso, entra para o calendário escolar o dia 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra.
· 2004 - Lei nº 10861: É criado o SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior.
· 2005 - Lei nº 11096: criação do PROUNI – Programa Universidade para Todos.
· 2006 - Emenda Constitucional nº 53 cria o FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.
· 2007 - Decreto nº 6096: criação do REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais.
· 2008 - Lei nº 11465: Obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Indígena na rede de ensino.
· 2012 - Lei nº 12711: Lei de Cotas raciais nas universidades federais.
· 2017 - Homologação da Base Nacional Curricular Comum.
A proposta das competências do BNCC já estava sendo gestada e aplicada em outros países. Talvez o caso mais emblemático seja o Common Core (Currículo Comum) dos Estados Unidos. Lançado em 2010, chegou a receber apoio de 90% da população e de 80% dos professores. Hoje, uma década após sua implantação, este índice caiu pela metade nos dois casos. Uma reflexão sobre isso pode nos ajudar a olhar de forma perspectiva para a situação nacional.
O exemplo americano é importante para que tenhamos uma compreensão clara do que significa uma Base Comum, seus limites e suas perspectivas positivas.
Modelos tradicionais de Educação x Modelos inovadores
Um ponto bastante atual é a contradição (aparente ou não) entre os modelos tradicionais de Educação e aqueles considerados inovadores. Esta é uma situação presente em grande parte do mundo. Veja alguns exemplos:
· EUA - Nos EUA e em outras partes do Mundo, algumas expressões assumiram um papel bastante emblemático, como, por exemplo, “Educação centrada no aluno”. Talvez essa seja, atualmente, a grande perspectiva da Educação Contemporânea. EUA, México, Espanha, entre outros países, têm assumido uma postura reflexiva, que busca caminhos para inserir o aluno de forma mais efetiva no processo de aprendizagem. É importante perceber que isso faz parte não somente de projetos oficiais desses países, mas de organismos e fundações que buscam auxiliar a Educação no mundo. Um exemplo é o Google For Education.
· Finlândia - A Finlândia tem seu modelo educacional reconhecido mundialmente, e, cada vez mais, há pesquisadores e políticos do mundo todo buscandofazer intercâmbios para compreender como uma escola com curta jornada de estudo, quase ausência total de tarefas escolares para casa, pouquíssimas provas e preocupação mínima com ranking internacional (o que contraria a maioria das tendências educacionais atuais) pode ter tanto sucesso.
· França - A França, berço do Iluminismo – com a Revolução Francesa, como você já viu – e, consequentemente, de um modelo educacional baseado nos ideais liberais burgueses, fundamentados em grande parte no modelo tecnicista-meritocrático, que nasceram para combater o ensino clássico, parece estar recuando. Ou pelo menos assim podemos interpretar, quando o Ministério da Educação francês assume a postura de proibir celulares em sala de aula, além do retorno de línguas como latim e grego nas escolas. Esta é uma situação no mínimo curiosa. Seu histórico, inclusive filosófico, de um perfil revolucionário e de abandono das raízes que constituíram a Europa, permite que, ao menos, estranhemos tais medidas.
· Japão - Parte da Ásia tem mantido as primeiras posições no ranking internacional por vários anos seguidos, assumindo uma posição mais centrada na disciplina e em longas horas de estudo. Historicamente, o Japão se destaca de forma emblemática.
· Brasil - No Brasil, de forma muito mais sutil, parece que o interesse pela chamada Educação Clássica está aumentando. Seja porque percebemos os fracassos sucessivos do país nas avaliações internacionais, seja a revolução midiática já apontada, que permite o contato e acesso – na maioria das vezes de forma gratuita – a uma literatura específica sobre o tema. Por esses ou outros motivos, acreditamos que a Educação está viva na História, e não podemos negligenciar a oportunidade de entender esse processo e o quanto isso poderá beneficiar, ou não, a Educação no país.
Embora a proposta da “Educação centrada no aluno” não tenha sido aceita de forma unânime no exterior (como o caso da pedagoga sueca Inger Enkvist), no Brasil, esse pensamento tem crescido e confunde-se com a utilização das tecnologias digitais na Educação por meio das chamadas metodologias ativas.
Tendências
Para que não percamos a percepção do que isso significa, levantamos um questionamento simples:
O que é uma Educação de sucesso?
De acordo com publicação do jornal O Globo, os países nórdicos e asiáticos possuem altas taxas de suicídio. Isso nos leva a perguntar por que, nos locais onde a Educação é mais bem-sucedida e nos países que possuem as maiores rendas per capta do mundo, as pessoas se matam? Essa reflexão é relevante para que busquemos um modelo educacional que, além da formação técnica do indivíduo, possa formá-lo de forma integral.
· MÓDULO 3 - Reconhecer como a História da Educação nos prepara para os desafios da sociedade tecnológica
INTRODUÇÃO
A partir das diversas leis, medidas e dos decretos estruturados para o âmbito educacional, é possível entender que uma das grandes inovações nas últimas décadas é a ampliação dos currículos escolares para além do desenvolvimento das habilidades cognitivas. Isso significa que o espaço escolar não tem como finalidade apenas transmitir conhecimento, mas proporcionar instrumentos para que as potencialidades dos alunos sejam exploradas.
Afinal de contas, qual é o papel do ambiente escolar e de seus profissionais em um mundo globalizado?
O século XXI é marcado por muitas contradições. Imaginamos, de forma geral, o futuro do mundo e da Educação da seguinte forma:
O desenvolvimento de tecnologias velozes e poderosas.
Mas na prática o mundo ainda é marcado por:
· Desigualdades - O agravamento das desigualdades sociais, sobretudo em regiões periféricas.
· Consumo sustentável acelerado - Aceleração da sociedade de consumo descartável em todos os sentidos.
Essa nova ordem mundial causou e ainda causa impactos profundos no ambiente escolar. Uma das dúvidas colocadas para os educadores é como lidar com os chamados “novos desafios do mundo contemporâneo”, que envolvem o conhecimento de tecnologias e a crescente competitividade no mercado de trabalho. 
Nas bases legais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, temos a reafirmação constante de que a Educação não deve ser estruturada a partir do acúmulo de conhecimentos, mas a partir da preparação do aluno para o desenvolvimento da capacidade de lidar com os desafios da sociedade tecnológica.
“O volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias reativas às áreas de atuação”.
Parâmetros Curriculares Nacionais
Portanto, neste módulo, vamos buscar as respostas para as seguintes perguntas:
· Qual é o papel da História da Educação na observação do mundo contemporâneo em permanente processo de mudança?
· Será que a História não deve observar isso?
· Devemos esperar esses movimentos ficarem mais velhos para analisá-los?
A História é uma ciência humana que estuda a relação de homens e sociedade, utilizando o tempo como seu objeto de referência. Mas isso não a transforma em uma ciência do passado, pois seu objeto e suas práticas estão no presente. Usamos o passado para refletir sobre nossa própria sociedade, com o passado nos iluminando, permitindo debates. Se imergíssemos na contemporaneidade, poderíamos nos afastar dessas reflexões.
O compromisso das ciências humanas é compreender como os estudos sobre a Educação nos fornecem ferramentas para enfrentarmos os desafios da sociedade contemporânea e refletirmos sobre o futuro.
Os personagens da Educação no século XXI
Antes de mais nada, é preciso ter em mente que todos os modelos e as experiências pedagógicas que vimos até agora são fundamentais para compreender o papel da Educação atualmente. O desafio é pensar como o ambiente escolar e os profissionais que nele atuam estão respondendo a tantas mudanças estruturais e éticas.
Durante muito tempo, a transmissão do conhecimento se dava da seguinte maneira:
· PROFESSOR - O detentor do conhecimento, que passava o conteúdo para os alunos sem muita crítica ou embasamento.
· ALUNO - Absorvia o conteúdo sem questionamento sobre o que era transmitido pelo docente.
Precisamos provocar o olhar sobre esses personagens presentes na escola e avaliar nossa responsabilidade como educadores.
Esse cenário não mudou completamente, mas podemos afirmar que o ambiente escolar não é o mesmo. Ele vem sendo reciclado continuamente.
Ainda assim, muitos educadores olham para as transformações com certa desconfiança. De fato, sair da zona de conforto e se abrir para novas possibilidades não é tarefa fácil. O uso de tecnologias em sala de aula, por exemplo, depara-se com a falta de habilidade do professor em dominar as tecnologias e suas linguagens: web, podcast, software, armazenar na nuvem, Google, Facebook etc. Ou seja, é cada vez mais difícil supor que o docente em sala de aula seja o único detentor do conhecimento. Com a explosão tecnológica, a um clique de distância, o aluno tem acesso a uma quantidade infinita de informações de todos os tipos possíveis. Ao mesmo tempo, sabemos que, na Era da Informação, não faltam conteúdos falsos ou notícias com fontes desconhecidas. São as famosas fake news!
 
No âmbito das novas propostas pedagógicas adotadas pela legislação brasileira, a ideia é que a Educação forneça instrumentos para que o aluno construa seu próprio conhecimento e tenha curiosidade sobre tudo aquilo que o rodeia. A formação de um indivíduo para a vida cidadã parte, em primeiro lugar, da sua atuação como sujeito ativo.
Segundo Paulo Freire (1985):
“Conhecer não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto recebe dócil e passivamente os conteúdos que o outro lhe dá ou lhe impõe. O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda umabusca constante. Implica invenção e reinvenção”.
A formação de sujeitos críticos implica, portanto, a revisão das práticas educativas.
Como já vimos, uma das propostas presentes na BNCC é a formação por competências. A ideia é que o aluno tenha autonomia para decodificar determinada informação, pesquisar outras referências, comparar fontes e saber estabelecer conexões entre o passado e o presente.
A Educação do futuro tem como pressuposto incentivar o aluno a construir seu próprio conhecimento, associando o conteúdo ensinado na escola à sua trajetória de vida. Nesse sentido, a tecnologia, quando usada de modo correto, é um instrumento bastante eficaz na democratização da informação e do conhecimento. O importante é capacitar o educador para que conheça as potencialidades e os limites dos recursos virtuais.
Você considera que o projeto “Escola sem Partido” se encaixa nesse tipo de abordagem que supõe a autonomia dos indivíduos na construção do conhecimento?
Que caminhos seguir?
Você provavelmente deve se recordar do seu tempo de escola. Se estudou em um colégio privado, mais tradicional, ou mesmo em alguma escola pública que sofria em razão dos problemas de infraestrutura e escassez de profissionais mais qualificados, deve lembrar que muitas aulas se resumiam a copiar o que o professor escrevia no quadro.
Os espaços de discussão não eram incentivados, quase não havia dinamismo nas aulas, e era muito comum que o corpo docente não entendesse por que os alunos pareciam tão pouco interessados em prestar atenção no conteúdo.
A História da Educação está atenta a esse debate e, hoje, nota que tem se discutido a possibilidade de que muitos desses problemas poderiam ser resolvidos a partir da adoção de modelos pedagógicos ativos. Ou seja, colocar o aluno como agente central no processo de aprendizagem.
Como isso pode ser feito na prática?
A despeito das ferramentas utilizadas, a noção é sempre a mesma: incentivar a autonomia, reconhecer e respeitar a diversidade no ambiente escolar e estimular a cooperação e integração entre alunos, estimulando a construção de projetos em grupos. Veja alguns exemplos: Feiras de talentos, Mostras artísticas, Rodas de leitura.
A ideia é que cada vez mais os projetos educacionais adotem a chamada metodologia ativa de aprendizagem.
Metodologia ativa de aprendizagem
O psiquiatra americano William Glaser, a partir de suas pesquisas no campo da Educação, construiu uma pirâmide que avalia como aprendemos.
A modalidade EaD (Ensino a Distância) é um ótimo exemplo da adoção da metodologia ativa de aprendizagem.
Essa metodologia parte da ideia de que o aluno é o principal responsável pela sua própria aprendizagem. O ideal é que ele seja estimulado a aprender a partir de exemplos concretos, que tenham correspondência com seu cotidiano.
A transmissão de conhecimento levando em consideração a vivência do estudante confere mais dinamismo e interatividade. Segundo essa lógica, a simples memorização de conteúdos não seria eficiente.
Temas Tranversais
Os chamados temas transversais não são disciplinas curriculares, mas debates de cunho social e político presentes na sociedade contemporânea, como meio ambiente, ética, consumo etc. A função dos temas transversais é conduzir o professor, em sua ação educativa, a sintonizar o cotidiano do aluno com a aprendizagem cognitiva.
Os temas transversais anunciaram a responsabilidade de formar o indivíduo para a vivência cidadã em todas essas dimensões. A ética é compreendida como o principal tema, que permeia os demais.
Conclusão
A Educação Contemporânea dialoga com a História Contemporânea. Quer dizer, a partir do momento em que foi identificada a ascensão do mundo capitalista, a Educação passou por profundas transformações. Ao longo do século XX, o mundo começou a defender uma Educação mais popular, mais disseminada. Os motivos são muitos: industrialização, crescimento das cidades, desenvolvimentos dos estados – olhando pelo prisma do governo –, mas que geram linhas de resistência, isto é, Educação que liberte, Educação que fortaleça disputas, Educação como um bem individual.
Diante dessas transformações, chegamos ao século XXI ricos em debates, mas sem conseguir resolver muitas de nossas mazelas históricas. Ainda que países como o Brasil tenham se fortalecido em termos legislativos e de sistema de Educação, trata-se de uma discussão que não cessa, como aponta a BNCC no Brasil, e ainda existem divergências profundas mundo afora.

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