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RELATORIO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL III

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO 
DO RIO GRANDE DO SUL 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELATÓRIO FINAL 
 
 
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL III 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana Costa Meinerz Zalamena 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Santa Rosa, 1/2009 
 
1. Identificação 
 
Estagiária: Juliana Costa Meinerz Zalamena 
Estágio Supervisionado em Serviço Social III 
Local de Estágio: Prefeitura Municipal de Tuparendi – Secretaria Municipal de Saúde e Ação 
Social 
Supervisor de Campo: Elizabét da Silva Cabaldi 
Supervisor de Estágio: Professora Lislei Teresinha Preuss 
Total de horas no campo: 122 horas 
Total de horas de supervisão acadêmica: 75 horas 
Semestre: 7º/2009 
2. Descrição e Análise da Prática Profissional de Estágio 
 
Chega-se ao fim da experiência profissional de estágio, neste primeiro semestre do ano 
de 2009. O estágio, realizado em três semestres na Prefeitura Municipal de Tuparendi/RS, mais 
especificamente na Secretaria Municipal de Saúde e Ação Social – S.M.S.A.S, foi uma 
experiência muito importante na trajetória de formação profissional, na medida em que 
suscitou novas dúvidas e questionamentos para a questão do fazer profissional e do ser 
Assistente Social. 
As atividades realizadas não foram em nada diferentes daquelas feitas nos demais 
semestres, no Estágio I e II, já relatadas nos respectivos diários de campo e relatórios finais, ou 
seja: Plantão Social, observação e participação em reuniões de equipe e dos Conselhos 
Municipais de Assistência Social (CMAS) e dos Direitos da Criança e Adolescente 
(COMDICA), também no recém criado Comitê de Controle Social do Programa Bolsa Família, 
além de algumas participações no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, contato com 
pessoas que estão cumprindo medidas sócio-educativas, adultos e adolescentes, 
institucionalização de idosos e de crianças, atendimento a demandas provenientes do Conselho 
Tutelar, reuniões com os conselheiros deste último, etc. 
As atividades poderiam ser descritas e fundamentadas novamente, pois sabe-se que a 
cada caso, há um viés diferente, um detalhe a ser observado ausente em outros casos 
semelhantes, porém, a fim de estabelecer uma certa objetividade a este documento final de 
estágio, far-se-á apontamentos quanto as principais diferenças em relação aos demais semestres 
dessa experiência: a maturação profissional em relação à leitura da realidade e a compreensão 
de sociedade, a mudança radical na equipe e na administração que suscitam algumas novidades 
e em terceiro, as tentativas de aplicação do primeiro projeto de intervenção profissional, 
relativo à inclusão digital de crianças e adolescentes do PETI, e do segundo, relativo à 
orientação sócio-educativa com vistas a prevenção do abuso sexual no município de Tuparendi. 
Estes três aspectos serão descritos com mais detalhes nos próximos itens do relatório. 
 
 Uma última leitura crítica da conjuntura social em que se insere a Instituição 
 
A realidade geral do município de Tuparendi também já consistiu em tema de 
explanação nos relatórios I e II. Assim, em termos gerais, pode-se dizer que se trata de um 
município estacionado no que tange o desenvolvimento econômico e social, por conta de 
alguns fatores bastante explícitos: o êxodo rural e a agricultura, base da economia municipal, 
extremamente enfraquecida, a economia urbana, com suas pequenas indústrias e 
estabelecimentos comerciais, também não se encontra em boas condições, contribuindo para o 
desemprego de muitos cidadãos. É um município com população decrescente, justamente 
devido a essa tendência a migração para outras cidades e estados, e aqueles que ficam, em sua 
maioria tem opções muito restritas. Entre elas, o trabalho informal, que, pela sua natureza não-
contratual, não dá nenhuma garantia para os trabalhadores quanto aos direitos trabalhistas. 
A situação mais grave, com certeza, é daquele segmento da população que ficam 
completamente excluídos do mercado de trabalho formal. Se a condição daqueles que 
sobrevivem do trabalho informal na maioria das vezes já é precária, esse aspecto se acentua 
naquelas famílias que estão de fora mesmo desse tipo de trabalho, e dependem exclusivamente 
dos benefícios de transferência de renda e dos auxílios da Prefeitura Municipal. 
Essas famílias se encontram em uma situação de vulnerabilidade grave, e além da 
questão econômica, verifica-se também uma série de outros problemas: violência (física, 
sexual, psicológica), dependência etílica, conflito com a lei, detenções, etc. Essas famílias, 
exceto por algumas que moram na Zona Rural ou em outras vilas (Progresso e Julio Fabrício), 
a esmagadora maioria está concentrada na Vila Glória. 
Sendo assim, este espaço no contexto municipal é onde mais se verifica a concentração 
de pobreza, baixa renda, vulnerabilidade e risco social. Mesmo levando em consideração o fato 
de ser o espaço mais assistido pela Prefeitura em termos de benefícios e serviços sociais, e 
onde ocorre o maior número de intervenções sociais por parte do Serviço Social da instituição, 
essas intervenções estão longe de serem satisfatórias, e ao contrário de buscarem a autonomia e 
emancipação humana, pelo contrário, perpetuam a dependência. 
Aprofundando um pouco a discussão sobre a Vila Glória, enfatiza-se que este espaço é 
recente dentro da cartografia urbana de Tuparendi. Como pode ser observado no mapa do 
município de Tuparendi (Anexo I), existem outras vilas, mas afirma-se empiricamente que 
existem algumas diferenças visíveis: Na Vila Julio Fabrício (mais conhecida como Vila Peru), 
e na Vila Progresso, existe uma demanda considerável de famílias em vulnerabilidade social, 
mas o espaço é visivelmente menor do que na Vila Glória. A Vila Esperança, poderia ser 
considerada mais como um espaço intermediário entre o centro e a Vila Glória, visto que não 
acumula características de periferia. A Vila dos Bancários, como o próprio nome já indica, não 
apresenta situação de vulnerabilidade social, com raras exceções. 
Então, conclui-se, embora haja pobreza e baixa renda em outros pontos da Zona Urbana 
e Rural de Tuparendi, a Vila Glória demanda mais atenção pela quantidade de pessoas que lá 
residem, pelo espaço territorial considerável dentro do município, e pelo fato da maioria das 
famílias apresentarem situação econômica e social extremamente frágil. Os mais bem 
sucedidos em termos econômicos lá são aqueles que possuem membros da família que 
trabalham na construção civil, nas serrarias e marcenarias, entretanto, se caracteriza também 
como trabalho informal. 
Uma grande parte se encontra trabalhando na Cooperativa Meta. Essa cooperativa, na 
verdade, só o é no papel, pois na prática, trata-se de uma forma bastante criativa de exploração 
da força de trabalho de pessoas que não tem nenhuma alternativa melhor. Esses trabalhadores 
são coordenados por um cidadão que os recruta para realizar serviços encomendados, por 
particulares ou pela Prefeitura Municipal. Esses serviços são braçais, exaustivos, pesados e 
nenhum deles ganha mais de R$ 200,00 mensais. Ou seja, essa “cooperativa” de trabalho, 
inviabiliza que seus “associados” tenham status de autônomo e muito menos que possam 
contribuir para ter direitos trabalhistas, como a aposentadoria. 
Não são raras as situações em que o pai, a mãe e os filhos menores de idade trabalham 
todos nessa “cooperativa”. O curioso é que as crianças e adolescentes que estão sendo 
recrutadas para o trabalho infantil, o qual muitos insistem não existir em Tuparendi, não são 
alvo de proteção do poder público e encontram-se fora do Programa de Erradicação do 
Trabalho Infantil, reforçando a ideologia de que o trabalho evita que essas crianças e 
adolescentes rumem para o caminho da marginalidade, conforme discorre o texto de Campos e 
Alverga (2008). 
A Vila Glória é um espaço bastante recente em relação a formação domunicípio de 
Tuparendi, ou seja, quando da colonização deste espaço e posterior desenvolvimento até 
chegar a emancipação em 1959, este espaço não existia, ou seja, não haviam moradores e não 
era urbanizado. 
De acordo com o Histórico do Município de Tuparendi , este espaço começou a ser 
ocupado, irregularmente diga-se de passagem, especialmente em meados da década de 70, 
quando famílias inteiras resolveram migrar para o espaço urbano em busca de melhores 
condições de vida. Levando em conta as informações contidas nesse mesmo documento, as 
primeiras famílias a se instalarem neste espaço eram de pequenos agricultores, que haviam 
vendido suas pequenas áreas de terras localizadas na Zona Rural do município, e vieram para o 
meio urbano, acreditando na promessa de trabalho assalariado. 
Podemos perceber com isso que a formação da Vila Glória tem a ver com um aspecto 
em particular, que somado a outros secundários, determinaram a instalação de famílias mais 
pobres nesse espaço, em moradias precárias e sem nenhuma infra-estrutura e urbanização. 
Trata-se do êxodo rural, uma realidade ainda constante nos dias atuais, e que está longe de ter 
solução definitiva. 
Percebe-se em Rotta (1999), que quando as indústrias começaram a tomar uma posição 
de maior expressão na sociedade regional, aumentaram as ofertas de empregos urbanos. A 
cidade sempre foi mais atrativa para as pessoas do que a zona rural, de modo que julgava-se ser 
uma grande ascensão social deixar a agricultura familiar e se tornar um trabalhador assalariado, 
sinônimo de estabilidade financeira e tranqüilidade para a família. Na cidade, estavam perto de 
escolas, hospitais, comunicação, lazer, enquanto na zona rural estavam privados disso tudo e de 
certa forma isolados. Morar na zona urbana significava ter mais qualidade de vida no 
imaginário das pessoas. 
Quando a oferta de trabalho aumentou nas cidades, ainda de acordo com Rotta (1999), 
muitos agricultores se desfizeram de sua propriedade e foram instalar-se nos povoamentos, 
onde havia melhores oportunidades de conseguir emprego, colocar os filhos na escola, ter 
acesso à saúde, estar próximo das atividades de lazer, ter acesso às noticias, etc. a propaganda 
para que os agricultores migrassem para a cidade, foi bastante atrativa e assim muitos o 
fizeram. 
Levantando os estudos de Rotta (1999), é possível fazer uma relação bem próxima com 
a formação da Vila Glória, no município de Tuparendi, visto que a maioria das famílias que se 
instalaram nessa área eram de agricultores, que optaram por viver na cidade, em busca de 
trabalho assalariado e melhor qualidade de vida. Evidentemente, essa não é uma regra: existem 
famílias oriundas de outros municípios, ou que já foram da classe média e alta mas acabaram 
por decair em seu padrão de vida por várias questões, mas que tem em comum o aspecto da 
baixa renda e má qualidade de vida. 
Com a modernização da agricultura, ainda resgatando Rotta (1999), aqueles que não 
possuíam condições financeiras de se adequar às novas tecnologias que surgiam, também 
optaram por um novo modo de vida. Evidentemente, na cidade não teve lugar para todos, o 
espaço foi insuficiente para acolher a oferta de mão de obra. A industrialização passa a exigir 
novas tecnologias, para que fosse possível adequar-se às regras rígidas do mercado e competir 
com a concorrência. No caso especifico de Tuparendi, a fonte mais significativa de empregos 
na década de 70 e até o final da década de 80, era a indústria de máquinas agrícolas Fankhauser 
S/A, que representa até hoje a maior fonte de arrecadação de ICMS do município. E na época, 
era símbolo de status e de estabilidade financeira ser um operário dessa indústria. Mas é claro 
que a indústria não teve capacidade de absorver toda a oferta de mão de obra existente, e 
muitos dos ex-pequenos agricultores que migraram para a cidade em busca de trabalho 
assalariado, acabaram compondo aquilo que chamamos de “exército industrial de reserva”, ou 
seja, a mão de obra excedente em relação às necessidades do capital. 
Com a adoção de máquinas mais modernas, num processo de mudanças de tecnologias 
mais recente, as empresas passaram a exigir mais qualificação dos seus funcionários (ROTTA, 
1999), e na empresa Fankhauser S/A não foi diferente: o resultado imediato então, além da 
diminuição do número de trabalhadores dentro dessa indústria, aqueles ex-agricultores que 
haviam migrado da zona rural, não possuíam a qualificação exigida. 
Esta situação gerou a exclusão de muitas pessoas deste mercado de trabalho assalariado 
ascendente, e com isso, muitas das características das nossas cidades hoje, foram se 
configurando (ROTTA, 1999). Ou seja, os colonos que haviam migrado da cidade, só 
conseguem ter acesso a moradias precárias, instaladas nas periferias das cidades, formando um 
circulo de vilas e bairros pobres nos arredores dos centros urbanos. Este é o perfil da Vila 
Glória, assim como de várias outras vilas que compõem as periferias dos municípios da nossa 
região, em que o índice de concentração de pobreza é com certeza maior do que nos espaços 
centrais das cidades. 
Sem qualificação para ter acesso a um dos empregos nas indústrias, automaticamente 
ficaram de fora do trabalho formal. De acordo com as idéias de Rotta (1999), estes passaram a 
viver de trabalhos informais, biscates, trabalhos temporários, etc. e assim, foram excluídos dos 
direitos sociais e demais benefícios do trabalho assalariado formal. Pode-se concluir então, que 
as camadas mais vulneráveis da população, concentradas em bairros e vilas mais pobres em 
termos econômicos e estruturais, são descendentes destes migrantes que no passado iludiram-
se com as promessas que giravam em torno das cidades e do dito “progresso”. 
Este processo ainda não deixou de acontecer. Diariamente, muitas pessoas ainda 
migram para as cidades, diante das dificuldades existentes na agricultura, acreditando nas 
promessas de que a cidade e o emprego assalariado é a solução para seus problemas. Ao se 
depararem com outra realidade, sem qualificação, sem emprego, engrossam as estatísticas dos 
indivíduos e famílias que se encontram à margem da sociedade. Soma-se a isso outros 
processos que decorrem de exclusão social, e acabam por gerar ainda mais desigualdade social, 
como o aumento do desemprego, o uso de drogas lícitas e ilícitas, a violência, a marginalidade, 
que fazem com que essas pessoas se sintam quase como uma “contra-sociedade” ou uma “não-
sociedade” (NETTO, 1996) e acabam agindo dessa forma. 
Surgem as áreas com a concentração maior de pessoas em vulnerabilidade social, que 
pouco possuem para prover seu sustento de sua família, com baixa qualidade de vida. O êxodo 
rural sem dúvida é um problema antigo, que data de muitas décadas atrás, mas não deixou de 
ser um problema atual e preocupante, e com certeza teve muita influência na formação da Vila 
Glória, o foco de estudo deste trabalho de pesquisa. 
Com o passar do tempo, mais e mais famílias acabaram se instalando nesse local, o que 
obrigou a Prefeitura Municipal, já em meados da década de 80 realizar um processo de 
legalização do local, de um primitivo e mal feito processo de urbanização, e o reconhecimento 
deste espaço como pertencente ao perímetro urbano de Tuparendi. A Vila Glória foi 
aumentando, e hoje representa uma boa parcela, embora não quantificada, da população do 
município, contando de acordo com o Sistema de Informações da Atenção Básica – SIAB com 
cerca de 450 domicílios1. 
Verifica-se que este local é bastante assistido pela Prefeitura Municipal, mas não no 
sentido de promover o exercício da cidadania, a autonomia e a emancipação humana. Pelo fato 
das ações do poder público serem restritamente em forma de auxílios emergenciais e pontuais, 
perpetua-se a dependência dessa população para com os serviços assistenciais. Ou seja, este 
local carece de incentivos a participaçãoda população nas instâncias de controle social, ou seja 
Conselhos Municipais e Conferências. Carece também de iniciativas de organização da 
comunidade em torno de seus interesses, ou seja, da existência de um movimento social que 
possa cobrar do poder público ações mais abrangentes e que signifiquem uma oportunidade de 
desenvolvimento social para este local e para as pessoas que o habitam. 
As iniciativas referentes a cooperativas, de produção ou de trabalho, são muito 
importantes e com grande potencial de dar certo, entretanto, devem ser fundadas nos princípios 
da raiz do cooperativismo, e não podem se constituir em mais uma forma de exploração a 
serviço do capital ou do próprio poder público. Uma iniciativa de organização da produção, em 
forma de associação ou cooperativa, poderia significar a inclusão de muitos trabalhadores, 
fundada na igualdade de oportunidades para todos, e não na exploração. 
Enfim, conclui-se em três semestres de estágio, que as ações da Prefeitura Municipal 
não são no sentido da promoção humana, e sim, da proliferação da dependência. Repletas de 
vícios políticos, tanto a atual como a antiga administração apresentam a mesma relação com a 
assistência social: ou seja, como um setor subalterno e o último na lista de prioridades da 
administração municipal. 
 
1 1 De acordo com a PNAD (2007), o município de Tuparendi conta com 2686 domicílios, sendo que a maior parte 
está localizada na Zona Urbana. 
 
Visto que nesse ano de 2009, a administração municipal é outra, e que entrou em cena 
com grandes propostas, como implantar o Programa Primeira Infância Melhor, implantar o 
Centro de Referência da Assistência Social – CRAS, mudar a Secretaria Municipal de Saúde e 
Ação Social para o prédio alugado onde antes funcionava a Vera Cruz, “desafogando” o fluxo 
de pessoas no local atual que é também a Unidade Central de Saúde, a implantação de 
programas de geração de emprego e renda, melhorias no Programa de Erradicação do Trabalho 
Infantil, entre outras coisas. 
Entretanto, passados seis meses da nova administração, as ações referentes a 
Assistência Social continuam sendo efetuadas nos mesmos moldes, não sinalizando nenhum 
prazo para que venham a ser substituídas ou reformuladas. 
2.1.1 Espaço mais vulnerável dentro da Vila Glória: a Área Verde 
Como já apontado, a Vila Glória é o espaço de maior concentração de pobreza dentro 
do município de Tuparendi, tanto em dimensões territoriais como populacionais, ou seja, é o 
maior espaço com o maior número de famílias em vulnerabilidade social. Mas dentro da Vila 
Glória, está um pequeno território, que compreende cerca de trinta famílias, conhecido como 
Área Verde. É chamado assim por que se trata de uma APP – Área de Preservação Permanente, 
onde passa o Lajeado Ramos, foi ocupada irregularmente e não tem nenhuma infra-estrutura 
urbana: o esgoto corre dentro do valão por onde passa o Lajeado, a água é retirada de uma bica 
pública, as casas são de material reaproveitado e não há divisórias entre os cômodos. 
Nesse espaço, sem dúvida, estão as famílias que sobrevivem em situações precárias, 
degradantes e de extrema exclusão social. As moradias não têm a mínima condição de serem 
habitadas, e há a urgente necessidade de duas iniciativas: a formulação de uma política 
habitacional condizente, e a retirada dessas famílias para uma área regular e legalizada, pondo 
em prática as medidas cabíveis quando a preservação daquele riacho. 
Diante da situação daquelas famílias em extrema vulnerabilidade social, cabe uma 
reflexão em um contexto mais amplo. Não é difícil perceber que a globalização “de tudo” 
globalizou também problemas sociais que antes não eram tão acirrados e freqüentes por aqui. 
Quanto a isso, Naves (2003) refere-se a formação de uma “nova questão social”. 
Para este autor, a questão social deixou de ter centralidade nos conflitos entre capital e 
trabalho, e ruma para outros pólos. Já Montaño (2002), entende que não existe uma “nova 
questão social”, mas sim, novas manifestações da velha questão social. 
Ou seja, para Montaño (2002), contrariamente ao pressuposto de Naves (2003), a 
contradição entre capital e trabalho continua inalterada, a luta de classes continua presente 
embora menos combativa, e a desigualdade na distribuição de riquezas também. O que 
acontece, precisamente, é que a globalização e as práticas neoliberais provocaram o 
acirramento da questão social e o agravamento de suas manifestações. Por isso talvez, no 
município de Tuparendi, emergem problemas sociais agudos que antes não eram tão visíveis. 
Na ótica neoliberal, como uma de suas estratégias de diminuição do poder do Estado, 
recorre-se freqüentemente a existência de uma nova questão social, para justificar o novo 
tratamento, o novo padrão de resposta dirigido à ela. 
Esse novo padrão de resposta a questão social preconizado pelo capital atualmente, ao 
contrário da idéia de Welfare State, propõe a descentralização do poder do Estado, a 
desoneração do capital e a auto responsabilização da sociedade civil organizada (Montaño, 
2002). O Estado é apresentado como incapaz, burocrático, ultrapassado e arcaico, enquanto o 
mercado apresente, ainda que implicitamente e com discurso forjado, as instituições da 
sociedade civil como dinâmicas, competitivas, e capazes de sanar as lacunas deixadas pelas 
esferas estatais principalmente nas respostas a questão social. 
Assim, o mercado tendo adotado a teoria pioneira de Adam Smith, se considera auto 
suficiente como agente regulador da economia e de todo o resto dos segmentos, inclusive dos 
interesses individuais (Naves, 2003). O que é possível abstrair disso como análise do 
município de Tuparendi, é que olhando superficialmente a realidade que se apresenta, as 
mudanças são tantas na sociedade que parece mesmo estar brotando uma “nova questão 
social”. 
Isso poderia ter como argumento a impressão de que o conflito capital e trabalho parece 
ter se retraído e dado lugar a uma luta generalizada pela sobrevivência, tanto do capital local 
quando dos trabalhadores. 
A realidade que se coloca é bastante preocupante, perpassando um quadro de 
empobrecimento geral: a indústria, o comércio e a agricultura, fazem malabarismos para 
manter seus empreendimentos de portas abertas, muitos deles sucumbindo a uma 
competitividade de mercado voraz. Eles não têm nenhum incentivo, são engolidos por 
empreendimentos maiores e ainda tem a incumbência de manter a economia local em pé. De 
outro lado, está a população, que não tem acesso a vagas de emprego formal, visto que as 
dificuldades financeiras dos estabelecimentos industriais e comerciais não permitem a criação 
de novos postos. Em suma, parece que o trabalhador não chega nem a ter uma relação com o 
capital para poder entrar em conflito com ele. 
O que acontece, sinteticamente, é que Tuparendi está tão longe dos grandes centros que 
não consegue esboçar uma reação de competição com outras cidades mais desenvolvidas. E 
são ausentes as estratégias do COMUDE, por exemplo, para tentar integrar o município ao 
desenvolvimento da região como um todo. 
E assim os habitantes, e não só as classes mais subalternas, padecem dos males de uma 
economia precária e sem perspectivas. Ainda, não podemos culpabilizar somente a esfera 
estatal municipal. Como explica Naves (2003), o funcionamento do Estado é muito simples: os 
cidadãos pagam uma série de impostos e em troca, esperam receber uma série de serviços. 
Seria uma lógica quase infalível se não fosse por dois detalhes típicos do Brasil: 
primeiro, a maior parte da arrecadação obtida através dos tributos é canalizada para o 
pagamento dos juros da dívida externa, acumulada por sucessivos empréstimos internacionais 
ao longo de vários governos e segundo, que uma fatia bem grande do orçamento é desviada 
para financiar a nossa tão conhecida corrupção (Naves,2003). 
Assim, já sobra muito pouco para investir na prestação dos serviços que são de 
obrigação do Estado, conforme a legislação. Dessa forma, o Estado abre a guarda para as 
críticas dos neoliberais, que adeptos do “discurso único”, defendem o livre mercado e o Estado 
mínimo. 
Isso a nível nacional e estadual, mas que tem reflexos na realidade dos municípios, já 
que recebe poucos investimentos das esferas estatais superiores. Soma-se a isso o fato de que 
os parcos recursos enviados para os municípios vão se esvaindo ao longo do caminho. 
Isso quer dizer que os recursos em maior escala ficam concentrados na esfera federal, 
respingam na esfera estatal e chegam minimizados aos municípios. Poderia-se supor então, que 
a situação precária em que se encontra o município de Tuparendi não é única e exclusivamente 
culpa das sucessivas más administrações que precederam a essa, baseadas em uma cultura 
política mais individualista do que coletiva. 
A situação atual também é proveniente do desgastado modelo de governo adorado no 
Brasil nos últimos anos, que propõe a descentralização das políticas e não das verbas. 
Evidentemente, os três últimos presidentes (Itamar Franco, FHC e Lula) tem vertentes políticas 
e ideológicas bastante diferentes, mas os modelos de conduzir o Estado não se configuram em 
radicalmente diferentes nem ocasionam mudanças estruturais, a não ser pela desastrosa 
experiência da privatização. Isso leva a análise de que, mesmo o atual governo estando ligado à 
ideologias “trabalhistas”, ele não consegue se desvencilhar das amarras dos modelos de 
governo precedentes e muito menos dos ardis capitalistas. 
Voltando ao município de Tuparendi, é possível verificar que a esfera estatal municipal 
encontra-se estrangulada num orçamento apertado, aonde quase metade vai só para o 
pagamento do funcionalismo (cerca de 48% do orçamento é destinado ao pagamento de 
salários dos servidores públicos). Esse orçamento provém, em sua maior parte, da arrecadação 
tributária municipal, que diante das péssimas condições econômicas, é cada vez menor. Assim, 
é claro que não se dá conta da demanda de serviços. 
A Assistência Social nesse cenário é vista como a grande vilã das políticas públicas, 
como diria Montaño (2002). Ora, os “cidadãos” pagam impostos e em troca recebem, ao menos 
na teoria, os serviços da Prefeitura Municipal, que compreendem obras, saúde, educação, 
transporte, saneamento, etc. Já os usuários da Assistência Social em sua grande maioria não 
pagam tributos, como o IPTU por exemplo, causando a impressão que só retiram dos cofres 
públicos. São totalmente assistidos e não retornam nenhuma contrapartida por isso. No caso 
dos moradores da Rua E, objeto das visitas de hoje, eles não pagam IPTU e seus casebres estão 
irregulares. 
É claro que essa é uma ótica equivocada e reducionista, mas perpassa com certeza o 
imaginário dos gestores, especialmente os que tomaram posse recentemente. Ou seja, eles 
entendem que os usuários, seja da Zona Rural ou Urbana, não pagam os devidos impostos e 
somente sugam do poder público. 
Os usuários, em sua grande maioria, são moradores da Vila Progresso e da Vila Glória, 
nessa última inclusive a situação é pior nas chamadas Ruas A, B, C, D, E, F... (de tão precárias, 
nem nome receberam ainda) onde as pessoas foram se instalando sem nenhuma infra-estrutura 
de urbanização, onde não há calçamento, as habitações são inabitáveis, o esgoto corre em um 
valão ao lado da rua onde as crianças brincam. Como eles não dão o “retorno” ao poder 
público, e são considerados um “peso”, conseqüentemente os serviços prestados a eles são, 
literalmente, as sobras. 
A alimentação dessas famílias está longe de adequada aos padrões aceitáveis de 
segurança alimentar e nutricional, e o Poder Público nem sequer pensou ainda num Programa 
de Agricultura Urbana, ou seja, uma horta ou um pomar comunitários instalados no perímetro 
periurbano da cidade, o que amenizaria bastante esse problema da má alimentação, pouco 
saudável e que se reproduz nos hábitos das crianças. 
Nesse sentido, a grande vilã das políticas públicas, aquela que, ao ver dos gestores, só 
traz ônus aos cofres municipais é a assistência social. Não é a toa que a assistência social só é 
prioridade para as gestões quando se aproxima o período eleitoral, quando é “interessante” 
condicionar as pessoas pobres a idéia do “favor”. 
Mais um ponto para a crítica neoliberal ao Estado, pois na ótica do Welfare State, as 
políticas públicas, especialmente as sociais, deveriam ser vistas como responsabilidade do 
Estado e direito do cidadão. Nesse caso, a esfera municipal nem sequer se entende como 
Estado, empurrando os defeitos para as demais esferas, e ainda, não compreende a todos como 
“cidadãos”, em pé de igualdade, e sim, existem alguns que são “mais cidadãos” que os outros. 
Assim fica fácil para o capital argumentar a total inoperância do tal “Estado de Direito” que 
aqui mais parece o “Estado do Favor”, ou pior, o “Estado da Troca de Favores”. E aquele que 
não tem nada para essa troca, literalmente “sobra”. 
 
 Notas sobre o Serviço Social e prática profissional na Instituição 
 
Novamente retomando os Relatórios de Estágio I e II, não é uma questão nova a 
invisibilidade do Serviço Social e desvalorização do profissional Assistente Social dentro da 
instituição em que se realizou o Estágio Supervisionado em Serviço Social. Em parte, essa 
desvalorização vem junto com a política social que o profissional executa, a Assistência Social, 
que como já afirmado nos itens anteriores, não é prioridade para a gestão municipal, tanto a 
anterior quanto a atual. E por outro lado, decorre da própria falta de entendimento acerca da 
profissão, considerada secundária e com um forte problema de legitimação perante a sociedade 
e perante aos demais colegas da equipe e da gestão. 
Enfim, existe uma dupla subalternidade que envolve o Serviço Social: enquanto 
executor da política de Assistência Social, subalterna na instituição, e enquanto a sua posição 
de inferioridade frente a outras profissões presentes na equipe (médico, enfermeira, 
nutricionista, psicóloga, dentista). Sendo a política executada a última na lista das prioridades 
da gestão municipal, sendo o Serviço Social a última profissão em termos de status profissional 
na equipe, não é difícil imaginar a posição difícil em que se encontram as estagiárias em 
Serviço Social, que além de não terem funções especificas atribuídas, por vezes são 
consideradas um estorvo. 
Existem várias questões negativas vinculadas à profissão, e não só a nível municipal, e 
sim, sentidas por toda a categoria, aliás, sendo alvo de estudos e produções dos intelectuais da 
profissão. Já Iamamoto e Carvalho (2003) discorria sobre a “crise de legitimidade” do Serviço 
Social nas últimas décadas: isso decorre do fato do Serviço Social ter surgido legitimado pela 
ação católica, pela sua utilidade na recuperação do poder da Igreja Católica. Depois pela sua 
incorporação pelo Estado, sendo legitimado como instrumento de reprodução da ordem 
hegemônica, com perfil adequado para controlar os conflitos sociais. Assim, quando no 
Movimento de Reconceituação e posterior elaboração do Projeto Ético-Político a categoria 
rompeu com o conservadorismo, cortou o cordão umbilical que ligava as doutrinas religiosas, e 
negou as práticas funcionais ao capitalismo, e por conseqüência, rompeu com a legitimidade 
conferida pela religião e pelo capital. O Serviço Social nunca foi uma profissão requerida pelos 
segmentos que fazem uso dela. Em outras palavras, para Netto (1996), a profissão foi imposta 
pela classe dominante e não uma demanda emergente das classes usuárias. E desde então, não 
encontrou ainda uma nova forma de legitimidade. 
Traduzindo isso para a instituição e para a prática do profissional na mesma, cabe 
ressaltar que não são os usuários que reivindicam a intervenção do AssistenteSocial na sua 
comunidade, ou seja, não é uma demanda que parte deles. Os usuários não reivindicam a visita 
do Serviço Social na sua casa, e não raras vezes isso pode desembocar na resistência, 
agressividade e desconfiança do usuário. Esse paradoxo é claramente perceptível na atuação 
profissional em várias situações: os usuários não querem ou não fazem questão da presença da 
Assistente Social em suas vidas, em sua comunidade. 
A legitimação da profissão, nesse ponto de vista, não precisa ser revista somente entre 
os outros profissionais da equipe e os gestores municipais, mas sim, repensar a compreensão 
do usuário sobre o Serviço Social é profundamente necessário, e criar mecanismos para que 
eles venham a pensar a intervenção do profissional Assistente Social importante nas suas vidas. 
Como aponta Netto (1996), os assistentes sociais hoje em dia precisam competir com 
outras profissões que surgem e outras que se remodelam, e acabam por adentrar no espaço de 
intervenção do Serviço Social, como o caso da Psicologia Social, Sociologias Aplicadas. Nesse 
sentido, como diz este autor, as fronteiras profissionais não estão delimitadas: no município de 
Tuparendi, por exemplo, é muito freqüente a invasão de outras profissões no espaço de 
intervenção do Serviço Social e vice-versa, havendo uma visível confusão das atribuições 
profissionais de cada um. 
Outra questão a ser apontada para o âmbito da profissão, é a discrepância que há entre 
as produções teóricas dos intelectuais do Serviço Social e os profissionais de campo, como diz 
Netto (1996). Conforme este autor, as produções bibliográficas da categoria evoluíram muito 
desde a década de 80, especialmente depois da adoção da teoria marxista como norte para as 
interpretações e leituras profissionais. Mas segundo ele, a produção de conhecimento não 
chega até os profissionais que atuam cotidianamente nos vários campos de trabalho. 
Essa distância do conhecimento teórico acumulado e a prática profissional é uma 
discussão profundamente presente no Serviço Social. Cabe ao profissional formado e atuante 
buscar constante qualificação, ou seja, “reciclar-se” profissionalmente, sob o risco de tornar a 
prática profissional vazia, rotineira e sem nenhum embasamento. 
Segundo Netto (1996), as transformações pelas quais passa a sociedade e as suas 
implicações na questão social, são enfrentadas e respondidas pelos profissionais em uma 
situação desfavorável. Para ele, os profissionais Assistentes Sociais agem inseguros por conta 
de uma formação profissional frágil, pela competição com outros profissionais aparentemente 
mais seguros e legitimados, condicionados pelas heranças conservadoras que ainda estão 
presentes em relação a seus papéis. De acordo com Netto (1996, p. 111), “é freqüente uma 
atitude defensiva e pouco ousada dos assistentes sociais em face as novas demandas, o que 
acarreta a perda de possibilidades de ampliação do espaço profissional”. Em sintese, essa frase 
citada resume a situação do Serviço Social e do profissional Assistente Social no município de 
Tuparendi, especialmente na instituição em que se realizou o estágio. 
Para Montaño (1999), a categoria profissional precisa buscar a sua re-legitimação “por 
meio da qualificação, da pesquisa e resposta às demandas emergentes (...)”. Nesse sentido, não 
é possível prostrar-se diante da invisibilidade da profissão, da desvalorização do Assistente 
Social frente aos demais profissionais, da subalternidade e falta de autonomia dentro das 
instituições em que trabalha, sendo necessárias estratégias para a modificação desse quadro, 
especialmente no que tange a elaboração de respostas criativas, ousadas e em consonância com 
as necessidades e reivindicações da população usuária. 
 
 Projeto de Intervenção Profissional: as possibilidades e as limitações 
 
Conforme as exigências do Estágio Supervisionado II, elaborou-se um Projeto de 
Investigação e Intervenção Profissional, a ser aplicado na referida instituição. Foi construída 
uma proposta de intervenção baseada na inclusão digital de crianças e adolescentes 
participantes do PETI, a fim de integrá-los ou pelo menos iniciá-los no mundo da tecnologia e 
da informação. 
No município de Tuparendi são muitas as famílias que não tem condições financeiras 
de pagar pela qualificação dos seus filhos, mesmo quando se trata de apenas um curso de 
informática básico, que custa de R$ 30,00 a R$ 40,00, dependendo da empresa escolhida. Essa 
é com certeza, uma forma de exclusão social, denominada atualmente como “exclusão digital” 
por autores como Sorj e Guedes (2005), e Almeida e Paula (2005). 
Essa forma de exclusão está elencada pela ONU, ao lado da fome, da miséria e do 
desemprego, como um dos problemas mais contundentes na atualidade. Na sociedade 
brasileira, assim como as demais sociedades em países periféricos, a situação de exclusão é 
agravada pela condição de dependência quanto aos recursos tecnológicos (DURAES, 2007). 
O governo brasileiro, segundo Neto e Carvalho (2007), vem investindo na inclusão 
digital através da implantação de Telecentros em áreas de concentração de vulnerabilidade 
social, e também desenvolveu um software livre, o Linux, que é grátis e pode ser usado como 
alternativa ao tradicional Windows. Este software, segundo Pires (2002), representa o carro 
chefe da política pública de inclusão digital do governo brasileiro. 
Assim, sendo uma demanda existente a nível global, representando uma boa parcela dos 
esforços do governo brasileiro, a inclusão digital torna-se um tema pertinente a ser adotado 
pelo Serviço Social. Essa demanda, no contexto institucional, fez-se presente na pesquisa de 
Liamara Coldebella, no ano de 2008, com as crianças e adolescentes do PETI e seus 
responsáveis: quando perguntados pelas atividades que gostariam de ter no programa, as 
crianças responderam em primeiro lugar o acesso a atividades de informática, empatada esta 
opção com as atividades artísticas (dança, teatro, música). 
Entretanto, este projeto não foi considerado pela supervisora, e não chegou ao 
conhecimento dos gestores de 2008. Sendo assim, atualmente ele está sendo aplicado como 
atividade externa e independente do Estágio Supervisionado em Serviço Social, com base na 
utilização de trabalho voluntário e com a ajuda do Conselho Tutelar. 
Ao longo do semestre, foram apresentadas outras propostas de intervenção, com base 
nas demandas apresentadas, tais como: um grupo para desenvolvimento de atividades sócio-
educativas na Vila Progresso, onde há menor incidência da intervenção do poder público, 
direcionado para adolescentes, a implantação de uma horta comunitária no perímetro 
periurbano da Vila Glória, onde as famílias pudessem trabalhar em conjunto e posteriormente, 
ter acesso aos alimentos produzidos, conforme as necessidades e tamanho das famílias. 
Neste semestre, então, foi acenada com a possibilidade de aplicação do Projeto de 
Inclusão Digital, para crianças e adolescentes oriundos de famílias beneficiárias do Programa 
Bolsa Família, no contexto institucional, com recursos provenientes do Índice de Gestão 
Descentralizada – IGD. Então, foi reformulado o projeto anterior, que utilizava o trabalho 
voluntário, adaptando-o ao contexto institucional e às preferências da supervisora de campo 
(Projeto reformulado em anexo). 
Entretanto, por problemas nos processos de licitação, o referido projeto começou a ser 
aplicado apenas em 01 de julho de 2009, não sendo possível aplicá-lo no tempo hábil de 
estágio. E além disso, todo o processo de aplicação foi realizado pela supervisora. Então, como 
última tentativa de aplicação de um Projeto de Intervenção Profissional na instituição, 
apresentou-se uma nova proposta: o Projeto Reconhecer para Libertar (em Anexo). 
O projeto refere-se a prevenção do abuso sexual, demanda extremamente latente no 
município de Tuparendi, depois de casos muito graves que chegaramao conhecimento da 
população: duas meninas, de famílias diferentes, de 11 e 12 anos, grávidas, e cujo suspeito do 
abuso são seus respectivos pais biológicos. Além do abuso sexual doméstico, há casos de 
abuso sexual extrafamiliar, ou seja, crianças que são vítimas de abuso por estranhos, ou ainda, 
de exploração sexual visando lucro por adultos aliciadores de menores. 
Essas situações que já não podem ser negadas, causam a revolta da sociedade em geral, 
e há uma cobrança por ações do poder público, tanto para o atendimento qualificado e a 
proteção dessas vítimas, quanto para a prevenção de novos casos. Nesse sentido, elaborou-se o 
projeto, sendo entregues cópias para a supervisora Elizabét Cabaldi, para a Diretora de Ação 
Social Carla Lisiane Sonza e para o Secretário Municipal de Saúde Valdemar Fonseca. 
Providenciou-se cópia também para outros órgãos envolvidos com esta temática: Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho Municipal de 
Assistência Social e Secretaria Municipal de Educação, para que todos tomem conhecimento e 
fiquem cientes de que a iniciativa existe, e se não for colocada em prática, é por negligência e 
falta de esforços coletivos. 
Como o Estágio Supervisionado em Serviço Social III tem seu término nesse semestre, 
no mês corrente (julho/2009), a proposta feita é que a proposta seja aplicada mesmo assim, não 
mais como vínculo de estágio, mas como prestação de serviço voluntário, com recebimento de 
horas para as atividades complementares do curso de Serviço Social. Até o presente momento, 
supervisora de campo e diretora de ação social estão analisando a proposta e ainda não 
retornaram sobre a possibilidade de aplicação do projeto. 
 
3. Avaliação do Processo Pedagógico 
 
 
 Avaliação do Processo Pedagógico de Formação Profissional 
Ao fim da experiência de Estágio Supervisionado em Serviço Social, realizada em três 
semestres de 100 horas cada um, algumas considerações avaliativas devem ser feitas. Em 
primeiro lugar, cabe ressaltar que todos os recursos pedagógicos foram de grande importância 
e contribuíram muito para a apreensão de conhecimentos, exercício intelectual e prática 
profissional, tendo como exemplo o diário de campo, instrumento de diálogo entre acadêmico e 
supervisor. 
As avaliações e atividades propostas também podem ser classificadas como 
satisfatórias, criativas e que exigiram permanente esforço e dedicação por parte do aluno. O 
aspecto negativo, como já apontado em outros relatórios, é o fato de que os encontros do 
componente curricular são quinzenais: nesse sentido, dada a importância dessa disciplina, 
acredita-se que os encontros de supervisão acadêmica deveriam ser individuais. 
Todos os mecanismos de avaliação e de aprendizado podem ser considerados 
satisfatórios, entretanto, talvez fosse necessário que a instituição fizesse uma avaliação prévia 
do profissional que irá supervisionar o acadêmico, a fim de assegurar que aquele campo de 
estágio realmente será benéfico para o aprendizado do estagiário, proveitoso para a formação 
profissional e para a relação teórico/prática, por dois motivos em especial: há uma profunda 
fragilidade teórica e prática no caso de alguns supervisores de campo, que não propicia ao 
aluno uma interação proveitosa para seu acúmulo de conhecimento, e existem campos de 
estágio onde a própria instituição não tem claro o motivo em aceitar estagiários, as funções a 
lhes serem atribuídas e seu papel dentro da instituição, tornando o estágio vazio e inviável. 
 
 Avaliação dos objetivos propostos no Estágio Supervisionado III 
 
Os objetivos pessoais em relação ao estágio, na maior parte, não foram alcançados: a 
prática do exercício profissional ficou distante na medida em que a supervisora de campo só 
permite as estagiárias observarem, estendendo essa observação ao Estágio I, II e III. A 
supervisora tem muita resistência a discutir os problemas existentes com base nos 
conhecimentos acumulados pelo estagiário no espaço acadêmico, sempre afirmando que a 
teoria não “se aplica” na prática. 
Não é possível também planejar as atividades a serem realizadas no dia do estágio: 
primeiro, por que as estagiárias não têm funções específicas em seus dias que freqüentam o 
campo, e segundo, por que nunca é informado o que se pretende fazer na próxima semana. Não 
há planejamento por parte da supervisora e assim, inviabiliza o planejamento enquanto 
estagiária também. 
Não foi possível a aplicação no contexto institucional da primeira proposta de 
intervenção, dada a não aceitação da supervisora. A despeito disso, elaborou-se uma segunda 
proposta, que está sob sua análise, não tendo retorno até o presente momento. 
Acredita-se que foi possível realizar análise de conjuntura do município de Tuparendi, 
relacionando com as esferas estadual e nacional, sendo que essa leitura de realidade pode ser 
aprofundada continuamente ao longo dos três estágios. Também foi possível traçar um perfil 
geral das famílias usuárias da política de Assistência Social do município de Tuparendi, não 
deixando de considerar é claro, as peculiaridades de cada caso. 
Foi possível também realizar o relato das atividades realizadas no cotidiano de estágio, 
embora estas tenham sido pobres de intervenção profissional, e mais ricas em observação. 
Procurou-se estabelecer, sempre que pertinente, a relação teórico-prática de tal relato, a fim de 
enriquecer as reflexões sobre os fatos com os quais se teve contato empírico. 
Adotou-se uma postura propositiva em relação a superação dos problemas existentes 
constatados ao longo da experiência de estágio, e buscou-se a elaboração de sugestões para a 
potencialização do trabalho do Assistente Social, especialmente quanto a sua visibilidade e 
valorização perante a colegas e usuários. Independente dessas sugestões terem sido aceitas ou 
não, foi um exercício muito importante que contemplou os objetivos propostos no Plano de 
Estágio. 
A colaboração enquanto estagiária se deu principalmente na elaboração de projetos, 
documentos, pareceres sociais, enfim, produções documentais que exigissem conhecimento 
teórico. Nessas situações foi possível aplicar o conhecimento adquirido em ambiente 
acadêmico, especialmente em relação aos processos de trabalho do Assistente Social. 
Há que se ressaltar também a descontinuidade, a ruptura entre as demandas: como o 
estágio se realiza apenas uma vez por semana, a demanda acompanhada em um determinado 
dia de estágio não tem continuidade, visto que demora até que se tenha contanto novamente 
com o campo de estágio. Por vezes, a estagiária tem contato com a demanda no seu início, mas 
não chega a acompanhar o seu desfecho. Outras vezes, os casos são acompanhados pela 
metade e não é possível saber como começou. Ainda, muitas demandas são finalizadas sem 
que tenham sabido quais as providências tomadas ao longo do caso. Assim, essas rupturas 
tornam o estágio supervisionado fragmentado e descontínuo. 
 
 Avaliação do Processo de Supervisão 
 
 
 Supervisão Acadêmica 
 
A supervisão acadêmica foi satisfatória, visto que a professora elencada para ser 
supervisora desta turma nos três estágios é profundamente dedicada ao que faz, sempre 
procurando atender as necessidades dos acadêmicos, trazendo materiais novos para estudo e 
inovando em atividades criativas. 
O fato de ter sido a mesma supervisora nos Estágios I, II e III, longe de atrapalhar em 
alguma coisa, foi bastante positivo, no sentido do reconhecimento das dificuldades de cada um, 
no esforço em auxiliar o acadêmico a superá-las, e no conhecimento daqueles pontos frágeis 
onde é preciso exigir mais, cobrar mais. 
Sempre recebemos orientações detalhadas sobre a construção de todos os instrumentos 
de avaliação, e ainda, em todas as vezes que foi necessário, tivemos acesso a supervisões 
individuais, a fim de compreender com mais maturidade os conflitos surgidosno decorrer do 
Estágio. 
Aquilo que para alguns é entendido como cobrança, interpreta-se aqui como estímulo, 
na medida em que o professor está realmente comprometido com o aprendizado do acadêmico, 
e assim, busca-se empenho e dedicação em todas as atividades. 
 
 Supervisão de Campo 
 
A supervisão de campo, no geral, deixou a desejar pelos seguintes pontos: não 
atribuição de funções específicas à estagiária, não permissão de efetiva prática profissional, 
não colaboração e aceitação quanto à aplicação do Projeto de Intervenção Profissional, não 
relação da atividade profissional com a teoria. 
Não é atribuída - como já foi evidenciado neste relatório - uma função especifica para 
as estagiárias, sendo que a supervisora decide na hora o que será feito naquele dia. Isso 
inviabiliza qualquer tentativa de planejamento das atividades de uma semana para a outra. 
Várias vezes, apresentaram-se sugestões para que a supervisora apontasse um trabalho a ser 
realizado, nos campos em que o atendimento do Serviço Social estaria frágil, como por 
exemplo, o PETI e a Escola Especial, mas as sugestões não surtiram efeito. 
Sendo assim, as atividades de estágio estavam mais condicionadas a observar as 
atuações profissionais, havendo às vezes algumas indicações, mas que decididas na hora, não 
possibilitaram planejar atividades, como por exemplo, nas visitas feitas ao PETI. 
A supervisora não permite nenhuma autonomia da estagiária em relação à prática 
profissional: não permite que sejam feitas visitas, entrevistas, atividades, acompanhamento de 
grupos, etc. No que tange a esse aspecto, a experiência profissional foi muito frágil. 
A supervisora de campo também não demonstrou nenhum interesse em colaborar na 
aplicação da proposta interventiva, e não raras vezes, colocou obstáculos a ela. Todas as 
propostas apresentadas não foram aceitas, e quanto à última proposta apresentada, ainda está 
analisando mas com poucas perspectivas de aceitação. 
Existe uma distância muito grande da prática profissional realizada nesse campo de 
estágio com as teorias pertinentes à profissão, e produções intelectuais pertinentes à profissão 
nas últimas décadas. Há um viés extremamente conservador e reformador, o que destoa com o 
Projeto Ético-Político da categoria, e que entra em choque constante com os conhecimentos 
apreendidos em âmbito acadêmico. 
 O fato de maior desagrado dentre todos compreende o fato de ter realizado sozinha 
vários relatórios, estudos, pareceres, projetos, os quais depois foram assinados somente pela 
supervisora. No espaço acadêmico houve a orientação de que seria possível assinar as 
construções juntamente com a Assistente Social, porém não sozinha. Acredita-se que, 
eticamente, esta seria a opção mais correta, e o fato de construir documentos importantes para 
serem assinados como se fossem de outra pessoa, é desestimulante e desvalorizante. 
 
 Auto-Avaliação 
 
Neste estágio III, houve uma desistência de bater de frente com a supervisora de campo, 
e também uma mudança na forma de dar opiniões e sugestões, na tentativa de diminuir o clima 
de conflito que sempre permeou o cotidiano de estágio. Muitas vezes, as situações vivenciadas 
se chocavam com os princípios pessoais, e também profissionais, mas procurou-se assumir 
uma postura mais retraída e menos questionadora. 
Talvez essa retração tenha tornado o estágio entediante, repetitivo e rotineiro, mas a 
postura mais prudente evitou novos atritos. Entretanto, minha mudança de atitude não 
modificou em nada a postura hostil da supervisora. 
Modificou-se o comportamento, evitando situações que parecessem hostis. Mas o 
principal foi o amadurecimento intelectual, uma vez que foram muitas as leituras e reflexões 
realizadas, muitas vezes não contempladas no diário de campo ou nos documentos de 
avaliação, mas presentes no cotidiano. As leituras nesse período foram intensificadas, 
especialmente no sentido de compreender a sociedade de forma mais ampla e profunda. 
Infelizmente, não foi possível o aprofundamento acerca da profissão no campo prático, 
mas foi uma experiência muito rica em termos subjetivos. A elaboração das produções 
acadêmicas, como o diário de campo e outros documentos, ficou prejudicada pelo acúmulo de 
tarefas decorrentes dos sete componentes curriculares, entre eles, o de Trabalho de Conclusão 
de Curso I. 
 
Referências Bibliográficas 
 
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MONTAÑO, Carlos. Das lógicas do Estado às lógicas da Sociedade Civil. Revista Serviço 
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SORJ, Bernardo; GUEDES, Luiz Eduardo. Exclusão Digital: problemas conceituais, 
evidências empíricas e políticas públicas. Revista Novos Estudos, nº 72, Julho, 2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO I 
 
Mapa de Tuparendi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO II 
 
Projeto Reconhecer para Libertar 
 
Prefeitura Municipal de Tuparendi 
Estado do Rio Grande do Sul 
 
1. Identificação 
 
Titulo do Projeto: Reconhecer para Libertar 
 
Instituição Responsável: Prefeitura Municipal de Tuparendi – Secretaria Municipal de Saúde 
e Ação Social 
 
Responsável pela instituição: Prefeito Municipal Itálico Cielo – Secretário Municipal de 
Saúde e Ação Social Valdemar Fonseca e Diretora de Ação Social Carla Lisiane Sonza. 
 
Equipe: Estagiária em Serviço Social Juliana Costa Meinerz Zalamena 
 
Supervisão Acadêmica: Lislei Teresinha Preuss 
 
Supervisão de Campo: Elizabét da Silva Cabaldi 
 
 
2. Apresentação 
 
Este projeto tem como eixo temático a questão do abuso sexual, com ênfase no abuso 
sexual intrafamiliar. A demanda posta para o Serviço Social compreende a existência 
comprovada de vários casos de abuso sexual doméstico no município de Tuparendi, situação 
que leva a sociedade a fazer cobranças de ações não só de tratamento, mas também preventivas 
sobre esta questão. O objeto do presente projeto é, portanto, a prevenção do abuso sexual 
contra crianças e adolescentes, envolvendo estes e outros sujeitos sociais, como família, 
profissionais e sociedade em geral. 
A ação profissional do ServiçoSocial neste caso, compreende a elaboração de um plano 
de ação para a prevenção de novos casos de abuso sexual no município, utilizando-se dos 
processos de trabalho e da instrumentalidade do Serviço Social. O primeiro diz respeito as 
ações sócio-educativas a serem realizadas com toda a comunidade tuparendiense, utilizando-se 
de vários instrumentos, tais como: oficinas de orientação, reunião expositiva, diálogo, 
esclarecimento de dúvidas, palestra, folder informativo e utilização da mídia como fonte de 
democratização de tais informações. 
O eixo de discussão abordado diz respeito as formas de violação dos direitos das 
crianças e adolescentes, especialmente no que concerne o abuso sexual doméstico e outras 
formas de exploração da sexualidade infanto-juvenil. Esta é uma realidade inegável e latente 
no município de Tuparendi, comprovada pela emergência simultânea de casos graves 
envolvendo abuso sexual, tanto por parte de pessoas estranhas quanto por membros da própria 
família. 
No desenvolvimento deste projeto, consta um breve diagnóstico da realidade municipal, 
em relação a situação de vulnerabilidade em que se encontram muitas famílias. Sabe-se que o 
abuso sexual não em um fato existente somente em famílias e comunidades de baixa renda, 
sendo uma realidade que ultrapassa as fronteiras de classe social, idade e gênero. Mas também 
é de conhecimento dos profissionais das áreas afins que a situação de vulnerabilidade social é 
um agravante para esses casos, na medida em que é mais comum os rompimentos dos vínculos 
familiares e a descaracterização dos papéis dos membros da família. 
Em seguida, expõe-se as principais justificativas acerca da importância deste projeto 
para a comunidade tuparendiense, e principalmente para que sejam desenvolvidas ações de 
prevenção ao novos casos no município. Posteriormente, aponta-se os objetivos geral e 
específicos deste projeto, bem como o referencial teórico utilizado para dar embasamento as 
afirmações feitas no decorrer do mesmo. 
Busca-se, através da metodologia do projeto, detalhar o plano de ação e as iniciativas 
que o compreendem, de forma minuciosa, a fim de que crianças e adolescentes possam ser 
orientados acerca desse tema, integrando a família, profissionais ligados e comunidade em 
geral nesse processo. 
Por fim, expõe-se a proposta de seqüência das atividades no cronograma físico, os 
recursos humanos e materiais necessários, o montante financeiro a ser utilizado no cronograma 
financeiro e as bibliografias utilizadas como referência. 
 
3. Diagnóstico 
 
Sabe-se que vivemos em uma sociedade capitalista, dividida em classes sociais pela 
divisão social do trabalho, em que há uma polaridade entre cidadãos incluídos e cidadãos 
excluídos da ordem social oficial. Existe portanto, uma discrepância entre aqueles que possuem 
muito e aqueles que não possuem nada, um abismo entre ricos e pobres, típico da sociedade 
capitalista. 
O capitalismo instituiu também o que comumente denomina-se “questão social”: o 
conjunto de problemas decorrentes das contradições e dos conflitos entre capital – os donos 
dos meios de produção – e trabalho – aqueles que nada possuem além de sua força de trabalho 
para vender em troca de um salário. 
A exclusão social da qual a maioria da população é vitima, tem sido agravada nas 
últimas décadas pelas novas características do capitalismo tardio e seu projeto neoliberal de 
reestruturação capitalista, como denomina Netto (1996), cujas transformações societárias 
decorrentes causam profundas metamorfoses nos aspectos econômicos, produtivos, sociais, 
culturais e políticos. 
A sociedade brasileira, segundo Montaño (2002), não é imune a essas transformações 
decorrentes dessa nova forma de organização do capitalismo. Pelo contrário, as manifestações 
da “velha” questão social são agravadas, e concomitante a isso, surgem novas refrações que 
exigem novas respostas, especialmente da categoria profissional do Serviço Social, que lida 
diretamente com essas últimas. 
A situação brasileira frente a essas transformações societárias, segundo Netto (1996), é 
agravada pela própria peculiaridade de sua formação sócio-histórica, ou seja, a característica de 
país dependente e periférico. Dessa forma, o município de Tuparendi, embora distante dos 
grandes centros e com características próprias em relação a outras regiões e municípios, 
também não fica alheio a tais transformações, que segundo Netto (1996), são um conjunto de 
vitórias do grande capital e em nada somam para as classes subalternas. 
O município de Tuparendi possuía na última PNAD (IBGE, 2007), o número de 8.793 
habitantes, dos quais a maioria estavam concentrados na Zona Urbana. São poucas as famílias 
que ostentam características de classe alta. De acordo com o Atlas do Desenvolvimento 
Humano (PNUD, 2000), apenas 10% da população concentram 42,48% da renda, e por outro 
lado, 80% da população mais pobre acumula somente 41,90% da renda. 
 É uma minoria também que são assalariados, com Carteira de Trabalho regular e uma 
situação estável de vida, comuns a classe média. Uma grande parcela da população sobrevive 
do trabalho informal, isento de direitos sociais e sujeito a contingências, mas que, entretanto, 
conseguem manter um certo padrão razoável de vida. 
O objeto mais significativo de intervenção do Serviço Social na instituição citada vem a 
ser, justamente, aqueles que, vítimas de muitos tipos de exclusão social, sem qualificação 
profissional, sem condições de moradia, com empregos temporários, esporádicos e precários, 
não conseguem dar conta das suas despesas cotidianas. Muitas dessas famílias não possuem 
nenhuma espécie de rendimento próprio, e sobrevivem graças ao beneficio do Programa Bolsa 
Família e auxílios da Assistência Social para suprir necessidades emergenciais, especialmente 
a alimentação, vestuário e medicação. 
A situação de vulnerabilidade é agravada por fenômenos como o êxodo rural, que 
causam a urbanização descontrolada da cidade, e a exclusão do mercado de trabalho formal, já 
que as poucas vagas que existem exigem uma qualificação que a maioria não possui, e 
invariavelmente são mal remuneradas. Uma grande parcela não se encaixa nas exigências do 
competitivo mercado local, não conta com nenhuma espécie de capacitação e em geral, possui 
uma escolaridade muito aquém do necessário, restando para estes os postos mais mal 
remunerados ou então, o desemprego. Essa exclusão do mercado de trabalho exige que estes 
habitantes usem da criatividade para sobreviver, inventando formas de sobreviver, aderindo ao 
trabalho informal e temporário. 
No espaço sócio-institucional verifica-se a existência de inúmeras famílias 
vulnerabilizadas, em diversos aspectos, principalmente economicamente, dada a quantidade de 
famílias que de alguma forma, precisam ser auxiliadas, seja com gêneros de primeira 
necessidade, medicamentos, materiais de construção, etc. A Diretoria de Ação Social conta, em 
seu arquivo, com 1236 Fichas Sócio- Econômicas (FSE), sendo que destas apenas 34 
pertencem a cidadãos já falecidos. 
Esta situação é causada por diversos fatores, entre eles a descapitalização da 
agricultura, o êxodo rural e as oportunidades de emprego escassas, para que as famílias possam 
prover o sustento de seus membros com uma certa tranqüilidade. As crianças e adolescentes 
provenientes destas famílias são vítimas de várias formas de exclusão social, de preconceitos, 
falta de oportunidades, etc. 
A população de Tuparendi decresceu consideravelmente nas últimas décadas. Em 1991, 
a população que era de 9843 habitantes, caiu em 2000 para 9542 habitantes (PNUD, 2000). 
Recentemente, a PNAD (2007) apontou que o município de Tuparendi conta atualmente com 
uma população de 8793 habitantes. Enquanto a população, em seu total, diminui, a parcela que 
se encontra em vulnerabilidade social aumenta consideravelmente. 
De acordo com o relatóriode administração de 1983/1985, a Secretaria de Bem Estar 
Social e Desenvolvimento Comunitário (ou Núcleo da LBA) tinham uma média de 112 
famílias que freqüentemente procuravam por auxílios. No relatório da gestão municipal de 
1989 a 1992, o levantamento sócio-econômico do município apontava para 240 famílias 
cadastradas. Posteriormente, no relatório de atividades da gestão 1997/2000, encontramos um 
número aproximado de 331 famílias atendidas pelos auxílios da Diretoria de Ação Social. Em 
comparação a hoje, quando são cadastradas nas Fichas Sócio-Econômicas 1236 pessoas, é 
possível afirmar que as famílias em vulnerabilidade social, atendidas pela assistência social, 
têm aumentado drasticamente. 
Feita esta contextualização da situação geral do município de Tuparendi, em relação a 
pobreza e a exclusão social, direciona-se nos próximos itens a discussão mais aprofundada em 
torno do eixo temático do projeto. 
4. Justificativa 
 
Empiricamente, pode ser feita a afirmação de que o abuso sexual intrafamiliar é uma 
realidade profundamente latente no município de Tuparendi/RS. Embora não seja a única, e a 
demanda mais significativa e grave que exige respostas imediatas e qualificadas do poder 
público municipal e do Serviço Social, em especial. 
Segundo dados obtidos no Conselho Tutelar de Tuparendi/RS, é atendida nesse órgão 
uma média de oito a dez casos a cada ano, englobando principalmente casos em que o agressor 
é uma pessoa da família da criança ou adolescente, que tem parentesco ou afinidade. Utiliza-se 
como exemplo, o caso das duas meninas, de 11 e 12 anos, de famílias diferentes, que estão 
grávidas, e cujo suspeito do abuso são os pais biológicos. Em outro caso, de forte repercussão 
na mídia, um motorista do transporte escolar é acusado de abusar sexualmente de crianças que 
transportava diariamente para a escola. 
Esses casos chegaram ao conhecimento da população, e causaram sentimento de revolta 
geral. Mas entre outras coisas, a emergência desses casos à público, significa que as dimensões 
do problema a ser enfrentado são muito mais relevantes, já que são raros os casos desvendados, 
e a maior parte deles fica encoberto pelo silêncio das famílias, por vezes para sempre. 
O prejuízo para o desenvolvimento das vítimas é enorme, causando danos e traumas 
que duram por toda uma vida, e são multiplicados no caso do abusador ser uma pessoa na qual 
a criança confia, se sua duração for prolongada e protegida pelo complô do silêncio, e ainda, se 
não houver nenhuma intervenção por parte de profissionais capacitados no tratamento das 
vitimas, da família e também do agressor, que embora deva ser responsabilizado, também 
necessita de atendimento. 
Nesse sentido, é indispensável que o poder público, em especial a área da saúde e 
assistência social venha a desenvolver ações direcionadas tanto ao tratamento dos casos 
suspeitos ou identificados, e na prevenção de novos casos. Essa ação precisa ser abrangente: 
deve envolver crianças e adolescentes, as famílias, os profissionais envolvidos diretamente 
com a infância e juventude, e deve atingir também a opinião e sensibilidade da comunidade em 
geral. 
As ações de prevenção e a identificação precoce dos casos de abuso são fundamentais 
na medida em que só assim será possível evitar que os direitos de muitas crianças e 
adolescentes sejam violados, que muitos casos fiquem em segredo, muitas vítimas fiquem 
desprotegidas e desassistidas, e que muitos agressores fiquem em pune, reproduzindo 
comportamento e fazendo novas vítimas. 
O abuso sexual é um crime, e a negligência em relação a ele também. Sendo assim, 
nenhum cidadão pode se omitir diante dessa realidade grave e preocupante, e por isso este 
projeto vem ao encontro da necessidade do poder público municipal em elaborar respostas 
urgentes a esse fenômeno. 
A informação e a orientação, universalizada e acessível a todos é a principal arma para 
prevenir situações de risco a que crianças e adolescentes são expostas no ambiente social em 
que vivem, e na família, que deveria ser o espaço de proteção e segurança para elas. Essas 
situações são difíceis de serem identificadas, pelo caráter de segredo, por acontecerem em 
famílias normais acima de qualquer suspeita e pela indiferença da sociedade. 
É imprescindível a realização das ações previstas nesse projeto, a fim de que toda a 
sociedade assuma seu papel em proteger os direitos das crianças e adolescentes, ajudando a 
identificar e denunciando casos suspeitos. Todos os segmentos da sociedade devem estar 
conscientes de que o abuso sexual é crime, e que é um dever denunciar. 
As crianças e adolescentes precisam ser orientados em relação às formas de se 
protegerem, de relatarem sempre quando algo incomum acontecer, quando ao bom toque, ao 
mau toque e ao toque malicioso, de procurarem ajuda de um adulto. Por sua vez, a família 
precisa estar ciente da necessidade de sempre acreditar na criança e procurar ajuda 
imediatamente, fazendo queixa em órgãos competentes e encaminhando a vítima para o 
tratamento adequado. 
Outros agentes precisam ser orientados quanto à identificação do abuso, principalmente 
nos locais onde a criança passa seu tempo, como por exemplo, a creche, a escola, tomando 
também as providências cabíveis. Por outro lado, toda a sociedade deve estar comprometida, 
orientada e esclarecida a esse respeito, cientes da responsabilidade de denunciar casos 
suspeitos e empenhados na defesa dos direitos das crianças e adolescentes. 
 
5. Objetivos 
 
 5.1 Objetivo Geral 
 
Realizar oficinas educativas de caráter preventivo nas escolas do município de 
Tuparendi/RS sobre a temática do abuso sexual. 
 
5.2 Objetivos Específicos 
 
� Orientar crianças e adolescentes sobre o abuso sexual através de oficinas nas escolas; 
� Realizar atividades específicas com a família das crianças e adolescentes em forma de 
palestras; 
� Realizar uma palestra de capacitação para profissionais ligados à infância e à adolescência 
sobre formas de identificação e providências a serem tomadas; 
� Elaborar um folder informativo para ser distribuído à população em geral contendo 
informações centrais acerca do abuso sexual; 
� Utilizar espaços na mídia escrita e falada local para esclarecimentos sobre a temática. 
 
6. Referencial Teórico 
 
Buscando conceituar brevemente o que é abuso sexual, utiliza-se dos estudos de 
Azevedo e Guerra (1989), que afirmam que se trata de toda a vitimização sexual, relação 
heterossexual ou homossexual entre um ou mais adultos e uma criança e/ou adolescente, menor 
de 18 anos, como forma de estimulá-los sexualmente ou obter estímulo para si. 
No caso do abuso sexual doméstico, o adulto agressor que comete essa vitimização 
sexual é alguém com que a criança e/ou adolescente tenha laços de parentesco, 
consangüinidade, afinidade ou responsabilidade, como pais biológicos ou adotivos, padrastos, 
avôs, irmãos, tios, primos, tutores, etc. (AZEVEDO e GUERRA, 1989). 
É importante ressaltar que este abuso sexual não compreende apenas o ato sexual em si, 
ou seja, a penetração anal ou vaginal, e sim, diz respeito a todo contato sexualizado, como a 
exposição da criança a nudez, manipulação dos genitais, exposição a materiais pornográficos, 
etc. (GUERRA, 1998 apud NEVES e ROMANELLI, 2006). 
As condições em que isso acontece, segundo Neves e Romanelli (2006), são as mais 
diversas, não estando o fenômeno do abuso sexual intrafamiliar restrito as classes econômicas 
subalternas. É uma situação que existe independente da condição social, gênero ou idade. A 
diferença básica é que nas classes mais baixas, há propensão a agravantes ligados diretamente a 
condição de vulnerabilidade social, e além disso, como não há privacidade, os casos são 
identificados mais facilmente. 
A vitima tem perfis também variados, sendo, como afirma Azambuja (2004), na 
maioria das vezes meninas, por que, por serem mais frágeis se tornampresas fáceis, muito 
embora essa não seja uma regra, pois existem muitos casos de crianças do sexo masculino que 
são abusadas sexualmente. Além disso, o abuso acontece mais com vítimas do sexo feminino, 
conforme essa autora, em decorrência da histórica dominação do homem sobre a mulher, 
colocando esta última – e a sua sexualidade – a serviço do mais forte. 
O senso comum muitas vezes aponta para um “consentimento” da vítima, como uma 
forma de desviar a responsabilidade do agressor: vale ressaltar que, segundo Saffiotti (1995), 
em situações de abuso sexual “ceder” não é sinônimo de “consentir”, pois o agressor usa-se 
dos sentimentos da vítima para vencer a sua resistência, indo desde a sedução, manipulação da 
culpa, medo e vergonha da criança, do seu medo da desintegração familiar, e por fim, da 
ameaça e da violência física. 
O agressor não necessariamente pode ser acometido de alguma patologia, nem mesmo 
apresentar sinais claros de ser um abusador sexual. São pessoas normais, e muitas vezes, acima 
de qualquer suspeita. Segundo Azambuja (2004), esta agressor pode ter distúrbios 
psicológicos, dificuldade de se aceitar, baixa auto-estima, necessidade de exercer poder e 
dominação sobre outras pessoas. Além disso, embora não seja uma regra, Furniss (1993) 
aponta que alguns agressores podem ter sido vítimas de abuso na infância e transferem essa 
situação para a vítima. De acordo com Santos (1991), os pais são os principais abusadores de 
suas próprias filhas. 
As famílias incestuosas são aquelas em que o abuso sexual contra crianças e 
adolescentes acontecem (Furniss, 1993), mas é conveniente lembrar que nem todo incesto é 
sinônimo de abuso sexual, já que podem haver relações entre dois adultos que estejam 
impedidos pela lei e pelos costumes de manter relacionamento sexual ou se casarem. 
Na maioria dos casos, o abuso é mantido em segredo, que Furniss (1993) chama de 
complô do silêncio. A família, segundo Cunha (2005) apud Azambuja (2004), protege este 
segredo por um muro de tabus, medos, culpas e vergonhas, ou ainda, num contexto de 
dependência financeira e emocional do agressor, além das ameaças e agressões. Araújo (2002) 
relata que o agressor utiliza-se de vários mecanismos para perpetuar o abuso e seu exercício de 
poder sobre a vítima. 
A mãe, ou o adulto não abusador não pode ser considerado sempre um agente de 
proteção para a criança. Embora, como aponta Oliveira (2004) quando existe a proteção 
materna, as chances do abuso ser rompido antes de ter maiores conseqüências é grande, em 
muitos casos a mãe não assume essa postura e sim, posiciona-se em defesa do agressor. 
Entretanto, como aponta Azambuja (2004), essa conivência com o abuso sexual praticado 
contra os filhos, pode ser explicado pela dependência econômica e emocional das mulheres em 
relação ao companheiro, ou ainda, ao fato desta também estar sendo agredida e ameaçada. 
Embora, como já dito, o abuso sexual possa acontecer em qualquer ambiente social, 
com qualquer pessoa, não implicando na existência de um perfil de famílias incestuosas e de 
agressor, Matos et al (2003) apud Azambuja (2004), apontam como fatores de risco a 
vulnerabilidade social, os relacionamentos familiares pautados no poder e no medo, o uso de 
drogas lícitas e ilícitas, a violência, a ausência do afeto materno e da presença materna no lar, a 
negligência dos pais. 
Mees (2001) apud Azambuja (2004) apontam que o abuso sexual, especialmente 
quando praticado por pessoas em quem a criança confia, traz implicações físicas e psicológicas 
para a vitima, traumas que podem perdurar por toda uma vida. Segundo Zavaschi (1991) apud 
Azambuja (2004), as vítimas de abuso sexual podem apresentar em algum momento de sua 
vida sintomas como tendências suicidas, auto-mutilação, uso de drogas, depressão, isolamento 
afetivo, distúrbios de conduta, agressão sexual, etc. 
Na Constituição Federal de 1988, art. 227, fica bem claro que qualquer agressão sexual 
contra crianças e adolescentes devem ser punidas severamente. O Estatuto da Criança e 
Adolescente, por sua vez, é uma iniciativa louvável em busca da efetiva proteção aos direitos 
das crianças e dos adolescentes, estabelecendo mecanismos para essa proteção. Mas como é de 
conhecimento geral, existe no Brasil uma discrepância muito grande entre os direitos previstos 
em lei e a sua operacionalização na prática. A responsabilização do agressor, portanto, é 
prevista em lei, e o abuso sexual é crime, e embora a primeira preocupação deva estar ligada ao 
atendimento da vítima, o adulto abusador precisa ser submetido à lei e enfrentar as 
conseqüências de seu ato criminoso (AZAMBUJA, 2004). 
Nesse contexto, não há como ignorar a necessidade de tratamento especializado para 
vitima e família, e a necessidade de atendimento ao agressor, visto que, segundo Azambuja 
(2004), ele também é um ser humano que precisa superar a situação em que se encontra. 
Segundo esta autora, não há agressores sexuais que mudem seu comportamento sem a 
intervenção externa, e se esta não for eficaz, este sujeito continuará buscando novas vítimas. 
Enumeram-se os seguintes sinais para que seja possível identificar o abuso: 
- Demonstração de conhecimento sexual não adequado à idade. 
- Queixa de dor ou de ardência nos órgãos genitais. 
- Transtorno de sono (pesadelo, insônia, sonolência|). 
- Aversão ao contato físico. 
- Mudanças bruscas de comportamento, isolamento social, tristeza, abatimento profundo, 
choro fácil. 
- Idéias e/ou tentativas de suicídio. 
- Alteração no comportamento escolar; de assíduo, pontual e boas notas, por faltas 
freqüentes, impontualidade, falta de concentração e baixo rendimento nas disciplinas. 
- Relutância em voltar para casa. 
- Mudança de hábito alimentar: perda de apetite, obesidade. 
- Hiperexcitação sexual, masturbação compulsiva, sem critérios de privacidade. 
- Alterações repentinas de humor e irritabilidade. 
- Distúrbio de conduta, fuga de casa, mentiras, roubo, rebeldia. 
(SECRETARIA DO TRABALHO, CIDADANIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL – RS, 
2005). 
Denunciar é imprescindível, e qualquer pessoa pode fazê-lo através do número 100, ou 
dirigindo-se ao Conselho Tutelar do município. Ainda, é possível procurar outros profissionais 
habilitados, que sirvam como referência para a revelação do abuso. De acordo com Furniss 
(1993), denúncia e a identificação precoce, com posterior responsabilização do agressor e 
atendimento adequado à família e a vítima são fundamentais para o rompimento do ciclo do 
abuso sexual, que por vezes perpetua-se por gerações seguintes. 
 
7. Metodologia 
 
A idéia inicial compreende a realização de oficinas sócio-educativas sobre o abuso 
sexual, com ênfase no abuso sexual intrafamiliar, nas escolas do município, adequando a 
abordagem à idade e nível de desenvolvimento da criança e adolescente, com turmas pequenas, 
a fim de estimular o diálogo e o esclarecimento de dúvidas. Esse método procura abranger o 
maior número de crianças e adolescentes possível. 
Para que este projeto venha a ser implementado é fundamental que as escolas se 
comprometam com o enfrentamento do problema, e se posicionem favoráveis a realização das 
oficinas. Nesse sentido, quando feitos os contatos iniciais com seus responsáveis, será 
disponibilizada uma cópia do projeto, que ficará a disposição da escola. 
As escolas que são alvo do projeto são: Escola Estadual de Ensino Básico Yeté, Escola 
Municipal de Ensino Fundamental Incompleto Amadeu do Prado Mallmann, Escola Municipal 
de Ensino Fundamental Vendelino Waldemar Rauber, Escola Municipal de Ensino 
Fundamental 10 de Maio, Escola Estadual de Ensino Fundamental Andréa Parise e Escola 
Municipal de Ensino Fundamental Senador Salgado Filho. 
Assim que forem concluídas as oficinas com as turmas do Ensino Fundamental e Médio 
das escolas atendidas, deverão ser realizadas atividades específicas voltadas para os pais, em 
forma de palestra e com a

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