Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 1 GERENCIAMENTO POR CATEGORIA: A IMPORTÂNCIA DA IMPLANTAÇÃO DESTA FERRAMENTA PARA O SETOR SUPERMERCADISTA DE PEQUENO E MÉDIO PORTE – UM ESTUDO MULTICASO Érica Ferreira Marques UFSCar – DEP / Cx. postal: 676 - Cep: 13565.905 / São Carlos - S.P. ericafmarques@ig.com.br Rosane Lucia Chicarelli Alcantara UFSCar – DEP / Cx. postal: 676 - Cep: 13565.905 / São Carlos - S.P. rosane@power.ufscar.br Abstract: As part of the process of ECR, the tool category management has been discussed and implemented by supermarket section aiming the proper combination of products in the store, and seeking the consumers’ reliability. This article firstly tries to do a bibliographical review on ECR, showing its objectives, the advantages of the supply chains, and the difficulties of its implementation. Secondly it shows what small and medium-sized companies of this section are doing to remain competitive on the market, concentrating the study in one of the practices of ECR, the tool category management. Case studies have been carried out, and, based on the outcomes, a comparative analysis has been made aiming to show the advantages and the barriers that each of these companies went through so as to implement this tool. Key words: Category Management, ECR, Retail Management. 1. Introdução Ao longo das últimas décadas o setor supermercadista vem atravessando um intenso ritmo de transformação, devido à fatores como o acirramento da concorrência com a globalização e a liberação das importações, um novo perfil de consumidores mais exigentes e mais conscientes de seus direitos; além do crescente número de fusões e aquisições, e da implantação de novas tecnologias no setor. Por isso se faz necessária a discussão das medidas que estas empresas estão adotando para evitar ou reduzir a falta de produtos na gôndola e, em contrapartida, reduzir o valor do capital empatado nos estoques (depósito e lojas) e fidelizar seus clientes. Dentro deste contexto, de acordo com King e Phumpiu (1996), o mais atuante esforço de reestruturação ou reengenharia que está acontecendo na indústria supermercadista é a iniciativa do ECR (Efficient Consumer Response). Como parte integrante do processo de ECR, a ferramenta gerenciamento por categorias vem sendo bastante discutida e implementada, tendo como principais objetivos a adequada combinação de produtos na loja, visando fidelização de seus consumidores com a criação de valor e um diferencial em relação à concorrência. Essa ferramenta também proporciona aumento do giro dos produtos e da rentabilidade das categorias de uma loja, podendo proporcionar uma visão mais completa sobre o perfil e os hábitos de compra dos consumidores, o que é fundamental para o processo de diferenciação e posicionamento competitivo no mercado. O objetivo deste artigo é apresentar e discutir a ferramenta gerenciamento por categoria, analisando a implantação desta do ponto de vista da indústria e do supermercado, já que para a realização desta prática de gestão, um dos fatores chaves é a formalização de parcerias entre estes dois agentes. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 2 Outro ponto a ser destacado neste artigo é que ao considerar que grandes redes de supermercados já praticam o ECR no que diz respeito à promoção eficiente, ao gerenciamento por categorias e ao EDI (Eletronic Data Interchange), algumas pequenas e médias empresas deste setor estão buscando conceitos de racionalidade de operações e fidelização de seus clientes utilizando as práticas do ECR, para se manterem competitivas no mercado. Neste sentido, foram realizados dois estudos de caso, um supermercado de pequeno porte e uma indústria alimentícia líder em seu setor. 2. ECR e Gerenciamento por Categoria: novas práticas de gestão no setor supermercadista 2.1 ECR De acordo com Dib (1997), a iniciativa do ECR surgiu nos Estados Unidos em 1993 devido ao aumento no mercado por diferentes formatos de lojas, à modificação dos hábitos de consumo e à ocupação dos supermercados em posição distante dos líderes tecnológicos do varejo. No Brasil, a organização Associação ECR foi fundada em 1997, e definiu o ECR como uma estratégia em que o varejista, o distribuidor e o fornecedor trabalham muito próximos para eliminar custos e excedentes da cadeia de abastecimento e melhor servir o consumidor. Para Kurnia e Johnston (2001), o objetivo do ECR é produzir um fluxo contínuo de produtos adequado ao consumo, que para ser atingido necessita de um fluxo de informação virtual, em tempo correto e de forma precisa. Para tanto, a iniciativa do ECR está fundamentada em quatro processos que fluem no canal de suprimento inteiro, sendo eles (Salmon,1993; Dib, 1997; Harris et al, 1999): a) Sortimento eficiente: otimização do sortimento da loja e da alocação espacial para aumentar a rotatividade do estoque e as vendas de categoria por metro quadrado, obtendo com isso aumento no volume de venda e redução do giro do estoque. b) Promoção eficiente: redução do custo adicional de comercialização que não agrega valor e investimento em promoções para o consumidor, que é uma importante ferramenta para a motivação da compra. c) Reposição eficiente: racionalização da distribuição das mercadorias desde a linha de produção até às prateleiras do varejista, visando otimizar o tempo e o custo do sistema de reposição. d) Introdução eficiente de novos produtos: corte dos custos de desenvolvimento e introdução de novos produtos, maximizando sua eficácia para identificação de oportunidades. De acordo com Kurnia et al (1998), estas estratégias são suportadas por dois processos (Gerenciamento por Categorias e Programa de Reposição Contínua) e habilitada por cinco tecnologias (Código de barras/Scanners, EDI, ABC-Custeio Baseado em Atividades, Pedido Ordenado por Computador e Cross Docking). 2.2 Gerenciamento por Categoria: caracterização, benefícios e dificuldades O ECR Brasil (1998:15) define o processo de gerenciamento por categoria como “um processo varejista/fornecedor que consiste em gerenciar as categorias como unidades estratégicas de negócios, para produzir resultados comerciais melhorados por meio da concentração de esforços em integrar maior valor ao consumidor”. Para os varejistas, o gerenciamento por categorias pode ser apontado como uma ferramenta que proporciona a fidelização de seus consumidores com a criação de valor para seus clientes e um diferencial em relação à concorrência. Isso porque, de acordo com Dib (1997), essa ferramenta busca obter uma ótima composição das diversas categorias de produto da loja e da composição de produtos dentro da categoria, além da aquisição de uma visão mais completa sobre o perfil e os hábitos de compra dos consumidores. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 3 De acordo com Integration (2001), o que muda no processo de gerenciamento por categoria é que a indústria e varejo passam a gerenciar em conjunto uma solução completa para o consumidor e não mais produto ou seção. Assim, é importante destacar a diferença dos conceitos de gerenciamento de espaço e de categoria, já que a equívoca associação destes conceitos ocorre com certa freqüência. Para Vilallonga (1995), a gestão de espaço é somente um instrumento chave de nível tático para executar o plano de negócio para cada categoria em sua linha no ponto de venda. O movimento ECR Brasil propõe uma metodologia de gerenciamento por categoria ressaltando que este é um processo contínuo. Desta forma, cada etapa está descrita no quadro 1. Etapas Descrições 1. Definição da categoria Identifica a necessidade de compra do consumidor no seu processo de decisão de compra na frenteda gôndola. Nesta etapa há duas atividades principais – definir a abrangência da categoria e identificar a árvore de decisão do consumidor. 2. Definição do papel da categoria Estabelece a importância da categoria para o negócio do varejista, definindo a alocação de recursos entre as categorias. O papel da categoria é classificado em destino, rotina, sazonal ou conveniência. 3. Avaliação da categoria Identifica a existência de oportunidades para aumentar as vendas, lucratividade e retorno sobre investimento, através de dados reais de consumo e mercado. 4. Cartão de metas da categoria Define os objetivos qualitativos e quantitativos que devem ser atingidos por meio da implementação da categoria. Este é dependente da total integração e comprometimento dos parceiros nos processos. 5. Estratégias da categoria Define estratégias de marketing e de abastecimento de produto, que capitalizam as oportunidades através do uso criativo e eficiente de recursos. As mais comuns são aumentar tráfego, aumentar transação, gerar lucro, proteger território, gerar conhecimento e criar sensação. 6. Táticas da categoria Identifica as melhores táticas quanto ao sortimento, preço, apresentação nas gôndolas e promoções que asseguram a implementação das estratégias. 7. Implementação do plano Elabora o plano mediante um cronograma e definição de alocação das responsabilidades. 8. Revisão da categoria Avalia, monitora e modifica o plano de negócios da categoria periodicamente. Quadro 1: Etapas da metodologia do gerenciamento por categoria Fonte: autoras, baseado em Integration (2001) Segundo Integration (2001), não é necessário que se siga estes oito passos para realização de um projeto de gerenciamento por categoria, mas sim, deve-se avaliar o nível de profundidade, investimento e tempo, das variáveis do processo. No entanto, para garantir a consolidação dessa ferramenta entre as organizações, há algumas premissas importantes que devem ser expostas como o forte comprometimento da alta direção das empresas, relacionamento de confiança, definição de uma liderança do processo dentro da empresa que tenha acesso livre às informações e autonomia na tomada de decisão, definição de uma equipe de trabalho multifuncional com a participação de pessoas de todas as áreas envolvidas no projeto, intensa troca de dados e informações entre as empresas, investimento em pesquisa com o consumidor e tecnologia de informação, e, principalmente, a adequação de um plano de gerenciamento conforme a realidade de cada loja (Integration, 2001). De forma objetiva, o quadro 2 mostra os benefícios para todos os envolvidos no processo de gerenciamento por categoria. Indústria Varejo Consumidor • Melhoria no relacionamento com o varejo • Maior conhecimento do comportamento do consumidor • Influência nas decisões da categoria • Garantia de um investimento mais direcionado no varejo • Conhecimento do consumidor e da categoria • Uso da informação para tomada de decisão • Alavancagem da categoria (volume, faturamento e lucro) • Otimização da gôndola e promoções • Maior facilidade e agilidade de compra • Sentimento de valorização • Ambiente de compra mais agradável • Sortimento mais adequado às suas necessidades • Redução de itens em falta Quadro 2: Benefícios Indústria, Varejo e Consumidor no gerenciamento por categoria Fonte: autoras, baseado em Integration (2001) XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 4 Entretanto, é preciso apontar algumas dificuldades para a sua implementação, que devem ser avaliadas e discutidas previamente para minimizar seus impactos. Esses obstáculos geralmente acontecem quando a gerência sênior não está comprometida com o gerenciamento da categoria; operações nos programas de estoque não executam os planos da categoria; critérios de avaliação e compensação do gestor da categoria não refletem nas metas da categoria; os planos da categoria não são revisados; papéis da categoria não direcionam o desenvolvimento das estratégias e táticas; poucos varejistas conhecem o comportamento, percepção e necessidades de seus consumidores; metas financeiras não correspondem sempre com as oportunidades descobertas durante o gerenciamento e o varejista não tem os dados necessários. Além disso, sistemas de informação ineficientes, a falta de compartilhamento de dados e informações entre varejistas e fornecedores e as mudanças na consolidação promocional e introdução de novos produtos, têm tornando difícil manter os planos visados (Category Management, 1995). 3. Apresentação das informações obtidas A metodologia utilizada nesse trabalho foi a realização de estudos de caso com propósito exploratório. Lazzarini (1995) ressalta que a pesquisa através de estudos de caso caracteriza-se por um maior foco na compreensão dos fatos, sendo que sua aplicabilidade possui amplo potencial de utilização, dependendo basicamente da proposta da pesquisa, da natureza do fenômeno enfocado, do nível de controle que o pesquisador tem sobre os eventos comportamentais e do foco temporal da pesquisa. A amostra tem o caráter não- probabilístico do tipo casos críticos, já que os participantes são escolhidos em virtude de representarem casos essenciais ou chave para o foco da pesquisa (Freitas, 2000). Foi realizado um estudo de caso em um supermercado de pequeno porte que trabalha de forma associada (Mercado Ema IGA) e um outro em uma indústria alimentícia (Sadia). Esses casos foram realizados em novembro de 2001 (varejo) e abril de 2002 (indústria) por meio de entrevista pessoal com os responsáveis pela gerência da categoria tanto do varejo quanto da indústria; utilizando um questionário estruturado elaborado pelas autoras. Este questionário considerou a necessidade de conhecer a organização, as informações necessárias a implementação do gerenciamento por categoria, bem como os processos de integração entre as empresas envolvidas. 3.1 Caracterização do Varejo A empresa em questão é uma organização do setor supermercadista (Mercado Ema IGA), localizada em São José dos Campos (SP), consistindo em uma loja, atualmente com 153 funcionários, com faturamento em torno de R$ 2,5 milhões mensal e totalmente profissionalizado. Apresenta bom posicionamento no mercado em que atua devido à adoção consolidada das tecnologias de integração com fornecedores, do gerenciamento por categoria e do EDI, e também por estar associada a um atacadista, que permite ao varejo melhores negociações, atendimento ágil e redução de estoques. Tais atribuições proporcionaram à empresa varejista a aquisição do prêmio “International Awards of Excellence”, sendo o primeiro supermercado das Américas do Sul e Central a receber este prêmio. Com a entrada no Brasil da franquia IGA (Independence Grocers Alliance), a organização Ciro Atacadista adquiriu essa marca e começou a revendê-la a varejistas interessados em melhorias em serviço e padronização e aos que estivessem dentro dos padrões estabelecidos pela franquia. O Mercado Ema IGA se associou ao atacadista adquirindo a marca em 1999, e ao mesmo tempo preocupando-se que o seu consumidor percebesse o impacto da mudança, mas sem perder a cultura da loja (caracterizada loja de vizinhança, considerada médio porte por apresentar 13 check-outs e estar dentro do padrão de lojas de supermercado). XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 5 Esse supermercado está direcionado a um público pertencente às classes A e B em função de sua localização na cidade e também por não ser competitivo no fator preço, mas sim por primar pelo mix de produtos que oferece e pela qualidade no atendimento. Sua diferenciação está fundamentada no gerenciamento de categoria (até então com a Sadia), no mix adequado ao local, no atendimento e compromisso com os consumidores.Com essas estratégias definidas, esse supermercado caracterizado de “vizinhança” compete diretamente com grandes redes instaladas na cidade, como Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar. Quanto à operacionalização dos processos de programação de compra e distribuição, esta loja utiliza o sistema de gerenciamento baseado no software SAP, com estoque programado para 25 a 26 dias de vendas. O Ciro Atacadista, seu principal fornecedor, possui uma central de distribuição em Mantiqueira (MG) de onde transfere os produtos. A empresa adota como ferramentas de tecnologia de informação a Internet para o uso do comércio eletrônico e o EDI. Além dessas, a empresa trabalha com o cartão de fidelização com o intuito de conhecer melhor seus clientes e cativá-los oferecendo alguns eventos, como curso de culinária, por exemplo, para aqueles que o utilizam. O diferencial deste varejista perante aos seus concorrentes é que o processo do gerenciamento por categoria realmente acontece devido ao apoio interno e comprometimento da equipe de loja. Assim o ciclo – implementação, monitoramento, revisão – garante a permanência e continuidade do processo. 3.2 Caracterização da Indústria A segunda empresa estudada é líder no fornecimento de alimentos congelados e resfriados e de carne de aves e suínos no mercado brasileiro, contando com um portfólio de 680 itens. A Sadia foi fundada em 1944 em Santa Catarina, estando hoje presente em todo o território nacional, e tem se firmado como um importante fornecedor também no mercado internacional, exportando para mais de 60 países. A Empresa mantém 12 unidades industriais e centros de distribuição espalhados por todo o Brasil e, entre suas operações nacionais e internacionais, emprega 30,4 mil pessoas. Em 2001, a Sadia faturou 202,6 milhões de reais e sua principal estratégia está voltada para o aumento da participação dos produtos de maior valor agregado nas vendas, com os objetivos de reforçar seu posicionamento como empresa capaz de satisfazer diversas necessidades do consumidor e de se proteger contra as oscilações típicas dos mercados de commodities. Desde então, passou a adotar táticas mercadológicas do tipo pulverização dos negócios, de modo que situações desfavoráveis em determinado mercado ou segmento possam ser compensadas em outros. Duas áreas foram objeto de investimentos expressivos nos últimos três anos nesta empresa: a de tecnologia de informação e a de logística. Isso que têm contribuído significativamente para uma maior aproximação com os clientes, principalmente do ponto de vista do uso de ferramentas tecnológicas para apoiar estratégias de negócios e melhorias de processos em praticamente todas as áreas da empresa, como é o caso do uso de práticas do ECR (reposição eficiente e gerenciamento por categoria). É bastante claro que o setor indústria mostra-se muito mais pró-ativo às ações ligadas ao ECR, quando comparado ao varejo. De acordo com ECR Brasil (2001), a maioria das iniciativas e investimentos parte dos fornecedores, talvez por estes estarem mais abertos a novas iniciativas e tendências do mercado. A Sadia, conforme observado, já praticou gerenciamento por categoria e tem projetos em andamento com outras lojas varejistas (Bom Preço, Sé Supermercados, Rede Coop, entre outros), por isso pode-se dizer que já possui um know-how sobre a implantação desta ferramenta. Geralmente, aplica o conceito do gerenciamento por categoria para duas situações: lanches e refeições. XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 6 3.3 Implantação do Gerenciamento por Categoria Em relação às empresas em questão, esta ferramenta começou a ser implementada em julho de 2000 e finalizada em março de 2002, para a situação lanches, onde são disponibilizados todos os produtos que possam constar no lanche de um consumidor (por exemplo, pão, maionese, requeijão, frios, bebidas em geral, entre outros). Como o gerenciamento por categoria é uma ferramenta do ECR que busca gerar demanda através da satisfação das necessidades do consumidor, é importante destacar o papel dos agentes participantes dessa integração. A Sadia como já detém o know-how de fabricar produtos com qualidade e, principalmente, de acordo com a satisfação de seus consumidores, ela tem interesse em aprofundar mais o conhecimento em seu consumidor, no que tange ao seu hábito de uso e ao posicionamento e imagem da categoria de produtos. Por outro lado, o Mercado Ema IGA, também tem interesse em aperfeiçoar o funcionamento do seu negócio, oferecendo melhores serviços para fidelizar seus clientes. Mas para que essa parceria efetivamente ocorra, é necessário o fornecimento de informações técnicas sobre o suporte logístico e investimento por parte da indústria no que diz respeito à mudança na disponibilidade dos produtos nas gôndolas, ambientação das seções de congelados e resfriados com material de suporte mais atrativo, layout, promoções de acordo com o calendário estabelecido pelos agentes; e por parte do varejo, o compartilhamento de dados sobre o crescimento da categoria, o perfil de consumo, a lucratividade e benefícios para a categoria e para a loja. O gerenciamento por categoria começou como projeto-piloto com a iniciativa da indústria, envolvendo a Associação ECR Brasil na utilização da sua metodologia. É válido destacar que dentro desta metodologia adotada (quadro 1), a mensuração quantitativa dos resultados efetivos serão feitos após um ano de implementação da ferramenta, mas, pode-se dizer a partir de análises internas referentes aos itens da Sadia que compõem a Categoria Lanches (Patês, Frios Especiais, Salsichas, Lingüiças, Presuntaria, Mortadelas, Frios Light, Salames, Pizza, Tortas, Nuggets, Hambúrguer, Pão de Queijo, Salgadinhos) que o desempenho das vendas desses itens está acima da meta estabelecida (20% de crescimento sobre o período de Jan/01 a Jun/01). Somado a um resultado quantitativo mensurado a curto prazo, já é visível a satisfação dos consumidores na loja quanto à praticidade de encontrar produtos de diferentes marcas dispostos em um layout específico para tal situação de compra e consumo. Definida a situação (lanches), embora haja um layout todo específico para essa categoria (conforme o calendário promocional), é importante destacar que os produtos alocados para essa situação também se encontrem disponíveis em suas gôndolas próprias. Outra questão específica que surge para esta ferramenta é que nem sempre o capitão da categoria, a indústria que toma a iniciativa no processo de gerenciamento por categoria, é uma marca líder, embora essa apresente mais respaldo e iniciativa para o mesmo. 4. Resultados e Conclusões Desde o início da década de 90, transformações na indústria vêm sendo destacadas, porém, atualmente, o setor supermercadista encontra-se face às importantes mudanças que estão culminando igualmente em processos de reestruturação interna de empresas e do setor, com a maior participação de empresas estrangeiras e maior peso dos grandes grupos. Com essa acirrada competitividade no setor, observa-se que os pequenos e médios supermercados também estão "comprando" a idéia de que a informatização interna, a automação das operações, as práticas de ECR e a fidelização de seus clientes, pode ser o caminho para se tornarem também competitivos e provar que grandes e pequenas empresas podem ser igualmente beneficiadas pelas novas tecnologias e práticas de gestão. Embora as práticas do ECR sejam uma tendência muito forte no mercado mundial, a adesão das empresas de pequeno porte deste setor no Brasil ainda é baixa, devido a XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 7 algumas barreiras, como falta de recursos, mão-de-obra especializada, baixo poder de barganha junto aos fornecedores, e falta de organização interna das empresas brasileiras.Essas empresas de forma geral, ainda não estão organizadas, o estoque físico não se equipara ao estoque contábil, além do fato de não existir o hábito de compartilhamento das informações com as indústrias. Já para empresas de médio porte, de acordo com a “visão da indústria”, está sendo mais fácil a adesão ao ECR pois, geralmente, são empresas que não tem capital internacional que as impedem de trabalhar ou manter o gerenciamento junto com a indústria. Assim, poucos supermercados de menor porte e alguns de médio porte estão começando a mobilizar esforços para melhor compreender a função, operacionalidade e o potencial de ganhos com a introdução dessa prática, visualizando no ECR uma oportunidade de redução de custos e agilização dos produtos nas gôndolas. Essa necessidade acaba fazendo que estes supermercadistas percebam que não há outra forma de enfrentar a concorrência sem que parcerias comerciais sejam iniciadas na busca pela eficiência e melhor atendimento das necessidades dos consumidores (Marques et al, 2001). Desta forma, a necessidade de remodelar relacionamentos surge como alternativa para a criação de uma gestão mais focada no compartilhamento de responsabilidades e informações úteis no processo decisório das empresas que integram a cadeia de suprimentos alimentar. Neste contexto, como a parceria com a indústria é a base da viabilização do gerenciamento por categoria, o Mercado Ema IGA demonstrou satisfatória integração com seu parceiro. Um fator facilitador desse processo pode ser uma postura ativa quanto à associação com um atacadista com a aquisição da franquia IGA. Esse processo de associativismo e aquisição dessa marca em busca de uma padronização e melhor atendimento, tem-se mostrado bastante promissor quanto às suas expectativas, principalmente em relação à sua postura frente aos concorrentes. Nota-se que este processo é de longo prazo, pois ao adotar este conceito a empresa tende a se dedicar a uma busca contínua de melhoria dos resultados. Assim, é importante lembrar que o tempo de experiência com o gerenciamento por categoria ainda é incipiente para a identificação clara dos ganhos obtidos com essa prática, mas, como já citado no texto, a satisfação dos consumidores é visível. Outro ponto que foi observado diz respeito à questão do envolvimento da alta direção, que também é um fator fundamental para viabilização da implantação desta ferramenta. Quanto ao envolvimento específico da alta direção do supermercado Ema IGA e os responsáveis da indústria em relação ao comprometimento com o gerenciamento por categoria, pode-se afirmar que a mesma está voltada para realização desse processo. Desta forma, observa-se que tanto a loja varejista quanto a indústria podem se enquadrar no quarto e o mais avançado estágio de segmentação e classificação realizado no diagnóstico Panorama do Gerenciamento por Categoria pelo ECR Brasil (2001), já que o varejo analisado apresenta forte envolvimento na definição das estratégias do gerenciamento por categoria, forte crença no processo e participação de outras áreas na definição da categoria, bem como visão integrada e expandida, processo contínuo e dinâmico, estratégia e posicionamento claros e comunicados, estando à frente do mercado que atua. Já a indústria, por fazer parte do grupo de empresas que estão habituadas aos processos de gerenciamento e atentas às novas necessidades que vão sendo identificadas, busca saídas inovadoras para atendê-las da melhor forma. Na Sadia, o gerenciamento por categoria recebe apoio de grande parte da empresa, com um bom número de pessoas envolvidas e que acreditam no processo, além de perceberem que esta área é provedora de informação. Mas a Sadia ainda encontra dificuldades no relacionamento com os varejistas, sendo que as principais barreiras encontradas diz respeito à organização e ao XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção Curitiba – PR, 23 a 25 de outubro de 2002 ENEGEP 2002 ABEPRO 8 compartilhamento dos dados, bem como a compreensão do conceito “gerenciamento por categoria” por parte dos varejistas nos primeiros contatos. No entanto, pelo tipo de pesquisa realizada, não se pode generalizar os benefícios para todos os casos do setor, mas, pelo levantamento bibliográfico, verifica-se um esforço contínuo das redes supermercadistas em busca da adequação da cadeia de abastecimento, destacando-se a determinação dessas empresas em se prepararem para uma nova realidade de maior concorrência, procurando trabalhar em conjunto com fornecedores no sentido de proporcionar maior eficiência à toda cadeia de suprimento e maior valor ao consumidor final. 5. Agradecimentos Agradecemos à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), órgão financiador do 1º autor deste artigo. 6. Bibliografia DIB, J. A.. Efficient Consumer Response (ECR): Uma Estratégia para o Varejo de Bens de Consumo de Massa. Revista de Administração da USP.São Paulo, v.32, n.2, p. 14-22, abril/junho 1997. CATEGORY MANAGEMENT: The Category Plan. FMI and Center for Retail Management: Northwestern University, 1995. ECR BRASIL. Pricewaterhouse Coopers (Cood.). Gerenciamento por Categorias: melhores práticas. São Paulo: Associação ECR Brasil, p. 15, nov. 1998. ____________. Panorama do gerenciamento de categorias no Brasil. São Paulo: Associação ECR Brasil, Dezembro, 2001. FREITAS, H., OLIVEIRA, M., SACCOL, A. Z. e MOSCAROLA, J. O método de pesquisa survey. Revista de Administração – USP, v.35, n.3, p.105-112, julho/setembro 2000. HARRIS, J. K.; SWATMAN, P. M.C., KURNIA, S. Efficient Consumer Response (ECR): a survey of the Australian grocery industry. Supply Chain Management, v. 4, n. 1, p. 35- 42, 1999. INTEGRATION CONSULTORIA EMPRESARIAL. Treinamento prático de gerenciamento por categoria. Setembro, 2001. KING, R. P; PHUMPIU, P. F. Reengineering the food supply chain: the ECR initiative in the grocery industry. American Journal of Agricultural Economics, v. 78, p. 1181-1186, December, 1996. KURNIA, S.; SWATMAN, P.M.C.; SCHAUDER, D. Efficient Consumer Response: a preliminary comparison of US and European experiences. 11th International Conference on Eletronic Commerce, Bled, Slovenia, p. 126-143, June, 1998. KURNIA, S. e JOHNSTON, R. B. Adoption of efficient consumer response: the issue of mutuality. International Journal of Supply Chain Management. vol. 6, n. 5, p. 230-241, 2001. LAZZARINI, S. G. Estudos de Caso: aplicabilidade e limitações do método para fins de pesquisa. Economia e Empresas. v.2. n.4. p. 17-26. 1995. MARQUES, E. F.; ALCANTARA, R. L. C.; GHISI, F. A. Novas práticas de gestão em empresas supermercadistas de pequeno e médio porte: dificuldades na implantação. In: Anais do III Congresso Internacional de Economia e Gestão de Negócios Agroalimentares. Ribeirão Preto, 2001. SALMON, K. ASSOCIATES. Efficient Consumer Response. Enhancing consumer value in the grocery industry. Washington, DC, janeiro 1993. VILALLONGA, M. La gestión por categorías mejora los resultados del negocio, 1995. Disponível no site: <http:://www.aecoc.es>. Acesso em 12/04/2002.
Compartilhar