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Perícia e Auditoria Dirceu Carneiro de Araujo © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Imagens Adaptadas de Shutterstock. Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. Conteúdo em websites Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfi ca e Eletrônica Renata Galdino Luana Mercurio Supervisão da Disciplina Gisele Zanardi Polizel Revisão Técnica Marcio Aparecido Artero Pedro Donizeti Bolanho Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Araujo, Dirceu Carneiro de A663p Perícia e auditoria / Dirceu Carneiro de Araujo. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 208 p. ISBN 978-85-522-1665-0 1. Perícia contábil. 2. Mediação e arbitragem. 3. Programa de auditoria. I. Título. CDD 332 Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753 Sumário Unidade 1 Perícia, arbitragem e mediação .................................................................... 5 Seção 1 Procedimentos técnicos e científicos da perícia contábil ............................................................................................................... 7 Seção 2 Profissional perito e o laudo pericial ..............................................19 Seção 3 Arbitragem e mediação ....................................................................36 Unidade 2 Auditoria: conceitos e normas do profissional auditor .....................................................................................57 Seção 1 Tipos de auditoria .............................................................................60 Seção 2 Aspectos da auditoria interna .........................................................69 Seção 3 Auditor independente ......................................................................80 Unidade 3 Auditoria: planejamento e amostragem em auditoria .........................103 Seção 1 Contratação e planejamento de auditoria ..................................106 Seção 2 Procedimentos de evidências e documentação .........................123 Seção 3 Amostragem em auditoria ............................................................134 Unidade 4 Auditoria: procedimentos e relatórios de auditoria .............................149 Seção 1 Evidenciação de auditoria nas demonstrações contábeis-financeiras .....................................................................152 Seção 2 Procedimentos finais da auditoria e eventos subsequentes......172 Seção 3 Formação de opinião de auditoria e relatórios de auditoria ....183 Unidade 1 Perícia, arbitragem e mediação Objetivos de aprendizagem Olá, estudante! Nesta aula, você conhecerá o conceito de perícia, arbitragem e mediação, além das práticas de perícia contábil, que possibilitam ao contador um campo diversificado de trabalho; compreenderá como o conhecimento de contabilidade agregará mais habilidades ao seu domínio profissional de perito; examinará as diversas regulações da profissão do perito contador, bem como a exigência do exame de qualificação técnica e sua formação continuada; conseguirá explicar o conceito de perícia contábil e classificar os tipos de perícias, assim como empre- gá-los em sua profissão; saberá qual é o papel do profissional de contabilidade no processo de arbitragem; entenderá os requisitos mínimos para a arbitragem, as responsabilidades do árbitro, os impedimentos e a suspeição; e, por fim, compreenderá o papel do profissional de contabilidade no processo de mediação, os requisitos mínimos para a mediação, as responsabilidades do mediador, os impedimentos e a suspeição. Preparado? Então, vamos lá e tenha bons estudos! Seção 1 | Procedimentos técnicos e científicos da perícia contábil Conceitos aplicados à perícia contábil. Finalidade da perícia contábil. Classificação da perícia contábil. Aspectos técnicos e procedimentos. Seção 2 | Profissional perito e o laudo pericial O perito e o perito assistente. Laudo pericial e parecer técnico-contábil. Seção 3 | Arbitragem e mediação Arbitragem, mediação e conciliação. Introdução à seção Caro estudante, nesta seção, você descobrirá a importância da perícia contábil para a resolução de conflitos judiciais ou extrajudiciais, pois, com o apoio do laudo pericial, juízes e partes interessadas podem tomar decisões importantes a partir dos fatos contábeis registrados nas empresas, colocando em evidência a verdadeira posição patrimonial das pessoas físicas ou jurídicas. Vários são os procedimentos aplicados à perícia contábil, e cada um será objeto de estudo nesta jornada que se inicia. Vamos aos estudos! Introdução à unidade Olá, caro aluno! Nesta unidade, apresentaremos três campos de aplicação de serviços da contabilidade que os recém-formados não consideram no planejamento de sua carreira como contador, que são: serviços de perícia contábil, de arbitragem e de mediação. É de fundamental importância o papel do contador no auxílio da apuração dos fatos contábeis trazidos pelos documentos de provas nos processos judiciais, dessa forma auxiliando os juízes e as partes a formarem um juízo de valor a respeito de provas juntadas aos autos, por meio da perícia contábil e da emissão do laudo pericial. Já no campo da arbitragem, que é um mecanismo de solução de disputas entre as partes, na qual uma pessoa fora do judiciário apresenta uma solução para a disputa com força de sentença final, o trabalho do contador é impor- tantíssimo na apuração do valor devido, por meio do laudo contábil, ou mesmo quando atua como árbitro. Já na técnica de mediação, o contador poderá atuar na mediação, como mediador, ou auxiliar na apuração dos valores devidos na disputa. Perceba a importância do estudo destas áreas, as quais estão fora do radar de muitos contadores, que pensam somente na contabilidade e se esquecem da amplitude de sua profissão. Nesta unidade, estudaremos a perícia contábil, a arbitragem e a mediação. Iniciaremos pelo estudo do conceito de perícia e seu enquadramento legal. Você entenderá a finalidade da perícia e os tipos de perícia contábil. Na sequência, verá quem pode ser um perito contábil, suas responsabilidades, impedimentos e suspeições, assim como a forma que o laudo pericial é emitido, inclusive, a sua apresentação. Quanto à arbitragem, entenderá o que é, quais matérias podem ser arbitradas, as pessoas que podem ser árbitros, as responsabilidades, os impedimentos, as suspeições e a sentença arbitral. Por fim, referente à mediação, conhecerá o seu uso na solução de conflitos judicias, seu papel, quem são os mediadores e os resultados. 7 Seção 1 Procedimentos técnicos e científicos da perícia contábil Caro estudante, nesta seção, você descobrirá a importância da perícia contábil para a resolução de conflitos judiciaisou extrajudiciais, pois, com o apoio do laudo pericial, juízes e partes interessadas podem tomar decisões importantes a partir dos fatos contábeis registrados nas empresas, colocando em evidência a verdadeira posição patrimonial das pessoas físicas ou jurídicas. Vários são os procedimentos aplicados à perícia contábil, e cada um será objeto de estudo nesta jornada que se inicia. Vamos aos estudos! 1.1 Introdução Você, com certeza, em algum momento de sua vida, teve a necessidade de consultar uma pessoa ou um profissional capacitado para lhe ajudar com alguma dúvida ou algum problema da vida. O mais comum são consultas a médicos, dentistas, mecânicos, técnicos, etc. Essas pessoas detêm um conhe- cimento específico a respeito de determinadas áreas do conhecimento, ou pela prática, ou pelos anos de estudos e capacitação que tiveram no sistema formal de ensino, por isso, a sociedade lhes concede a prerrogativa de resolver questões específicas da vida, não é mesmo? Cada ramo do conhecimento possui sua forma de realizar perícia, tais como: perícias médicas, perícias de engenharias, perícias de segurança, perícias de segurança redes de informática, perícia de segurança de dados, perícia documental e perícia contábil. Você, provavelmente, já leu, estudou a respeito ou teve conhecimento de algum tipo de perícia realizada. 1.2 Conceitos aplicados à perícia contábil Desde o ano de 2015, por meio da Norma Brasileira de Contabilidade, Técnica de Perícia 01 (NBC-TP 01), o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), regulando os trabalhos dos peritos contábeis, no item 02, propôs um conceito técnico do tema na seguinte forma: 2. A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos destinados a levar à instância decisória 8 elementos de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais e com a legislação específica no que for pertinente. (CFC, 2015a, p. 1) Você deve pensar que o assunto seria esgotado na simples leitura dessa citação e pronto, mas nosso estudo nos leva a pensar: o que de fato significa esse conceito? Devemos, então, efetuar uma leitura atomizada, parte por parte, desse conceito. 1. Conjunto de procedimentos técnico-científicos: são as aplicações dos conhecimentos da Ciências Contábeis, seus regulamentos e sua linguagem técnica, apesar de se recomendar o uso de linguagem acessível e direta. 2. Destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessá- rios a subsidiar a justa solução do litígio: você tem que compreender que os juízes são técnicos da ciência do Direito, e as demais pessoas são leigas, dessa forma, não têm a obrigação de conhecer os procedimentos da Ciência Contábil, assim se valem da perícia contábil para analisar as provas e os documentos existentes nos autos, a fim de estabelecer suas convicções quanto à existência ou não de determinados fatos. 3. Constatação de um fato: numa das formas de perícia contábil, o perito vai constatar a existência ou não de um fato, no local determi- nado ou no documento produzido. 4. Mediante laudo pericial contábil e/ou parecer pericial contábil: são os dois documentos produzidos pelos peritos para expressar suas conclusões a respeito da perícia realizada (veremos a distinção quando estudarmos Laudo Pericial). 5. Em conformidade com as normas jurídicas e profissionais: o profis- sional de contabilidade, assim como os demais profissionais e as pessoas da vida comum, são submetidos ao cumprimento das normas legais e, no caso do contador, também, de normas profissionais do seu conselho de classe. Você logo percebe que, se não fosse pela adjetivação de contábil, a perícia contábil se assemelharia a qualquer outra perícia. É um profissional habilitado e autorizado por sua categoria profissional e reconhecido pela sua expertise, que atesta fato, de forma judicial ou extrajudicial, buscando sempre a confirmação da alegação de uma parte contra a outra ou a composição de uma disputa. 9 Para saber mais O que vem a ser perícia? Numa consulta ao Dicionário Aurélio On-line, pode-se dizer que perícia é: “Característica da pessoa que é perito. Particularidade de quem demonstra habilidade, destreza e maestria. Avaliação minuciosa e, geralmente, feita por especialista(s)” (AURÉLIO, 2019, [s.p.]). Veja que isso simplifica muito. Para que você conheça melhor o que vem a ser perícia, indica-se a leitura do item 2.1.2.3 - Função pericial e seguintes, da obra a seguir: MAGALHÃES, A. D. F. Perícia contábil: uma abordagem teórica, ética, processual e operacional. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597011043/epubc- fi/6/20[;vnd.vst.idref=body010]!/4/70@0:14.2. Acesso em: 6 ago. 2019. Mas, e para nosso estudo? O que é perícia contábil? Como são realizadas as perícias contábeis? Qual é o objeto da perícia contábil? Quais tipos de perícias contábeis temos? Como são reguladas as perícias contábeis? Então, como saber se a perícia a ser realizada é contábil? No caso especí- fico, você deve combinar duas normas para seu estudo: o Decreto-Lei nº 9.245/46 e a Lei nº 13.105/15 (Código de Processo Civil – CPC). Perceba como fica essa combinação. O Decreto-Lei nº 9.295/46 (BRASIL, 1946), em seu Capítulo IV, trata das atribuições profissionais do contador. No art. 25, afirma o que são conside- rados trabalhos técnicos de contabilidade, portanto, prerrogativa da profissão de contador; e na alínea c), trata das perícias judiciais ou extrajudiciais toda vez que a matéria envolver escrituração contábil, balanços, apuração, haveres, entre outras matérias. O CPC (BRASIL, 2015), no art. 156, trata dos peritos em geral, em todas as áreas do conhecimento; e no § 1º afirma: “§ 1º Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Perceba que, se a matéria a ser periciada for o “patrimônio” da pessoa física ou jurídica, ou derivar de escrituração contábil e, ainda, de apuração de haveres, o profissional habilitado será o contador. O CPC (BRASIL, 2015, [s.p.]) traz a exceção no § 5º: “Na localidade onde não houver inscrito [...], a nomeação do perito é de livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente detentor do conhecimento neces- sário à realização da perícia”. 10 Agora que você já capaz de definir perícia contábil, vamos pensar na sua finalidade. 1.3 Finalidade da perícia contábil Assim como o objeto da contabilidade é o patrimônio das pessoas físicas e jurídicas, entendido como o conjunto de bens e direitos deduzidas as obriga- ções, o objeto da perícia contábil inicia-se pelo patrimônio, e você pode perceber que todas as matérias afetas aos registros contábeis e documentos contábeis passam a ser objetos de perícia contábil. A finalidade da perícia contábil é produzir provas para a solução de casos judiciais e extrajudiciais, relacionados ao patrimônio. Além de analisar e interpretar as provas existentes nos autos, o perito contábil constatará, demonstrará, realizará vistorias e, ao fim, informará com a precisão de um profissional, por meio de suas conclusões técnicas, quais alegações merecem credibilidade para uma decisão favorável. Você percebeu que a perícia contábil pode ser aplicada em diversos momentos da vida em que as pessoas estão em litígios, então, é ideal que se estude sua classificação. 1.4 Classificação da perícia contábil Você deve estar se perguntando agora: quais tipos de perícia contábil existem? As perícias contábeis típicas são as perícias judiciais e as perícias extrajudiciais. 1.4.1 Perícias judiciais As perícias judiciais são aquelas que têm sua aplicação dentrode um processo judicial, sempre sob a tutela do judiciário. São determinadas pela autoridade que preside o processo ou requeridas pela parte deferida pelo juiz, a respeito do patrimônio de pessoas e empresas. Os motivos das perícias são os mais variados possíveis, como exemplos, temos: apuração de créditos tributários para compensação; apuração de horas extras com recálculo dos cartões; apuração de saldos de financiamentos; lançamentos indevidos; imperícia de contadores; apuração de liquidação de sentença; entre outros (MAGALHÃES, 2017). Você já sabe que somente as provas de fatos que o juiz não tiver conheci- mento técnico ou científico serão deferidas à perícia. 11 Questões para reflexão Com a implantação do processo judicial eletrônico, a partir da Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006, conhecida como Lei de Informatização do Judiciário, qualquer parte, seja juiz, promotor, advogados, auxiliares da justiça, incluindo o perito contábil, pode acompanhar e trabalhar no andamento do processo de qualquer lugar que se tenha acesso à rede mundial de computadores. Para entender melhor, leia o artigo: TAUCHERT, Maicon Rodrigo; AMARAL, Suely Galvão. O avanço tecnológico do judiciário como facilitador do acesso à justiça. Jus, nov. 2015. Dessa forma, com o mundo cada vez mais virtual e os processos sendo digitais, será que o perito contábil pode atuar em todo o Brasil sem precisar sair de seu escritório? Pense nisso. 1.4.2 Perícias extrajudiciais Apresentam-se de três formas: perícia voluntária, perícia estatal e perícia arbitral. Novamente, você deve estar ciente que essa é uma divisão formal, mas que existem inúmeras maneiras e interesses de se realizar uma perícia contábil, o que deixa um mercado para profissionais de contabilidade muito atrativo (MAGALHÃES, 2017). 1.4.2.1 Perícia voluntária A perícia voluntária é quando a pessoa física ou os representantes das pessoas jurídicas contratam o trabalho de um contador para o fim especí- fico de realizar a perícia de uma área de seu interesse (PIZZO, 2012). Você pode se perguntar: qual é o interesse disso? São todas as perícias contábeis realizadas fora do poder judiciário ou sem autorização do juiz que preside o processo, para os mais diversos interesses. Pode ser para se tomar uma decisão gerencial; comprovar fato contábil não expresso pela contabilidade; calcular um eventual passivo trabalhista, ambiental ou um risco de negócio, que envolva apuração de valores; de forma antecipada, para justificar e escla- recer as provas juntadas nos autos de um processo; durante o processo, para refutar, rebater e contrapor as provas juntadas aos autos de um processo e ao laudo de um perito judicial; para apurar eventual imperícia, erro ou fraude de uma pessoa ou de um contador. A perícia voluntária pode ser contratada de forma individual ou por grupo de pessoas com o mesmo interesse. 12 1.4.2.2 Perícia estatal A perícia estatal, por vezes, é confundida com a perícia judicial. Chamada de semijudicial, é aquela realizada dentro do aparato estatal, mas que não está dentro do processo (PIZZO, 2012). O Estado é formado por diversos órgãos, inclusive, o Judiciário, e quando a perícia contábil é realizada por um desses órgãos é chamada de perícia estatal. Exemplos de órgãos públicos: comissões parlamentares de inquéritos nas mais diversas esferas (federal, estadual ou municipal) e perícias criminais do Ministério Público. 1.4.2.3 Perícia arbitral A Lei nº 9.307/96 dispõe que qualquer pessoa capaz e órgãos públicos, de forma voluntária, poderão se valer da solução de litígios pela via arbitral e, ainda, se as partes, no momento da contratação, inserirem a cláusula compromissória ou compromisso arbitral, que desde logo já estabelece que as resoluções de conflitos serão por meio da arbitragem. Assim, no decurso da arbitragem, o juiz da arbitragem poderá solicitar a realização de perícia ou, atendendo a vontade das partes, poderá nomear um perito para examinar possíveis valores contábeis (PIZZO, 2012). Você pode perceber que o contador poderá ser o juiz arbitral ou ser nomeado para realização da perícia na arbitragem. É bom destacar que o contador executará uma ou outra função, sendo-lhe vedado realizar as duas no mesmo caso. Em relação à arbitragem, teremos uma seção para discutirmos o tema. 1.5 Aspectos técnicos e procedimentos Sendo a perícia contábil judicial o ponto de central desta unidade, estudaremos seus aspectos técnicos e procedimentais, lembrando que todos os requisitos aplicados para ela serão aplicados para a perícia extrajudicial, no que couber. A base processual e operacional da perícia contábil judicial e sua proces- sualística são mais complexas e reguladas pela NBC-TP 01 e pelo CPC. Compreendem dois momentos distintos, os quais podemos classificar como Atos Preparatórios, que vão da nomeação até a fase final do planejamento, e Atos de Execução do Trabalho Pericial, que passam pelos procedimentos até o laudo final. Mas, sempre que for necessário, apontaremos a diferença entre a perícia judicial e a extrajudicial. 13 1.5.1 Atos preparatórios Havendo a necessidade de realização da perícia contábil judicial, a requeri- mento das partes (CPC, art. 471) ou pela vontade e necessidade do juiz da causa (CPC, art. 465), dentre os peritos constantes no cadastro do tribunal ou, como já vimos, nas localidades em que não houver profissional, será escolhido um perito, profissional habilitado e da confiança do juiz, que será nomeado no processo. O juiz intimará as partes para impugnação do perito indicado no prazo de quinze dias (CPC, art. 465), e o perito será intimado de sua nomeação, com prazo para apresentar proposta de honorários e, se houver recusa ou escusa, o profissional fará mediante petição fundamentada, com os motivos. No mesmo ato, as partes serão intimadas da nomeação do perito e do prazo para indicar assistentes técnicos, se assim o desejarem. Seguindo a sua nomeação, o perito terá acesso aos autos do processo, para sua análise prévia, para verificar se existem pré-condições de realização da perícia. A nomeação não obriga o perito judicial, pois devem existir condi- ções a serem preenchidas para a aceitação. O que acontece se o perito não aceitar a nomeação? Não aceitando a nomeação, o perito judicial vai escusar (declinar/recusar) da função. São algumas condições para escusa da nomeação, resumidamente: o impedimento legal, a suspeição, não ser especializado na matéria objeto da perícia e a força maior. Outra indagação: se o perito aceitar a nomeação, ele pode desistir depois? O perito, aceitando o encargo, somente será substituído se, no decurso dos traba- lhos, ele encontrar motivos para suspeição ou impedimento de sua parte, a matéria controvertida ultrapassar sua capacidade técnica e de conhecimento, ou em casos mais graves, como doenças ou acidentes. O perito dirigirá uma petição ao juiz da causa, expondo os motivos e solicitando sua substituição. E o juiz pode substi- tuir o perito? O juiz pode substituir o perito quando houver atrasos na execução do cronograma e na entrega dos trabalhos, surgir alegação de impedimentos ou suspeição, ou o perito apresentar falhas técnicas graves (BRASIL, 2015). Como efeito da substituição, tem-se a devolução de eventuais honorários recebidos no prazo de quinze dias (CPC, art. 468). Se não houver a devolução voluntária, o perito pode ser excluído de novas perícias pelo prazo de cinco anos e, ainda, sofrer uma ação de cobrança dos valores. O perito desti- tuído por imperícia ou falta de habilidade técnica será representado no seu conselho de classe para apuração de falta de capacidade técnica. Na prática, se o juiz substituir um perito, este perde toda a credibilidade perante o juízo e, dificilmente, voltará a ser nomeado. Então, quais são os efeitos da nomeação do perito em geral? O perito oficialmente nomeado é auxiliar da justiça, na forma do art. 149, do CPC, 14 e combinado com o art. 327,do Código Penal, é equiparado a funcionário público, que fica subordinado ao juiz, por isso, é atribuída uma maior responsabilidade ao perito, podendo tratar diretamente com os procuradores e assistentes das partes, com o Ministério Público, com a entidade gestora da massa patrimonial a ser periciada e com as entidades nas quais fizer diligên- cias. Para buscar os esclarecimentos necessários e legais na elucidação dos fatos e dos quesitos formulados nos autos, tendo como limite de sua atuação as matérias controvertidas. Para o bom desempenho do seu trabalho, o perito contábil aplicará proce- dimentos estabelecidos em lei ou em normas de sua profissão. A NBC-TP 01 (CPC, 2015a), do item 16 ao 29, traz uma relação exemplificativa de proce- dimentos, que são: exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação. • O exame é a análise de livros, registros das transações e documentos, recálculo, conciliações, etc. • A vistoria é a diligência, que objetiva a verificação e a constatação de situação, da coisa, do fato. De forma circunstancial, é realizada in loco. O perito contábil, ao realizá-la, deve estar presente, assim como os assistentes técnicos, se existirem, as partes e seus advogados. • A indagação é a coleta de informações mediante entrevistas de pessoas que possam colaborar para a elucidação do fato. É essencial que se faça um termo de coleta dos dados, transcrevendo as perguntas e respostas. Muitos sinalizam a fragilidade desse procedimento, que deverá ser refeito perante o juiz para ter validade. • A investigação é a pesquisa realizada pelo perito e sua equipe, que buscará trazer informações que estavam ocultas dos autos. Pode ser realizada pelo perito e pelos assistentes técnicos, mas, antes do parecer final, deve se dar ciência para todos os envolvidos no processo, a fim de evitar uma surpresa. • O arbitramento é permitido para que o perito se utilize de critérios técnico-científicos para atribuir valores a objetos. • A mensuração é a descrição e qualificação da coisa objeto da perícia. • A avaliação é o ato de estabelecer valores de coisas, bens, direitos, obrigações, despesas e receitas. Cabe uma ressalva: se a matéria não for de contabilidade, o perito pode se valer de profissionais de outras áreas para subsidiar seu laudo. • A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo, transcrevendo, descrevendo todo o ocorrido, o que dá o caráter de 15 fé pública emprestado a este profissional ao ser transformado em auxiliar da justiça. Você pode notar que são várias maneiras de se reunir informações para se chegar à emissão de um laudo de perícia, mas podem ser necessários outros meios, como o auxílio de outros profissionais de outras áreas. A perícia é multidisciplinar, podendo ser realizada por diversos profissio- nais, cada um atuando em sua área específica. Você, que está estudando perícia pela primeira vez, deve estar se pergun- tando se existem nomeações suficientes, ou se esse ramo da contabilidade oferece possibilidades de trabalho. Pode-se afirmar que essa área da contabi- lidade é um mercado potencial, pois existem várias nomeações previstas no CPC (BRASIL, 2015), tais como: a) Inspeção de pessoas ou coisas (art. 482); b) Arbitramento pelo juiz - decisão de liquidação (art. 510); c) Resolução de sociedades, apuração de haveres (art. 604) e balanço de determinação (entende-se balanço atualizado com o saldo final) (art. 606); d) Inventário e partilha de bens de espólio com: i) balanço do estabelecimento (art. 620, § 1°, I); ii) apuração de haveres (art. 620, § 1°, II); iii) avaliação das quotas sociais (art. 630); iv) avaliação de bens (CPC, art. 631, e CCB, art. 1.187). 1.5.2 Planejamento da perícia A fase do planejamento é muito importante para os trabalhos periciais, pois é nela que o perito contábil compreenderá a dimensão dos trabalhos, o prazo fixado pelo juiz, o tamanho da equipe necessária, os custos envol- vidos, as diligências a serem realizadas e os procedimento a serem aplicados. A NBC-TP 01 reserva os itens 30 e 31 para, exemplificativamente, citar carac- terísticas do planejamento. De posse dos autos ou tendo acesso ao processo eletrônico, o perito conhecerá o objeto e a finalidade da perícia, além dos quesitos apresen- tados pelas partes e delimitados pelo juiz da causa. O perito judicial está limitado a responder aos quesitos delimitados pelo juiz da causa e somente nas matérias definidas e no período de tempo controvertido. É vedado a ele inovação de matéria, analisar fatos fora do tempo determinado ou expressar opinião pessoal. O perito judicial, analisando os quesitos fixados, a matéria controvertida, a quantidade de documentos a serem analisados e a quantidade de meses, ou seja, o lapso temporal, definirá a natureza, a oportunidade e a extensão dos procedimentos a serem aplicados, para a realização do trabalho, assim como os prazos necessários e, eventualmente, se vai precisar de uma equipe de auxiliares, que ficará sob sua responsabilidade. 16 Um elemento muito importante na fase do planejamento é a determinação de eventuais problemas e riscos que possam comprometer a realização da perícia. Quando se tratam de riscos, não são somente os físicos, mas a impossibilidade de ter acesso a todas as informações, a emissão de uma conclusão equivocada diante de matéria complexa, o surgimento de quesitos complementares, as audiências repetidas, ter que refazer parte da perícia no futuro e sempre ter que prestar escla- recimentos. Por fim, até os piores riscos, que são as responsabilizações civil e criminal por informações prestadas no laudo pericial (CFC, 2015a). Identificados os fatos importantes e a legislação a ser aplicada, efetua-se a divisão das tarefas e a distribuição delas numa tabela, chamada de crono- grama da perícia, com as fases, datas e reponsabilidades definidas, o que facilita a execução, a comunicação e as possíveis revisões dos trabalhos. Finalizando a fase do planejamento da perícia, o perito contador terá condições de efetuar a proposta de honorários, comunicar aos assistentes técnicos e às partes as fases da perícia a serem realizadas, elaborar os termos de diligências e requisitar a apresentação de documentos ou coisas faltantes. 1.5.3 Documentação da perícia A documentação da perícia é outro elemento de fundamental impor- tância. É neste momento que o perito contador descreverá tudo o que aconteceu na realização da perícia, desde sua nomeação, passando pelo planejamento, anexando todos os termos de diligências, até o laudo final; depois, terá quesitos complementares e atas de audiência. Mas, o importante é que você compreenda o que são os termos de diligências. Termo de diligência é uma comunicação que o perito contador faz no momento em que realiza diligências fora de seu escritório, ou na qual requisita a apresentação de documentos (CFC, 2015a). Geralmente, é dirigido aos assis- tentes técnicos, aos advogados das partes ou às partes, se for o caso, para que apresentem documentos, a fim de que acompanhem a realização de diligências externas. Existe prazo para essa formalização, e o perito contador deve ficar atento a ele e às formalidades fixados na legislação. Se as partes não atenderem às solicitações, o perito contador deve relatar ao juiz da causa, para que este tome as providências necessárias. Esse conjunto documental deve ser arquivado de forma organizada, para que, eventualmente, numa revisão por outro perito, seja de fácil entendimento, e isso é de propriedade do responsável pela perícia. 1.5.4 Fase da execução da perícia Entendidos os procedimentos a serem aplicados, a documentação a ser formada em cada etapa e a definição do planejamento, chegou o momento de o 17 perito contador executar a perícia contábil. Lembre-se de que a perícia é limitada aos quesitos formulados, ao objeto e ao lapso temporal estabelecido pelo juiz. Como o planejamento é um instrumento abrangentee flexível, conterá todas as fases necessárias ao bom desempenho dos trabalhos, mas também, quando necessário, será ampliado ou diminuído para atender a todos os quesitos ou às situações novas que surgirem no transcorrer dos trabalhos periciais. Como estamos tratando de uma perícia eminentemente contábil, devem ser aplicados todos os conhecimentos das Ciências Contábeis, que passa por todas as disciplinas, bem como elementos de Direito, Matemática, Estatística, Organização empresarial, etc. Os peritos assistentes ou assistentes técnicos, bem como o advogado que os contratou, devem, quando possível e se houver concordância do perito judicial, acompanhar os atos do perito. Se não for possível acompanhar a realização da perícia, as partes do processo terão acesso aos trabalhos do perito contador. A perícia é realizada pelo perito judicial, e o juiz, as partes, os assistentes técnicos e os advogados, quando possível, podem acompanhar a perícia, fazendo questionamentos e apontamentos, mas a responsabilidade da perícia é do perito judicial. É praxe que os assistentes técnicos acompanhem o perito contador no seu trabalho externo, entretanto, nos trabalhos internos, ou seja, no escritório, o perito realiza os trabalhos com sua equipe e, depois de concluídas as etapas, oferece uma cópia do trabalho aos peritos assistentes e às partes do processo. Existe um ponto importante que você deve perceber: se houver necessi- dade de contratação de outros especialistas para atuarem em áreas técnicas diferentes da contabilidade, por exemplo, um expert em segurança de rede ou de software, esse profissional executará seu trabalho com a participação do perito contador, sob a responsabilidade deste, será lavrado o termo de diligência e documentando o trabalho. Questões para reflexão O mercado de prestação de serviços contábeis está enfrentando muita concorrência, pois os serviços de registro de contabilidade são próximos, e os clientes são empresas, por vezes, do mesmo porte, então a formação como perito contábil é um grande diferencial, mas será que somente isso elimina a concorrência? Existem centenas de escritórios de perícia contábil. Será que é possível obter um faturamento significativo somente de perícia? Pense nisso. Nesta seção, você teve a oportunidade de conhecer o instituto da perícia contábil, sua finalidade, os tipos de perícias que são demandadas, principal- mente, a perícia judicial e a aplicação dos seus métodos na perícia extrajudicial. 18 Apropriou-se dos aspectos técnicos da realização da perícia, como os atos prepa- ratórios, os procedimentos aplicados nas diligências da perícia, o planejamento da perícia, a formação da documentação da perícia e a fase de execução da perícia. Atividades de aprendizagem da seção 1. Divulgado na mídia o desvio de dinheiro público, dinheiro destinado ao treinamento de atletas olímpicos. O legislativo instalou uma Comissão Parla- mentar de Inquérito para investigar essa situação. De posse dos documentos contábeis, o relator determina a nomeação de um perito contábil, para emitir o laudo pericial contábil. Esta perícia contábil é classificada como: a. Judicial e arbitral. b. Semijudicial e arbitral. c. Extrajudicial e semijudicial. d. Necessária e requerida. e. Judicial e necessária. 2. A perícia contábil produz provas para a solução de casos judiciais e extrajudiciais, relacionados ao patrimônio envolvido; analisa e interpreta as provas existentes nos autos, auxiliando os magistrados em suas decisões; e aplica procedimentos estabelecidos em lei ou em normas de sua profissão para o desempenho de suas funções. Quais são os procedimentos contábeis sugeridos pela NBC-TP 01? a. Exames, vistorias, indagações, pesagens e medições, avaliações e arbitramentos. b. Exames, vistorias, indagações, investigações policiais, avaliações e arbitramentos. c. Exames, vistorias, conversas, investigações, avaliações e arbitramentos. d. Exames, vistorias, indagações, investigações, avaliações e arbitramentos. e. Exames, visitas, indagações, investigações, avaliações e arbitramentos. 19 Seção 2 Profissional perito e o laudo pericial Após estudarmos o conceito de perícia contábil, a finalidade dela e os seus tipos, chegou o momento de iniciarmos o estudo sobre o profissional habilitado para a realização da perícia contábil; a diferença existente quando esse profissional atua como auxiliar do juiz ou como auxiliar das partes; os diversos deveres que o contador tem quando estiver exercendo sua profissão como perito contábil; as responsabilidades, que podem gerar impedimentos e suspeições; e, por fim, o laudo pericial e o parecer contábil, os quais são relatórios finais do trabalho de uma perícia contábil. 2.1 O perito e o perito assistente O perito é o profissional que, possuindo conhecimentos técnicos de sua área, atua para trazer mais clareza a respeito de fatos postos à sua apreciação. É aplicável a qualquer área do conhecimento, e todas as áreas possuem sua metodologia própria de qualificar e autorizar seus membros a realizarem perícia, como também os métodos de realização das perícias são próprios em cada área do conhecimento (MAGALHÃES, 2017). Já o perito contábil, ou perito contador, tem como exigência básica ser profissional da contabilidade, formado, obrigatoriamente, em Ciências Contábeis, estar aprovado no Exame de Suficiência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e estar em dia com suas obrigações legais, ou seja, estar ativo no CRC. Desde de 1º de janeiro de 2017, a Norma Brasileira de Contabilidade Profissional de Perito 02 (NBC-PP 02) agregou nova exigência à profissão do perito contábil, qual seja, o Exame de Qualificação Técnica (EQT), que tem por objetivo aferir o nível de conhecimento e a competência técnico-profis- sional necessários ao contador que pretende atuar na atividade de perícia contábil (CFC, 2016). Assim, os profissionais que atuam perante juízes, tribu- nais arbitrais e as partes na qualidade de perito contábil, além de terem sua inscrição no CRC do estado da realização da perícia, devem ser aprovados numa prova escrita elaborada pelo CFC, que dará direito à inscrição automá- tica no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC). Peritos contábeis são todos iguais ou existe diferenciação? A NBC-TP 01 traz, nos itens de 2 a 6, uma classificação de peritos, dividindo-os em: perito contador, perito oficial, perito do juízo e perito assistente. 20 Para saber mais Você sabe os conteúdos que são cobrados no Exame de Qualificação Técnica de Perito? São cobrados dos contadores os conhecimentos de Legislação Profis- sional; Ética Profissional; Normas Brasileiras de Contabilidade, Técnicas e Profissionais, editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade, inerentes à Perícia; Constituição Federal, Legislação Civil e Processual Civil afetos à legislação profissional, à prova pericial e ao perito; Língua Portuguesa; e Redação. O CFC criou o CNPC com o objetivo de trazer celeridade à ação do Poder Judiciário, uma vez que, pelo cadastro, é possível identificar geografica- mente – e por especialidade – a disponibilidade dos profissionais que podem assistir aos juízes quando há prova do fato de conhecimento específico, como determina o Código de Processo Civil (SILVA, 2019). SILVA, Karin Oliveira. Prova EQT Perícia 3ª edição: número de questões será reduzido. CRCPR Notícia, 12 mar. 2019. Disponível em: https:// www2.crcpr.org.br/imprensa/noticias/exibirParaLeitura/10609. Acesso em: 17 jul. 2019. Veja também a matéria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), dispo- nível a seguir: ZAMPIER, Deborah. CNJ regulamenta cadastro de peritos segundo regras do novo CPC. CNJ Notícias, 15 jul. 2016. Disponível em: http:// cnj.jus.br/noticias/cnj/82848-cnj-regulamenta-cadastro-de-peritos-se- gundo-regras-do-novo-cpc. Acesso em: 6 ago. 2019. O perito contador é aquele profissional regularmente registrado no seu CRC, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendoser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada. O perito oficial é o servidor público concursado para exercer a função específica de perito de forma interna ao órgão vinculado, exclusivamente, para produzir perícias e que exerce a atividade por profissão. O perito do juízo, já citado várias vezes, é nomeado pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para exercício da perícia contábil. E, por fim, o perito assistente, ou assistente técnico, é o contratado e indicado pela parte, ou em conjunto pelas partes, para realizar trabalhos em perícias contábeis, ou acompanhar as perícias judiciais e assessorar as partes na defesa de seus interesses (CFC, 2015a). Além de ser bacharel em Contabilidade e aprovado no EQT serem requi- sitos iniciais para o exercício da perícia, o profissional, como os demais contadores, deve ser elencado na Norma Brasileira de Contabilidade 21 Profissional Geral 12 (NBC-PG 12), que trata especificamente da educação profissional continuada do profissional de contabilidade. No item 4, essa norma elenca um rol de contadores obrigados a realizarem, no mínimo, 40 pontos de educação continuada, que são os auditores, contadores que fecham ou trabalham no fechamento de balanços para empresas com participação na Comissão Valores Mobiliários, e os peritos contábeis. São diversas formas de realizar essa pontuação: cursos, palestras, aulas, especialização, e cada tipo de evento terá uma pontuação indicada na tabela própria, que se somará e, ao final do ano-calendário, terá que totalizar 40 pontos ou mais, para o profis- sional se manter credenciado no exercício da profissão. É recomendável que você explore as NBC-TP 01, NBC-PP 01, NBC-PP 02 e NBC-PG 12, as quais podem ser encontradas no site https://cfc.org.br/. Acesso em: 16 jul. 2019. Será um estudo proveitoso! 2.1.1 Nomeação do perito e indicação dos assistentes Quando a interpretação de provas de um fato dentro de um processo judicial depender de conhecimento técnico e científico, o juiz será assistido por um perito judicial, o qual o auxiliará na justa solução da questão, como está previsto no art. 156, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015). Após a nomeação do perito e a aceitação pelas partes, abre-se um prazo de cinco dias para que, se as partes assim o desejarem, indicarem os assistentes técnicos. Perceba a condicional: se as partes assim o desejarem, portanto, não é obrigatória a indicação desse profissional. Frisa-se que a análise, pelas partes, da indicação de assistentes técnicos, é muito importante no processo. O termo utilizado, assistente técnico, não estabelece nenhum tipo de hierarquia entre os peritos contadores. É importante a contratação de um assistente técnico que seja um perito e esteja no CNPC. Os assistentes técnicos são contratados pelas partes e defenderão os interesses destas. Eles não têm o dever de imparcialidade, como o perito do juízo, porém, logicamente, mantendo-se a ética e a aplicação das normas brasileiras de contabilidade, frise-se que a defesa processual será realizada pelo advogado (PIZZO, 2012). 2.1.2 Independência, impedimento e suspeição 2.1.2.1 Independência Quando se fala de independência do perito contador, é necessário entender que esse profissional tem seu ambiente de trabalho exatamente no 22 meio de uma disputa, dessa forma, seu laudo pericial será em algum grau desfavorável a uma das partes, ou até mesmo às duas partes. Assim, deverá evitar qualquer interferência que possa constrangê-lo na realização de seu trabalho. O Código de Ética do Profissional Contador, atualmente, Norma Brasileira de Contabilidade Profissional Geral 01 (NBC-PG 01), coloca a independência como um dever do contador, para que isso não comprometa seus trabalhos. Por vezes, ocorrem situações no transcorrer de uma perícia que ameaçam essa independência, nesse caso, o perito contador deverá comunicar ao juízo presidente do processo para que se reestabeleça a independência profis- sional, sob pena de o perito ter que declinar dos trabalhos, informando o ocorrido e requerendo sua substituição, sem que isso possa causar qualquer tipo de constrangimento das partes, do juízo ou do perito. Isso deve ser reali- zado imediatamente ao conhecimento de fatos e circunstâncias que possam comprometer os trabalhos periciais, sob pena de anular todos os atos prati- cados e podendo até ensejar reparações de danos e na prática de crimes. 2.1.2.2 Impedimentos Os impedimentos da aceitação ou realização de um trabalho pericial podem ser de duas ordens: legal ou técnico-científico. a) Impedimentos legais Os impedimentos decorrem de legislações específicas a respeito do tema. Como os peritos contábeis devem respeito às NBCs e a outros normativos emitidos pelo CFC, encontramos na NBC-PP 01 (CFC, 2015b), no item 13, o endereçamento dos impedimentos do perito contador; e na Lei nº 13.105/15, o CPC, em seu art. 156, § 4º, que se remete ao art.144, os impedimentos do juiz, que são aplicáveis da mesma forma para os auxiliares da justiça, incluindo, nesta categoria, os peritos judiciais. Em casos raros, poderá haver impedimento dos assistentes técnicos, já que a regra é que estes são contratados pelas partes e não são auxiliares do juízo. Vamos efetuar uma releitura do que trata o art. 144, do CPC (BRASIL, 2015), para adaptar aos impedimentos dos peritos contadores judiciais ou perito contadores arbitrais: “I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Neste caso, se o perito já atuou, 23 por exemplo, como advogado, procurador nos órgãos públicos de uma das partes, ou testemunha em outros processos a respeito do tema, não pode realizar a perícia. “II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Neste caso, se o perito contador já atuou como contador de uma das partes, foi empregado de uma das partes, auditor, consultor, ou fez aconselhamentos a respeito de outros trabalhos, está impedido de atuar na perícia. “III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Caso bem óbvio, quando no processo estiver atuando o cônjuge do perito, qualquer parente, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, deve-se declarar impedimento. “IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou compa- nheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Mais evidente ainda, quando o perito contador for parte no processo, ou tiver interesse no resultado deste, não deve atuar como perito. “V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Outro caso de destaque, se o perito for sócio, diretor, gerente, empregado ou acionista de uma das partes, está impedido de ser perito. “VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Caso bem típico, se o perito contador estiver no testamento como herdeiro, ou tiver a possibilidade de herdar bens de uma das partes, está impedido de ser perito, assim como quando for o doador de bens ou empregador de qualquer das partes. “VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Se o perito contador for professor ou trabalhar para instituição de ensino, está impedido de atuar nos autos em que a instituição de ensino for parte. “VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, emlinha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Aqui, repete-se a vedação de parentes. 24 “IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Por último, quando o perito contador em outro processo demandar contra qualquer parte ou contra qualquer advogado que está atuando no processo. São exemplos dados pelo próprio código para o juiz e os auxiliares da justiça, mas diversas outras circunstâncias e fatos podem surgir e causar impedimentos, entre os mais comuns estão as manifestações públicas em mecanismo de comunicação virtual a respeito da matéria objeto da perícia, que pode ser prévia, isto é, o perito não sabia que poderia ser nomeado e comenta, dá sua opinião, então, você pode concluir que ele ficou impedido de ser nomeado. Por essa razão, o perito deve se abster de dar opiniões a respeito de qualquer assunto fora dos autos ou de seu escritório, pois isso causa muitos impedimentos e, consequentemente, perdem-se muitos serviços. Assim, a postura profissional de um perito contador deve ter como fator determinante, como você já percebeu, sua independência e estar isento de qualquer motivo que invalide sua avaliação técnica. Não é demais afirmar que a declaração de impedimento não causa qualquer constrangimento ao perito, ao juiz, ou às partes, mas demonstra o zelo profissional do perito contador, que não quer emitir laudo pericial que possa ser invalidado ou prejudicar qualquer uma das partes. b) Impedimento técnico-científico Os impedimentos técnico-científicos são aqueles relacionados à capaci- dade técnica do perito contador, ou seja, este precisa ter conhecimento profundo da matéria questionada no processo, ser de sua especialidade, emprestando todos os deveres do contador constantes em seu código de ética profissional (CFC, 2019). Como causa de impedimento técnico, pode-se citar a necessidade de recursos humanos e materiais para a realização dos trabalhos definidos no planejamento e cronograma. Por exemplo, um perito sozinho não conse- guiria dar conta de uma perícia que envolvesse diligências em vários estados, ou até mesmo em diversos municípios. 2.1.2.3 Suspeição Você já aprendeu que impedimentos são causas absolutas de afastamento do perito contador do trabalho pericial, sob pena de nulidade de todos os atos processuais que envolveram a perícia. No caso da suspeição, o que se ataca é a imparcialidade, esse é o núcleo do tema, e às vezes são os mesmos fatos 25 ou circunstâncias do impedimento, mas a suspeição é relativa e se confunde com ser ou não impedido. Da mesma forma, vamos fazer uma releitura do art. 145, do CPC (BRASIL, 2015), que trata da suspeição, e indicar alguns exemplos aplicáveis ao perito contador: “I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). O primeiro ponto é avaliar se o perito contador, ao ser um amigo íntimo ou um inimigo das partes ou dos advogados, realizará um laudo pericial com imparcialidade e isenção. A resposta pode ser que “sim”, ou pode ser que “não”. Você já percebe que é algo subjetivo e pessoal. Nesses casos, é melhor que o perito contador seja afastado do processo. Ele pode declinar de sua nomeação, usando como fundamento o § 1º deste artigo: “motivo íntimo”, ou a parte que se sentir prejudicada vai alegar a suspeição, começando um ritual processual chamado de exceção de suspeição, portanto, o perito contador deve avaliar bem a situação e perceber se vale a pena passar por esse constrangimento. “II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Existem muitos elementos de impedimento: aconselhar, ajudar com material ou com tese a respeito da matéria envolvida, receber presentes das pessoas envolvidas, ter trabalhado para uma das partes, etc. O perito contador deve se declarar suspeito e solicitar seu afastamento do processo. “III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive;” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Perceba que é o elemento familiar, até o terceiro grau, combinado com ter interesse nos frutos da ação, manter negócios com as partes. O perito contador é suspeito e deve se afastar do processo. “IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.” (BRASIL, 2015, [s.p.]). Neste ponto, é evidente a suspeição se o perito contador tiver interesse no resultado da ação em benefício de qualquer uma das partes. Por último, o perito pode se declarar suspeito por motivo íntimo. Esse motivo é uma saída para todos os demais casos. Na prática profissional, não é recomendável o uso desse termo tão genérico, que pode ser qualquer coisa. O ideal é que o perito contador tenha sua independência intelectual, profissional 26 e científica inabalável, e quando tiver que abandonar um trabalho, faça uma justificativa plausível. Mas de toda sorte, existe esta válvula de escape. Como você já percebeu, esses dispositivos são exemplificativos, podem surgir fatos e circunstâncias das mais variadas formas e locais e, sempre que isso acontecer, o próprio perito contador pode solicitar seu desligamento do processo em decorrência disso, ou qualquer das partes, tomando conheci- mento da ocorrência de fato que gere a suspeição, pode requerer ao juiz o afastamento do perito, e o juiz, aceitando a suspeição, avaliará o quanto isso comprometeu os trabalhos, eventualmente, já realizados. O juiz determinará a nomeação de novo perito contador e que se refaçam os atos necessários, para não causar nulidade e nem prejuízo às partes, assim como exigirá a devolução de todo ou de parte dos honorários recebidos. É importante destacar que a NBC-PP 01 (CFC, 2015b), itens 16 e 17, reproduz, com outras palavras e ordem, fielmente o normatizado no CPC, por isso, dispensa nossas considerações. Recomenda-se que se faça a leitura da norma profissional. 2.1.3 Responsabilidades As responsabilidades do perito contador, naturalmente, derivam das responsabilidades do próprio contador, as quais, por sua vez, estão elencadas no Código de Ética Profissional do Contador (NBC-TG 01), que dentre os diversos deveres estabelece que o contador deve exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observando as NBCs e a legis- lação vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; manter sigilo das informações obtidas na realização de trabalhos profissio- nais; e abster-se de interpretações tendenciosas no seu trabalho. Questões para reflexão O perito contábil, ao aceitar o encargo judicial ou arbitral, por força da lei, se equipara ao auxiliar da justiça. Será que contra ele se aplicam todos os crimes típicos dos servidores públicos? Sendo assim, o perito contábil deve conhecer suas responsabilidades sociais, éticas, profissionais e legais, pois no momento que um contador, na função de perito contábil, aceita o encargo da perícia a ser realizada, seja judicial, arbitral ou extrajudicial, estará sujeito ao seu código de ética e às NBCs, além dos regramentos legais, que se aplicam ao cidadão comum. 27 2.1.4 Responsabilidades civil e criminal O perito contábil possui vários direitos, assim como várias responsabi- lidades. A NBC-TP 01 aponta que o perito contador responderá civilmente pelos danos que causar às partes no processo. As penalidades poderão ser multas, indenizações e até a inabilitação para o exercício da profissão. Mas não para por aí: o juiz pode encaminhar para o Conselho de Ética do CRC, para que seja apurado todo tipo de comportamento que causou prejuízoàs partes, tais como: imperícia técnica, extrapolação de prazos, inadequação de linguagem técnica, desvio de conduta profissional, falta de ética, etc. Já quanto às reponsabilidades penais, a NBC-TP 01 é econômica, afirmando que a legislação penal estabelece penas de multa e reclusão para os profissionais que exercem a atividade pericial que descumpram as normas legais. Da mesma forma, o juiz, ao se deparar com procedimentos dos auxiliares da justiça, no caso, o perito contábil, que, em tese, são tipificados como crime, remeterá para autoridade competente, ou seja, o Ministério Público, para a apuração dos fatos e, se for o caso, será proposta a ação penal cabível, que pode resultar na aplicação de multa, pena alternativa e até reclusão. Sem prejuízo de se encaminhar os fatos para o Conselho de Ética do CRC, para apuração de falta de ética profissional. 2.1.5 Zelo profissional Ao se estudar o perito contador e os assistentes técnicos, não se pode deixar de abordar o zelo profissional, descrito de forma sucinta na NBC-TP 01 como o cuidado que o contador perito deve dispensar na execução de suas tarefas. Nesta parte, é ideal que você refaça a leitura da NBC-PG 01, Código de Ética Profissional do Contador, pois é o caminho seguro para o exercício da profissão de contador, já que o profissional será cobrado a respeito de sua conduta profissional. Todo o serviço realizado por um profissional de contabilidade deve estar pautado na ética, na urbanidade no trato com as pessoas, no sigilo profissional, no respeito aos prazos, no esclarecimento de todas as demandas das partes e na manutenção de uma linguagem técnica da profissão, porém sem rebuscamento ou termos de difícil compreensão. 2.1.6 Utilização de trabalhos de especialistas Sempre surge a seguinte pergunta no estudo da responsabilidade pessoal do perito contador ou do auditor: eles podem utilizar outros profissionais para a realização de seus trabalhos de perícia contábil? As NBCs permitem que se utilizem especialistas de outras áreas para a realização do trabalho quando parte da matéria ou do objeto da perícia assim o requeira. Até porque 28 o perito contador não é um sabe tudo, existirão áreas que são de domínio de outros profissionais, mas que não se requer uma perícia própria, somente esclarecimentos e interpretações, para conclusão da perícia contábil. A ressalva que se deve fazer é: se o perito contador utilizar informações de um especialista, inclusive, se anexar documento emitido por este, são de sua responsabilidade todas as informações contidas em seu laudo ou parecer. É recomendável que o perito contador faça o termo de diligência de trabalho de especialista. 2.1.7 Quesitos suplementares e esclarecimentos Ao concluir seus trabalhos, o perito judicial responderá aos quesitos propostos pelo juízo, os quais são formados pelos quesitos oportunos e perti- nentes propostos pelas partes e pelos quesitos do juiz, após a delimitação do objeto da perícia. O juízo deve excluir quesitos inoportunos e impertinentes para a solução do caso, mas o perito contador não pode fazer o mesmo. Ao apresentar o laudo pericial, pode surgir a necessidade de esclareci- mentos por parte do perito contador, seja para complementar ideias, para pequenas correções, ou para dizer os parâmetros utilizados. São vários os fatores que levam as partes e o juízo a solicitarem esclarecimentos do perito contador. Uma vez solicitados, o perito contador responderá por escrito ou em audiência. Quanto aos quesitos complementares, o perito contador deve ficar atento a esse pedido. Se eles estiverem fora do objeto da perícia, será considerado aumento de perícia, então, nova perícia, surgindo o direito de pleitear novos honorários. Não existem quesitos complementares simples, o resultado deles será nova perícia, e um novo laudo pericial será confeccionado (CPC, 2015a). 2.1.8 Honorários Ao apresentar o seu cronograma de trabalho, o perito também fará constar sua proposta de honorários, se for uma perícia judicial. Aceita a proposta de honorários, o juiz determinará à parte que faça o depósito do valor, sob pena de desistir da perícia e aceitar as alegações da parte contrária. Existem quatro hipóteses: a) o requerente (autor) deve depositar honorá- rios, e a perícia contábil será para provar seu direito relatado na petição inicial; b) o requerido (réu) deve depositar, e a perícia contábil será para provar seus argumentos de defesa; c) as duas partes, em conjunto, requerem perícia e fazem um depósito conjunto, com o propósito de esclarecer os fatos 29 e apresentar a verdade; d) o Juiz determina a perícia, define o valor dela e solicita o depósito das partes. O perito poderá solicitar o levantamento antecipado de parte de seus honorários, os quais, segundo o § 4º, do art. 465, do CPC, poderão ser de até 50% do valor total; o restante será recebido ao final ou em partes, cujo valor será corrigido monetariamente pela tabela do tribunal. O juiz poderá, nos casos de perícias inconclusivas, com deficiência técnica, reduzir o valor dos honorários do perito. Não existe uma fórmula para isso, dependerá da análise, caso a caso. Você deve saber que existem perícias judiciais em processos que a parte é beneficiária de assistência judicial gratuita, nesses casos, geralmente, os tribunais possuem uma tabela de honorários fixos que os peritos aceitam receber, que são pagos ao final do processo. Os assistentes técnicos são contratados pelas partes e seus honorários são pagos por elas, podendo ser ressarcidos ao final pelo perdedor da ação. Questões para reflexão Com a implantação do processo eletrônico, é possível que a documen- tação da perícia seja toda realizada por meio digital, no qual constem documentos digitais, fotos, vídeos, planilhas, entrevistas? E para o laudo pericial sejam disponibilizadas somente as informações necessárias? 2.2 Laudo pericial e parecer técnico-contábil Agora que você já estudou o que é perícia contábil, os tipos de perícias contábeis, a finalidade da perícia contábil, quem são o perito contábil e os assistentes técnicos da perícia contábil, o ambiente de realização da perícia e os procedimentos aplicados nas perícias contábeis, podemos indagar: qual é o resultado de todo esse trabalho, que auxiliará o juiz na decisão da causa ou o árbitro na sua mediação ou sentença de arbitragem? Como desenvolver um laudo pericial contábil? Como desenvolver um parecer técnico-contábil? Qual é a diferença entre laudo pericial e parecer técnico-contábil? Quem elabora esses documentos? Vamos iniciar pela diferença clássica entre laudo contábil e parecer técnico-contábil: a. O laudo contábil é o resultado do trabalho do perito contador; é um relatório minucioso de todo o transcorrer da perícia contábil, da metodologia aplicada e das respostas aos quesitos, que se traduz numa conclusão precisa e certa (CFC, 2015a). 30 b. O parecer técnico-contábil é o documento emitido pelos peritos assis- tentes, com os mesmos detalhes do trabalho pericial, mas com um elemento próprio, que pode ser um questionamento do laudo pericial, porque os assistentes técnicos podem concordar com o laudo pericial, discordar totalmente, concordar parcialmente e apresentar outras vertentes de análise (CFC, 2015a). 2.2.1 Laudo pericial O laudo pericial é regulado por algumas normas legais: o CPC, no art. 473; a NBC-TP 01, itens do 47 ao 66; e o Decreto-Lei nº 9.245/46, no art. 25, alínea c). Como você já sabe que o laudo pericial contábil tem seu ambiente próprio nos processos judiciais, vamos iniciar analisando o art. 473, do CPC (BRASIL, 2015, [s.p.]): Art. 473. O laudo pericial deverá conter: I - a exposição do objeto da perícia; II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV - resposta conclusiva a todos os quesitosapresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. § 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões. § 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua desig- nação, bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia. § 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assis- tentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessá- rios, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia. O código já parte diretamente para a exposição do objeto da perícia, que é quando o perito contábil irá, resumidamente, expor qual é o objeto de seu trabalho. 31 No inciso II, são as análises técnicas ou cientificas realizadas, com descrição cuidadosa de todas as análises e percepções do perito contábil, elaboração de gráficos, tabelas, revisões, mapas e, por vezes, registros digitais, tais como fotos e filmes, ou seja, tudo que possa ser utilizado para fundamentar as respostas aos quesitos é aplicação dos procedimentos periciais já visto. No inciso III, é a definição da metodologia aplicada. Geralmente, usam-se normas técnicas de cada categoria; no caso da contabilidade, são normas de contabilidade e auditoria, mas, às vezes, procedimentos de estatística, matemática financeira e econometria. Nos parágrafos, o código trata da linguagem a ser utilizada no laudo contábil ou no parecer técnico. O texto deve ter introdução, desenvolvi- mento e conclusão, apresentando uma lógica; trata dos limites da perícia, e isso merece destaque; o perito contábil se limita a responder aos quesitos apresentados, fora disso, deve ficar em silêncio, não deve emitir opinião; por fim, a retomada do item III, aplicação dos procedimentos para realização da perícia, ou seja, deve o perito contábil e os assistentes técnicos se valerem de todo material que estiver ao alcance para chegarem a uma conclusão no laudo contábil ou no parecer técnico-contábil. A NBC-TP 01 (CFC, 2015a), quando trata da estrutura do laudo pericial, é mais generosa, trazendo diversos itens necessários. • Começa pela necessidade de identificação do processo e das partes envolvidas, seguindo um padrão processual, em que todos os atos têm esse cabeçalho. • Em seguida, traz a síntese ou o resumo do objeto da perícia, isto é, do que se trata a perícia contábil. • Um resumo dos autos, um relato pormenorizado dos pedidos e da defesa e os resultados do despacho saneador, para que os leitores tenham conhecimento dos fatos relatados sobre as questões básicas que resultaram na nomeação e necessidade de contratação do perito. • Metodologia adotada para os trabalhos periciais e esclarecimentos, isto é, o porquê da escolha do método e o que isso contribui para perícia. • Relato minucioso das diligências realizadas, uma redação pormenori- zada, minuciosa, efetuada com cautela e detalhamento em relação aos procedimentos e aos resultados do laudo e do parecer. • Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o laudo pericial contábil. 32 • Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o parecer técnico contábil e, onde houver divergência das respostas formuladas pelo perito do juízo, observações do assistente técnico. • Conclusão é a quantificação, quando possível, do valor da demanda, mas pode ser a respeito da veracidade dos dados apresentados, da legitimidade do contrato. • Termo de encerramento, constando a relação de anexos e apêndices. Se houver citações de obras e autores, inserir referência no rodapé, praxe no meio jurídico. Apêndices são documentos elaborados pelo perito, enquanto anexos são documentos entregues pelas partes ou por terceiros, com o intuito de complementar a argumentação ou os elementos de prova. • Assinatura do perito ou assistente técnico, com seu nome, categoria profissional de contador e número de registro no CRC. Atualmente, usa-se certificação digital, inserção de código de barras para identifi- cação do processo e das partes. A linguagem adotada pelo perito contábil deve ser clara e concisa, evitando enrolação ou termos de difícil compreensão, com uma linguagem técnica da profissão contábil. Se necessário, os termos técnicos devem ser esclarecidos pelo perito. O texto deve ser no idioma do país e, quando fizer uso de expressões consagradas de outras línguas, estas devem ser traduzidas. No laudo pericial contábil, o perito deve ter o cuidado de não omitir nenhum fato relevante encontrado no decorrer de suas pesquisas ou diligên- cias, desde que esteja relacionado com o objeto da perícia. Quantificação de valores somente são aplicáveis quando existirem quesitos próprios para apuração de haveres e liquidação de sentença. Existe uma questão muito importante para as conclusões: quando o laudo pericial contábil exigir a apresentação de várias alternativas possíveis, o perito contábil deverá formular quantas conclusões sejam necessárias, com alternativas condicio- nais e justificativas dos critérios técnicos adotados para cada uma delas. 33 O perito contábil e os assistentes técnicos podem assinar o laudo contábil em conjunto, sendo responsáveis solidários pelas informações prestadas. Para os assistentes técnicos, o efeito é que não poderão mais questionar o resultado da perícia contábil. O laudo pericial pode ser apresentado da seguinte forma: imagine dois sócios que conseguiram excluir um terceiro sócio da sociedade, e o sócio excluído não aceita os valores oferecidos pela sua retirada da sociedade e requer em juízo uma apuração do real valor dos bens da empresa, sem levar em conta o fundo de comércio. A defesa apresenta os balanços dos três últimos anos, com os quais o requerente (lembra o autor do processo) não concorda, afirmando que eles não refletem a realidade. O juiz determina, então, a realização da perícia com poucos quesitos. 1. Os balanços e assentos contábeis obedeceram às normas brasileiras de contabilidade? 2. Os valores contabilizados nos grupos do ativo estão corretos? Se não, quais são os valores corretos? 3. Os valores contabilizados nos grupos do passivo estão corretos? Se não, quais são os valores corretos? 4. Qual é o valor correto do patrimônio líquido da empresa pertencente a cada sócio? Seguindo a estrutura de uma perícia contábil, o perito contábil é nomeado, faz as análises preliminares, analisa os quesitos, verifica a documentação juntada nos autos, anota os documentos faltantes, examina os balanços apresentados, analisa o tempo necessário para o desenvolvimento da tarefa, elabora seu cronograma de atividades e efetua a proposta de honorários. Supondo que tudo vai a contento, perito aceito, honorários depositados, documentos entregues no prazo fixado e acesso a todas as informações, o perito conclui seus trabalhos no prazo e elabora o laudo pericial. 34 Quadro 1.1 | Modelo exemplificativo de um laudo pericial simplificado Laudo Pericial Autos de nº XXXX.XXXXXX-XX Parte Requerente: sócio excluído Partes Requeridas: sócios remanescentes e a pessoa jurídica Síntese do objeto da perícia: Apuração dos valores das quotas patrimoniais da empresa xxx. Resumo dos autos: o requerente, inconformado com os valores oferecidos para sua retirada da empresa, requer apuração dos valores reais de suas quotas patrimoniais; os requeridos, por sua vez, apresentam farta documentação da contabilidade e balanços dos últimos três anos, sustentando que os valores oferecidos estão corretos e que a contabili- dade obedeceu às normas brasileiras de contabilidade. Metodologia adotada: pode ser estudo de caso, método indutivo ou dedutivo, comparati- vo, refazimentos dos lançamentos contábeis, recálculos, etc. Relato das diligências:supondo que o perito tenha detectado nas análises preliminares, ou o requerente apresentou análise da contabilidade, afirmando que esta não apresenta credibilidade pela existência de diversos vícios administrativos, informações desatualiza- das e incoerentes, pagamentos sem comprovação, etc. Apresentar os termos de diligências nas vistorias realizadas na empresa, como foi o exame dos livros contábeis e dos documentos apresentados, a recontagem de estoques, a reconciliação das contas a receber e a pagar, etc. Levantamento de novos balanços. Neste tópico, são operacionalizados todos os procedimentos; geralmente, os peritos utilizam planilhas, fluxogramas, mapas, fotos, etc. Colocar os documentos produzidos pelo perito contábil nesta parte, se for útil para demonstrar o trabalho dele, senão colocar como apêndice ou anexo. Quando o perito tiver concluído seu trabalho, pode responder aos quesitos: Descreve os quesitos e suas conclusões. Quesito 1; Quesito 2; Quesito 3; Quesito 4. Neste último quesito, apresentar de forma definitiva o valor pertencente a cada sócio. Faz-se uma conclusão. Termo de encerramento, constando a relação de anexos e apêndices. Nome, assinatura, nº do CRC e categoria de contador, perito judicial, com nº de registro. Fonte: adaptado de do item 65, da NBC TP 01 (CFC, 2015a). Nesta seção, você continuou a se apropriar de conceitos a respeito da perícia, como o conceito de perito contábil e de assistentes técnicos, suas diferenças conceituais, as exigências para ser um perito habilitado nos tribunais, as formas de nomeação dos peritos e dos assistentes técnicos nos processos judiciais e extrajudiciais. Também, tomou conhecimento da necessária independência profissional dos peritos, além das causas de impedimentos absolutos e de suspeição para os peritos contábeis. Analisou, na legislação, as implicações legais da profissão de perito judicial contábil ou extrajudicial, suas responsabilidades, o zelo profissional aplicado à sua profissão, a possibilidade de utilização de trabalhos de terceiros, as formas de resolver quesitos suplementares e esclarecimentos de seu laudo pericial, a fixação de honorários e, por último, o laudo pericial, seus requisitos e formas, bem como um modelo para estudo. 35 Atividades de aprendizagem da seção 1. O perito é o profissional que, possuindo conhecimentos técnicos de sua área, atua para trazer mais clareza a respeito de fatos postos à sua apreciação. A NBC-TP 01 classifica os peritos em: perito contador, perito oficial, perito do juízo e perito assistente. Somente em relação ao perito do juiz, assinale qual dos conceitos o representa: a. É o servidor público concursado para exercer a função específica de perito de forma interna ao órgão vinculado, exclusivamente, para produzir perícias e que exerce a atividade por profissão. b. É o perito contratado e indicado pela parte ou em conjunto pelas partes para realizar trabalhos em perícias contábeis, ou acompanhar as perícias judiciais e assessorar as partes na defesa de seus interesses. c. É o perito nomeado em processo judicial ou arbitral para exercício da perícia contábil. d. É o perito de matérias diversas de contabilidade, que esclarece fato ou técnica para a elaboração do laudo pericial contábil. e. É aquele profissional regularmente registrado no seu CRC, que exerce a atividade pericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhe- cedor, por suas qualidades e experiências, da matéria periciada. 2. O perito judicial nomeado para determinado processo, após realizar diversos procedimentos, verificou que sua filha casada figura como sócia minoritária nos atos constitutivos da empresa periciada, fato que desco- nhecia até aquele momento. Assinale a alternativa CORRETA, de acordo com NBC-PP 01 e a Lei nº 13.105/15 (CPC), que caracteriza a atitude do perito do juiz: a. Declarar-se impedido de atuar no processo. b. Declarar-se suspeito de continuar a perícia judicial. c. Declarar que perdeu sua independência profissional. d. Continuar os trabalhos pericias, tendo em vista que já recebeu parte dos honorários. e. Continuar os trabalhos periciais, pois acredita que não perdeu sua independência profissional ou sua imparcialidade. 36 Seção 3 Arbitragem e mediação A vida em sociedade e no mundo dos negócios está repleta de disputas diárias, as quais, por vezes, se transformam em demandas que exigem a intervenção de pessoas ou instituições fora desse relacionamento para a sua solução, seja ela na forma de autocomposição ou heterocomposição. Na autocomposição, as partes são capazes de chegar a um denominador comum a respeito de sua demanda, seja num acordo entre as partes, seja com a ajuda de uma pessoa fora do judiciário, um terceiro de fora da disputa, que auxiliará, orientará e apresentará outros pontos de vista sobre a contenda; a isso chamamos de conciliação e mediação. Já na heterocomposição, as partes necessitam de alguém com poderes do Estado, um juiz ou um árbitro, para dizer o direito às partes; a isso chamamos de arbitragem ou judiciário, tribunal de justiça. Nesta seção, vamos nos concentrar nos métodos de arbitragem, que é um método de heterocomposição, regido pela Lei nº 9.307/96 (LA), e na mediação e conciliação, que são métodos de autocomposição, os quais foram introduzidos no direito cível pelo Código de Processo Civil (CPC), Lei nº 13.105/15, que abriu um campo de atuação para profissionais de diversas áreas, inclusive, a contábil, podendo o contador ser juiz arbitral, mediador, conciliador ou atuar como perito contábil em todas as formas de solução de conflitos com apuração de haveres e em matérias correlatas à contabilidade. 3.1 Arbitragem A arbitragem já existia no direito brasileiro desde o Império, mas com o advento da promulgação da Lei nº 9.307/96, a qual dispõe especificamente a respeito de arbitragem, esse instituto ganhou novo fôlego e destaque na solução de conflitos fora do Judiciário. A busca por um meio alternativo de solução para os conflitos sociais, negociais e entre órgãos públicos e a sociedade sem passar pelo Judiciário é parte do desenvolvimento de uma cultura da pacificação social, princípio instituído no CPC, em seu art. 3º, no qual o estado reafirma que não será excluída da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão ao direito, cultura da judicialização, cultura da sentença, entretanto, nos parágrafos seguintes, já convoca o próprio Judiciário a adotar meios alternativos de solução de conflitos. No § 1º, permite a arbitragem, na forma da lei; no § 2º, impõe ao juízes que o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual 37 dos conflitos, obrigando, a qualquer tempo, durante o processo, tentar a conciliação entre as partes; e no § 3º, reforça o chamado para a conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos, afirmando que os juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público serão estimulados a se utilizar de tais métodos, inclusive, no curso do processo judicial (BRASIL, 2015). Para saber mais Em 1494, tivemos uma arbitragem importante para as terras da América, o Tratado de Tordesilhas. As terras descobertas na América foram objeto de disputa entre Portugal e Espanha, tendo como árbitro o Papa Alexandre VI. Hoje, você pode recomendar aos seus clientes a arbitragem e a mediação, colocando, nos contratos elaborados pelo contador, a cláusula compromissória no seguinte modelo, adaptado de FIEP (2019): “Qualquer disputa ou controvérsia relativa à interpretação ou execução deste contrato, ou de qualquer forma oriunda ou associada a ele, e que não seja dirimida amigavelmente entre as partes, deverá ser resolvida de forma definitiva por arbitragem ou mediação, nos termos do Regula- mento de Arbitragem e Mediação da Câmara de Arbitragem e Mediação (indicar a câmera ou o árbitro/mediador) e sob a administração da mesma Câmara” FIEP. Modelos de cláusulas compromissórias. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2YUPjSF.
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