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Aula 01 13 05 2020

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PSICOSSOMÁTICA 
Aula 01- data: 13/05/2020 
Prof: Marcella Passarelli 
 
1. Considerações Históricas 
 
Sabe – se que a medicina pré-helênica era dominada por concepções mágico- 
animistas sobre as influencias dos elementos da natureza agindo do homem. Com 
grande florescer do conhecimento humano em geral, que caracterizou a Grécia antiga 
esboços de concepções e práticas médicas mais próximas do cientifico também 
surgiram. Na Grécia pré- hipocrática a medicina era praticada inicialmente de modo 
também mágico nos templos de Esculápio, de onde os doentes eram expulsos a 
pedradas. Todavia, alguns anos antes da fase hipocrática os gregos já começaram a se 
voltar para as observações e experimentações. 
Assim, era em linhas gerais, a medicina da Grécia antiga, quando surgiu 
Hipócrates. Zilboorg diz-nos que Hipócrates viveu numa era única da história (256). Os 
maiores pensadores Gregos do apogeu Helênico foram seus contemporâneos. Sua 
grande cultura, inteligência e senso crítico, voltados para o sofrimento humano, 
consagraram-no o pai da medicina. Sua sentença “nada ao acaso; nada a ser visto por 
alto” caracteriza o sentido global do seu interesse médico, que o levava a, além de 
examinar cuidadosamente seu paciente, conversar com ele, inquirindo- o sobre suas 
queixas, inclusive sobre as circunstâncias nas quais se iniciaram, como também sobre 
hábitos e condições de vida. Também iniciou a pratica de conversar com os parentes do 
paciente sobre o que sabiam a respeito de sua doença. 
Assim, como diz-nos Desmond O’neill (175), o objetivo de Hipócrates era a 
doença, não a parte, e sim o todo, o indivíduo. As teóricas mágicas das primeiras escolas 
médicas, como da Mesopotâmia, dominadas pela demonologia, foram postas de lado e 
substituídas por uma concepção humoral. A doença seria um desequilíbrio nos humores 
corporais em consequência das disposições naturais do paciente ou temperamento das 
influencias do meio ambiental e das ações atuais do paciente. 
Hipócrates tentou ser médico integral que se preocupasse com as doenças 
físicas e com os problemas mentais. Foi ele quem considerou o cér;.mkebro com o órgão 
do pensamento e escreveu que as doenças mentais tinham causas naturais, 
desmitificando a epilepsia como doença sagrada. Também descreveu de modo 
completo quadros melancólicos, maníacos e paranoicos, classificando-os inclusive. E seu 
interesse pelos temas psicológicos relacionados com as enfermidades provocou reações 
da cultura vigente em sua época, como aliás acontece ainda dos dias atuais. 
Aliás, nas próprias descrições de Hipócrates pode- se perceber seu interesse 
pelos aspectos mentais e físicos: descrição dos delírios dos tuberculosos, dos distúrbios 
de memória em um caso de disenteria e estados confusionais agudos seguindo grave 
hemorragia. Este interesse levou- a fazer as primeiras criações do que hoje chamamos 
de alternância psicossomática ao dizer o surgimento de uma desinteria pode aliviar um 
quadro de loucura, ou que os estados maníacos podem desaparecer quando surgem 
varizes ou hemorroidas. Não é sem razão que Zilboorg afirma que Hipócrates escreveu 
a primeira página da história da psicologia médica e que esta permaneceu por muitos 
anos sem adição de uma linha outros grandes nomes da filosofia e a medicina grega, 
todavia, também contribuíram para o alvorecer destas ideias. 
Platão, apesar do seu alto grau de abstração, foi essencialmente um místico e 
contribuiu muito pouco para a compreensão integral do homem. Assim, na sua visão 
fundamental, a mente governava inteiramente o corpo, que era apenas o executor de 
seus desejos e idéias. As concepções de Platão são ao mesmo tempo divisionistas- 
haveria duas almas, um racional e mortal e os afetos e emoções que aí habitam são 
consideradas inferiores e destituídos de importância corporal. Apesar destas ideias 
racionalistas tão distantes das concepções de Hipócrates, Platão teve momentos de 
maior intuição quando disse, que por exemplo, que quando a alma entra no corpo de 
modo muito forte produzem- se mudanças mentais e também este é afetado, 
acrescentando que se estas ações são muito poderosas o corpo entra mesmo num 
estado de consumpção. 
Galeno, que foi a última grande figura da medicina neste período, ao lado das 
suas já clássicas contribuições taxonômicas, também assinalou que o alcoolismo, a 
adolescência, as perturbações da menstruação, os fracassos econômicos e amorosos 
poderiam ser causas de doenças mentais. 
 
2. Conceitos fundamentais. 
A medicina psicossomática, expressão sob a qual se acumulam estes vários 
conhecimentos é, portanto, mais uma atitude e um campo de pesquisa e não uma 
especialidade médica, como o que queriam os primeiros investigadores a trabalhar 
neste terreno. Assim, tende a tornar-se uma concepção definitivamente integrada ao 
saber médico, por uma natural absorção paulatina de suas ideias e descobertas. 
Compartilhamos da concepção que toda doença humana é psicossomática, já 
que incide num ser sempre provido de soma e psique, inseparáveis, anatômica e 
funcionalmente. E, neste mesmo sentido, a divisão de doenças em orgânicas e mentais 
é acima de tudo um problema de classificação de formas clínicas, já que todas as 
doenças orgânicas sofrem, inevitavelmente, influencias da mente de quem se apresenta 
e as doenças mentais são traduzidas em sua intimidade última, por processos 
bioquímicos que, de resto, acompanham todos os momentos de viver. Em última 
instancia, os processos biológicos, mentais ou físicos são simultâneos, exteriorizando – 
se predominantemente numa área ou noutra, conforme a sua natureza ou ângulo sob 
qual estão sendo observados. 
Vale assinalar que a expressão psicossomática foi de início usada para referir- 
se apenas a certas doenças, como a úlcera péptica, a asma brônquica, a hipertensão 
arterial e a colite ulcerativa, em que essas correlações psicofísicas eram muito nítidas e 
que tal uso ainda persiste em certos meios médicos. Todavia, à medida que as 
observações de pacientes eram enfermidades as mais diversas prosseguiam, os 
pesquisadores neste campo foram percebendo que tal conceituação é potencialmente 
válida para toda e qualquer doença e a tendência atual dominante é a unitária; de outro 
modo que partiríamos para uma nova divisão, em doenças psíquicas, somáticas e 
psicossomáticas. 
A expressão medicina psicossomática tem sido criticada sob vários ângulos. Por 
um lado, tem sido dito que ela já contém implicitamente uma única direção: da pisque 
para a soma. Por outro, que não abrange a totalidade dos fenômenos que influenciam 
o homem na saúde e na doença: sociais, culturais, ect.. Também segundo outros porque 
já perpetua em si a divisão mente- corpo. 
Assim, para substitui-la tem sido proposto outros termos inclusive por autores 
brasileiros como Danilo Perestrello (medicina da pessoa). A nosso ver, contudo a 
designação original impõe- se, apesar das possíveis imperfeições, pelo seu uso. O grande 
ausente, pensamos na designação de fatores sociais, que poderiam ser acrescidos na 
expressão medicina psico- sócio- somática. Todavia, por pensar que a terminologia 
original está definitivamente implantada, não advogamos o uso desta nova expressão. 
Apenas das reações do modelo médico tradicional a este novo enfoque, as 
ideias psicossomáticas, e suas aberturas, vêm ganhando terreno na formação e prática 
médicas, sendo uma prova clara disto a atual definição de doença da Organização 
Mundial da Saúde abrangendo as influências biopsicossociais. 
Dentre os vários conceitos advindos da pesquisa psicossomática, um dos 
primeiros foi o de psicogenidade, isto é, o estudo da gênese de sintomas ou doenças a 
partir de suas causas. Outro conceito atual foi a somatização, ou seja, indução de um 
processo somático a partir de influencias mentais. 
O desenvolvimento da pesquisa psicossomática nos orienta, contudo, para 
pensar semprenuma possível influência psicológica na gênese de qualquer doença, tal 
é a importância da mente em nossos processos biológicos. Qualquer que seja a origem 
de uma doença, por incidir num ser que é sempre mental, passa a ser instantaneamente 
psicossomática, pelas várias repercussões psicológicas imediatamente despertadas. 
Granel, autor de vários trabalhos sobre a gênese inconsciente de situações de 
acidente, abordando o problema de intencionalidade no determinismo dos fenômenos 
humanos, tão esquecidos do médico prático, que pensa geralmente apenas em termos 
de ações causais, diz- nós a este respeito: “ A pessoa adoece com alguém, e para alguém. 
Perguntemo-nos sempre: que se propõe o paciente com este sintoma? Quem é seu 
destinatário? Em função de que foi criado? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
Filho, J.D.M(2005). Concepção Psicossomática: visão atual. Casa do psicólogo (10ª 
edição. Págs. 14 ás 19.

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