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1 SINPEEM 2018 2 MÓDULO III – A CULTURA LITERÁRIA: ORALIDADE E ESCRITA Objetivos Compreender o que é literatura como manifestação cultural. Relacionar a transmissão oral e depois escrita das poesias e narrativas a aspectos da di- versidade cultural. Refletir sobre as origens da literatura brasileira, as influências europeias, indígenas e africanas entre outras. Conhecer e compreender a literatura de cordel. Planejar práticas na escola que valorizem a relação entre cultura e educação. Conteúdos Situar a literatura brasileira como bem cultural. Poesias, brincos, adivinhas, parlendas, brincadeiras orais, a literatura que começa cedo! As narrativas que nos chegaram por céu e mar. Cordel no espaço escolar: expressão de liberdade e abertura para trocas culturais As diferentes vozes nos contos e lendas: espaço de escuta e campo de aprendizagem. 3 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO Jardineiro de meu pai Não me corte os meus cabelos, Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou, Pelos figos da figueira que o passarinho bicou. Xô passarinho, xô passarinho, da figueira de meu pai Tradição oral Situar a literatura brasileira como bem cultural. Esses versos são de uma história que talvez alguns de vocês tenham ouvido na infância, talvez tenham lido depois de crescidos ou ainda, talvez... não a conheçam. É “A história da figueira”, um conto po- pular de origem portuguesa, nele prosa e poesia se intercalam soando um canto doce, um pouco triste e melancólico, mas sem dúvida harmonicamente bonito. Essas narrativas, assim como poesias, brin- cos adivinhas, parlendas, trovas e tantas outras formas literárias fazem parte do nosso acervo cultural e chegaram até nós como que trazidas pelo vento. Nelas podemos nos ver refletidos, podemos compreender algumas mudanças e transformações pelas quais passa- mos como seres humanos. Entre os nossos bens culturais temos a língua, portanto, a literatura como arte reflete as representações que o povo manifesta por meio da linguagem seja ela oral ou escrita. [...]o estudo das relações culturais na literatura leva em conta uma discussão en- tre texto e contexto. Desse modo, o texto como forma de permanência cultural é, ao mesmo tempo, produtor e produto da cultura. Como tal, expressa as visões de mundo conflitantes, que se encontram e se chocam, num amplo diálogo entre umas e outras. Por isso mesmo, a literatura é uma das dimensões culturais capa- zes de propiciar condições para o desenvolvimento do indivíduo. Pode ser instru- mento e meio de ensino de muitas áreas do conhecimento além dela própria. Vale lembrar seu uso no ensino da leitura, da escrita, da história, da filosofia, da geografia, dentre outras ciências. (PAGANINI, 2016: 2) 4 Conforme Delleuze (2003: p. 8) “Não podemos interpretar os signos sem desem- bocar em mundos que se formou em nós, que se formaram com outras pessoas.” Sendo assim, ninguém se torna leitor fora de seu contexto cultural, o leitor pree- xiste à descoberta do significado das palavras escritas. O indivíduo torna-se leitor no decorrer das experiências de vida, desde as mais elementares e individuais às oriundas do intercâmbio de seu mundo pessoal, do seu universo cultural e social circundante. (PAGANINI, 2016: 5). Os trechos de Paganini ilustram bem a literatura como forma de cultura. Buscar con- ceituar é sempre um caminho seguro para se começar, entretanto, quando o assunto é ar- te e ainda, a arte literária, nada melhor que vivenciar as formas que ela se apresenta a fim de que logo possamos nos sentir impregnados e dispostos a sair e compartilhar desse pra- zer! ASSISTA: PARA ENTRAR NO CLIMA Ouça a narração da história “A menina e a figueira”, na voz de Elba Ramalho. https://www.youtube.com/watch?v=NgpFGmsinWc Poesias, brincos, adivinhas, parlendas, brincadeiras orais, a literatura que começa cedo! A literatura chega muito cedo à criança, por meio das cantigas sejam elas de ninar ou outras, as parlendas, as brincadeiras cantadas, todo esse repertório faz parte do acervo literário que temos disponível para encantar, en- volver e fazer as nossas crianças se sentirem pertencen- tes do espaço social, é isso mesmo é por meio dessas primeiras brincadeiras orais que in- troduzimos as crianças em nossa cultura. 5 [...] a linguagem constituída socialmente nos remete sempre a algo que já existe, algo que está na memória coletiva, algo que já pertence àquele determinado grupo e ao qual passamos a pertencer à medida que compartilhamos desses eventos de múltiplas linguagens. Ora, se entendemos que é na infância que se constitui o letramento emergente, na infância que conseguimos de maneira tão clara e natural estabelecer a relação entre a linguagem verbal e não verbal por meio das brincadeiras orais, das músicas, adivinhas, contação de histórias, leitura de histórias, compreendemos que será nesse momento que a criança se desenvolverá como alguém pronto a ampliar a sua memória discursiva e, sobretudo, a sua memória linguageira. (DINI, 2018). E como vivenciar isso? As primeiras manifestações orais aproximam a criança do adulto, desenvolvem a linguagem oral, a memória linguageira, que é aquela que nos faz até hoje nos lembrar de um verso, uma cantiga aprendida na in- fância apenas de ouvido, quando não era preciso ler para guardar, mas sim ouvir. Atualmente, há uma associação muito forte entre aprender parlendas, poesias, adivinhas, textos de memória a fim de que eles auxiliem as crianças na fase da alfabetização, sem dúvida são mesmo importantes, entretanto, o valor dessa aprendizagem deve estar em si mesma. Brincar com as palavras, desafiar-se a falar um trava língua, responder a adivinhas faz com que a criança, comece a perceber o mun- do simbólico do qual essas fórmulas encantatórias fazem parte. Em seu livro, Oralidade e alfabetização, Claudemir Belintane faz um levantamento de vários tipos dessa literatura oral. Vejam algumas citadas nesse livro. 6 GÊNEROS POÉTICOS DA MATERNÂNCIA Cantigas de ninar: são cantigas que as mães, pais e babás (antigamente mucamas) canta(va)m para acalmar ou adormecer as crianças. Essas cantigas vieram sendo joeiradas esteticamente pela tradição, refinando suas métricas e ritmos e, em muitos casos, simplificando e re- adaptando seu léxico em função dos contextos regionais. Ex. Sussussu, ó menino o que é que tem? Sua mãe foi à fonte, logo vem! Foi comprar panelinha de vintém, Bacalhau com azeite, sabe bem... Parlendas, brincos e mnemonias: diferentemente das fórmulas de escolha e outros textos que relacionam voz e movimento, o grupo das parlendas se define pelo nonsense, pelo prazer de declamar um texto (sozinho, em dupla ou em grupo), deixando se levar pe- lo ritmo do significante. Pouco importam os sentidos, pois não há outra intenção senão a de memorizar e dizer o texto integralmente. Ex. Pé de cachimbo Hoje é domingo Pé de cachimbo Cachimbo é de ouro Bate no touro Touro é valente Chifra a gente A gente é fraco Cai no buraco 7 O buraco é fundo Acabou-se o mundo A parlenda associa ritmo, rima a um efeito de encadeamento em que algumas pala- vras constituem uma espécies de coesão pelo sentido, mas o efeito geral é sempre de nonsense, ou seja, de produzir uma repetição significante sem se importante som o senti- do. GÊNEROS DA INFÂNCIA MAIS AMPLA (ALÉM DA MATERNÂNCIA) Cantigas de roda: segundo Weitzel (1995), as cantigas de roda, compõem a maior parte do cancioneiro infantil. Suas letras melodiosas, muitas vezes, fornecem matrizes pa- ra os poetas e compositores da música Popular Brasileira. EX. Nesta rua tem um bosque Se esta rua, se esta rua fosse minha Eu mandava, eu mandava ladrilhar Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante Para o meu, para o meu amor passar Fórmulas de escolha: esse gênero era e ainda é (agora bem menos do que nopassado) utilizado pelas crianças para escolher o pegador (no pega-pega) ou o bate –cara (no jogo do esconde-esconde) ou ainda a sequência de jogadas em qualquer tipos de jogo. Os fol- cloristas em geral o incluem no rol das parlenda. EX. Uni, duni, tê! Um sorvete colorê, O escolhido foi você! 8 Fórmulas de pular corda: o texto que é proferido no ritmo da corda e dos pulos. EX. Suco gelado Cabelo arrepiado Qual é a letra do seu namorado: A, b, c, d, e...z Fórmula da bola na parede: jogando uma bola na parede e pegando-a de volta, a criança diz um fragmento ou palavra do texto a cada ida e retorno da bola: EX. Or- dem! Em seu lu-gar (criança se posiciona) Sem rir! (deve conter o riso mesmo que as outras a provoquem) Sem falar! (fecha a boca) Uma das mãos...(pega a bola com uma só mão) a outra! (pega a bola com a outra mão) Um dos pés... ao outro! Pate palma! Pirueta! (gira os braços fazendo um moinho) Meia volta! (roda em torno do corpo) Volta e meia! (roda ao contrário) (outros movimentam vão sendo acrescentados, dependendo da criatividade de cada grupo). 9 Adivinhas e enigmas: são classificada em muitos tipos diferentes e sua origem é mi- lenar. EX. O que é o que é ? Na água não se molha No fogo não se queima (A sombra) As brincadeiras aqui listadas, assim como os textos e exemplos foram retiradas de: BELINTANE, Claudemir. Oralidade e Alfabetização: uma nova abordagem da alfabeti- zação e do letramento. São Paulo: Cortez, 2013. Ainda teríamos que mostrar os ludismos linguísticos, linguagens secretas, trava- línguas, palavras valises... todas essas são possibilidades poética e portanto literárias que chegaram até os nossos dias e que de modos diferentes nos socializa. Essas brincadeiras orais compõe o nos- so repertório cultural oral, fazem parte do folclo- re brasileiro e são importantes porque entre ou- tros aspectos: valorizam o ritmo do nosso corpo, desenvolvem a oralidade, nos situa em um universo cultural próprio da infância. Antigamente, as crianças brincavam espontaneamente com todos elas, hoje o costu- me vem sendo perdido e elas estão sendo escolarizadas, entretanto, quando elas surgem para as crianças, apenas como um pretexto para que ela aprenda a ler e escrever, elas dei- xam de fazer sentido, perdem o seu valor cultural e passam a assumir apenas o valor edu- cativo, pedagógico. 10 As narrativas que nos chegaram por céu e mar. Desde épocas muito antigas o homem já contava histórias. As histórias surgiram pela necessidade que as pessoas tinham de explicar os acontecimentos naturais, o sur- gimento da Terra, dos animais e do próprio homem. Grande parte do tempo, as histórias eram contadas oralmente, ainda não exis- tia a escrita e eram os mais velhos quem contavam para os mais novos. Histórias que transmitiam a sabedoria coletiva, os costumes e a moral de cada povo. Essas histórias eram importantes porque preservavam a identida- de de um povo. Por serem transmitidas oralmente, dizemos que elas fazem parte da tradi- ção oral. Tradição oral é um modo de conservar conhe- cimentos e transmiti-los de uma geração para outra pelas conversas, pelas histórias, sem registros escri- tos. Você se lembra de já ter aprendido alguma coisa assim? Por meio de histórias ou conversas? Antigamente, as pessoas não tinham os livros, e era muito comum que os mais velhos se sentassem per- to dos mais novos e lhes contassem várias histórias que explicassem a existência de todas as coisas, que falassem sobre o como as pessoas de- veriam se comportar, como todos deveriam se relacionar. LIVROS E A NOSSA ORIGEM 11 Por não serem escritas, as histórias nem sempre eram contadas da mesma maneira, tudo dependia de quem contava, alguns coloca- vam mais acontecimentos, outros, novas personagens, os nomes também podiam ser modificados... isso tudo, porque a memória e a imaginação de cada um aumentam ou diminuem aquilo que contam. Foi pela transmissão oral que as histórias foram sendo modificadas. Há um pouco mais de 500 anos, entretanto, foi inventada a im- prensa, o que possibilitou a escrita de livros, jornais, folhetos. Nes- sa época, algumas pessoas consideraram importante registrar por escrito os contos mara- vilhosos que ouviam, assim, não seriam esquecidos. Todas as culturas cujas pessoas acreditavam que as coisas que não podiam ser es- quecidas deviam ser escritas, acabaram em um momento ou outro, registrando e organi- zando em livros as suas histórias. Vamos conhecer algumas destas pessoas e o lugar de onde elas recolheram os con- tos que conhecemos até os dias de hoje? Charles Perrault Ele nasceu em 1628, na França, organizou as histórias em um li- vro chamado Contos da mamãe gansa. Escreveu suas histórias para a corte francesa, recolhia as histó- rias que ouvia do povo e as reescrevia para a nobreza. Escrevia histó- ria para os adultos. Ao escrever seus contos, Perrault se preocupava em transmitir certos ensinamentos e moralidades, mostrando aos seus leitores comportamentos corretos e qualidades louvá- veis para a sociedade de sua época. 12 Exemplos de suas histórias são: O Barba Azul, Chapeuzinho Vermelho e Cinderela. Jacob e William Grimm Conhecidos como os irmãos Grimm, eles nas- ceram na Alemanha e no séc. XIX, cerca de 100 anos depois de Perrault, organizaram as histórias que circulavam oralmente em sua terra. Naquela época a Alemanha estava se organi- zando como nação e reunir as histórias do povo, nesse momento, era um modo de organizar o que eles sabiam, o que conheciam em uma única língua, a alemã. Organizaram suas histórias em um livro chamado Contos da criança e do lar, nessa época as crianças já eram vistas como seres diferentes dos adultos e por isso, algumas his- tórias foram escritas especialmente para ensiná-las como serem amáveis, gentis e traba- lhadoras. Algumas delas: Joãozinho e Maria, Rapunzel, Branca de Neve e também, Cinderela. Hans Christian Andersen Nasceu em 1805, na Dinamarca, diferentemente de Perrault e dos ir- mãos Grimm, ele não escreveu as histórias que ouvia e sim, as suas próprias histórias. Andersen vinha de uma família muito humilde e costumava di- zer que sua própria vida fora um conto de fadas, pois de uma infância pobre, ele chegou a frequentar ambientes das elites, tornando-se um famoso contador de histórias. 13 São dele: O patinho feio, A pequena vendedora de fósforos, A pequena sereia e A roupa nova do rei. Muitas de suas histórias têm finais tristes! Câmara Cascudo Nascido em 1898 ele é uma espécie de Grimm brasilei- ro. Recolheu diversos contos e lendas de lugares diferen- tes do Brasil e assim, fez com que eles não se perdessem. Suas histórias, assim como muitos contos de fadas, não tem um autor definido: são histórias contadas pelo po- vo, passadas de pai para filho. A história A princesa do sono sem fim é dele. Esse título não lembra alguma história conhecida? Ainda, aqui no Brasil outros autores fizeram o mesmo, Silvio Romero e atualmente: Ricardo Azevedo, Rogério Andrade Barbosa e Ana Maria Machado. Quero convidá-los a vivenciarem uma experiência com as narrativas orais. Leia com atenção, mas apenas uma vez o conto abaixo, “O mercador e o louro”. Era uma vez, um certo mercador que possuía um papagaio preso em uma gaiola. Um dia, estando de parti- da para a Índia, a tratar de negócios, dirigiu-se ao pássaro e assim lhe disse: - Eu estou viajando à tua terra natal. Tens alguma mensagem que desejas enviar aos teus parentes de lá? - Diz-lhes simplesmente, - disse o louro -, que estou aqui, vivendo numa gaiola. Ao voltar da viagem, o mercador disse ao papagaio: Sinto dizer-te que quando encontrei os teus parentes na floresta e lhes dei notícias dei que vivias engaiolado; a comoção foi forte demais para um deles, poismal ouviu o recado, caiu do alto do galho onde se achava. Sem dúvida, morreu de tristeza. No mesmo instante em que o mercador terminou de falar, o louro caiu duro, no chão de sua gaiola. Com pena, o mercador o tirou da gaiola e o colocou do lado de fora, no jardim. Então, o louro, que havia recebido e entendido a mensagem, se levantou, bateu asas e voou para longe, muito longe, fora do alcance do mercador. 14 Essa história é de Nasrudim, vocês o conhecem? Após ler a história faça o seguinte, divida a história em oito partes, depois, pegue uma folha de papel sulfite e dobre-a ao meio dobre mais uma e mais outra vez, desdobre-a você terá marcado a folha em oito par- tes, associe cada parte da história a um espaço, no qual você deverá escrever uma palavra que sintetize aquele trecho do conto. Procure fazer a atividade sem voltar à história, não a releia. TEMPO PARA FAZER A ATIVIDADE... SÓ CONTINUE A LER O TEXTO DO MÓDULO, APÓS REALIZAR A ATIVIDADE PROPOSTA!!!! Após escrever as palavras que sintetizam a história, veja se em algum dos espaços do papel apareceram as palavras recado, notícia ou mensagem. Em geral, elas aparecem e sa- bem por quê? “Uma história é uma carta que chega de ontem para nós. Cada pessoa que a reconta acrescenta a ela sua palavra e a envia para o amanhã.” (Papashvily). PARA SABER MAIS: Quem é Nasrudim? Assista ao vídeo e descubra! https://www.youtube.com/watch?v=NttSx694KhA 15 Os encantamentos da tradição oral As narrativas não têm autoria definida. Resultam de um processo coletivo que as soci- edades utilizam para manter suas crenças, transmitir seus valores, conservar suas tradi- ções e contar fatos marcantes Segundo a definição encontrada no CEALE, temos o seguinte: VOCÊ SABIA QUE... Literatura oral Autor: Josiley Francisco de Souza, Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educa- ção / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE, Literatura oral é uma expressão utilizada para designar um conjunto de textos em prosa e verso transmitidos oralmente (contos, lendas, mitos, adivinhações, provér- bios, parlendas, cantos) e que se apresentam de modo diferente do falar cotidiano. Esse termo foi empregado pela primeira vez no século XIX, pelo francês Paul Sébil- lot, no livro Littérature Orale de la Haute-Bretagne, publicado em 1881. Cabe destacar que a presença da palavra literatura nessa expressão acaba por suscitar discussões. Literatura tem sua origem em littera, palavra do latim cujo sig- nificado é “letra”. Desse modo, literatura refere-se a um conjunto de saberes, ou ha- bilidades, que se relacionam com a leitura e a escrita. Coloca-se, assim, a questão: não seria uma incoerência utilizar uma palavra que se refere à cultura da letra para designar expressões que são transmitidas oralmente? Como observa Jack Goody, o termo literatura aplicado ao oral configura-se como um uso feito em uma sociedade letrada na busca por equivalentes em culturas orais. Historicamente, as preocupações com o registro de textos de tradição oral têm início no século XVIII, na Europa, quando foram feitos os primeiros registros de narrativas orais. Esses registros foram realizados no âmbito de pesquisas que bus- cavam uma “literatura primitiva”, vinculada às origens da história ocidental. Nessa perspectiva, a literatura oral seria identificada com as origens da literatura escrita. Convencionou-se, assim, a aplicação do termo literatura a expressões identificadas com a arte verbal, ainda que estas não se transmitam pela escrita. 16 No Brasil, a primeira publicação dedicada ao registro da literatura oral foi feita em 1876, quando o general Couto de Magalhães publicou O selvagem, estudo sobre o índio brasileiro, acompanhado de uma coletânea de 25 narrativas tupis. Entretanto, o termo literatura oral aparece pela primeira vez em 1952, como título de um livro dedi- cado a estudos de expressões orais no país, Literatura Oral no Brasil, de Luís da Câ- mara Cascudo, autor cuja obra é referência para os estudos sobre as tradições orais no Brasil. (...) Disponível em: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/literatura-oral Para conhecermos um pouco sobre esta expressão cultural vamos percorrer diferen- tes dimensões que irão permitir que cada um construa seus saberes a partir de diferentes referências. Como nos diz Sofia Pereira(2016): A literatura tradicional de transmissão oral faz parte do nosso património imaterial. É inegável o seu valor literário, cultural e social, por isso torna-se importante incentivar as crianças e os jovens dos dias de hoje a lerem e conhecerem estes textos. Pese embora o facto de a literatura de tradição oral já não cumprir o seu objetivo primordial – preservar os costumes, a cultura e a tradição de uma determinada comunidade -, certo é que integra a nossa memória coletiva como recriação simbólica de um espaço-tempo, que deve ser objeto de leitura e conhecimento, valorizando-se social e culturalmente. Estes textos, perpetuados ao longo dos séculos de geração em geração, assumem uma função socializadora, pedagógica e lúdica pois, através de jogos de palavras e de uma coesão social, é apreendido o conhecimento cultural e social de outrora. Este texto de Sofia Pereira foi retirado da revista virtual portuguesa, Revista online de literatura infantil e juvenil Fábulas. Ao acessar o link, uma janela de encantamento se abre para outros materiais. 17 PARA SABER MAIS: Siga o link: https://revistafabulas.com/2016/03/03/a-literatura-de-tradicao-oral/ ASSISTA: Vamos continuar entrando no clima dos contos orais, agora escutando Heloísa Prieto, ela nos levará à China por meio de um conto reescrito por ela. Heloisa Prieto lê o conto "Wang-Fo e a magia da arte" Sigam o link: https://www.youtube.com/watch?v=VF66vPbla6A PARA SABER MAIS: Você pode gostar também de ler a versão escrita desse conto, adapta- da por Marguerite Yourcenar. Sigam o link: http://afugadewangfo.tripod.com/textoadaptado.htm Estar em contato com este tipo de narrativa nos permite ampliar os horizontes do pensamento, nos coloca diante de situações inusitadas e, ao mesmo tempo, nos permite estar mais perto da China. A China está longe, mas no conto ela fica bem perto, pois fala do humano e do diver- so que habita cada um de nós. 18 Isso acontece porque as narrativas literárias têm como matéria prima a palavra usada de maneira estética, lúdica, mas sobretudo, simbólica que suscita a criatividade e o imagi- nário dos leitores. 3.2 Quem conta um conto, aumenta um ponto A contação de histórias está presente nas diferentes culturas, brasileiras ou estrangei- ras. Faz parte da vida de muitas famílias, de práticas pedagógicas dos docentes e de educa- dores que trabalham com o universo da leitura e da escrita. A seguir, temos a definição do conceito, segundo o glossário do CEALE: Contação de histórias Autor: Maria Elisa de Araújo Grossi, Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Centro Pedagógico, A contação de histórias é uma arte que pode ser desenvolvida por qualquer pessoa que aprecia narrati- vas, que queira se envolver com elas e que tenha voz e memória. Faz parte da tradição de vários povos desde os mais antigos tempos – narrativas orais são passadas de geração a geração desde o início da hu- manidade, num movimento incessante de recriação. O contador de histórias cria imagens que ajudam a despertar as sensações e a ativar no ouvinte os sentidos: paladar, audição, tato, visão e olfato. Assim, suas narrativas são carregadas de emoção e repletas de elementos significativos, como gestos, ritmo, entonação, expressão facial, silêncios... Esses elementos proporcionam uma interação direta com o pú- blico e implicam improvisação e interpretação. Contar uma história é diferente de ler uma história, e na escola há espaço para as duaspráticas. O conta- dor recria o conto junto com seu auditório. Ele conserva algumas partes do texto, mas modifica-o, de acordo com a interação que estabelece com o público. Já o leitor de histórias empresta sua voz ao texto, respeitando a estrutura linguística da narrativa, bem como as escolhas lexicais do autor. Muitas vezes a contação de histórias abre caminho para que muitas outras leituras do texto contado sejam feitas. Pra- ticada nos mais variados estilos e em diferentes lugares, na escola o seu papel é fundamental, pois des- perta o interesse dos alunos e estimula o desejo pela leitura de livros literários. Uma história é capaz de emocionar e de surpreender o ouvinte pela forma como é contada. Sabe-se que as crianças vivenciam na instituição escolar experiências significativas e duradouras. A contação de histórias é uma dessas experi- ências que contribuem para a permanência do gosto pela literatura para além da infância. Daí a impor- tância de propiciar à criança oportunidades de ouvir muitas histórias, que podem ser lidas ou contadas de memória. Fonte: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/contacao-de-historias 19 A contação de histórias tem grande influência no percurso formativo do leitor, tanto no âmbito esco- lar, como também no âmbito da comunidade. É im- portante destacar o papel do narrador oral ou con- tador de histórias que tem um papel fundamental no efeito que a história terá sobre os que a ouvem. Desde os primeiros anos escolares as crianças são envolvidas em atividades que as narrativas orais estão em destaque. Ao mesmo tempo, há uma farta produção de literatura infantil e infanto-juvenil destinada às crianças e jovens leitores. “Vale a pena tentar apontar alguns pontos que, em nossa visão, poderiam aproximar as narrativas populares da literatura para crianças. No plano da expressão, do discurso (ou do significante), sabemos que os contos po- pulares sobreviveram ao longo dos séculos de boca em boca, transmitidos por bardos, menestréis e contadores de histórias. Estes, invariavelmente, recorriam a um discurso conciso, a uma linguagem marcada pela expressão oral, fórmulas verbais pré-fabricadas, ditados, frases feitas e a um vocabulário popular e acessível, tendo em vista a comunica- ção clara e direta com a plateia. Encontraremos situação análoga na maioria absoluta das obras destinadas ao público infantil: textos concisos, marcados pela oralidade, utilizando vocabulário familiar e cons- truídos com a intenção de entrar em contato com o leitor. Da mesma forma, no plano do conteúdo, muitos pontos de contato unem os contos populares à literatura infantil. Vamos enumerar apenas alguns deles: 1. A recorrência do elemento cômico. O riso, o deboche, a alegria e o escárnio como revide aos paradoxos contrapostos pela existência. 20 2. O uso singularmente livre da fantasia e da fic- ção, muitas vezes como forma de verificação ou ex- perimentação da verdade. Estes dois primeiros itens, para Mikhail Bakhtin, são índices das mais arcaicas tradições populares. 3. Personagens movidos muito mais por seus próprios interesses, pelo livre arbítrio, pela aproxi- mação afetiva, pelo senso comum, pelos sentidos, pela empatia, pela visão subjetiva, pela busca da felicidade (a moral ingênua referida por André Jolles) do que por uma ética geral, pré estabelecida, racional, abstrata, uniforme, objetiva, imparcial e impessoal, que preten- de determinar, a priori, o certo e o errado. 4. Certos temas e enredos tradicionais remanescentes, ao que tudo indica, de ime- moriais narrativas de iniciação, e que poderiam, mesmo que precariamente, ser rotulados como “a busca do autoconhecimento ou da identidade” são recorrentes em numerosos contos de fadas. 5. O uso livre de personificações e antropoformizações. 6. A possibilidade da metamorfose. 7. As poções, adivinhas, instrumentos e palavras mágicas. 8. Histórias apresentando um caráter iniciático, nas quais o herói parte, enfrenta de- safios (é engolido por um peixe, perde a memória, vê-se transformado num monstro etc.) e retorna modificado. 9. Imagens recorrentes como voos mágicos, monstros, oxímoros etc.. 10. O final feliz. Este recurso, presente em inúmeras narrativas populares, é conside- rado por muitos um índice de alienação. Na verdade, este expediente, utópico por nature- za, parece estar enraizado em certas concepções arcaicas como as que preconizam a reno- vação periódica do mundo (o “eterno retorno”). 21 Por este viés, tudo no mundo é fecundado, nasce, cresce, prospera, decai, apodrece, morre e renasce. Em outras palavras, tudo, no fim, acaba voltando à pureza original, por- tanto, no fim, tudo dá certo. “Se não deu certo”, diz o ditado popular, “é porque ainda não chegou ao fim”. Texto adaptado de “Elos entre a cultura popular e a literatura”, cuja referência é: Publicação do livro RÖSING, Tânia e BECKER, Paulo org. Jornadas Literárias de Passo Fundo – 20 anos de História. Ensaios. Editora Universidade de Passo Fundo UPF Editora, 2001, p.285- 290. Parte deste texto foi baseado em nossos artigos “Maneiras diferentes de tornar interpretável aquilo que se vive” publicado no catálogo “Mitos que vêm da mata”, Sesc-SP, agosto de 1998 e “Literatura infantil: origens, visões da infância e traços populares” publicado, entre outras revistas, em Presença Pedagógica - Belo Horizonte - Editora Dimensão - Nº 27 Mai/ Jun 1999. PARA SABER MAIS: Podemos nos indagar sobre a existência da diferença entre ler uma his- tória e contar história. A reposta você vai encontrar no vídeo “qual é a diferen- ça entre ler e contar histórias”. Sigam o link: https://www.youtube.com/watch?v=e7A4Ec_ictk Planejar o momento de contar histórias, pressupõe estar atento a determinados as- pectos. Desde a educação infantil, passando pelas turmas do ensino fundamental ou mé- dio, no âmbito da escola, mas também ao pensarmos no âmbito familiar, educação comu- nitária ou saraus de deleite literário, algo que deve ser levado em conta é o clima que se cria para entreter e manter a atenção dos ouvintes. Esses podem estar numa posição de escuta passiva, mas há muitas histórias que dependem de sua participação ativa. Nos meios eletrônicos, seja em materiais didáticos ou textos acadêmicos, encontram- se textos elaborados especialmente para orientar o contador de histórias sobre como rea- lizar uma boa contação de histórias. 22 Gilka Girardello, professora da Universidade Federal de San- ta Catarina, dá orientações a quem quer se tornar craque na contação de histórias. Faça uma seleção de títulos que despertem em você a vontade de passá-los aos alunos. É importante abrir o uni- verso deles para diferentes narrativas, com temas como a vida e a morte, nossa origem e a humanidade, além de mi- tos. Para se familiarizar com a narrativa, treine contando para amigos e familiares. Comece a narrar para grupos menores, enquanto você conhece as suas possibilidades. Reúna os ouvintes em roda para que eles se sintam próximos de você. Escolha recursos, como desenhos, bonecos, músicas e movimentos de dança, com os quais você se sinta mais à vontade. Use elementos expressivos, como imitação de vozes e movimentos com as mãos (estalar de dedos e palmas). Empregados na hora certa, eles fazem a diferença. Imagine os detalhes de todas as cenas e descubra a melhor maneira de entoar cada tre- cho (sem se preocupar em decorá-las). PARA SABER MAIS: Com a finalidade de atingir objetivos escolares, convidamos à leitura do texto “PASSO A PASSO para cativar a plateia”, que pode ser encontrado no link: https://novaescola.org.br/conteudo/2559/a-arte-dos-contadores-de-historias CONTANTO HISTÓRIAS 23 Preste atenção em alguns refrãos ou frases de impacto que podem ser repetidos sem- pre do mesmo jeito - porque são bonitos ou soam bem. Quanto mais a história for contada,maior o número de novas imagens que são incor- poradas a cada cena. Esta é a peculiaridade da oralidade: cada um recria o conto. Projete a voz na sala e amplie os gestos para que o público não se disperse. Quando o enredo pedir um tom mais suave, todos entenderão o recurso e farão silêncio para ou- vir. Antes ou depois da narração, conte de onde vem a história: de um livro, de um filme, da mitologia grega ou se aconteceu com alguém conhecido. Assim, a turma fica saben- do que também pode passá-la adiante. Ignore as peraltices de alguns e conte a história para o resto da classe. Se alguma coisa que os bagunceiros fizerem permitir, vale incorporá-la à performance, sem quebrar o clima da história. Contar histórias sempre envolve alguns imprevistos. O importante é não ter medo. Ge- ralmente, as crianças querem que a narração prossiga. Então, elas vão ajudar você. DÉBORA DIDONÊ PARA SABER MAIS: Uma outra referência muito interessante para quem conta histórias para crian- ças de 0 a 5 anos, pode ser lida em “Era uma vez” para crianças pequenas”. Nesse texto podem ser encontradas, além da reflexão sobre o trabalho de contação de histó- ria e leitura, uma série de dicas de literatura para essa faixa etária. Acessem o link: http://avisala.org.br/index.php/assunto/reflexoes-do-professor/era-uma-vez-para- criancas-pequenas/ 24 Conto e reconto na literatura popular do Brasil e do Mundo É indubitável o quanto mergulhar no campo das histórias orais e da literatura pode nos le- var a mundos tão diferentes. Nos aproxima de diferentes culturas, coloca em cheque alguns de nossos valores, permite que possamos criar e recriar o universo de significados a luz das experiências reais ou ficcionais de outros po- vos. Entrar em contato com o campo da cultura literária popular ou clássica abre a oportu- nidade de a educação dar prioridade para a criatividade, o afeto, a construção de valores e os talentos pessoais, e não apenas transmissão de informações. Portanto a escola tem um papel importante como referência cultural de uma comunidade, o espaço privilegiado que permite a cada um inventar e reinventar o tempo presente. Deveria fazer parte dos objetivos de uma formação que pretenda lidar com proble- mas complexos e a resolução desses problemas desenvolver outras habilidades que não tenham apenas o foco no desenvolvimento cognitvo, como autoconfiança, colaboração, liderança, persistências e empatia. As competências gerais da BNCC indicam esse caminho e, entrar em contato com as narrativas orais e literárias de diferentes povos, dialogar com o universo da cultura, nos aponta uma oportunidade de lidar com a riqueza plural e diver- sa da humanidade. Sendo assim, é necessário ampliar nosso repertório sobre as produções no Brasil e no mundo e convidamos vocês a conhecer contos de outros lugares, outras culturas, para as- sim compor o mosaico da diversidade cultural como uma lente que nos permite enxergar melhor quem são os outros, alunos brasileiros e estrangeiros, educadores, famílias nasci- das aqui e vindas de outros lugares, próximos ou distantes. LENDAS BRASILEIRAS 25 Ai, a minha herança É uma quitandeira que usa um recheado estojo de toilette, sapatos rasos da moda e finos lenços de seda, a combinar com a cor dos sapatos, e kimono, que ela veste garbosamente, a Nga Manda. Recebeu recado do primo adoptivo do falecido marido que, sábado, o almoço seria em casa. Primo Lambreta iria almoçar naquela casa espaçosa, que nem vivendas herdadas e nacionalizadas, que Nga Manda construiu com as receitas do mercado de produtos “ made in” fora de Angola. Nada receara sobre alguma intenção do primo a propósito. Quem sabe, fosse para mais uma conversa anedótica que tanto cultivava. Não faltariam jinguinga e o uce de que ele gostava. Os caranguejos do Namibe e as mangas do Quéssua, verdes e com sal, seriam a sobremesa. De repente, batendo palmas sonoras, o visitante fez-se anunciar e, logo-logo, foi recebido pela sobrinha, uma rapariga que crescia entre o turbilhão das dificuldades da sobrevivência da mãe e a localização incerta do pai certamente ceifado por uma bala perdida. Hoje, porém, sua medicina calara a tristeza da Nga Manda. Primo Lambreta, de gestos largos, voz comedida e olhar brilhante, acomodado no cadei- rão em direcção à mesa posta, ao certo, imaginava a quantidade e a qualidade de vitaminas e proteínas de que se proveria, para uma semana, quando fosse convida- do a sentar para o ataque. O almoço estava perfumado. Seu pouco-à-vontade, de voz cascalhada, à medida que servia o whisky, atraía ca- da vez mais a atenção da menina Vivi, sua sobrinha, que se sentou ao seu lado e perguntou pesarosa: Quê que foi, tio? Tou a pensar muito. Ai, desde que o primo Chico foi, cada vez mais aperto no co- ração vem. Trémulo como uma vara de bambú verde, o homem alagou o rosto de lágrimas, parecendo até apagar fogueira espirituosa. Nga Manda não se conteve e lá veio, da cozinha pra sala, dar umas palmadinhas ao primo Lambreta, para que se acalmasse, e convidou-lhe a sentar e almoçar. Vamos conhecer histórias e contos de outros lugares do mundo. Um conto Angolano 26 Durante a refeição, o homem mexia atabalhoadamente os talheres. De olhar perdi- do na comida, conservou-se em silêncio, apenas interrompido pelo movimento dos maxilares. No fim, de ventre inchado e olhos vidrados, primo Lambreta a endireitar o nó da gravata, num largo gesto de esgares, disse em voz alta: Ó prima, o mano deixou muito dinheiro, muita coisa. É tempo de vermos o assunto e a minha parte. Sua intervenção gerou silêncio e uma onda de amargura e revolta, que fez, logo de seguida, Nga Manda responder: Aqui teu primo não deixou nada. Trabalhei tudo sozinha. E, você, cuidado, porque és primo emprestado. Cuidado mesmo, que o noivo da Vivi é advogado que trata de heranças, ouviu? Lambreta, que entrou sorridente naquela casa espaçosa, que nem vivenda herdada e nacionalizada, procurava um voo… lhe apanharam na contracurva… Mahézu, Ngana! Você deve ter alunos de origem árabe ou mesmo imigrantes árabes. Vamos ler um conto árabe? A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA - conto árabe Era uma vez, há muito tempo, quando Marrakesh era um simples vilarejo, vivia na Arábia um lenhador viúvo com sua filha, chamada Jamia. Toda manhã, antes do canto do galo, o lenhador deixava sua pequena cabana e ia até as montanhas em busca de lenha para vender no vale. Bem, certa noite antes de se deitar, a jovem Jamia implorou ao pai que comprasse para ela uma das tortas que estavam à venda no mercado da cidade e um dos vestidos rendados pen- durados na janela do alfaiate. Seu pai prometeu sair antes dom amanhecer e cortar o dobro da quantidade de lenha costumeira para conseguir um dinheiro extra. Assim, muito antes de o galo acordar, o lenhador se esgueirou para fora de casa e foi até a montanha. Cortou o dobro da quantidade usual de lenha, preparou-a bem, colocou-a nas cos- tas e partiu de volta para casa. 27 Quando chegou à cabana, o lenhador encontrou a porta trancada. Ainda era cedo e sua filha estava dormindo. "Filha" ele chamou, "estou faminto e sedento depois de tanto trabalho. Por favor, deixe-me entrar". Jamia dormia tão profundamente que não despertou. O lenhador foi até o estábulo e adormeceu sobre uma pilha de feno. Algumas horas depois ele acordou e ba- teu novamente à porta. "Deixe-me entrar, pequena Jamia, gritou, "pois eu tenho que ir ao mer- cado e preciso comer e beber alguma coisa". Mas a porta estava trancada como antes. Sem perceber que sua filha saíra para visitar as amigas, o le- nhador se esforçou para colocar a lenha nas costas e partiu rumo à cidade, esperando-a alcança-la antes do crepúsculo. Sentia muita fome e muita sede, mas continuou pensando na deliciosa torta e no vestido que traria para casa para sua ama- da filha. Depois de mais ou menos uma hora caminhando, o lenhadorpensou ter ouvido uma voz. Era a voz de uma jovem que o chamava, dizendo: "Largue a lenha e me siga, sua boca será recompensada. O lenhador deixou o grande feixe de lenha cair no chão e caminhou na direção da voz. Depois de algum tem- po, percebeu que estava perdido. Chamou pela voz, mas não houve resposta. A noite estava chegando e o pobre velho caiu no chão e chorou. Depois de algum tempo, ele recuperou o ânimo e tentou ser mais positivo. Para passar o tempo, decidiu contar para si mesmo os eventos daquele dia como se fosse um conto, pois estava frio demais para dormir. Quando chegou ao fim, ouviu a voz novamente. "O que está fazendo?", in- dagou ela. "Sinto fome e frio, então estou passando o tempo falando sozinho", respondeu o le- nhador. A voz mandou que ele se levantasse e erguesse um pé. "Como assim?", ele perguntou. A voz repetiu as instruções: "Faça exatamente o que eu disser e sua boca será recompensada". O lenhador levantou o pé direito e descobriu que estava pisando em alguma coisa, uma espécie de degrau invisível. Ele apalpou com a mão e encontrou outro degrau acima do primeiro. "Suba", ordenou a voz. Seguindo as ordens, o lenhador se viu subitamente transportado para um território deserto, coberto de de pedras azul-escuras. "Que lugar é esse?", indagou o lenha- dor. "O lugar no fim do tempo", replicou a voz. "Encha seus bolsos com estas pedras e prometa que toda quinta-feira contará esta história, a História de Mushkil Gusha, pois foi ele quem o salvou". O lenhador fez como lhe fora ordenado e, assim que o fez, viu-se diante da porta da sua própria casa. Sua filha, Jamia, estava esperando-o. "Onde esteve, pai?", ela perguntou. 28 Quando entraram, o lenhador contou sobre a escadaria invisível e depois esvaziou os bolsos. "Mas pai, pedrinhas não vão comprar comida", protestou Jamia. O velho pôs a cabeça entre as mãos, mas depois se lembrou da grande quantidade de lenha que havia cortado de manhã. Ele deixou as pedras perto da lareira e foi para a cama, pronto para madrugar. No dia seguinte, ele saiu, encontrou facilmente a lenha e a levou ao mercado. O feixe foi vendi- do sem nenhuma dificuldade e pelo quádruplo do preço normal. O lenhador comprou o máximo de comida que pôde carregar e um vestido azul e rosa na loja do alfaiate. Assim, durante uma semana inteira, a sorte do lenhador pareceu aumentar cada vez mais. A le- nha era abundante na floresta e seu machado parecia mais afiado que de costume. O caminho para o vale não estava tão escorregadio quanto costumava ser e havia uma grande demanda por lenha bem cortada. Uma semana depois de sua jornada pela escadaria invisível havia chegado a hora de recontar a História Mushkil Gusha de , mas sendo um mortal, o velho lenhador esqueceu seu dever e foi se deitar. Na noite seguinte, percebeu que a cabana estava iluminada por uma estranha luz ver- melha. Logo compreendeu que o brilho das pedras que trouxera na semana anterior. "Estamos mais ricos do que nossos sonhos mais loucos!" , exclamou para a filha. Nas semanas que se seguiram, o lenhador e Jamia venderam as jóias preciosas em cidades por todo o reino. Em um ou dois meses, estavam fabulosamente ricos, a ponto de construir um cas- telo em frente ao palácio onde morava o rei. Quando perguntavam de onde viera, o lenhador simulava um sotaque pesado e explicava que viajara de um país distante do Oriente, onde ganhara uma fortuna vendendo sedas de Bokhara. Não demorou muito para que o humilde lenhador fosse convidado para visitar o palácio real. Usou luvas de cetim para esconder as mãos rudes e presenteou o rei com um grande pingente de diamante. O tempo passou e Jamia se tornou amiga íntima da filha do rei, a princesa Nabila. As duas costu- mavam se banhar no riacho real. Certo dia, antes de mergulhar na água, a princesa removeu seu colar de ouro e o pendurou num galho baixo de uma árvore próxima. Ela se esqueceu dele e, naquela noite, procurou o colar por todos os cantos. Finalmente adormeceu e sonhou que a fi- lha do lenhador havia roubado o seu colar. No dia seguinte, a princesa contou o ocorrido para seu pai. Uma hora depois, a filha do lenhador foi colocada num orfanato e o velho foi lançado no mais profundo calabouço do reino. As sema- nas se passaram e ele foi tirado do calabouço e acorrentado em um poste. De vez em quando, alguém jogava comida podre nele ou ria de sua situação miserável. Então, certa tarde, ouviu um homem dizendo à esposa que era tarde de quinta-feira. Subita- mente ele se lembrou da História de Mushkil Gusha, o removedor de obstáculos. Logo em se- 29 guida, um homem generoso que passava por ali lhe jogou uma moeda. Ele perguntou ao homem se poderia pegar a moeda, atravessar a rua e comprar algumas tâmaras para os dois. O homem assim o fez e o lenhador recontou a História de Mushkil Gusha. No dia seguinte, a princesa estava se banhando no rio quando viu seu colar de ouro através da água. Olhou para cima e compreendeu que era um reflexo, que o colar verdadeiro ainda estava pendurado no galho onde elea o deixara. Sem perder tempo, correu até seu pai e explicou seu er- E a história da Befana? Você conhece? Certamente seus alunos italianos poderão ajudar a falar sobre Befana A HISTÓRIA DE MUSHKIL GUSHA - conto árabe La Befana, a bruxa da Itália La Befana é um personagem bastante popular na cultura italiana, que está ligada às tradições do natal e ano novo. Poderíamos di- zer que, de certa forma, ela é como uma versão do Papai Noel. Mas ao ver uma foto da Befana, você notará que ela se parece a uma bruxa, com nariz comprido, vestido negro e voando por uma vassoura. “O que ela tem em comum com o Papai Noel?” – Você deve estar se perguntando. O primeiro ponto em comum entre esses dois personagens é sua ligação aos feriados de natal e ano novo, como você verá mais abaixo, na lenda que contaremos sobre a origem de La Befana. Outro fator em que essa personagem lembra o Papai Noel é que ela também cos- tuma dar presentes às crianças e tem o costume de entrar nas casas pela chaminé. Porém, diferente da tradição do Papai Noel, que visitaria as crianças no dia 25 de Dezem- bro, La Befana o faz na madrugada do dia 5 para o dia 6 de Janeiro. Apesar de toda a bondade representada pela velhinha, sua origem é um tanto controversa. Um certo livro, escrito por um reverendo diz que “Befana parece ser herdeira de uma deu- sa pagã denominada Strenia, que patrocinava os presentes de ano novo.” Essa origem inspirada numa deidade pagã foi a causa de a personagem enfrentar forte oposição por parte de membros da igreja no passado. Fonte: http://demonstre.com/la-befana/ 30 Conheça agora, um pequeno resumo do conto de Befana: Conta a lenda popular que no dia em que Jesus nasceu, quando os Três Reis Magos viajavam a caminho de Be- lém para visitar a criança predita pelas profecias da Bí- blia, aconteceu de eles se perderem. Andaram sem rumo por um tempo até se darem conta de que não conseguiriam encontrar seu caminho sozinhos. Por isso decidiram que era a hora de pedir informações a alguém. Mas a quem pedir ajuda no meio do nada? Eles caminharam mais algum tempo até que encontraram por fim uma pequena cabana isolada no meio do deserto. Chegando à cabana, logo avistaram à porta uma simpática velhinha que lhes recebeu com um sorriso acolhedor. Eles lhe explicaram a situação, mencionando a importância de sua viagem, e disseram que estavam perdidos havia algumas horas e não tinham nenhuma ideia de onde ir. Por fim perguntaram à senhora se ela saberia o caminho a seguir. Infelizmente ela também não conhecia o caminho para Belém, mas como já era bem tarde da noite lhes convidou para passarem a noite em sua cabana e descansarem, assim no dia seguinte poderiam prosseguir a viagem à luz do dia, quando seria mais fácil encontra- rem seu caminho. Eles aceitaram. Na manhã seguinte os Três Reis Magos se despediram da velhinha muito agradecidos e lhe convidaram para juntar-se a eles na viagem,para poder também ter a honra de conhe- cer o menino Jesus. Mas ela recusou o convite, dizendo que estava muito atarefada e não poderia deixar a cabana. Assim os Três Reis Magos continuaram sua viagem e por fim conseguiram se localizar e chegar a Belém. Um pouco mais tarde a velhinha se arrependeu de não ter ido com os homens para conhe- cer Jesus. Por isso ela tentou segui-los mas nunca mais conseguiu encontrá-los. Desde então ela continuou sua jornada sozinha, e parava em todas as casas pelo caminho para dar doces e presentes às crianças que nelas habitavam, na esperança de que alguma delas seja o predito menino Jesus. Fonte: http://demonstre.com/la-befana/ 31 Vamos conhecer um conto de assombração equatoriano? Maria Angula Maria Angula era uma menina alegre e viva, filha de um fazendeiro de Cayambe. Era louca por uma fofoca e vivia fazendo intrigas com os amigos para jogá-los uns contra os outros. Por isso tinha fama de leva-e-traz, linguaruda, e era chamada de moleca fofoqueira. Assim viveu Maria Angula até os dezesseis anos, decidida a armar confusão entre os vizi- nhos, sem ter tempo para aprender a cuidar e a preparar pratos saborosos. Quando Maria Angula se casou, começaram os seus problemas. No primeiro dia, o marido pediu-lhe que fizesse uma sopa de pão com miúdos, mas ela não tinha a menor ideia de como prepará-la. Queimando as mãos com uma mecha embebida em gordura, acendeu o carvão e levou ao fogo um caldeirão com água, sal e colorau4 , mas não conseguiu sair disso: não fazia ideia de como continuar. Maria lembrou-se então de que na casa vizinha morava dona Mercedes, cozinheira de mão-cheia, e, sem pensar duas vezes, correu até lá. — Minha cara vizinha, por acaso a senhora sabe fazer sopa de pão com miúdos? — Claro, dona Maria. É assim: primeiro coloca-se o pão de molho em uma xícara de leite, depois despeja-se este pão no caldo e, antes que ferva, acrescentam-se os miúdos. — Só isso? — Só, vizinha. — Ah — disse Maria Angula—, mas isso eu já sabia! E voou para a sua cozinha a fim de não esquecer a receita. No dia seguinte, como o marido lhe pediu que fizesse um ensopado de batatas com toicinho, a história se repetiu: — Dona Mercedes, a senhora sabe como se faz o ensopado de batatas com toicinho? E como da outra vez, tão logo a sua boa amiga lhe deu todas as explicações, Maria Angula exclamou: — Ah! É só? Mas isso eu já sabia! 32 E correu imediatamente para casa a fim de prepará-lo. Como isso acontecia todas as manhãs, dona Mercedes acabou se enfezando. Maria Angula vinha sempre com a mes- ma história: "Ah, é assim que se faz o arroz com carneiro? Mas isso eu já sabia! Ah, é assim que se prepara a dobradinha? Mas isso eu já sabia!". Por isso a mulher decidiu dar -lhe uma lição e, no dia seguinte… — Dona Mercedinha! — O que deseja, dona Maria? — Nada, querida, só que meu marido quer comer no jantar um caldo de tripas e bucho e eu… — Ah, mas isso é fácil demais! — disse dona Mercedes. E antes que Maria Angula a in- terrompesse, continuou: — Veja: vá ao cemitério levando um facão bem afiado. Depois espere chegar o último defunto do dia e, sem que ninguém a veja, retire as tripas e o estômago dele. Ao chegar em casa, lave-os muito bem e cozinhe-os com água, sal e cebolas. Depois que ferver uns dez minutos, acrescente alguns grãos de amendoim e está pronto. É o prato mais saboroso que existe. — Ah! — disse como sempre Maria Angula. — É só? Mas isso eu já sabia! E, num piscar de olhos, estava ela no cemitério, esperando pela chegada do defunto mais fresquinho. Quando já não havia mais ninguém por perto, dirigiu-se em silêncio à tumba escolhida. Tirou a terra que cobria o caixão, levantou a tampa e… Ali estava o pa- voroso semblante do defunto! Teve ímpetos de fugir, mas o próprio medo a deteve ali. Tremendo dos pés à cabeça, pegou o facão e cravou-o uma, duas, três vezes na barriga do finado e, com desespero, arrancou-lhe as tripas e o estômago. Então voltou correndo para casa. Logo que conseguiu recuperar a calma, preparou a janta macabra que, sem saber, o marido comeu lambendo-se os beiços. Nessa mesma noite, enquanto Maria Angula e o marido dormiam, escutaram-se uns ge- midos nas redondezas. Ela acordou sobressaltada. O vento zumbia misteriosamente nas janelas, sacudindo-as, e de fora vinham uns ruídos muito estranhos, de meter medo a qualquer um. De súbito, Maria Angula começou a ouvir um rangido nas escadas. Eram os passos de alguém que subia em direção ao seu quarto, com um andar dificultoso e retumbante, e que se deteve diante da porta. Fez-se um minuto eterno de silêncio e logo depois Maria Angula viu o resplendor fosforescente de um fantasma. Um grito surdo e prolongado pa- ralisou-a. — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura! Maria Angula sentou-se na cama, horrorizada, e, com os olhos esbugalhados de tanto medo, viu a porta se abrir, empurrada lentamente por essa figura luminosa e descarnada. A mulher perdeu a fala. Ali, diante dela, estava o defunto, que avançava mostrando-lhe o seu semblante rígido e o seu ventre esvaziado. — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura! Aterrorizada, escondeu-se debaixo das cobertas para não vê-lo, mas imediatamente sen- 33 tiu umas mãos frias e ossudas puxarem-na pelas pernas e arrastarem-na gritando: — Maria Angula, devolva as minhas tripas e o meu estômago, que você roubou da minha santa sepultura! Quando Manuel acordou, não encontrou mais a esposa e, muito embora tenha procurado por ela em toda parte, jamais soube do seu paradeiro. Colorau: condimento de cor vermelha, no caso deste conto, feito especialmente da semente do urucum, como manda o costume equatoriano, mas que pode ser feito também à base de pimen- tão, e que serve sobretudo para dar cor aos alimentos. Referência: Extraído de: Contos de assombração, 4ª.ed. Coedição Latino-Americana. São Paulo, Ática, 1988.“Maria Angula” é um conto da tradição oral equatoriana. Esta versão foi escrita por Jorge Renón de La Torre a partir de um relato que lhe fez Maria Gomez, uma mulher de 70 anos, que vive no povoado de Otán. Jorge Renón de La Torre nasceu em Quito, em 1945, e já publicou contos, fábulas e obras de teatro infantil. Depois de narrar este conto certamente seus alunos trarão ou- tros contos de assombração da tradição oral. Vale ressaltar a im- portância de contadores de histórias, pessoas da comunidade que vão à escola contar histórias das origens das crianças tanto brasileiras como de outros países. Narrar histórias é uma forma de valorizar a oralidade e a cultura do nosso e de outros partes do mundo. Numa perspectiva multicultural o contar histórias abre portas do imaginário, das fantasias, do encantamento e per- mite que a criança imigrante encontre seu lugar no mundo e sinta-se acolhido. Por exemplo, na cultura africana o Griot – contador de histórias é uma pessoa respei- tada, geralmente um dos mais velhos da comunidade e traz experiência e sabedoria que vai passando de geração à geração. 34 Nas tribos indígenas, depois do jantar, di- ante da fogueira comunitária, geralmente um índio que fazia parte do Conselho dos Anciões, respeitado em sua aldeia contava notícias de outras tribos, as vitórias contra inimigos, sonhos de cura, histórias de sabedoria construindo uma ponte entre as tradições e o momento presente. Importante convidar tanto pessoas de nossa nacionalidade como de outras e de pre- ferência familiares dos alunos para promover Rodas de Contação de Histórias. Como diz Walter Benjamin, relacionando as diferentes culturas que o contador traz na esteira de su- as histórias: A experiência que passa de pessoa para pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores. E entre as narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadaspelos inúmeros narradores anônimos. Entre estes, existem dois grupos, que se interpenetram de múltiplas maneiras. A figura do narrador só se torna plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos. “Quem viaja tem muito o que contar”. Diz o povo, e com isso imagina o narrador como alguém que vem de longe. Mas também escutamos com prazer o homem que ganhou honestamente sua vida sem sair do seu país e que conhece suas histórias e tradições. (BENJAMIN, 1987:198, 199) PARA SABER MAIS: Dicas de bibliotecas virtuais: Imagem em : http://revistaicone.com/v1/top-5-livros-do-mes-de-maio/ 35 Nem sempre bons textos estão disponíveis em livrarias, mas para que o educador possa entrar em contato com o universo cultural de outras populações, indicamos uma lis- ta de bibliotecas virtuais. Ao acessar pode-se ter acesso à literatura produzida no país, mas também se abre um leque para conhecer um pouco da história local, seus valores, suas tradições e assim podemos nos aproximar um pouco mais das culturas que compõem a nossa história. PARA SABER MAIS: Dicas de bibliotecas virtuais: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin Link: https://www.bbm.usp.br/ Focada em autores brasileiros e obras ligadas à cultura nacional. Domínio Público Link: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ResultadoPesquisaObraForm.do? first=3000&skip=0&ds_titulo&co_autor&no_autor&co_categoria=2&pagina=1&select_acti on=Submit&co_midia=2&co_obra&co_idioma=1&colunaOrdenar=NU_PAGE_HITS&orde m=desc Desenvolvida pelo Ministério da Educação, a biblioteca disponibiliza mais de 180 mil lite- raturas que são públicas na internet. Biblioteca Digital Mundial Link: https://www.wdl.org/pt/about/ Criada pela Unesco, a biblioteca oferece material multilíngue de diversos países. 36 Biblioteca Nacional Link: https://www.bn.gov.br/ Grande parte de um dos maiores acervos do Brasil já está catalogada no campo virtual, como foco na área de periódicos. E-Books grátis da Livraria Cultura Link: https://www.livrariacultura.com.br/c/ebooks/ gratis;_lcid=nhWczg280TsBULcpWmr_hIbFmtiMlw2uWwlWLwCVNDLk3wUsgClU!- 692549743 Um mix de assuntos em vários idiomas. Biblioteca pública de Nova York Link: https://digitalcollections.nypl.org/ Acesso a um acervo multimídia Biblioteca virtual Link: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/internet-e-tecnologia/bibliotecas-digitais -e-acervos-online.php Acesso a links de outras bibliotecas do mundo e também assuntos do nosso país. Cordel no espaço escolar: expressão de liberdade e abertura para trocas culturais Apresentamos agora uma expressão muito brasileira que remonta dos portugueses. Um pouco de história: Os folhetos à venda, pendurados em cordéis 37 Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, sa- xões, etc, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península a literatura de cordel recebeu os nomes de “pliegos sueltos” (Espanha) e “folhas soltas” ou “volantes” (Portugal). Flores- cente, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e cri- terioso de suas peculiaridades particulares. O grande mestre de Pombal, Leandro Gomes de Barros, que nos emprestou régua e compasso para a produção da literatura de cordel, foi de extrema sinceridade quando afirmou na peleja de Riachão com o Diabo, escrita e editada em 1899: “Esta peleja que fiz não foi por mim inventada, um velho daquela época a tem ainda gravada minhas aqui são as rimas exceto elas, mais nada.” Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é “Por que exatamente no nordeste?”. A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as cultu- ras, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro. Na indagação dos pesquisadores no entanto há lógica, porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750 é que apareceram os pri- meiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo lon- go período, a literatura de cordel recebeu o batismo de poesia popular. (...) Fonte: http://www.ablc.com.br/o-cordel/historia-do-cordel/ 38 Algo que é uma marca do cordel é a impressão do texto escrito combinado com as xilogravuras. E o que é a xilogravura: Xilogravura é a técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. É um processo muito parecido com um carimbo. O mestre Jerônimo Soares, respeitado artista da Xilogravura nasceu em Recife, Per- nambuco, em 1945. Filho do poeta popular José Soares, começou fazendo carimbos e de- pois xilogravuras para ilustrar folhetos de cordel. Hoje reside em São Paulo, capital. PARA SABER MAIS: Aqui você pode conhecer um pouco mais da obra de Mestre Jerônimo e a beleza de seus trabalhos. Siga o link que leva ao vídeo “ Mestre da xilogra- vura mostra sua arte para crianças de Diadema, no ABC” Acessem o link: https://www.youtube.com/watch?v=iHk4VpG5A6Q Algumas características do cordel: A literatura de cordel possui algumas características bem peculiares, veja algumas das principais características desse gênero: Suas ilustrações são feitas por xilogravuras; Possui uma essência cultural muito forte, pois relata tradições culturais regionais e contribui bastante para a continuidade do folclore brasileiro; São baratos e por isso atingem um grande público e isso acaba sendo um incentivo à leitura; Quando os textos são considerados romances temos alguns recursos muito utilizados na narrativa, como: descrição de personagens, monólogos, súplicas, preces por parte do protagonista; 39 Suas histórias têm como ponto central uma problemática que deve ser resolvida com a inteligência e astúcia do personagem. Sempre há um herói que sofre por não conseguir ficar com o seu amor, isso pode ser devido a uma proibição dos pais, noivados arranjados, coisas que impedem que o casal de ficar junto. No final da história, o herói sempre sai ganhando, caso ele não consiga realmente o que queria há outra forma de equilibrar a história e fazer com que ele seja favorecido de alguma forma. Fonte: https://www.estudopratico.com.br/literatura-de-cordel/ Um dos grandes nomes do Cordel no Brasil foi Patativa do Assaré. Vamos ler um de seus poemas: Saudação ao Juazeiro do Norte Patativa do Assaré Mesmo sem eu ter estudo sem ter do colégio o bafejo, Juazeiro, eu te saúdo com o meu verso sertanejo Cidade de grande sorte, de Juazeiro do Norte tens a denominação, mas teu nome verdadeiro será sempre Juazeiro do Padre Cícero Romão. O Padre Cícero Romão que, vocação celeste foi, com direito e razão o Apóstolo do Nordeste. Foi ele o teu protetor trabalhou com grande amor, lutando sempre de pé quando vigário daqui, ele semeou em ti a sementeira da fé. E com milagre estupendo a sementeira nasceu, foi crescendo, foi crescendo Muito ao longe se estendeu com a virtude regada foi mais tarde transformada em árvore frondosa e rica. E com luz medianeira inda hoje a sementeira cresce, flora e frutifica. Juazeiro, Juazeiro jamais a adversidade extinguirá o luzeiro da tua comunidade. morreu o teu protetor, porém a crença e o amor vive em cada coração e é com razão que me expresso tu deves o teuprogresso ao Padre Cícero Romão Aquele ministro amado que tanto favor nos fez, conselheiro consagrado e o doutor do camponês. contradizer não podemos E jamais descobriremos O prodígio que ele tinha: Segundo a popular crença, curava qualquer doença, com malva branca e jarrinha. Juazeiro, Juazeiro tua vida e tua história para o teu povo romeiro merece um padrão de glória. 40 De alegria tu palpitas, ao receber as visitas de longe, de muito além, Grande glória tu viveste! Do nosso caro Nordeste tu és a Jerusalém. Sempre me lembro e relembro, não hei de me deslembrar: O dia 2 de Novembro, tua festa espetacular pois vem de muitos Estados os carros superlotados conduzindo os passageiros e jamais será feliz aquele que contradiz a devoção dos romeiros. No lugar onde se achar um fervoroso romeiro, ai daquele que falar, contra ou mal, do Juazeiro. Pois entre os devotos crentes, velhos, moços e inocentes, a piedade é comum, porque o santo reverendo se encontra ainda vivendo no peito de cada um. Tu, Juazeiro, és o abrigo da devoção e da piedade. Eu te louvo e te bendigo por tua felicidade, me sinto bem, quando vejo que tu és do sertanejo a cidade predileta. Por tudo quanto tu tens recebe estes parabéns do coração de um poeta. Acesso em: http://www.ablc.com.br/saudacao-ao-juazeiro -do-norte/ Como se pode observar o Cordel reúne duas formas de expressão artísticas importantes a narrativa oral e a xilogravura e é um co- nhecimento que quando inserido na sala de aula, seja em que série for, sempre acrescenta um olhar aberto e inclusivo para a arte e a literatura popular. Um dado que confere o alcance que tem o Cordel no país. Em 2012, aconteceu algo de destaque no que tange a expressão po- pular. A escola de samba Salgueiro do RJ trouxe no seu samba en- redo uma homenagem à cultura do cordel com o tema: Cordel – Branco e encarnado. Trabalho de alunos, em uma praça no município de Cerqueira César (SP). 41 Resultado 2ª colocada no Grupo Especial (LIESA) com 299,7 pontos Data, Local e Ordem de Desfile 3ª Escola de 20/02/12, Segunda-Feira Passarela do Samba Autor(es) do Enredo Renato Lage, Márcia Lávia e Departamento Cultural Carnavalesco(s) Renato Lage e Márcia Lage Acesso em : http://www.galeriadosamba.com.br/admin/CIF.asp?I=5379&T=4 Conheça alguns Planos de Aula sobre Literatura de Cordel Além de entrar em contato com o Cordel como fonte de apreciação cultural, você pode também transformar suas aulas através de alguns planos que irão permitir aos alunos e à comunidade escolar conhecer mais des- ta expressão tão importante na cultura brasileira. Sugestão de plano de aula: http://literaturadecordelsma.blogspot.com.br/ Vídeo do prof. João Bezerra sobre planejamento de aula com cordel: http://joaoboscobezerrabonfim.com.br/como-usar-o-cordel-em-sala-de-aula/ Academia Brasileira de Literatura de Cordel; neste site você encontra muitos mate- riais digitais para compor a aula: http://www.ablc.com.br/ 42 Sugestão de aula da Professora Grace Luciana Pereira: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=36133 As diferentes vozes nos contos e lendas: espaço de escuta e campo de aprendiza- gem O que dizem as lendas? Que conhecimentos elas nos pro- porcionam? São verdades, São ficção? São narrativas orais, que surgiam em tempos que não se pode definir ao certo e que, ao se transformaram em textos escritos, de uma forma ou de outra, nos fazem ter acesso à construção do imaginário simbólico de todas as culturas. Quando co- nhecemos uma lenda, compreendemos um pouco mais sobre as pessoas, sobre os lugares, sobre a concepção de tempo e espaço de cada povo. Vamos conhecer algumas lendas e entender que vozes emergem dessas narrativas, desses estudos? Lenda indígena do Brasil- Anhangá A Lenda do Anhangá é um espírito que vive na floresta e que pode tomar a forma do que quiser. Além de boi, peixe, pessoa ou macaco, o mais comum é sua aparição na forma de um veado branco com olhos de fogo. Os registros de sua presença aparecem em car- tas de José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim no século XVI. Seus relatos tra- tam Anhangá como um espírito mau, temido pe- los povos indígenas. Outros relatos, como o do alemão Hans Staden, comentam do medo dos indígenas ao sair à noite: "Os indígenas não gostam de sair das cabanas sem luz, tanto medo têm do Diabo, a quem cha- mam Ingange, o qual frequentemente lhes apa- rece." 43 Para os povos indígenas, Anhangá é considera- do o deus da caça e do campo. Ele protege os animais contra caçadores. Algumas lendas con- tam que caçadores faziam tratos com Anhangá, pedindo ajuda na caça em troca de tabaco. Já para os jesuítas que chegaram aqui no Bra- sil, Anhangá era considerada uma figura malig- na, comparado demônio da teologia cristã. Anhangá é muito citado na obra As Aventuras de Tibicurea, de Érico Veríssimo: "Aos cinco anos fiz minha primeira caçada de tucanos. Mas não me meti fundo no mato, por- que tinha medo de encontrar Anhangá, Curupi- ra e os outros espíritos maus." "O mato todo riu com ele. Riu de mim. Depois o diabo virou três cambalhotas no ar e começou a dançar com toda a velocidade em meu redor. Senti que meus olhos escureciam. Eu mal e mal ouvia a voz de Anhangá, berrando: - Ninguém pode comigo! Ninguém me vence, nem Tupã!" Foi dessa figura mitológica que surgiu o nome "rio Anhangabaú" para um ribeirão que corta o estado de São Paulo. Inicialmente conhecido como Rio das Almas, o rio Anhangabaú era muito temido pelos indíge- nas da região. Os índios acreditavam que suas águas traziam doenças ao corpo e ao espírito. Essa crença leva a suspeita de que suas águas não eram potáveis. Teodoro Sampaio, historiador brasileiro, escre- veu em uma de suas publicações que o rio era considerado pelos índios como "bebedouro das assombrações". Dizem que você pode ver um Anhangá se andar pela Floresta Amazônica em noite de lua cheia, se você passar por algum lugar mal- assombrado. A lenda do Anhangá permanece viva até hoje e deve ser mantida para que as futuras gerações conheçam um pouco mais sobre as histórias do nosso país pré-colonização. Fonte: https://www.mitoselendas.com.br/2013/10/a- lenda-do-anhanga.html 44 Conto etiológico africano: ÁFRICA – EM ALGUM LUGAR COMO SURGIU A GALINHA D”ANGOLA Antigamente as aves viviam felizes nos campos e florestas africanas, até que a inveja se instalou entre elas tornando insuportável a convivência. Nessa ocasião, quase todos os pássaros passa- ram a invejar a família do Melro, que era muito bonito. O macho, com sua plumagem negra e seu bico amarelo –alaranjado, despertava em todos a vontade de ser igual a ele. As fêmeas tinha o dorso preto, o peito pardo-escuro, malha- do de pardo-claro, e a garganta com manchas esbranquiçadas. Elas causavam inveja maior ainda. O Melro, vaidoso, certo de sua beleza, prometeu que se todas as aves o obedecessem usaria seus poderes mágicos e os tornaria negros com plumagem brilhante. Entretanto, os pássaros lo- go começaram a desobedecê-lo. Então ele, furi- oso, jurou vingança, rogou-lhes uma praga e -lhes cores e aspectos diferentes. Para a Galinha D”Angola, disse que seria magra e sentiria fraqueza constante. Fez com que seu corpo se tornasse pintado assim como o de um leopardo. Dessa forma, seria devorada por aque- les felinos, que não suportariam ver outro animal que tivesse o corpo tão belo, pintado de uma maneira semelhante ao deles. Ela pagaria assim por sua inveja. E foi isso que aconteceu. Desde esse dia a Galinha D”Angola, embora se- ja muito esperta e voe para fugir dos caçadores, vive reclamando que está fraca, fraca. Com suas perninhas magras, foge com seu bando assim que surge algum perigo e é muito difícil alcançá- la. Suas penas, cinzas, brancas ou azuladas,são sempre manchadinhas de escuro tornando as galinhas d”angola belas e cobiçadas. Referências. PRADO, Zuleika de Almeida. Muitos mitos, lin- das lendas. Editora Callis, 2007. São Paulo. 1ª. Edição. Ilustrações de Iontr Zilberman. P. 9. Fontehttp://websmed.portoalegre.rs.gov.br/ escolas/obino/cruzadas1/ africanidades_atividades/galinha_angola.html 45 Lenda Boliviana e de outros povos da Amazônia Lenda do URUTAU ou mãe da lua Conta uma famosa lenda boliviana, que na densa mata habitava a bela filha do cacique de certa tribo, enamorada por um jovem guerreiro da mesma tribo, a quem amava profundamente. Amava e era amada. Ao saber do romance, o pai da menina, enfurecido pelo ciúme, usou suas artes mágicas e tomou a decisão de acabar com o namoro da maneira mais trágica: matar o pretendente. Ao sentir o desaparecimento de seu amado, a jovem índia entrou na selva para procurá-lo. Enorme foi sua sur- presa ao perceber o terrível fato. Em estado de choque, voltou para casa e ameaçou contar tudo à comunidade. O velho pai, furioso, a transformou em uma ave noturna para que ninguém soubesse do acontecido. Porém, a voz da menina passou à ave. Por isso, durante as noites, ela sempre chora a morte de seu amado com um canto triste e melancólico. Fonte: http://www.ornithos.com.br/escola/mitos-e-lendas/a-lenda-do-urutau-mae-da-lua/ PARA SABER MAIS: Dicas de outros sites para pesquisar lendas: Lendas africanas; http://lendasafricanas33c.blogspot.com.br/ Lendas indígenas: http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/lendas-indigenas-para-criancas/ http://prodoc.museudoindio.gov.br/noticias/retorno-de-midia/68-mitos-e-lendas- da-cultura-indigena Pensando em boas situações didáticas, sugerimos algumas dicas para desenvolver uma Sequência Didática a partir do trabalho com as lendas. Prepare a sala de aula ou algum espaço na escola e coloque as diferentes lendas com os textos e se possível ilustrações em um varal que você poderá fazer com barbantes. Convide os alunos a circularam, conhecerem os textos nos varais e poderão escolher uma folha. Dê um tempo para a leitura e análise das ilustrações. Os alunos poderão contar sobre o que leram. 46 O professor pergunta que tipo é este de texto que eles leram? Permitir que circule as informa- ções entre os alunos. O professor explica o que é lenda. Lendas são histórias criadas pelas pessoas para explicar, de modo imaginário, os acontecimentos e fenômenos que ocorrem. Muitas lendas chegaram aqui atra- vés de nossos colonizadores como os portugueses e outras foram trazidas pelos africa- nos e ainda outras nasceram com os índios que aqui habitavam. Cada povo tem uma riqueza de lendas que inicialmente eram contadas oralmente sendo transmitida de ge- ração a geração, até que um dia alguém começou a registrar por escrito. As lendas, geralmente e seus personagens fazem parte da cultura de um povo e são cri- adas com base em valores, crenças e costumes. Converse com os alunos e escreva num papel O que os alunos sabiam sobre lenda e no outro lado da folha de papel pardo escreva: O que os alunos estão sabendo sobre lendas. (Essa parte o professor deve ir escre- vendo conforme eles forem tecendo comentários). Inicie uma Roda de leituras das len- das dos varais com os alunos. Traga novas lendas de livros que você poderá encontrar na Sala de Leitura de sua esco- la e leia diariamente. 47 Organize duplas para pesquisarem na Internet lendas. Pesquisar lendas no Youtube para os alunos assistirem. Organize a classe em grupo. Cada grupo deverá escolher uma lenda e realizar o recon- to. Ao longo dos 3 módulos, trouxemos muitos conte- údos para que cada um e cada uma pudesse ampliar seu repertório, ao ler os textos de outras localidades, exerci- tar o colocar-se no lugar do outro. Vivemos tempos em que justificar o desconhecimento das culturas não é possível e vocês puderam percorrer, cidades, tempos e histórias variadas através das diferentes mídias disponi- bilizadas durante curso. Cabe, portanto, a cada um de nós fazer escolhas para ajudar na formação de crianças e jovens que sai- bam lidar com a diversidade cultural, respeitar as diferentes culturas e, mais do que tudo, saibam conviver criando uma cultura de paz. Aproveitem os materiais, façam download do que mais lhe agradou e compartilhem com colegas e com os alunos as riquezas de um mundo tão multicor. 48 CRÉDITOS DAS IMAGENS Capa: Shutterstock.com: ID da Imagem: 105148157 ID da Imagem: 552377947 Módulo: Created by Pressfoto - Freepik.com Created by Alvaro_cabrera - Freepik.com Created by Brgfx - Freepik.com Created by Ddraw - Freepik.com Created by Freepik Created by Iconicbestiary - Freepik.com Created by Jcomp - Freepik.com Created by Kjpargeter - Freepik.com Created by Narukistudio - Freepik.com Created by Pressfoto - Freepik.com Created by Starline - Freepik.com Created by Vectorpouch - Freepik.com Designed by creativeart Freepik Designed by creativeart / Freepik Designed by Freepik Designed by Freepik Designed by kues1-Freepik Por © Hans Hillewaert /, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2545483 Por Cecilia Heinen - IMG_0126, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=31360750 Por Diego Dacal - literatura de cordel, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11784200 Por Fonte, Conteúdo restrito, https://pt.wikipedia.org/w/index.php?curid=3793918 Por José Reynaldo da Fonseca - Obra do próprio, CC BY 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3177141 Por Lualivro - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=40454454 Projetado por Freepik
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