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1 RESUMO A vida e a saúde são direitos correlacionados. Sendo o direito à vida e a saúde amparados pelo Código Civil Brasileiro e pela Constituição Federal. Sendo a vida um dos elementos que compõe os direitos e Garantias fundamentais, e a Saúde como elemento primo dos Direitos Sociais, e, parte integrante da Constituição, a elas nos atemos. Este trabalho discorre sobre esses direitos, baseados no princípio da dignidade humana e busca uma reflexão sobre as filas de espera por consultas, exames e diagnóstico enfrentadas pelos pacientes de oncologia do Sistema Único de Saúde - SUS. O tema escolhido é de suma importância na atualidade, posto que a saúde pública no Brasil, ao longo do tempo, vem tornando-se ineficaz, ineficiente, desumana e degradante, confrontando as garantias e direitos individuais previstos na Constituição. Palavras-chave: DIREITO À SAÚDE. SUS. RESPONSABILIDADE DOESTADO. DIREITO À VIDA. INTRODUÇÃO Observa-se no estudo a seguir, a respeito do que está determinado no Código Civil, na Lei Constitucional, e a realidade da Saúde Pública no País, é que há uma disparidade entre a intenção acertada do legislador, e a realidade a que se submete o cidadão que busca no SUS o socorro de que precisa. Destarte, a falta de investimento, a má qualidade de atendimento e gestão ímproba, vem afetando de maneira impositiva a saúde e a vida dos cidadãos que do atendimento médico gratuito dependem e tem direito de obter com dignidade. Portanto, correlacionados os direitos, à vida e à saúde do cidadão residente no País, este não deve ser tratado de forma degradante ou desumana. Ainda no amparo do Legislativo Constitucional, o artigo 196, estabelece que “a saúde é direito de todos e dever do estado”. Porém, o legislativo vem criando regras de modo a suprir a omissão legal quanto aos prazos de adimplemento dos Serviços Públicos de Saúde. 1. O Direito à vida umbilicalmente ligada à saúde 2 A manutenção da saúde, e, consequentemente da própria vida, é direito inerente a todo ser humano, portanto, natural, inalienável, irrenunciável, e impostergável, sua inviolabilidade está garantida pela nossa Constituição Federal, através do seu art. 5º, "caput" e 6º, ambos abaixo transcritos: "Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição"(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)” 1.1 O Sistema Único de Saúde 1.2 Anteriormente a Constituição de 1988 e antes da Lei 8.080/90 Em analise ao artigo de autoria do Dr. Dráuzio Varella, percebe-se que anteriormente a lei 8.080/90, a saúde pública era de responsabilidade do INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social, que desde 1977, ligado ao Ministério da Previdência e Assistência Social, cujo atendimento era condicionado aos trabalhadores de empregos formais e que contribuíam com a Previdência Social. Ou seja, os desempregados não tinham acesso ao serviço, restando para estes buscar pelos serviços Estaduais, Municipais, Santas Casas, Hospitais Universitários ou Serviços Privados. (VARELLA). O INAMPS foi criado no regime militar em meados de 1974 pelo desmembramento do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (atual Instituto Nacional da Seguridade Social – INSS). Em 1970, a crise do financiamento da previdência social repercutiu diretamente no INAMPS. Em 1979, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados promoveu o Simpósio de Política Nacional de Saúde. Ao longo dos anos 80, diversas modificações culminaram em sua descentralização. Em 3 1988, formaram as bases que vieram a resultar na inclusão da saúde na constituinte, a qual definiu a saúde como “direito de todos e dever do Estado”. 1.3 Nasce o Sistema Único de Saúde – SUS. A Lei de n° 8.080 de 1990 trouxe à população brasileira a esperança de dias melhores na saúde, prevendo tratamento igualitário, humano, valorizando o cidadão e a saúde deste em seu texto: “Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito Público ou privado. Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício. § 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (...) O SUS é um sistema público, que visa o amparo social da saúde do individuo. Organizado e orientado no sentido do interesse coletivo, pelo qual todas as pessoas, independente de raça, crenças, cor, situação de emprego, classe social e local de moradia, a ele têm direito. Para Moraes, (2003. Cap.3, p.50): “todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de Justiça”. Sabemos que para ter boa saúde, é preciso muito além de um sistema de atendimento, e que ainda há outros fatores tais como boa alimentação, saneamento básico, acesso à moradia digna, meio de transporte eficiente e de baixo custo, lazer, cultura, educação e segurança. Que a saúde é apenas um dos fatores para que as pessoas tenham qualidade de vida. Neste sentido a redação do artigo 3° da Lei 8.080/90: 4 “Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do País, tendo a saúde como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. (Redação dada pela Lei nº 12.864, de 2013) Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social.” Edward Amory Winslow, como citação fortemente recorrente quando o assunto é saúde pública, define-a sob sua ótica como a arte e a ciência de prevenir doenças, promovendo a saúde física e mental, através do esforço estruturado da sociedade: “Saúde é o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (OMS, 1946, apud AITH, Fernando; SCALCO, Nayara, 2015, p.43-54) Portanto, há o reconhecimento de que os indicadores de saúde das pessoas devem ser tomados para medir o nível de desenvolvimento do país e do bem-estar da população. 1.4 A descentralização e a Regionalização. Dada as existentes diferenças entre as regiões brasileiras, o Ministério da Saúde buscou formas de descentralizar a prestação do serviço público de saúde. Passando aos municípios as responsabilidades inerentes aos Estados e Municípios. Deste modo, as responsabilidades migraram para as respectivas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, quais têm por dever garantir a prestação de serviços públicos de forma gratuita para a população. Todavia, nem sempre o município é capaz de executar todosos serviços de saúde sem que haja auxilio. Mais comumente os municípios menores, que carecem de recursos financeiros e humanos, e/ou sua população é insuficiente para manter certos serviços especializados ou um hospital. Por isso, a descentralização dos serviços acarreta também a regionalização para evitar desperdícios de recursos públicos, tornando necessária à organização dos serviços, promovendo o acesso de todos aos diferentes tipos de atendimento. 5 Sendo o sistema de saúde um sistema hierarquizado, compondo-se de várias unidades interligadas, com setores subdivididos em níveis de atendimento entre as unidades básicas e os centros de saúde, quais, todos podem procurar diretamente, tanto para a prevenção quanto para o tratamento e orientação; as policlínicas que além do atendimento ambulatorial e especialidades possuem pronto atendimento; entretanto há ainda os hospitais, que quando necessário, as pessoas serão encaminhadas através das unidades básicas, centros de saúde e policlínicas. Por fim, os prontos-socorros que tem por objetivo primário o atendimento de urgência e emergência. 2 A realidade do SUS e o desrespeito à norma O Sistema Único de Saúde – SUS do qual dispomos, na realidade confronta não só o disposto no capitulo anterior, como também o previsto na legislação. De um lado, ao usuário restam as filas demoradas, atendimentos desumanos, direitos violados, obras inacabadas, equipamentos inoperantes, obsoletos ou defeituosos, metas de programas não cumpridas, distribuição de remédios de alto custo burocrática, falha e por vezes inexistentes. E do outro lado, temos profissionais com turnos intermináveis, mal remunerados, com pouca ou nenhuma estrutura, violentados em seus direitos trabalhistas, humanos e profissionais. Que atendem com tempo contado por paciente, a ponto de cometer erros, posto que cientes da lotação do saguão de espera. Alguns já anestesiados pela situação se corrompem, buscam outras formas de ganhos, acumulam plantões em mais de um hospital. Outros tentam ao máximo prestar o melhor serviço possível com as raras condições impostas por uma gestão desequilibrada. 2.1 A Judicialização da Saúde Comumente ocorrem ações judiciais contra o Estado com a finalidade de obter reparação, por erro médico, omissão de socorro, para tentar garantir o acesso à exames essenciais ao diagnóstico precoce de doenças degenerativas cuja demora acarreta na impossibilidade do tratamento, por exemplo o câncer, 6 assim como medicamentos caros e imprescindíveis a manutenção da vida. Acarretando a judicialização do sistema de saúde, o que é vergonhoso. O termo judicialização da saúde é utilizado para referir-se aos conflitos e demandas levados ao judiciário na forma de ação civil pública, ou através de ações cautelares que tem por objeto o recebimento de um bem ou a prestação de serviço médico/ hospitalar. Esse fenômeno chamado judicialização tem se caracterizado como um meio de confirmação de direitos e do alcance à saúde, bem como as tutelas de urgência que tem se resumido a isto, a cobrança de ações por parte do Estado e seus entes correspondentes no campo da saúde. Ante a proibição da autotutela ou juízo de mão própria, surge à necessidade de armar o cidadão com um instrumento capaz de dirimir o conflito submetido à tutela do juiz. Esse direito é exercido com a movimentação do Poder Judiciário, que é o órgão incumbido de prestar a tutela jurisdicional. Sergio Pinto Martins define: “Jurisdição é o poder que o juiz tem de dizer o direito nos casos concretos a ele submetidos, pois está investido desse poder pelo Estado” (MARTINS, 2019, p.91). Dessa forma, a judicialização do sistema de saúde tem se tornado um remédio necessário ao cidadão, porquanto, a lei protege o bem a vida e saúde, o ente público a desconsidera. Impondo ao legislativo a necessidade de criar legislação especifica delimitando prazos para exames e tratamentos diante do risco morte de alguns pacientes. Neste sentido a Lei n° 12.732/2012: Art. 2° O paciente com neoplasia maligna tem direito de se submeter ao primeiro tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS), no prazo de até 60 (sessenta) dias contados a partir do dia em que for firmado o diagnóstico em laudo patológico ou em prazo menor, conforme a necessidade terapêutica do caso registrada em prontuário único. § 1º Para efeito do cumprimento do prazo estipulado no caput, considerar-se-á efetivamente iniciado o primeiro tratamento da neoplasia maligna, com a realização de terapia cirúrgica ou com o início de radioterapia ou de quimioterapia, conforme a necessidade terapêutica do caso. 7 § 2º Os pacientes acometidos por manifestações dolorosas consequentes de neoplasia maligna terão tratamento privilegiado e gratuito, quanto ao acesso às prescrições e dispensação de analgésicos opiáceos ou correlatos. 2.2 Os pacientes de câncer no SUS Anterior ao tratamento do câncer é necessário o diagnóstico, que atualmente tem encontrado obstáculo no fator tempo. Para melhor exemplificar o Tribunal de Contas da União – TCU em auditoria “no Ministério da Saúde, na Secretaria de Atenção à Saúde (SAS/MS), no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) e nas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde de quatorze estados...”. Levantaram dentre outros dados alarmantes no que concerne à demora da prestação do serviço público de saúde está o grau tardio dos diagnósticos. (Secom/TCU 2019). Segundo o relatório da auditoria realizada, o índice dos pacientes que em 2017 foram atendidos pelo SUS revela que 80% destes iniciaram o tratamento já em grau III e IV da doença “(traqueia/brônquio/pulmão: 83%; tireoide: 80%; estomago: 79%; cavidade oral: 79%)”, dados estes que se confrontados com os dados da mesma pesquisa que indicam o índice de mortalidade no mundo que variam de 10,6% a 20,2% enquanto que no Brasil as estatísticas da mesma indicam uma taxa de mortalidade de 24,2% a 40,7%, ou seja, o Brasil está no índice de mortalidade do câncer, no patamar mínimo 13,6%, e no patamar máximo 20,5% acima da média mundial. O que resulta no dobro de mortes que poderiam ser evitadas ou adiadas com uma política mais focada na prevenção que no tratamento, qual diga-se tem se mostrado insatisfatório. Insta dizer, que o tempo médio para diagnóstico de câncer no Brasil é de 270 dias na rede pública de saúde. Portanto com reduzidas chances de cura. Com isto o Tribunal de Contas da União –TCU, que no acórdão n°1944/2019, de relatoria do Des. Augusto Nardes, no processo n° 023.655/2018-6, seção 21/08/2019, ata n° 31/2019 – Plenário, pelo qual solicita ao Ministério da Saúde que traga soluções quanto ao demonstrado no relatório da auditoria. Com isto, 8 deu-se o prazo de 90 dias, para que a União apresente um plano de ação de modo a dar maior agilidade ao processo de diagnóstico do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste ínterim, segundo o TCU, pelo menos 27 pessoas morrem vitimas do câncer no Brasil a cada hora, tendo como principal causa de óbito a demora no diagnóstico, seguida do tratamento tardio e falta de remédios. As investigações foram provocadas por denúncias feitas por Organizações Não Governamentais (ONGs) de apoio aos pacientes com câncer. Em decorrência da situação fática acima apresentada os pacientes inconscientemente são submetidos à verdadeira loteria. Um claro exemplo é o que noticia o portal G1 (Cristina Boeckel,15/08/2018) sobre estudos realizados pela Defensoria Pública, as unidades Federais no Estado do Rio de Janeiro possuem um déficit de 5,8 mil profissionais, gerando uma fila de espera de mil pessoas. (G1.2018) O impacto desta deficiência do sistema acarreta em casos como o do aposentado Ricardo Batista de Souza, de 68 anos, que após seis longos meses de espera veio a óbito vítima de um câncerde pulmão, no dia 11 de agosto de 2018, sem sequer fazer a primeira consulta com um oncologista para iniciar o tratamento. Ao senhor Ricardo restou o desrespeito ao direito à vida, foi sentenciado à morte por um sistema falho, moroso, e desumano, só restando a declaração da viúva "Ele estava quase conseguindo ser atendido (...) Parece que a gente não pode ficar mais doente.” 3 Soluções Encontradas no Legislativo É importante salientar que, apesar das restrições, algumas medidas vêm sendo tomadas ao logo dos anos desde a implantação do Sistema Único de Saúde – SUS, dentre elas as Lei n° 12.732/2012, § 2°, que determina o primeiro tratamento no máximo em 60 dias a contar do diagnóstico de neoplasia (câncer), verificando a lacuna que possuí referida lei, e buscando corrigir a existente demora no diagnóstico a Deputada CARMEN ZANOTTO propôs na Câmara dos Deputados em fevereiro de 2015: 9 “Quando apresentamos o PL 2878, de 2011 de minha autoria e o PL 3125, de 2012 da autoria da Deputada Flávia Moares, foram apensados ao do Senador Osmar Dias e aprovado o Substitutivo Global de Plenário que resultou na Lei 12.732, de 2012. Na ocasião não incluímos o prazo para o diagnóstico e essa ausência na lei foi adequadamente observada pelo nobre ex-deputado Beto Albuquerque que apresentou proposição na legislatura anterior visando complementar a lei e conferir celeridade dos diagnósticos quando a hipótese principal seja a neoplasia maligna, e a realização dos exames necessários a elucidação devem ser realizados no prazo máximo de trinta dias, fundamentada pelo médico responsável, a qual foi aprovado o parecer da relatora deputada Elcione Barbalho na Comissão de Seguridade Social e Família. Dessa forma pretendemos garantir a população um acesso mais célere aos exames porque infelizmente, para esses pacientes tempo é um bem precioso. Determinar que os exames do paciente suspeito de portar alguma daquelas enfermidades sejam concluídos em trinta dias significa fechar a porta da protelação e melhorar o atendimento. (Sala das Sessões, em de fevereiro de 2015. Deputada CARMEN ZANOTTO (PPS/SC))” O referido Projeto de Lei visa complementar o texto da respectiva lei inserindo o parágrafo terceiro, e, teve seu texto aprovado no dia 16 de outubro de 2019 na Câmara do Senado e sendo remetida à Secretaria de Publicação em 17 de outubro de 2019, a saber: “Ementa: Altera a Lei nº 12.732, de 22 de novembro de 2012, para que os exames relacionados ao diagnóstico de neoplasia maligna sejam realizados no prazo de 30 (trinta) dias, no caso em que especifica.”(SENADO, 2019) Quiçá, o Poder Executivo, venha a cumprir com as normas estabelecidas em lei. O povo brasileiro anseia por dias melhores e comemora a cada evolução legislativa que vise proteger seu direito de viver com saúde e dignidade. Conclusão Ante o exposto, a Constituição Federal em seu texto garante de forma universal o direito à vida, bem como o direito à saúde dentre outras garantias fundamentais para uma vida digna e equilibrada. Assim como constatamos que o Legislativo apesar de moroso, ainda busca preencher as lacunas que dificultam ou impossibilitem o acesso de todos a esses direitos. 10 Contudo, não basta a propositura de novas leis que visam à garantia dos direitos fundamentais e sociais, ante a carência de eficiência do Poder Executivo de por em prática os termos que o legislador atribui como aceitáveis e possíveis de cumprir ante uma sociedade carente e desamparada. Com a finalidade de prevenir o desamparo social é que a norma legal impõe as obrigações relativas a cada um dos Três Poderes, dos quais este trabalho buscou explorar as impostas ao Poder Executivo, e chamando a responsabilização dos respectivos gestores. Devendo estes atentar aos princípios: da legalidade, respeitando ao previsto em lei; da imparcialidade, devendo promover políticas públicas voltadas à saúde de todos sem distinção como forma de garantir a vida; da moralidade, utilizando de alto nível de ética e moral na gestão da coisa pública como meio de fornecer serviço de suporte à saúde de todos; da publicidade, mantendo público todo ato da administração da saúde pública de modo a alcançar todos os residentes e transeuntes em território nacional; e por fim da eficiência, fornecendo um serviço público de saúde com a devida eficiência, buscando sempre a valorização do paciente em si, com atuação integral na prevenção, e, quando se fizer necessário, a intervenção o quanto antes de tal maneira que reduzam os índices de mortalidade apenas aos casos de fato de força maior sem solução, inverso aos atuais resultantes da omissão do Estado. Dito isto, cabe ao estado assegurar que todos tenham acesso à saúde conforme o previsto na legislação supracitada, e inseparável do direito à vida protegido pela Constituição da República Federativa do Brasil, no caput do seu art. 5º, que garante a todos os brasileiros e estrangeiros, sem distinção de qualquer natureza, à inviolabilidade do direito à vida, sendo este direito primário, garantindo-se a essência dos demais direitos e princípios constitucionais. Para refletir: John Lock - “Toda a humanidade aprende que, sendo todos iguais e independentes, ninguém deve lesar o outro em sua vida, sua saúde, sua liberdade ou seus bens.”. 11 REFERÊNCIAS: AITH, Fernando; SCALCO, Nayara. Direito à saúde de pessoas em condição de vulnerabilidade em centros urbanos. Revista USP. São Paulo. N° 107. p.43-54 outubro/novembro/dezembro 2015. BRASIL, Constituição da República Federativa de 1988. TÍTULO II - DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS - CAPÍTULO I - DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS – Art. 5° e CAPÍTULO II - DOS DIREITOS SOCIAIS Art. 6°. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm/>. Acesso em: 05/10/2019. BRASIL, LEI Nº 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm/> Acesso em: 05/10/2019 BRASIL, LEI Nº 12.732, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2012. Dispõe sobre o primeiro tratamento de paciente com neoplasia maligna comprovada e estabelece prazo para seu início. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12732.htm/> Acesso em 11/10/2019. BRASIL, Senado. Projeto de Lei da Câmara n° 143, de 2018. Disponível em: <https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/134968/> Acesso em 28/10/2019. BRASIL, TCU. Diagnóstico de câncer no Brasil é realizado de forma tardia. Disponível em: <https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/diagnostico-de- cancer-no-brasil-e-realizado-de-forma-tardia.htm>. Acesso em: 28/10/2019. G1, RJ perde 48% das vagas para tratamento de câncer em unidades federais em 18 meses. Pacientes que aguardam por consultas, cirurgias e terapias formam fila de 1 mil pessoas; após 6 meses, idoso morreu sem tratamento. Déficit é de 5,8 mil profissionais, segundo Defensoria. Disponível em: <https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/08/15/rj- perde-48-das-vagas-para-tratamento-de-cancer-em-unidades-federais-em-18- meses.ghtml/>. Acesso em: 28/10/2019. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 13. ed.. São Paulo: Atlas, 2003. Cap.3, p.50. MARTINS, Sergio Pinto. Teoria Geral do Processo. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Cap.10, p.91. VARELLA, Drauzio Varella. Antes do SUS. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/saude-publica/antes-do-sus/>. Acesso em: 20/10/2019.
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