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GESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA Joyce Grazielle Alves Lima BELO HORIZONTE – MG 2020 Joyce Grazielle Alves Lima O DIREITO À SAÚDE E GESTÃO PÚBLICA E OU PRIVADA Monografia apresentada à Banca Examinadora do Grupo IPEMIG, Instituto Pedagógico de Minas Gerais. Como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão em Saúde Pública. BELO HORIZONTE– MG - 2020 LIMA, Joyce Grazielle Alves O direito à saúde e gestão pública e ou privada / Joyce Grazielle Alves Lima – Minas Gerais, 2020 53 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pós Graduação) Faculdade IPEMIG, Curso de Especialização em Gestão em Saúde Pública e da Família, 2020. 1. Saúde. 2. Público. 3. Privado. 4. SUS. 5. Estado. I. O direito à saúde e gestão pública e ou privada TERMO DE APROVAÇÃO Joyce Grazielle Alves Lima O DIREITO À SAÚDE E GESTÃO PÚBLICA E OU PRIVADA Monografia apresentada à Banca Examinadora do Grupo IPEMIG da Faculdade Batista, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão em Saúde Pública . Monografia aprovada em ___/___/_____ Nota: _____ _______________________________________________ Joyce Grazielle Alves Lima Banca Examinadora: _______________________________________________ BELO HORIZONTE – MG 2020 Essencialmente à Deus Pai Criador, à toda a minha família; aos professores que durante todo esse processo de curso incidiram por nossa turma deixando parte de seus conhecimentos e, assim contribuindo de forma significava para o n osso aprendizado, enfim a mim mesma, pela perseverança e coragem que apresentei durante todo esse trajeto. AGRADECIMENTOS Para Finalizar este trabalho foi uma tarefa peno a, dadas as condições adversas em que foi realizado. Além de imensas persistências, cheia de altos e baixos, tropeços e angústias, tive a sorte de receber apoio de algumas pessoas dentre elas toda a minha família, aos Mestres, que repassaram de forma sábia todo os embasamentos necessários para o desenvolvimento deste trabalho, à todos eu gostaria de expressar meu eterno agradecimento. “Se nós estamos querendo atingir objetivos como universalização, equanimidade, integralidade do sistema, participação, é impossível que um setor importante d a assistência à saúde fique sujeito às leis d o mercado”. (Deputado constituinte Eduardo Jorge, Diário do Congresso Nacional, 17/7/1987:199). RESUMO Ultimamente diversos países tem reconhecido o direito à saúde como direito humano, e, como obrigação do Estado, buscando o aprimoramento da s ações de saúde, no seu mais amplo conceito, a fim de edificar uma sociedade mais livre, justa e solidária. No entanto, ainda há diversas falhas nos sistemas de saúde pública e privada, principalmente com relação à universalidade do atendimento, e com isso os indivíduos se sente m injustamente privados do exercício de seus direitos humanos em toda a sua plenitude; já devidamente normatizados e garantidos em lei, ora pela falta de informações de seus próprios direitos, ora por ineficácia das Leis. Em especial no Brasil, tanto o atendimento em saúde como o próprio conceito de saúde têm passado por diferentes progressos, todavia, não suficiente, precisando, portanto ainda evoluir muito. As leis têm auxiliado nesse progresso, apresentando mecanismos para defesa do direito à saúde, e m esmo instrumentos capazes de fazer a evolução acontecer, ainda que a forçadamente, por meio do Poder Judiciário, provocado pelas pessoas individualmente, por organizações não governamentais, ou mesmo pelo Ministério Público há que se atrelar ainda quando o quesito de ser o Sistema Único de Saúde (SUS) estrutura híbrida de gestão d a saúde, baseada no funcionamento simultâneo de uma rede de atendimento pública e gratuita ao cidadão e outra privada, que atua d e maneira complementar e conforme a s diretrizes do SUS. Com as restrições dos serviços e recursos investidos pelo Esta do para atender as demandas de saúde da população brasileira, o setor privado vem atuando sob a forma de planos e seguros d e saúde, bem como de hospitais, clínicas, laboratórios, e consultórios particulares, daí uma grande contradição clara na questão da proposta de universalidade do SUS e a atuação da rede privada é ponto de partida para articulações e movimentos contra a tendência de privatização do setor da saúde. E também, as transferências de recursos públicos para os planos e seguros privados, o difícil ressarcimento das ações prestadas pelo S US aos usuários de planos de saúde privados como ainda a precariedade que vem caracterizando o crescimento desordenado da oferta privada, dentre muitas outras demandas. Palavras-Chave: Saúde. Público. Privado. SUS. Estado. ABSTRACT Lately, several countries have recognized the right to health as a human right, and as an obligation of the State, seeking the improvement of health actions, in its broadest concept, in order to build a freer, fairer and more solidary society. However, there are still several failures in public and private health systems, mainly concerning the universality of care. Therefore, individuals feel unjustly deprived of the exercise of their human rights in all its fullness; already duly standardized and guaranteed by law, sometimes for lack of information about their own rights, sometimes for inefficacy of laws. Especially in Brazil, both health care and the very concept of health have undergone different progress, but not enough, and therefore still need to evolve a lot. Laws have helped this progress, presenting mechanisms to defend the right to health, and also instruments capable of making the evolution happen, even if forcibly, through the Judiciary Power, provoked by individuals, non-governmental organizations, or even by the Public Prosecutor's Office, even when the requirement of being the Unified Health System (SUS) hybrid structure of health management, based on the simultaneous operation of a public and free service network to the citizen and a private one, which acts in a complementary way and according to SUS guidelines. With the restrictions of the services and resources invested by the State private sector has been acting in the form of health plans and insurance, as well as hospitals, clinics, laboratories, and private offices, hence a clear contradiction in the proposal of universality of the SUS and the action of the private network is the starting point for articulations and movements against the trend of privatization of the health sector. Also, the transfer of public resources to private plans and insurance, the difficult reimbursement of the actions provided by S US to users of private health plans, as well as the precariousness that has characterized the disorderly growth of private supply, among many other demands. Keywords: Health. Public. Private. SUS. States. 1 INTRODUÇÃO........................................................................................12 2 O DIREITO À SAÚDE NO BRASIL .....................................................06 2.1 SAÚDE PÚBLICA.............................................................................. 15 2.2 – SAÚDE PRIVADA........................................................................... 18 3 OS INSTRUMENTOS CONSTITUCIONAIS E INFRACONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO À SAÚDE PÚBLICA OU PRIVADA....................................24 3.1 O PUBLICO E O PRIVADO NA SAÚDE, SUAS DIFERENÇAS....33 3.2 RELAÇÃO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO NA SAÚDE BRASILEIRA...............................................................................................34 4 UNIVERSALIDADE, EQUIDADE E ACESSO A SAÚDE DE FORMA JUSTA ...................................................................................................................... 36 5 CONCLUSÃO ..........................................................................................48 6 BIBLIOGRAFIA........................................................................................50 12 INTRODUÇÃO: É da república Federativa d o Brasil de 1988), institui, em seu art. 196, que a saúde é direito d e todos e dever do Estado, garantindo , assim, mediante políticas públicas, sociais e econômicas; as quais têm como objetivo a redução dos riscos de doenças e de outros agravos como ainda ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O art. 19 8, ainda da citada Constituição dispõe ainda que as ações e serviços públicos de saúde unificam uma rede regionalizada e hierarquizada constituindo assim o que conhecemos como sendo o Sistema Único de Saúde - SUS. É notório que a construção do SUS vem se aquilatando/aperfeiçoado, todavia, o Brasil ainda encontra-se longe de dedicar a mesma atenção à Saúde Pública que os demais países que detêm um sistema público e universal, tais como Reino Unido, Alemanha, Espanha, França, Canadá dentre outros. Para atesta r essa afirmação, basta lembrar que, em 20 09, enquanto o SUS gastou 4 ,0% do produto interno bruto (PIB), o gasto público em saúde nos países mencionados foi, em média, 7,0%. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde, a participação do gasto público no total da despesa com saúde também é baixo no país: cerca de 44,1%. Nos demais países, o percentual é, em média, 80%. No caso brasileiro, ainda, é significativo o incentivo concedido pelo governo federal à saúde privada, na forma de redução de Imposto de Renda a pagar da pessoa física ou jurídica, o que é aplicado sobre despesas com plano de saúde e/ou médicas e similares. Portanto, tal Sistema, o (SUS) proposto na Constituição Federal de 1988 ainda é uma aspiração a ser perseguida, sobretudo no que se refere à igualdade de ingresso e à qualidade da atenção. Assim sendo, está obvio e claro que é necessário a implantação urgente de políticas publicas mais direcionadas quanto aos serviços oriundo do Sistema Único de Saúde (SUS), como ainda o papel do gestor dentro deste processo , acrescido ainda ao que tange as questões de seus avanços e limitações, e, também como se dá esse processo gestor público e privado da saúde. As excitações que levaram a desenvolver essa pesquisa , abordando tal tema; nasceram, em grande parte, do que se observa no dia-a-dia: como a falta de estrutura das instituições de saúdes, as filas enormes p ara se ter acesso a um serviço tão basilar e fundamenta l, já defendido pela nossa Constituição, mas que, infelizmente o que tem 13 ocorrido é o processo reverso. Sabendo que o modelo de saúde em vigo r está sendo seriamente rediscutido, da í a relevância d e se repensar as questões acima alinhavadas e de aprofundar o estudo das dificuldades inerentes à construção de um sistema único de saúde assinalado pela equidade, qualidade, eficácia, eficiência e a participação social, considerando que uma das dificuldades diz respeito à atuação (ou não) d o gestor estadual no processo. A escolha do tema deveu -se ainda ao fato de se conhecer uma boa parcela de usuários que dependem do Sistema Único de Saúde e com isso se observa que tais necessidades acabam que por não ser devidamente atendida, tanto em âmbito municipal, estadual quanto federal. Desde a Constituição Federal de 1988, iniciou -se o processo de constituição do Sistema Único de Saúde, regulamentado pelas Leis nos 8.080 e 8.142, de 1 990. Em linhas gerais, se propunha que a União lançasse as normas gerais para o setor e que os Municípios tivessem autonomia para executar a política de saúde de maneira ajustada às suas condições e/ou prioridades locais. Nessa conjuntura, competiria ao Estado o papel de coordenador, avaliador e intermediador d a política de saúde entre os Municípios. Contudo, desde aquela época até então, percebe-se que o Estado tem mostrado dificuldades em assumir seu novo papel, gerando um visível esvaziamento da esfera estadual nas ações de saúde, em outras palavras: uma ineficácia. Além das responsabilidades inerentes tanto na esfera municipal, estadual e federal, compete a inda a os Esta dos constituído s p elas suas Secretarias de Saúde a responsabilidade dos go vernos estaduais e m instituir suas próprias políticas de saúde e auxiliar no cumprimento e execução das políticas nacionais injetando recursos próprios como ainda aqueles recursos repassados pela União. E, consequentemente os Estados também repassam verbas aos se uns municípios. Além disso, os estados coordenam sua rede de laboratórios e hemocentros, determinam os hospitais de referência e gerenciam o s locais de atendimentos complexos d a região. Os obstáculos para que o Estado desempenhe bem suas atribuições deve-se a diversos fatores. 14 Podemos citar três desses aspectos, dentreoutros, que serão abordados no percurso do desenvolvimento deste TCC. O primeiro diz respeito ao excessivo número de norma s difundidas pelo Ministério da Saúde, que faz com que Estado s e Municípios mal tenham tempo de se amoldar-se às normas antes que surjam n ovas mudanças, suscitando, assim, um processo de permanentes adaptações e readaptações nas ações de saúde , e com isso há um “atropelamento” no processo de adequação do sistema . O segundo refere-se à excessiva centralização dos recursos na esfera federal , isto, devido a um processo de repartição de competências mista; que é adota no Brasil, seguindo exemplos dos EUA e Alemanha, e , dentro deste contexto, toca aos estados e demais entes federativos uma competência remanescente (art. 25, §1º da CRFB/88), e, à interdependência entre o cumprimento de tantas normas e o recebimento dos recursos. O terceiro envolve o despreparo da maioria dos Municípios para arcar com as responsabilidades que atualmente lhes cabem. Este é um trabalho monográfico do curso de especialização em Gestão em Saúde Pública e da Família e, portanto, sua metodologia se respalda em pesquisas bibliográficas, onde se procura explana r tal problemática a través de teorias publicadas em algumas obras do referido gênero . Objetivando assim, conhecer e analisar as principais contribuições teóricas existentes sobre o tema em questão, tornando-se, portanto, um instrumento indispensável para qualquer pesquisa. Assim, tal pesquisa lança como embasamentos algum a obras como: BASTOS (1988 ), BONAVIDES (2000), DAL LARI (1993;2002), JÚNIOR (2004), PIOVERSAN (1998) e SILVA (1968; 2001), entre outros. Como a inda consultas a diversos documentos como: CRFB/88, Leis 9.656/98, 8.080/90 dentre outras e ainda leituras em documentos pertinentes ao assunto pertencentes ao SUS (Sistema Único de Saúde), OMS Organização Mundial de Saúde, ONU (Organização das Nações Unidas), CEP (Comitê de Ética e Pesquisa). A partir disso, foi presumível fazer uma interconexão entre a s teorias do direito constitucional e do processo de formação do Estado federativo com a teoria da construção histórica da saúde pública no Brasil e os impasses gerados na atuação d o Estado como esfera intermediária entre a União e os Municípios da saúde no âmbito Público e Privado. Assim, este trabalho está estruturado, além desta Introdução e das Considerações finais, mais 4 tópicos. No tópico 2 busca -se apresentar de forma objetiva em embasada o Direito à Saúde no Brasil, onde se é possível discutir sobre a 15 questão do público e do privado na saúde; o tópico 3 vem traçando os remédios constitucionais e infraconstitucionais que surgem como proteção à esse direito à saúde sendo ela pública e/ou privada e por fim o tópico 4 o qual vem traçar dessa universalidade e equidade no acesso a saúde pública. 2 O DIREITO À SAÚDE NO BRASIL: O Direito à saúde é parte integrante e indissolúvel de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, reconhecidos e protegidos dentro da Constituição Federal Brasileira de 1988, conhecido ainda como direito de segunda geração, segundo Paulo Bonavides e que têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. Segundo defende o jurista Luiz Roberto Barroso (2009, p.10): O Estado constitucional de direito gravita em torno da dignidade da pessoa humana e da centralidade dos direitos fundamentais. A dignidade da pessoa humana é o centro de irradiação dos direitos fundamentais, sendo frequentem ente identificada como o núcleo essencial de tais direitos. O capítulo II da nossa Constituição, que trata Dos Direitos Sociais, já traz como artigo inicial, o art. 6º, “capit.” todo embasamento constitucional a garantia do direito à saúde no Brasil: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Observe que no Brasil este direito apenas foi reconhecido n a Constituição Federal de 1988, antes disso o Estado apenas oferecia atendimento à saúde para trabalhadores com carteira assinada e suas famílias, os d e mais tinham acesso a estes serviços como um favor e não como um direito. Durante a Constituinte de 1988 as responsabilidades do Esta do são repensadas e promover a saúde de todos passa a ser seu dever: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 16 ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação. Constituição Federal de 1988, artigo 196. E ainda o art. 199 §1º da CRFB/88 determina mais: Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada § 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único d e saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato d e direito público ou convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Assim, tais artigos não devem ser lidos somente como uma promessa ou uma declaração de intenções, mas antes deve ter uma aplicabilidade imediata, sendo, portanto, um direito fundamental do cidadão, isto é, pode e deve ser cobrado. A saúde é assim classificada por se tratar de um direito de todos e , mesmo porque sem esta não pode haver uma qualidade de vida tão bem defendida na nossa CRFB/88, e é, portanto, uma obrigação estatal, já que se trata de um instrumento financiado por meio d os impostos que são imputados à toda a população de forma erga -omnes (geral). Logo, para que o direito à saúde possa vir a ser uma realidade, é preciso que este gestor maior ( Estado); a quem delegamos poderes, crie condições de atendimento nos locais destinado a o atendimento médico-hospitalar, tais como: postos de saúde, hospitais, programas de prevenção, como ainda na questão da dispensação de medicamentos, dentre outros meios, e também é preciso que este atendimento seja universal (atingindo a todos os que precisam) e integral, ou seja, garantindo tudo o que a pessoa precise, e, que tais serviços cheguem à maior quantidade de pessoaspossível. A saúde pública não pode oferecer serviços de vanguarda para determinadas pessoas e descuidar das condições d e saúde das demais, já que parte de um princípio coletivo e comunitário e não pessoal. Ao depender do Estado, a saúde pública não deve fazer quaisquer descriminações entre os habitantes de uma mesma região. Assim, observe-se o que consolida essa Ação de Inconstitucionalidade: "Consolidou-se a juris prudência desta Corte n o sentido de que, embora o art. 196 da Constituição de 1988 traga norma de caráter programático, o Município não pode furtar - se do dever de propiciar os meios necessários ao gozo do direito à saúde por todos os cidadãos. Se uma pessoa necessita, para garantir o seu direito à saúde, d e tratamento médico adequa do, é dever solidário da União, do Estado e do Município 17 providenciá-lo." ( AI 550 .530-AgR, rel. m in. Joaquim Barbosa, julgam em 26- 6-2012,Segunda turma , DJE de 16-8-2012.) Hoje se tem como objeto central de debates intensas discussões sobre tal reconhecimento, qual seja; o do direito à Saúde, pois, enquanto há o argumento jurídico ligado aos direito s sociais, também existe resistência na defesa de ser a saúde um bem econômico. Contudo dentro d as mais diversas espécies de Estados, há unanimidade em desejar que a saúde seja versada como direito. Para que se possa compreender e reconhecer o direito à saúde, necessário se faz perceber que tal bem (a saúde) se apresenta de vários aspectos, os quais se interagem, proporcionando um completo bem -estar físico, mental e social. É notório que esse conjunto inclui o equilíbrio d o ser humano com se u meio, uma vez que, o sujeito jamais foi ou é puro espectador da natureza, m as antes fazendo parte e interagindo com a mesma diretamente. Assim, a estabilização da natureza serão reflexos diretos sobre o estado d e saúde desses sujeitos. Tal interação do homem com o meio traz uma consequência: apresenta a saúde como um direito cujo sujeito não é um indivíduo, ou alguns indivíduos, mas todo um grupo, ou até mesmo a humanidade, pois o meio ambiente saudável não é bem indivisível. José Afonso da Silva (2002, p.285-286) conceitua os direitos sociais como sendo: [...] prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas nas normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos m ais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização das situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito d e igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em que criam condições materiais mais propícias ao aferimento da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição m ais compatível com o exercício efetivo da liberdade. Logo se conclui que a saúde, quanto direito humano, só pode ser obtida em um Estado de Direito, já menciona do anteriormente. Daí a carência de uma positivação do s direitos humanos, o que já vem ocorrendo mesmo que a passos lentos. Partindo dessa premissa é que já vem surgindo alguns documentos sobre direitos humanos, e aos poucos se tem concluído que os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais se mostram de forma interdependentes, e só com o pleno exercício de todos estes direitos é que será possível a existência da pessoa humana, o ideal do homem livre. 18 A ide ia deste sistema unificado de saúde está diretamente ligada à responsabilidade estatal; onde se sabe que o objeto principal Sistema Único de Saúde vai muito além do que se observa e se imagina ser, como: a disponibilização de centros de apoio à saúde, onde os usuários possam acessar quando precise, no entanto, a ideia vai bem mais além, pro põe -se que seja possível atuar antes disso, com ações preventivas, ampliando a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, b em como sua resolubilidade, evitando assim, situações mais onerosas aos cofres públicos, uma vez que, tratar uma do- ença se torna bem m ais oneroso que preveni-la e tais ações de vem ser realizadas através dos agentes de saúde que visitam frequentemente as famílias p ara se antecipar os problemas e conhecer a realidade de cada família, encaminhando as pessoas para os equipamentos públicos de saúde quando necessário. Desta forma, organizado com o objetivo de resguardar, o SUS deve promover e recuperar a saúde de todos os brasileiros, independente de qualquer condição ou situ ação. Infelizmente é sabido que tal sistema ainda não está completamente organizado existindo, portanto, diversas f alhas; podendo -se afirmar que uma ineficácia do que se foi é proposto por tal Sistema, no entanto, seus direitos estão garantidos e devem ser cobrados para que sejam cumpridos. O Decreto nº 7 .508, de 28 de junho de 2 011 foi muito bem redigido e está ai p ara que tais diretos possam ser garantidos e desta feita de forma mais absorvente. Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação federativa, e dá ou trás providências. 19 Vejamos alguns direitos que nos são ressalvados ainda dentro da nossa Constituição, apesar de que na sua grande maioria ainda chega a ser necessário reescrevê-las nas Constituições Esta duais, como ainda por meio de Resoluções, Decretos, Leis Complementares para que se cumpra p elo menos em p arte tais direitos como é o caso da Lei Estadual (São Paul o) Nº 10.241, d e 17/03/1999. Pareceres dos Conselhos de Medicina . Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que determina: Ter acesso ao conjunto de ações e serviços necessários para a promoção, a proteção e a recuperação da sua saúde. Ter acesso gratuito a os medicamentos necessários para tratar e restabelecer sua saúde . Ter acesso ao atendimento ambulatorial em tempo possível e hábil para que possa ser preservada a sua saúde. Enfim, são inúmeros os direitos mencionados e respaldados dentro destes mecanismos legais já mencionados, mas que infelizmente na sua grande maioria a “engrenagem” acaba que não funcionando da maneira como deveriam, deixando assim muito a desejar e, consequentemente trazendo prejuízos para a grande maioria dos usuários que pagam caro para ter acesso a tais serviços, que a priori tem -se a ideia de seriam tais serviços prestados de forma gratuita,mas que na realidade não é bem assim. Se Partir do principio Constitucional, todos têm direito a saúde, que deverá ser oferecida através da integração do SUS, muito embora, de certa forma deficitária, já que, como mencionado, deixa muito a desejar tanto no pronto atendimento como ainda no tratamento dispensado ao doente. Ainda, a prevenção para redução dos riscos da doença está longe de ser considerada como aceitável. É quase que ineficaz o pouco investimento proporcionado na área da saúde para que a determinação legal tenha eficácia plena. Importante de cisão sobre saúde, que merece destaque especial foi proferida pelo Excelso Supremo Tribunal Federal que deixa claro de que: “O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular – e implementar – políticas sociais e econômicas que visem a garantir, aos cidadãos, o acesso universal e 20 igualitário à assistência médico -hospitalar. O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política – que tem por destinatários t odos os entes políticos que com põem, no plano institucional, a organização federativa do Estado Brasileiro – não pode converter -se em promessa institucional sob pena d e o Poder Público, fraudando justas expectativa s nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever por um gesto de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado” (RE 267.612 – RS, DJU 23/08/2000, Rel. Min. Celso de Mello). É fato; se analisarmos com acuidade o teor da redação desta decisão, pode se observar que fica bem resumido de que é de responsabilidade do Poder Público, tal responsabilidade quanto ao cumprimento das normas constitucionais e ordinárias que regulamentam a saúde pública, e que deve prestar um atendimento que satisfaça as necessidades das pessoas. A nossa Carta magna resguarda não só a cura como a prevenção de doenças por meio de medidas que asseguram a integridade física e psíquica do ser humano como consequência direta do fundamento da dignidade da pessoa humana, cabendo , portanto, a o Estado dar a efetiva proteção. É bom lembrar, que quando se fala de Estado, está compreendido todos os entes federativos, quais sejam: a União, o Estado e os Municípios, já que, tal competência é comum ao entes federados e, portanto, de responsabilidade do poder Público tanto em nível de União, como d e Estados, de Distrito Federal e de Municípios, incumbindo a estes “cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência”, conforme o artigo 23, inciso II da CRFB. O completo acolhimento proporcionado diretamente pelo Município ou SUS, tem de atender suficientemente as demandas e necessidades de cada cliente, tanto no que diz respeito a prestação dos serviços médicos de consultas quanto na realização de quaisquer tipos de exames que se fizerem necessários ao completo diagnóstico do médico. E, na situação em que o cliente não disponha de condições financeiras para adquirir as medicações ora prescritas pelo profissional da saúde ( médico), de vem buscar o posto de saúde local ou serviço de assistência social de seu município para que tenha acesso de forma rápida, “gratuita” e necessária tais medicamentos e no caso de não concessão por estes, podem fazer valer os seu s direitos através de uma ação judicial. Existem reiteradas decisões dos Tribunais quanto a questão da obrigação 21 do Estado no fornecimento de medicamentos aos pacientes desprovidos financeiramente, que não possuam recursos para a aquisição dos medicamentos que necessitam. O medicamento é essencial à vida das pessoas e não podendo ser negado a quem deles necessita. É situação em que poderá até o Poder Público se r passivo em uma ação de reparação em caso do não cumprimento e que tal omissão venha gerar prejuízos ao usuário deixando -o com sequelas em detrimento da ausência de atendimento médico ou fornecimento de medicamentos dentro do prazo adequado para evitar um dano ao próprio corpo. Conforme Dallari (1996) esclarece que, o direito a saúde é um direito social individual e coletivo, uma vez que o indivíduo tem que zelar pela igualdade sem qualquer discriminação, no direito individual, mas também, pensando no coletivo, para o desenvolvimento da sociedade onde se habita . Evidencia-se assim, a dificuldade existente em garantir o direito a saúde quando se leva e m conta a intensidade d o significado do termo saúde e a complexidade do direito que depende do equilíbrio entre a liberdade e a igualdade permeado pela necessidade de conhecimento do direito do estado ao desenvolvimento. Descobrir o meio de garantir efetivamente o direito à saúde é tarefa que se impõe de modo iniludível aos atuais constituintes brasileiros. Não é suficiente afirmar que todos têm direito à saúde: é indispensável que a Constituição organize os poderes do Estado e a vida social de forma a garantir a cada sujeito o seu direito (Dallari, 1988). A forma de o cidadão garantir se u direito à saúde é ter conhecimento d os seus diretos além de participar d as ações de controle social, possibilitando ao usuário o exercício de sua cidadania. Dallari (1988, p.62) declara: Quando o Brasil reconhece constitucionalmente que todo o povo tem direito à saúde e que esse direito tão com plexo só pode ser definido e garantido pelo município, se terá dado o primeiro passo para conquista efetiva da saúde para todos . Partindo desses pressupostos a saúde é adotada como direito na Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU), mesmo que indiretamente, garantida como decorrência do direito a um nível de vida adequado, que possa trazer a saúde. Segundo adverte Dallari, 2002, p. 38: 22 Os documentos internacionais relativos a direitos hum anos conceituam saúde de forma ampla, desde o direito de um indivíduo à assistência médica em caso de doença, até a necessidade do direito do Estado ao desenvolvimento, implícito no direito a um nível de vida que proporcione a dignidade humana. A saúde no âmbito do direito humano determina a ação positiva do Estado, isto é, um caráter positivo e não um absenteísmo estatal, isto para preservar as liberdades fundamentais, a través do Poder Judiciário, seja para a realização de políticas públicas direcionadas a reduzir as desigualdades.E o Estado detentor dessa missão quanto à saúde, o gestor tem de reconhecer a supremacia d a vontade geral sobre o particular, defendida por Rousseau, e, saber o que é o interesse público em um Esta do de Direito: esse interesse público é definido nos textos legislativos, que representam a vontade do geral, e tudo deve ser feito em sua defesa, até mesmo proteger a saúde contra os desatinos dos cidadãos. Logo, no núcleo do Direito, é possível afirmar que o Direito à Saúde está diretamente ligado aos Direitos Humanos, pela sua própria natureza universal; ao Direito Administrativo, pelo envolvimento com a gestão pública; ao Direito Constitucional, por suas disposições na Constituição Federal; ao Direito Regulatório, por sua necessidade de controle social; a o Direito Internacional, por sua abordagem e m T ratados e Convenções Internacionais; Direito do Trabalho, p ela necessidade das práticas de preservação da saúde dentro do ambiente de trabalho; e a outros ramos. 2.1 SAÚDE PÚBLICA A Saúde Pública visa com bater os fatores condicionantes da propagação de doenças, o u seja, tenta manter um controle das incidências nas populações através de ações de vigilância e d e investigações governamentais, é ainda viabilizada por meio da ação estatal. Uma das mais citadas definições de Saúde Pública f oi apresentada por Edward Amory (1877–1957), nos EUA, 1920. Assim, foi realizada. A arte e a ciência de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde e a eficiência física e mental mediante o esforço organizado da comunidade . Abrangendo o saneamento do meio, o controle das infecções, a educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização de serviços médico s e de enfermagem para o diagnóstico 23 precoce e pronto tratamento das doenças e o desenvolvimento de um a estrutura social que as segure a cada indivíduo na sociedade um padrão de vida adequado à manutenção da saúde. Assim, tal conceito clássico de Saúde Pública define o termo como a arte e a ciência de prevenir doenças, prolongar a vida, possibilitar a saúde e a eficiência física e menta l a través d o esforço organiza do da comunidade. Tal questão engloba diversas medidas apropriada para o incremento de uma composição social adequada a proporcionar a todos os indivíduos d e uma sociedade a condição de saúde necessária. Tal definição é ainda utilizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o principal órgão internacional que visa à manutenção do bem-estar físico, psíquico e social. A atuação do Estado é fundamental na promoção da Saúde Pública. É o poder estatal que deve estabelecer de acordo com suas questões sociais e políticas fazendo aplicar os serviços médicos na organização do sistema de saúde. A Saúde Pública visa combater os fatores condicionantes da propagação de doenças, o u seja, tenta manter um controle das incidências nas populações por meio de ações d e vigilância e de investigações governamentais. No Brasil a Saúde Pública incide d e personalidades respeitáveis como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. Conforme esclarece FILHO, 2003, p19: Na fase heroica dos institutos pesquisas, muitos médicos atuavam ao mesmo tempo com o cientistas e com o sanitaristas. Seguindo o exemplo de Oswaldo cruz, Emilio Ribas e Vital Brasil, seus discípulos realizavam pesquisas laboratoriais e, paralelamente, empreendiam arriscadas viagens pelo interior do Brasil , dando continuidade e seus estudos e oferecendo soluções práticas para os problemas sanitários das regiões visitadas (...) E, a inda de proeminentes instituições como o Instituto Vital Brasil, Butantã ou Adolfo Lutz. Tais institutos de pesquisa e aperfeiçoamento do combate à s doenças referenciais no que se refere à saúde no país. São, por outro lado, exemplos isolados de atividade competente e importante da Saúde Pública brasileira. Já o grande instrumento de atendimento populacional no combate e controle de doenças é o conhecido SUS, 24 Sistema Único de Saúde, o qual tem sido alvo de múltiplas críticas e m função da precariedade dos serviços proporcionados, da insuficiência mão -de-obra qualificada para atender a grande demanda populacional, como ainda a grande demora na solução de problemas por causa d e uma grande sobrecarga burocrática, sendo preciso algumas vezes o usuário ter acionar o poder judiciário para ter tal direito atendido e respeitado. Entretanto, nã o pode negar que mesmo a passos lentos o sistema de Saúde Pública brasileiro passo u por certas evoluções, se observarmos todo seus histórico. No período colonial, não havia qualquer medida de combate ou prevenção de doenças. Quando alguém era a cometido de qualquer enfermidade tinha de recorrer a mitos e crenças. Conforme esclarece FILHO, 2003. P.6: Os poucos médicos e cirurgiões que s e instalaram no Brasil encontraram todo tipo de dificuldades para exercer a profissão. Além do imenso território e da pobreza da maior parte dos habitantes, que não podiam pagar um a consulta, o povo tinha medo de submeter aos tratamentos. Baseados em purgantes e sangrias. Em vez d e recorrer aos médicos formados na Europa, a população colonial rica ou pobre, preferia utilizar os remédios recomendados pelos curandeiros negros ou indígenas . Tal deficiência no sistema de saúde só f oi moderadamente diminuída, quando do surgimento da criação das primeiras Santas Casas de Misericórdia. Mesmo assim, as melhorias só surgira m com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, e m 1808, período em que foram criadas as primeiras escolas de medicina do país. Entretanto foram as únicas medidas governamentais até a chegada da República. A capital do país, por exemplo, era carente de saneamento básico e fornecendo então condições propensas a disseminação para diversas doenças. As classes trabalhadoras não tinham qualquer amparo do governo federal no caso de doenças e acidente s, o que só foi conquistado após muitas manifestações e a ocorrências das grandes greves da década de 1910. Mesmo assim, a atuação do Estado expandiu –se ligeiramente. Na década de 1920 foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensão e, já na década de 193 0, os Institutos de Aposentadoria a Pensão. Todos atendiam apenas os trabalhadores urbanos e, mesmo assim, somente determinadas categorias. O crescimento das políticas públicas foi lento, com o já mencionado anteriormente e o atendimento em grande medida à população só ocorreu 25 em 1960, abrangendo as mais diversas categorias d e trabalhadores urbanos. Os trabalhado res rurais, por sua vez, só foram contemplados três anos mais tarde, em 19 63,na teoria. O período militar fez algumas melhorias no sistema de assistência pública de saúde, mas também abriu espaço para a atividade privada, o que causou a grande explosão dos convênios médicos no Brasil. Foi ao lado dos procurados planos médicos que a estrutura da Saúde Pública no país foi reformada, gerando o atual Sistema Único de Saúde que se encontra em atual vigência. 2.2 - SAÚDE PRIVADA Como já citado acima a saúde pública encontra -se inserida no SUS, regulamentada pela Lei n° 8.080/90, ao passo que a saúde privada é regida por legislação própria e diversa, obedecendo é claro os parâmetros legislativos do Estado.. Nesse diapasão, para melhor compreender o âmbito da reflexão deste subtítulo, é esclarecedora a seguinte transcrição de texto dos Professo res Juliana de Souza Gouvêa Russo e Marlon Russo: A assistência privada à saúde no Brasil é feita por médicos, odontólogos, clínicas, laboratórios, hospitais. A prestação dos serviços pode ser contratada de forma direta, com ajuste e cobrança de honorários dos tom adores, ou por intermédio de planos privados de assistência à saúde. A Lei n.º 10.18 5/2001 dispõe, em seu artigo 2.°, que o seguro - saúde enquadra -se como plano priva do de assistência à saúde e a sociedade seguradora especializada em saúde como operadora de plano de assistência à saúde . Por esse motivo, no presente trabalho, a expressão plano de saúde é utilizada no sentido legal, englobando o seguro -saúde. (O CNJ e os desafios da efetivação do Direito à Saúde – 1.ª edição, Belo Horizonte: Editora Fórum ; 2011, p. 182). O favoritismos a estes prestadores privados tem colaborado para essa intensa multiplicidade tornando , portanto, uma marca característica do sistema de saúde brasileiro. Estudos efetivados por Hanson (1995), que abordava o final dos anos 8 0 e inicio d a 26 década de 90, o território brasileiro era um dos que a presentava o maior número de leitos privados per capita , entre 52 países de baixa e media renda nos continentes americano , africano e asiático — 2,5 leitos privados por pessoa comparado a media de 0 ,45 leitos privados por habitante para o conjunto dos países estudados. É preciso que a sociedade, em seus diversos segmentos, especialmente na questão da saúde, promova amplo debate, a fim de que as melhores soluções sejam viabilizadas, m inimizando as controvérsias existente s, posto que se, por um lado, as operadoras de planos e seguros de saúde, atrela dos à iniciativa privada da qual fazem parte, atuam no mercado sob -regime empresarial, por outro lado, não se pode deixar de considerar que as operadoras lidam com o mais precioso bem do ser humano, que é a vida, da qual a saúde é corolário. Assim sendo, as regras empresariais para a área da saúde devem ser encaradas com as devidas cautelas, pois a possibilidade de dano irreversível ou irreparável é evidente. A lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 em seu título III que trata dos serviços privados de assistência à saúde, em seu capítulo I fundamenta tal funcionamento da seguinte forma: Art. 20. Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam -se pela atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde. Art. 21. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Art. 22. Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão d e direção do Sistema Único de Saúde (S US) quanto às condições para seu funcionamento. Art. 23. É vedada a participação direta o u indireta de em presas ou de capitais estrangeiros na assistência à saúde, s alvo através de doações de 27 organismos internacionais vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de financiamento e em préstimos . § 1° Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), submetendo -s e a seu controle as atividades que f orem desenvolvidas e os instrumentos que forem firmados . § 2° Excetuam -se do disposto neste artigo os serviços de saúde mantidos, em finalidade lucrativa, por em presas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem qualquer ônus para a seguridade social. E, assim continuando em seu capítulo II, vem abordando quanto à participação complementar, qual seja: Art. 24. Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SU S) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada. Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público. Art. 25. Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS). Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde. § 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida n este artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato em 28 demonstrativo econômico -financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos ser viços contratados. § 2° Os serviços contratados submeter-se às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato. § 3° (Vetado). § 4° Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS). Normalmente a forma como o Estado está organizado para produzir os serviços de saúde é que dá os contornos e a dimensão do setor privado. Assim, tal setor privado tende a emergir quando ocorre uma percepção coletiva de que o sistema público oferece serviços d e baixa qualidade, não permite, portanto possibilidade de escolha do provedor o u por cobrir apenas alguns tipos de serviços. Era esperado que a fundação d o SUS n a CRFB de 19 88, viesse reverter totalmente ou no mínimo em p arte tal condição, tendo em vista, a mesma surgir como artificio de promoção ao acesso total, universal e igualitário dos seus serviços ora dispensados/oferecidos. No entanto, o aparelho sistematizado não tem funcionadoe ou produzido o que se esperava e que tem sido destinado; qual seja o d e absorver para o se u núcleo todas as famílias que compunham o núcleo dinâmico d a economia, caracterizando assim, uma Universalização não inclusiva, mas, antes Excludente. É presumível ainda, assinalar como causas principais, a escassez da oferta e a baixa qualidade dos serviços oferecidos pelo sistema público, como já ponderado anteriormente. Talvez por se caracterizar tal Sistema como sendo híbrido, este tende a pender mais para um suposto favoritismo, no quesito que envolve o sistema público e a ampliação dos seguros de saúde priva dos. Logo, se e vidência que a ação do Estado está sucessivamente a serviço do capital monopolista e globaliza do, adotando medidas de incentivo ao Setor Terciário (Setor de serviços), para que o capitalismo possa sobrepor e assim realizar sua atividade fim, qual seja, a de garantir a produção e reprodução ampliada do capital mediante 29 exploração da classe trabalhadora. É dessa forma que a política social será a primeira a ser atingida pela Reforma do Estado, sendo a política de saúde uma área que cada vez mais está sendo mercantilizada e privatizada pelo capital sobrante, rebatendo frontalmente o direito fundamental que lhe foi reservado constitucionalmente. ANS - Agência Nacional d e Saúde Suplementar tem como finalidade promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais - inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações de saúde no país. Entretanto, até então, não tem conseguido cumprir satisfatoriamente sua função. Isso talvez se deva à falta de um debate mais amplo com a sociedade civil, quando se traçaram as diretrizes da lei do plano de saúde, posteriormente substituída por Medidas Provisórias. Nesse sentido, vale ressaltar os ensinamentos da professora Angélica Carlini , que esclarece: É possível afirmar que quanto melhor fosse a legislação d e saúde suplementar, quanto mais ampla tivesse s ido o debate antes d e sua entrada em vigor, menor seriam as dificuldades da ANS na regulamentação e fiscalização do setor, que certam ente estar ia m ais maduro para compreender e superar as dificuldades próprias da atividade. (p. 22.) A lei 9.656 /98 introduziu novas pautas no mercado, como: a ampliação de cobertura assistencial à idosos e status de saúde (idosos e deficientes físicos); manutenção de coberturas para aposentados e desempregados; lesões e doenças pré-existentes; e ventos cobertos; inexistência d e limite s para a utilização de serviços de saúde. O ressarcimento a o SUS; o registro das operadoras; o acompanhamento de preços p elo governo; permissão para a atuação de empresas de capital estrangeiro, dentre outras. Discussões sobre a constitucionalidade; ressarcimento será cobrado de acordo com procedimentos estabelecidos na tabela única de equivalência de procedimentos; identificação dos beneficiários: as operadoras de planos e seguros de saúde fornecem à Agência informações de natureza cadastral para fins d o ressarcimento ao SUS. Essas informações alimentam o sistema de informações d e beneficiários (SIB), que é atualizado mensalmente, e são comparadas, através de relacionamento nominal de banco de dados, com as bases do SIH/SUS. 30 O cartão nacional de saúde pode rá representar um importante passo nessa direção, tornando desnecessário o batimento nominal, o debate sobre o tema da regulação na assistência suplementar é ainda muito incipiente n o país. Existem divergências quando se discute qual é o objeto e a intensidade dessa regulação, para a grande maioria, a regulamentação visa corrigir/atenuar as falhas do mercado com relação à assimetria de informações entre clientes, operadoras e provedores de serviços. O seguro-saúde não é um bem totalmente privado. O contrato de seguro em si é um bem privado, tal como um ingresso para um espetáculo também é. Mas o que está por trás desse contrato é um bem coletivo para o grupo de segurados, tal como o espetáculo por trás do ingresso também é um bem coletivo para a plateia. O trabalho do segurador é agir como aglutinador social, organizando um fundo monetário com os pagamentos dos contratos de vários consumidores. Por essa perspectiva, o contrato de seguro é um contrato de participação num fundo coletivo. O segurador deverá administrar o fundo de modo a transferir a renda dos consumidores que permanecerem saudáveis para cobrir despesas médicas dos consumidores que adoecerem. 3 OS INSTRUMENTOS CONSTITUCIONAIS E INFR ACONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO À SAÚDE – PÚBLICA OU PRIVADA. O n osso sistema universal de saúde – Sistema Único de Saúde (SUS) prevê uma composição híbrida de gestão da saúde, baseada no funcionamento simultâneo de uma rede de atendimento pública e gratuita ao cidadã o; na qual se situa a administração pública e age o gestor público e outra privada; que é âmbito de atuação por excelência do administrador de empresas e que atua de maneira complementar e sob a anuência das diretrizes do SUS. Com as restrições dos serviços e recursos investidos pelo Estado p ara atender as demandas de saúde da população brasileira, o setor privado vem atuando sob a forma de planos e seguros de saúde, bem como de hospitais, clínicas, laboratórios, e consultórios particulares. 31 Existe ai uma tendência de privatização do sistema de saúde brasileiro em que tal intenção tem se portado na contramão do que esta ocorrendo no restante do mundo, mais precisamente nos EUA que na atualidade reconhece que o sistema deve ser universal, reconhece ainda que deve haver forte intervenção estatal para que o sistema seja regulado em prol da saúde, para a saúde e não que o livre mercado possa dar conta de resolver problemas de saúde, isso é um amplo reconhecimento mundial, e, neste momento que o Brasil tem um SUS universal reconhecido pela Constituinte, mais parece uma ironia paradoxal que neste país onde tal processo de privatização tem caminhado serenamente, ao passo que os outros países estão precisando construir um sistema universal, e, já nós que temos um sistema universal e , no entanto estamos detonando nosso sistema universal em detrimento deste processo de privatização. Pode-se observar que a qualidade dos serviços de saúde prestados para pobres e ricos é tão desigual no Brasil que acaba por dividir a nação em duas nações distintas. Basta tão somente observar osequipamentos e profissionais entre as classes sociais e o setor público e privado. Se for observar considerando os tipos de serviços prestados fica claro que existe um excesso de equipamentos sofisticados nos planos privados; que se concentram nas regiões mais ricas e locais em que faltam equipamentos básicos. No entanto, a CRFB/88 em seu art. 5º, caput estabelece que: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... Tal título/princípio prevê a igualdade de aptidões e de possibilidades virtuais d os cidadãos de gozar de tratamento isonômico pela lei. Por meio de tal princípio são vedadas as diferenciações arbitrárias e absurdas, não justificáveis pelos valores da CRFB/88, e tem por finalidade limitar a atuação do legislador, do intérprete ou autoridade pública e do particular. Assim, o legislador não pode editar norma s que se afastem do princípio da igualdade, sob pena de evidencias de inconstitucionalidade. O intérprete e autoridade política não podem aplicar as leis e ato s normativos aos caso s concretos de forma a cria r ou 32 aumentar desigualdades. O particular não pode pautar suas condutas em atos discrimina tórios, preconceituosos, racistas ou sexistas. A contradição entre a proposta de universalidade do SUS e a atuação da rede privada é ponto de partida para articulações e movimentos contra a tendência de privatização do setor da saúde. Além disso, as transferências de recursos públicos para os planos e seguros privados, o difícil ressarcimento das ações p restadas pelo SUS aos usuários de planos de saúde privados e a precariedade que vem caracterizando o crescimento desordenado da oferta privada estão na agenda das críticas do movimento sanitário e nas propostas de fortalecimento do SUS. Nesta mesma linha de pensamento inovador d os direitos dos se r humano, conferindo -lhes o caráter de unidade indivisível e interdependente, Flávia Piovesan transcreve trecho de Hector Gros Espiell, na obra Los de trechos económicos, sociales y culturales en el sistema interamericano (San José: Libro Libre, 1986. P. 16-17): Só o reconhecimento integral de todos esses direitos pode assegurar a existência real de cada um deles, j á que sem a efetividade de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais, os direitos civis e políticos se reduzem a m eras categorias formais. Inversamente, sem a realidade dos direitos civis e políticos, sem a efetividade da liberdade entendida em seu m ais amplo sentido, os direitos econômicos, sociais e culturais carecem , por sua vez, de verdade ira significação. Esta ideia de necessária integralidade, interdependência e indivisibilidade quanto ao conceito e à realidade do conteúdo dos direitos humanos, que de certa forma está implícita na Carta das Nações Unidas, se compila, se amplia e se sistematiza em 1948, n a Declaração Universal de Direitos Humanos, e se reafirma definitivamente nos Pactos Universais de Direitos Hum anos, aprova dos pela Assembleia Geral em 1966, e em vigência desde 1976, na Proclamação de Teerã de 19 68 e na Resolução da Assembleia Geral, a dotada em 16 de dezembro de 19 77, sobre os critérios e meios para melhorar o gozo efetivo dos direitos e das liberdades fundamentais (Resolução n . 32/130). Foi sob tal visão, de que os direitos sociais e econômicos consistem -se em direitos fundamentais; os quais nasceram, através da ONU, mecanismos de proteção internacional, como os tratados Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional 33 dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 1966, considerando o s direitos econômicos e sociais de realização progressiva, e a necessidade de medidas imediatas por parte dos Estados, com obrigações mínimas voltadas à subsistência (alimentação, moradia, saúde, educação, trabalho), a fim de neutralizar os efeitos de políticas recessivas sobre a parcela mais vulnerável da população. E n o cerne desses entendimentos foram instituídos os dispositivos de proteção internos, tanto constitucionais como infraconstitucionais, que estão expressos de forma resumida logo abaixo. A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada dirigente ou compromissória por apresentar um sentido superior ao de um elenco d e instrumentos de governo, a o definir programas e tarefas d e governo, dirigindo o Estado e a sociedade ao cumprimento desses programas. Conforme Fonseca, em seu artigo "A Constituição Federal e o Trabalho: um exercício de aproximação", o texto constitucional deve ser utilizado como guia no trabalho de interpretação do Direito Infraconstitucional. Tal entendimento pode ser compendiado pelas afirmações de Canotilho: ...marcando uma decidida ruptura em relação à doutrina clássica, pode e deve dizer se que hoje não há mais normas constitucionais programáticas. Existem , é certo, normas -fim, normas tarefa, normas programa que impõem uma atividade (...) Às normas programáticas é reconhecido hoje um valor jurídico constitucionalmente idêntico ao dos restantes preceitos da Constituição. Defendendo a mesma corrente d e entendimento, leciona Silva, 196 8, p. 150: Em conclusão, as normas programáticas têm eficácia jurídica imediata, direta e vinculante nos casos seguinte s: I - estabelecem um dever para o legislador ordinário; II - condicionam a legislação futura, com a consequência de serem inconstitucionais as leis ou atos que as ferirem; III - informam a concepção do Estado e da sociedade e inspiram sua ordenação jurídica, mediante a atribuição de fins sociais, proteção dos valores da justiça social e revelação dos componentes do bem com um; IV - constituem um sentido teleológico para a interpretação e aplicação das normas jurídicas; V - condicionam a atividade discricionária da Administração e do Judiciário; VI - criam situações jurídicas subjetivas, de vantagem ou desvantagem . 34 Têm ainda diversas outras correntes, que sucede o documento supremo de um povo como o resultado das relações de poder existentes numa determinada sociedade o u como a decisão política fundamental de uma nação, mas tais axiomas não traduz a conexão entre direito e sociedade, entre a ciência do direito e as demais ciências humanas. A essência da norma está nos fatos e nas relações de natureza social e estatal, em tudo o que é real. Portanto, a norma constitucional não pode ser considerada apenas como um documento destinado a estabelecer os limites da atuação da entidade estatal e da interferência do Estado na sociedadecivil, como se ambos fossem adversários. A norma não pode se r apenas a criação de proibições, vedações, limites. As mudanças históricas que levaram ao advento do Estado Social aboliram aquela concepção de norma Hoje a tendência é de que as Constituições dos Estados não mais se o ponham à sociedade, e sim tragam a interação entre Estado e sociedade. É o próprio documento constitucional que estabelece tarefas ao Estado no sentido de construir um determinado tipo de sociedade, e não outro. Há uma opção ideológica na Constituição que agora a orienta para o estabelecimento de determinadas ações. O direito deixa de simplesmente estabelecer os limites negativos de atuação d o Estado e passa a impor tarefas a ele. A norma deixa de ser mera proibição, passando a ser também ação. Essa é a Constituição Dirigente, que, além de ser um documento normativo e ter uma interação com a sociedade, possui força normativa inequívoca. Sob essa ótica, é possível concluir que a Constituição é dotada de aplicabilidade, ainda que mínima, ou seja, toda norma constitucional produz efeitos até onde possa mesmo as chamadas normas programáticas (efeitos jurídicos parciais). Cada norma constitucional detém, p elo menos, um a eficácia mínima, no sentido de d errogar (perda parcial de vigência de uma Lei) a legislação anterior que lhe seja antagônica bem como impedir a legislação posterior que seja incompatível com seus postulados. Portanto, toda norma constitucional que firmar uma posição conceitual vincula a conduta do legislador, do administrador e do Juiz, e derroga as disposições infraconstitucionais em sentido contrário. 35 Partindo de tal conclusão, o direito à saúde na CRFB/88, locupletado pela legislação infraconstitucional correlata, passa a ser ponderado, em síntese, a começar pelo direito à igualdade. A ideia de igualdade está intimamente ligada à de democracia, e há muito tempo é objeto de discussão e de estudo. A igualdade faz parte dos fundamentos do cristianismo e inquietava a filosofia grega. Em 1755 o tema intrigou Rousseau, fazendo- o escrever o “Discurso sobre a origem da desigualdade entre o s homens”. O princípio da igualdade norteou a Revolução Francesa, que tinha por fim derrubar o Feudalismo, e os privilégios da nobreza e do clero. Observa-se, então, que o objetivo de uma sociedade livre, justa e solidária, se alicerça no princípio da igualdade, o qual se traduz na obediência à isonomia de todos perante a lei, evitando discriminações. O princípio da igualdade, indicado n o artigo 5º da Constituição Federal, demonstra a preocupação do constituinte em trata r as pessoas com igualdade, sem qualquer distinção ou privilégio. É o que se chama de igualdade formal. A igualdade perante a lei, derivada do artigo 5º da Lei Maior, constou como regra mãe, tanto que foi colocada no caput do artigo, transformando -se em pressuposto do entendimento d e todos os direitos individuais, ou seja, como princípio. Conforme determina a CRFB/88 : Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... Sobre esta questão, Celso Ribeiro Basto s (1988 , p. 13) explica que, nesse aspecto, houve considerável mudança em relação à Constituição anterior: O atual artigo isonômico teve trasladada a sua topografia. Deixou de ser um direito individual tratado tecnicamente com o os demais. Passou a encabeçar a lista destes direitos, que f oram transformados em parágrafos do artigo. Essa transformação é prenhe de significação. Com efeito, reconheceu-se à igualdade o papel que ela cumpre na ordem jurídica. 36 Parte desta premissa a conclusão de que todo o texto constitucional deverá ser interpretado sob a luz do princípio da igualdade. E de tal princípio surge o significado de que todos devem ser tratados igualmente perante a lei. A aplicação do direito deve ser idêntica diante da lei, não podendo o juiz, o agente público, o particular, diferenciar as pessoas diante dela. E f oi à luz do direito à igualdade que nasceu a Seção II do Capítulo II do Título VIII da Constituição Federal de 1 988 em seu artigo 196, dedicada à saúde, dentro da abordagem da ordem social, qual seja: a saúde é direito de todos e dever d o Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agra vos e ao a cesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação Tal dispositivo deve nortear tudo o que for ligado à saúde, porque foi legislado sob a visão da justiça social contida no direito universal aos cuidados em saúde. Como é notório, esse princípio constitucional depende de norma que o complemente, criando as políticas sociais e econômicas que ela menciona. No entanto, a inda que não possa ser aplicada sem essa norma complementar, proíbe a criação de qualquer medida que reduza ou inviabilize o direito universal à saúde, aí consagrado. E diversas políticas sociais já foram criadas, por meio da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990 (Lei Orgânica da Saúde). Tal lei surge com o intuito de operacionalizar as diretrizes constitucionais, dispondo sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, além de outras providências. Ela reconhece todos os elementos componentes da saúde, quais seja a alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais, lembrando que os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. Descreve ainda o SUS, identificando seus objetivos e atribuições, suas diretrizes e definindo se u funcionamento, organização, direção e gestão, no âmbito d a União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios, além de p rever seu financiamento, recursos, gestão financeira, planejamento e orçamento e dispor sobre os serviços privados de assistência à saúde, inclusive a título de participação complementar do sistema de saúde pública. Vale lembrar 37 a alteração da citada lei, por meio da Lei n. 10.424, de 15 de abril de 2002; que acrescentou um capítulo e um artigo à Lei Orgânica da Saúde, Lei n. 8.080/90, regulamentando a Assistência Domiciliar no Sistema Único de Saúde, com a criação do Subsistema de Atendimento e Internação Domiciliar, que inclui procedimentos
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