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FACULDADE DE DIREITO PROFESSOR DAMÁSIO DE JESUS Bruna Palcich Bulhões A LEGITIMIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA E SEU CARÁTER EXCEPCIONAL VITÓRIA 2016 BRUNA PALCICH BULHÕES A LEGITIMIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA E SEU CARÁTER EXCEPCIONAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pós Graduação Lato Sensu em Direito Processual Penal, na Faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus, como requisito para a obtenção do título de pós graduado em Direito Processual Penal. Orientador :Profª.Fabiana Regina Camargo VITÓRIA 2016 BRUNA PALCICH BULHÕES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Pós Graduação em Direito Processual Penal na faculdade de Direito Professor Damásio de Jesus,como requisito parcial para obtenção do título de Pós Graduado em Direito Processual Penal. A LEGITIMIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA E SEU CARÁTER EXCEPCIONAL BANCA EXAMINADORA VITÓRIA, DE DE RESUMO O presente trabalho buscou analisar as circunstâncias em que são decretadas as prisões preventivas, conseqüentemente as circunstâncias em que se nega a liberdade provisória, as hipóteses em que realmente há legitimidade para utilização da medida cautelar de prisão preventiva e observar de modo a dar efetividade ao seu caráter excepcional. Deste modo, o presente trabalho estabeleceu limites de aplicação da medida cautelar em questão, com a finalidade de assegurar a efetividade da lei, dos princípios e do instituto propriamente, evitando excessos que podem resultar problemas irreversíveis ao preso e acarretar ao encarceramento sem freio. Este trabalho visou o presente tema, visto a relevante tarefa de se delimitar a utilização da medida cautelar, para que haja compatibilização com o princípio da presunção de inocência, fundamentação relacionada ao caso concreto, evitando assim a prisão desnecessária, o encarceramento em massa e acautelamento ilegítimo. Entende-se que, com uma análise mais profunda e conscientização da real legitimidade da prisão preventiva e observância em seu caráter excepcional e nos princípios caracterizadores da medida cautelar excepcional atinge de forma plausível a sua finalidade principal. Palavras-chave: cautelares, prisão preventiva, excepcionalidade. ABSTRACT O present study sought to analyze the circumstances in which they are enacted preventive arrests, therefore the circumstances in which it denies the provisional freedom, the cases in which there really is entitled to use the precautionary measure of preventive detention and observe in order to give effect to his character exceptional. Thus, this paper established limits application of the precautionary measure, in order to ensure the effectiveness of the law, the principles and the proper institute, avoiding excesses that can result irreversible problems stuck and lead to unbridled imprisonment. This work aimed at this issue, since the relevant task to define the use of the precautionary measure so that there is compliance with the principle of presumption of innocence, reasons related to the case, thus avoiding unnecessary arrest, mass incarceration and precaution illegitimate. It is understood that, with a deeper analysis and awareness of the real legitimacy of custody and compliance in its exceptional character and principles characterizing the exceptional precautionary measure reaches plausibly its main purpose. Keywords: protective, preventive detention, exceptionality. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS SupremoTribunal Federal (STF) SuperiorTribunal deJustiça(STJ) Código deProcesso Penal (CPP) Constituição Federal de 1988 (CF/88 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 9 2 ASPECTOS GERAIS DA PRISÃO PREVENTIVA ................................................ 11 2.1 BREVE DEFINIÇÃO ....................................................................................... 11 2.2 REQUISITOS GERAIS CAUTELARES .......................................................... 13 2.2.1 Fumus Comissi Delicti .............................................................................. 13 2.2.2 Periculum Libertatis .................................................................................. 14 2.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ........................................................................ 19 2.4 PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE ........................................................ 21 2.5 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO ................................................................ 22 2.6 PRINCÍPIO DA PROVISIONALIDADE ........................................................... 23 2.7 PRINCÍPIO DA PROVISORIEDADE .............................................................. 24 2.8 PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE .......................................................... 25 2.9 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ....................................................... 26 3 PODER GERAL DE CAUTELA............................................................................. 28 4 LIBERDADE PROVISÓRIA .................................................................................. 31 4.1 Liberdade Provisória sem Fiança ................................................................... 34 4.2 Liberdade Provisória sem Fiança insuficiência financeira .............................. 34 4.3 Liberdade Provisória com ou sem medida cautelar ........................................ 36 4.4 3.1.4Liberdade Provisória Mediante Fiança ................................................... 37 5 A LEGITIMIDADE DA MEDIDA CAUTELAR DE PRISÃO PREVENTIVA ........... 38 5.1 LEGITIMIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ................................................................................................................. 38 5.1.1 Prisão Preventiva à Luz do Tratado de Direitos Humanos .................... 39 5.1.2 Prisão Preventiva à Luz da Constituição Federal Propriamente dita ... 40 5.2 LEGITIMIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA À LUZ DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ................................................................................................. 42 6 DETRAÇÃO E AS MEDIDAS CAUTELARES ...................................................... 52 6.1 DETRAÇÃO E CÓDIGO PENAL BRASILEIRO .............................................. 52 8 6.2 DETRAÇÃO E AS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS ............................. 53 7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 55 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 60 9 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objeto o instituto das medidas cautelares em especial a da prisão preventiva sob a ótica legal a luz da Constituição Federal de 1988, do Código de Processo Penal Brasileiro com as inovações da Lei 12.403/2011. Assim, se pretende analisar a forma em que ocorre atualmente a aplicação da medida cautelar excepcional de prisão preventiva, suas características, princípios norteadores, legitimidade e proíbição, vez que deve ocorrer com a máxima observância nos requisitos autorizadores e nos princípios que regem tal medida. Por contraditório na prática judicial, nota-se por vezes a utilização do mencionado instutito sem a observância tanto às hipóteses que a legitima, quanto às hipóteses em que são inadmitidas.Ao mesmo tempo em que percebemos a fundamentação das decisões em que decretam a prisão processual com base no clamor público, violando assim as previsões constitucionais e penais, ulitizando como meio de prover uma resposta à sociedade em relação à alta violência e à punição ao acusado. Portanto, o instituto da prisão preventiva deve ser aplicado com cautela e de forma fundamentada a ponto de sempre se demonstrar sua necessidade, vez que o objetivo basilar é proteger o processo penal de forma a tutelar a instrução. Em conformidade afirma-se que a medida cautelar em questão em virtude do seu caráter excepcional, deve possuir como pressuposto as condições gerais para adoção de medidas cautelares penais, qual sejam fumus commissi delicti e o periculum libertatis. Dessa forma, analisamos que a prisão preventiva pode ser decretada a qualquer fase do processo, assim como pode ser revogada a depender da necessidade, isto é, da situação em que a determina, se a situção for superviniente decreta-se posteriormente, se a situação extinguiu deve-se revogar. Seguindo os estudos, indispensável se faz a menção no que diz respeito ao poder geral de cautela, a inadimissibilidade deste instituto quando tratamos da esfera processual criminal. Vê-se admissível e adequado quando se trata de procedimento cível. 10 Adiante, faremos a avaliação individual do cabimento da Liberdade Provisória como regra e aplicação de fiança quando cabível. Sendo desenvolvida a liberdade provisória com fiança, liberdade provisória com ou sem medida cautelar, liberdade provisória sem fiança por insuficiência financeira, liberdade provisória mediante fiança. Toda exposição do tema se dá partindo da premissa do princípio constitucional de presunção de inocência e demais princípios, previsões legais, seus requisitos, fundamentos e vedações com base nos artigos dispostos no Código de Processo Penal Brasileiro com êfase na redação trazida pela lei 12.403/2011. Em seguida o será exposto o exame das princípais considerações aferidas no decorrer do estudo, e a possibilidade de melhor utilização da medida cautelar em questão, de acordo com aspéctos e a manutenção de seus objetivos. Por fim, concluiremos o trabalho tratando do instituto da detração presente no Código Penal Pátrio, com foco voltado para o cumprimento de medidas em sede de cautelares. Indipensável é o constante estudo deste tema, ainda que expressas previsões, bem como vedações, para uma mudança do compotamento não só dos operadores do direito, assim como de toda a sociedade. É de suma importância discutir levando o acesso a uma visão crítica tomando em consideração as mudanças sociais, que ao decorrer do tempo clamam por modificações de visão, legislativa e jurisprudencial o que sem dúvidas sempre partem de inúmeros estudos. 11 2 ASPECTOS GERAIS DA PRISÃO PREVENTIVA 2.1 BREVE DEFINIÇÃO Em maio de 2011 a lei 12.403 inovou alguns artigos do Código de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, com o objetivo de atualizar a lei conforme entendimento pacificado no Supremo Tribunal Federal que prevê a excepcionalidade da prisão processual não podendo caracterizar-se pela antecipação da pena de eventual condenação, tampouco de satisfazer o desejo da sociedade em punir um agente por suposto cometimento de um crime. A Prisão Preventiva é na verdade uma medida cautelar excepcional que visa proteger o processo penal de forma a tutelar sua instrução. Desta feita só haverá cabimento da cautelar excepcional em hipóteses específicas em hipóteses explícitas no atrigo 312eautorizadas pelo 313 ambos do Código de Processo Penal, com a máxima observância nos princípios. Sobre o conceito de prisão preventiva vê-se adequado a maneira em que dispõe JULIO FABBRINI MIRABETE (1): A prisão preventiva, em sentido estrito, é a medida cautelar, constituída da privação de liberdade do acusado e decretada pelo juiz durante o inquérito ou instrução criminal, diante da existência dos pressupostos legais, para assegurar os interesses sociais de segurança. É considerada um mal necessário, pois suprime a liberdade do acusado antes de uma sentença condenatória transitada em julgado, mas tem por objetivo a garantia da ordem pública, a preservação da instrução crimina e a fiel execução da pena. Só se justifica em situações específicas, em casos especiais em que a custódia provisória seja indispensável. Sob a ótica de FERNANDO LELIS DO CARMO o conceito de prisão preventiva é: É consenso da doutrina pátria que a prisão preventiva é uma medida excepcional de garantia do processo de conhecimento e de efetividade do processo de execução, cumprimento deste quando o agente encontra-se solto, sendo lançada mão quando qualquer outra não puder substituí-la ou surtir o efeito almejado. Trata-se, portanto, de uma restrição do direito de liberdade do cidadão em virtude do cometimento de infração ao ordenamento jurídico, em 1MIRABETE, JulioFabrinni. Código de processo penal interpretado: referências doutrinárias, indicações legais, resenha jurisprudencial. 11. ed. São Paulo: Atas, 2003. p.790. 12 que devem ser levados em conta os estritos fundamentos de sua decretação e os pressupostos legitimadores da medida. Em sede de conceituação, Miguel Fenech apud Câmara (2011, p.122), assim define a prisão preventiva como: “(...) ato cautelar pelo qual se produz a limitação da liberdade individual de uma pessoa em virtude de declaração judicial e que tem por objeto o ingresso daquela em estabelecimento de custódia com o objetivo de assegurar os fins do processo e a eventual execução da pena, pois apesar de serem assemelhadas em sua aparência externa, diferenciam-se por sua finalidade.” Já Claus Roxin (apud CÂMARA, 2011, p.122), em conceituação mais sintética, afirma que “a prisão preventiva no processo penal é a privação da liberdade do imputado para o fim de assegurar o processo de conhecimento ou a execução da pena”. Por ter finalidade de limitação da liberdade do cidadão, não deve, pois, ampliar sua incidência mais do que a medida necessária de seu alcance ou mesmo de seu fim, para não incorrer na afronta aos direitos garantidos constitucionalmente a todos aqueles que a sofrem. Para isso, faz-se imprescindível a existência dos pressupostos processuais e cautelares da preventiva para a legalidade da medida imposta. Dessa forma, passa-se abaixo a analisar referidos pressupostos.2 Sob a ótica de GUILHERME SOUZA NUCCI (3) segue o conceito da mesma medida cautelar em questão: […] é uma medida cautelar privativa de liberdade que tem por objetivo assegurar a f inalidade útil do processo criminal, seja no tocante à instrução, seja no referente à segurança pública e aplicação concreta da lei penal. Assim, entendendo-se o conceito da excepcional medida nesta primeira aboradagem segue a pesquisa para melhor compreensão de como se legitima a aplicação das cautelares. 2 < http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14113>. Visto 15 de maio 2016 3NUCCI, Guilherme de Souza. Prisão e liberdade: de acordo com a Lei 12.403/2011. 3. ed. rev. atual. eampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 85. http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14113 13 2.2 REQUISITOS GERAIS CAUTELARES 2.2.1 Fumus Comissi Delicti Fumus Boni Iuris diz respeito a existência ou aparência de existência de um direito que é pleiteado, aplicado como requisito geral para concessão de uma cautelar. De acordo com a doutrina moderna o requisito geral para cautelares na esfera penal do fumus boni iuris não se mostra o mais adequado por não poder fazer referênciaa “fumaça do bom direito”, pois na verdade não se trata de um direito, mas sim da prática de um tipo penal punível. Neste sentido ensina GOMES:(4) A velha doutrina processual penal, seguindo as clássicas lições de Calamandrei, afirma que toda medida cautelar tem que estar fundada em duas premissas: fumus boni juris e periculum in mora. Essa terminologia é adequada ao processo civil. Não corresponde em nada com as finalidades do processo penal. Em conformidade com as palavras de Aury Lopes Junior: (5) “Como se pode afirmar que o delito é a fumaça do bom direito? Ora, o delito é a negação do direito, sua antítese". Seguindo o entendimento moderno verificamos mais adequado portanto a aplicação do requisito geral para cautelares no âbitopanal o fumus comissi delicti, que compreende verificação da existência de um crime e indícios de autoria, não sendo suficiente apenas o possível cometimento de um crime e possível autoria do agente, mas sim de haver provável autoria de um tipo penal. 4GOMES, Luiz Flávio, MARQUES, Ivan Luís. Prisão e Medidas cautelares. 2ª. ed.São Paulo: RT, 2011, p. 33. 5LOPES JÚNIOR, Aury. O novo regime jurídico da prisão processual, liberdade provisória e medidas cautelares diversas. 2ª. ed.Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 13 /14. 14 2.2.2 Periculum Libertatis Em substituição ao requisito cível para alicação de cautelares do periculum in mora, que se traduz no perigo da demora demonstrando-se a urgência e os prejuizos que um extenso tempo podegerar a esfera criminal, e novamente em conformidade com a doutrina moderna, utiliza-se do periculum libertatis. O periculum libertatisse consiste em demonstrar a existência de prejuízos, perigos na manutenção da liberdade do indivíduo, que se mostra mais adequado na esfera criminal que demonstrar os prejuízos em decorrência da demora, relacionando esta ao lapso temporal. Assim não há extrema relevância, ou perigo no que diz respeito ao aspectoda demora em relação ao crime cometido, mas sim o quanto a libertade do indivíduo que supostamente o tenha cometido. Nas palavras da Aury Lopes Júnior: (6)“o fator determinante não é o tempo, mas a situação de perigo criada pela conduta do imputado” concluindo“o perigo não brota do lapso temporal entre o provimento cautelar e o definitivo. Não é o tempo que leva o perecimento do objeto”. Este requisito representa o perigo da liberdade de um indivíduo, existindo fundamento relacionado as proteções em que se pretende no artigo 312 do Códido de Processo Penal. Nessa mesma linha verificamos as palavras de DELMANTO JÚNIOR (7), senão vejamos: […] primeiro hão de ser constatadas a a materialidade do delito e a existência de graves indícios de sua autoria (que são pressupostos da prisão cautelar); em seguida, deverá ser aferida a ocorrência de perigo concreto que a manutenção da liberdade do acusado representa para a instrução processual ou para a future aplicação da lei penal. Neste sentido, verifica-se o estudo a seguir: A doutrina, em análise da nomenclatura e da adequação dos conceitos do processo penal em detrimento ao processo civil, em sua grande maioria, adota os pressupostos do fumus commissi delict e do periculum libertatisem 6 LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal. 4.ed. rev.atual. eampl. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2006. p. 201. 7 DELMANTO JÚNIOR, Roberto. As modalidades de prisão provisória e seu prazo de duração. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 84. 15 oposição ao fumus boni iuris e o periculum in mora como linguagem acertada para aquele direito adjetivo. Filiamo-nos à corrente majoritária, por também entender mais coerentes referidas definições aos postulados processualistas desse direito. Assim, o primeiro dos pressupostos para a visualização de aplicação da prisão preventiva é o fumus commissi delict, encorpado pelos elementos de índice de autoria e prova de materialidade delitiva, insertos no art. 312, última parte do CPP. Para que o magistrado visualize e recepcione a medida preventiva de proteção ao processo, deve-se ter conhecimento de que fora o agente que cometera a infração penal, bem como os indícios suficientes de que houve afronta ao bem jurídico tutelado pelo direito: materialidade do crime. Portanto, os fracos indícios de probabilidade de indicação de que alguém tenha cometido algum delito, não autoriza a imposição da constrição de sua liberdade na modalidade prisão preventiva. Ao receber os autos do inquérito policial, quando realizada a prisão em flagrante, por exemplo, deve o magistrado, antes mesmo de fazer a conversão desta em prisão preventiva, dar vistas ao Ministério Público para o oferecimento da denúncia. Isso porque, caso o membro do MP considere que não há fortes indícios de autoria do crime ou mesmo necessidade de melhor apuração dos fatos para o real conhecimento de quem cometera o crime ou mesmo a materialidade da infração, a aplicação da medida deferida pelo magistrado não deverá ter razão de ser (CÂMARA, 2011, p. 103). Tratar-se-ia de prisão manifestamente ilegal, devendo ser imediatamente relaxada pelo decretante de sua constrição e em total confronto ao princípio da presunção de inocência. Essa é, inclusive, a ressalva que os doutrinadores brasileiros fazem acerca da não existência do poder geral de cautela por parte dos juízes, em rápida leitura do art. 311 do CPP[2], trazendo-o ao crivo da Constituição Federal de 1988 e do princípio do dispositivo ou da inércia da jurisdição. Já em relação aos pressupostos cautelares específicos da prisão preventiva, tem-se o periculum libertatis, encorpado pelos elementos da garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, ínsitos na primeira parte do art. 312 do CPP. Em sua obra, Câmara (2011, p.130-131) ainda subdivide os elementos do periculum libertatis em duas espécies: a) pressupostos intraprocessuais ou endoprocessuais, os quais têm como alcance jurídico a garantia da produção das provas no processo penal. Para o autor, referidos pressupostos são, verdadeiramente, a razão de ser da cautelar preventiva, pois confluem para a garantia sem mais alcance externo do próprio processo e não com outras finalidades. Mesmo assim, faz pontuais ressalvas quando a fundamentação da decretação da preventiva se basear nessas espécies cautelares, as quais serão discutidas mais abaixo. Isso porque, o http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14113#_ftn2 16 magistrado deve justificar, através de elementos fáticos de cada caso concreto, os motivos que o levaram decretar a restrição da liberdade ou não de alguém. Quanto à outra espécie de pressupostos, tem-se: b) os pressupostos extrapocessuais, que atendem a fins de prevenção geral ou de defesa social. Esse, portanto, é um dos mais criticáveis e delicados pontos para a motivação da prisão preventiva, mesmo antes da modificação do CPP com a entrada em vigor da Lei 11.403/2011. A doutrina, em sua unanimidade, traz a tona o fato de que, além de as expressões garantia da ordem pública e da ordem econômica serem amplas e genéricas sob o ponto de vista da melhor hermenêutica pátria, tem-se que não tem a finalidade precípua de garantir efetivamente o regular andamento do processo, como instrumento de outro instrumento, mas sim atender interesses, principalmente os sociais e político-criminais, que não aquela. Dessa forma, tomando como referencial de apoio a nomenclatura adotada pelo jurista Andrey Borges de Mendonça, vê-se que os pressupostos intraprocessuais, assim como os extra, devem estar presentes na relação fática concreta, não necessariamente todos ao mesmo tempo, mas aomenos um deles e em conjunto com os pressupostos processuais acima analisados, para legitimar a constrição da liberdade pessoal. Sem isso, o que se percebe é a clara afronta aos direitos fundamentais do cidadão, evidentemente configurados no princípio da presunção de inocência e da dignidade da pessoal humana. A decretação da prisão preventiva por conveniência da instrução criminal se dá pela necessidade de resguardar o processo e evitar os riscos que a intervenção na instrução deste por interferência do agente investigado ou processado possa trazer ao colhimento das provas. Assim, faz-se necessária a prisão preventiva do agente que passa a intimidar testemunhas, que buscar destruir ou ocultar provas de seu conhecimento fundamentais para o esclarecimento da infração penal e, obviamente, a sua incriminação, ou mesmo alterar a cena do crime, suprimindo os rastros de seu cometimento. A doutrina pátria assevera que após o encerramento da fase de instrução processual e desde que a preventiva tenha sido fundamentada no acautelamento do acusado ou investigado por motivo da conveniência da instrução criminal, esta deve ser revogada, haja vista também a disposição permissiva constante no art. 316 do direito adjetivo penal. Isso porque, após o encerramento daquela fase, a prisão preventiva perde sua razão, devendo o agente ser imediatamente liberado. Se assim não o for a prisão passa a ser manifestamente ilegal, conforme inciso LXV, do art. 5º da CF/88, devendo ser imediatamente relaxada pela autoridade judiciária, pois em evidente afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana (MENDONÇA, 2011, p. 224). 17 Já a decretação da preventiva, sustentada nos argumentos de que é necessário o acautelamento do agente antes da sentença penal definitiva, transitada em julgado, para assegurar a aplicação da lei penal, baseia-se em fortes indícios de que ele irá fugir para evitar ser punido. Lopes Jr. (2012, p. 116-118) ressalta que devem ser claros os motivos do magistrado na aplicação da medida cautelar, tendo em vista esse fundamento, não servindo de justificativa a simples conjectura de ideias, sem sua demonstração no caso concreto. Os fatos devem ser evidentes que demonstrem a intenção de fuga do acusado ou indiciado, não a perspectiva “vidente” da intenção dele em fugir. Cabe aqui, nesse caso, todo o ônus probandi para a parte que acusa e não o desencadear de forças do indiciado/acusado em provar que, pelo fato de ter renovado seu passaporte ou mesmo ter negócios em outra comarca ou outro país, pois se assim não o for, há afronta mais que direta ao princípio da presunção de inocência (CÂMARA, 2011, p. 229). Cabe a quem acusa provar que o agente indiciado ou acusado pretende fugir para não sofrer as consequências de aplicação da lei penal, e o contrário, ou seja, o agente provar que não tem qualquer intenção de fugir. É um liame probatório bastante tênue e que deve, portanto, ficar mais que demonstrado in concreto sua existência, pois, como se trata de momento em que ainda vigora o princípio do in Dubio pro Societate, faz-se mister a comprovação do elemento anímico autoral com a anexação de documentos que possam balizar a decisão do magistrado. A fundamentação da prisão preventiva para a garantia da ordem pública e da ordem econômica são as duas argumentações mais problemáticas do ponto de vista conceitual para o direito processual penal. Isso porque os doutrinadores asseveram que a verdadeira garantia que se dispõe efetivar não seria a do processo em si, como instrumento a serviço do próprio instrumento, mas sim uma garantia geral da ordem social, como uma resposta aos anseios sociais de efetividade do direito e de credibilidade na justiça, o que pode causar uma afronta ao Princípio da Presunção de Inocência, incidindo na vedada antecipação da pena. Em crítica a esses fundamentos, Lopes Jr. (2012, p.108) destaca ainda que pela vagueza e abertura conceitual da expressão “ordem pública”, esta acaba tornando-se o fundamento preferido para a concessão da prisão preventiva, mesmo porque “ninguém sabe ao certo o que quer dizer”. No magistério de Nicolitt (2011, p. 69), observam-se, inicialmente, os apontamentos feitos pelo autor acerca da afronta ao princípio da presunção de inocência, tendo como fundamentos da decretação da prisão preventiva aqueles dois pressupostos cautelares. Assevera, a partir de suas reflexões, sobre a inconstitucionalidade destes, quando os motivos da prisão não têm por finalidade precípua a garantia do processo]. 18 Assim, conforme ensinamento colacionado abaixo: “Como reiteradamente afirmamos a prisão só é compatível com o princípio da presunção de inocência quando tem por objetivo a preservação do processo, pois o contrário transforma-se em antecipação da pena. O que tutela, ou deveria tutelar, a ordem pública (prevenção geral ou específica) é a pena. Usar a prisão processual para garantir a ordem pública é antecipar os efeitos da pena, o que é inconstitucional. O mesmo se pode dizer em relação à ordem econômica, pois toda prisão cujo objetivo transcenda a ordem processual padece de inconstitucionalidade. (NICOLITT, 2011, p.69).” É evidente o confronto à ordem constitucional de garantia dos direitos fundamentais, encorpada, principalmente, pelo princípio da presunção de inocência quando os fins da prisão expandem-se para além do próprio processo. A medida para a incidência da cautelar preventiva, legitimada na garantia da ordem pública ou da ordem econômica, não deveria (e não deve) servir para o controle de uma prevenção geral ou específica que não a garantia do processo em si mesmo. Em continuação às críticas acima respaldadas, Nicolitt (2011, p. 69) pondera: “Quando a prisão cautelar é dirigida a evitar a prática de infrações penais, ou tutelar a ordem pública, o clamor público, a ordem econômica, assegurar a credibilidade da justiça, o que se busca na verdade, diversamente da tutela do processo, é o controle social, a prevenção, geral ou específica, que é o objetivo da pena e não das medidas cautelares.” O campo de abrangência conceitual daquelas garantias ínsitas no art. 312 do CPP, legitimadoras da concessão da cautelar prisional, é bastante movediço. Tanto isso é verdade que não se tem uma definição fechada ou mesmo pragmática de sua incidência, alhures apontado, tomando-se para tanto o processo de exclusão, do que não deve ser, em cada caso concreto para a sua demonstração e relevância. O Supremo Tribunal Federal, em reiterados julgados, vem se posicionando no sentido de que ordem pública não é sinônimo de clamor público, ou resguardo da paz social em virtude da brutalidade do crime ou periculosidade do agente na sociedade. Assim também já se manifestou o STF em destacar que a garantia da ordem econômica não está associada à magnitude da lesão provocada pelo agente, o que não confere legitimidade para a manutenção do cidadão preso. Dessa forma, tanto a garantia da ordem pública quanto a da ordem econômica se não demonstradas evidentemente em cada caso concreto poderão denegar a eficácia imediata dos direitos e garantias fundamentais resguardados na Carta política de 1988. Afrontarão, portanto, os princípios da presunção de inocência, bem como o da dignidade da pessoa humana, por inverter o sentido 19 máximo trazido por aquela Constituição, haja vista ter a prisão como exceção e a liberdade como regra.8 Ante o exposto concluimos mais adequado se demontrar na esfera penal no que diz respeito a requisitos gerais de cautela dois requisitos: o fumus comissi delicti epericulum libertatis. 2.3 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O princípio da legalidade sob a perspectiva das medidas cautelares diz respeito a limitação de sua aplicação, podendo haver tão somente naquelas expressamente previstas em lei. Com o advento da lei 12.403/2011pode ficar mais claro a aplicação do princípio da legalidade nas medidas cautelares, tendo em vista que esta lei além de conservar a prisão preventiva detalhou diversas outras medidas menos gravosas. Assim com previsões legais sólidas não há espaço para medidas cautelares atíticas, havendo portanto que prosperar o entendimento à vedação ao poder geral de cautela, permitir a aplicação de cautelares não expressas seria inobservar o princípio da legalidade. Neste sentido bem ensina Luiz Flávio Gomes:(9) O juiz da jurisdição penal não tem poderes para lançar mão de medidas atípicas ou não previstas em lei. Não existem medidas cautelares inominadas no processo penal. Todas as vezes que o juiz lança mão desse famigerado poder geral de cautela, na verdade, ele está violando o princípio da legalidade. No processo penal, forma e garantia. O juiz só está autorizado a praticar os atos que contam com forma legal. Se o juiz se distancia da forma legal, resulta patente a violação à legalidade. No novo sistema o art. 319 do Código de Processo Penal (10) define todas as medidas possíveis de serem aplicadas, além do art. 320 do mesmo diploma legal que 8 http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14113 visto dia 15 de Maio de 2016 9GOMES, Luiz Flávio. Prisão e Medidas Cautelares: comentários à Lei n. 12.403, de 04 de maio de 2011.Alice Bianchini, Ivan Luís Marques, Luiz Flávio Gomes, Rogério Sanches e Silvio Maciel. 2 ed. São Paulo: EditoraRevista dos Tribunais, 2011. 10VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.633. http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14113 20 constitui instrtumento de efetividade da caulelar de proibição de ausentar-se do país, vejamos a previsão legal: Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;(Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 4 o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848.htm#art26 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 21 Observa-se uma previsão específiva no art. 320 do CPP em relação à proibição de ausentar-se do território nacional, prevendo ainda ao indiciado prazo para entrega de seu passaporte, tudo isso com a finalidade de se constituir instrumento de efetividade, e exaurir na lei as medidas cautelares possíveis de serem aplicadas. Em conformidade vejamos (11): Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). A tudo descrito se nota que com a redação determinada pela Lei 12.403/2011 das prisões e outras medidas cautelares diversa desta,passaram a possuir uma variedade extensa de medidas alternativas à prisão, cercando assim todas as possibilidades, e consequentemente constituindo um rol taxativo na legislação penal. 2.4 PRINCÍPIO DA JURISDICIONALIDADE O princípio da jurisdicionalidade em relação ao tema abordado refere-se em suma a uma restrição à decretação das medidas cautelares, isto é, está estritamente condicionada à determinação de um juiz criminal, não podendo ser feita por outra autoridade. Assim aduz o § 2º do art. 283 do Código de Processo Penal: § 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. No mesmo entendimento se dá a decretação da prisão cautelar, o magistrado criminal deve fazê-la de forma escrita e fundamentada (CF 5º LXI), não existindo nenhuma exceção a essa regra, seria um erro afirmar que a prisão em flagrante se trata de uma exceção ao caso tendo em vista que a prisão em flagrante delito não possui natureza cautelar. Assim segue o ensinamento previsto no art. 283 do CPP(12): 11VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.633. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 22 Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente,em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). Portanto em se tratando de medida cautelar inclusive de prisão preventiva, em repeito ao princípio da jurisdicionalidade, sua decretação deverá ser realizada sempre de forma fundamentada e escrita por autoridade judiciária competente, qual seja o magistrado, não sendo admissível qualquer outra autoridade. 2.5 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO O princípio do contraditório no âbito criminal foi consagrado em relação às prisões preventivas a partir do ano 2011 com a lei das prisões e outras medidas cautelares no §3º do art. 282 do CPP prevendo conforme segue: § 3 o Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de cópia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). O princípio em fomento consiste em ouvir a parte contrária com as devidas grantias legais e dentro de um prazo razoável. Ao se realizar a comunição da parte contrária a lei permite e assegura ao acusado de se denfender com recursos e meios disponíveis, bem como influir no convencimento do juiz, havendo assim observância aos princípios contitucionais do contraditório e também ampla defesa presentes no art. 5º LV da Constituição Federal. O contratitório resistirá ainda que nos casos de decretação de prisão preventiva em caso de risco de fuga, há que se reconhcer que em casos como estes deverá ser analisada toda circuntância que eventualmente envolva o fato. Todavia não se pode dispensar o princípio, apenas deverá existir um cuidado maior. Nas palavras de AURY LOPES JUNIOR (13): 12 VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.629. 13 LOPES JÚNIOR, Aury.Direito processual penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva 2014. p. 812. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 23 Tal contraditório dependerá das circunstâncias do caso cocreto, sendo delimitado pela urgência ou risco concreto de ineficácia da medida. Terá difícil aplicação (mas não impossível) nos pedidos de prisão preventiva fundados no risco de fuga, mas nada impede que o juiz decrete a medida e faça o contraditório posterior, como por nós sugerido no início, ou seja, com a condução do réu/suspeito a sua presença para que seja ouvido sobre os motivos do pedido. Após decidirá pla manutenção ou não da prisão. Neste sentido preleciona Vicente Greco Filho (14): O contraditório se efetiva assegurando-se os seguintes elementos: a) o conhecimento da demanda por meio de ato formal de citação; b) a oportunidade, em prazo razoável, de se contrariar o pedido inicial; c) a oportunidade de produzir prova e se manifestar sobre a prova produzida pelo adversário; d) a oportunidade de estar presente a todos os atos processuais orais, fazendo consignar as observações que desejar; e) a oportunidade derecorrer da decisão desfavorável. trução criminal como um todo não dispensa a observância do princípio do contraditório, também em se tratando de cautelares exigem o amplo conhecimento do requerimento da medida à parte contrária, podendo assim sobre ela se manifestar. 2.6 PRINCÍPIO DA PROVISIONALIDADE O princípio da provisionalidade parte da idéia de que as medidas cautelares são provisórias, situacionais, isto quer dizer que são necessárias e devem persistirem enquanto existirem as circunstâncias fáticas que as ensejaram. Sendo verdadeiro e aplicável também à situação inversa, caso sobrevenham novas circunstâncias poderá sobrevir também outras medidas cautelares. A depender da necessidade que se verifica na ocorrência dos fatos as medidas cautelares podem ser substituídas, revogadas, cumuladas ou ainda se surgirem novamente os motivos pretéritos que deram ensejo a revogada medida poderão pelo juiz serem decretadas novamente desde que de forma fundamentada. 14 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 2.º Volume. 11.ª Edição atualizada. Editora Saraiva. São Paulo, 1996. p. 90. 24 Verica-se de forma clara este conceito com a previsão dos §§ 4º e 5º do art. 282 do CPP (15): § 4 o No caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). § 5 o O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Ante o descrito, é vedado, portanto, que o magistrado decrete eventual medida cautelar e somente após busque situações fáticas que as ensejem, neste entendimento Aury Lopes Junior questiona (16): [...] o juiz ativista primeiro decide e só apenas depois vai atrás dos fatos a ponto de justificar a sua decisão “que na verdade já foi tomada” [...]. Indispensável também se consiste o princípio da provisionalidade ante as aplicações de toda e qualquer medidas cautelares. 2.7 PRINCÍPIO DA PROVISORIEDADE O princípio da provisoriedade não se confunde com o princípio da provisionalidade, aquele está diretamente ligado ao aspecto temporal, sendo assim a medida cautelar de prisão peventiva em tese tem prazo limitado de duração. Ocorre que a legislação não previu prazo determinado não existe na lei tempo máximo de duração, essa inderteminação é um grande ponto de violação dos direitos fundamentais do acusado, neste sentido e de forma exemplar ocorreu nova interpretação das súmulas 21 e 52 ambas do STJ no julgado do Recurso em Habeas Corpus de nº 20.566 – BA, tendo como Relatora a Ministra Maria Thereza de Assis conforme segue: 15 VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.629. 16 LOPES JÚNIOR. Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. 5.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 80. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 25 PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. 1. DECRETO DE PRISÃO PREVENTIVA. INIDONEIDADE DA FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A PRISÃO. 2. EXCESSO DE PRAZO. DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES REQUERIDAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. MAIS DE UM ANO PARA CUMPRIMENTO. FLEXIBILIZAÇÃO DO TEOR DA SÚMULA Nº 52. GARANTIA DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO. RECURSO PROVIDO. 1. Não padece de ilegalidade o decreto prisional lastreado em elementos concretos a aconselhar a medida. 2. Ainda que encerrada a instrução, é possível reconhecer o excesso de prazo, diante da garantia da razoável duração do processo, prevista no artigo 5º, inciso LXXVIII da Constituição. Reinterpretação da Súmula nº 52 à luz do novo dispositivo. 3. Recurso provido. (STJ - RHC:20566 BA 2006/0268521-6, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 12/06/2007, T6 - SEXTA TURMA Data de Publicação: DJ 25/06/2007 p. 300). Não é admissível que o acusado durante a instrução criminal ou após se submeta a um apenamento sem qualquer observância nos prazos, as Súmulas 21 e 52 do STJ já foram remediadas por reinterpretações a exemplo deste acima citado, imperioso se faz a aplicação de mais este princípio nas decretações de prisões preventivas com a observancia de tratar-se de uma medida cautelar e não definitiva, isto é, uma medida que por sua natureza é temporária não podendo haver excesso de prazo. 2.8 PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE A definição que se mostra mais adequada a este princípio se consiste em: A última ratio. Isto significa que a prisão preventiva somente será cabível quando não aplicável nenhuma das demais disponíveis no ordenamento jurídico pátrio. A excepcionalidade está prevista no art. 282, § 6º do Código de Processo Penal (17), assim discorre: Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). [...] 17 VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014, p.629. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 26 § 6 o A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Imperiosa também se faz a consideração do inciso II do art. 310 do mesmo diploma legal, que aduz (18): Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). [...] II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). Neste norte a respeitável manifestação de AURY LOPES JUNIOR (19) em relação ao princípio aqui em evidência, segue: Ademais, a excepcionalidade deve ser lida em conjunto com a presunção de inocência, constituindo um princípio fundamental de civilidade, fazendo com que as prisões cautelares sejam (efetivamente) a última ratio do sistema, reservadas para os casos mais graves, tendo em vista o elevadíssimo custo que representam. Diante dos preceitos legais conclui-se que para decretação da prisão preventiva o magistrado deverá fundamentar o motivo pelo qual não está se utilizando de medida cautelar diversa desta. Deixando claro não existir outra alternativa senão a decretação da prisão como medida cautelar. 2.9 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE O princípio da proporcionalidade se define no equilílbrio entre a prisão e a finalidade de se tutelar o processo penal. De acordo com a previsão legal deve haver uma adequação, com o cuidado de que a prisão preventiva não se torne um meio mais gravoso que o próprio fim a que se pretende, conforme inculpido no art. 282, inciso I, II do CPP (20): 18 VADE MECUM.Idem.p.629. 19 LOPES JÚNIOR, Aury.Direito processual penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva 2014. p. 818. 20 VADE MECUM.Idem.p.629. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm#art312... http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 27 Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). De maneira clara vislumbra-se a aplicação do princípio da proporcionalidade em decisão do Egrégio Tribunal Federal da 4ª Região, vejamos: HABEAS CORPUS. ART. 288 CÓDIGO PENAL. (...) PRISÃO PREVENTIVA. LEI 12.403/11. INCABÍVEL. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS À PRISÃO. ART. 319 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. SUBSTITUIÇÃO. 1. Paciente que teve decretada prisão preventiva no curso das investigações, cujo mandado não logrou ser cumprido, e mantida na sentença condenatória para assegurar a aplicação da lei penal e garantir a ordem pública. Inobstante as razões que fundamentaram o decreto prisional, com a entrada em vigor da Lei 12.403/11, não mais subsiste requisito objetivo para sua manutenção, uma vez que o delito imputado (art. 288 do Código Penal) ao paciente não tem pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos. 2. Aplicação de medida alternativa à prisão preventiva, sendo cabível na espécie a fixação de outras medidas acauteladoras, conforme disciplina o art. 282 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela lei 12.403/11, ante a necessidade de garantir a aplicação da lei penal. Substitui-se o decreto de prisão preventiva expedido em desfavor do paciente, por medidas alternativas mais brandas, previstas na nova redação do art. 319 do Código de Processo Penal, notadamente aquelas constantes dos seus incisos I (comparecimento em juízo) e VIII (fiança). (BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. HC. 0010337-16.2011.404.0000, Sétima Turma. Relator Desembargador Federal Márcio Antônio Rocha, publicado em 16-10- 2011. Lex:Jurisprudência do TRF-4). Ante a todo estudo até aqui exposto, conclui-se que por uma caráter com um conjunto de restrições ante a alicação da medida cautelar de prisão preventiva, e sua aplicação requer necessariamente uma avaliação não só dos requisitos gerais das cautelares, mas além disso de todos os princípios caratecrisados da medida de exceção. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1 28 3 PODER GERAL DE CAUTELA Antes da existência da Lei 12.403 de 2011 inexistia também no Código de Processo Penal Pátrio previsões de medidas cautelares diversa da prisão, e ainda assim aplicava- se mesmo desprovida de previsão legal. Diferentemente ocorre na esfera cível, nesta o poder geral de cautela é reconhecido em conformidade com artigo 798 do CPC, para além das medidas cautelares nominadas aplica-se também as inominadas, isto é, é conferido ao magistrado a plicação não só do rol estampado em lei, mas como daquelas em que o juiz entender pertinente, desde que apropriadas ao caso concreto. Diante do Processo Penal, por respeito ao princípio da legalidade, pode-se afirmar a inexistência do poder geral de cautela, não admitindo-se portanto medidas cautelares inominadas, neste sentido ensina AURY LOPES JR (21): No processo penal, não existem medidas cautelares inminadas e tampouco possui o juiz criminal um poder geral de cautela. No processo penal, forma é garantia. Logo, não há espaço para “poderes gerais”, pois todo poder é estritamente vinculado a limites e à forma legal. Para tanto o magistrado hoje, endende-se após a lei 12.403/2011, possui umadiversidade de medidas possíveis de serem aplicadas dentro das dispostas em lei, mais precisamente nos artigos 319 e 320, qualquer aplicação que ultrapasse esses artigos serão revestidas de ilegalidade, vejamos a previsão legal (22): Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; 21 LOPES JÚNIOR, Aury.Direito processual penal. 11ª ed. São Paulo: Saraiva 2014. p. 808. 22 VADE MECUM.Idem.p.633. 29 V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica. § 1 o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 2 o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 3 o (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). § 4 o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. Além do artigo 319 ainda complementa-se com a cautelar prevista no artigo 320 ambos do Código de Processo Penal Brasileiro (23): Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. Em conformidade com o respritável posicionamento do doutrinador Aury Lopes Júniorestão as conclusões de ANTÔNIO ROBERTO MACHADO (24): Com efeito, a previsão legal dessas medidas é exigência indeclinável para a sua decretação, afastado que está, em matéria penal, o chamado „poder geral de cautela‟ do juiz, previsto em nosso ordenamento jurídico apenas na esfera processual civil. 23 VADE MECUM.Idem.p.633. 24 MACHADO, Antônio Alberto. Curso de Processo Penal. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 454. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art4 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art4 30 No bojo dos conceitos acima descritos AURY LOPES JÚNIOR leciona “[…] Segue o juiz ou tribunal atrelado ao rol não podendo “criar” outras medidas além daquelas previstas no ordenamento”. No mesmo sentido identifica-se os ensinamentos de PACELLI (25) que também esclarece que a incidência do poder geral de cautela no processo penal além de uma afronta ao princípio da legalidade traz por consequência obstruções de pertinência e oportunidade da cautelar ao caso concreto, assim vejamos: Já a admissão de cautelares naõ previstas em lei pode abrir um perigoso leque de alternativas ao magistrado, dificultando, sobremaneira, o controle de sua pertinência e oportunidade, ficando em mãos do magistrado de primeiro grau a escolha de providência cujo controle de pertinência e de adequação (além da proporcionalidade) seria muito mais difícil. Ante o ensinado se verifica a impossibilidade em se preservar a legalidade ao atribuir ao magistrado no âmbito penal o poder geral de cautela, isto é, permitir ao juiz a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão fora das descritas em lei sem dúvida é legitimar a prática de ilegalidade, legitimando por consequência aplicação de institutos atípicos. 25 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal.18ª ed. Rev.ampl. atual. de acordo com as Leis nºs 12.830 e 12.878, todas de 2013. São Paulo: Atlas 2014. p. 523. 31 4 LIBERDADE PROVISÓRIA Insdispensável se torna o estudo específico da liberdade provisória, ainda que de forma suscinta, para o entendimento propriamente da legitmidade da prisão cautelar na forma preventiva. Para início deste tópito entende-se inapropriada a exressão “Liberdade Provisória”, isto por que é sabido que tem-se como regra a liberdade, e como consequência lógica tem-se como exceção à prisão, principal ponto rebatido e enfatizado pelo presente trabalho. Por este caráter excepcional da prisão preventiva não se pode entender como provisória a liberdade, mas sim a privação à liberdade. Nos ensinamentos de PACELLI (26) pontua-se o mesmo sentido: O que é provisório é sempre a prisão, assim como todas as demais medidas cautelares, que sempre implicarão em restrições a direitos subjetivos. A liberdade é a regra; mesmo após a condenação passada emjulgado, a prisão eventualmente aplicada não sera perpétua, isto é, sera sempre provisória. Em conformidade verifica-se também o posicionamento de PAULO RANGEL (27) reafirmando a excepcionalidade da medida cautelar de prisão, que se exige sempre fundamentação, em consonância vejamos: Doravante, vamos enfrentar essa expressão e tratar a liberdade como ela merece: liberdade é a regra; prisão é a exceção. Liberdade é definnitiva até que apareça um motivo legal para cerceá-la por tempo e modo determinados. Prisão é a exceção, medida de caráter excepcional, temporária, que somente pode ser imposta quando houver extrema e comprovada necessidade. Deste modo vemos que equivocadamente traz-se uma impressão de que a liberdade tem característica provisória, e que a prisão é definitiva, para se tentar extingueir essa falsa ideia necessária se faz a reafirmação a todo tempo de que a prisão será sempre provisória ainda que proveniente de uma senteça penal condenatória irrecorrível, vejamos a este respeito os escrito de PAULO RANGEL (28): Em verdade, ao tratarmos de liberdade será ela sempre definitiva, pois essa é a regra num Estado Democrático de Direito. Aprisão sim, lato senso falando, sera provisória, ou seja, mesmo que condenado a 15 anos de reclusão essa pena sera provisória. 26 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli. Curso de processo penal.18ª ed. Rev.ampl. atual. de acordo com as Leis nºs 12.830 e 12.878, todas de 2013. São Paulo: Atlas 2014. p. 494. 27 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 22ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 846. 28 RANGEL, Paulo. Idem. p. 856. 32 A liberdade provisória nada mais é que uma das providências em que, a depender do caso, e de forma fundamentada, deverá ser tomadas pelo juiz ao receber o auto de prisão em flagrante. Ressalta-se que a liberdade provisória apesar de possuir conceito distinto da prisão preventiva e das medidas cautelares diversas desta, exerce a mesma função no que diz respeito à proteção da jurisdição criminal. Assim vislumbra-se o disposto no artigo 310 do Códigode Processo Penal (29): Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentamente: I – relaxar a prisão illegal; ou II – converter a prisão em flagrante em preventive, quando presents os requisitos constantes no art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insufficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou III – concederliberdade provisória, com ou sem fiança. Prágrafo único: Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante que o agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. Segue decisão do Superior Tribunal de Justiça (30) na cencessão de liberdade provisória quando ausente os fundamentos previstos no CPP: HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. PRISÃO CAUTELAR. REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP. EXCEPCIONALIDADE. CONJUGAÇÃO COM O ART. 282 DO CPP. PROIBIÇÃO DE EXCESSO. APLICAÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR DIVERSA DA PRISÃO. POSSIBILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A jurisprudência desta Corte Superior é remansosa no sentido de que a determinação de encarceramento do réu antes de transitado em julgado o édito condenatório deve ser efetivada apenas se presentes e demonstrados os requisitos trazidos estabelecidos no art. 312 do Código de Processo Penal. 29 VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014. p. 632. 30 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC. 296337 DF 2014/0134410-7, da Sexta Turma. Relator ROGERIO SCHIETTI CRUZ, publicado em 02/03/2015. Jurisprudência do STJ. http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652044/artigo-312-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10656127/artigo-282-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652044/artigo-312-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 33 2. No caso vertente, o Juiz singular e o Tribunal a quo apontaram a presença dos vetores contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, indicando motivação para justificar a necessidade de colocar o paciente cautelarmente privado de sua liberdade. 3. A despeito da notória gravidade e da reprovabilidade social do comportamento do recorrente - a ensejar, se demonstrada a imputação, correspondente e proporcional sancionamento penal -, há de ser analisada a existência ou não de meios outros, que não a prisão preventiva, que possam, com igual idoneidade e eficácia, satisfazer às exigências cautelares do caso analisado, com carga coativa menor. 4. A ideia subjacente à subsidiariedade processual penal, que permeia o princípio da proporcionalidade, em sua máxima parcial (ou subprincípio) da necessidade (proibição de excesso), conduz a que o juiz somente deve decretar a medida mais radical - a prisão preventiva - quando não existirem outras medidas menos gravosas ao direito de liberdade do indiciado ou acusado, por meio das quais seja possível alcançar, com igual eficácia, os mesmos fins colimados pela prisão cautelar. 5. A reforma trazida pela Lei n. 12.403/2011 abandona o sistema bipolar - prisão ou liberdade provisória - e passa a trabalhar com várias alternativas à prisão, cada qual adequada a regular o caso concretamente examinado, sendo cogente ao juiz natural da causa observar, nos moldes do art. 282 do CPP, a adequação da medida à gravidade do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado ou acusado. 6. Habeas Corpus concedido, para, tornando definitivos os efeitos da liminar anteriormente deferida, revogar a prisão preventiva do paciente, com a aplicação de medidas cautelares alternativas, nos termos do voto do Ministro Relator. Ressalvada a possibilidade de nova decretação da custódia preventiva, diante de novos fatos que demonstrem a necessidade da medida extrema, ou diante do descumprimento das condições acima indicadas (art. 313, parágrafo único, do CPP), sem prejuízo de imposição de outras medidas cautelares alternativas, nos termos do art. 319 do CPP. Tem-se no ordenamento jurídico quarto hipóteses de liberdade provisória, assim caso o juiz não determine ao acusado o seu acautelamento na forma de prisão preventiva (já na fase processual superada a investigação) e conceda portanto a liberdade, esta poderá ser: a) Liberdade Provisória sem fiança; b) Liberdade Provisória com ou sem medida cautelar; http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10652044/artigo-312-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1027637/lei-12403-11 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10656127/artigo-282-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10651970/artigo-313-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10651779/par%C3%A1grafo-1-artigo-313-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10651224/artigo-319-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-1941 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033703/c%C3%B3digo-processo-penal-decreto-lei-3689-41 34 c) Liberdade Provisória sem fiança por insuficiência financeira; d) Liberdade Provisória mediante fiança. 4.1 LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA Conforme o parágrafo único do art. 310 do Código de Processo Penal Brasileiro o juiz poderá conceder ao acusado liberdade provisória sem mesmo abritrar fiança na condição da contutaseja aparentemente hipótese de excludente de ilicitude (art. 23 do Código Penal Brasileiro). Sendo assim, o acusado agindo de modo a não ter comitido um ilícito não há razões para a manutenção de uma prisão preventiva, contudo sua liberdade sera condicionada à obrigação de comparecimento a todos os atos do processo, isto por que a instrução processual ainda percorrerá todos os trâmites. No que tange a liberdade provisória vinculada ao processo informa PAULO RANGEL (31): A razão de ser deste dispositivo legal é que, se o autor do fato agiu de acordo com o direito, não há que motivos para que o réu permaneça preso. A comprovação da exclusão da ilicitude somente poderá se dar no curso do processo, através do contraditório e do devido processo legal; porém, desde já, o réu deve permanecer solto. Não haveriasentido deixá-lo preso para, ao final do processo, absolve-lo e soltá-lo, por força do art. 596 do CPP. Verifica-se, portanto que, nesta hipótese de liberdade o acusado estará vinculado ao processo, tendo por obrigação o comparecimento em todos os atos processuais, sem, contudo a necessidade de prestar fiança. 4.2 LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA POR INSUFICIÊNCIA FINANCEIRA Nas hipóteses em que estiverem ausentes os requisitos que autorizem a decretação a prisão preventiva, isto é couber a liberdade proviória juntamente com a fiança, contudo o acusado não tiver condiçõesfinanceiras para tanto,o direito à liberdade substirá sujeito além das obrigações de comparecimento a todos os atos e proibição de ausentar-se da comarca sem prévia autorização e comunicação, também31 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 22ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 857. 35 se sujeitará, a depender do caso, a outras medidas cautelares. É o que se observa do art. 350 do CPP (32): Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o disposto no § 4 o do art. 282 deste Código. Não se pode manter um acusado em prisão apenas pelo fato deste não possuir recursos financeiros para arcar com a fiança. Neste sentido verifica-se posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (33): LIBERDADE PROVISÓRIA SEM FIANÇA. Situação econômica desfavorável do réu. Possibilidade. – É dispensável a imposição de fiança para a concessão de liberdade provisória quando assim recomendar a situação econômica do acusado. MEDIDAS CAUTELARES. Requisitos do art. 282 do CPP. Presença. Imposição. Possibilidade. – Presentes os requisitos do art. 282 do CPP, cabível é a imposição de medidas cautelares diversas da prisão preventiva para preservação da instrução criminal, bem como para evitar a prática de infrações penais. (TJ-SP - HC: 00654592720158260000 SP 0065459-27.2015.8.26.0000, Relator: João Morenghi, Data de Julgamento: 16/12/2015, 12ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 14/01/2016). Em verdade se confirma a decisão do Superior Tribunal de Justiça (34), reafirmando a impossilibilidade da manutenção da prisão catelar apenas pela impossibilidade de pagamento de fiança por parte do acusado, vejamos: 32 VADE MECUM saraiva/obra de autoria da editor saraiva com a colaboração de Luis Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti – 17.ed atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2014. p. 633. 33 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo. HC: 00654592720158260000 SP 0065459- 27.2015.8.26.0000, Relator: João Morenghi, Data de Julgamento: 16/12/2015, 12ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 14/01/2016. Disponível em <http://tj- sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/296842929/habeas-corpus-hc-654592720158260000-sp-0065459- 2720158260000> acesso em: 11 abril de 2016. 34 BRASIL.Superior Tribunal de Justiça. HC: 251875 AC 2012/0173945-0, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 16/04/2013, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/04/2013. Dispon<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23107649/habeas-corpus- hc-251875-ac-2012-0173945-0-stj> acesso em: 11 abril de 2016. http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/296842929/habeas-corpus-hc-654592720158260000-sp-0065459-2720158260000 http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/296842929/habeas-corpus-hc-654592720158260000-sp-0065459-2720158260000 http://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/296842929/habeas-corpus-hc-654592720158260000-sp-0065459-2720158260000 http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23107649/habeas-corpus-hc-251875-ac-2012-0173945-0-stj http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23107649/habeas-corpus-hc-251875-ac-2012-0173945-0-stj 36 HABEAS CORPUS. ROUBO. LIBERDADE PROVISÓRIA DEFERIDA. FIANÇA NÃOPAGA. MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA DOS REQUISITOSPREVISTOS NO ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ORDEM CONCEDIDA.CONFIRMADA A LIMINAR DEFERIDA. 1. Conforme reiterada jurisprudência desta Corte Superior deJustiça, toda custódia imposta antes do trânsito em julgado desentença penal condenatória exige concreta fundamentação, nos termosdo disposto no art. 312 do Código de Processo Penal. 2. Na hipótese, não estão presentes os requisitos que autorizam asegregação cautelar, o não pagamento da fiança arbitrada, por si só,não justifica a preservação da custódia. Trata-se de réujuridicamente pobre, assistido pela Defensoria Pública. 3. Ordem concedida para, confirmando a liminar, garantir a liberdadeprovisória ao paciente, independentemente do pagamento de fiança,sem prejuízo de que o juízo a quo, de maneira fundamentada, examinese é caso de aplicar uma das medidas cautelares implementadas pelaLei nº 12.403/11, ressalvada a possibilidade de decretação de prisãopreventiva, caso demonstrada sua necessidade. (STJ - HC: 251875 AC 2012/0173945-0, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 16/04/2013, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 24/04/2013). Foi nessa perspectiva que a Lei 12.403/2011 atribuiu nova redação conferindo ao magistrado a possibilidade de aplicar ao acusado novas medidas cautelares diversas da prisão e diversa das previstas nos artigos 327 e 328 do CPP. 4.3 LIBERDADE PROVISÓRIA COM OU SEM MEDIDA CAUTELAR A previsão de liberdade provisória com ou sem imposição de medida cautelar, nada mais é que, em primeiro lugar a verificação do cabimento da prisão, e caso negativo, isto éausentes os requisitos autorizadores da prisão o juiz analisará se realmente há necessidade de conjuntamente à concessão da liberdade provisória aplicar uma ou algumas medidas cautelares diversas da prisão. Ressalte-se não se trata de uma obrigatoriedade do magistrado, ou ainda uma condição da liberdade a aplicação das medidas diversas constantes no art. 319 do CPP, mas sim uma verificação desta necessidade. Assim prescreve o artigo 321 do Código de Processo Penal (35): 35 VADE MECUM.Idem.p.633. 37 Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. O dispositivo acima exposto deixa claro, e portanto, sem sombras de dúvidas que a imposição de medidas cautelares diversa da prisão é dispensável variando a depender do caso concreto, quando descreve […] o juiz deverá conceder a liberdade provisória, Impondo, se for o caso, as mesidas cautelares previstas no art. 319 deste código […]. Assim poderá haver concessão da liberdade provisória com imposição de medidas diversas ou concessão plena, sem qualquer obrigação diversa a ser cumprida pelo acusao. 4.4 LIBERDADE PROVISÓRIA MEDIANTE FIANÇA O Código de Processo Penal Pátrio dispõe as características dos tipos penais, de modo geral, em que admitem a fiança, além disso descreve os crimes em que não será concedida fiança (323 e 324 CPP), ele (o código) naõ elenca quais as infrações penais se aplica, deste modo pode-se identificar por critério de eliminação os crimes passíveis de serem arbritrados fiança. Assim percebemos no texto do artigo 322 do CPP (36): Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos. Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Como bem explica PAULO RANGEL (37) a fiança “Visa o pagamento das custas, da indenização do dano e da multa, se o réu for condenado (336 do CPP). A contrário sensu, sendo o réu absolvido, ser-lhe-á restituído o valor (337 CPP). Respeitadas as infrações em que o código autoriza, e não se tratando de crime de menor potencial ofensivo, a fiança seráarbritrada como garantia do pagamento de custas ao final do processo se condenado for o réu, e o acusado terá sua liberdade provisória concedida mediante pagamento de fiança, bem como mediante compromisso ao processo. 36 VADE MECUM.Idem.p.633. 37 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 22ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 857. 38
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