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TREINAMENTO EM ABA PARA PAIS E APLICADORES ORGANIZADORA: NEIRYLANDE MOREIRA 01 O que é Análise do Comportamento? A Análise do Comportamento é a ciência que estuda os fenômenos e variáveis relacionados ao comportamento humanos e de outras espécies. A mesma, possui três vertentes que estão inter-relacionadas e se alimentam mutualmente: O behaviorismo; A Análise Experimental do Comportamento e a Análise do Comportamento Aplicada. Behaviorismo : Filosofia da ciência preocupada com os objetivos e métodos. Podem ser divididas em duas bases principais: O behaviorismo metodológico e o radical. O behaviorismo metodológico proposto por Watson afirma que se mente ou eventos mentais existem, eles não devem ser estudados como objetos científicos. O behaviorismo radical proposto inicialmente por Skinner trás a visão de que mente ou eventos mentais se forem analisados nada mais são além de enunciados acerca do comportamento humano. (TODOROV, 2010) Análise Experimental do Comportamento (AEC): Funciona como a base empírica. É através da AEC que a Análise do Comportamento tem a possibilidade de fundamentar seus dados e pesquisas, é função dela a produção e a comprovação. São através dessas pesquisas experimentais básicas que tiramos os princípios básicos do comportamento humano para que possamos aplica-las. É importante salientar que AEC não se resume a experimentos com animais não humanos, é um dos métodos de trabalho e não um fim em si mesmo. (NETO, 2002) Análise do Comportamento Aplicada (ABA): Seria o campo de intervenção dos analistas do comportamento, pode ser realizada na clínica, escola, organizações, hospitais e onde houver comportamento, ou seja, qualquer lugar. Há uma exigência por resultados, é uma prática baseada em evidências, busca a melhoria efetiva da vida humana. (NETO, 2002) A intervenção comportamental aplicada ao TEA (Transtorno do Espectro Autista), conhecida como Terapia ABA ( Applied Behavior Analisys ), tem como princípios fundamentais realizar um protocolo de programas sistemático e individualizado baseado na avaliação comportamental prévia, visando diminuir os déficits e as barreiras comportamentais, estimulando, pois, os comportamentos esperados para a fase de desenvolvimento. (GOULART & ASSIS, 2002) Para que essa aplicação seja satisfatória, é necessário que o aplicador conheça os conceitos propostos pela ciência da Análise do Comportamento, para que possa entender porque determinado comportamento ocorre, como fazer para que determinado comportamento ocorra e outro não, dentre outros fatores importantes. Para tanto, segue o capítulo 02 do livro “ Ensino de Habilidades Básicas Para Pessoas com Autismo ” da autora Camila Gomes, o qual ensina com uma linguagem simples e acessível, conceitos básicos de Análise do Comportamento. Após a leitura desse capítulo, segue uma leitura mais aprofundada dos conceitos através dos capítulos 06 e 09 do livro “Princípios Básicos de Análise do Comportamento” dos autores Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros. Além disso, anexamos alguns exercícios do manual “Ajude-nos a aprender” para consolidar os conceitos aprendidos e trabalhar de forma mais prática. 3 2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DE ANÁLISE DO COMPORTAMENTO A Análise do Comportamento é uma ciência complexa, que está em constante transformação, e que é composta por diversos princípios e conceitos. O objetivo deste capítulo é descrever, de maneira mais didática e menos conceitual, alguns princípios de Análise do Comportamento que podem auxiliar no ensino das habilidades básicas. É importante ressaltar que nem este capítulo e nem este livro serão suficientes para capacitá-lo em Análise do Comportamento e de maneira alguma esta obra dispensa a orientação de um analista do comportamento. Serão descritos alguns princípios básicos do comportamento operante (um tipo de comportamento que produz consequências e é afetado pelas consequências que produz). Observe as duas pessoas na Figura 2. Elas estão fazendo a mesma coisa? Sim, elas estão fazendo a mesma coisa. O comportamento observado nas duas pessoas é o mesmo? Não, não é o mesmo comportamento. Tendemos a achar que ambas apresentam o mesmo comportamento, porém as duas apresentam comportamentos diferentes; a primeira pessoa está chorando em decorrência do falecimento de alguém e a segunda em função de ter ganhado na loteria. FIGURA 2 – DUAS PESSOAS CHORANDO Aquilo que as pessoas fazem, em Análise do Comportamento, nós chamamos de resposta, e aquilo que elas fazem em um determinado contexto chamamos de comportamento. Assim, quando se fala em comportamento, não é suficiente olhar para aquilo que a pessoa faz, mas é fundamental considerar o contexto no qual a resposta acontece. Essa perspectiva a respeito do comportamento faz total diferença na hora de realizar uma determinada intervenção terapêutica. Veja a diferença: a primeira pessoa apresentada na Figura 2 necessitará de um suporte para lidar com a perda enquanto a segunda provavelmente nem precisará de suporte terapêutico. Dessa maneira, ao analisar um comportamento, deve-se considerar aquilo que a pessoa faz em um determinado contexto. O contexto no qual um comportamento acontece nós chamamos de contingência. A contingência de um comportamento operante é composta por três aspectos: a resposta, o que acontece antes da resposta e o que acontece após a resposta. O que acontece antes da resposta nós chamamos de estímulo antecedente e o que acontece após a resposta é chamado de consequência. A Figura 3 retrata de maneira simplificada uma contingência de um comportamento de birra. Antes de a birra acontecer a criança vê um alimento que ela gosta muito (estímulo antecedente); ver o alimento estabelece a ocasião para a birra acontecer (resposta); na sequência da birra a mãe dá o alimento para a criança (consequência). Dessa maneira a contingência é composta por estímulo antecedente, resposta e consequência, nessa sequência de eventos. A análise desses aspectos da contingência nós chamamos de Análise Funcional do Comportamento. Estímulos antecedentes não causam automaticamente as respostas; esses estímulos aumentam ou diminuem a probabilidade de uma determinada resposta acontecer. Por exemplo, na Figura 4 são propostas duas atividades a uma criança: a primeira é composta pelos super-heróis preferidos da criança e a segunda não apresenta desenhos. Em qual das duas situações há maior probabilidade da criança se interessar e realizar a tarefa? Certamente na primeira, porém ainda assim estamos falando em probabilidade, já que a criança pode ou não realizar a tarefa. FIGURA 3 – CONTINGÊNCIA DO COMPORTAMENTO DE BIRRA FIGURA 4 – ESTÍMULO ANTECEDENTE E PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA DA RESPOSTA A importância de se observar os estímulos antecedentes está justamente no efeito desses estímulos na probabilidade de ocorrência ou não de uma determinada resposta. Isso é fundamental para o planejamento educacional, pois dependendo de como você apresenta uma determinada atividade, aumenta ou diminui a probabilidade do aprendiz se engajar. Por outro lado, você pode atentarpara os antecedentes no sentido de prevenir a probabilidade de ocorrência de uma resposta indesejada. Por exemplo, você deseja que uma criança realize uma atividade de colorir, porém ela leva o giz de cera à boca; uma estratégia de prevenção seria oferecer a ela lápis de cor ou canetinhas para evitar que ela coloque o giz de cera na boca e não realize a atividade de maneira adequada. Outro aspecto importante da contingência são as consequências. Toda resposta é seguida por uma consequência; não existe resposta sem consequência. As consequências, por sua vez, podem ter dois efeitos sobre a ocorrência futura da resposta; ou a pessoa faz novamente aquilo que ela fez anteriormente ou ela deixa de fazer aquilo que ela fez. A Figura 5 apresenta um exemplo dos efeitos das consequências sobre a resposta futura: a atividade com super-heróis é oferecida à criança e isso aumenta a probabilidade dela realizar a tarefa (estímulo antecedente); a criança realiza a tarefa, porém de maneira errada (resposta); após realizar a tarefa duas coisas podem acontecer (consequência): 1- a criança é repreendida ou 2- a criança é incentivada a tentar novamente. Posteriormente, em uma situação semelhante, a resposta da criança ocorrerá novamente ou não, dependendo do que aconteceu anteriormente: se a criança foi incentivada, provavelmente ela fará a atividade novamente, porém se a criança foi repreendida possivelmente ela não fará a atividade novamente. FIGURA 5 – EFEITOS DAS CONSEQUÊNCIAS SOBRE A RESPOSTA FUTURA Consequências que aumentam a probabilidade de uma determinada resposta acontecer novamente nós chamamos de reforço. Consequências que diminuem a probabilidade de ocorrência de uma determinada resposta nós chamamos de punição. É possível perceber se uma resposta foi reforçada ou punida da seguinte maneira: se a pessoa faz alguma coisa agora e posteriormente faz de novo, possivelmente a resposta foi seguida de reforço, porém se a pessoa faz alguma coisa agora e deixa de fazer aquilo que ela fez anteriormente, provavelmente a resposta foi punida. O que reforça ou pune uma determinada resposta pode variar de uma pessoa para outra e de um contexto para o outro. Não existem itens que são sempre reforçadores ou punitivos para todas as pessoas em todas as situações. O chocolate pode ser reforçador para muitas pessoas, porém pode ser punitivo para outras que apresentam alergia a ele. O mesmo chocolate que foi reforçador para uma pessoa em um determinado momento pode deixar de ser reforçador após a pessoa comer uma caixa de chocolates. Por outro lado, apanhar pode ser punitivo para muitas pessoas, porém se uma criança faz mais birras após a mãe lhe dar uma palmada, então a palmada foi reforçadora e não punitiva, pois a resposta de birra não cessou, ao contrário, ocorreu novamente. Dessa maneira, o critério para considerar se algo é reforçador ou punitivo é se a resposta acontece novamente ou se ela cessa. A Análise do Comportamento utiliza os termos “positivo” e “negativo” para diferenciar tipos de consequências reforçadoras e punitivas. Dessa maneira há reforço positivo e negativo, assim como punição positiva e negativa. Culturalmente tendemos a associar o termo positivo a algo bom e negativo a algo ruim. Porém, em Análise do Comportamento, positivo e negativo não se referem necessariamente a algo bom ou ruim; positivo significa acréscimo de algum estímulo e negativo significa retirada de algum estímulo. O sentido utilizado em Análise do Comportamento é semelhante ao sentido dos sinais em operações da matemática; positivo significa adição de valores e negativo subtração de valores. Quando uma determinada resposta se repete, dizemos que essa resposta foi reforçada. Nesse sentido, quando uma pessoa faz novamente algo que ela fez anteriormente, duas coisas podem estar envolvidas nessa repetição da resposta: ou a pessoa faz em decorrência de algum ganho (acréscimo de um estímulo) ou a pessoa faz em virtude de estar evitando ou fugindo de alguma coisa desagradável (retirada de um estímulo). Situações em que uma determinada resposta se repete em função do acréscimo de um estímulo após essa resposta chamamos de reforço positivo. Situações em que uma determinada resposta se repete em função da retirada de um estímulo após essa resposta chamamos de reforço negativo. Contingências que envolvem reforço positivo são caracterizadas pela repetição da resposta em função do acréscimo de algum estímulo. Uma criança vê um brinquedo (estímulo antecedente), aponta para o brinquedo (resposta) e a mãe dá o brinquedo para a criança (consequência). Saberemos se o brinquedo foi reforçador para a resposta de apontar se a criança no futuro, em situação semelhante, apontar novamente para o brinquedo. Se isso ocorrer, consideramos que a resposta de apontar foi reforçada (repetição) pelo acréscimo (positivo) do estímulo brinquedo (Figura 6). FIGURA 6 – CONTINGÊNCIA DE REFORÇO POSITIVO Contingências que envolvem reforço negativo são caracterizadas pela repetição da resposta em função da retirada de algum estímulo. Nesse caso, o estímulo retirado é chamado de estímulo aversivo. Esse tipo de estímulo pode ser definido como qualquer coisa que influencia na ocorrência da resposta, no sentido de evitar ou de fugir desse estímulo. Ou seja, a pessoa pode fazer ou deixar de fazer algo para não ter contato com o estímulo aversivo. No caso do reforço negativo, a pessoa faz algo, de maneira repetida, e tem como consequência o afastamento do estímulo aversivo. É importante ressaltar que não existe um estímulo que é aversivo para todas as pessoas em todas as situações; o que é aversivo para uma pessoa pode não ser para outra, assim como o que é aversivo em um contexto pode não ser em outro. A dor costuma ser um estímulo aversivo para muitas pessoas, porém para frequentadores de academia interessados em hipertrofia, a dor muscular pode ser reforçadora e não aversiva, pois é uma das variáveis importantes para o crescimento muscular. Porém, para o mesmo frequentador de academia, o estímulo dor que era reforçador pode se tornar aversivo após uma lesão muscular. Dessa maneira, contingências que envolvem reforço negativo são caracterizadas pela repetição da resposta em função da retirada de um estímulo aversivo. A Figura 7 apresenta um exemplo de contingência de reforçamento negativo. A criança está de castigo (estímulo antecedente), pede desculpas (resposta) e é liberada do castigo (consequência). Saberemos se o ficar livre do castigo foi reforçador para a resposta de pedir desculpas se a criança no futuro, em situação semelhante, pedir desculpas novamente. Se isso ocorrer, consideramos que a resposta de pedir desculpas foi reforçada (repetição) pela retirada (negativo) do estímulo aversivo castigo. Nesse caso a criança pediu desculpas, ficou livre do castigo e pode-se perceber que após o pedido de desculpas a criança “ganha” a liberdade e a possibilidade de fazer outras coisas como brincar, o que pode nos levar a crer que é uma contingência de reforço positivo. Porém, esse ganho é secundário, decorrente da retirada do castigo (estímulo aversivo); por isso, trata-se de uma contingência de reforço negativo e não positivo. Uma dica para avaliar se uma consequência é reforçadora positiva ou negativa é observar se há um estímulo aversivo no antecedente e se a resposta é decorrente desse estímulo aversivo; a repetição da resposta em função da retirada do estímulo aversivo que está no antecedente caracteriza reforço negativo. FIGURA 7 – CONTINGÊNCIA DE REFORÇO NEGATIVO Dois comportamentos típicos acontecem em contingências de reforçamento negativo: fuga e esquiva. O comportamento de fuga ocorre quando a pessoa está em contato com um estímulo aversivo e faz algo para ficar livre daquele estímulo. Já o comportamento de esquiva ocorre quando a pessoa ainda não está em contato com o estímulo aversivo (porém há a probabilidade de ficar) e faz algo para evitar esse contato. A Figura 8 apresenta situações que envolvem os comportamentos de fuga e esquiva: 1- na situaçãode fuga a criança está fazendo uma atividade chata e termina rapidamente para ficar livre dela, ou seja, a criança está em contato com o estímulo aversivo e foge dele; 2- na situação de esquiva a criança vê uma atividade que para ela é aversiva e antes de realizá-la se joga ao chão, evitando-a, ou seja, a criança não está em contato com a atividade ainda, mas há a probabilidade de ter o contato, e assim a criança se joga ao chão evitando o contato com o estímulo aversivo. A importância do reforço, positivo ou negativo, está justamente na repetição de uma determinada resposta. De maneira mais simples, dizemos que alguém aprendeu alguma coisa quando a pessoa é capaz de emitir uma resposta esperada em um determinado contexto e repetir essa resposta sempre que for necessário. Por exemplo, dizemos que a criança aprendeu a “dar tchau” se ela é capaz de acenar com a mão quando alguém solicita que ela dê tchau e ela continua a fazer isso em outros contextos semelhantes; ou seja, o comportamento se repete. Por isso o conceito de reforço é tão fundamental no ensino de habilidades para pessoas com autismo, pois o que desejamos é que essas pessoas aprendam a fazer coisas que não são capazes de fazer e que façam aquilo que aprenderam de maneira consistente e repetida; algumas crianças falam pouco e queremos aumentar a frequência da fala, outras olham pouco nos olhos dos outros, mas queremos que elas olhem cada vez mais, ou seja, desejamos a repetição de comportamentos que raramente acontecem, o que só será possível por meio do reforço. Apesar de consequências reforçadoras positivas ou negativas produzirem a repetição de uma determinada resposta, há emoções diferentes envolvidas nessas contingências. A Figura 9 apresenta duas crianças fazendo uma atividade: na primeira situação a mãe combina com a criança (estímulo antecedente) que se ela fizer a atividade (resposta) poderá assistir televisão (consequência); na segunda situação a mãe solicita à criança (estímulo antecedente) que finalize a atividade (resposta), pois se não o fizer ficará de castigo (consequência). A pergunta é: as duas crianças farão a atividade? Provavelmente sim! Os sentimentos envolvidos nas duas situações serão os mesmos? Certamente não! A primeira criança fará a atividade com mais alegria, empolgação e empenho, pois terá como consequência o ganho de algo que gosta (contingência de reforço positivo). A segunda fará a atividade tensa, aflita, desmotivada e se empenhará para finalizar a atividade, não porque terá ganhos, mas para evitar o estímulo aversivo castigo (contingência de reforço negativo). O efeito final das duas situações é diferente: a primeira criança se sentirá animada ao término da atividade enquanto a segunda se sentirá aliviada. É fundamental que o educador se atente a esse aspecto do reforço, pois consequências reforçadoras positivas tendem a promover aprendizagens mais leves e agradáveis. Considerando que a Intervenção Comportamental Intensiva acontece por muitas horas semanais e pode se estender por dois ou mais anos, é importante que o educador esteja empenhado em realizar as atividades proporcionando consequências reforçadoras positivas, ao invés de negativas, pois assim poderá manter seu aprendiz com autismo mais animado e motivado a aprender. FIGURA 8 – COMPORTAMENTOS DE FUGA E DE ESQUIVA FIGURA 9 – CONTINGÊNCIAS DE REFORÇO POSITIVO E NEGATIVO Outro aspecto importante é a maneira como a consequência reforçadora é disponibilizada para o aprendiz. Ao ensinar uma habilidade nova, quanto mais próxima for a apresentação da consequência em relação à emissão da resposta, mais rápida será a aprendizagem. Para exemplificar melhor essa situação (Figura 10), imagine que uma criança está começando a falar suas primeiras palavrinhas: a criança fala “mamãe” e imediatamente a mãe aparece, lhe dá atenção e carinho; ou a criança fala “mamãe” e a mãe que está ocupada aparece um minuto depois dando atenção e carinho. Em qual das duas situações é mais provável que a criança perceba a relação entre o que ela fez e a consequência, ou seja, que ao falar “mamãe” a mãe aparece? Provavelmente na primeira situação, na qual o reforço ocorre imediatamente após a resposta; se o tempo decorrido entre a resposta e o reforço for grande, fica mais difícil para o aprendiz identificar a relação entre esses aspectos da contingência, o que pode contribuir com a demora na aprendizagem. Dessa maneira, é importante que o educador fique atento não só ao que é reforçador para o aprendiz, mas também ao momento no qual o reforço é apresentado. Ainda em relação à maneira como a consequência reforçadora é disponibilizada, há basicamente dois jeitos de se reforçar uma determinada resposta (Figura 11): 1- o reforço é apresentado após cada resposta; 2- algumas respostas são seguidas de reforço enquanto outras não são. Quando o reforço acontece a cada resposta chamamos de reforçamento contínuo; quando acontece após algumas respostas, mas não após todas as respostas chamamos de reforçamento intermitente. No início do processo de aprendizagem de um comportamento novo é muito importante que o reforço seja contínuo. Quando o comportamento novo já estiver estável e acontecendo em uma frequência alta, o reforçamento intermitente será importante para manter e fortalecer a resposta aprendida. Por exemplo, quando a criança começa a falar uma palavra nova como “mamãe” é importante que a mãe atenda todas as vezes que a criança chamar (reforço contínuo), pois assim ela aprenderá rapidamente a relação entre a palavra falada e a atenção da mãe. Quando a criança tiver aprendido essa relação, a mãe poderá dar atenção imediatamente em alguns momentos e demorar um pouco mais em outros (reforço intermitente); isso tornará a criança mais persistente e o comportamento de falar “mamãe” mais forte. Fique atento para reforçar continuamente quando iniciar o ensino de um comportamento novo e para reforçar intermitentemente quando o aprendiz já tiver aprendido o comportamento.4 FIGURA 10 – INTERVALO ENTRE A EMISSÃO DA RESPOSTA E A OCORRÊNCIA DO REFORÇO FIGURA 11 – REFORÇAMENTO CONTÍNUO E INTERMITENTE Imagine que uma criança com autismo fala a palavra “chocolate” e geralmente recebe um pedaço de chocolate após a fala. Podemos considerar que o chocolate reforça positivamente a resposta da criança de falar “chocolate”. Em um dado momento descobriu-se que a criança tinha alergia ao chocolate e a mãe decide que não atenderá mais aos pedidos da criança, ou seja, ela não reforçará a resposta da criança de falar “chocolate”. Após falar chocolate e não ser atendida a criança provavelmente vai insistir: falará “chocolate” mais vezes, tentará pedir de maneiras diferentes (como puxando a mãe em direção ao armário ou até falando outras palavras que não costumava falar como “dá” ou “quero”), poderá fica nervosa, irritada e aflita. Se a mãe não der o chocolate, mesmo após várias e variadas tentativas da criança, provavelmente a criança deixará de pedir o chocolate gradativamente, até desistir completamente de pedir (Figura 12). Essa situação exemplifica a extinção, um processo que tem como efeito final a diminuição da frequência da resposta (gradativamente a pessoa vai deixando de fazer aquilo que fazia) e que ocorre a partir da retirada do reforço que mantinha a resposta; inicialmente observa-se aumento da frequência da resposta (a pessoa faz mais do que costumava fazer), variabilidade (a pessoa passa a fazer coisas diferentes), respostas emocionais (a pessoa pode ficar nervosa e irritada) e posteriormente a diminuição gradativa da frequência da resposta (a pessoa deixa de fazer aquilo que fazia). FIGURA 12 – EXTINÇÃO A extinção é um dos recursos que podem ser utilizados quando se deseja diminuir comportamentos. Por exemplo, se uma criança faz birras e é reforçada pela atenção dos pais, a retirada da atenção que reforçava a birra provavelmente terá como efeito final a diminuição da frequência das birras. Porém, é importante ressaltar que o efeito inicial da extinção pode ser oaumento da frequência da resposta, variabilidade e respostas emocionais, o que pode parecer que a criança está piorando, pois estará fazendo mais birras. Esse aspecto da extinção merece cuidado, pois reforçar a resposta de maneira inadequada durante o processo de extinção pode acarretar em fortalecimento da resposta e não em extinção; no caso da birra poderíamos ter uma piora real do comportamento. Dessa maneira, é recomendável que intervenções planejadas para colocar qualquer resposta em extinção devem ser realizadas somente com supervisão de um analista do comportamento. Descrever o processo de extinção nesse livro tem a função de alertar o educador em relação a comportamentos que aconteciam e que deixaram de acontecer. Por exemplo, a criança dava tchau e parou de dar; uma coisa que pode ter ocorrido é que a ausência de reforço para essa resposta acarretou a extinção. Nesse caso o educador deve pensar em reforçadores para o comportamento de dar tchau. A parada de um determinado comportamento pode ser bem preocupante quando se está ensinando alguma habilidade nova. Imagine que você está ensinando uma criança com autismo a nomear as vogais: você mostra a letra A impressa (estímulo antecedente), a criança fala corretamente o nome da letra (resposta) e você a elogia (consequência). Podemos presumir que o elogio é um reforçador para a criança nomear a letra novamente, porém em uma nova tentativa de nomeação, a criança se recusa a falar o nome da letra, ou seja, o comportamento de nomear para abruptamente. O que pode ter acontecido é que o elogio, ao invés de ter uma função reforçadora para a resposta de nomeação, caracterizou-se como uma consequência punitiva. Culturalmente relacionamos o termo “punição” a castigos, recriminações e até a violência física, porém em Análise do Comportamento, punição não está necessariamente relacionada a castigos, mas se refere a qualquer consequência que produza a parada abrupta de uma determinada resposta, ou seja, a pessoa estava fazendo alguma coisa, algo acontece e ela rapidamente para de fazer aquilo que estava fazendo. Qualquer consequência que tenha como efeito a parada abrupta da resposta pode ser punitiva. Um professor em sala de aula pode punir o comportamento de conversar de dois alunos ao simplesmente se aproximar desses alunos, sem precisar brigar, encostar ou mesmo olhar para os alunos. Uma criança que está brincando de bola com outras crianças tem seu comportamento punido ao ver o escudo do time adversário impresso na bola. Um jovem com autismo para de falar uma palavra após alguém pedir a ele que fale mais alto. Essas situações exemplificam contingências que envolvem punição e que não são caracterizadas por castigos. Dessa maneira, o que é fundamental quando se fala em punição é o efeito da consequência sobre a resposta futura; se há aumento da frequência da resposta estamos falando em reforço, porém se há parada abrupta da resposta estamos falando em punição. Conforme descrito anteriormente a Análise do Comportamento utiliza os termos positivo e negativo para caracterizar consequências reforçadoras e punitivas; positivo indica acréscimo de algum estímulo e negativo indica a retirada (lembre-se de que não há necessariamente uma relação entre algo bom ou ruim!). Punição positiva é um tipo de consequência que produz a parada abrupta da resposta em função do acréscimo de um estímulo aversivo (Figura 13). Por exemplo, uma pessoa está comendo um sanduiche e para de comê-lo após encontrar um inseto no alimento, ou seja, a pessoa come o sanduiche (resposta) e acha um inseto (consequência), na sequência a pessoa para abruptamente (indica punição) de comer o sanduiche, em função do acréscimo do estímulo aversivo inseto. Punição negativa (Figura 13) é um tipo de consequência que produz a parada abrupta da resposta em função da probabilidade de retirada de um reforçador de outra resposta, que não aquela punida (pois a retirada do reforçador da resposta indica extinção e não punição). Por exemplo, uma pessoa acelera o carro acima da velocidade permitida e é reforçada pela sensação que a velocidade produz. Próximo a um semáforo a pessoa para de acelerar abruptamente (indica punição), não em função de estar “ganhando” um estímulo aversivo que é a multa (já que a pessoa não ganha a multa imediatamente ao passar pelo semáforo), mas em função da probabilidade de perder “privilégios” (reforçadores de outras respostas), ao atropelar alguém, ter o carro apreendido e a carteira de motorista suspensa (perder o direito de dirigir). FIGURA 13 – CONTINGÊNCIAS DE PUNIÇÃO POSITIVA E NEGATIVA Apesar da extinção e da punição parecerem similares, no sentido de resultarem em diminuição da frequência da resposta, há algumas diferenças importantes entre esses dois conceitos: a extinção é um processo decorrente da retirada do reforçador que mantém uma determinada resposta, enquanto a punição é um tipo de consequência que se segue à resposta. Outro aspecto importante é a maneira como a resposta diminui de frequência: na extinção o processo é gradativo e pode ser demorado; na punição o efeito tende a ser imediato. Por outro lado, intervenções baseadas em extinção tendem a obter resultados lentos, porém mais duradouros, já que sem reforço a resposta não se mantém; enquanto a punição tem um efeito imediato, mas menos duradouro, já que a ausência da consequência punitiva pode resultar em retorno imediato da resposta, que por sua vez é reforçada por outra consequência. A punição, assim como a extinção, é um dos recursos que podem ser empregados quando se deseja diminuir comportamentos. Porém seu uso deve ser sempre orientado e supervisionado por um analista do comportamento, pois a aplicação inadequada pode acarretar em prejuízos. Apesar de a punição aparentar ser uma boa opção para diminuir comportamentos, especialmente pela imediaticidade do efeito, ela produz efeitos colaterais importantes em quem pune e em quem é punido.5 Descrever a punição neste livro, semelhante ao que foi apontado sobre a extinção, também tem a função de alertar o educador em relação a comportamentos que aconteciam e que deixaram de acontecer. Pode ocorrer de o educador estar ensinando um comportamento para uma criança com autismo como, por exemplo, o comportamento de fazer xixi no vaso, e após a criança acertar o xixi, o educador faz tanta festa (bate palmas, grita, pula, abraça a criança) que ao invés da criança fazer o xixi novamente no vaso, ela para de fazer o xixi; isso pode indicar para o educador que a consequência que ele utilizou (festa) foi punitiva e não reforçadora. Assim, em uma nova oportunidade o educador deve utilizar outra consequência que possa ter uma função reforçadora e não punitiva. De maneira geral, os princípios descritos neste capítulo têm a função de apresentar alguns conceitos fundamentais da Análise do Comportamento a leitores iniciantes e de deixá-los mais atentos às variáveis que afetam o comportamento. Observar o que a criança está fazendo (resposta), o que acontece antes (estímulo antecedente) e o que acontece depois (consequência), já é um bom começo para se pensar em como ensinar comportamentos novos a crianças com autismo. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA COMPORTAMENTO - CAPÍTULO 2-10 Exercício 6 Instruções: Encontre alguém cujo comportamento você possa observar por um intervalo de 5 minutos. Para o propósito deste exercício, escolha um comportamento de alta freqüência para observar e medir. Pode ser um hábito pessoal como morder um dedo, bater com uma caneta, limpar a garganta, rabiscar garatujas ou tamborilar com os dedos. Meça a freqüência com que aquele comportamento acontece no intervalo de 5 minutos. Comportamento escolhido para ser computado: __________________________________ Data: ________________ Tempo: _______________ às: __________________ Observador: ____________________________________________________________ Contagem:(você pode usar cada célula abaixo para uma contagem de 5 – mude para a célula seguinte ao atingir a contagem de 5 marcas. É uma forma muito fácil de totalizar sua contagem ao final. As 15 células representam 75 ocorrências do comportamento). Observações AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-4 Obviamente, há uma ampla gama de coisas que as pessoas consideram punição. Entretanto, à parte do possível uso do tempo-fora (time-out) ou retirada de privilégios, a punição não é usada em um programa ABA. Exercício 7 Instruções: identifique o tipo de reforçador usado em cada um dos exemplos a seguir. 1. Um bebê diz “mamã... mamã”. Os pais sorriem e riem, o bebê gosta e repete “mamã” de novo. 2. Maria não gosta de lugares fechados. Quando ela se aproxima de um elevador, procura uma escada para evitá-lo. No futuro, Maria procurará as escadas e não o elevador. 3. Comida, água. 4. Figurinhas. 5. João faz sua cama toda manhã por uma semana e sua mãe o leva para o cinema no sábado. 6. Comida extra, como pizza, salgadinhos, pipoca. 7. Você fecha a janela do carro para reduzir o barulho. 8. Uma criança tem uma crise de birra em uma loja. Os pais saem, levando a criança com eles. A criança para a birra. 9. Atividades: participar de um jogo, ir ao parque de diversões. 10. Célia ganha elogios e sorrisos ao olhar nos olhos de uma pessoa da equipe e então, ela passa a olhar mais freqüentemente. 11. Oxigênio 12. Calor, inclusive calor humano 13. Abraços, beijos, sorrisos, elogios 14. Estimulação sexual 15. Uma criança leva um tapa na mão após beliscar a irmã. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-5 Idéias para reforçadores Comestíveis Docinhos, como chocolates, balas, jujubas Pipoca Batata frita Sorvete Bolinhos Pizza Castanha de caju Dicas: tenha certeza de que verificou se há dietas especiais ou alergias antes de usar reforçadores comestíveis. Quebre as coisas grandes em pedacinhos, ou um reforçador poderá se transformar em uma longa interrupção. Elas devem ser rápidas de consumir. Salgadinhos Brigadeiros Frutas secas Biscoitos Sucrilhos Refrigerante Suco Beiju, Biscoito de polvilho, ... ou qualquer coisa que a criança goste de comer ou beber. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-6 Social Elogios entusiasmados usando uma variedade de frases (Veja a tabela “112 formas de dizer muito bem” neste capítulo) Sorrir para a criança Fazer o sinal de OK Aplaudir Dar uma piscadela Cantar uma canção de seu agrado Abrir os braços e dizer “Viva!” Rir bastante Acenar com a cabeça Sentar no chão de contente Mandar um beijo Fingir que está surpreso. Dica: Seja muito dramático e divertido para a criança, exagere seus elogios e ações. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-7 112 Formas de Dizer Muito Bem (98 na edição canadense). 1. Abalou Bangu (Expressão carioca) 2. Admirável 3. A fuzel 4. Aííí! Muito bem! 5. Animal 6. Arrasou 7. Arrebentou a boca do balão 8. Arrepiou 9. Bacana 10. Bárbaro 11. Beleza 12. Beleza pura 13. Belíssimo 14. Bem Bolado 15. Bolado 16. Bonito 17. Bravíssimo 18. Bravo 19. Brilhante 20. Buenaço! 21. Campeão 22. caprichou hem! 23. Certíssimo 24. Certo 25. Chocante 26. Chuchu bananeira 27. Chuchu beleza 28. Correto 29. "da hora" 30. Demais 31. Detonou 32. DEZ! 33. Digno de admiração 34. Duca 35. É isso aí 36. Encantador 37. Encanto 38. Espantoso 39. Espertíssimo 40. Exato 41. Excelente 42. Excepcional 43. Extraordinário 44. Falou 45. Fantástico 46. Fascinante 47. Fechou 48. Fenomenal 49. Fiche (Expr. de Portugal) 50. Ficou daqui, ó! 51. Garoto (a) esperto (a)! 52. Genial 53. Good! 54. Gostei 55. Grande 56. Impressionante! 57. Irado! 58. Isso 59. Isso mesmo 60. Jóia 61. Joinha 62. Legal 63. Lindo 64. Magnífico 65. Mandou bem 66. Maneiríssimo 67. Maneiro 68. Maravilha 69. Maravilhoso 70. Massa! 71. Ótimo 72. Oba! 73. Parabéns 74. Perfeito 75. Pra lá de bom! 76. Preciso! 77. Que demais 78. Que jóia! 79. Matou a pau 80. Máximo 81. Menino (a) esperto (a) 82. Menino (a) inteligente 83. Muito bem 84. Muito bom 85. Muito tri 86. Nota dez! 87. Nota mil! 88. Oba! 89. Odara 90. Ok 91. Que lindo! 92. Que tri! 93. Show de bola 94. Sinistro 95. Super 96. Supimpa (Essa é antiga) 97. Surpreendente 98. Surreal 99. "tá da pontinha da orelha" 100. tá de chamar o vizinho 101. tá nota dez 102. tá o maior barato 103. tá um brinco 104. tá um barato 105. Tri bom! 106. Trilegal! (Expr. gaúcha) 107. Tri massa! 108. Uau! 109. um primor 110. Valeu 111. Você conseguiu! 112. Você é fera Esta lista foi desenvolvida em janeiro de 2005 por participantes da Comunidade Virtual Autismo no Brasil. A versão original, em inglês, “98 Ways to Say Very Good” foi desenvolvida principalmente por pais, num projeto conjunto da Canadian Child Day Care Federation e a Canadian Association of Toy Libraries and Parent Resource Centres. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-8 Atividades Ir ao cinema Ver um vídeo Ir para a natação Jogos de cartas e de tabuleiro Brincar de esconder Montar um quebra-cabeça Colorir uma figura Brincar com figurinhas Pintar um quadro Assar um bolo Misturar fermento e vinagre e ver a reação Brincar com massinha de modelar Brincar o jogo das cadeiras Soprar ou falar em um tubo ou caneca Dançar Brincar com jogos de armar Fingir que perdeu a criança e procurá- la – ao “achar”, dizer “Achou!” Fazer bolhas de sabão Cantar Brincar no balanço Caminhar Cheirar os pés da criança e desabar na cadeira Fingir emoções – triste, alegre, surpreso. Cair adormecido nos braços da criança, roncar e despertar repentinamente Fingir que vai jogar algo (água, suco) na cabeça dela Esconder-se sob um cobertor com a criança Transformar a mesa em barraca usando um cobertor sobre ela Encher as bochechas de ar e fazer a criança apertá-las. Fingir que põe coisas nos lugares errados (como uma meia na cabeça ou na mão) Deixar a criança lhe dar comida Brincar com creme de barbear Brincar com ímãs Ir às compras (e comprar uma guloseima ou brinquedo) Andar de bicicleta Ir ao parque Visitar uma pessoa querida (mãe, pai, colega, amigo, etc...). Dica: algumas destas atividades podem pedir que se juntem fichas diárias que serão transformados em um evento, como ir ao cinema ou visitar o zoológico. Aprendizes muito jovens podem não estar prontos para um sistema de fichas, mas há muitas pequenas atividades que podem ser usadas neste programa. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-9 Brinquedos e brindes (tangíveis) Balões Carrinhos Bonecas Brinquedos de corda Caixas-de-música Pião Tambor Lanterna Figurinhas Bonecas de pano Corneta Livro Espelho Revólver de água Apito Leques Garrafas plásticas cheias de água colorida Garrafas plásticas cheias de areia colorida Potinhos cheios de arroz ou feijão Flores para cheirar Barbante de contas Colar Borracha Bolas de amassar Bóia ... ou qualquer brinquedo ou coisas que a criança aprecie. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-10 Físicos Rodopiar (segurar a criança por baixo dos braços e girá-la) Perseguir, fazer cócegas, abraçar e beijar Foguetinho (levantá-la em uma cadeira) Balançar a criança nas pernas Soprar nela Cantar Plantar bananeira (cabeça para baixo), fazer “parada de mão” Luta de polegares Fazer massagens Dar pancadinhas nas costas Brinquedos de apertar Fingir comer os dedos, orelhas, pés, etc da criança, com som de mastigar (“nhoque, nhoque, nhoque!”) Fazer a criança“rugir” e fingir tanto medo que corre ou cai na cadeira Balançar a criança no colo e, de repente, fingir deixá-la cair Cobrir partes da criança com seus cabelos Rodar a criança segurando-a alto (cuidado com a segurança!) Pôr a criança no colo e simular uma corrida de carro (pára, vai, dirija, bata) Balançar a criança para frente e para trás Fazer “serra, serra, serrador” Fingir deixar a criança cair com barulho de vento Fazer aviãozinho Dizer “Mãos ao alto” e fazer cócegas Deixar a criança cair num colchão ou na cama Pular na cama ou cama elástica Palmas-sanduíche (bater palmas com as mãos da criança entre as suas) Enrolar a criança em um cobertor Deitar a criança e pôr o seu pé suavemente sobre a barriga dela Dar tapinhas no peito da criança enquanto falam palavras ou repetem sons Andar de carrinho-de-mão Montar cavalinho Cócegas na barriga Brincar com uma caixa sensorial (tubo com pedrinhas, areia, água) Soprar na orelha da criança Rastejar pela sala Luta de travesseiros Rolar no chão Fazer um jogo batendo palmas e cantando Segurar a criança de cabeça para baixo AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-11 Escolhendo reforçadores que funcionem com a criança Antes de realmente começar a ensinar a criança, é muito útil verificar que tipos de coisas são reforçadores para ela. Faça uma lista e, antes de tudo, separe estes itens. Você pode querer separar certos brinquedos e bugigangas especialmente para o horário de trabalho, para que sejam especiais. Você pode querer reservar também guloseimas favoritas, vídeos, jogos, etc., só para estas horas. Como descobrir quais devem ser estes reforçadores? Pergunte Pergunte à criança, mãe, pai, babá, irmãos, professores, etc Observe Olhe o que a criança escolhe para brincar por si só. Lembre-se, poderão ser coisas pouco usuais que interessam a ela – uma caixa de vídeo, um papel brilhante, um barbante, um espelho, um cobertor. Não se preocupe, por ora, se estas opções são pouco usuais. Teste Deixe a criança escolher dentre diferentes itens de uma caixa. Troque as escolhas. Pode ser interessante ter uma caixa com várias coisas legais, assim você poderá dar-lhe três ou quatro coisas diferentes de cada vez. Lembre-se de apresentar diferentes categorias de reforçadores, tais como comida, brinquedos, vídeos, oportunidades de brincar, etc. Force uma escolha Dê à criança a escolha entre dois – “Você quer figurinhas ou um biscoito?”. Tente coisas diferentes Dê um reforçador diferente a cada vez e observe qual é o mais eficaz e convidativo. Use muitos reforçadores interessantes e variados À medida que você conhece seu aluno aprenderá quais os seus interesses particulares – brinquedos, carros, quebra-cabeças, vídeos, etc. Mas lembre-se: suas preferências vão mudar, e sua tarefa é ajudá-lo a desenvolver novos e variados interesses. AJUDE-NOS A APRENDER – MANUAL DE TREINAMENTO EM ABA REFORÇAMENTO - CAPÍTULO 3-12 Exercício 8 Instruções: use alguma ou todas as técnicas discutidas acima para criar uma lista de reforçadores para seu aluno. Você pode usá-la para criar um “kit inicial” para seu programa. Comestíveis Tangíveis (brinquedos e brindes) Físicos Sociais Atividades TREINAMENTO EM ABA PARA PAIS E APLICADORES ORGANIZADORA: NEIRYLANDE MOREIRA 02 Como funciona a aprendizagem sem erros A Análise do Comportamento tem como fundamento principal que todo comportamento é aprendido, logo pode ser ensinado. Para ensinar comportamentos de maneira satisfatória, efetiva e motivante, trabalhamos com intervenções específicas, com objetivos delimitados e individualizados. Para entender melhor alguns conceitos envolvidos nessa intervenção, colocamos o capítulo 08 do livro “Princípios Básicos de Análise do Comportamento”, nele contém conceitos relevantes de modificação do comportamento como esquemas de reforçamento, para aprender como instalar determinado comportamento, reduzir a frequência, realizar manutenção, dentre outras possibilidades. Já de forma mais específica, foram inseridos os capítulos de 11 e 13 do livro: Análise do Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista (SELLA E RIBEIRO, 2018), esses capítulos trazem intervenções comportamentais aplicados ao TEA com base em esquemas de reforçamentos e princípios analitico-comportamentais. Novamente, como atividade prática, colocaremos exercícios do manual “Ajude-nos a aprender”. 4 185 SEÇÃO 3 - PROCEDIMENTOS DE ENSINO CAPÍTULO 11 - ENSINO POR TENTATIVAS DISCRETAS PARA PESSOAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Dr.ª Christiana Gonçalves Meira de Almeida Dr.ª Maria Carolina Correa Martone Fundação Panda Dois Meninos Meu menino tem nos olhos os mistérios Dum mundo que ele vê e que eu não vejo Mas de que tenho saudades infinitas. As cinco pedrinhas são mundos na mão. Formigas que passam, Se brinca no chão, São seres irreais… (…) Meu menino de olhos verdes como as águas Não sabe falar, Mas sabe fazer arabescos de sons Que têm poesia. (…) E ao vê-lo brincar, no chão sentadinho, Eu tenho saudades, saudades, saudades Dum outro menino… O poema de Bugalho (1940) ilustra o fascínio de um adulto ao pensar sobre como uma criança percebe o mundo. Em um mundo tão rico de detalhes, como garantir que estamos atentando para os mesmos elementos do ambiente quando outra pessoa diz uma determinada palavra? Quais elementos do ambiente são essenciais para que possamos nos comunicar uns com os outros? Para boa parte das crianças, parece natural a preferência por certos elementos que são fundamentais à comunicação. Bebês desde tenra idade atentam para olhos e boca humanos, além de outros componentes importantes de expressões faciais (DI GIORGIO et al., 2012). Eles podem passar horas observando e imitando os movimentos faciais de um adulto, tentando reproduzir entonação, palavras, movimento dos olhos, boca e nariz. Esses comportamentos são importantes para o desenvolvimento de habilidades sociais (ROGERS; WILLIAMS, 2006). Além disso, bebês desenvolvem a habilidade relacionada a compartilhar a atenção, por exemplo, direcionando o olhar para elementos do ambiente que outras pessoas estão atentando, possibilitando assim o compartilhamento de experiências e informações (OLIVEIRA; GIL, 2007). Para algumas crianças, contudo, habilidades de observação, imitação e atenção compartilhada podem ser mais difíceis de serem desenvolvidas, necessitando então de condições de ensino diferentes das condições naturais que, em geral, são suficientes para as demais crianças (BRADY et al., 2012; KEEN et al., 2016). 186 O termo Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi cunhado recentemente para caracterizar um conjunto heterogêneo de alterações comportamentais com início precoce, curso crônico e com impacto certo, embora variável, em áreas múltiplas do desenvolvimento, sobretudo, atingindo as áreas referentes à linguagem e à socialização (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais; DSM-5; APA, 2014). Uma das características importantes do quadro é a dificuldade que as crianças têm de observar propriedades relevantes do ambiente. Estudos sobre controle de estímulos em situações experimentais têm mostrado que, algumas vezes, organismos diferentes respondem sob o controle de apenas alguns aspectos da situação antecedente, o que pode provocar respostas incompletas ou com reduzida probabilidade de reforçamento (DUBE; MCILVANE, 1999; LOVAAS et al.,1971). Quando isso ocorre, as discriminações de aspectosdo ambiente que exigem um aprendizado por observação (o que uma pessoa faz, como faz, para onde olha, o que fala, quando fala) tornam-se tarefas difíceis e exigem um ensino sistematizado. Diante disso, um modo de ensino eficaz é estruturar o ambiente com instruções simples e com destaque para as propriedades que são essenciais para o cumprimento bem-sucedido da tarefa. Uma modalidade de ensino estruturado amplamente estudada é o Ensino por Tentativas Discretas, do inglês, Discrete Trial Training – DTT (GUTIERREZ et al., 2009; LOVAAS 1987; LERMAN; VALENTINO; LEBLANC, 2016). Essa forma de ensinar foi primeiro introduzida por Wolf, Risley e Mees (1964) e elaborada extensivamente por Lovaas (1977), tornando-se um método de ensino bastante usual no tratamento comportamental de crianças com TEA (LEAF; MCEACHIN, 1999; MAURICE; GREEN; LUCE, 1996; WONG et al., 2014). A disseminação do DTT como estratégia de ensino para crianças com TEA ganhou repercussão a partir do estudo de O. Ivar Lovaas (1987). Conforme descrito no Capítulo 2, o autor apresentou resultados validando o uso de princípios comportamentais em um programa de Intervenção Intensivo e Precoce (Early and Intensive Behavioral Intervention – EIBI) com crianças com TEA de idade cronológica inferior a 46 meses e em um sistema de ensino pautado na estrutura DTT. Os resultados mostraram que 47% dos participantes do grupo experimental alcançaram funcionamento intelectual normal e bom desempenho na primeira série de uma escola pública. Desde então, uma extensa quantidade de estudos (LEAF; MCEACHIN, 1999; SMITH, 2001; LERMAN et al., 2016; MAURICE et al., 1996; WONG et al., 2014) foi produzida demonstrando a importância dessa estratégia de ensino e investigando variáveis que poderiam torná-la ainda mais eficiente. ESTRUTURA DO ENSINO POR TENTATIVAS DISCRETAS Uma tentativa discreta deve ser estruturada considerando, pelo menos, cinco elementos: estímulos discriminativos, ajudas e dicas, resposta, consequências e intervalo entre tentativas (SMITH, 2001). Estímulos Discriminativos Estímulos discriminativos são propriedades do ambiente que indicam qual será a resposta bem-sucedida em um dado contexto (CATANIA, 1998/1999). No ensino por tentativas discretas, essas propriedades do ambiente devem incluir como e a que o aprendiz deve responder (LAYNG; SOTA; LEON, 2011). Instruções curtas e claras (SMITH, 2001), como: “Levante o pé”, “Pegue a bola”, “Guarde o carro” especificam como o aprendiz deve se comportar em relação a propriedades do ambiente que estabelecem a ocasião para resposta. A presença de objetos, eventos, entre outros, especifica a que o aprendiz deve responder. Por exemplo, para que o comportamento de pegar uma bola ocorra, dada a instrução “Pegue a bola”, esta bola deve estar visível e presente, preferivelmente, dentre uma quantidade delimitada de outros elementos (LERMAN et al., 2016), mesa com bola, boneca e pião. Portanto dois elementos são fundamentais: um referente à apresentação da instrução que especifica a resposta a ser reforçada (pegar), o outro é a própria bola, que específica o estímulo que controla a resposta da criança. Dicas (Ajudas) Algumas respostas podem ser mais bem-sucedidas do que outras, dependendo do repertório39 do aprendiz. Quando a criança encontra alguma dificuldade na execução de tarefas, podem ser necessárias dicas 187 ou ajudas (prompts). Uma dica é um tipo de ajuda que encoraja a resposta requerida pela tarefa e é utilizada temporariamente para evocar a resposta correta durante as sessões iniciais do ensino de uma nova habilidade (MUELLER; PALKOVIC; MAYNARD, 2007). O profissional pode escolher entre duas categorias de dicas: dicas de estímulo e dicas de resposta (GROW; LEBLANC, 2013). As dicas de estímulo são modificações realizadas nos materiais utilizados para o ensino. Exemplos comuns incluem aumentar o tamanho ou alterar a cor para enfatizar um aspecto do estímulo e conduzir a criança à emissão da resposta correta. Já nas dicas de resposta, é o comportamento do profissional que ocasiona a resposta correta, por exemplo, quando o instrutor dá uma instrução verbal, fornece o modelo de como realizar uma tarefa, aponta para o estímulo visual correto em um conjunto de figuras ou guia fisicamente a criança à resposta desejada (GROW; LEBLANC, 2013). Nesse segundo tipo de dica, diante da instrução “Cadê o pente?”, o terapeuta pode apontar para a resposta correta (dica gestual), pode ainda esperar um movimento da criança e então auxiliá-la a tocar o objeto (ajuda física parcial), ou pode guiar fisicamente o movimento completo (ajuda física total), entre outras formas de dica. Essas dicas devem ser programadas de modo a garantir maior aprendizagem com o mínimo de erros possível – “aprendizagem sem erros” (SOLUAGA et al., 2008). Em algumas situações, é possível que a resposta requerida já faça parte do repertório do aprendiz, mas ela precisa ocorrer sob o controle de estímulos discriminativos diferentes dos que controlam a resposta no momento presente. Por exemplo, Pedro pode conseguir repetir a palavra “Pedro”, caso alguém dê o modelo. Assim, para ensiná-lo a responder qual o seu nome, o terapeuta pode apresentar a instrução “Qual o seu nome”, seguido da dica vocal (dica de resposta) “Pedro”. Caso a criança responda corretamente, a dica pode ser gradualmente modificada, por exemplo, falando cada vez mais baixo até que a ajuda seja completamente retirada (MARTIN; PEAR, 1992/2009). Essa estratégia de ensino chama-se esvanecimento e ocorre quando há mudança gradual em um estímulo, ao longo de repetições sucessivas, de modo que a resposta passe a ocorrer diante de um estímulo modificado ou completamente novo (DIETZ; MALONE, 1985). Três tipos de esvanecimento de dica têm sido extensivamente documentados e investigados: a) mais-para- menos, b) menos-para-mais e c) atraso de dica. No esvanecimento mais-para-menos, inicia-se o ensino com dicas mais invasivas e gradativamente se reduz os níveis de ajuda. Por exemplo, quando é necessário ensinar a imitação motora, pode-se iniciar o processo com o terapeuta pegando as partes do corpo que serão utilizadas e realizando o movimento todo com ajuda física. Após um critério de aprendizagem preestabelecido, diminui-se o nível de dica física, com o terapeuta apenas tocando suavemente a parte do corpo a ser utilizada. Pode-se passar, então a apenas apontar para a parte do corpo a ser utilizada até que a apresentação do modelo e da instrução verbal sejam suficientes para controlar o comportamento da criança. Estudos mostram que essa estratégia produz menos erros na aprendizagem, mas também costuma resultar na necessidade de mais tempo para o alcance de critério de aprendizagem (LIBBY et al., 2008). Esse procedimento tem sido administrado com resultados eficientes no ensino de uma série de habilidades tais como jogos (LIBBY et al., 2008), atividades de vida diária (MASSEY; WHEELER, 2000) e linguagem receptiva (LEAF et al., 2014), dentre outros. No esvanecimento menos-para-mais, inicia-se o procedimento com dicas menos invasivas e ocorre a introdução de dicas mais intrusivas, caso a criança necessite de maior auxílio (HECKMAN et al., 1998; LIBBY et al., 2008). A dica é gradualmente apresentada de forma mais completa (“Eu quero”, “Eu quero suco”) até a criança responder corretamente. Quando comparado ao procedimento da dica mais intrusiva para a menos intrusiva, esse procedimento leva a uma aprendizagem mais rápida (menor número de tentativas), no entanto acaba por proporcionar oportunidades para uma maior emissão de respostas incorretas (LIBBY et al., 2008). Habilidades ensinadas com esta estratégia incluem o brincar independente (LIBBY et al., 2008), habilidades de vida diária (MURZYNSKI; BOURRET, 2007), comportamento verbal (HUMPHREYS et al., 2013) e jogar tênis (YANARDAG, et al., 2011). 188 O esvanecimento por atraso de dica pode ser de duas modalidades: atrasos constantes ouprogressivos. Em atrasos de dica constantes, a dica é utilizada caso a resposta da criança não ocorra após um período de tempo pré-determinado, por exemplo, três segundos. Em atrasos de dica progressivos, o atraso é progressivamente ampliado visando a esperar pela resposta do aprendiz (SOLUAGA et al., 2008). Algumas estratégias podem ser utilizadas de modo combinado, por exemplo, utilizando procedimento de mais-para- menos combinado ao atraso da dica (LIBBY et al., 2008). O uso de atraso de dicas, quando utilizado no esvanecimento de dicas físicas e gestuais, costuma produzir respostas independentes mais rapidamente (LIBBY et al., 2008). Apesar de procedimentos de aprendizagem sem erro serem amplamente utilizados e estudados, algumas pesquisas recentes sugerem que essas abordagens podem levar à dependência excessiva de dicas e dificultar o fortalecimento de respostas independentes (LEAF et al., 2014). Em virtude disso, além dos procedimentos mais convencionais, outras técnicas têm sido desenvolvidas. Um exemplo é a técnica de dicas flexíveis (flexible prompting fading), na qual o terapeuta não emprega um sistema de dicas estruturado. Nesse caso, a partir do pressuposto de que se deve utilizar a menor dica necessária, o terapeuta utiliza seu próprio julgamento para disponibilizar a dica em uma determinada tentativa (SOLUAGA et al., 2008). Sobre o “flexible prompting”, mais estudos precisam ser conduzidos buscando identificar sob quais situações sua utilização pode ser eficiente e descrição de quais habilidades do terapeuta são necessárias para a condução do procedimento. Resposta Para que o terapeuta tenha condições de avaliar com clareza o nível de dificuldade da criança, bem como sua quantidade de acertos e erros na execução da tarefa, a resposta esperada precisa ser um comportamento observável, rápido e simples de ser mensurado, tal como, tocar o objeto selecionado ou se levantar (diante da instrução “Levanta”). Respostas de apontar, tocar ou entregar um estímulo são respostas simples que possibilitam o ensino de uma variedade de relações entre elementos de diferentes modalidades, tais como relações auditivo-visuais (selecionar boneca, diante da instrução “Pegue a boneca”) e visuais-visuais (selecionar a palavra impressa boneca, diante da figura da boneca). Outras habilidades exigem respostas mais complexas. Quando o aprendiz não possui presteza para execução da resposta, por exemplo, execução do movimento com força, intensidade ou duração adequada, é possível utilizar um procedimento chamado modelagem, o qual foi descrito em detalhes no Capítulo 5. Nesse procedimento, são reforçadas respostas cada vez mais próximas da resposta final até que o comportamento seja executado da forma planejada (MARTIN; PEAR, 1992/2009). De forma geral, o DTT associado à modelagem tem sido documentado como um método muito eficiente para o ensino de habilidades que implicam uma variedade de movimentos, por exemplo, imitações ou comportamento ecoico (SMITH, 2001). Consequências A apresentação de consequências reforçadoras para o estabelecimento e manutenção de comportamento é o componente mais importante do DTT. Sem consequências reforçadoras, são impossíveis o ensino e o fortalecimento de qualquer comportamento operante (ver Capítulo 5). Sendo assim, avaliar se as consequências programadas são eficientes para atuar como reforçadores é fundamental. Para a seleção inicial de reforçadores, é possível utilizar técnicas de avaliação de preferência (ESCOBAL et al. 2010; FISHER et al., 1992; DELEON; IWATA, 1996). Há métodos indiretos de avaliação, por exemplo, entrevistas com pais e cuidadores ou checklists, e há métodos diretos: observações em situações de operante livre, avaliação de preferência de estímulo único; avaliação com pares de estímulos e avaliação com estímulos múltiplos (CLAUSEN, 2006). Cada um desses métodos apresenta vantagens e desvantagens e devem ser avaliados a cada caso. Uma discussão detalhada acerca de cada um destes métodos de avaliação de preferência é apresentada no Capítulo 7 deste livro. 189 Algumas observações são importantes em relação a avalições de preferência. A primeira é sempre lembrar que, apesar de indicarem possíveis reforçadores, não se pode afirmar que um item de preferência é reforçador até que seja testado como tal (LOGAN; GAST, 2001; PACE et al., 1985; PIAZZA et al., 1996). A segunda observação diz respeito ao fato de que a preferência por determinados estímulos é temporária, sendo necessária uma avaliação constante dos elementos utilizados como reforçadores (COOPER et al., 2007; ESCOBAL et al., 2010). Outra questão importante diz respeito ao uso excessivo de reforçadores levando à saciação, ou, a problemas de saúde, no caso de comestíveis (MACEDO; ESCOBAL; GOYOS, 2013). Para prevenir o emprego excessivo dos reforçadores, outra estratégia bastante conhecida e utilizada é a economia de fichas. Nessa estratégia, o indivíduo recebe fichas pela emissão de respostas corretas e depois troca-as por itens de sua preferência (MARTIN; PEAR, 1992/2009). Nessa situação, se o comportamento-alvo for estabelecido e mantido, pode-se dizer que as fichas se tornaram reforçadores generalizados e podem, em ensino, substituir o acesso aos reforçadores de modo contínuo ou muito frequente. Ainda sobre a manipulação de consequências reforçadoras para o ensino, é essencial o planejamento do esquema de reforçamento adequado para o ensino de uma determinada habilidade. Lee, McComas e Jawor (2002) discutem a importância de esquemas de reforço para a produção de variabilidade, generalização e potencial controle de estímulo em variadas respostas verbais para três pessoas com TEA. De forma geral, o uso de um esquema de reforçamento contínuo, no qual a consequência é apresentada de forma imediata após cada resposta correta, é mais eficiente para o ensino (aquisição) de uma habilidade. Esquemas de reforçamento intermitente são mais eficientes para manter comportamentos já estabelecidos. O emprego do esquema de reforçamento adequado é essencial para o sucesso do ensino e manutenção das habilidades alvo, bem como para sua generalização para novas situações (CATANIA, 1998/1999). Outro aspecto essencial em relação a consequências utilizadas em DTT é decidir o que será feito em casos de respostas incorretas ou não respostas. Dentre as possibilidades, o terapeuta pode não apresentar nenhuma consequência ou apresentar procedimentos de correção, tal como dizer: “Não. Tente de novo” (Smith, 2001). Outros procedimentos incluem a apresentação de procedimentos remediativos com a apresentação da resposta correta: “Essa é a resposta correta” (LEAF et al., 2014). Intervalo Entre Tentativas Após a apresentação das consequências programadas, utilizam-se pausas que demarcam o fim de uma tentativa e o início de outra. Esse intervalo é importante para dar tempo para que o aprendiz tenha acesso ao reforçador, por exemplo, brincar ou consumir o item de preferência. Para o terapeuta, o intervalo também possibilita tempo para registro e organização dos materiais necessários para a tentativa seguinte. A duração do intervalo pode ter relação direta sobre o desempenho da criança, tempo de conclusão do procedimento e estabilidade do desempenho (HOLT; SHAFER, 1973). Sobre esse componente da DTT, Koegel, Dunlap e Dyer (1980) demonstraram que pausas breves (1 a 3 segundos) foram mais eficientes (na quantidade de respostas corretas, rapidez da aquisição de critério e melhora no desempenho) do que pausas mais longas (5 a 26 segundos). Esses achados foram confirmados em estudos subsequentes (CARIVEAU; KODAK; CAMPBELL, 2016; DUNLAP; DYER; KOEGEL, 1983). Portanto deve-se levar tais estudos em consideração quando programas de ensino são implementados. Quantidade de Tentativas e de Sessões Diárias A quantidade de tentativas discretas é pré-determinada dependendo do programa de ensino, podendo ser programados blocos com poucas tentativas, umaa 10 tentativas, ou blocos maiores com 11 ou mais tentativas (SMITH, 2001). O tempo de intervenção nesse formato de ensino também pode variar dependendo do programa e de características individuais do aprendiz. A duração da intervenção pode variar de poucos minutos até várias horas. Quando há muitas sessões de tentativas discretas, as sessões podem ser curtas, 2 a 5 minutos seguidas 190 por 1 a 2 minutos de intervalo. Os aprendizes também podem receber 10 a 15 minutos de intervalo a cada uma ou duas horas de ensino (SMITH, 2001). A questão de quanto tempo diário crianças em programas de intervenção intensiva devem ser submetidas a procedimentos de DTT ainda não é consenso na literatura. Atualmente, há poucos dados para fundamentar essa discussão visto a diversidade de repertórios dos estudantes e programas aos quais eles são submetidos. Ainda assim, argumenta-se que o procedimento de ensino de DTT constitui-se como a principal forma de ensino no modelo EIBI apresentadas nas propostas de Lovaas (1981, 1987). A quantidade de horas de intervenção intensiva varia de 20 a 40, sendo documentados resultados melhores em cargas horárias maiores de intervenção (FOXX, 2008; LOVAAS, 1987; REICHOW et al., 2012). ALGUMAS INDICAÇÕES PARA O USO DE DTT DTT e Discriminações Condicionais Discriminações condicionais são um repertório em que a resposta correta depende da relação entre dois estímulos antecedentes. Por exemplo, diante da instrução “Pegue a bola”, a resposta correta depende da relação entre a palavra bola e o objeto bola. Geralmente esse tipo de discriminação é ensinada em tarefas de Pareamento com o Modelo (Matching to sample – MTS) e são importantes para o ensino de comportamento de ouvinte e para o ensino de performance visual, tais como pareamentos e categorizações (DE ROSE, 2004) e relações entre estímulos com diferentes modalidades sensoriais. Nesse procedimento, a cada tentativa, um estímulo (chamado de condicional) é apresentado como modelo. São apresentados outros elementos como opções de escolha (estímulos de comparação). A escolha correta (seleção do estímulo de comparação com função discriminativa) depende do modelo apresentado (SIDMAN; TAILBY, 1982). A relação entre os estímulos antecedentes (condicional e discriminativo) pode variar desde relações em que ambos possuem identidade física (pareamento por identidade ou identity matching to sample) até pareamentos em que os estímulos não apresentam características comuns, dependendo apenas da história de aprendizagem estabelecida (arbitrary matching to sample), por exemplo, a palavra bola e o objeto bola (DE ROSE, 2004). A quantidade de elementos apresentados enquanto estímulos de comparação pode variar de acordo com o repertório da criança. Há pesquisadores que defendem que a quantidade mínima de comparações apresentada deve ser três para evitar falsos resultados positivos (SIDMAN, 1987), ou seja, resultados que aparentemente demonstram aprendizagem, mas que provavelmente foram obtidos por acaso e não por habilidade do aprendiz. Há pesquisadores que defendem que, dependendo do repertório do indivíduo, a utilização de duas comparações podem ser uma importante estratégia de ensino inicial para aprendizes com repertórios muito incipientes (BOELENS, 2002; BOELENS; BROEK; KLARENBOSCH, 2000). Outra possibilidade é, seguindo a trajetória de ensino sugerida em Dube e McIlvane (1996), iniciar o ensino com discriminações simples e sucessivas para posterior ensino de discriminações condicionais. Ensino de Outros Comportamentos Novos Quando um comportamento ainda não faz parte do repertório comportamental do aprendiz, é necessário ensinar novas formas de se comportar. O DTT pode ser empregado para o ensino de novos movimentos, vocalizações, fonemas, palavras, língua de sinais (KURT, 2011; YOUNG et al., 1994), comportamento verbal (GOLDSMITH; LEBLANC; SAUTTER, 2007; JAHR, 2001), comportamento de ouvinte, habilidades de autocuidado; comportamento simbólico (KELLEY et al., 2007), habilidades de tomada de perspectiva (GOULD et al., 2011); entre outros. DTT e Manejo de Problemas de Comportamento Problemas de comportamento podem ser frequentes em várias populações. Em relação a pessoas com TEA, alguns aprendizes podem tentar escapar ou evitar variadas situações de ensino ou pedidos que os adultos fazem (SMITH, 2001). Para o manejo de problemas de comportamento que ocorrem em situações de fuga da tarefa, é possível pensar em alternativas baseadas em estratégias clássicas para controle de comportamentos de fuga e esquiva. Assim, durante a DTT, é importante analisar a tarefa de modo que essas 191 sejam adequadas ao repertório da criança, ou seja, com alta probabilidade de acerto, ainda que seja com ajuda. Nesse contexto, o terapeuta também pode reforçar respostas corretas e ignorar os esforços da criança para escapar da situação de ensino (PIAZZA; MOES; FISHER, 1996). Outra questão fundamental e frequentemente omitida é a relevância de estabelecer um vínculo com a criança. Em termos práticos, é importante dar tempo para que ela sinta-se a vontade com o profissional, que deve parear-se com atividades divertidas e a entrega de reforçadores (SUNDBERG; PARTINGTON, 1998). Outras variáveis que podem colaborar para aumentar a probabilidade no engajamento da tarefa são intercalar tarefas fáceis e difíceis, dar intervalos regulares, mostrar nível apropriado de entusiasmo e usar brinquedos e materiais apropriados à idade e ao gênero da criança. OUTRAS POSSIBILIDADES DE APRESENTAÇÃO DOS ESTÍMULOS Em tarefas de pareamento com o modelo, os estímulos de comparação costumam ser apresentados na mesa ou no chão, na forma de objetos 3-D, cartões, fotos ou figuras – 2D ou digitalmente pelo computador, tablet ou celular. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos métodos de escolha e de apresentação de estímulos que podem ser utilizados para garantir a randomização eficiente e organização dos estímulos bi e tridimensionais. Dentre os recentemente utilizados, está o caderno de tentativas propostos por Sousa, Souza e Gil (2013) com estímulos bidimensionais e adaptado por Almeida (2014) para utilização em estímulos tridimensionais. O caderno era composto por folhas em papel cartão para afixar os estímulos e folhas em branco, representando o intervalo entre tentativas. Os estímulos tridimensionais eram apresentados em bolsos plásticos transparentes (ALMEIDA, 2014). O caderno de tentativas pode ser uma possibilidade interessante para impedir o acesso aos estímulos de comparação em situações nas quais as consequências programadas não podem estar relacionadas ao acesso ao objeto, por exemplo, no ensino do repertório de ouvinte ou operantes verbais como tato, que para serem ensinados em sua modalidade “puro”, o responder deve ficar sob controle apenas dos reforçadores sociais. Outra possibilidade é garantir randomização e organização dos estímulos de forma a prevenir erros do implementador durante a condução do procedimento, o que pode configurar uma vantagem, principalmente para terapeutas inexperientes. ESTRATÉGIAS DE REGISTRO E MENSURAÇÃO Conforme discutido no Capítulo 10, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) demanda que a observação direta e registros dos comportamentos-alvo sejam realizados de forma sistemática e objetiva. O ensino por DTT permite monitorar o progresso do aprendiz de modo bastante preciso. Para isso, é importante desenvolver formas de mensuração e de registro do desempenho de modo a produzir dados confiáveis e fidedignos. A esse respeito, Sidman (1980) adverte sobre a importância do desenvolvimento de medidas precisas para evitar conclusões equivocadas sobre o desempenho do aprendiz. Sendo assim, é necessário desenvolver sistemas de registro adequados aos objetivos de ensino e que avaliem de forma clara a aprendizagem do indivíduo. Cooper et al. (2007) comentam que a mensuração permite avaliar a efetividade do tratamento e sua legitimidade como prática baseadaem evidências. A elaboração e a implementação da coleta de dados implicam treinamento do terapeuta a fim de garantir confiabilidade dos resultados. Danna e Mattos (1999) advertem que registros de observações comportamentais devem especificar em que situações as observações serão realizadas, quais circunstâncias ambientais devem ser consideradas e quais os comportamentos específicos que serão analisados. Para a maior acurácia do registro, é comum a recomendação de gravar as sessões de ensino e pedir que um segundo observador verifique se o desempenho foi aquele registrado pelo terapeuta, resumir o desempenho em blocos de tentativas e grafar os dados obtidos e examiná-los com frequência para tomar decisões sobre o progresso do aluno e as alterações potenciais do programa (CAREY; BOURRET, 2014; LERMAN et al., 2016). Em caso de ensino de pareamento com o modelo por tentativas discretas, é necessário planejar o ensino de modo a garantir que o responder está sob controle do modelo e não sob controle de uma preferência por objeto ou preferência por posição. Desempenhos comuns a serem evitados são: a seleção consistente de um 192 determinado estímulo de comparação independente da instrução dada (seleção por preferência do objeto) ou selecionar sempre o estímulo que estiver na mesma posição, por exemplo, resposta sempre à esquerda. Para evitar estes vieses no responder, a disposição dos estímulos pode variar a cada tentativa, e quantidade de respostas corretas deve ser contrabalanceada em todas as diferentes posições em que o estímulo pode estar. A Figura 1 apresenta um exemplo de protocolo de ensino com detalhes do procedimento, estímulos antecedentes e consequentes apresentados pelo terapeuta, resposta do aprendiz, exemplo de randomização e contrabalanceamento de respostas corretas. O grau de detalhamento do protocolo depende das habilidades do terapeuta e das habilidades do aprendiz. Em geral, para aprendizes com mais dificuldade, protocolos mais bem detalhados garantem controle do desempenho para dar maiores possibilidades de posteriores alterações no procedimento, caso seja necessário. Aprendizes mais rápidos podem não necessitar de protocolos tão detalhados o que agiliza o registro e exige menos habilidade do terapeuta. Exemplos de protocolos de registro mais simplificados podem ser encontrados em Gomes e Silveira (2016). 193 194 FIGURA 1 - PROTOCOLO DE REGISTRO PARA O ENSINO DE TAREFA DE PAREAMENTO COM O MODELO POR IDENTIDADE FONTE: elaborada pelas autoras Os sistemas de registro podem ser contínuos (respostas corretas, incorretas e níveis de ajuda são registrados tentativa por tentativa) ou descontínuos (apenas uma amostra de dados é registrada, por exemplo, a primeira tentativa ou a primeira e a última tentativa). Ambas as formas de medida apresentam vantagens e desvantagens. Registros contínuos produzem resultados gerais mais confiáveis, mas podem aumentar a duração da sessão e influenciar outros componentes que, como mencionados anteriormente, interferem na aprendizagem (imediaticidade do reforço e intervalos curtos entre tentativas). Por outro lado, registros descontínuos podem ser mais rápidos e fáceis, mas podem produzir uma amostra insuficiente para atestar aprendizagem (CUMMINGS; CARR, 2009). No presente capítulo, optou-se por apresentar sistemas de registro contínuos devido a maior acurácia da coleta de dados. CRITÉRIOS DE APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIAS DE MANUTENÇÃO E GENERALIZAÇÃO Critério de aprendizagem refere-se ao critério escolhido para determinar que o aprendiz domina a tarefa sendo ensinada. No DTT, esse critério comumente se refere a uma determinada quantidade de tentativas em que a resposta correta é emitida (o aprendiz deverá emitir respostas corretas em 12 tentativas consecutivas ou seis tentativas corretas em dois dias consecutivos). Esses critérios variam de acordo com a natureza da atividade e o repertório do aprendiz. Sobre o desenvolvimento de critérios que atestem aprendizagem, Sidman (1960) discute que tais critérios devem ser sensíveis o suficiente para mensurar modificações permanentes do desempenho, ou seja, as mudanças no comportamento devem perdurar enquanto vigorarem as contingências programadas. Essa estabilidade do desempenho pode ser observada através de medidas repetidas do desempenho e/ou em sessões consecutivas. Cooper et al. (2007) exemplificam um critério de 10 tentativas consecutivas com acerto em uma tarefa de discriminação de vogais “longas” e “curtas” inseridas em palavras. Gomes e Silveira (2016) sugerem que, em tarefas de imitação, sejam apresentados blocos de ensino de quatro tentativas (bater palmas), e que o critério de aprendizagem seja três blocos com 100% de acerto em cada um. Sousa, Löhr, Almeida, Oliveira e Gil (2014) apontam que critérios mais flexíveis, por exemplo, cinco acertos em seis tentativas para o ensino de duas relações palavra-objeto podem ser úteis para o ensino com crianças muito pequenas. A eficiência dos critérios pode ser avaliada em testes de manutenção das habilidades adquiridas. Caso o aprendiz não apresente desempenho compatível com a aprendizagem em testagem após conclusão do programa, a habilidade deve ser novamente apresentada, com revisão do procedimento e dos critérios de aprendizagem. Após o alcance de critério de aprendizagem, devem ser elaborados programas para garantir a generalização e manutenção das habilidades já ensinadas para ambientes naturais. Para isso, é necessário avaliar quais são os reforçadores disponíveis para a manutenção da tarefa e sob o controle de quais estímulos a generalização é adequada. Stokes e Baer (1977) descrevem algumas sugestões que podem aumentar a probabilidade de generalização tais como: ensino da habilidade com vários e diversificados exemplares, utilizar outras pessoas do ambiente natural como coterapeutas no processo de generalização e reforçar a ocorrência de respostas adequadas em contextos diferentes daqueles em que foram ensinadas. Gomes e Silveira (2016) sugerem seis meses de manutenção em ambiente natural após a conclusão do programa. Além disso, o treinamento dos pais, relativo aos programas de ensino e habilidades adquiridas, torna mais provável a generalização (SCHREIBMAN, 2000). Apesar de várias possibilidades de programas de generalização, avaliações sistemáticas de estratégias de generalização ainda são escassas na literatura (LERMAN et al., 2016). 195 IMPLEMENTAÇÃO DO DTT Após treinamento adequado, não apenas analistas do comportamento são capazes de implementar satisfatoriamente o procedimento40: pessoas de diferentes níveis de instrução e formação, como diferentes profissionais de saúde, educação, pais, cuidadores e estudantes de graduação também podem conduzir programas desenvolvidos e supervisionados por analistas do comportamento. Uma modalidade de treinamento para implementadores, o Treinamento em Habilidades Comportamentais (do inglês Behavioral Skills Training – BST), é uma abordagem baseada em evidências comumente usada para treinar habilidades de DTT. O treinamento inclui um pacote de ensino composto por instruções, modelagem, ensaio e feedback. Os critérios de aprendizagem são baseados no desempenho das pessoas sendo treinadas para determinar quando um implementador está apto a conduzir um programa de ensino de forma independente (MILTENBERGER, 2003). É importante salientar, porém, conforme destacado em outros capítulos deste livro, que, apesar da implementação de procedimentos de DTT poder ser realizada por diversas pessoas, o desenvolvimento de programas e procedimentos de ensino e as decisões acerca da continuidade ou mudança nesses programas e procedimentos exigem conhecimento conceitual consistente da Análise do Comportamento, como ciência experimental e aplicada. Portanto qualquer trabalho que envolva a chamada ABA exige que haja profissionais que tenham, pelo menos, Mestrado na área e tenham domínio e fluência dos
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