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MONOGRAFIA_-_C G _JUNG (2)

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
 
 
 
 
 
MIGUEL ZEHETMEYER BERGMANN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARL GUSTAV JUNG 
Vida, obra e impacto na religião 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Canoas, RS 
2017 
 
 
MIGUEL ZEHETMEYER BERGMANN 
 
 
 
 
CARL GUSTAV JUNG 
Vida, obra e impacto na religião 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Monografia elaborada e apresentada como 
requisito parcial de avaliação do grau 2 da 
disciplina de História da Igreja Moderna e 
Contemporânea sob orientação do Professor 
Dr. Paulo Wille Buss. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Canoas, RS 
2017 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho tem como objetivo apresentar detalhes sobre a vida e obra de Carl 
Gustav Jung. O estudo possui o caráter de pesquisa e abordará os seguintes aspectos: 
biografia; teorias e principais conceitos; e impacto na religião. Em meio há tempos bem 
difíceis, com duas guerras mundiais, época em que os estudos sobre o comportamento 
humano tomavam os seus primeiros rumos, principalmente por meio de Sigmund Freud, 
Jung foi, sem sombra de dúvidas, um dos pensadores psicológicos mais importantes, 
complexos e controversos; sua obra teve grande impacto na psicologia, antropologia, 
história e estudos religiosos. A teoria de Jung atraiu muitos seguidores e é cada vez mais 
popular. A psicologia analítica e as aplicações de suas ideias na orientação vocacional, 
no desenvolvimento organizacional e na crítica literária atestam sua grande influência nos 
dias atuais. O conceito de Jung sobre o inconsciente coletivo foi, certamente, sua maior 
contribuição para a psicologia. Interessante, também, é ressaltar o quanto o fator místico 
e religioso influenciou na construção de seus conceitos e de suas teorias. 
 
 
Palavras-chave: Jung. Inconsciente coletivo. Individuação. Religiosidade. Místico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ZUSAMMENFASSUNG 
 
 
Die vorliegende Arbeit zielt darauf ab, Details über das Leben und Werk von Carl Gustav 
Jung zu präsentieren. Die Studie hat den Charakter der Forschung und wird sich mit den 
folgenden Aspekten befassen: Biographie; Theorien und Hauptkonzepte; und 
Auswirkungen auf die Religion. Inmitten sehr schwieriger Zeiten, mit zwei Weltkriegen, 
als das Studium des menschlichen Verhaltens vor allem durch Sigmund Freud seinen 
ersten Gang nahm, war Jung ohne Zweifel einer der wichtigsten, komplexesten 
psychologischen Denker und kontrovers; seine Arbeit hatte großen Einfluss auf 
Psychologie, Anthropologie, Geschichte und Religionswissenschaften. Jungs Theorie hat 
viele Anhänger angezogen und wird immer beliebter. Analytische Psychologie und die 
Anwendung ihrer Ideen in Berufsberatung, Organisationsentwicklung und Literaturkritik 
zeugen von ihrem großen Einfluss in der Gegenwart. Jungs Konzept des kollektiven 
Unbewussten war sicherlich sein größter Beitrag zur Psychologie. Es ist auch interessant 
zu bemerken, wie viel der mystische und religiöse Faktor die Konstruktion seiner 
Konzepte und seiner Theorien beeinflusste. 
 
 
Schlüsselwörter: Jung. Kollektives Unbewusstes. Individuation. Religiosität. Mystisch. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO................................................................................05 
1. BIOGRAFIA DE JUNG..............................................................06 
1.1 Infância e juventude.................................................................06 
1.2 Vida adulta e profissional........................................................06 
1.3 Velhice.....................................................................................08 
2. TEORIAS E PRINCIPAIS CONCEITOS................................09 
2.1 Conceito amplo........................................................................09 
2.2 Jung e Freud............................................................................10 
2.3 Psicologia analítica..................................................................11 
2.4 Principais aspectos da teoria....................................................11 
2.5 Principais conceitos.................................................................12 
3. IMPACTO NA RELIGIÃO........................................................15 
3.1 Primeiras experiências de Jung com a religião........................15 
3.2 Jung sobre a religião................................................................16 
3.3 Jung sobre Deus.......................................................................19 
3.4 Jung sobre Jesus Cristo............................................................21 
3.5 Jung sobre a Trindade..............................................................22 
CONCLUSÃO...................................................................................24 
BIBLIOGRAFIA..............................................................................25 
 
 
 
5 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Em meio à uma família de pastores protestantes, tendo um pai desempenhando a mesma 
função, surge Carl Gustav Jung. Desde cedo, o jovem Jung começa a se questionar sobre a 
maneira com que seu pai lidava com sua religiosidade. Após alguns sonhos e visões sobre Deus, 
ele decide procurar sua própria maneira de encarar a religião, o que se dá através de experiências 
diretas, fato que influenciou fortemente a formação de suas teorias e conceitos. 
Jung viveu em tempos difíceis, atravessou duas guerras mundiais, experiência que lhe 
possibilitou aprofundar alguns de seus conceitos. Freud foi, inicialmente, um grande 
influenciador e mentor de Jung. A obra psicanalítica freudiana foi acolhida com grande 
entusiasmo pelo jovem psicólogo. No entanto, com o passar do tempo, algumas divergências 
foram surgindo, o que, mais tarde, levou ao rompimento entre ambos. A partir de então, Jung 
trilha seus próprios passos e desenvolve a psicologia analítica, a qual se difundiu e recebe 
grande atenção e aceitação ainda nos dias atuais. 
Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo fazer um estudo sobre a vida e obra 
de Carl Gustav Jung. O primeiro capítulo traz uma biografia sobre a vida de Jung, são 
apresentados alguns dos fatos que marcaram a trajetória de sua vida, desde a infância, até sua 
velhice. O segundo capítulo traz, de forma resumida, uma visão ampla e geral sobre as 
principais teorias e conceitos da psicologia junguiana. Por fim, o terceiro capítulo apresenta o 
impacto que Jung causou na religião, seus sonhos e visões – segundo ele, “experiências diretas 
com Deus” – influenciaram suas teorias e conceitos, causando um impacto tanto na igreja, 
quanto na comunidade científica da época. Apesar da forte ênfase que Jung dá ao fator 
religiosidade, fica evidente que a psicologia analítica junguiana não se ocupa com aspectos 
teológicos, soteriológicos ou escatológicos da religião, mas a compreende como um elemento 
natural e próprio do ser humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1. BIOGRAFIA DE JUNG 
 
1.1 Infância e juventude 
 
Carl Gustav Jung nasceu no presbitério de Kesswill, cantão de Turgan, Suíça, em 26 de 
julho de 1875 (CALLUF, 1969, p. 13).1 Até a idade de 9 anos, quando nasceu sua irmã, Jung 
viveu uma infância pouco isolada, a qual preencheu brincando sozinho e desenvolvendo um 
rico mundo interior (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 89).2 Seu pai e vários tios maternos 
foram pastores protestantes (CALLUF, 1969, p. 13). Ainda quando criança, Jung suspeitava 
que seu pai não acreditava genuinamente nos ensinamentos da igreja mas temia enfrentar suas 
dúvidas com honestidade. Sua mãe era emocionalmente instável e, segundo ele, tinha poderes 
sobrenaturais (CLONINGER, 1999, p. 77).3 Quando chegou a hora de ingressar na 
universidade, Jung escolheu estudar medicina como um modo de conciliar seus interesses tanto 
pela ciência quanto pelas humanidades (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 90). 
 
 
1.2 Vida adulta e profissional 
 
Em 1900, formou-semédico pela Universidade de Basiléia, começando sua atividade 
psiquiátrica no Hospício Cantonal (CALLUF, 1969, p. 13) e atuando como médico residente 
no Hospital Burghölzli, em Zurique, um dos centros psiquiátricos mais progressistas da Europa. 
Zurique passou a ser seu lar permanente (FADIMANN & FRAGER, 2004, p. 91). Em 1903, 
Jung casou-se com Emma Rauschenbach, de Schaffhausen, com a qual teve cinco filhos e lhe 
foi uma valiosa colaboradora. Jung amou profundamente sua família e passava muito tempo 
com ela (VON FRANZ, 1975, p. 25).4 
Em 1905, aos 30 anos de idade, tornou-se professor da Universidade de Zurique e 
médico superior na clínica psiquiátrica. Nesta época, ele já havia descoberto os escritos de um 
 
1 CALLUF, Emir. Sonhos, complexos e personalidade: a psicologia analítica de C. G. Jung. 1ed. São Paulo: 
Editora Mestre Jou, 1969. 
 
2 FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e crescimento pessoal. Tradução de Daniel Bueno. 5ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2004. 
 
3 CLONINGER, Susan C. Teorias da personalidade. Tradução de Claudia Berliner. 1ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1999. 
 
4 VON FRANZ, Marie Louise. C. G. Jung – seu mito em nossa época. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. 
Título original: “C. G. Jung – His myth in our time”. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda, Círculo do Livro S.A., 
1975. 
7 
 
homem que se tornaria um importante professor e mentor, este era Sigmund Freud 
(FADIMANN & FRAGER, 2004, p. 91). Jung acolheu com entusiasmo a obra psicanalítica de 
Freud e a defendeu em seus próprios escritos profissionais, apesar das controvérsias de que era 
alvo. Após um período de correspondências cheias de mútua admiração, ambos se encontraram 
no consultório de Freud em Viena. Esse primeiro encontro durou treze horas, confirmando o 
interesse e respeito mútuo entre ambos. As correspondências entre eles continuaram e, em 1909, 
viajaram juntos aos Estados Unidos para apresentar a psicanálise nas conferências presididas 
por G. Stanley Hall na Clark University (CLONINGER, 1999, p. 77). Em 1911, Jung contribuiu 
para a fundação da Associação Psicanalítica Internacional. Freud esperava achar em Jung seu 
sucessor direto, julgando ser ele o homem para o futuro da psicanálise (CALLUF, 1969, p. 13).5 
Apesar da amizade, eles tinham divergências fundamentais6, o que mais tarde levou ao 
rompimento entre os dois. Em 1912, quando Jung publicou “Símbolos da transformação”, em 
que questionava algumas ideias básicas de Freud, aconteceu o rompimento filosófico e pessoal 
entre eles.7 O rompimento com Freud foi doloroso e traumático para Jung, mas ele estava 
determinado a seguir suas próprias convicções (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 91).8 
Durante a Primeira Guerra Mundial, Jung foi comandante de um campo de prisioneiros 
ingleses. Aproveitou a oportunidade para pesquisar sobre o assunto que, em 1920, se tornaria o 
livro sobre os “Tipos psíquicos”. Ao término da guerra, Jung atravessou a fase decisiva de sua 
carreira e que consolidou suas diretrizes fundamentais. A partir de então, escreveu diversos 
livros que retomam e ampliam suas ideias básicas (CALLUF, 1969, pp. 13, 14). 
Na busca pela elaboração de sua teoria sobre o inconsciente, procurou estabelecer 
contato com a psicologia primitiva, para isso, empreendeu três longas viagens. Em 1921, viajou 
para o norte da África onde conheceu os árabes do deserto. Em 1924, visitou os índios pueblos 
 
5 Jung foi o presidente de uma associação psicanalítica de Zurique e Freud queria que ele lhe sucedesse na 
presidência da Associação Psicanalítica Internacional, considerando vantajoso estender a influência da psicanálise 
para além do círculo judaico. Comunicou sua intensão a Jung numa carta em que se referia a este como o “príncipe 
coroado”, e Jung respondeu com gratidão, referindo-se a Freud como uma figura paterna. Contudo, antes que isso 
pudesse se realizar, a relação pessoal entre os dois se rompeu (CLONINGER, 1999, p. 77). 
 
6 Jung não conseguiu aceitar a insistência de Freud de que as causas da repressão são sempre trauma sexual. Freud, 
por sua vez, sempre se sentiu desconfortável com o interesse de Jung pelos fenômenos mitológicos, espirituais e 
ocultos (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 91). 
 
7 Jung considerava a libido como energia psíquica generalizada, ao passo que Freud insistia intransigentemente 
que libido era energia sexual (Ibidem, 2004, p 91). 
 
8 O rompimento com Freud desencadeou uma forte confrontação com o inconsciente. Em um esforço para conter 
esta intensas experiências e crescer com elas, Jung começou a documenta-las em suas revistas pessoais como uma 
espécie de autoanálise (Ibidem, 2004, p. 91). 
 
8 
 
no Arizona e Novo México. Em 1925, viajou para a África oriental onde conheceu os elgonis, 
uma tribo do Quênia.9 
Daí em diante, sua vida se dividiu entre a psicoterapia e a pesquisa. Fez ainda várias 
outras viagens (Índia, Itália, Inglaterra). Recebeu títulos honoríficos de diversas universidades, 
dentre elas, Calcutá e Oxford. Em 1930, foi nomeado presidente da Sociedade Médica Alemã 
de Psicoterapia e, em 1933, da Sociedade Médica Internacional de Psicoterapia (CALLUF, 
1969, p. 14). 
Jung se interessava por fenômenos místicos, sua dissertação de doutorado incluía 
experimentos com seu primo, um médium espírita. Mais tarde, ele deu continuidade a 
explorações subjetivas do inconsciente, leu textos esotéricos sobre misticismo e alquimia. 
Relatou várias experiências pessoais de fenômenos parapsicológicos, que ele compreendia 
como manifestações de um “inconsciente coletivo” mais amplo e transpessoal (CLONINGER, 
1999, p. 78). 
 
 
1.3 Velhice 
 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a obra de Jung foi interditada e queimada em todos 
os países dominados pelo nazismo. Após a guerra, já com mais de setenta anos, se dedicou a 
suas grandes obras sobre alquimia e psicologia das religiões (CALLUF, 1969, p. 14). 
Em 1944, quando tinha 69 anos, Jung quase morreu após um grave colapso cardíaco. 
Enquanto estava se recuperando, teve uma poderosa visão e passou a experimentar sensações 
de êxtase durante as noites. Depois de se recuperar, Jung entrou num período muito produtivo, 
no qual escreveu muitos dos seus trabalhos mais importantes. Suas visões lhe deram coragem 
para formular algumas de suas ideias mais originais.10 Pelos idos de 1957, surgiu o Instituto 
Jung e a Sociedade Suíça de Psicologia Analítica. Jung continuou escrevendo até algumas 
semanas antes de sua morte (CALLUF, 1969, p. 14). Morreu no dia 6 de junho de 1961, aos 86 
anos de idade. Sua obra teve grande impacto na psicologia, antropologia, história e estudos 
religiosos (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 92). 
 
 
 
9 Estes contatos confirmaram a sua ideia de que o inconsciente coletivo que descobriu nos pacientes civilizados 
era a mesma humanidade arcaica viva ainda exteriormente nos selvagens (CALLUF, 1969, p. 14). 
 
10 Estas experiências também mudaram sua perspectiva pessoal para uma atitude mais profundamente afirmativa 
em relação a seu próprio destino (FADIMAN & FRAGER, 2004, pp. 91, 92). 
9 
 
2. TEORIAS E PRINCIPAIS CONCEITOS 
 
2.1 Conceito amplo 
 
Jung é um dos pensadores psicológicos mais importantes, mais complexos e mais 
controversos. A psicologia junguiana concentra-se no estabelecimento e promoção do 
relacionamento entre processos conscientes e inconscientes. O diálogo entre os aspectos 
consciente e inconscientes da psique enriquece a pessoa, e Jung acreditava que sem esse diálogo 
os processos inconscientes podem enfraquecer e até coloca-la em perigo (FADIMAN & 
FRAGER, 2004, p. 89). Para ele, o inconsciente se dá de forma coletiva. Assim, o inconsciente 
não é único da pessoa, não é individual, ele é a “herança herdada de nossos antepassados” –o 
que ele chamou de “arquétipos” – vai passando de uma geração para outra (OLIVEIRA, 2010, 
p. 31).11 
Desde o princípio, Jung se sentiu atraído pela psiquiatria como o estudo das “doenças 
da personalidade”, ainda que naquele tempo a psiquiatria fosse relativamente pouco 
desenvolvida e sem distinção. Ele percebeu que a psiquiatria em especial envolvia tanto a 
perspectiva científica quanto humanista. Jung também desenvolveu o interesse pelos 
fenômenos psíquicos e começou a investigar as mensagens recebidas por seu primo, um 
médium da comunidade. Esta investigação se tornou a base de sua tese “Sobre a Psicologia e 
Patologia dos Chamados Fenômenos Ocultos”. Ele montou um laboratório experimental na 
clínica psiquiátrica de Zurique e desenvolveu o teste de associação de palavras para fins de 
diagnóstico psiquiátrico.12 Jung também mostrou ser perito na interpretação dos significados 
psicológicos por trás das diversas associações produzidas pelos sujeitos (FADIMAN & 
FRAGER, 2004, p. 91). 
Jung trabalhou muito com o lado mais místico e simbólico, para entende-lo é preciso 
entender da mitologia grega. Ele acreditava que o sonho pode representar uma premonição, ou 
seja, através dos sonhos poderíamos prever acontecimentos futuros (OLIVEIRA, 2010, p. 31). 
A análise de Jung da natureza humana inclui investigações sobre religiões orientais e ocidentais, 
 
11 OLIVEIRA, Carmem Aristimunha. Tópicos comportamentais nas organizações. Canoas: Ed. ULBRA, 
2010. 
 
12 Neste teste pede-se ao sujeito que responda uma lista padrão de palavras de estímulo. Qualquer atrativo excessivo 
entre o estímulo e a resposta é tomado como indicador de estresse emocional de alguma forma relacionado à 
palavra de estímulo (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 91). 
 
10 
 
alquimia13, parapsicologia e mitologia. Seu impacto inicial foi maior entre filósofos, folcloristas 
e escritores do que entre psicólogos ou psiquiatras. Hoje, contudo, o crescente interesse pela 
consciência e potencial humanos provocou um ressurgimento do interesse pelas ideias de Jung 
(FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 89). 
 
 
2.2 Jung e Freud 
 
Embora Jung já fosse um psiquiatra antes de conhecer Freud, as teorias freudianas 
influenciaram fortemente seu pensamento. As teorias de Freud sobre os processos inconscientes 
deram a Jung seu primeiro vislumbre das possibilidades de analisar sistematicamente a 
dinâmica do funcionamento mental, em vez de depender dos esquemas de classificação 
superficiais que eram típicos da psiquiatria naquela época. Jung reconhecia a validade das 
realizações de Freud na área da psicopatologia; entretanto, sentia que seus próprios esforços 
teóricos poderiam dedicar-se mais as questões concernentes ao crescimento positivo e à 
individuação (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 92). 
Após o rompimento entre ambos, Jung gradualmente desenvolveu suas próprias teorias 
sobre os processos inconscientes e a análise de símbolos oníricos.14 Jung também formulou 
uma teoria que inclui tanto o inconsciente pessoal quanto o coletivo. O consciente pessoal é 
composto de memórias esquecidas, experiências reprimidas e percepções subliminares – é 
semelhante ao conceito de inconsciente de Freud. Os conteúdos do inconsciente coletivo são 
universais e não se enraízam em nossa experiência pessoal. Este conceito talvez seja o maior 
 
13 A Alquimia é uma prática ancestral, a antiga química exercitada na Era Medieval. Em seu conceito amplo, ela 
une noções de química, física, astrologia, arte, metalurgia, medicina, misticismo e religião. A crença mais 
difundida é a de que os alquimistas buscam encontrar na Pedra Filosofal, uma substância mítica, o poder de 
transformar tudo em ouro e de proporcionar a quem a encontrar a vida eterna e a cura de todos os males. Suas 
metas têm um valor simbólico, o que significa que na verdade seus praticantes visam algo maior – a transmutação 
espiritual. Assim sendo, o famoso Elixir da Longa Vida nada mais seria que um recurso próprio do organismo 
humano, capaz de conceder àqueles que realizam o longo processo de purificação espiritual uma vida dilatada ao 
infinito. Afirma-se que esta substância é também um ponto importante na filosofia da Yoga. (SANTANA, Ana 
Lucia. Alquimia. Disponível em: https://www.infoescola.com/quimica/alquimia. Acesso em 02/11/2017). 
 
14 Ele compreendeu que os procedimentos que utilizava para analisar os símbolos oníricos de seus pacientes 
também poderiam ser aplicados à análise de outras formas de simbolismo – que ele possuía a chave para interpretar 
mitos, lendas populares, símbolos religiosos e arte (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 91). Onírico está relacionado 
ou faz referência aos sonhos, às fantasias e ao que não pertence ao chamado mundo real. A palavra tem sua origem 
etimológica a partir do grego óneiros, que quer dizer literalmente "sonho" (Significados. Onírico. Disponível 
em: https://www.significados.com.br/onirico. Acesso em 02/11/2017). 
 
 
 
11 
 
desvio de Jung em relação a Freud, bem como sua contribuição mais importante para a 
psicologia (FADIMAN & FRAGER, 2004, pp. 91-93). 
 
 
2.3 Psicologia analítica 
 
Assim como Freud, Jung propôs uma teoria da personalidade que atribui um papel 
predominante ao inconsciente. Porém, para ele, a libido não é primariamente sexual, mas 
constitui uma ampla energia psíquica com dimensões espirituais. Jung acreditava que os 
desenvolvimentos mais interessantes da personalidade ocorrem na idade adulta e não na 
infância. Essa ênfase reflete sua preocupação com as futuras direções para as quais a 
personalidade se dirige, em contraste com a ênfase de Freud no passado. Como Freud, Jung 
permitia a si mesmo vivenciar o inconsciente em primeira mão por meio de sonhos e fantasias, 
comparando seu papel ao de um explorador. Considerava-se suficientemente forte para fazer 
essa viagem perigosa e voltar para contar aos outros o que havia encontrado. Diferente de Freud, 
que tentava entender o inconsciente do ponto de vista de um cientista, Jung considerava a 
ciência uma ferramenta inadequada para conhecer a psique, preferia descreve-la empregando a 
linguagem da mitologia e não a ciência (CLONINGER, 1999, pp. 79, 80). 
Essa sua atitude anticientífica o coloca fora da psicologia oficial, sua obra é criticada 
como pseudocientífica, ou seja, simula se ciência, embora não utilize os métodos científicos da 
verificação empírica para determinar o que é falso e o que é verdadeiro. A perspectiva singular 
de Jung reforça a ponte que Freud começou a construir entre a psicologia e as expressões 
simbólicas da literatura, da arte e da religião. Jung, porém, foi muito mais além que Freud no 
abandono das exigências científicas. No entanto, a teoria de Jung atraiu muitos seguidores e é 
cada vez mais popular. A psicoterapia junguiana (psicologia analítica) e as aplicações de suas 
ideias na orientação vocacional, no desenvolvimento organizacional e na crítica literária 
atestam sua influência (CLONINGER, 1999, p. 80). 
 
 
2.4 Principais aspectos de sua teoria 
 
A teoria de Jung tem implicações em questões teóricas fundamenteis, como veremos 
logo abaixo: 
• Diferenças individuais: Para Jung os indivíduos diferem em sua tendência a serem 
introvertidos ou extrovertidos, o que é uma característica estável ao longo da vida. 
12 
 
Diferem também na proporção em que fazem uso das quatro funções psicológicas: 
pensamento, sentimento, sensação e intuição.15 
• Adaptação e ajustamento: O inconsciente desempenha importante papel na 
maturidade saudável e deveria ser explorado por intermédio do simbolismo. A saúde 
requer um equilíbrio entre funcionamento consciente e inconsciente.16 
• Processos cognitivos: Tanto o pensamento racional como a intuição e a ênfase em 
detalhes concretos fornecem informações úteis e deveriam ser desenvolvidos. Asimagens inconscientes influenciam as percepções e podem distorcer a nossa percepção 
da realidade.17 
• Sociedade: Os mitos culturais e os ritos oferecem maneiras de lidar com o inconsciente. 
Existem, entre as culturas, importantes diferenças que deveriam ser preservadas.18 
• Influências biológicas: Os conteúdos mentais (um inconsciente coletivo), como as 
características físicas, são hereditários.19 
• Desenvolvimento infantil: As experiências precoces são de pouco interesse para 
Jung.20 
• Desenvolvimento adulto: A mudança sobrevinda na meia idade (individuação) envolve 
a exploração dos potencias criativos do inconsciente.21 
 
 
2.5 Principais conceitos 
 
Um dos principais conceitos de Jung é a “individuação”, palavra que utilizou para 
designar o processo de desenvolvimento pessoal que envolve o estabelecimento de uma 
conexão entre o ego e o self. O ego é o centro da consciência; o self é o centro da psique total, 
incluindo tanto o consciente quanto o inconsciente. Para Jung, existe uma interação constante 
entre os dois. Eles não são separados, e sim dois aspectos de um único sistema (FADIMAN & 
 
15 CLONINGER, 1999, p. 81. 
 
16 Ibidem, p. 81. 
 
17 Ibidem, p. 81. 
 
18 Ibidem, p. 81. 
 
19 Ibidem, p. 81. 
 
20 Ibidem, p. 81. 
 
21 Ibidem, p. 81. 
13 
 
FRAGER, 2004, p. 89). A individuação é o processo de restauração da plenitude da psique no 
desenvolvimento adulto. No começo da vida, a psique é um todo unificado, embora 
inconsciente. Durante o curso do desenvolvimento, vários aspectos da psique tornam-se 
conscientes e se desenvolvem, enquanto outras áreas da psique permanecem inconscientes. Na 
medida em que partes da personalidade se desenvolvem e se tornam conscientes, um 
desequilíbrio da plenitude é inevitável. Esse desequilíbrio é restaurado durante o 
desenvolvimento adulto que ocorre na meia idade, quando os potenciais inconscientes são 
explorados e reintegrados ao “si mesmo” total (CLONINGER, 1999, p. 82). 
Jung diz que o ser humano na segunda metade da vida, aos trinta e cinco anos 
aproximadamente, começa a sentir um vazio existencial, uma falta de sentido na vida devido à 
separação precedente do ego e self. O ser humano reconhece que não é o self, ou em outras 
palavras, reconhece que não é Deus, reconhece que a força da adolescência não é permanente, 
mas foi apenas um momento de buscas exteriores e percebe a necessidade de uma busca interior, 
uma busca do próprio ser. A resposta a esse vazio existencial seria o retorno do self, ou seja, o 
reencontro do ego com o self. Trata-se de maior consciência de conteúdos inconscientes. Esse 
reencontro é possível por meio de uma “ponte” que liga consciente e inconsciente denominada 
de “função transcendente” (DOS ANJOS & FIRIOTI, 2012, p. 105, 106)22. No próximo 
capítulo veremos como e de que maneira o fator “religiosidade” influenciou fortemente as 
teorias e os conceitos junguianos. 
Além deste, destacam-se ainda outros importantes conceitos, conforme veremos abaixo: 
Anima/animus. Uma estrutura psicológica básica do inconsciente. Complemento à 
persona, a anima ou animus concentra todo o material psicológico que não se encaixa na 
autoimagem consciente de uma pessoa como homem ou mulher. Inicialmente presente como 
uma personalidade separada do sexo oposto, ele ou ela se torna uma ligação entre o consciente 
e inconsciente, gradualmente tornando-se integrado ao self.23 
Arquétipos. Estruturas da psique a priori, primordiais e sem forma, que atuam como 
elementos formadores de estrutura no inconsciente.24 
 
22 DOS ANJOS, Ricardo Eleutério; FIORITI, Ariani. A função religiosa em Jung e o desenvolvimento da 
personalidade. Universitário – Revista Científica do Unisalesiano. ano 3, n. 6, pp. 93-107. Lins, SP, jan-jun, 
2012. 
 
23 FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 115. 
 
24 Ibidem, p. 115. 
 
14 
 
Extroversão. A atitude preferencial daquele, cuja orientação primordial é para fora, que 
está mais à vontade com o mundo de outras pessoas e objetos.25 
Imaginação ativa. Desenhar, pintar, esculpir, produzir imagens conscientes, fantasiar 
e outra formas de exprimir-se. É uma tentativa, através do uso de símbolos, de envolver o 
inconsciente em um diálogo com o ego.26 
Inconsciente coletivo. O centro de todo o material psíquico que não procede da 
experiência pessoal. Ele se entende através das culturas e através do tempo. Uma entidade 
psicológica inata que estrutura o desenvolvimento individual, o inconsciente coletivo contém a 
herança da evolução espiritual da humanidade.27 
Introversão. A atitude preferencial daquele, cuja orientação primordial é para dentro, 
que está mais confortável com o mundo dos sentimentos e pensamentos.28 
Persona. O caráter que assumimos na relação com os outros. Ela inclui as roupas que 
usamos e o nosso estilo individual de expressão.29 
Self. O arquétipo da centralidade e da ordem psicológica. Ele dirige o funcionamento 
de toda a psique de maneira integrada. O self incorpora o equilíbrio e a harmonia dos diversos 
elementos opositores da psique.30 
Sombra. O arquétipo que serve de foco para o material que foi reprimido da 
consciência. Ele pode incluir material contrário aos padrões sociais, bem como aqueles desejos, 
tendências, memórias e experiências rejeitadas pelo indivíduo. A sombra também é uma reserva 
de energia criativa e instintual, de espontaneidade e de vitalidade.31 
 
 
 
 
 
 
25 Ibidem, p. 115. 
 
26 Ibidem, p. 115. 
 
27 Ibidem, p. 115. 
 
28 Ibidem, p. 116. 
 
29 Ibidem, p. 116. 
 
30 Ibidem, p. 116. 
 
31 Ibidem, p. 116. 
 
15 
 
3. IMPACTO NA RELIGIÃO 
 
 
3.1 Primeiras experiências de Jung com a religião 
 
Como já visto anteriormente, o pai de Jung fora pastor protestante. Acontece que com 
o tempo ele foi perdendo sua fé e passou a tentar substitui-la desesperadamente por um ponto 
de vista assumido conscientemente (VON FRANZ, 1975, p. 21). Jung sempre o acompanhou à 
igreja em que pregava para uma pequena população. Porém, desde pequeno já se questionava 
sobre a fé de seu pai e das pessoas que frequentavam o culto. Foi neste ponto que se iniciou 
uma fase crítica no pequeno Jung que, recebendo lições diárias sobre religião e tendo como 
professor o seu próprio pai, começou a notar que as lições ministradas abordavam somente 
sobre o que estava escrito na Bíblia ou em um caderno de anotações, não cabendo 
questionamentos, pois seu pai não possuía conhecimentos teológicos suficientes para 
responder. Algo que muito o impressionou, foi quando pediu a seu pai maiores esclarecimentos 
sobre a Trindade Cristã. O pai, com muita paciência, lhe disse que considerava a Trindade muito 
interessante, mas que nada sabia e nada entendia a respeito (RODRIGUES, 2014, pp. 66, 67).32 
 Conforme Silveira, Jung nunca escondeu a decepção que sentia para com seu pai: 
 
Desde muito cedo, ele viu no pastor o homem estagnado, numa condição medíocre, a 
quem faltaram forças para seguir sua linha própria de desenvolvimento; o homem que 
não enfrentava as dúvidas religiosas que o atormentavam, segundo parecia ao filho. 
O pastor temia as experiências religiosas imediatas, agarrava-se à fé, amparava-se na 
Bíblia e nos dogmas. Jung nunca poderia aceitar tal atitude. (SILVEIRA, 1976 apud 
RODRIGUES, 2014, p. 67). 
 
 Jung viveu sua infância e juventude se questionando sobre a religiosidade do pai e dos 
fiéis que frequentavam a comunidade para a qual pregava. Chegou, também, a ter dúvidas sobre 
a existência ou não de Deus. Porém, aprendeu desde cedo, com seu pai, a orar e a meditar 
(RODRIGUES, 2014, p. 67). Foi devido a uma compreensão errônea de uma oração infantil 
que lhe ensinaram, que chegou a acreditar que Jesus era um “devorador de homens”.33 
 Foi também na infância que teve os primeiros sonhose visões relacionados a Deus. 
Entre os 3 e 4 anos, teve um sonho no qual viu uma imagem que acreditou representar um “Deus 
subterrâneo” oculto, que era mais assustador e ainda mais real e poderoso do que as imagens 
 
32 RODRIGUES, Marcel Henrique. Jung e seu relacionamento com a religião. Sinapse Múltipla. v. 3, n. 1, pp. 
54-66. Betim, jul., 2014. 
 
33 Para isto, contribuiu o fato de ter testemunhado vários funerais de pessoas das proximidades, nos quais ouviu 
dizer que “o Senhor Jesus os tomou para si” (VON FRANZ, 1975, p. 21). 
16 
 
convencionais de Jesus na igreja. Aos 11 anos, ao olhar para o sol refletindo no telhado da igreja 
de Basel, teve uma visão de Deus em sua majestade sentado no alto do céu sobre um trono 
dourado, debaixo do trono saía um enorme pedaço de excremento que caía sobre a catedral, 
despedaçando seu telhado e suas paredes. Depois desta visão, Jung sentiu um imenso alívio e 
uma sensação de graça. Ele interpretou o que viu como um sinal de Deus para que fosse contra 
as tradições da Igreja. Daquele dia em diante, Jung sentiu-se muito distante da devoção 
convencional de seu pai e de seus parentes pastores. Ele percebeu como a maioria das pessoas 
se isola da experiência religiosa direta, permanecendo limitadas pelo significado literal das 
convenções da Igreja, em vez de considerarem seriamente o Espírito de Deus como uma 
realidade viva (FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 90). 
Refletindo sobre sua experiência, Jung escreveu: 
 
Muitas coisas que até então eu não compreendia ficaram claras para mim. Em Seu 
julgamento da coragem humana, Deus se recusa a respeitar a tradição, não importando 
o quão sagrada [...]. Devemos nos entregar totalmente a Deus; nada mais importa 
exceto obedecer a Sua vontade. Do contrário, tudo é tolice e não tem sentido [...]. 
Ninguém podia me tirar a convicção de que eu havia sido encarregado de fazer o que 
Deus queria e não o que eu queria [...]. Muitas vezes tive o sentimento de que em 
todas as questões decisivas eu não estava mais entre os homens, mas sozinho com 
Deus. (JUNG, 1961 apud FADIMAN & FRAGER, 2004, p. 90). 
 
Diante de todos os acontecimentos, o jovem Jung se interessou profundamente pela 
espiritualidade e iniciou seus estudos sobre religiões desde muito cedo. Passado algum tempo, 
e após anos de introspecção acerca de Deus e da religiosidade, ele rompeu com a igreja. Na 
época da faculdade, Jung entrou em contato com o problema religioso, com o ateísmo de seus 
mestres professores e a conclusão de que não se pode provar a existência de Deus. Porém, ele 
nunca deixou de se interessar pelo assunto, tanto que sua dissertação acadêmica teve como 
título “Sobre a Psicologia e a Patologia dos Chamados Fenômenos Ocultos”, o que comprova 
seu real interesse pela espiritualidade, religiões entre outras coisas (RODRIGUES, 2014, pp. 
67, 68). 
 
 
3.2 Jung sobre a religião 
 
Jung procurou entender os fenômenos religiosos pelo viés da psicologia, principalmente 
destacando a influência do inconsciente. Para ele, o círculo vicioso dos eventos científicos só 
seria rompido por meio de um reencontro com a experiência religiosa. Ele considerava a 
religião como uma função psíquica e inerente à psique, portanto, um instinto (DOS ANJOS & 
17 
 
FIORITI, 2012, p. 94). Também entendia que o desenvolvimento psicológico estava muito 
próximo do desenvolvimento moral e espiritual. Do seu ponto de vista, a religião era importante 
para o desenvolvimento adulto porque afetava a pessoa como um todo onde processos 
essenciais de desenvolvimento ocorriam no inconsciente (STAUDE, 1995 apud DOS ANJOS 
& FIORITI, 2012, p. 95). 
Em sua obra “Psicologia da Religião Ocidental e Oriental”, ele faz uma diferenciação 
tipológica de pensamento, o oriental como Tipo Introvertido e o ocidental como Tipo 
Extrovertido (PORTELA, 2013, pp. 47, 48)34. Para Jung, o ocidente cristão considera o homem 
inteiramente dependente da graça de Deus ou da Igreja, como instrumento terreno, para receber 
a obra de redenção sancionada por Deus. Por outro lado, o ocidente sublinha o fato de que o 
homem é a única causa eficiente de sua própria evolução superior. Já o oriente, com efeito, 
acredita na auto redenção (JUNG, 2011 apud PORTELA, 2013, pp. 48). Jung também escreveu 
uma obra na qual segue a trilha de Jó, ele tenta enfrentar o problema do bem e do mal vividos 
amargamente por esse personagem bíblico. Esta obra chama se “Resposta a Jó” (PORTELA, 
2013, pp. 48, 49). 
É necessário dizer que, para Jung, o termo religião não faz alusão a nenhuma 
denominação eclesiástica ou instituição religiosa, mas à atitude religiosa inerente a todo ser 
humano acima de qualquer adesão a um credo religioso. Para ele, religião é uma função 
psicológica que tem como finalidade a relação do ego com o self que pode ser comparada como 
a relação do indivíduo com Deus. Já a confissão religiosa é caracterizada por um credo voltado 
para o mundo em geral e é constituída por uma instituição pública na qual participam não apenas 
os fiéis, mas também, pessoas indiferentes a Deus e que estão lá por um simples hábito. Embora 
tendo sido criado em um ambiente religioso protestante, Jung se concentrou no aspecto humano 
do problema religioso e reconheceu todas as formas de religião, afirmando que seus símbolos35, 
rituais e mitos são meios de trazer à consciência conteúdos inexplicáveis e irracionais que estão 
no inconsciente coletivo36 dos quais refletem o processo de individuação (DOS ANJOS & 
FIORITI, 2012, pp. 95, 96). 
 
34 PORTELA, Bruno de Oliveira Silva. O conceito religião no pensamento de Carl Gustav Jung. Sacrilegens – 
Revista dos Alunos de Pós-graduação em Ciência da Religião. v. 10, n. 1, pp. 46-61. Juiz de Fora, jan-jun/2013. 
 
35 “Os símbolos da religião coincidem, em todas as épocas e culturas, com as imagens primordiais sempre 
repetidas. Os arquétipos são os numinosos, elementos de estrutura da psique que dão origem à fé apoiada na 
experiência”. (JOHNSON, 1959 apud DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 96). 
 
36 A mitologia e folclore dos diversos povos são constituídos de um conteúdo coletivo que se repetem de forma 
quase idêntica. A estes temas Jung deu o nome de arquétipos, pois são formas e imagens de natureza coletiva (DOS 
ANJOS & FIORITI, 2012, p. 96). 
18 
 
A melhor definição do conceito religião no pensamento de Jung é encontrada na 
introdução da obra “Psicologia e Religião”, no qual ele vincula o termo relegere às 
considerações do teólogo Rudolf Otto em, “O Sagrado”. Jung entende que religião é como diz 
o vocábulo latino relegere – uma “acurada e conscienciosa observação” daquilo que Rudolf 
Otto acertadamente chamou de “numinoso”, isto é, uma existência ou um efeito dinâmico não 
causado por um ato arbitrário. Em outras palavras, Jung diz que a palavra religião provém do 
termo relegere37, ou seja, “considerar ou observar cuidadosamente”, ele descarta o termo 
religare38. De toda forma, o conceito de religião usado por Jung remete às raízes antigas do 
paganismo, no qual está vinculado à prática correta dos ritos, exigindo uma postura de escuta, 
observação e submissão por parte do ser humano ao desejo ou à vontade dos deuses. Assim, a 
religião é ressaltada por Jung enquanto uma observação cuidadosa de fenômenos e forças 
sobrenaturais que transpassam o mundo objetivo (PORTELA, 2013, p. 52). 
Jung entende que o termo relegere permite uma leitura mais ampla para a religião, sem 
tomar partido de um contexto necessariamente cristão, além de possibilitar a vinculação com a 
teoria dos arquétipos e do inconsciente coletivo. Atribuir o termo religare para designar a 
compreensão de religião de Jung é impensável, uma vez que, para ele, a religião é inata e sentida 
internamente na psique. Como um fenômeno universal, a religião é encontrada desde os tempos 
maisremotos em cada tribo, em cada povo (PORTELA, 2013, p. 53, 54). Jung diz que existe 
um instinto religioso nos seres humanos, uma busca inerente de um relacionamento com Algo 
ou Alguém que transcende as limitações humanas, um poder maior (HOPCKE, 2011 apud 
PORTELA, 2013, p. 54). 
 Por defender a ideia de um instinto religioso, Jung foi fortemente acusado de místico. 
Porém, ele se defendeu de tais acusações dizendo que não era “responsável pelo fato do homem 
espontaneamente ter desenvolvido, sempre e em toda a parte, uma função religiosa e que, por 
isso, a psique humana está imbuída e trançada de sentimentos e ideias religiosos desde os 
tempos imemoriais” (JUNG, 1989 apud DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 98). Para Jung, 
quem não pudesse enxergar este ponto seria cego e os que quisessem negá-lo ou explicá-lo de 
forma racional não teriam senso de realidade. Ele nunca aceitou o fato de o chamarem de 
 
 
37 No mundo pagão o termo relegere estava relacionado a uma cuidadosa e escrupulosa percepção ou escuta aos 
deuses (PORTELA, 2013, p. 51). 
 
38 Religare: Este passou a ser o termo usado pelo cristianismo para definir religião. Substituiu-se a observação de 
ritos pela ideia de uma relação de total dependência a um Deus criador, rompendo, assim, os laços do paganismo 
e reforçando a crença de um Deus único e, ao mesmo tempo, marcando o fortalecimento do cristianismo 
(PORTELA, 2013, p. 50, 51). 
19 
 
místico ou filósofo, segundo ele, era apenas um empírico e estava comprometido com o ponto 
de vista fenomenológico (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 98). 
 
 
3.3 Jung sobre Deus 
 
Jung entende que Deus é uma realidade psíquica que ninguém pode negar, 
absolutamente necessária, de natureza não racional. Quanto a pergunta sobre a existência de 
Deus, ele diz que não cabe a psicologia responder a isto, mas sim, a teologia. Em todo o caso, 
para Jung, parece impossível e desnecessário provar racionalmente a existência de Deus – 
mesmo que para ele Deus fosse uma realidade irrecusável, devido as suas experiências através 
de sonhos e visões. Jung dizia que a ideia de Deus provém do interior e não de fora; por isso 
não lhe era necessária nenhuma prova, uma vez que a ideia de um Ser divino está espalhada por 
toda parte, consciente ou inconscientemente. (CALLUF, 1969, p. 21, 22). Assim, quando Jung 
fala de Deus, refere-se apenas sobre as declarações humanas a respeito de Deus e não como 
uma espécie de demonstração de sua existência. Para ele, o que se pode dizer de Deus sob o 
aspecto psicológico é que apenas existe uma imagem arquetípica de Deus. Trata-se de um 
arquétipo de grande influência na humanidade e seu aparecimento frequente o torna um dado 
digno de estudo. Portanto, a psicologia analítica não nega nem afirma a existência de Deus 
como um ser um em si mesmo (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 99). 
Enquanto experiência, Jung diz que o inconsciente e Deus têm um caráter indistinguível, 
sendo o inconsciente o meio pelo qual flui a experiência religiosa (DOS ANJOS & FIORITI, 
2012, p. 100). Para ele, Deus é um arquétipo indistinguível do arquétipo do “si-mesmo”. Neste 
sentido, ele afirma: “O si-mesmo, por seu turno, é uma imagem divina, e não se pode distingui-
lo desta última. A concepção cristã primitiva já sabia disto, pois senão um Clemente de 
Alexandria jamais teria podido dizer que aquele que conhece a si mesmo, conhece a Deus”. 
(JUNG, 2008 apud DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 101). Portanto, o “si-mesmo” ou self, é 
o centro regulador e unificador da psique total, ou seja, consciente e inconsciente. O “si-
mesmo” equivale à imagem de Deus, a imago Dei39 (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 101). 
 
39 “Jung chamou de Si-mesmo ou Self a esse arquétipo do ‘Deus-homem interior’. Segundo ele, Deus é um 
conceito, definido como imago Dei, ou seja, é uma ideia dotada de extremo valor psicológico existente dentro de 
cada um de nós. Trata-se de uma imagem psíquica da totalidade transcendente do ser humano. O objeto que recebe 
a imagem projetada do Si-mesmo adquire poderes sobrenaturais. É assim que ocorrem as idolatrias e idealizações. 
Com esse arquétipo, endeusamos teorias, sistemas religiosos, a figura de um professor, analista, médico, mulher, 
criança, político, cantor de rock, esportista, animal de estimação, assim como dinheiro, poder, máquinas, carro ou 
computador”. (GRINBERG, 1997 apud DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 101). 
 
20 
 
 Jung diz que o homem tem liberdade de decidir se Deus é um espírito ou um fenômeno 
da natureza; se Deus é um poder benéfico ou destruidor. No entanto, cabe ao homem apenas a 
escolha de Deus e não a criação de Deus. Neste sentido ele afirma: 
 
[...] sempre existiram ‘domínios’ e ‘poderes’, e não nos compete criá-los, nem 
precisamos fazê-lo. A única tarefa que nos cabe é escolher o ‘senhor’ a quem 
desejamos servir, para que esse serviço nos proteja contra o domínio dos ‘outros’, que 
não escolhemos. ‘Deus’ não é criado, mas escolhido. (JUNG, 1999 apud DOS ANJOS 
& FIORITI, 2012, p. 102). 
 
 O self é o arquétipo da totalidade do qual emana uma energia tão grande que o encontro 
com este arquétipo significa a experiência mais profunda do homem. É por meio deste encontro 
que ocorre a totalidade do homem, que consiste na integração dos conteúdos inconscientes na 
consciência. Para Jung, quanto maior e mais significativo fosse o número de conteúdos 
assimilados ao “eu”, tanto mais o “eu” se aproximaria do “si-mesmo”, mesmo que esta 
aproximação nunca pudesse chegar ao fim. A essa experiência poderosa e imensurável o 
homem chamou de Deus (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 102). 
 Uma experiência imediata do arquétipo da divindade produz um impacto tão grande que 
o ego pode se desintegrar. Por este motivo o homem criou os rituais como meios de defesa 
contra este impacto. Para Jung, a religião, ou melhor, a confissão religiosa tem a finalidade 
evidente de substituir a experiência imediata por um grupo adequado de símbolos envoltos num 
dogma e num ritual fortemente organizados. O dogma, por meio de sua imagem, traz uma 
reprodução do que é irracional, ou seja, do que está no inconsciente coletivo (DOS ANJOS & 
FIORITI, 2012, p. 102). 
Se, por um lado, Jung acreditou que o dogma exclui a experiência imediata, por outro, 
designou certos dogmas como experiências imediatas. O Homem-Deus, a cruz, a concepção 
virginal, a Imaculada conceição, a Trindade são alguns exemplos destes dogmas. Sobre os 
dogmas, ele afirma: 
 
O dogma é como um sonho que reflete a atividade espontânea e autônoma da psique 
objetiva, isto é, do inconsciente. Esta expressão do inconsciente constitui um 
expediente defensivo contra novas experiências imediatas e é muito mais eficaz do 
que uma teoria científica [...]. Uma teoria científica logo é superada por outra, ao passo 
que o dogma perdura por longos séculos. O Homem-Deus sofredor deve ter pelo 
menos cinco mil anos de existência, e a Trindade talvez seja ainda mais antiga. 
(JUNG, 1999 apud DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 103). 
 
Para Jung, os símbolos religiosos têm a finalidade de dar significação à vida do homem. 
O símbolo não é algo criado conscientemente, mas encontra-se no arquétipo e serve como um 
21 
 
mediador entre estes dois polos. Isto é, o inconsciente se expressa por meio dos símbolos, 
comunicando da melhor maneira possível algo que é desconhecido para a consciência. Com 
isso, a psique cria uma passagem entre o consciente e o inconsciente. A esta capacidade que 
tem a psique de formar símbolos e unir estes opostos, Jung dá o nome de função transcendente 
(DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 103). 
Esta função transcendente, no caso da religião, é caracterizada através de seus rituais e 
símbolos que expressam conteúdos inconscientes que são acessíveis à consciência. Neste ponto, 
a atitude religiosa podeproporcionar o restabelecimento do vínculo entre o ego e o self. Agora 
não mais identificado um com o outro como fora na infância, mas uma união consciente. A 
atitude religiosa pode novamente religar o ego com o self, como se fosse o homem com seu 
Deus, para que sua personalidade possa se desenvolver de forma equilibrada e completa, o que 
Jung denomina de “individuação” (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 106). 
 
 
3.4 Jung sobre Jesus Cristo 
 
Para Jung, Cristo é a analogia que mais se aproxima das significações do “si-mesmo”. 
Jesus Cristo representa a totalidade da natureza divina. É o Filho de Deus sem mácula e sem 
pecado, é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Cristo, assim como o self, é o centro 
organizador da totalidade do homem (DOS ANJOS & FIORITI, 2012, p. 104). Jung também 
considera Cristo como o arquétipo da consciência coletiva ou do “reflexo de Deus em natureza 
física” (VON FRANZ, 1975, p. 29, 30). 
Jung também faz um paralelo entre a “individuação” e a encarnação e paixão de Cristo. 
Assim como a individuação significa uma tarefa heroica ou trágica para o homem, assim 
também foi a missão da filiação de Cristo. 
 
A paixão analógica do Cristo significa que Deus sofre com a injustiça do mundo, com 
as trevas que envolvem o homem. O sofrimento do homem e o sofrimento de Deus 
formam uma complementaridade, da qual resulta um efeito compensador [...] ele sabe 
que está a caminho de realizar sua totalidade, mediante o seu ego é introduzido na 
esfera do "divino" como consequência da integração do inconsciente na consciência. 
Ele toma então parte no "sofrimento de Deus", cuja origem é a "Encarnação", isto é, 
aquele acontecimento que do lado humano corresponde à individuação. (JUNG, 1979, 
p. 25)40 
 
 
40 JUNG, Carl Gustav. Interpretação Psicológica do Dogma da Trindade. v. XI/2. Petrópolis: Editora Vozes, 
1979. 
22 
 
 Desta forma, Jung entende que o drama da vida de Cristo nos dá uma descrição, através 
de imagens simbólicas, daquilo que se passa tanto na vida consciente como na vida que está 
além da consciência do homem, o qual é transformado por seu destino mais alto (JUNG, 1979, 
p. 26). 
 
 
3.5 Jung sobre a Trindade 
 
Em sua obra “Interpretações Psicológicas do Dogma da Trindade”, Jung faz uma análise 
do dogma cristão da Trindade. Neste escrito ele critica o fato de a Trindade não ser um símbolo 
adequado ao processo de individuação. Em suas considerações, a presença de três elementos 
(Pai, Filho e o Espírito Santo) não comporta de forma satisfatória o todo da psique. A Trindade 
exclui o 4º elemento, ou seja, os aspectos materiais e femininos (PORTELA, 2013, pp. 47, 48). 
Jung também afirma que a Trindade significa, primeiramente, a essência de um processo 
que se desenvolve em três etapas e que podemos considerar como fases de um amadurecimento 
inconsciente no interior do indivíduo – aqui as três pessoas da Trindade seriam personificações 
das três fases de um acontecimento psíquico regular e instintivo. Em segundo lugar, ele diz que 
a Trindade indica um processo secular de tomada de consciência. Em terceiro lugar, Jung afirma 
que a Trindade não quer apenas representar, mas ser, de fato, o único Deus em três Pessoas, as 
quais possuem conjuntamente uma só e mesma natureza divina. Ele entende que as três Pessoas 
divinas só se diferenciam pelo modo distinto de suas origens – o Filho gerado pelo Pai e o 
Espírito Santo espirado conjuntamente pelos dois (JUNG, 1979, p. 45). 
Enquanto símbolo psicológico, Jung diz que a Trindade é um processo de mutação de 
uma só e mesma substância, isto é, da psique como um todo. 
 
A consubstancialidade do Filho, juntamente com o filioque, indica-nos que Cristo, o 
qual deve ser considerado psicologicamente como um símbolo do Si-mesmo, e o 
Espírito Santo, que deve ser entendido como a realização do Si-mesmo, a partir do 
momento em que é dado ao homem, procedem da mesma substância do Pai, isto é, 
indica-nos que o Si-mesmo é [uma realidade consubstancial ao Pai]. Esta explicação 
está de acordo com a constatação de que é impossível distinguir, empiricamente, os 
símbolos do Si-mesmo da imagem de Deus. (JUNG, 1979, p. 45). 
 
Jung diz que a psicologia pode apenas constatar esta possibilidade, nada mais. No 
entanto, o enunciado dogmático fala de uma filiação “divina” que o Espírito Santo comunica 
aos homens e que, em si, não se distingue da filiação de Cristo. Isto quer dizer que com a 
recepção do Espírito Santo, o Si-mesmo do homem entra numa relação de consubstancialidade 
com a divindade (JUNG, 1979, p. 45, 46). 
23 
 
Ante os fatos apresentados neste capítulo, nota-se que o fator religiosidade teve forte 
ênfase para Jung, influenciando várias de suas teorias. No entanto, Jung e a psicologia analítica 
não se ocupam com aspectos teológicos, soteriológicos ou escatológicos da religião. Como 
teoria e dentro do campo da psicologia, a contribuição de Jung é importante por compreender 
a religião/religiosidade como um elemento natural e próprio do ser humano, isto é, a religião, 
assim como a arte, emerge de uma esfera psíquica saudável, que visa o desenvolvimento ou 
amadurecimento do homem (MORAES, 2010).41 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 MORAES, Fabricio Fonseca. Psicologia Analítica e Religião. Disponível em: 
http://www.psicologiaanalitica.com/psicologia-analtica-e-religio. Acesso em 05/11/2017. 
24 
 
CONCLUSÃO 
 
 
Carl Gustav Jung foi um dos grandes estudiosos do comportamento humano, suas 
teorias e seus conceitos contribuíram muito para os estudos da psicologia. Ao longo de sua vida, 
Jung passou pelas mais diversas situações, foi influenciado inicialmente por Freud, mas, devido 
a algumas divergências, ambos tomaram rumos diferentes. O fator místico e religioso foi de 
grande importância para o desenvolvimento das principais teorias e conceitos junguianos. 
Mesmo sendo bastante criticado por sua ênfase mística e religiosa pelos principais estudiosos 
de sua época, Jung continuou seus estudos e suas abordagens e, consequentemente, desenvolveu 
a psicologia analítica. Apesar de não ter tido uma boa aceitação inicial, com o passar do tempo, 
cada vez mais estudiosos foram aderindo ao seu conceito. A psicologia analítica, hoje em dia, 
tem a aceitação de um grande número de profissionais da área da psicologia. 
Este trabalho se propôs a apresentar um panorama geral sobre a vida, obra e o impacto 
de Jung na religião. Certamente, muito mais poderia ter sido abordado, tanto no que se refere 
às suas teorias, quanto ao seu impacto na religião. Este último é, sem dúvida, tema digno de um 
estudo bem mais aprofundado, uma vez que a maioria dos conceitos junguianos tem estreita 
ligação com o fator religião. Muitas das obras de Jung, inclusive, abordam temas sobre religião, 
Trindade, Bíblia e Deus. É valido ressaltar, no entanto, que a religiosidade da qual Jung fala 
difere radicalmente da teologia bíblica e da fé cristã, sendo mais uma abordagem mística do 
que religião, de fato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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