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Leis Portuguesas - As Ordenações - Estrutura Jurídica Alunos: OLIVEIRA SOUSA, Ana Paula de LIMA, Carmina Ribeiro CORDEIRO, Ivair VALADÃO, Patrícia Nunes SANTOS, Ronaldo Dias dos Docente: PESSOA DOS SANTOS, Diogo Garrijo Palavras chave: Leis portuguesas; as ordenações; estrutura jurídica 1. Introdução O direito pode ser entendido como instrumento mediador entre relações sociais e ser decisivo no que se refere à compreensão da organização de vida em sociedade, e isso requer obviamente olhar atento às raízes do Direito para compreender suas mudanças, até porque toda transformação do ordenamento jurídico acompanha paralelamente às transformações sociais, políticas e econômicas de uma sociedade. A presente pesquisa com objetivo de ajudar a compreensão do Direito hoje no Brasil, remete para o início histórico, início do século XV a partir das leis portuguesas durante a era das ordenações que eram códigos, mais conhecidos como: Ordenações Afonsinas que eram divididos em cinco livros que tratavam desde a história da própria necessidade daquelas leis, passando pelos bens e privilégios da Igreja, pelos direitos régios e de sua cobrança, pela jurisdição dos donatários, pelas prerrogativas da nobreza e pela legislação especial para os judeus e mouros; seguindo de mais duas compilações, Ordenações Manuelinas e Ordenações Filipinas. Na sociedade portuguesa no século XVII, cabia ao rei ordenar as relações pessoais, individuais e coletivas, inclusive nas colônias. Os regulamentos elaborados não estavam descolados da realidade, mas, ao contrário, expressavam condutas e comportamentos. Assim sendo, pode se observar que o direito português exerceu grande influência por longo período no Brasil mesmo depois de ter deixado de ser colônia e se tornado estado imperial. 2. Metodologia Obras como: Educação, história e cultura no Brasil colônia de José Maria de Paiva, Construção da autoridade jurídica do monarca de Celso Silva Fonseca, e Ordenações filipinas de Silvia Hunold Lara serviram como principal fonte de conhecimento para a construção do presente artigo. Em um primeiro momento, foram delimitados os critérios a serem avaliados nas obras acima citadas, posteriormente a realização da leitura do capítulo referente ao tema e em um segundo momento do percurso metodológico, foi transcrito o entendimento desses autores ao corpus da pesquisa. 3. Desenvolvimento 3.1 Leis Portuguesas A História do Direito Português, mais especificamente no período das Ordenações Reais, eram ordenamentos jurídicos que levavam o nome dos reis que mandaram elaborá-los e que pretendiam dar conta de todos os aspectos legais da vida dos súditos portugueses e tiveram suas origens no Direito romano e canônico. Os três principais conjuntos de leis portuguesas até o fim da monarquia foram: as Ordenações Afonsinas, as Ordenações Manuelinas e as Ordenações Filipinas. As Ordenações Afonsinas foram a primeira grande compilação das leis esparsas em vigor. Criadas no reinado de D. Afonso V, que reinou em Portugal de 1438 a 1481, são divididas em cinco livros que tratam desde a história da própria necessidade daquelas leis, passando pelos bens e privilégios da Igreja, pelos direitos régios e de sua cobrança, pela jurisdição dos donatários, pelas prerrogativas da nobreza e pela legislação especial para os judeus e mouros; o livro IV trata mais especificamente do chamado direito civil; e o livro V diz respeito às questões penais. Sobre a formulação dos códigos legislativos portugueses elaborados a partir do século XV, algo significativo a ser considerado é a expansão ultramarina portuguesa, em seus aspectos econômicos, políticos e sociais. A partir dos desdobramentos marítimos, conforme argumenta Saraiva (1995), a vida econômica concentrou-se no litoral e a atividade governativa do Estado especializou-se na economia e na política militar ultramarina. Assim, a partir do século XV cessou-se o esforço de colonização interna que progredira desde o início da monarquia, entrando a vida lusitana numa estagnação profunda, conservando até finais do século XIX numerosas sobrevivências medievais. O autor acredita que a expansão marítima portuguesa foi decisiva para o início de um novo ciclo da história de Portugal. Os empreendimentos ultramarinos possibilitaram à coroa adquirir uma nova dimensão: o pequeno Portugal ibérico transformara-se numa das maiores potências navais e comerciais da Europa. O crescimento da corte é apontado como uma forma de exteriorizar a crescente grandeza da dignidade real, além de evidenciar o resultado da centralização e de um enorme aumento da atividade do serviço público. Saraiva (1995) chama a atenção para o fato de que durante os reinados de D. Manoel, D. João III e D. Sebastião, foram publicadas numerosas reformas legislativas a fim de regulamentar minuciosamente muitas atividades do estado: fazenda, justiça, exército, administração central e local. Para ele, o Estado moderno substitui, nas leis como nas armas e nas ideias, o Estado medieval. Os códigos legislativos portugueses mais abrangentes eram denominados Ordenações do Reino, que eram regulamentos que levavam o nome dos reis que as faziam elaborar ou compilar e que pretendiam dar conta de todos os aspectos legais da vida dos súditos. Trata-se das Ordenações Afonsinas (1446), Ordenações Manuelinas (1521) e Ordenações Filipinas, promulgadas no ano de 1595 e editadas em 1603, período de domínio espanhol do império luso. Cláudio Valentim Cristani (2003), na obra O direito no Brasil colonial, apresenta o contexto de publicação de cada Ordenação, bem como as necessidades de tais sistematizações. O autor esclarece que as Ordenações Afonsinas foram a primeira grande compilação das leis esparsas em vigor. A estrutura de cinco livros foi mantida, algumas leis foram suprimidas e/ou modificadas e um estilo mais conciso foi adotado. As Ordenações Filipinas, promulgadas em 1603, durante o reinado de Filipe II (1598 a 1621), compuseram-se da união das Ordenações Manuelinas com as leis extravagantes em vigência. No período conhecido como União Ibérica, no qual Portugal foi submetido ao domínio da Espanha (1580 a 1640), foram concebidas as últimas leis que o reino lusitano teve até ver o fim da monarquia. As novas Ordenações foram necessárias devido à atualização com o direito vigente, pois algumas normas já estavam em desuso e outras precisavam ser revistas. Filipe II, apesar de ser Espanhol, mostrando habilidade política, promulgou as novas leis dentro de um espírito tradicional respeitando as leis portuguesas, mantendo-se, inclusive, a mesma forma das Ordenações anteriores. Apresentadas as Ordenações e compreendidas as relações que se estabelecem entre a legislação e as vicissitudes do seu contexto histórico, passa-se a abordar as Ordenações Filipinas (1603), mais especificamente em seu Livro V, que contém o conjunto dos dispositivos legais que definiam os crimes e a punição dos criminosos. O objetivo é refletir sobre aspectos da organização social lusitana do século XVII. Na sociedade portuguesa do século XVII cabia ao rei ordenaras relações pessoais, individuais e coletivas, inclusive nas colônias. Os regulamentos elaborados não estavam descolados da realidade, mas, ao contrário, expressavam condutas e comportamentos. Publicadas com o pomposo título de “Ordenações e leis do reino de Portugal, recopiladas por mandado do muito alto, católico e poderoso rei dom Filipe, o primeiro”, as Ordenações Filipinas são apresentadas na introdução de seu livro V, organizado por Silvia Hunold Lara, como “o mais bem-feito e duradouro código legal português” (LARA, 1999, p. 34). O texto conserva a mesma divisão em cinco livros das ordenações anteriores, igualmente subdivididos em títulos e parágrafos. O Direito Português teve poucas mudanças até 1210 (até essa data existiam somente poucas normas), a razão disso era o fato de não haver escolas e, portanto não ser estudado o Direito em Portugal, e os legisladores serem pessoas despreparadas e analfabetas. O Direito atua na tutela de um conjunto de bens relevantes para uma sociedade, punindo condutas que os transgridem. A sociedade abordada possuía como bens sociais relevantes, oriundos de sua cultura construída historicamente, questões como a religiosidade cristã, o regime monárquico e o projeto de expansão marítimo-comercial. Tais pontos são encontrados na lei, tutelados pelo direito. A cultura portuguesa teve no direito uma das principais estruturas que contribuíram para sua incorporação à identidade de cada indivíduo que compunha o reino. Pode-se considerar, nesse sentido, que além da compreensão de aspectos da sociedade portuguesa dos séculos XV ao XVII, período em que os três ordenamentos mencionados entraram em vigor, enfim, não é possível conceber o Direito como mero instrumento abstrato a regular a vida individual das pessoas, mas sim fruto da relação social que elege, na forma dos dispositivos legais, o que deve ser virtude social e o que deve ser colocado na condição de ilícito. Importa, assim, determinar o significado do Direito à luz da experiência social e histórica do ser humano. 3.2 As Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. Foram três as Ordenações Portuguesas impostas no Brasil: Ordenações Afonsinas (ou Código Afonsino, que revigorou de 1446 até 1514) ; as Ordenações Manuelinas (ou Código Manuelino, que revigorou de 1521, com versão definitiva, até 1595); e as Ordenações Filipinas (ou Código Filipino, que vigorou das leis editadas de 1603 até 1916, sendo esta data a prescrição da matéria civil, pois a primeira Constituição do Brasil, de 1824 já revogou quase toda a Ordenação Filipina). Ordenações significa ordens, decisões ou normas jurídicas avulsas ou as colectâneas que dos mesmos preceitos se elaboraram, ao longo da história do direito português. A forma plural da palavra foi a que veio a prevalecer nos autores mais recentes. Existe uma colectânea conhecida por Ordenações de D. Duarte, de caráter particular, que compreende leis de D. Afonso II a D. Duarte e consta de um manuscrito do início do século XV, arquivado na Biblioteca de Lisboa. 3.2 Ordenações Afonsinas (1446 - 1514 d.C.). Durante o reinado de D. Afonso I, foram feitos pedidos insistentes de elaboração de uma coletânea do direito vigente, que evitasse as incertezas e problemas derivados da grande dispersão e quantidade de normas. D. João I mandou então fazer a reforma e compilação do direito existente. Ficou concluído em 1446. No entanto, a sua entrada em vigor, aplicação prática, não foi imediata. Não havia na época, uma regra prática definida sobre a forma de dar publicidade aos diplomas legais, torná-los conhecidos e marcar o início da sua vigência. Tiveram influência do Direito Canônico, das Leis das Sete Partidas e dos costumes portugueses. Foram divididas em cinco livros que continham matérias como direito Penal, Civil, Administrativo, Marítimo, Comercial, Eclesiástico, do Rei, da Nobreza, Processual Civil e Processual Penal. 3.3 Ordenações Manuelinas (1521 - 1595 d.C.). No reinado de D. Manuel põe-se de novo a questão do conhecimento e vigência das ordenações em todo o reino. A solução era facilitada pela descoberta da imprensa. Era necessário atualizar a obra, integrando as leis extravagantes entretanto publicadas e alterando suprimindo o que entendessem necessário. O estilo de redação foi alterado de, de modo geral, todas as normas estão redigidas em estilo decretório ou legislativo, o que traduz uma melhoria na técnica legislativa . Quanto ao direito subsidiário, quando não houvesse solução nas próprias ordenações (dir. pátrio), recorre -se ao direito canónico. Em 3° ao direito romano. Em 4° a opinião comum dos doutores, aqui surge a doutrina como fonte de direito. Em último caso , a resolução do rei. É criada uma nova fonte de direito, os assentos da casa de suplicação, quando houvesse dúvidas na interpretação da lei , a casa da suplicação fixaria uma interpretação . As decisões interpretativas (assentos) eram registradas num livro e tinham caráter obrigatório para casos futuros semelhantes. 3.4 Ordenações Filipinas (1603 - 1824 d.C.) As Ordenações Filipinas foram promulgadas em 1603 durante o reinado de Felipe II em 1598 a 1621. E essas ordenações se conceberam da união das Ordenações Manuelinas com outras leis em vigor. No entanto, pode -se considerar que, as Ordenações Filipinas foi uma das três Ordenações Reais, que foram criadas em Portugal no período em que o país ficou subordinado ao domínio da Espanha ( 1580 a 1640). Deve-se levar ainda em consideração que as Ordenações Filipinas compõe-se dos seguintes Livros: 1- Livro I, o qual delineia as atribuições, os direitos, deveres dos magistrados, dos oficiais da justiça; 2- Livro II,onde se encontram definidas as relações entre o Estado e a Igreja, a nobreza, e os direitos fiscais de ambas; 3- Livro III, trata das ações cíveis e criminais; 4- Livro IV, em que se determina o direito das coisas e das pessoas; 5- Livro V, em que trata-se dos crimes, e das penas. Deve-se destacar aqui também os o seguinte título do Livro III das Ordenações Filipinas, que indica as fontes do Direito: leis, títulos da Corte e os costumes, que eram subsidiados, o Direito Romano, Direito Canônico, e a doutrina, em primeiro lugar, as Glosas de Acúrsio, e a doutrina de Bártolo. Entretanto, se não resolvesse o problema, então cabia por decisão do próprio rei, a interpretação autêntica. É importante destacar o Livro III das Ordenações Filipinas, pois neste livro havia, porém, o condicionamento à aplicação do Direito Romano, e que as quais as “Leis Imperiais em que somente guarda pela boa razão em que são fundadas”. Entretanto, tratava-se de impor limite ao Direito Romano, e também aos casos, em que a razão fosse considerada adequada. Pode-se de dizer que as Ordenações Filipinas Promulgadas em 1603 em Portugal pelo Rei Felipe II, obteve o “ mais duradouro código legal português, em questões importantes sobre a configuração da sociedade brasileira, presentes, uma vez que, vigoraram até o início do século XIX “. ( LARA, 1999, p. 45 ). Pode-se destacar aqui o Livro I, composto nas Ordenações Filipinas, pois este livrotrata das atribuições, dos direitos, e dos deveres dos magistrados e oficiais da justiça. No entanto pode-se ver que no livro deixa explícito, as exigências que são estabelecidas para se ocupar diversas funções na Sociedade Portuguesa, entretanto se percebe que nas Ordenações Filipinas, que foram criadas pelo rei Felipe II, dentro da sociedade portuguesa do século XVII, a prática da escravidão era comum nessa época. Deve-se perceber de forma bem clara, quando o título XVII, que se encontra presente nas Ordenações Filipinas, que o qual o título faz o regulamento seguinte : “Quando os que compram escravos , ou bestas, os poderão enjeitar, por doenças ou manqueiras”. “Qualquer pessoa que comprar o escravo doente, de tal enfermidade, que lhe tolha servir-se delle, o poderá enjeitar a quem lho vendeu, provando que já era doente em seu poder de tal enfermidade, com tanto, que cite ao vendedor dentro de seis mezes do dia, que o scravo lhe entregue “. ( ORDENAÇÕES FILIPINAS, Livro IV, tít. XVII ). Pode-se levar em consideração sobre a abordagem apresentada no parágrafo acima, referente ao Livro IV das Ordenações Filipinas, que tal abordagem nos deixa refletir sobre uma questão importante dentro do estudo histórico, pois, a forma de como se olhar ao passado, ou seja, a forma de se olhar a prática na compra de escravos, em que foi evidenciada naquele momento histórico, era vista de uma forma diferentemente da atual. É importante se destacar aqui o título XXXVIII, presente nas Ordenações Filipinas, pois o título destaca o seguinte: “Do que mata sua mulher, pola achar em adultério “. “ Achando o homem casado sua esposa em adultério, licitamente poderá, assim a ella , como o adúltero Fidalgo, ou nosso Desembargador, ou pessoa de maior qualidade “. ( ORDENAÇÕES FILIPINAS, Livro V, tít.XXXVIII ). No entanto pode-se dizer que as Ordenações Filipinas, não querendo provocar o caos na sociedade portuguesa, ou seja, não provocar uma desordem vigente, as Ordenações Filipinas, porém apresentavam várias formas de punições, que eram diferenciáveis de leis para os casos de resistência aos oficiais de justiça, e em caso de desacato a juízes, provocando a morte ao escravo, caso ele tirasse a arma para o seu senhor. 3.4.1 Lei da Boa Razão. Pode-se dizer que em referência a fonte do Direito em Portugal, que a Lei da Boa Razão não inovou, uma vez que, a Coroa de Portugal já se ocupava com lei em seu posto há muito tempo. Deve-se considerar que quando foram criadas as Ordenações Filipinas, tentou-se reunir a integridade da legislação vigente em Portugal, que era mantida na época, então a partir daí, é de importância falar sobre os casos omissos na referida consolidação. No entanto diante do contexto das Ordenações Filipinas pode-se destacar o que se afirma, em consideração ao contexto, onde se diz que todo o direito encontrava-se presente nas Ordenações Filipinas, criadas em 1603 pelo rei Felipe II, portanto deve-se observar que essas ordenações fizeram referências aos casos que, porventura não se instalasse entre os reguladores por elas, porém, abriram-se às situações não previstas antes. No entanto pode-se observar que as Ordenações Filipinas fez a sua aplicabilidade por longo período de tempo, fazendo com que o direito subsidiário fosse utilizado como fonte principal do direito na sociedade portuguesa. Assim, sendo, a lei aplicável deveria ser a portuguesa, provinda do legítimo legislador português, o rei, porém não cabia, a qualquer outra lei prevalecer entre as fontes do direito dos portugueses, a não ser a lei pátria, ou seja, a lei regulamentada na sociedade portuguesa. 3.3 Estrutura Jurídica O período historicamente denominado Brasil Colônia – em que o Brasil esteve sob domínio de Portugal – compreende os anos de 1500 até 1822. Procuramos esmiuçar toda a complexidade estrutural do sistema judicial brasileiro neste período colonial, desde a sua criação, suas influências, a sua implementação e a sua consolidação, que reflete no modelo vigente nos dias atuais. Para destrincharmos e compreendermos a estrutura judicial no Brasil Colônia é preciso, de antemão, conhecermos um pouco do que foi a estrutura jurídica portuguesa à época. 3.3.1 Estrutura Jurídica do Império Português Cabia ao rei a administração da justiça. Em muitos documentos e leis, a justiça é considerada a primeira responsabilidade do rei. O ordenamento e toda a estrutura jurídica portuguesa estavam reunidos nas Ordenações. “Três grandes compilações formavam a estrutura jurídica portuguesa. O primeiro a ordenar uma codificação foi D. João I, que reinou de 1385 a 1433. A elaboração atravessou o reinado de D. Duarte, a regência de D. Leonor, sendo promulgadas pelo recém-coroado Afonso V, que, apesar de nada ter contribuído para a obra, deu-lhe nome: Ordenações Afonsinas, que vigoraram de 1446 a 1521, ano em que D. Manoel promulgou a que levou seu nome: Ordenações Manoelinas, fruto da revisão das Afonsinas e da recompilação das leis extravagantes. Depois das Manoelinas, Duarte Nunes de Leão recompilou novas leis extravagantes, até 1569, publicação muito conhecida por Código Sebastiânico, apesar de não ter havido participação ativa de D. Sebastião. Uma nova revisão das Ordenações foi encomendada pelo rei Filipe II a grupo de juristas chefiado por Damião de Aguiar, que as apresentou e obteve aprovação, em 1595, somente impressa e entrada em vigor em 1605 com o nome de Ordenações Filipinas”. As Ordenações abrangiam juridicamente não só a sede do império, mas também suas colônias, porém, nem todas as leis eram de fácil aplicação no Brasil (assim como em outras colônias, onde muitas leis precisaram ser adaptadas), devido às peculiaridades culturais ou à falta de condições (de aplicação). 3.3.2 Estrutura do Judiciário no Brasil Colônia Em 1530 chega ao Brasil a primeira expedição colonizadora, chefiada por Martim Afonso de Sousa. Foi-lhe concedido plenos poderes, tanto judiciais quanto policiais; assim como aos donatários das capitanias hereditárias, que também gozavam dos mesmos poderes. Devido a abusos nas funções judiciais que alguns cometiam, houve uma estruturação do judiciário (que se iniciou em 1549, com a instalação do Governo-Geral, por Tomé de Sousa). Devido à complexidade e especificidades das funções judiciais da época (as funções judiciais confundiam-se com as funções administrativas e também com as funções policiais) haviam outros responsáveis pela efetivação das atividades jurisdicionais nas comarcas: chanceleres, contadores e vereadores, que formavam os Conselhos ou Câmaras Municipais. Também houve os almotacés, que tinham jurisdição restrita (assim como os Juízes do Povo). Os almotacés julgavam as causas relacionadas a obras e construções; e de suas decisões cabiam recursos para os ouvidores da comarca. Com o tempo o Corregedor passou a ter mais poderes sobre os ouvidores e juízes, tornando-se a autoridade judiciária superior nas Comarcas. Além das Ordenações, as fontes normativas utilizadas pelo judiciário da época eram: ● · Lex Romana Wisigothorum – direito comumdos povos germânicos; ● · Privilégios – direitos assegurados aos nobres pelos reis; ● · Forais – leis particulares locais, asseguradas pelos reis; ● · Juízes da Terra (ou juízes ordinários) – eleitos pela comunidade, não sendo letrados, que apreciavam as causas em que se aplicavam os forais, isto é, o direito local, e cuja jurisdição era simbolizada pelo bastão vermelho que empunhavam (2 por cidade); ● · Juízes de Fora (figura criada em 1352) – nomeados pelo rei dentre bacharéis letrados, com a finalidade de serem o suporte do rei nas localidades, garantindo a aplicação das ordenações gerais do Reino. ● · Juízes de Órfãos – com a função de serem guardiões dos órfãos e das heranças, solucionando as questões sucessórias a eles ligados. ● · Provedores – colocados acima dos juízes de órfãos, para o cuidado geral dos órfãos, instituições de caridade (hospitais e irmandades) e legitimação de testamentos (feitos, naquela época, verbalmente, o que gerava muitos problemas). ● · Corregedores – nomeados pelo rei, com função primordialmente investigatória e recursal, inspecionando, em visitas às cidades e vilas que integravam sua comarca, como se dava a administração da Justiça, julgando as causas em que os próprios juízes estivessem implicados. ● · Desembargadores – magistrados de 2ª instância, que apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (para obter a clemência real). Recebiam tal nome porque despachavam (“desembargavam”) diretamente com o rei as petições formuladas pelos particulares em questões de graça e de justiça, preparando e executando as deciões régias. Em 1521 o Desembargo do Paço transformou-se em corte independente e especial. Em 1532 foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para resolver os casos jurídicos e administrativos que contavam com foro privilegiado, que eram os que se referiam às ordens militar-religiosas: Ordem de Cristo, Ordem de Avis e Ordem de Santiago. Com o tempo a Mesa de Consciência e Ordens excedeu suas funções e passou a julgar as causas eclesiásticas que envolviam os clérigos do reino. Com a instituição dos Tribunais de Relação[9] como cortes de 2ª instância, a Casa da Suplicação passou a ser a Corte Suprema para Portugal e as Colônias. 4. Considerações finais O estudo possibilitou a compreensão do Direito genericamente como fruto da relação social que elege, na forma dos dispositivos legais, o que deve ser virtude social e o que deve ser colocado na condição de ilícito, e não como mero instrumento abstrato a regular a vida individual das pessoas. Ou seja, além de apontamentos acerca da sociedade portuguesa em questão, este trabalho determina o significado do Direito à luz da experiência social e histórica das leis portuguesas, quanto sua estrutura jurídica na era das ordenações e como exerceu poder efetivamente no Direito brasileiro, apesar da legislação portuguesa ser uma compilação do Direito romano. Verificou se ainda através desse estudo que o Brasil mesmo depois de se tornar um Estado imperial deixando de ser colônia inclusive, após a declaração de independência em 1822 o Direito brasileiro vigente seguia a legislação do Direito de Portugal por um detalhe muito relevante; os magistrados brasileiros eram formados na faculdade de Coimbra-Pt, nascia com isso a iminente necessidade de se ter cursos de direito no Brasil para posteriormente o Estado brasileiro criar seus próprios códigos e definitivamente o direito brasileiro não depender mais da legislação de Portugal. 5. Referências LARA, Silvia Hunold. (Org.). Ordenações Filipinas: Livro V. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. PAIVA, José Maria de; BITTAR, Marisa; ASSUNÇÃO, Paulo de (Org.). Educação, História e Cultura no Brasil Colônia. São Paulo: Arké, 2007. https://ambitojuridico-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-72/a-estrutura-juridica-no-brasil-colonial-criacao-ordenacao-e-implementacao/amp/?usqp=mq331AQRKAGYAffTspyvir_3lAGwASA%3D&_js_v=a2&_gsa=1#_ftn9 FONSECA, Celso Silva. D. João II (1481-1495): a construção da autoridade jurídica do monarca. In.: Coletâneas do Nosso Tempo. Ano 07, v. 07, n. 08 (ago./dez. 2008). Cuiabá, Ed. UFMT. 2008. p. 55-73. SARAIVA, José Hermano. História Concisa de Portugal. Portugal: Publicações Europa América, LDA, 1995. CRISTIANI, Cláudio Valentim. O direito no Brasil colonial. In: Wolkmer, Antônio Carlos. Fundamentos de história do direito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. pp. 331 – 347. LARA, Silva Hunold. ( Org. ). Ordenações Filipinas: Livro V. São Paulo. Companhia das Letras, 1999. PAIVA, José Maria de. Colonização e Catequese. São Paulo: Arké, 2006. PAIVA, José Maria de. ( Org. ). Educação, História e Cultura no Brasil Colônia. São PAULO: Arké, 2007. TELLES, josé Homem Correia. Comentário Crítico à Lei da Boa Razão, em 18 de agosto de 1769. Lisboa: Tipografia de N.P de Lacerda, 1824. Referências Digitais: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/publicar?ref=top https://doutor-da-lei.jusbrasil.com.br/artigos/540987951/ordenacoes-afonsinas-manuelinas-fil ipinas-a... https://www.jusbrasil.com.br/artigos/publicar?ref=top https://doutor-da-lei.jusbrasil.com.br/artigos/540987951/ordenacoes-afonsinas-manuelinas-filipinas-as-ordenacoes-portuguesas-impostas-no-brasil https://doutor-da-lei.jusbrasil.com.br/artigos/540987951/ordenacoes-afonsinas-manuelinas-filipinas-as-ordenacoes-portuguesas-impostas-no-brasil
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