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FISIOPATO 30.04.2020 Aula 28 Mieloma Definição © Proliferação neoplásica clonal de plasmócitos associada à síntese de imunoglobulina monoclonal completa ou incompleta (em 1% dos casos, não secreção de imunoglobulina) - proteína M © Trata-se de doença de adultos idosos, sendo rara em jovens © Aspecto celular - plasmócitos morfologicamente normais - células com pleomorfismo e anaplasia (plasmoblastos) © Os plasmócitos neoplásicos normalmente não expressam marcadores de célula B (CD19, CD20 e CD10 são geralmente negativos). © os plasmócitos neoplásicos com frequência sintetizam em excesso cadeias leves ou pesadas juntamente com Igs completas. Ocasionalmente, apenas cadeias leves ou pesadas são produzidas. As cadeias leves livres são pequenas o suficiente para serem excretadas na urina, onde são denominadas proteínas de Bence-Jones. As cadeias leves livres podem ser detectadas e mensuradas na urina ou no sangue, sendo, neste último caso, através de novos ensaios altamente sensíveis que estão em processo de avaliação. Epidemiologia © 15% das mortes causadas por tumores dos leucócitos © Mais comuns em indivíduos de meia-idade e idosos © mais comuns malignidades linfoides © aproximadamente 20.000 novos casos EUA/ano © Brasil (INCA???) – estimativas: 4:100.000, cerca de 7.600/ano © Idade mediana - 70 anos (diagnóstico), mais comum em homens e origem africana © Acometimento medula óssea associado a lesões líticas por todo o sistema esquelético. Classificação © As neoplasias plasmocitárias apresentam variantes principais 1. Mieloma múltiplo (mieloma de plasmócitos), a mais importante gamopatia monoclonal, geralmente se manifesta como massas tumorais espalhadas pelo sistema esquelético. 2. Plasmocitoma solitário 3. Linfoma linfoplasmocítico 4. Doença da cadeia pesada 5. Amiloidose primária 6. Gamopatia monoclonal de significado indeterminado (GMSI) Etio-Fisiopatologia © Não esclarecida © Exposição à radiação, ao benzeno, outros solventes orgânicos, herbicidas e inseticidas © Grupos familiares (parentes de primeiro grau, gêmeos idênticos) © Evolução fase pré-maligna da GMSI © Mutações em RAS e p53, metilação do p16, anormalidades no MYC (v-myc © Mielocitomatose Viral Oncogênica Homologa) e translocações secundárias © Alterações microambiente MO - indução da angiogênese e estímulos parácrinos anormais envolvendo citosinas tais como a IL-6 © Os osteoclastos ativados [estímulo do receptor transmembrana RANK (receptor ativador do fator nuclear κB - TNF)] © O ligante RANKL - liga em outro receptor (isca) osteoprotegerina (OPG) 2 © Há aumento na expressão de RANKL por osteoblastos → redução nos níveis de OPG – desbalanção na proporção RANKL/OPG → ativação dos osteoclastos → reabsorção e a renovação ósseas © Ativação de osteoclastos? ↑ níveis proteína inflamatória 1α de macrófagos, fator α derivado de células do estroma, IL-3, IL-1β e IL-6 © Supressão dos osteoblastos mediada pelo aumento dos níveis de IL-3, IL- 7 e Dickkopf 1 (DKK1) © Doença osteolítica pura do osso, que é a “marca registrada” do mieloma múltiplo. Quadro Clínico – Macro e Microscópico © Anemia (palidez), trombocitopenia, lesões osteolíticas (fraturas), osteoporose generalizada e dor óssea (lombar, tórax); imunodeficiência, hipercalcemia e alterações renais são comuns © Plasmocitose acima de 20% © Histológico - infiltração da MO por plasmócitos maduros e formas jovens © 75% dos pacientes uma anemia normocítica, normocrômica © 80% de proteína M na eletroforese de proteínas séricas © imunofixação do soro - proteína M - 93% dos pacientes © eletroforese da urina mais imunofixação - proteína M - 97% dos pacientes © tipo de proteína M é IgG em 52%, IgA em 21%, apenas cadeias leves (proteinemia de Bence Jones) em 16%, IgD em 2%, gamopatia biclonal em 2%; o tipo de cadeia é κ em 65% dos casos e λ em 35%. © 3% dos pacientes a proteína M não pode ser identificada - mieloma não secretor. © Células plasmáticas clonais MO mais de 10% de todas as células nucleadas em 96% dos pacientes © comprometimento MO pode ser focal – necessidades de reabordagem do exame, ou acometimento de outras regiões © maioria dos casos as células plasmáticas são Ig+, CD38+, CD45–, CD138+, CD56+ e CD19+ © Diagnóstico diferencial: clonalidade das células plasmáticas - relação κ/λ, anormal no mieloma (tanto >4:1, indicando uma população κ clonal, quanto <1:2, indicando uma população λ clonal) - diferenciação entre uma proliferação monoclonal de células plasmáticas no MM e plasmocitose (doença do tecido conjuntivo, carcinoma metastático, doença hepática e infecções) IMAGEM – o osso fica extremamente fino e com a possibilidade de rompimentos e fraturas 3 Mieloma Multiplo O mieloma múltiplo é uma neoplasia de plasmócitos monoclonais caracterizada pelo envolvimento multifocal do esqueleto. Embora a doença óssea seja predominante, o tumor pode propagar-se para os linfonodos e sítios extranodais, tais como a pele, em fase mais tardia do seu curso. O mieloma múltiplo é a causa de 1% de todas as mortes por câncer nos países ocidentais. Sua incidência é maior em homens e pessoas de origem africana. É principalmente uma doença de idosos, com maior incidência na faixa etária de 65 a 70 anos de idade. O mieloma múltiplo latente corresponde a um estágio intermediário, com maior risco de progressão para mieloma, da ordem de 10% em cinco anos. No mieloma latente, não são detectados sinais laboratoriais de dano aos rins, aos ossos ou à hematopoese. Pacientes nessa fase devem ser acompanhados (espera vigilante) sem tratamento antineoplásico, já que nem todos evoluem para mieloma múltiplo. O plasmocitoma solitário requer a demonstração histológica de lesão óssea com proliferação clonal de plasmócitos em apenas um sítio, ósseo ou extraósseo. Patogenia Molecular 4 Os genes de Ig nas células do mieloma sempre apresentam evidência de hipermutação somática. Considera-se que a célula de origem seja uma célula B pós- centro germinativo que se alojou na medula óssea e se diferenciou em plasmócito. A proliferação e a sobrevida das células do mieloma são dependentes de várias citocinas, principalmente IL-6. A IL-6 é um fator de crescimento importante para os plasmócitos e é produzida pelas próprias células tumorais e por células residentes do estroma da medula. Altos níveis séricos de IL-6 são detectados em pacien- tes com a doença ativa e são associados a um mau prognóstico. Os fatores produzidos por plasmócitos neoplásicos medeiam a destruição óssea, o principal aspecto patológico do mieloma múltiplo. De interesse particular, a MIP1α derivada do mieloma estimula a expressão do ligante do receptor ativador do fator NF-κB (RANKL) pelas células do estroma da medula óssea, que, por sua vez, ativam os osteoclastos. Outros fatores liberados por células tumorais, tais como moduladores da via Wnt, são pontehntes inibidores da função dos osteoblastos O efeito global é um aumento notável na reabsorção óssea, resultando em hipercalcemia e fraturas patológicas. Morfologia Geralmente se manifesta como tumores de plasmócitos destrutivos (plasmacitomas) envolvendo o esqueleto axial. Os ossos comumente afetados (em ordem decrescente de frequência) são: a coluna vertebral, costelas, crânio, pelve, fêmur, clavícula e escápula. As lesões começam na cavidade medular, corroem o osso esponjoso e progressivamente destroem o córtex ósseo, muitas resultam em fraturas patológicas. As lesões ósseas aparecem radiograficamente, e macroscopicamente, a maioria consiste em massas tumorais moles, gelatinosas e avermelhadas. A medula contém um número aumentado de plasmócitos, que geralmente representam mais de 30% da celularidade. Os plasmócitos podem se infiltrar no interstício ou estar presentes nas camadas que substituem completamente os elementos normais. Geralmente, o alto nível de proteínas M leva à adesão entre os eritrócitosem um arranjo linear no esfregaço do sangue periférico, um aspecto referido como formação rouleaux. Aspetos Clínicos Provêm dos (1) efeitos do crescimento dos plasmócitos nos tecidos, particularmente os ossos; (2) da produção excessiva de Igs, que frequentemente têm propriedades físico-químicas anormais; e (3) da supressão da imunidade humoral normal. A reabsorção óssea frequentemente resulta em fraturas patológicas e dor crônica. A hipercalcemia concomitante pode dar origem às manifestações neurológicas, tais como confusão, fraqueza, letargia, constipação e poliúria, e contribui para a disfunção renal. A produção reduzida de Igs normais determina a fase das infecções bacterianas recidivantes. A imunidade celular é relativamente inalterada. De grande significado é a insuficiência renal, que apresenta apenas as infecções como causa de morte. A patogenia da insuficiência renal, que ocorre em até 50% dos pacientes, é multifatorial. Contudo, o único fator mais importante parece ser a proteinúria de Bence Jones, visto que as cadeias leves excretadas são tóxicas para as células epiteliais tubulares renais. Certas cadeias leves (particularmente aquelas das famílias λ6 e λ3) têm propensão para causar a amiloidose do tipo AL, que pode exacerbar a disfunção renal, assim como formar depósitos em outros tecidos. Em 99% dos pacientes, as análises laboratoriais revelam níveis aumentados de Igs no sangue e/ou de cadeias leves (proteínas de Bence Jones) na urina. As Igs monoclonais são em geral primeira- mente detectadas como “picos” proteicos anormais na eletroforese do soro ou urina e em seguida caracterizadas por imunofixação. Para a caracterização diagnóstica do mieloma múltiplo, além da demonstração da proliferação de plasmócitos monoclonais na medula, com estimativa de seu número e proporção em relação aos outros elementos medulares, e da caracterização diagnóstica do plasmocitoma, são necessários outros achados laboratoriais e estudos 5 de imagem que mostrem alterações na hematopoese, na função renal e no metabolismo ósseo. Radiograficamente, encontram-se lesões ósseas do tipo mapa geográfico, geralmente insuflantes, podendo haver também osteopenia generalizada por infiltração medular (mielomatose. O mieloma múltiplo é tratado com quimioterapia sistêmica. Em certos casos, faz-se transplante autólogo da medula óssea. Pacientes com deleção do 17p ou translocações t(14;16) e t(14;20) têm alto risco, e os com translocação t(4;14) são considerados de risco intermediário, podendo receber terapia inicial mais agressiva. Os pacientes de alto risco apresentam prognóstico desfavorável, com sobrevida em cinco anos de em torno de 30%; pacientes de baixo risco apresentam sobrevida em torno de 80%. O plasmocito caracteriza-se por ser uma célula que está circulante, não tendo diferenciação na medula óssea e por ser policlonal produzindo cadeia leve e pesada de IgG, IgM, IgA e outros (fisiológico). Sendo seu critério de diagnostico será detectar se a medula óssea apresenta plasmocitos (representa uma disseminação desse plasmocito maligno dentro da medula) e o segundo critério será detectar se o plasmocito esta na forma monoclonal (eletroforese de proteína, nesse exame como a quer detectar essa forma monoclonal a proteína anômala terá um pico na eletroforese – pico monoclonal), a terceira opção será a questão óssea, procurando áreas do osso em que tenham marcas dessa doença, sendo o lugar mais fácil o crânio e por fim, se há muita produção de proteínas anômala e grande, o ultimo órgão a ser investigado será o rim, filtrando essas proteínas e causando a proteinuria, causando também lesão renal crônica. Síndrome Mielodisplásicas É um grupo heterogêneo de doenças originadas da proliferação clonal da célula primordial hemopoética. Sua principal característica é a hemopoese ineficaz e displásica, que resulta em citopenia(s) periférica(s) com medula óssea geralmente hipercelular (hipocelularidade medular é vista em 10 a 15% dos casos). A morbidade e a mortalidade na síndrome estão relacionadas com as citopenias periféricas, a hemopoese ineficaz e a evolução para leucemia aguda. SMD pode surgir como doença primária ou ser secundária a tratamento quimioterápico ou radioterápico de outras neoplasias. Em cerca de 30% dos pacientes, a SMD evolui para leucemia aguda, após período variável, geralmente entre seis meses e dois anos nos subtipos de alto risco. A maioria dos pacientes com SMD falece em consequência de complicações decorrentes de citopenias, como infecções (neutropenia), hemorragias (plaquetopenia) ou anemia. Estudos sugerem que SMD e LMA ocorram por exposições cumulativas a substâncias tóxicas ambientais, em indivíduos geneticamente predispostos. No passo seguinte, ocorreria inibição da apoptose, associação de mecanismos imunológicos e imunossupressão. Persistindo a agressão imunitária, haveria aumento da produção de citocinas pró-apoptóticas, que, associadas a fatores do estroma e do endotélio medular, poderiam ser a causa da hemopoese ineficaz e da falência medular. Acredita-se que fatores inerentes à senescência hemopoética associada à idade desempenhem papel importante como elemento iniciador, levando à expansão de um clone geneticamente instável. Alterações moleculares (detectadas mais tardiamente no curso da doença) representariam fatores adicionais que confeririam vantagem seletiva de proliferação celular. Clinicamente, a SMD manifesta-se preferencialmente por volta de 70 anos, sendo rara em crianças ou em jovens. A sintomatologia depende da linhagem hemopoética acometida, sendo mais frequentes os sinais e sintomas secundários à anemia. Em alguns casos, o diagnóstico de insuficiência medular é feito por hemograma rotineiro, no qual se constata uma ou mais citopenias. Nessas situações, o curso clínico é crônico, e o quadro hematológico corresponde ao de anemia refratária. 6 Nesta, o número de blastos na MO é inferior a 5%; além disso, os blastos estão ausentes no sangue periférico ou, se presentes, não excedem 1% dos elementos nucleados. Em outro grupo de anemia refratária, o mielograma revela grande número de sideroblastos em anel (pelo menos 15% dos eritroblastos, o que constitui a anemia refratária com sideroblastos em anel – ARSA). Os sideroblastos em anel são vistos como eritroblastos contendo depósitos granulares perinucleares de ferro formando um colar (reação de Perls. O número de blastos pode aumentar. Quando o número de blastos está entre 5 e 19% na MO e inferior a 5% no SP, o quadro é chamado de anemia refratária com excesso de blastos (AREB). Os blastos medulares não devem exceder 20%, acima do que faz-se o diagnóstico de leucemia aguda. Além da história clínica, do exame físico e do hemograma, o diagnóstico de SMD inclui o estudo da medula óssea (citologia, citoquímica e histologia). Nos esfregaços citológicos, além de blastos pode ser observada displasia nas três séries hemopoéticas: na eritroblástica, encontra-se diseritropoese (sideroblastos em anel, multinucleação de células, fragmentação nuclear de vários tamanhos, irregularidades nos contornos nucleares e alterações na coloração citoplasmática, hemoglobinização anômala); na granulocítica (disgranulopoese), podem-se encontrar redução ou ausência de grânulos (hipo ou agranulação), persistência de basofilia nas células maduras, hipossegmentação nuclear (anomalia semelhante à de Pelger- Huët, também denominada pseudo-Pelger- Huët), ou hipersegmentação nuclear; a dismegacariopoese é representada por micromegacariócitos, megacariócitos grandes mononucleados ou megacariócitos com múltiplos pequenos núcleos separados, além de grânulos grosseiros e anormais. Micromegacariócitos em biópsia de medula óssea
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