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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 1 Proliferação celular III SP 1.3 – F ILHO DOENTE, DÓI NA GENTE. 1) DEFINIR E DIFERENCIAR TUMORES SÓLIDOS E NÃO SÓLIDOS; A imagem associada ao câncer é muitas vezes aquela que representa fisicamente um tumor, com aspecto sólido, vascularizado e localizado em uma região do corpo. Estes, os tumores denominados sólidos, representam grande parte dos tipos de cânceres conhecidos atualmente, como por exemplo os de mama, próstata, pulmão, fígado, colorretal, entre outros. Porém, qualquer célula e/ou tecido pode se transformar em um câncer, inclusive as partes “líquidas” do corpo e que circulam livremente por todo o organismo, como o sangue. Um câncer tem início quando alguma célula do organismo começa a crescer de forma descontrolada. Uma célula saudável cresce e se divide de forma ordenada e coordenada, enquanto uma célula cancerosa passa a replicar um DNA modificado e pode, por muitas vezes, invadir outros tecidos, o que células normais não fazem1. Existem hoje na medicina vários tipos de cânceres chamados hematológicos, originários das células do sangue, sendo os três principais: as leucemias - tipo que tem início na medula óssea; os linfomas – que se originam no sistema linfático e se dividem entre Hodgkin e Não-Hodgkin; e o mieloma múltiplo, desenvolvido a partir dos plasmócitos. A principal diferença é que os cânceres hematológicos têm origem no tecido hematológico ou no sistema linfático. Eles podem circular (sendo assim chamados líquidos), enquanto os sólidos ficam restritos a seus órgãos de origem ou, em alguns casos, com metástase para outros órgãos, mas quase sempre com lesões ‘sólidas’. Entre as diferenças estão também os sintomas. Enquanto as manifestações dos tumores sólidos estão relacionadas ao local em que ele está instalado, como nódulos na mama, dores ósseas nos tumores ósseos e escarros com sangue no caso do câncer de pulmão, os sintomas dos cânceres hematológicos são diversos e dependem muito do tipo desenvolvido. Nos linfomas, por exemplo, o mais comum são linfonodos (ínguas) indolores, febre, sudorese noturna e perda de peso. Já no mieloma múltiplo o indivíduo pode apresentar dores ósseas, anemia e insuficiência renal. Os sintomas dos cânceres hematológicos são inespecíficos, confundidos com uma série de outras doenças. Então é importante fomentar o conhecimento sobre esses sintomas, para que os diagnósticos sejam realizados mais precocemente. Quando falamos de tratamento, apesar da principal diferença ser em relação à cirurgia - para os tumores sólidos a cirurgia é uma opção importante para a retirada do tumor, nos hematológicos, procedimentos mais invasivos são utilizados apenas para coleta de material para diagnóstico - Os avanços da medicina para ambos caminham lado a lado. Na maioria dos cânceres, avalia-se a extensão da doença por meio de uma variedade de exames e procedimentos diagnósticos não invasivos e invasivos. Esse processo é denominado estadiamento. Há dois tipos de estadiamento: o estadiamento clínico, feito com base em exame físico, radiografias, cintilografias, tomografia computadorizada (TC) e outros exames de imagem; e o estadiamento patológico, que leva em consideração as informações obtidas durante um procedimento cirúrgico. O estadiamento de base anatômica é considerado importante fator prognóstico. O sistema de estadiamento mais amplamente utilizado é o TNM, (tumor, linfonodo, metástase). A classificação TNM é um sistema de base anatômica que classifica o tumor de acordo com o tamanho da lesão tumoral primária (T1-4, em que números maiores indicam tumores maiores), o comprometimento de linfonodos (em geral, N0 e N1, indicando, respectivamente, ausência e presença de linfonodos acometidos, embora alguns tumores tenham sistemas mais elaborados de gradação de linfonodos) e a presença de doença metastática (M0 e M1, indicando, respectivamente, ausência e presença de metástases). As várias combinações dos escores T, N e M (às vezes incluindo o grau [G] histológico do tumor) subdividem- se em estágios, em geral designados por algarismos romanos de I a IV. A carga tumoral aumenta e a curabilidade diminui com o aumento do estágio. Certos tumores não podem ser classificados com base nos aspectos anatômicos. Assim, por exemplo, os tumores hematopoiéticos, como a leucemia, o mieloma e o linfoma, em geral já estão disseminados quando o paciente é examinado pela primeira vez e não se espalham como os tumores sólidos. Para esses tumores, foram identificados outros fatores prognósticos. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 2 2) DESCREVER A ORIGEM E O DESENVOLVIMENTO DA LINHAGEM HEMATOPOIÉTICA; A principal função das hemácias, também conhecidas como eritrócitos, consiste no transporte de hemoglobina, que, por sua vez, leva oxigênio dos pulmões para os tecidos. Em alguns animais, a hemoglobina circula como proteína livre no plasma, não como integrante das células da linhagem vermelha. Quando livre no plasma do ser humano, cerca de 3% do total da hemoglobina extravasam, através da membrana capilar para o espaço intersticial, ou através da membrana glomerular do rim para o filtrado glomerular, a cada vez que o sangue passa pelos capilares. Assim, a hemoglobina deve permanecer dentro dos glóbulos vermelhos para executar eficazmente as suas funções nos seres humanos. As hemácias desempenham outras funções, além do transporte da hemoglobina. Por exemplo, contêm grande quantidade de anidrase carbônica, enzima que catalisa a reação reversível entre o dióxido de carbono (CO2) e a água para formar ácido carbônico (H2CO3), aumentando, por milhares de vezes, a velocidade dessa reação. A rapidez dessa reação possibilita que a água do sangue transporte quantidade enorme de CO2 na forma de íon bicarbonato (HCO3−), dos tecidos para os pulmões, onde é reconvertido em CO2 e eliminado para a atmosfera como produto do metabolismo corporal. A hemoglobina nas células é excelente tampão ácido-base (como é o caso da maioria das proteínas); devido a isso, a hemácia é responsável pela maior parte da capacidade do tamponamento ácido- base de todo o sangue. Forma e Dimensões das Hemácias. As hemácias normais são discos bicôncavos com diâmetro médio de cerca dos 7,8 micrômetros e espessura de 2,5 micrômetros, em sua área mais espessa, e 1 micrômetro ou menos no centro. O volume médio das hemácias é de 90 a 95 micrômetros cúbicos. A forma das hemácias pode variar muito conforme as células sejam espremidas ao passarem pelos capilares. De fato, a hemácia é um “saco” que pode ser deformado, assumindo praticamente qualquer forma. Além disso, como a célula normal tem excesso de membrana celular em relação à quantidade de material interno, a deformação, em termos relativos, não distende muito a membrana e, consequentemente, não causa ruptura da célula, como aconteceria com muitas outras células. Concentração de Hemácias no Sangue. No homem saudável, o número médio de hemácias por milímetro cúbico é de 5.200.000 (±300.000); e, na mulher, é de 4.700.000 (±300.000). As pessoas que vivem em grandes altitudes apresentam número maior de hemácias. Quantidade de Hemoglobina nas Células. As hemácias têm capacidade de concentrar a hemoglobina no líquido celular por até 34 gramas em cada 100 mililitros de células. A concentração não ultrapassa esse valor por se tratar do limite metabólico do mecanismo celular formador de hemoglobina. Além disso, em pessoas normais, a porcentagem de hemoglobina é, em geral, sempre próxima do nível máximo em cada célula. Todavia, quando a produção de hemoglobina é deficiente, a porcentagem de hemoglobina nas células pode diminuir, consideravelmente, abaixo desse valor, e o volumeda hemácia pode também diminuir, devido à falta de hemoglobina para encher a célula. Quando o hematócrito (a porcentagem de sangue que está nas células — em geral, 40% a 45%) e a quantidade de hemoglobina em cada célula respectiva estão normais, o sangue total do homem contém, em média, 15 gramas de hemoglobina por 100 mililitros; nas mulheres, o sangue contém 14 gramas por 100 mililitros. Em relação ao transporte de oxigênio pelo sangue, cada grama de hemoglobina pura é capaz de se combinar com 1,34 mL de oxigênio se a hemoglobina estiver 100% saturada. Por conseguinte, no homem normal, o máximo de cerca de 20 mililitros de oxigênio pode ser transportado em combinação com a hemoglobina por cada 100 mililitros de sangue, enquanto na mulher normal podem ser transportados 19 mililitros de oxigênio. PRODUÇÃO DE HEMÁCIAS Áreas do Corpo que Produzem Hemácias. Nas primeiras semanas da vida embrionária, hemácias nucleadas primitivas são produzidas no saco vitelino. Durante o segundo trimestre da gestação, o fígado passa a constituir o principal órgão de produção de hemácias, embora número razoável também seja produzido pelo baço e pelos linfonodos. Posteriormente, durante o último mês de gestação e após o nascimento, as hemácias são produzidas exclusivamente na medula óssea. A medula óssea de quase todos os ossos produz hemácias até que a pessoa atinja a idade de 5 anos. A medula óssea dos ossos longos, exceto pelas porções proximais do úmero e da tíbia, fica muito gordurosa, deixando de produzir hemácias aproximadamente aos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 3 20 anos de idade. Após essa idade, a maioria das hemácias continua a ser produzida na medula óssea dos ossos membranosos, como vértebras, esterno, costelas e íleo. Mesmo nesses ossos, a medula passa a ser menos produtiva com o avanço da idade. Células-tronco Hematopoéticas Pluripotentes, Indutores do Crescimento e Indutores da Diferenciação. As hemácias iniciam suas vidas, na medula óssea, por meio de tipo único de célula referido como célula-tronco hematopoética pluripotente, da qual derivam todas as células do sangue circulante. Divisões sucessivas das células pluripotentes formam as diferentes células sanguíneas periféricas. À medida que essas células se reproduzem, pequena parcela permanece exatamente como as células pluripotentes originais, retidas na medula óssea como reserva, embora seu número diminua com a idade. Todavia, a maioria das células-tronco que se reproduziram se diferencia formando outras células. As células em estágio intermediário são bastante parecidas com as células-tronco pluripotentes, apesar de já estarem comprometidas com uma linhagem particular de células, referida como células-tronco comprometidas. As diferentes células-tronco comprometidas, quando crescem em cultura, produzem colônias de tipos específicos de células sanguíneas. A célula-tronco comprometida produtora de hemácias é referida como unidade formadora de colônia de eritrócitos e a sigla CFU-E (colony-forming uniterythrocyte) é usada para designar esse tipo de célula-tronco. De forma análoga, as unidades formadoras de colônia produtoras de granulócitos e de monócitos têm a designação CFU-GM e assim por diante. O crescimento e a reprodução das diferentes células- tronco são controlados por múltiplas proteínas, denominadas indutores de crescimento. Foram descritos pelo menos quatro indutores de crescimento principais, cada um tendo características diferentes. Um desses indutores, a interleucina-3, promove o crescimento e a reprodução de praticamente todos os diferentes tipos de células-tronco comprometidas, ao passo que os outros induzem o crescimento de apenas tipos específicos de células. Os indutores de crescimento promovem o crescimento das células, mas não sua diferenciação, que é a função de outro grupo de proteínas, denominado indutores de diferenciação. Cada um desses indutores da diferenciação determina a diferenciação do tipo de células-tronco comprometidas em um ou mais estágios de desenvolvimento, em relação à célula final adulta. A formação dos indutores de crescimento e de diferenciação é, por sua vez, controlada por fatores externos à medula óssea. Por exemplo, no caso de hemácias (células da linhagem vermelha), a exposição do sangue a baixas concentrações de oxigênio, por longo período, resulta na indução do crescimento, da diferenciação e da produção de número muito aumentado de hemácias, como discutido adiante neste capítulo. No caso de alguns leucócitos, as doenças infecciosas causam crescimento, diferenciação e formação final de tipos específicos de leucócitos necessários ao combate de cada infecção. Estágios da Diferenciação das Hemácias. A primeira célula que pode ser identificada como pertencente à linhagem vermelha é o proeritroblasto. Na presença de estimulação apropriada, grande número dessas células é formado por células-tronco CFU-E. Uma vez formado o proeritroblasto, ele se divide por diversas vezes, até por fim formar muitas hemácias maduras. As células da primeira geração são denominadas eritroblastos basófilos, por se corarem com substâncias básicas; nesse estágio, a célula só acumula pequena quantidade de hemoglobina. Nas gerações sucessivas as células ficam cheias com hemoglobina, na concentração de cerca de 34%; o núcleo se condensa até tamanho muito pequeno e seu resíduo final é absorvido ou excretado pela célula. Ao mesmo tempo, o retículo endoplasmático também é Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 4 reabsorvido. A célula nesse estágio é designada reticulócito, por ainda conter pequena quantidade de material basofílico, consistindo em remanescentes do aparelho de Golgi, das mitocôndrias e de algumas outras organelas citoplasmáticas. Durante esse estágio de reticulócito, as células saem da medula óssea, entrando nos capilares sanguíneos por diapedese (modificando sua conformação para passar pelos poros das membranas capilares). O material basófilo remanescente do reticulócito, normalmente, desaparece de 1 a 2 dias e, a partir daí, a célula passa a ser referida como hemácia madura. Devido ao curto período de vida dos reticulócitos, sua concentração, entre as outras células da linhagem vermelha do sangue, é, em condições normais, de pouco menos que 1%. A Eritropoetina Regula a Produção das Hemácias do Sangue. A massa total de células sanguíneas da linhagem vermelha no sistema circulatório é regulada dentro de limites estreitos, de modo que (1) um número adequado de hemácias sempre esteja disponível para o transporte adequado de oxigênio dos pulmões para os tecidos; e (2) as células não sejam tão numerosas a ponto de impedir o fluxo sanguíneo. Oxigenação Tecidual É o Regulador Mais Essencial da Produção de Hemácias. As condições que causem diminuição da quantidade de oxigênio transportado para os tecidos normalmente aumentam a intensidade da produção de hemácias. Assim, quando a pessoa fica extremamente anêmica, como consequência de hemorragia ou de outra condição, a medula óssea, de imediato, inicia a produção de grande quantidade de hemácias. Além disso, a destruição de grandes porções de medula óssea, em especial pela terapia por raios X, acarreta hiperplasia da medula óssea em uma tentativa de suprir a demanda por hemácias pelo organismo. Nas grandes altitudes, onde a quantidade de oxigênio no ar está bastante diminuída, o oxigênio é transportado para os tecidos em quantidade insuficiente e ocorre aumento significativo da produção de hemácias. Nesse caso, não é a concentração de hemácias no sangue que controla sua produção, mas, sim, a quantidade de oxigênio transportado para os tecidos, em relação à demanda tecidual por oxigênio. Diversas patologiascirculatórias que causam a redução do fluxo sanguíneo tecidual e particularmente as que promovem redução da absorção de oxigênio pelo sangue, quando passa pelos pulmões, podem também aumentar a intensidade de produção de hemácias. Esse resultado é especialmente aparente na insuficiência cardíaca crônica e em muitas doenças pulmonares, nas quais a hipoxia tecidual, resultante dessas condições, aumenta a produção das hemácias, com o consequente aumento do hematócrito e em geral do volume total de sangue. A Eritropoetina Estimula a Produção de Hemácias e sua Formação Aumenta em Resposta à Hipoxia. O principal estímulo para a produção de hemácias nos estados de baixa oxigenação é o hormônio circulante referido como eritropoetina, glicoproteína com peso molecular de cerca de 34.000. Na ausência de eritropoetina, a hipoxia tem pouco ou nenhum efeito sobre a estimulação da produção eritrocitária. Entretanto, quando o sistema da eritropoetina está funcional, a hipoxia promove aumento importante da produção de eritropoetina, e, por sua vez, a eritropoetina aumenta a produção eritrocitária até o desaparecimento da hipoxia. A Eritropoetina é Formada Principalmente nos Rins. Normalmente, cerca de 90% de toda eritropoetina é produzida pelos rins, sendo a restante formada, em sua maior parte, no fígado. Não se sabe exatamente onde, nos rins, a eritropoetina é produzida. Alguns estudos Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 5 sugerem que a eritropoetina seja secretada, principalmente, por células intersticiais semelhantes a fibroblasto, em torno dos túbulos do córtex e medula exterior e secrete onde ocorre grande parte do consumo renal de oxigênio. É provável que outras células, incluindo as células do epitélio renal, também secretem a eritropoetina em resposta à hipoxia. A hipoxia do tecido renal leva ao aumento dos níveis teciduais do fator induzível por hipoxia 1 (HIF-1), que serve como fator de transcrição para grande número de genes induzíveis por hipoxia, incluindo o gene da eritropoetina. O HIF-1 se liga a elemento de resposta a hipoxia, residente no gene da eritropoetina, induzindo a transcrição de RNA mensageiro e, por último, aumentando a síntese de eritropoetina. Algumas vezes, a hipoxia, em outras partes do organismo, mas não nos rins, também estimula a secreção renal de eritropoetina, o que sugere a existência de algum tipo de sensor não renal que envia sinal adicional para os rins, para a produção desse hormônio. Em particular, tanto a norepinefrina quanto a epinefrina, além de diversas prostaglandinas, estimulam a produção de eritropoetina. Quando os dois rins são removidos ou destruídos por doença renal, a pessoa invariavelmente fica muito anêmica, visto que os 10% de eritropoetina normal produzidos em outros tecidos (sobretudo no fígado) só são suficientes para estimular de 33% a 50% da produção eritrocitária necessária ao organismo. A Eritropoetina Estimula a Produção de Proeritroblastos a partir das Células-Tronco Hematopoéticas. Quando animal ou pessoa é colocado em atmosfera com baixa concentração de oxigênio, a eritropoetina começa a ser formada em alguns minutos a horas, atingindo sua produção máxima em 24 horas. Contudo, quase nenhuma hemácia nova aparece no sangue circulante até cerca de 5 dias depois. Com base nesse fato, bem como em outros estudos, foi estabelecido que o efeito principal da eritropoetina consiste na estimulação da produção de proeritroblastos a partir das células-tronco hematopoéticas na medula óssea. Além disso, uma vez formados os proeritroblastos, a eritropoetina também estimula a diferenciação mais rápida dessas células pelos diferentes estágios eritroblásticos, em relação ao processo normal, acelerando ainda mais a produção de novas hemácias. A rápida produção de células continua, contanto que a pessoa permaneça no estado de baixo teor de oxigênio ou até que hemácias suficientes tenham sido produzidas para transportar quantidades adequadas de oxigênio para os tecidos, apesar da baixa concentração de oxigênio; nesse momento, a intensidade da produção de eritropoetina diminui para o nível adequado para manter a quantidade necessária de hemácias sem nenhum excesso. Na ausência de eritropoetina, ocorre formação de poucas hemácias pela medula óssea. Em contrapartida, quando grande quantidade de eritropoetina é produzida e fica disponível, caso exista quantidade abundante de ferro e outros nutrientes necessários disponíveis, a intensidade da produção eritrocitária talvez possa aumentar por 10 vezes ou mais em relação à normal. Por conseguinte, o mecanismo da eritropoetina para controle da produção de hemácias é bastante potente. A Maturação das Hemácias Necessita: Vitamina B12 (Cianocobalamina) e Ácido Fólico. Devido à contínua necessidade de reposição das hemácias, as células eritropoéticas da medula óssea estão entre as células de mais rápidos crescimento e reprodução de todo o corpo. Assim, como seria de se esperar, sua maturação e intensidade de produção são acentuadamente afetadas pelo estado nutricional da pessoa. Duas vitaminas, a vitamina B12 e o ácido fólico, são de grande importância para a maturação final das células da linhagem vermelha. Ambas as vitaminas são essenciais à síntese de DNA, visto que cada uma delas, por modos diferentes, é necessária para a formação de trifosfato de timidina, uma das unidades essenciais da produção do DNA. Por conseguinte, a deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico resulta em diminuição do DNA e, consequentemente, na falha da maturação nuclear e da divisão celular. Além disso, as células eritroblásticas da medula óssea, além de não conseguirem se proliferar com rapidez, produzem hemácias maiores que as normais, referidas como macrócitos, que têm membrana muito frágil, irregular, grande e ovalada em vez do disco bicôncavo usual. Essas células recém-formadas, após entrarem na circulação sanguínea, são capazes de transportar normalmente oxigênio, porém sua fragilidade faz com que tenham sobrevida curta, de metade a um terço da normal. Assim, a deficiência de vitamina B12 ou de ácido fólico provoca falha de maturação durante o processo da eritropoese. FORMAÇÃO DA HEMOGLOBINA A síntese de hemoglobina começa nos proeritroblastos e prossegue até mesmo no estágio de reticulócitos. Portanto, quando os reticulócitos deixam a medula Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 6 óssea e penetram na corrente sanguínea, continuam formando quantidades diminutas de hemoglobina, até que após 1 dia ou mais se transformem em hemácias maduras. Etapas químicas básicas da formação de hemoglobina. Em primeiro lugar, a succinil-CoA, que se forma no ciclo de Krebs, se liga à glicina para formar a molécula de pirrol. Por sua vez, quatro pirróis se combinam para formar protoporfirina IX que, a seguir, se combina com o ferro, para formar a molécula do heme. Por fim, cada molécula de heme se combina com a longa cadeia polipeptídica denominada globina, sintetizada pelos ribossomos, formando a subunidade da hemoglobina referida como cadeia de hemoglobina. Cada uma dessas cadeias tem peso molecular de cerca de 16.000; por sua vez, quatro dessas cadeias se ligam frouxamente para formar a molécula completa de hemoglobina. Existem diversas variações sutis nas diferentes subunidades da cadeia de hemoglobina, dependendo da composição em aminoácidos da porção polipeptídica. Os diferentes tipos de cadeias são designados como cadeias alfa, beta, gama e delta. A forma mais comum de hemoglobina no ser humano adulto, a hemoglobina A, é a combinação de duas cadeias alfa e duas cadeias beta. A hemoglobina A tem peso molecular de 64.458. Pelo fato de cada cadeia de hemoglobina ter um grupo prostéticoheme contendo um átomo de ferro, e como existem quatro cadeias de hemoglobina em cada molécula completa de hemoglobina, são encontrados quatro átomos de ferro em cada molécula de hemoglobina. Cada um desses átomos pode se ligar a uma molécula de oxigênio, perfazendo o total de quatro moléculas de oxigênio (ou oito átomos de oxigênio), que podem ser transportadas por cada molécula de hemoglobina. A natureza das cadeias de hemoglobina determina a afinidade de ligação da hemoglobina com o oxigênio. A ocorrência de anormalidades nas cadeias também pode alterar as características físicas da molécula de hemoglobina. Por exemplo, na anemia falciforme, o aminoácido valina é substituído pelo ácido glutâmico em um ponto em cada uma das duas cadeias beta. Quando esse tipo de hemoglobina é exposto a baixos teores de oxigênio, formam-se cristais alongados no interior das hemácias que por vezes chegam a 15 micrômetros de comprimento. Esses cristais impossibilitam as células de passar por muitos capilares pequenos, e as extremidades pontiagudas dos cristais podem, provavelmente, romper a membrana celular, causando anemia falciforme. A Hemoglobina Combina Reversivelmente com o Oxigênio. A característica mais importante da molécula de hemoglobina consiste em sua capacidade de combinação, frouxa e reversível, com o oxigênio. A função primária da hemoglobina no organismo reside em sua capacidade de se combinar com o oxigênio nos pulmões e depois liberá-lo, imediatamente, nos capilares teciduais periféricos, onde a tensão gasosa do oxigênio é muito mais baixa que nos pulmões. O oxigênio não se combina com as duas valências positivas do ferro na molécula de hemoglobina. Na verdade, ele se liga frouxamente a uma das chamadas ligações de coordenação do átomo de ferro. São ligações extremamente frouxas, de modo que essa combinação é, com grande facilidade, reversível. Além disso, o oxigênio não se transforma em oxigênio iônico, mas é transportado na forma de oxigênio molecular (composto de dois átomos de oxigênio) para os tecidos, onde, devido à sua frouxa ligação prontamente reversível, é liberado nos líquidos teciduais ainda na forma de oxigênio molecular e não como oxigênio iônico. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 7 O TEMPO DE VIDA DAS HEMÁCIAS É DE APROXIMADAMENTE 120 DIAS Quando as hemácias são transportadas da medula óssea para o sistema circulatório, elas, em geral, circulam por 120 dias em média antes de serem destruídas. Embora as células maduras da linhagem vermelha não tenham núcleo, mitocôndrias ou retículo endoplasmático, elas contêm enzimas citoplasmáticas capazes de metabolizar glicose e formar pequenas quantidades de trifosfato de adenosina. Essas enzimas também mantêm (1) a flexibilidade de sua membrana celular; (2) o transporte de íons através da membrana; (3) o ferro das hemoglobinas na forma ferrosa, em vez de na forma férrica, além de (4) impedirem a oxidação das proteínas presentes nas hemácias. Mesmo assim, o sistema metabólico das hemácias senis fica, de forma progressiva, menos ativo, e as células ficam cada vez mais frágeis, presumivelmente devido ao desgaste de seus processos vitais. Quando a membrana das hemácias fica frágil, a célula se rompe durante sua passagem por algum ponto estreito da circulação. Muitas das hemácias se autodestroem no baço, onde os espaços entre as trabéculas estruturais da polpa vermelha, pelos quais deve passar a maioria das hemácias medem apenas 3 micrômetros de largura, em comparação ao diâmetro de 8 micrômetros das hemácias. Quando o baço é removido, o número de hemácias anormais e de células senis circulantes no sangue aumenta consideravelmente. Destruição da Hemoglobina por Macrófagos. Quando as hemácias se rompem e liberam hemoglobina, ela é fagocitada, praticamente de imediato, pelos macrófagos em muitas partes do organismo, mas de modo especial pelas células de Kupffer, no fígado, e pelos macrófagos, no baço e na medula óssea. No decorrer das próximas horas a dias, os macrófagos liberam o ferro da hemoglobina de volta para o sangue, para ser transportado pela transferrina até a medula óssea, para produção de novas hemácias, ou para o fígado e outros tecidos, para armazenamento sob a forma de ferritina. A porção porfirina da molécula de hemoglobina é convertida pelos macrófagos por meio de diversas etapas no pigmento biliar bilirrubina, que em seguida é secretada pelo fígado na bile; esse processo é discutido, em relação à função hepática. 3) DESCREVER A FISIOPATOLOGIA DAS LEUCEMIAS; As doenças neoplásicas hematopoéticas podem comprometer as linhagens linfoide ou mieloide, os macrófagos e seus precursores, ou os mastócitos. As doenças que comprometem as diversas linhagens diferem não apenas quanto ao seu quadro citomorfológico, mas também quanto aos aspectos clínicos, incluindo evolução e resposta ao tratamento. Neoplasias linfoides As neoplasias linfoides compreendem doenças que apresentam características clínicas e morfológicas bastante variáveis. Elas se originam de linfócitos das linhagens T, B ou NK, que podem estar em diferentes estágios de maturação. Assim, as leucemias agudas originam-se dos precursores linfoides primitivos, enquanto as leucemias linfoides crônicas e o mieloma múltiplo derivam de linfócitos mais diferenciados. Ademais, as neoplasias podem, no seu início, ser localizadas, como ocorre nos linfomas, que comprometem predominantemente os linfonodos. Alternativamente, a infiltração neoplásica pode ser generalizada desde o seu início, como acontece nas leucemias, onde existe a infiltração da medula óssea e de outros órgãos. Do ponto de vista histórico, as neoplasias linfoides originadas da medula óssea são denominadas leucemias, enquanto as originadas de qualquer outro órgão linfoide são identificadas como linfomas. O linfoma de Hodgkin é definido pela presença das células malignas de Reed-Sternberg e células de Hodgkin, em um substrato celular apropriado, e comprometem, em 80% dos casos, os linfonodos cervicais. Na doença de Hodgkin a extensão anatômica, muito mais do que os quatro tipos histológicos (predominância linfocitária, depleção linfocitária, celularidade mista e esclerose nodular), tem importância prognóstica e na escolha do tratamento. Por outro lado, os linfomas não Hodgkin são um grupo heterogêneo de doenças clonais das linhagens T, B ou NK que podem originar-se em qualquer órgão do sistema linfoide (linfonodos, timo, baço, pele ou tecido linfoide associado ao sistema digestivo) ou então ter uma origem extralinfoide como o pulmão, o cérebro, a tireoide, ou as gônadas. Nas leucemias linfoides agudas a proliferação e o acúmulo de linfoblastos na medula óssea determinam a supressão da hematopoese normal, que resulta em anemia, neutropenia e plaquetopenia. Além disso, a infiltração extramedular resulta em esplenomegalia, hepatomegalia, linfoadenopatia, e no comprometimento de meninges e gônadas. A Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) é uma doença acumulativa de linfócitos B CD5+ na medula óssea, sangue periférico e órgãos linfoides. Outras doenças linfoproliferativas crônicas devem ser consideradas no Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 8 diagnóstico diferencial da LLC, incluindo as leucemias prolinfocíticas, a tricocitoleucemia, as leucemias de Linfócitos Grandes Granulares (LGL) e a fase leucêmica dos linfomas da zona marginal, linfoma da zona do manto, linfoma centrofolicular e o linfoma linfoplasmocitoide. As neoplasias de células plasmocitárias representam a proliferação clonal de plasmócitos e plasmoblastos e são, geralmente, acompanhadas de proteinemia monoclonal. O mieloma múltiplo compromete predominantemente a medula óssea de forma generalizada,sendo pouco comum que se dissemine, invadindo o sangue periférico e outros órgãos. Ao contrário, a leucemia plasmocítica infiltra desde o seu início a medula óssea e o sangue periférico. Raramente os plasmocitomas podem ter apresentação inicial localizada, ocorrendo de forma solitária nos ossos ou em tecidos moles. Na gamopatia monoclonal essencial (benigna) existe pico monoclonal ou proteínas de Bence-Jones urinárias sem a evidência de neoplasia de linfócitosB ou plasmócitos. Entretanto, o seguimento desses pacientes revela que anualmente 1% dos casos progride para neoplasia. Existem ainda algumas doenças que exibem gamopatia monoclonal, mas a apresentação clínica varia desde uma forma linfomatosa até leucemia. Nesse grupo estão incluídas a macroglobulinemia de Waldenström e as doenças de cadeias pesadas. Neoplasias mieloides As doenças mieloproliferativas clonais resultam da mutação de uma célula progenitora pluripotencial que mantém a capacidade, embora de maneira imperfeita, de diferenciação e maturação para cada uma das linhagens mieloides. Por outro lado, o clone neoplásico suprime a multiplicação e a diferenciação das linhagens normais, levando habitualmente à anemia, neutropenia e plaquetopenia, que são reversíveis. Nas leucemias mieloides agudas os blastos leucêmicos podem ter características morfológicas e imunofenotípicas das células eritroides, monocíticas, megacariocíticas ou de mieloblastos ou promielócitos. Em um grupo de leucemias mieloides agudas com anormalidades genéticas recorrentes os estudos citogenético ou molecular são essenciais para o diagnóstico. Nesses casos o diagnóstico pode ser feito com a presença de <20% de blastos no sangue periférico ou na medula óssea. As leucemias agudas de linhagem ambígua compreendem um grupo que não mostram uma evidência clara de definição de linhagem, incluindo doenças que não expressam marcadores específicos de qualquer linhagem ou outras que apresentam marcadores concomitantes de mais de uma linhagem. As doenças mieloproliferativas crônicas incluem a leucemia mieloide crônica clássica Ph+ (BCR/ABL1+), a leucemia neutrofílica crônica, a leucemia eosinofílica crônica/ síndrome hipereosinofílica, e as mastocitoses. Mutações somáticas adquiridas da JAK2 mostraram ter papel fundamental na patogênese das doenças mieloproliferativas crônicas BCR-ABL1 negativas. A mielofibrose primária constitui também uma proliferação neoplásica da linhagem mieloide que apresenta fibrose de medula óssea acompanhada de esplenomegalia. A proliferação de fibroblastos é reacional, resultante da liberação local de citocinas por megacariócitos anormais. Na policitemia vera e na trombocitemia essencial a proliferação neoplásica resulta na formação de células com características morfológicas e funcionais muito próximas das normais, porém em número excessivo. Uma característica das doenças mieloproliferativas é a possibilidade de evolução de uma doença para outra e a presença de quadros hematológicos mistos. As mastocitoses são doenças raras caracterizadas pela infiltração anormal de mastócitos na pele, medula óssea, sangue, linfonodos, fígado, baço e trato gastrointestinal. A apresentação clínica varia de uma doença indolente, passando pelas mastocitoses associadas a doenças hematológicas, e chegando a formas agressivas como a leucemia de mastócitos. As síndromes mielodisplásicas caracterizam-se por hematopoese ineficiente e compartilham uma propensão a citopenias, medula hiperplástica (raramente hipocelulares) e alterações displásicas em uma ou mais séries. O número de blastos na medula óssea é normal ou aumentado, mas sempre <20%. A organomegalia é incomum. Neoplasias da linhagem histiocítica e dendrítica Esses tumores são extremamente raros e comprometem linfonodos ou tecidos de partes moles. Fundamentalmente existem células dendríticas derivadas da linhagem mieloide e células dendríticas derivadas do mesênquima. O primeiro tipo inclui as células de Langerhans, as intersticiais e as palsmocitoides. As células derivadas do mesênquima são as células dendríticas foliculares e as células reticulares fibroblásticas. Os tumores histiocíticos são proximamente relacionados com os tumores monocíticos, e muitas vezes é difícil diferenciar entre um infiltrado leucêmico monocítico de um sarcoma histiocítico. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 9 As doenças histiocíticas clonais incluem a histiocitose de células de Langerhans, o sarcoma histiocítico, o sarcoma de células dendríticas interdigitantes, o sarcoma de célula dendrítica, outros tumores raros e o xantogranuloma juvenil disseminado. A histiocitose de células de Langerhans pode ser localizada na pele, nos ossos ou em qualquer outro órgão, ou ser generalizada. Nesta última forma é comum a ocorrência de diabetes insipidus. O diagnóstico é feito com a demonstração da proteína S100 e do CD1a nos histiócitos e pela presença dos grânulos de Birbeck na microscopia eletrônica. A forma localizada é controlada com tratamento local e a generalizada com poliquioterapia. A maioria dos casos de sarcoma histiocítico compromete sítios extranodais, mais comumente a pele, o trato intestinal e tecidos moles. Raros pacientes têm a forma generalizada, comprometendo a medula óssea, linfonodos, fígado e baço, e pode ser confundida com linfomas. Os demais subtipos são ainda mais raros. O diagnóstico diferencial entre essas neoplasias é feito pelas características morfológicas, imunofenotípicas e genéticas do tumor. MARCADORES IMUNOFENOTÍPICOS A caracterização das doenças hematopoéticas sofreu grande progresso com a introdução da tecnologia para produção de anticorpos monoclonais. Anteriormente a esta, a determinação da linhagem celular das células neoplásicas era feita com base na técnica de formação de rosetas com hemácias de carneiro (linhagem T), na detecção da expressão da imunoglobulina (linhagem B), e pela citoquímica (linhagens mieloide e T). Atualmente, numerosos antígenos foram descritos e caracterizados quanto à sua distribuição na hematopoese normal e nas diferentes neoplasias, e sua pesquisa pode ser feita por técnicas de imunocitoquímica e por citometria de fluxo. A produção de anticorpos monoclonais baseia-se na fusão entre um linfócito B secretor de uma imunoglobulina específica para um único antígeno (porém incapaz de ser mantida em cultura por períodos prolongados), com um plasmócito de uma linhagem celular imortal mantida em cultura. Na maioria das vezes essas células são murinas. A linhagem celular híbrida resultante é chamada de hibridoma; é imortal em cultura e capaz de secretar grandes quantidades de anticorpos específicos para um único tipo de antígeno (o mesmo do linfócito B parental). Esses anticorpos são, portanto monoclonais (originários de uma única célula). Quando aplicados às células do sangue e outras células correlatas, esses anticorpos permitem identificar numerosos antígenos dessas células; diante da grande quantidade de anticorpos monoclonais que forma e continua sendo introduzida na prática diagnóstica e na investigação, e correspondentes antígenos, foi criado um sistema de nomenclatura para esses antígenos, o sistema CD (do inglês Cluster of Differentiation), que lista numericamente os antígenos que são identificados pelos anticorpos monoclonais. A caracterização imunofenotípica das doenças hematológicas encontra-se descrita nos capítulos específicos para cada doença. A seguir, serão discutidos, em linhas gerais, os marcadores mais relevantes para a caracterização das linhagens linfoides B e T, e da linhagem mieloide. → Marcadores da linhagem B A presença de moléculas de imunoglobulina na membrana dos linfócitos é a principal característica das células B maduras.A demonstração de que somente um tipo de cadeia leve de imunoglobulina (κ = kappa ou λ = lambda) é expressa na membrana (sIg = surface Imunoglobulin) de todas as células linfoides neoplásicas é aceita como critério de monoclonalidade. Essa característica é importante na classificação das doenças linfoproliferativas crônicas de células B. Adicionalmente, a intensidade de expressão da imunoglobulina também é relevante. Ela é fraca na Leucemia Linfoide Crônica Clássica (LLC) e forte na Leucemia Prolinfocítica B (LPL-B) e nos linfomas não Hodgkin de células B. Os marcadores celulares estão em preto, e os fatores de crescimento em vermelho. Os marcadores intracitoplasmáticos estão indicados como CDnc. A figura mostra a ontogenia dos linfócitos. Como pode ser visto, as células B mais imaturas não expressam imunoglobulina em sua superfície e, portanto, não é de estranhar o fato de apenas uma minoria das leucemias linfoides agudas B expressar Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 10 esse marcador. Entretanto, a expressão da cadeia pesada da imunoglobulina no citoplasma dos linfócitos antecede, do ponto de vista ontogenético, a expressão da sIg. Essa característica é própria das células leucêmicas do subtipo comum de LLA, as quais frequentemente expressam o antígeno CD10. Esse antígeno, também chamado de antígeno comum da LLA (cALLa), é encontrado na vasta maioria das LLAs de crianças, mas também é encontrado nos linfomas não Hodgkin do tipo folicular. Os antígenos CD19, CD79b e CD22 são expressos pela maioria dos linfócitos B e seus precursores, e são aceitos como indicadores de diferenciação B. O CD22 pode ser identificado no citoplasma dos precursores linfoides B em fases muito precoces da diferenciação B. Por outro lado, os plasmócitos não expressam esses antígenos de membrana bem como o CD45 e não possuem sIg, mas sim Ig citoplasmática, de tal sorte que sua identificação (por exemplo, no mieloma) é dependente da presença de outros marcadores (como CD38, CD56). Outros antígenos importantes na classificação das doenças hematológicas malignas de células B são CD200 e CD23, que são frequentemente expressos na LLC, mas não nos linfomas não Hodgkin, o FMC-7 e o CD103, expressos comumente na tricocitoleucemia. O CD5, embora seja um antígeno associado à linhagem T, é expresso na LLC, refletindo a expansão clonal de células B específicas de um estágio intermediário da maturação B. → Marcadores mieloides Em comparação com a linhagem linfoide, existe menor número de marcadores associados à linhagem mieloide. As Figuras mostram os marcadores imunofenotípicos que acompanham a maturação granulocítica, monocítica, megacariocítica e eritroide, respectivamente. A identificação da Mieloperoxidase (MPO), quer por citoquímica quer por imunofenotipagem, é ainda hoje o critério mais importante para a demonstração de diferenciação mieloide. Entretanto, deve-se ressaltar que a MPO é negativa pela técnica de citoquímica nos casos de Leucemia Mieloide Aguda (LMA) do subtipo FAB M0 e, portanto, a demonstração de diferenciação mieloide deve ser feita pela detecção da MPO por métodos mais sensíveis ou detecção de antígenos mieloides por imunofenotipagem. Além disso, a MPO não é expressa nos subtipos de LMA FAB M0, M6 e M7. CD33, CD13 e CD117 são considerados antígenos pan-mieloides, ou seja, expressos pela maior parte das células desta linhagem. CD14, CD64 e CD11c costumam estar associados à linhagem monocítica, e CD15 à linhagem granulocítica. Existe, porém, uma grande variação na frequência desses antígenos nas leucemias mieloides agudas. Por este motivo, a imunofenotipagem isoladamente não deve ser usada para a distinção entre os subtipos monocítico e mielomonocítico de LMA. A expressão da glicoforina, ao contrário, é bastante específica na identificação de células da linhagem eritroide. O CD42a identifica a glicoproteína Ib e CD61, a glicoproteína IIIa, ambas expressas pelas células da linhagem megacariocítica. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 11 Embora o HLA-Dr seja um antígeno ubíquo, sua pesquisa é importante na identificação da leucemia promielocítica aguda (FAB-M3), porque na maioria dos casos não se detecta a expressão do HLA-Dr, contrastando com os demais subtipos de LMA. Do ponto de vista diagnóstico, a imunofenotipagem é fundamental para o diagnóstico da LMA minimamente diferenciada (LMA-M0), Leucemia Megacarioblástica (LMA-M7), e nas leucemias agudas de linhagem ambígua. IMUNOFENOTIPAGEM A identificação de antígenos na membrana, no citoplasma ou no núcleo célula, pode ser realizada por imunocitoquímica ou por imunofluorescência. Na primeira técnica os anticorpos são conjugados a enzimas, das quais as mais frequentemente empregadas são a peroxidase e a fosfatase alcalina, e a reação antígeno anticorpo é identificada pela produção de compostos coloridos derivados da ação dessas enzimas sobre substratos específicos. A reação pode ser amplificada pelo uso em excesso do 2o anticorpo (geralmente um anticorpo anti-imunoglobulina de camundongo) associada a um complexo de anticorpo antienzima. A vantagem desta técnica está em permitir a avaliação imunofenotípica e morfológica concomitante, e pode ser aplicada a tecidos. Na técnica de imunofluorescência os anticorpos estão conjugados a fluorocromos, que, ao serem excitados por um feixe luminoso, produzem ondas de comprimento diverso, ou seja, luminescência de cores diversas. As células a serem estudadas podem estar fixadas a uma lâmina (imunofluorescência in situ) ou em suspensão (citometria de fluxo). Reação de imunocitoquímica. O esquema mostra a sequência de reações antígeno-anticorpo, numa reação de imunocitoquímica amplificada através do uso de complexos anticorpo antienzima. Esta técnica possibilita a associação de maior número de unidades de enzima por epítopo antigênico, gerando assim um sinal mais intenso. 4) EXPLICAR OS SINAIS E SINTOMAS, RELACIONANDO - OS COM A PATOGÊNESE E EVOLUÇÃO DAS LEUCEMIAS (DESTACANDO SUA EVENTUAL SEMELHANÇA COM OUTRAS DOENÇAS MENOS GRAVES); NEOPLASIAS LINFOIDES As neoplasias linfoides são numerosas, apresentam uma gama variada de apresentações clínicas e comportamentais, e desse modo, são sempre desafiadoras, tanto para estudantes quanto para profissionais. Algumas se manifestam caracteristicamente como leucemias, com envolvimento da medula óssea e do sangue periférico. Outras apresentam tendência a se manifestar como linfomas, tumores que produzem massas nos linfonodos ou em outros tecidos. Tumores plasmocitários geralmente surgem nos ossos e se manifestam como massas distintas, causando sintomas sistêmicos relacionados com a produção completa ou parcial de imunoglobulina monoclonal. Enquanto essas tendências refletem os nomes atribuídos a determinadas entidades, na realidade todas as neoplasias linfoides apresentam potencial de se disseminar para os linfonodos e vários outros tecidos do corpo, especialmente o fígado, o baço, a medula óssea e o sangue periférico. Devido à sobreposição dos comportamentos clínicos, as diversas neoplasias linfoides podem ser diferenciadas por meio das características morfológicas e moleculares das células tumorais. Dito de outro modo, para fins diagnósticos e prognósticos, é mais importante focar no tipo de célula do qual o tumor é composto, e não onde o tumor localiza-se no paciente. Dois grupos de linfomas são reconhecidos: linfomas de Hodgkin e linfomas não Hodgkin. Apesar de ambos se originarem, na maioria dos casos, de tecidos linfoides, o linfoma de Hodgkin se diferencia pela presença de características células gigantes neoplásicas de ReedSternberg que normalmente são superadas, em número, pelas células inflamatóriasnão neoplásicas. O comportamento biológico e o tratamento clínico dos linfomas de Hodgkin diferem daqueles dos LNHs, tornando sua distinção de grande importância prática. Um grupo internacional de patologistas, clínicos e biólogos moleculares da Organização Mundial de Saúde (OMS) formulou um esquema de classificação amplamente aceito, baseado em uma combinação de aspectos morfológicos, fenotípicos, genotípicos e clínicos. Como base para a discussão subsequente dessa classificação, alguns princípios relevantes devem ser considerados: Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 12 Os tumores de células B e T normalmente são compostos por células que permanecem em um estágio específico da sua diferenciação normal ou derivam dele. O diagnóstico e a classificação desses tumores baseiam-se principalmente em testes (imuno- histoquímica ou citometria de fluxo) que detectam antígenos específicos de determinadas linhagens (p. ex., marcadores de célula B, célula T e célula NK) e marcadores de maturidade. Por convenção, muitos desses marcadores são identificados de acordo com o seu número no grupo de diferenciação (Cluster of Dif erentiation – CD). A troca de classe e a hipermutação somática são formas propensas a erros de instabilidade genômica. Esses fatores colocam as células B do centro germinativo em risco relativamente alto de desenvolver mutações potencialmente transformadoras. Os linfomas mais comuns são derivados de células B que migraram para os centros germinativos seguindo a estimulação antigênica. Essa conclusão foi obtida a partir de análises moleculares que demonstraram que a maioria dos linfomas de células B havia sofrido hipermutação somática, uma atividade exclusiva das células B confinadas no centro germinativo. As células B normais do centro germinativo também são submetidas à troca de classe de imunoglobulina, o que permite que as células B expressem imunoglobulinas diferentes da IgM. Muitas das translocações cromossômicas recorrentes encontradas em neoplasias malignas de células B maduras envolvem loci de imunoglobulinas e parecem resultar de “acidentes” durante a tentativa de diversificação dos genes da imunoglobulina. Em contraste, as células T maduras, que são genomicamente estáveis, originam linfomas com pouca frequência e raramente apresentam translocações cromossômicas envolvendo os loci dos receptores das células T. Todas as neoplasias linfoides, como outros cânceres, derivam de uma única célula transformada e são, portanto, monoclonais. Durante a diferenciação de células precursoras B e T ocorre um rearranjo somático dos genes dos seus receptores de antígenos por um mecanismo que assegura que cada linfócito produza apenas um único e singular receptor antigênico. Como o rearranjo gênico do receptor de antígeno praticamente sempre precede a transformação, as células filhas derivadas de um determinado progenitor maligno compartilham a mesma configuração genética do receptor de antígeno, e sintetizam proteínas receptoras de antígeno idênticas (imunoglobulinas ou receptores de células T). Por essa razão, a análise dos genes do receptor antigênico e seus produtos proteicos pode ser utilizada para diferenciar neoplasias linfoides (que são clonais) de reações imunes (que são policlonais). As neoplasias linfoides frequentemente interrompem a função imune normal. Tanto a imunodeficiência (como é evidenciado pela suscetibilidade às infecções) quanto a autoimunidade podem ser observadas, às vezes no mesmo paciente. Ironicamente, os pacientes com imunodeficiência herdada ou adquirida apresentam alto risco de desenvolvimento de certas neoplasias linfoides, particularmente aquelas associadas à infecção pelo EBV. Apesar dos LNHs frequentemente se encontrarem em um sítio tecidual específico, ensaios moleculares sensíveis geralmente mostram ampla disseminação do tumor no momento do diagnóstico. Como resultado, com poucas exceções, somente as terapias sistêmicas são curativas para aqueles com LNH. Por outro lado, o linfoma de Hodgkin frequentemente surge em um único local e se espalha de maneira previsível para os grupos de linfonodos contíguos. FIGURA. Origem das neoplasias linfoides. Estágios de diferenciação das células B e T a partir das quais emergem tumores linfoides específicos. BLB, linfoblasto pré-B; CLP, progenitor linfoide comum; DN, pró-célula T CD4-/CD8- (duplo negativo); DP, pré-célula T CD4+/CD8+ (duplo positivo); GC, centro germinativo de células B; MC, zona do manto de células B; MZ, zona marginal de células B; NBC, célula B naïve; PC, plasmócito; PTC, célula T periférica. → Leucemia/Linfoma Linfoblástica(o) Aguda(o) A leucemia linfoblástica aguda (LLA) e o linfoma linfoblástico são neoplasias agressivas, compostas por linfócitos B imaturos (pré-B) ou T (pré-T), que são denominados linfoblastos. Cerca de 85% são LLA-B, Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 13 que tipicamente se manifestam como leucemias agudas da infância. A menos comum LLA-T tende a se apresentar em adolescentes do sexo masculino como “linfomas” tímicos. Existe, no entanto, uma sobreposição considerável no comportamento clínico da LLA-T e -B; por exemplo, muitos LLA-T apresentam ou evoluem para um quadro leucêmico. Devido às suas semelhanças morfológicas e clínicas, as várias formas de LLA serão consideradas juntas neste capítulo. LLA é o câncer mais comum de crianças. Aproximadamente 2.500 novos casos são diagnosticados todos os anos nos Estados Unidos, a maioria ocorrendo em indivíduos com menos de 15 anos de idade. LLA é quase três vezes mais comum nos caucasianos do que nos afrodescendentes e é um pouco mais frequente nos meninos do que nas meninas. Os hispânicos apresentam maior incidência do que qualquer grupo étnico. O pico de incidência da LLA-B é por volta dos 3 anos de idade, talvez porque o número de células pré-B normais da medula óssea normal (célula de origem) é maior no início da vida. Da mesma forma, a incidência máxima de LLA-T é na adolescência, a idade em que o timo atinge seu tamanho máximo. Patogenia: Muitas aberrações cromossômicas observadas na LLA desregulam a expressão e a função dos fatores de transcrição que são necessários para a diferenciação normal dos progenitores das células B e T. Até 70% das LLAs-T apresentam mutações de ganho de função em NOTCH1, um gene que é essencial para a diferenciação das células T, enquanto uma fração alta de LLAs-B possui mutações de perda de função em genes que são necessários para a diferenciação das células B, como o PAX5. Essas mutações variadas parecem impedir a maturação e o aumento da autorrenovação, uma característica das células imortalizadas, que, como mencionado, é uma das características marcantes dos cânceres. Em consonância com as origens de múltiplas etapas do câncer, as mutações nos genes do fator de transcrição não são suficientes para produzir LLA. As aberrações que impulsionam o crescimento celular, como as mutações que aumentam a atividade da tirosina cinase e a sinalização de RAS, também são comuns. O sequenciamento em curso dos genomas da LLA está preenchendo rapidamente as lacunas remanescentes. Os achados iniciais sugerem que menos de 10 mutações são suficientes para produzir LLA; portanto, comparado aos tumores sólidos, LLA é um tumor geneticamente simples. Genética: Aproximadamente 90% dos pacientes com LLA apresentam anormalidades cariotípicas aleatórias. Mais comuns na infância, os tumores de células pré-B são hiperdiploides (mais de 50 cromossomos/célula) e apresentam translocação (12;21) envolvendo os genes ETV6 e RUNX1, criando uma fusão genética que codifica um fator de transcrição aberrante, enquanto cerca de 25% dos tumores de células pré-B em adultoscontêm a translocação (9;22) que envolve os genes ABL e BCR. Os tumores de células pré-T encontram-se associados a diversas aberrações cromossômicas, incluindo frequentes translocações que envolvem os loci do receptor da célula T e certos genes de fatores de transcrição, bem como mutações que inativam os genes supressores de tumores, como o PTEN (que leva ao aumento da sinalização pró-crescimento) e CDKN2A, que codifica um regulador negativo do ciclo celular e um regulador positivo de p53. Imunofenótipo: Como mencionado anteriormente, a imunofenotipagem é muito útil na subtipagem de LLAs e na sua distinção da LMA. A desoxinucleotidil tranferase terminal (TdT), uma enzima especificamente expressa em células pré-B e pré-T, encontra-se presente em mais de 95% dos casos. A subtipagem adicional da LLA nos tipos de células pré-B e pré-T baseia-se em colorações de marcadores linhagem-específicos, como o marcador CD19 de célula B e o marcador CD3 de célula T. Características Clínicas: A LLA é uma doença agressiva e a maioria dos pacientes apresenta dentro de poucas semanas o início dos sintomas. Entre os sinais e sintomas mais importantes estão: • Sintomas relacionados com a depressão da função da medula, incluindo a fadiga resultante da anemia; febre, infecções secundárias à neutropenia; e sangramento devido à trombocitopenia. • Efeitos de massa causados por infiltração neoplásica, incluindo dor óssea resultante da expansão da medula e infiltração do subperiósteo; linfadenopatia generalizada, esplenomegalia e hepatomegalia; e na LLA-T, complicações relacionadas com a compressão de grandes vasos e vias aéreas no mediastino. • Manifestações do sistema nervoso central resultantes da disseminação meníngea, como cefaleia, vômitos e paralisia nervosa. Apesar da sua biologia altamente maligna, a LLA pediátrica é uma das grandes histórias de sucesso da oncologia. Com quimioterapia agressiva, cerca de 95% Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 14 das crianças com LLA alcançam remissão e 75% a 85% ficam curadas. É preocupante considerar, no entanto, que a LLA permanece como a principal causa de morte por câncer em crianças e que apenas 35% a 40% dos adultos afetados são curados. Vários fatores estão associados a um prognóstico pior: (1) idade menor que 2 anos, em grande parte porque esses tumores são geneticamente distintos, muitas vezes associados a translocações envolvendo o gene MLL; (2) apresentação na adolescência ou na idade adulta; e (3) contagem de blastos no sangue periférico superior a 100 mil. Os marcadores prognósticos favoráveis incluem: (1) idade entre 2 e 10 anos; (2) uma baixa contagem de células brancas; e (3) hiperdiploidia. A detecção molecular da doença residual após a terapia também é preditiva de um pior resultado tanto na LLA- B como na LLA-T e está sendo usada para orientar a terapia. Embora a maioria das aberrações cromossômicas na LLA alterem a função dos fatores de transcrição, a t(9; 22), em vez disso, cria um gene de fusão BCR-ABL que codifica uma tirosina cinase constitutivamente ativa (descrita mais adiante na leucemia mieloide crônica). O tratamento das LLAs positivas para t(9; 22) com inibidores de cinase BCR-ABL combinados à quimioterapia convencional é altamente eficaz e melhorou o resultado para este subtipo de LLA-B em crianças e adultos. Os testes para identificar outras tirosina cinases mutantes “alvos” nas LLAs que não possuem BCR-ABL estão em desenvolvimento. A perspectiva para os adultos com LLA permanece incerta, em parte devido às diferenças na patogenia molecular da LLA de adultos e de crianças, e também porque adultos mais velhos não toleram os regimes de quimioterapia intensiva que são curativos nas crianças. → Leucemia Linfocítica Crônica/Linfoma Linfocítico de Pequenas Células A leucemia linfocítica crônica (LLC) e o linfoma linfocítico de pequenas células (LLPC) são essencialmente idênticos, diferentes apenas no grau de extensão do acometimento do sangue periférico. Arbitrariamente, se a contagem de linfócitos do sangue periférico exceder 5.000 células/µL, o paciente é diagnosticado com LLC. A maioria dos pacientes com neoplasias linfoides preenche os critérios de diagnóstico da LLC, que é a leucemia mais comum em adultos no mundo ocidental. Em contrapartida, a LLPC constitui apenas 4% dos LNHs. Por razões ainda desconhecidas, as LLC/LLPC são muito menos comuns na Ásia. Patogenia: A LLC e o LLCP são tumores de crescimento lento e indolentes, o que sugere que alta taxa de sobrevivência das células tumorais é mais importante que a proliferação das mesmas per se. De acordo com essa ideia, as células tumorais contêm altos níveis de BCL2, uma proteína que inibe a apoptose. Um mecanismo de superexpressão de BCL2 parece ser as eliminações cromossômicas que levam à perda de genes que codificam micro-RNAs que são reguladores negativos de BCL2. Os sinais gerados pela imunoglobulina de superficície (o chamado receptor de células B, ou BCR) também é de crítica importância. Os sinais BCR fluem através de um intermediário, a tirosina cinase de Bruton (BTK) que, em última análise, contribui para a expressão de genes que promovem a sobrevivência das células LLC/LLCP. LLC/LLPC também causa desregulação imune, particularmente nas células B normais. Através de mecanismos ainda não esclarecidos, o acúmulo de células LLC/LLPC suprime a função normal das células B, frequentemente resultando em hipogamaglobulinemia. Paradoxalmente, aproximadamente 15% dos pacientes desenvolvem autoanticorpos contra seus próprios eritrócitos ou plaquetas. Quando presentes, os autoanticorpos são sintetizados por células B não neoplásicas vizinhas, indicando que as células da LLC/LLCP de alguma forma prejudicam a tolerância imunológica. Imunofenótipo e Genética: LLC/LLPC são neoplasias de células B maduras que expressam CD20 e imunoglobulinas de superfície. As células tumorais também expressam CD5. Este é um achado diagnóstico útil, já que entre os linfomas de células B somente LLC/LLPC e linfoma de células do manto (discutidas mais adiante) comumente expressam CD5. Aproximadamente 50% dos tumores apresentam anormalidades cariotípicas, sendo que a mais comum consiste na trissomia do 12 e deleções nos cromossomos 11, 13 e 17. Diferentemente de outras neoplasias de células B, as translocações cromossômicas são raras. Características Clínicas: No momento do diagnóstico, LLC/LLPC frequentemente são assintomáticos. Os sinais e sintomas clínicos mais comuns são inespecíficos e incluem fadiga fácil, perda de peso e anorexia. Observa-se a presença de linfadenopatia generalizada e hepatoesplenomegalia em 50% a 60% dos pacientes. A contagem de leucócitos pode estar levemente elevada (no LLPC) ou exceder 200.000 células/µL. A hipogamaglobulinemia se desenvolve em mais de 50% Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 15 dos pacientes, geralmente em um momento tardio na sua evolução clínica, resultando em suscetibilidade aumentada a infecções bacterianas. Menos comumente observa-se anemia hemolítica autoimune e trombocitopenia. A evolução e o prognóstico são extremamente variáveis e dependem do estágio da doença e achados genéticos. Por exemplo, a presença de anormalidades no gene supressor de tumor TP53 está associada a uma sobrevida inferior a 30% em 10 anos, enquanto anormalidades isoladas do cromossomo 13q estão associadas a uma sobrevida que não é significativamente diferente daquela da população geral correspondente. Proposições sobre a patogenia molecular de LLC/LLPC levou ao desenvolvimento de novos fármacos eficazes que inibem de forma variada a sinalização BCR (p. ex., visando BTK) ou a função de BCL2. No entanto, a cura pode apenasser alcançada com o transplante de células-tronco hematopoéticas, que é reservado para pacientes relativamente jovens nos quais há falha das terapias convencionais. Uma pequena fração dos tumores se transforma em tumores agressivos que se assemelham a linfoma difuso de grandes células B (transformação de Richter); após a transformação, a sobrevida média é inferior a 1 ano. NEOPLASIAS MIELOIDES As neoplasias mieloides originam-se de células progenitoras hematopoéticas e geralmente resultam em proliferações que envolvem a medula óssea e promovem a substituição de elementos medulares normais. Existem três grandes categorias de neoplasias mieloides: • Nas leucemias mieloides agudas (LMAs), as células neoplásicas são bloqueadas em uma fase inicial do desenvolvimento da célula mieloide. As células mieloides imaturas (blastos) se acumulam na medula, substituem os elementos normais e frequentemente circulam no sangue periférico. • Nas neoplasias mieloproliferativas, o clone neoplásico continua o processo de diferenciação terminal, entretanto exibe crescimento aumentado ou desregulado. Comumente, os distúrbios mieloproliferativos estão associados ao aumento de um ou mais de um dos elementos constituintes (eritrócitos, plaquetas e/ou granulócitos) do sangue periférico. • Nas síndromes mielodisplásicas (SMD), a diferenciação terminal ocorre, mas de modo desordenado e ineficiente, levando ao aparecimento de precursores medulares displásicos e citopenias no sangue periférico. Embora essas três categorias proporcionem um ponto inicial útil, as divisões entre as neoplasias mieloides, às vezes, tornam-se confusas. Tanto as síndromes mielodisplásicas quanto as neoplasias mieloproliferativas frequentemente se transformam em LMA, e algumas neoplasias apresentam características tanto da mielodisplasia quanto dos distúrbios mieloproliferativos. Como todas as neoplasias mieloides surgem de progenitores iniciais multipotentes, a relação próxima entre esses distúrbios não é surpreendente. Também é reconhecido que LMA e SMD geralmente surgem de um precursor assintomático conhecido como hematopoese clonal de prognóstico indeterminado (clonal hematopoiesis of indeterminant prognosis – CHIP). A CHIP é caracterizada por contagens sanguíneas normais, apesar da presença de uma das mutações “condutoras” clonais adquiridas em células mieloides no sangue e medula. A CHIP progride para uma neoplasia de leucócitos em uma frequência de cerca de 1% ao ano e parece ser um fator de risco importante para doenças cardiovasculares. → Leucemia Mieloide Aguda A LMA afeta essencialmente adultos mais velhos; a idade média é de 50 anos. É bem heterogênea, como será discutido mais adiante. Os sinais e sintomas clínicos assemelham-se àqueles produzidos pela LLA e geralmente estão relacionados com a substituição dos elementos medulares normais por blastos leucêmicos. Fadiga, palidez, sangramento anormal e infecções são comuns em pacientes recentemente diagnosticados, tipicamente dentro de poucas semanas após o início dos sintomas. Esplenomegalia e linfadenopatia geralmente são menos proeminentes do que na LLA, entretanto, em raros casos, a LMA se assemelha ao linfoma, em virtude do aparecimento de uma massa tecidual discreta (chamada sarcoma granulocítico). O diagnóstico e a classificação da LMA baseiam-se nos achados morfológicos, histoquímicos, imunofenotípicos e cariotípicos. Dentre eles, o cariótipo é o mais preditivo do resultado (prognóstico). Patogenia: A maioria das LMAs apresenta mutações em genes que codificam fatores de transcrição necessários para a diferenciação mieloide normal. Essas mutações interferem na diferenciação dos precursores iniciais das células mieloides, levando ao acúmulo de precursores mieloides (blastos) na medula. A translocação (15;17) na leucemia promielocítica aguda desperta interesse especial, resultando na fusão do gene do receptor α do ácido retinoico (RARA) no cromossomo 17 com o gene PML no cromossomo 15. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 16 O gene quimérico produz a proteína de fusão PML/RARA que bloqueia a diferenciação mieloide no estágio promielocítico, provavelmente em parte, pela inibição da função dos receptores normais do ácido retinoico. Notavelmente, doses farmacológicas do ácido retinoico todo-trans (ATRA), um análogo da vitamina A, supera esse bloqueio e induz os promielócitos neoplásicos a se diferenciarem rapidamente em neutrófilos. Como os neutrófilos morrem após uma vida útil média de seis horas, o tratamento com ATRA rapidamente extingue o tumor. O efeito é muito específico; as LMAs sem translocações que envolvem o gene RARA não respondem ao tratamento com ATRA. Mais recentemente, demonstrou-se que a combinação do ATRA com o trióxido de arsênio, um sal que induz a degradação da proteína de fusão PML/RARA, é ainda mais eficaz do que a administração isolada do ATRA, levando à cura mais de 80% dos pacientes. Esse é um importante exemplo de terapia altamente eficiente alvo- direcionada a um defeito molecular tumoral específico. Outro estudo utilizando camundongos demonstrou que mutações em fatores de transcrição encontradas na LMA não são suficientes para causar a doença. Supostas mutações em muitos outros genes estariam implicadas na doença, como na tirosina cinase e no RAS, que também foram detectados. O sequenciamento dos genomas de LMA também identificou mutações frequentes em genes que afetam diretamente o epigenoma, sugerindo que as alterações epigenéticas exercem uma função central na LMA. Por exemplo, cerca de 15% a 20% das LMAs estão associados a mutações na isocitrato desidrogenase (IDH). Em tais tumores, um “oncometabólito” sintetizado pela proteína IDH mutada bloqueia a função de enzimas que regulam o epigenoma e interfere na diferenciação de células mieloides. Os inibidores do IDH mutante impedem a produção do oncometabólito e, muitas vezes, desencadeiam remissões neste subtipo molecular específico de LMA. Classificação: As LMAs são diversas em termos de genética, linhagem celular e grau de maturação. A classificação da OMS baseia-se em todos esses aspectos para a divisão da LMA em quatro categorias: (1) LMAs associadas a aberrações genéticas específicas, que são importantes porque predizem o resultado (prognóstico) e guiam a terapia; (2) LMAs com displasia, muitas das quais surgem de síndromes mielodisplásicas; (3) LMAs que se desenvolvem após quimioterapia genotóxica; e (4) LMAs que não apresentam nenhuma das características anteriores. As LMAs da última categoria são subclassificadas de acordo com a linhagem de diferenciação predominante que o tumor exibe. Imunofenótipo: A expressão dos marcadores imunológicos é heterogênea na LMA. A maioria dos tumores expressa alguma combinação de antígenos associados à linhagem mieloide, como CD13, CD14, CD15, CD64 ou CD117 (KIT). O CD34, um marcador de células-tronco hematopoéticas, é frequentemente presente nos mieloblastos. Tais marcadores são úteis na distinção entre LMA e LLA e na identificação das LMAs com diferenciação mínima. Características Clínicas: A maioria dos pacientes apresenta, dentro de semanas ou poucos meses após o início dos sintomas, queixas de anemia, neutropenia e trombocitopenia, principalmente fadiga, febre e hemorragias mucosas e cutâneas espontâneas. Conforme mencionado anteriormente, esses achados são muito semelhantes aos desencadeados pela LLA. A trombocitopenia resulta em diátese hemorrágica. Petéquias cutâneas e equimoses, hemorragias serosas no revestimento das cavidades do corpo e das vísceras, e hemorragias mucosas gengivais e do trato urinário são comuns. Os procoagulantes e os fatores fibrinolíticos liberados pelas células leucêmicas, especialmentepela LMA com t(15;17), exacerbam a tendência de sangramento. As infecções são frequentes e muitas vezes são causadas por microrganismos oportunistas como fungos, Pseudomonas e comensais. Sinais e sintomas relacionados com o envolvimento de tecidos moles geralmente são menos marcantes na LMA do que na LLA, mas os tumores com diferenciação monocítica muitas vezes infiltram a pele (leucemia cutânea) e a gengiva. A disseminação pelo sistema nervoso central ocorre, mas também é menos comum do que na LLA. A LMA continua sendo uma doença devastadora. Tumores com anormalidades cariotípicas de “bom prognóstico” (t [8; 21], inv [16]) estão associados a 50% de chance de longo prazo livre da doença, mas a sobrevida geral em todos os pacientes está entre 15% e 30% com a quimioterapia convencional. A LMA associada a mutações em TP53 surgiu como um subtipo com um prognóstico particularmente ruim. Um fato promissor é a melhora nos resultados na leucemia promielocítica aguda em função do tratamento alvo- direcionado com ATRA e sais de arsênio. Os inibidores de IDH também produziram resultados encorajadores, aparentemente (como ATRA) induzindo a diferenciação de blastos da LMA. Um número Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 17 crescente de pacientes com LMA está sendo tratado com abordagens mais agressivas, como o transplante de células-tronco hematopoéticas alogênicas, que pode ser curativo em alguns pacientes. → Leucemia Mieloide Crônica A LMC é uma doença que afeta principalmente adultos entre 25 e 60 anos de idade. O pico de incidência encontra-se na quarta e quinta décadas de vida. Aproximadamente 4.500 novos casos são diagnosticados por ano nos Estados Unidos. Patogenia: A LMC distingue-se de outras neoplasias mieloproliferativas pela presença de um gene BCR- ABL quimérico derivado de porções do gene BCR do cromossomo 22 e do gene ABL do cromossomo 9. Em cerca de 95% dos casos, o gene BCR- ABL é o produto de uma translocação (9;22) balanceada que desloca o ABL do cromossomo 9 para uma posição no cromossomo 22 adjacente ao BCR. Nos 5% dos casos restantes, o gene de fusão BCR-ABL é criado por rearranjos complexos ou citogeneticamente ocultos envolvendo mais de dois cromossomos. O gene de fusão BCR-ABL está presente nos precursores das células B, granulocíticos, eritroides, megacariocíticos, e em alguns casos, nos precursores de células T, indicando que o tumor surge de uma célula progenitora hematopoética transformada. Embora o cromossomo Ph seja altamente característico na LMC, ele se encontra também presente em 25% das LLAs de células B de adultos e em um pequeno subgrupo de LMAs. O gene BCR-ABL codifica uma proteína de fusão composta de porções do BCR e do domínio tirosina cinase do ABL. Os progenitores mieloides normais dependem de sinais gerados por fatores de crescimento e de seus receptores para o crescimento e sobrevivência. A dependência dos progenitores da LMC dos fatores de crescimento é intensamente reduzida por sinais constitutivos gerados pelo BCR-ABL, que simulam os efeitos da ativação do receptor do fator de crescimento. É importante ressaltar que, como o BCR- ABL não inibe a diferenciação, a evolução da doença inicialmente é marcada pela produção excessiva de células sanguíneas relativamente normais, particularmente granulócitos e plaquetas. Características Clínicas: O desenvolvimento da LMC é frequentemente insidioso, visto que os sintomas iniciais são, de forma geral, inespecíficos (p. ex., fadiga, fraqueza e perda de peso). Em alguns casos, o primeiro sintoma abdominal é uma sensação de saciedade precoce causada pela esplenomegalia. De vez em quando pode se tornar necessária a distinção entre LMC e a reação leucemoide, uma elevação drástica da contagem de granulócitos em resposta a infecções, estresse, inflamação crônica e certas neoplasias. Essa diferenciação pode ser realizada de modo definitivo por meio da detecção da presença do gene de fusão BCR-ABL, que pode ser efetuada por cariotipagem, hibridização por fluorescência in situ ou PCR. A história natural da LMC inicialmente caracteriza-se por progressão lenta. Mesmo sem tratamento, a sobrevida média é de três anos. Após um período variável (e imprevisível), aproximadamente metade dos casos de LMC entra em uma fase acelerada marcada por anemia crescente, aparecimento de trombocitopenia, e de anormalidades citogenéticas adicionais. Por fim se transforma em um quadro semelhante à leucemia aguda (crise blástica). Nos 50% dos casos restantes, a crise blástica ocorre abruptamente, sem a fase acelerada intermediária. Vale ressaltar que, em 30% dos casos, a crise blástica se assemelha à LLA de células B precursoras, atestando mais uma vez a origem da LMC, a partir de células tronco hematopoéticas. Nos 70% dos casos restantes, a crise blástica se assemelha à LMA. Menos comumente, a LMC progride para uma fase de extensa fibrose da medula óssea assemelhando-se à mielofibrose primária. Felizmente, para os indivíduos afetados, a evolução da LMC foi drasticamente alterada pelo desenvolvimento de terapias alvodirecionadas. O tratamento com inibidores da tirosina cinase, particularmente em pacientes com a doença em fase inicial, induz remissões sustentadas, com toxicidade manejável e evita a progressão para a crise blástica, aparentemente por meio da supressão do estímulo proliferativo que leva à aquisição de mutações adicionais. Quando os pacientes, que fazem uso de inibidores da tirosina cinase, apresentam uma recaída, seus tumores frequentemente apresentam mutações no domínio cinase do BCR-ABL que evita a ligação dos fármacos. O resultado seletivo dessas células é explicado pelos poderosos efeitos anti-tumorais dos inibidores BCR-ABL, e indica que muitos tumores resistentes ainda são “viciados” nos sinais de crescimento criados pelo BCR-ABL. Em alguns casos, os tumores resistentes podem ser tratados com inibidores BCR-ABL de “terceira geração”. Para outros, o transplante de células-tronco hematopoéticas oferece uma chance de cura, mas traz riscos substanciais, especialmente em pessoas idosas. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2022.2 Página | 18 5) CARACTERIZAR AS PRINCIPAIS LEUCEMIAS, SUAS FORMAS DE APRESENTAÇÃO E SUA EPIDEMIOLOGIA, RELACIONANDO: TIPO DE LEUCEMIA, FAIXA ETÁRIA E PROGNÓSTICO; LEUCEMIA LINFÓIDE AGUDA A leucemia linfoblástica aguda (LLA) representa uma doença maligna de precursores linfoides que afeta adultos e crianças, porém com maior incidência na faixa etária de dois a cinco anos. Representa uma das patologias mais desafiadoras para o tratamento em adultos, embora em crianças, taxas de cura superiores a 80% sejam descritas atualmente na literatura. A adaptação dos protocolos pediátricos em adultos também determinou um aumento significativo nas taxas de remissão, embora, em longo prazo, os resultados ainda sejam bem mais limitados. A identificação dos subtipos moleculares, o desenvolvimento de novas drogas alvo específicas e a caracterização do papel do transplante de medula óssea (TMO), bem como a melhor compreensão do significado da doença mínima residual, do impacto da farmacogenômica e da resistência às diferentes drogas, estão contribuindo para a melhoria dos resultados em pacientes adultos portadores de LLA. EPIDEMIOLOGIA Não há dados atualizados sobre a incidência da LLA no Brasil. Nos EUA, a incidência global ajustada à idade indica a ocorrência de 1 a 2 casos/100 mil indivíduos, com um pico entre as idades de 2 a 5 anos e após os 50 anos. Também nos EUA, a doença parece ser mais comum em hispânicos. A LLA é mais frequente em áreas urbanas e em caucasianos, permitindo especulações sobre a importância de fatores socioeconômicos na sua etiologia. Apesar da lista
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