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RESUMO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL CONSIDERAÇÕES INICIAIS · Métodos de solução de conflitos 1- A autotutela - caracteriza-se, pelo uso da força bruta para satisfação de interesses. Os dois traços característicos da autotutela são, portanto: a ausência de juiz imparcial e a imposição da decisão por uma das partes à outra. Exceção; ex - estado de necessidade e legítima defesa. 2- A heterocomposição é caracterizada pela presença de um terceiro, que detenha poder de decisão. Cabe salientar que a jurisdição é um monopólio do Estado. Sendo assim, o reconhecimento do direito deve ser realizado por este. Pode-se dizer, que o Estado assumiu a tarefa de administrar a justiça. Exemplo: transação penal e suspensão condicional do processo. 3- A autocomposição ocorre quando uma das partes integrantes do conflito abre mão do seu interesse em favor da outra, ou quando ambas renunciam à parcela de suas pretensões para solucionar pacificamente suas divergências. · O Direito Processual Penal é o conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides penais, por meio da aplicação do Direito Penal objetivo. · O Estado é o titular exclusivo do direito de punir. Mesmo no caso da ação penal exclusivamente privada, o Estado somente delega ao ofendido a legitimidade para dar início ao processo, isto é, conservando consigo a exclusividade do jus puniendi (também tutela o direito á liberdade). · Esse direito de punir é genérico e impessoal porque não se dirige especificamente contra esta ou aquela pessoa, mas destina-se à coletividade como um todo. No momento em que é cometida uma infração, esse poder, até então genérico, concretiza-se, transformando-se em uma pretensão individualizada, dirigida especificamente contra o transgressor. · Ou seja, o Estado, que tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter uma pretensão concreta de punir determinada pessoa. · Surge, então, um conflito de interesses, no qual o Estado tem a pretensão de punir o infrator, enquanto este oferecerá resistência a essa pretensão, tal conflito caracteriza a lide penal, que será solucionada por meio da atuação jurisdicional. · Com o simples surgimento da pretensão punitiva forma-se a lide penal; · Lide penal pode ser definida como um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida ou insatisfeita (Ius puniendi do Estado que administra x Ius libertatis do acusado – o Estado- juiz põe fim ao conflito de interesses). · O Processo Penal é o instrumento de aplicação do Direito Penal. · O Estado pode apenas impor a pena criminal, após o devido processo legal. · A relação jurídica processual é aquela que se estabelece entre os chamados sujeitos processuais, atribuindo a cada um direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições. · A finalidade do processo é propiciar a adequada solução jurisdicional do conflito de interesses, através de uma sequência de atos coordenados (dispostos segundo a Lei) visando à resolução do litígio. · O Estado reconheceu que o processo, mesmo para as relações jurídico-penais, é fator indispensável, pois visa a proteger os cidadãos contra os abusos do Poder Público. · Quando alguém comete uma infração penal, o Estado, como titular do direito de punir, vai a juízo por meio do órgão próprio (o Ministério Público) e deduz a sua pretensão. O Juiz, então, procura ouvir o pretenso culpado. Colhe as provas que lhe foram apresentadas por ambas as partes (Ministério Público e réu), recebe as suas razões e, após o Juiz dirá qual dos dois tem razão. Isso é processo. · O habeas Corpus é uma forma de limitar o poder do Estado, sendo uma garantia que pode ser utilizada em casos de ilegalidade ou abuso de poder. PODERES INDEPENDENTES E HARMÔNICOS ENTRE SÍ · Poder Executivo – função – administrar, observando os preceitos legais. (Ministério Público, auxiliado pela Polícia Judiciária) · Poder Legislativo - possui a função de criar, aprovar e rejeitar leis dentro do ordenamento jurídico brasileiro (edita normas de conduta). Ex: congresso nacional. · Poder Judiciário - resolve a lide penal, julga os casos concretos demandados pelo MP (em regra), através do processo. RELAÇÃO COM OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO a) Direito Constitucional: todas as matérias que disciplinam as condutas humanas são subordinadas às normas constitucionais. Ademais, subordinação a diversos princípios, tais como: juiz natural, devido processo legal, estado de inocência, ampla defesa e contraditório e por fim, inadmissibilidade da prova ilícita. b) Direito Penal: o Direito Processual Penal que dinamiza o Direito Penal. c) Direito Administrativo: através do processo são reguladas a aplicação das sanções administrativas disciplinares e a respectiva aplicação da pena. Outrossim, a lei penal é aplicada por agentes da administração pública. d) Direito Comercial: reserva íntima ligação com o processo falimentar, haja vista que a falência muitas vezes pode ser fraudulenta e constituir delitos. e) Direito Civil: O Direito Processual Penal também se liga ao Direito Civil, principalmente naqueles atos cuja prova é limitada pela lei civil. Ex: Impedimentos, testemunhos, posse, detenção. f) Direito Internacional: estabelece a prevalência de tratados, convenções e regras de direito internacional sobre a lei processual (art. 1o, I, do CPP e 5o, § 2o, da CF), extradição, extraterritorialidade, imunidades diplomáticas. g) Direito Processual Civil: o Direito Processual Civil é a fonte subsidiaria do Processo Penal. h) Ciências auxiliares: criminologia, medicina legal, psiquiatria forense e Polícia Judiciária – Pode-se concluir que trata-se de aspectos técnicos do Processo Penal. SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS · Existem três espécies de sistemas processuais penais: a) o inquisitivo; b) o acusatório; c) o misto. · Sistema inquisitivo - cabe a um só órgão acusar e julgar. O juiz dá início à ação penal e, ao final, ele mesmo profere a sentença (o referido sistema não garante a imparcialidade do julgador). O direito de defesa dos acusados nem sempre era observado em razão de serem julgados pelo próprio órgão acusador – Processo é secreto. · Sistema acusatório - existe separação entre os órgãos incumbidos de realizar a acusação e o julgamento, o que garante a imparcialidade do julgador e, por conseguinte, assegura a plenitude de defesa e o tratamento igualitário das partes. Nesse sistema, o defensor tem sempre o direito de se manifestar por último – Processo é público. · Sistema misto - nesse sistema há uma fase investigatória e persecutória preliminar conduzida por um juiz, seguida de uma fase acusatória em que são assegurados todos os direitos do acusado e a independência entre acusação, defesa e juiz. · O sistema adotado no Brasil é o sistema acusatório, pois há clara separação entre a função acusatória — do Ministério Público nos crimes de ação pública — e a julgadora. É preciso, entretanto, salientar que não se trata do sistema acusatório puro, uma vez que, apesar de a regra ser a de que as partes devam produzir suas provas, admitem-se exceções em que o próprio juiz pode determinar, de ofício, sua produção de forma suplementar. PRINCIPIOS · O Processo Penal é regido por uma série de princípios e regras que representam postulados fundamentais do direito processual penal de um Estado. · Isto posto, quanto mais democrático foi o regime, mais notável instrumento a serviço da liberdade individual. · Imparcialidade do Juiz - o juiz situa-se na relação processual entre as partes e acima delas, fato que, torna essencial a imparcialidade do julgador. Para assegurar essa imparcialidade, a CF estipula garantias (art. 95), prescreve vedações (art. 95, parágrafo único) e proíbe juízes e tribunais de exceção. · Igualdade Processual - Dessa forma, as partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões, e ser tratadas igualitariamente, na medida de suas igualdades, e desigualmente, na proporção de suas desigualdades (CF, art. 5º, caput). · Contraditório - . As partes têm o direito não apenas de produzir suas provas e desustentar suas razões, mas também de vê-las apreciadas e valoradas pelo órgão jurisdicional. Compreende, ainda, o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a oportunidade de manifestarem-se sobre ele, antes de qualquer decisão jurisdicional (CF, art. 5º, LV). · Ampla defesa - Implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor) (CF, art. 5º, LV), e o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (CF, art. 5º, LXXIV). · Verdade real - No processo penal, o juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na realidade (o juiz atua ex officio – sem provocação), não se conformando com a verdade formal constante dos autos. Esse princípio é próprio do processo penal, já que no cível o juiz deve conformar-se com a verdade trazida aos autos pelas partes. · O princípio da verdade real comporta, no entanto, algumas exceções, como por exemplo: a inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (CF, art. 5º, LVI, e CPP, art. 157); · Legalidade ou obrigatoriedade - Os órgãos incumbidos da persecução penal não podem possuir poderes discricionários para apreciar a conveniência ou oportunidade da instauração do processo ou do inquérito. As exceções ao princípio são os crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal privada, vigorando, quanto aos últimos, o princípio diametralmente oposto: o da oportunidade. · Exceção – Lei 9.099/95 – acordo entre promotor e acusado. · Presunção de inocência - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (art. 5º, LVII). Ao Estado incumbe-se a comprovar a culpa do réu (ônus da prova). · Fundamento no princípio “in dúbio pro reo”. · A Súmula 9 do STJ, segundo a qual a prisão processual (cautelar) não viola o princípio do estado de inocência. · Vide HC 126292/SP – o STF entendeu que o início da execução da pena, após a confirmação da sentença condenatória em segundo grau, não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência. · Segundo Zavascki, a presunção da inocência impera até a confirmação em segundo grau da sentença penal condenatória, sendo que, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, é o réu passa, então, a presumir-se culpado. · Devido Processo Legal - Consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei (CF, art. 5º, LIV). · Publicidade - Vigora entre nós a publicidade absoluta (ou publicidade popular), pois as audiências, sessões e atos processuais são franqueados ao público em geral (CPP, art. 792). A publicidade é essencial pois envolve o direito de punir do Estado e o Direito a liberdade do réu. · A publicidade é garantia de independência, imparcialidade, autoridade e responsabilidade do juiz. · Contudo, existem exceções como por exemplo o fato da Constituição também permitir ao legislador restringir a publicidade de atos processuais para defesa da intimidade ou do interesse social (art. 5º, LX); · Oficialidade - a pretensão punitiva do Estado deve se fazer valer por órgãos públicos, quais sejam, a autoridade policial, no caso do inquérito, e o Ministério Público, no caso da ação penal pública. Esse princípio, no entanto, sofre exceção no caso da ação penal privada e de ação penal popular. · Motivação das decisões judiciais - As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas (CF, art. 93, IX; CPP, art. 381). O juiz deve fundamentar os motivos de seu convencimento que o levou a determinada decisão. Tal motivação tem como objetivo possibilitar a impugnação das decisões e a estes o respectivo reexame (garantia da sociedade, no tocante a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça). · Exceção – os jurados julgam pela sua intima convicção, não se exige a justificativa destes. · Juiz Natural - ninguém será sentenciado senão pelo juiz competente. Juiz natural é, portanto, aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade. · Do princípio depreende-se também a proibição de criação de tribunais de exceção. · Inadmissibilidade da Prova Ilícita - São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos (CF, art. 5º, LVI). As provas obtidas por meios ilícitos constituem espécie das chamadas provas vedadas (aquela produzida em contrariedade a uma norma legal específica). · Dito isto, as provas ilícitas são aquelas produzidas com violação a regras de direito material, ou seja, mediante a prática de algum ilícito penal, civil ou administrativo. · Promotor Natural - Ninguém será processado, senão pelo órgão ministerial previamente dotado de atribuição (reconhecido pelo STF). · Iniciativa das partes - A jurisdição é inerte; não pode o Juiz demandar de ofício (art. 129, I, da CF), salvo exceções. · Princípio do duplo grau de jurisdição - Todos homens estão sujeitos a erro. Por isso o Estado criou órgãos jurisdicionais a eles superiores, para reverem, em grau de recurso, suas decisões. Embora não haja texto expresso a respeito na Lei Maior, o duplo grau de jurisdição é uma realidade incontrastável. · Princípio da celeridade do processo - -introduzido pela EC 45- “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO · O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro (vide princípio da territorialidade), por este Código, com exceção aos: a) Os tratados, as convenções e regras de direito internacional; b) As prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente, e dos ministros STF, nos crimes de responsabilidade. c) Os processos da competência da Justiça Militar; E os processos da competência do tribunal especial. d) Os processos por crimes de imprensa. · Quando uma infração penal é cometida fora do território nacional, em regra não será julgada no Brasil. Existem, entretanto, algumas hipóteses excepcionais de extraterritorialidade da lei penal brasileira em que será aplicada a lei nacional embora o fato criminoso tenha se dado no exterior. Ex.: crime contra a vida ou a liberdade do Presidente da República LEI PROCESSUAL NO TEMPO · O art. 2º do Código de Processo Penal adotou o princípio da imediata aplicação da lei processual penal. · De acordo com esse princípio, os novos dispositivos processuais podem ser aplicados a crimes praticados antes de sua entrada em vigor. O que se leva em conta, portanto, é a data da realização do ato (tempus regit actum), e não a da infração penal. · Não confundir com a Lei penal no tempo (direito penal). Pois não importa se a nova lei é favorável ou prejudicial à defesa · Vide novos procedimentos do CPP, competência para julgamento homicídio de Policial Militar; novo procedimento do júri. · Normas mistas: São aquelas que possuem conteúdo concomitantemente penal e processual, gerando, assim, consequências em ambos os ramos do Direito. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL · A lei processual penal admitirá interpretação extensiva (ex: direito ao silencio) e aplicação analógica (Ex: uso do CPC, procedimento de justificação), bem como o suplemento dos princípios gerais de direito (Ex: ampla defesa, contraditório). · A interpretação extensiva, dá-se quando o texto legal diz menos do que pretendia o legislador, de modo que o intérprete estende o alcance do dispositivo. · A interpretação analógica, por sua vez, mostra-se possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma sequência casuística. PRAZOS PROCESSUAIS · A contagem do prazo processual começa a contar a partir da intimação: (798, § 1º e 5o, do CPP). Diverge do prazo penal. · Conta-se o prazo a partir do dia posterior ao da intimação ou,excluindo-se o dia final se não houver expediente judicial (art. 798, par. 1º CPP) · Prazo Especial: Para o defensor público há prazo em dobro (art. 5o, § 5o, da Lei 1.060/50, e 44, I, da LC 80/94). INQUÉRITO POLÍCIAL · É um procedimento investigatório instaurado em razão da prática da uma infração penal, composto por uma série de diligências, que tem como objetivo obter elementos de prova para que o titular da ação possa propô-la contra o criminoso (procedimento administrativo). · Quando é cometido um delito, deve o Estado, por intermédio da polícia civil, buscar provas iniciais acerca da autoria e da materialidade, para apresentá-las ao titular da ação penal (Ministério Público ou ofendido), a fim de que este apreciando-as, decida se oferece a denúncia ou queixa-crime. · Uma vez oferecidas, o inquérito policial as acompanhará, para que o juiz possa avaliar se há indícios suficientes de autoria e materialidade para recebê-las. Caso sejam recebidas, o inquérito policial acompanhará a ação penal, ficando anexado aos autos. Pode-se, por isso, dizer que o destinatário imediato do inquérito é o titular da ação (Ministério Público ou ofendido) e o destinatário mediato é o juiz. · O inquérito policial - é instaurado para apurar infrações penais que tenham pena superior a 2 anos. · Termo circunstanciado - apenas em infrações de menor potencial ofensivo (crimes com pena máxima não superior a 2 anos e as contravenções penais). · São as seguintes as características próprias do inquérito policial: a) Ser realizado pela Polícia Judiciária (Polícia Civil ou Federal) - A presidência do inquérito fica a cargo da autoridade policial (delegado de polícia ou da Polícia Federal). b) Caráter inquisitivo - é desnecessário à autoridade policial intimar o investigado das provas produzidas para que possa rebatê-las. c) Caráter sigiloso – evitar a publicidade em relação as provas colhidas. d) É escrito - Os atos do inquérito devem ser reduzidos a termo para que haja segurança em relação ao seu conteúdo. e) É dispensável - A existência do inquérito policial não é obrigatória e nem necessária para o desencadeamento da ação penal. · O local onde deve ser instaurado e de tramitação do inquérito é o mesmo onde deve ser instaurada a ação penal, de acordo com as regras de competência dos arts. 69 e seguintes do Código de Processo Penal. · O Código de Processo Penal estabelece cinco formas pelas quais um inquérito pode ser iniciado: 1. De ofício - é iniciado por ato voluntário da autoridade policial, sem que tenha havido pedido expresso de qualquer pessoa nesse sentido. Assim, quando o delegado de polícia fica sabendo da prática de um delito deve baixar a chamada portaria (peça que dá início ao procedimento). · A notitia criminis pode chegar ao conhecimento do delegado de formas diversas. Ex: por comunicação de outros policiais, por matéria jornalística. 2. Por requisição do juiz ou MP– (ordem) quando o juiz, o promotor de justiça ou MP requisitam a instauração do inquérito, o delegado está obrigado a dar início às investigações. É necessário que as autoridades requisitantes especifiquem, o fato criminoso, que deve merecer apuração. 3. Em razão de requerimento do ofendido - Qualquer pessoa pode levar ao conhecimento da autoridade a ocorrência de um delito. Quando isso ocorre, normalmente, é lavrado um boletim de ocorrência e, com base neste, o próprio delegado dá início ao inquérito por meio de portaria. 4. Pelo auto de prisão em flagrante - Quando uma pessoa é presa em flagrante, deve ser encaminhada à Delegacia de Polícia. Nesta é lavrado o auto de prisão, lavrado o auto, o inquérito está instaurado. AÇÕES PENAIS - REQUERIMENTO DO OFENDIDO · Estabelece expressamente o art. 5º, § 4º, do CPP, que, nos crimes em que a ação pública depender de representação, o inquérito não poderá sem ela ser iniciado, ou seja, é necessária a prévia existência da representação para a instauração do inquérito. · De acordo com o art. 5º, § 5º, do CPP, nos crimes de ação penal privada o inquérito só poderá ser instaurado se existir requerimento de quem tenha a titularidade da ação (ofendido ou seu representante legal). PRAZOS PARA A CONCLUSÃO DO INQUÉRITO · Uma vez iniciado o inquérito a autoridade tem prazos para concluí-lo, mas estes prazos dependem de estar o indiciado solto ou preso. · Indiciado solto: De acordo com o art. 10, caput, do CPP, o prazo é de 30 dias, porém, o seu § 3º prevê que tal prazo poderá ser prorrogado quando o fato for de difícil elucidação. · Indiciado preso em flagrante ou por prisão preventiva: Nos termos do art. 10, caput, do CPP, o prazo para a conclusão é de 10 dias. No caso de prisão em flagrante só deverá ser obedecido referido prazo se o juiz, ao receber a cópia do flagrante (em 24 horas a contar da prisão), convertê-la em prisão preventiva hipótese em que se conta o prazo a partir do ato da prisão em flagrante. · Prisão temporária: nos termos da lei, possui prazo máximo de duração de 5 dias, prorrogáveis por mais 5, em caso de extrema e comprovada necessidade nos crimes comuns, e de 30 dias, prorrogáveis por igual período, nos crimes definidos como hediondos, tráfico de drogas, terrorismo e tortura. DILIGÊNCIAS · Após a instauração do inquérito, a autoridade deverá determinar a realização das diligências pertinentes ao esclarecimento do fato delituoso. · Assim, os arts. 6º e 7º do CPP elencam um rol de diligências que devem ser observadas, desde que cabíveis no caso concreto, são eles: I — dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais (preservação do local do crime). II — apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais (tais objetos deverão acompanhar o inquérito, salvo se não mais interessarem à prova). III — colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias (Trata-se de permissão genérica dada pela lei à autoridade, no sentido de admitir que produza qualquer prova que entenda pertinente, mesmo que não elencada expressamente nos demais incisos). IV — ouvir o ofendido. V — ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título VII, deste Livro (O dispositivo refere-se ao interrogatório do indiciado). VI — proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações (visa apontar o autor do crime. Deve ser feito pela vítima e por testemunhas que tenham presenciado a infração penal). VII — determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias (O exame de corpo de delito é indispensável para a prova da materialidade dos delitos que deixam vestígios. A sua ausência é causa de nulidade da ação). VIII — ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes - Esta regra do CPP estabelece que a pessoa civilmente identificada não será submetida a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. · Essa norma constitucional proíbe, portanto, a identificação datiloscópica e fotográfica na hipótese de o indiciado apresentar documentação válida que o identifique eficazmente. · A referida lei permite, em seu art. 3º, que a identificação criminal seja levada a efeito mesmo que haja apresentação de um daqueles documentos, quando por exemplo: o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação; o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado, dentre outras situações. · Ressalte-se que a identificação criminal inclui o processo datiloscópico e o fotográfico, cujos registros devem ser anexados aos autos da investigação. · Registre-se também que cópia do documento de identidade apresentado pelo identificando deverá, em qualquer hipótese, ser anexada ao procedimento investigatório. IX — averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estadode ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter (é de suma importância para que o juiz tenha elementos para fixar adequadamente a pena-base do réu). INDICIADO MENOR DE 21 ANOS E A DESNECESSIDADE DE NOMEAÇÃO DE CURADOR PARA O INTERROGATÓRIO · O art. 15 do CPP determina que, sendo o indiciado menor, deve ele ser interrogado na presença de um curador nomeado pela autoridade. · O dispositivo refere-se evidentemente aos réus menores de 21 anos de idade, ou seja, aos menores que, pela lei civil, dependiam de assistência. · Ocorre que o novo Código Civil, em seu art. 5º, reduziu a maioridade civil para 18 anos, de modo que não mais é necessária a nomeação de curador ao réu menor de 21 anos. · Além disso, a Lei n. 10.792/2003 revogou expressamente o art. 194 do CPP, tornando desnecessária, na fase judicial, a nomeação de curador ao interrogado menor de 21 anos. Assim, se para a efetivação do interrogatório judicial, ato de maior relevância para o deslinde da causa, não se mostra necessária a intervenção de curador, possível a conclusão de que tal medida é também dispensável quando de sua realização na fase inquisitorial. ATO DE INDICIAMENTO · O indiciamento é um ato formal eventualmente realizado durante o inquérito policial que decorre do fato de a autoridade policial se convencer de que determinada pessoa é a autora da infração penal. · Antes do formal indiciamento, a pessoa é tratada apenas como suspeita ou investigada. · De acordo com o art. 2º, § 6º, da Lei n. 12.830/2013, o indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, a materialidade e suas circunstâncias. · O indiciamento é um juízo de valor da autoridade policial durante o decorrer das investigações e, por isso, não vincula o Ministério Público, que poderá, posteriormente, requerer o arquivamento do inquérito. REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS · O art. 7º do CPP permite que a autoridade policial proceda à reprodução simulada dos fatos com a finalidade de verificar a possibilidade de ter a infração sido praticada de determinada forma. · É a chamada reconstituição do crime, da qual o indiciado não é obrigado a tomar parte. O ato deve ser documentado por fotografias. OUTRAS FUNÇÕES DA AUTORIDADE POLICIAL DURANTE O INQUÉRITO · De acordo com o art. 13 do CPP, o delegado de polícia possui outras funções durante o tramitar do inquérito: I — fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; II — realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; III — cumprir os mandados de prisão expedidos pelo juiz; IV — representar acerca da prisão preventiva. CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL · Ao considerar encerradas as diligências, a autoridade policial deve elaborar um relatório descrevendo as providências tomadas durante as investigações. Esse relatório é a peça final do inquérito, que será então remetido ao juízo. · Ao elaborar o relatório, a autoridade declara estar encerrada a fase investigatória. · O art. 17 do CPP diz que a autoridade policial não pode determinar o arquivamento do feito. · Conforme se verá adiante, o arquivamento do inquérito é sempre determinado pelo juiz, em razão de pedido do Ministério Público. · Em se tratando de crime de ação privada, o art. 19 do CPP estabelece que os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues a eles, mediante traslado (cópia), se assim tiverem solicitado. · O art. 11 do CPP dispõe que os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito policial quando encaminhados ao juízo. · O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base para o oferecimento de qualquer delas (art. 12 do CPP). · Por fim, de acordo com o art. 18 do CPP, mesmo após ter sido determinado o arquivamento do inquérito por falta de base para a denúncia, a autoridade policial pode realizar novas diligências a fim de obter provas novas, se da existência delas tiver notícia. · Caso efetivamente sejam obtidas provas novas relevantes, a ação penal poderá ser proposta com fundamento nelas, desarquivando-se o inquérito policial.
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