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08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 1/31 HISTÓRIA DA HOMINIZAÇÃO ÀS PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES CAPÍTULO 2 - COMO OS HOMINÍDEOS CONQUISTARAM O PLANETA? Fernando Silva de Almeida INICIAR 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 2/31 Introdução Neste capítulo, conheceremos diversas características dos primeiros hominídeos que povoaram nosso planeta. Quais foram essas espécies? Como as populações humanas mudaram o modo de vida nômade e se tornaram sedentárias? Quais eram as características principais das primeiras cidades que surgiram no Oriente Antigo? Esses questionamentos são importantes, pois se referem aos primeiros momentos da história humana, que compreendem um gigantesco período de mais de 7 milhões de anos, muito mais difíceis de se compreender – em função das fontes documentais disponíveis – do que o período posterior à invenção da escrita. Sendo assim, apresentaremos aqui alguns tópicos que auxiliarão na compreensão de alguns desses processos. Abordaremos no primeiro tópico deste capítulo os debates e as evidências dos primeiros hominídeos que ocuparam o planeta e que são os antepassados dos seres humanos modernos. Trataremos no segundo tópico algumas problemáticas sobre a dispersão dos primeiros hominídeos para fora do continente africano e algumas intepretações sobre a chegada dessas populações em vários cantos do planeta. Descreveremos, no terceiro tópico, alguns processos que ocorreram durante os últimos 10 mil anos, os quais ocasionaram grandes mudanças no modo de vida do ser humano. Por fim, no quarto tópico, relataremos alguns dos principais processos históricos ocorridos na Mesopotâmia (do grego meso = no meio de; potânia = rio), portanto, “[terra] entre rios” (MICHAELIS, 2018) durante a História Antiga. Acompanhe com atenção e bons estudos! 2.1. Principais debates sobre os primeiros hominídeos Neste tópico, abordaremos algumas das principais discussões sobre os primeiros hominídeos que surgiram ao longo da Pré-História. As espécies citadas aqui possuem características que as inserem no quadro geral da evolução de nossa espécie e que demonstram o processo histórico que transformou esses 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 3/31 hominídeos com pouca capacidade cerebral e pequena estatura em espécies mais evoluídas, que ocuparam diversas partes do globo. Apresentaremos as principais espécies que fazem parte desse longo período de tempo e desconsideraremos outras que ainda são motivos de debate entre os especialistas e não se confirmaram ainda como as que fazem parte da linhagem originária do ser humano moderno. O livro mais famoso de Charles Darwin, “A origem das espécies”, publicado inicialmente em 1859, causou um grande impacto na comunidade científica e religiosa do século XIX ao afirmar que as espécies pertencentes a um mesmo gênero são sucessoras de outras já extintas. Dessa maneira, o ser humano começou a ser visto como uma espécie que não era o resultado de uma construção divina, mas sim de um processo evolutivo. Esse foi um momento histórico muito importante durante esse período, pois despertou o interesse no estudo de vestígios mais antigos relacionados à origem do ser humano. A ideia apresentada por Darwin (1859) só começou a ser aceita à medida que os fósseis de hominídeos mais antigos começaram a ser encontrados em vários lugares da África e da Europa. Entre as primeiras descobertas, podemos citar como exemplo a calota craniana de um Neandertal, descoberta em 1856, no vale do rio Neander. Em relação à origem da nossa espécie e ao restante dos hominídeos já conhecidos, a hipótese mais aceita pela comunidade científica – baseada em evidências sólidas – é que surgiram na África. VOCÊ SABIA? No estudo “Complete Khoisan and Bantu genomes from southern Africa” (SCHUSTER; MILLER; HAYER, 2010), publicado na revista Nature, foi comparado o DNA dos povos caçadores-coletores sul-africanos do deserto de Kalahari e dos povos Bantu, reforçando a teoria de que os seres humanos modernos têm sua origem na África. Os resultados indicaram a existência de uma maior diversidade genética entre esses grupos culturais, confirmando que são a população mais antiga, enquanto europeus e asiáticos seriam descendentes de uma população que saiu da África há dezenas de milhares de anos. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 4/31 Atualmente, sabemos que essa antiguidade compreende um período de mais 7 milhões de anos, muito mais recuado do que se imaginava. Como principais descobertas (FUNARI; NOELLI, 2002), podemos citar a identificação de inúmeros fósseis, entre eles: Sahelanthropus tchadensis (7 milhões de anos), Orrorin tugenensis (6 milhões de anos), Ardipithecus ramidus kadabba (5 milhões e meio de anos), Ardipithecus ramidus ramidus (4 milhões e meio de anos), Australopithecus anamensis (4 milhões de anos), Australopithecus afarensis (3 milhões e meio de anos), Australopithecus africanus (3 milhões de anos), Paranthropus aethiopicus (2 milhões e meio de anos), Paranthropus boisei (2 milhões de anos) e o Paranthropus robustus (1 milhão e 800 mil anos). No fim desse período, há o surgimento das espécies do gênero Homo, como o Homo rudolfensis (2 milhões de anos), Homo habilis (1 milhão e 800 mil anos), Homo erectus (1 milhão e 800 mil anos), Homo heidelbergensis (500 mil anos), Homo sapiens (300 mil anos) e o Homo neanderthalensis (150 mil anos). Veja, na figura a seguir, essa evolução: 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 5/31 O período que se estende de 2 milhões até 10 mil anos atrás é considerado o mais importante da evolução humana, pois foi quando houve muitas mudanças biológicas, as quais transformaram os primeiros hominídeos na espécie que somos hoje. Vale lembrar que o Homo sapiens não é uma espécie descendente dos Figura 1 - Quadro cronológico da evolução humana, com a representação das principais espécies de hominídeos que antecederam o ser humano moderno. Fonte: Elaborada pelo autor, adaptada de FUNARI; NOELLI, 2002. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 6/31 macacos, mas que estes e os seres humanos possuem uma ancestralidade em comum. Ainda não sabemos qual seria esse ancestral, pois os restos encontrados até hoje são poucos e não permitem uma associação precisa. Nesse sentido, ao longo deste tópico, citaremos algumas descobertas importantes na história da evolução de nossa espécie. Louis Leakey e sua esposa Mary Leakey trabalharam na África e foram responsáveis por algumas das principais descobertas de hominídeos em tal continente. O casal contribuiu, principalmente, para comprovar que a espécie humana surgiu na África, e não na Ásia, como se pensava até então. Louis Leakey foi também o pesquisador responsável pela descoberta dos primeiros fósseis de Homo habilis, enquanto Mary Leakey desenterrou fósseis de Paranhropus boisei e argumentou que os primeiros hominídeos eram bípedes há milhões de anos (PASSOS, 1975). Um dos grupos mais antigos de hominídeos que já existiram é o Australopithecus (PASSOS, 1975). Eles eram bípedes, possuíam feições de símios, dentes molares desenvolvidos e habitavam principalmente ambientes abertos. A mais conhecida das descobertas foi denominada como Lucy, um fóssil de Australopithecus afarensis encontrado na Etiópia. Entretanto, a maioria dos fósseis encontrados até hoje pertence à espécie Australopithecus africanus.Evidências indicam que eles possuíam prognatismo acentuado, mediam aproximadamente 1,50 metro de altura e, apesar de comerem vegetais, eram predominantemente carnívoros. Além disso, sua locomoção bípede e a postura ereta possibilitavam a fabricação de instrumentos de pedra e osso, encontrados com seus fósseis. No grupo dos Paranthropus, podemos citar como uma das espécies mais conhecidas os hominídeos Paranthropus robustus, também conhecidos como Australopithecus robustus (PASSOS, 1975). Algumas das suas características principais eram a face larga e maciça, o nariz chato, o prognatismo pouco acentuado e o maxilar inferior forte. Sua arcada dentária indicava uma alimentação composta principalmente por vegetais e uma pequena porcentagem VOCÊ O CONHECE? 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 7/31 de consumo de carne. Eles mediam aproximadamente 1,50 metro de altura, possuíam uma musculatura bem desenvolvida e um andar mais vagaroso e, ao que tudo indica, não eram grandes caçadores. Em relação ao gênero Homo, podemos citar os Homo habilis. Esses hominídeos foram descobertos na década de 1970 (PASSOS, 1975), na Garganta de Olduvai, na Tanzânia. Sua denominação derava dos artefatos de pedra lascada, encontrados em grande quantidade junto aos fósseis, sendo um dos registros mais antigos de produção de ferramentas. Eles possuíam uma dieta diversificada, composta por carnes, frutos e vegetais. Alguns pesquisadores acreditam que seriam uma variação do Australopithecus, por possuírem características morfológicas similares e, por isso, não seriam avançados ao ponto de serem incluídos no gênero Homo. Os Homo erectus situam-se entre o Australopithecus e o Homo sapiens. Alguns pesquisadores, como Passos (1975), acreditam que esses hominídeos seriam uma espécie que se desenvolveu a partir do Australopithecus, enquanto outros estudiosos acreditam que foi a partir do Homo habilis. Eles surgiram na África e também ocuparam a Europa e a Ásia, tendo sobrevivido neste último continente mais do que em qualquer outro lugar. Possuíam aproximadamente 1,60 metro de altura, apresentavam uma redução dos molares e caninos menores, e sua estrutura facial se assemelhava muito mais ao Homo sapiens. A estrutura óssea permitia mais equilíbrio em pé e caminhadas mais longas. Eles produziam instrumentos em pedra e caçavam grandes animais. A calota craniana do primeiro Homo erectus encontrado possuía uma capacidade entre 775 e 900 cm³, demonstrando uma evolução considerável quando comparada com fósseis de espécies mais antigas, embora outros dessa espécie apresentassem capacidade craniana variando entre 900 e 1.200 cm³ (MARCONI; PRESOTTO, 2001). O Homo erectus pekinensis (Homem de Pequim) foi uma das mais importantes descobertas na Ásia. Diversos fósseis dessa espécie foram encontrados na caverna de Zhoukodian, indicando que estiveram nessa região há aproximadamente 700 mil anos e representaram algumas dezenas de indivíduos, bem como muitos mamíferos de grande porte, além de claras evidências do uso do fogo e da fabricação de instrumentos de pedra, com uma perícia técnica mais apurada do que os instrumentos produzidos anteriormente. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 8/31 Os Homo sapiens neanderthalensis surgiram há aproximadamente 150 mil anos, tendo seu apogeu estimado entre 70 e 40 mil anos atrás (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Foram encontrados em vários lugares da Europa, Ásia e África. Eram hominídeos pequenos, com aproximadamente 1,50 metro de altura, com cérebro mais volumoso do que o homem moderno (1.500 cm³, aproximadamente). Sua estrutura facial era maciça, com o rosto proeminente, nariz largo e comprido, e com o maxilar inferior largo e afundado. Eles tinham uma grande capacidade muscular, e o esqueleto era mais volumoso do que o ser humano moderno, com ossos mais espessos e pesados. As mãos e os pés eram largos, e os dedos eram robustos. Viveram principalmente em cavernas ou abrigos rochosos, usaram o fogo, praticaram a caça e a coleta e aperfeiçoaram bastante as técnicas de produção de instrumentos em pedra lascada, osso e madeira. Foi a primeira espécie a utilizar ossos para produzir instrumentos musicais, utilizavam peles de animais como vestimenta e enterravam seus mortos. O problema do desaparecimento do Homem de Neandertal é ainda hoje um fenômeno sem explicação. Um dos últimos refúgios foi localizado no sul da Espanha, e as datações indicam que habitaram essa região aproximadamente há 30 mil anos. Alguns pesquisadores argumentam que esse hominídeo não teria convivido com o Homo sapiens, enquanto outra teoria propõe que houve processos de miscigenação. Recentes descobertas na Croácia apontam para uma possível miscigenação entre os dois grupos, assim como o Menino do Lapedo, encontrado em Portugal (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Essa descoberta se refere a uma criança de quatro ou cinco anos, morta há́ mais de 25 mil anos, que possuía traços de Neandertais e humanos modernos. Em relação ao Homo sapiens primitivos, citamos alguns achados, como o Homem de Kibish (na Etiópia), o Homem de Vertesszöllös (na Hungria) e o Homem de Swanscombe (na Inglaterra). A datação mais antiga se refere aos fósseis do sítio Jebel Irhoud, no Marrocos, com uma datação de aproximadamente 300 mil anos atrás, e dos fósseis Omo I e Omo II, que habitaram o atual território da atual Etiópia há 195 mil anos. Esses hominídeos se diferenciavam, pois apresentavam características de seres humanos modernos, porém com alguns traços de hominídeos mais antigos. As descobertas associadas a essa subespécie indicam que possuíam cérebros grandes: a análise dos crânios de Swanscombe indicava um volume de aproximadamente 1.300 cm³ (MARCONI; PRESOTTO, 2001), enquanto os homens de Kibish possuíam uma capacidade craniana de 1.400 cm³ 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 9/31 (DAY, 1969), fabricavam instrumentos de pedra, manipulavam o fogo e, em vários casos, foram encontrados em associação com animais de grande porte, indicando atividades de caça especializada. O filme A guerra do fogo (BRACH, 1981) aborda um período pré-histórico anterior ao uso da linguagem tal qual a conhecemos. Ao longo da película, são mostradas interações entre distintos hominídeos e a relação existente entre eles. Trata-se de um exemplo interessante para quem quer conhecer um pouco mais da história dos antepassados humanos. O último grupo de seres humanos conhecidos atrás do estudo de fósseis é denominado de Cro-Magnon. Acredita-se que estão entre os fósseis de Homo sapiens mais antigos encontrados na Europa e apresentavam características de seres humanos modernos (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Viveram entre 35 e 10 mil anos atrás, habitaram a Europa, Ásia e África, chegando mais tarde à América e Austrália. Apresentavam caixa craniana de 1.200 a 1.600 cm , e altura que alcançava até 1,86 metro. O rosto era reto, com nariz desenvolvido e mais fino, e a testa larga. Possuía forte mandíbula, estrutura robusta e esqueleto bem construído. A tecnologia material foi a mais avançada entre todas as espécies de hominídeos, e a capacidade criativa deu origem às extraordinárias pinturas e gravuras rupestres encontradas em diversos lugares do planeta. Eram hábeis caçadores e coletores e, com o passar do tempo, desenvolveram outras técnicas baseadas em atividades de forrageio e horticultura. VOCÊ QUER VER? 3 2.2. Hipóteses sobre a saída dos primeiros hominídeos da África e sua dispersão pelo mundo 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 10/31 Os hominídeos que fizeram parte do gênero Homo, como o Homo habilis, Homo erectus e o Homo sapiens,ocuparam outras partes do planeta, diferentemente de espécies como os Australopithecus e Paranthropus, que habitaram somente o território africano (SANTOS, 2014). Neste tópico, abordaremos alguns dos processos associados à migração dessas espécies para fora da África, em direção à Ásia e Europa. Posteriormente, apresentaremos algumas discussões sobre a chegada do Homo sapiens sapiens à Austrália e ao continente americano. A discussão sobre esses fenômenos é um elemento importante no desenvolvimento deste tópico, pois aqui explicamos o processo de dispersão que levaram os hominídeos a diferentes ambientes onde, com o passar do tempo, foram modificados pela ação humana e transformados nas primeiras cidades conhecidas do mundo antigo. Para dividir os períodos da Pré-História humana, os instrumentos de pedra lascada produzidos pelos primeiros hominídeos e encontrados em sítios arqueológicos foram classificados no início do século XX pelos europeus conforme diferentes morfologias, técnicas de produção e períodos em que foram produzidos. Dessa forma, a cronologia da Pré-História foi dividida entre o período Paleolítico (idade da pedra lascada) e o Neolítico (idade da pedra polida) (FUNARI; NOELLI, 2002). Não há um consenso e uma definição precisa sobre a cronologia desses momentos, porém, de uma maneira geral, costuma-se chamar de Paleolítico Inferior o período que vai de 2 milhões e meio de anos até 300 mil anos atrás, seguido do Paleolítico Superior, que se estende até 10 mil anos atrás. Já o Neolítico se situa entre 10 mil e 4 mil anos atrás, aproximadamente, e se refere ao surgimento das primeiras civilizações. A cultura material associada ao período Paleolítico se baseia, principalmente, na produção de instrumentos de pedra lascada, o material arqueológico mais comum de se encontrar nos sítios arqueológicos pré-históricos. O conjunto de diversos artefatos encontrados em um sítio é chamado de indústria lítica. Esses artefatos foram fabricados por diferentes hominídeos, como o Australopithecus africanus, Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis e Homo sapiens sapiens (MARCONI; PRESOTTO, 2001). 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 11/31 A indústria lítica é definida pela utilização de diferentes técnicas de fabricação de instrumentos com distintas morfologias, incluindo machados, raspadores, pontas de flecha e de lança, lascas e lâminas de corte, entre outros, que poderiam ter sido fabricados também em osso e em madeira (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Como exemplos, citamos a cultura Musteriense, que se refere à produção de distintos instrumentos de pedra, como pontas, facas e raspadores, que foram fabricados pelo Homo sapiens neanderthalensis, e a cultura Solutrense, caracterizada Figura 2 - Instrumento lítico Acheulense. Fonte: Diego Barucco, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 12/31 principalmente pela perícia técnica aplicada às pontas de projétil com morfologia foliácea, produzidas pelo Homo sapiens. Outras culturas presentes em distintos períodos do Paleolítico são a Olduvaiense, Acheulense e Magdaleniense. Com base na leitura deste e-book, podemos afirmar que todas as espécies de Australopithecus, o gênero Paranthropus e o Homo habilis foram encontrados na África, assim como algumas das indústrias líticas do Paleolítico Inferior, como a cultura Olduvaiense (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Por outro lado, hominídeos como o Homo sapiens neanderthalensis, Homo erectus e o Homo heildelbergensis desenvolveram artefatos característicos ao habitarem os continentes europeu e asiático, e muitas dessas culturas podem ter sido precursoras de outras encontradas em outros continentes. A indústria lítica Acheulense, por exemplo, tem seus conjuntos mais antigos encontrados na África, porém foi definida a partir de um sítio arqueológico encontrado na França (Saint-Acheul) e é comum ser encontrada no continente europeu. Essas culturas arqueológicas nos trazem evidências da produção dos mesmos instrumentos em diferentes regiões do planeta e demonstram alguns das primeiras evidências de migração ocorridas no passado. As indústrias líticas e os fósseis humanos são as principais evidências que comprovam esses fenômenos e estão relacionadas à dispersão de diversos hominídeos pelo mundo, como o Homo erectus, na Ásia. Existem evidências científicas desse hominídeo encontradas no Cáucaso e em Israel, datadas em aproximadamente 1,6 milhão de anos atrás, e os fósseis e materiais líticos de Homo erectus que habitaram a China há aproximadamente 2 milhões de anos (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Em relação aos dados existentes sobre a dispersão do Homo sapiens sapiens para fora da África, sabemos que esse processo migratório deve ter ocorrido há aproximadamente 60 mil anos. Contudo, há novas evidências que sugerem a ocorrência de outro processo migratório, que ocorreu por volta de 125 mil anos, com base nas pesquisas científicas que aconteceram no sítio arqueológico Jebel Faya, nos Emirados Árabes Unidos (ARMITAGE et al., 2011). Esses dados são significativos, pois recuam ainda mais o período de entrada do Homo sapiens sapiens em outros continentes e sugerem que o contato com outros hominídeos ocorreu muito antes do que se imaginava. As principais hipóteses sobre a chegada do Homo sapiens à Austrália indicam que esse processo migratório ocorreu entre 50 mil e 60 mil anos atrás. Contudo, novas pesquisas publicadas na conceituada revista científica Nature indicam que 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 13/31 homens modernos já habitavam o continente australiano há 65 mil anos (CLARKSON, 2017). Essas evidências reforçam ainda mais a ideia de que os processos migratórios para fora do continente africano poderiam ter ocorrido em períodos mais antigos do que afirmam as pesquisas, desmistificando a ideia de que somente em períodos mais recentes o Homo sapiens poderia ter realizado grandes travessias, tanto marítimas quanto terrestres. Em relação à presença de outros hominídeos na América, novos dados sempre têm trazido novas problemáticas e hipóteses: há publicações que afirmam, por exemplo, que o Homo erectus ocupou a América ou que o Brasil teria sítios arqueológicos de mais 70 mil anos atrás. Contudo, até o momento, não há dados coerentes e ninguém da comunidade científica internacional considera a validade dessas teorias. Sendo assim, os dados presentes até o momento comprovam que o Homo sapiens sapiens foi o primeiro e único hominídeo a ocupar a América (FUNARI; NOELLI, 2002). A principal hipótese sobre a chegada do Homo sapiens à América, defendida pela grande maioria dos pesquisadores que estuda a Pré-História americana, diz respeito à entrada das primeiras populações pelo Estreito de Behring, uma região localizada entre a Ásia e América do Norte. Essas populações teriam chegado ao continente em um dos três últimos períodos de glaciação, que ocorreram em três momentos distintos: em 40 mil, 25 mil e 14 mil anos atrás, aproximadamente. A cultura arqueológica mais conhecida e que por muito tempo foi considerada a primeira na América é a Cultura Clovis, caracterizada pelas pontas de projétil produzidas em pedra lascada. Esse modelo seria, então, a principal hipótese que explicaria o povoamento inicial do continente. Além dessa hipótese, outros dados sugerem que esse processo ocorreu muito antes do que prevê o modelo da Cultura Clovis e, inclusive, pode ter sido iniciado a partir de outras rotas migratórias. Desde a década de 1970, por exemplo, a arqueóloga Niède Guidon foi a responsável pelas pesquisas arqueológicas realizadas no sítio Boqueirão da Pedra Furada, no Piauí (GUIDON, 1991). Essa pesquisadora argumentousobre a possibilidade dos primeiros seres humanos terem chegado à região há 50 mil anos e utilizado outras rotas. Entretanto, a maioria dos pesquisadores não aceita um período tão antigo, argumentando que as fogueiras antigas e as pedras lascadas identificadas nessas pesquisas seriam naturais ou até produzidas por macacos-prego. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 14/31 Somente a partir dos anos 2000 é que alguns estudos foram retomados, e pesquisadores têm obtido evidências incontestáveis sobre a chegada das primeiras populações à América do Sul, que ocorreu em períodos bem mais recuados do que se imaginava – como é o caso, por exemplo, das datações de mais de 20 mil anos no Vale da Pedra Furada, no Piauí (BOEDA et al., 2014), e em Santa Elina, no Mato Grosso (VIALOU; VIALOU, 2009). Esses dados possuem mais validade e cada vez mais têm sido aceitos pela comunidade científica. Na América do Norte, também foram encontrados sítios arqueológicos – como o sítio Bluefish Caves, em Yukon, no Canadá – com datas que alcançam até 24 mil anos. Outra problemática sobre a arqueologia brasileira é a descoberta de Luzia, um fóssil de Homo sapiens de 10 mil anos atrás encontrado em Minas Gerais. Uma das características mais interessantes dessa descoberta é o fato de que seu crânio se distingue da morfologia craniana das populações indígenas que ocuparam o continente. Essas diferenças foram exploradas pelo arqueólogo Walter Neves, responsável pela criação do modelo dos dois componentes biológicos principais (NEVES; BERNARDO; OKUMURA, 2007), baseado na análise da variabilidade morfológica dos crânios de populações nativas extintas. Pré-História do Brasil, escrito por Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noelli, é um excelente texto didático que introduz o leitor às principais discussões sobre a Pré-História do continente americano e, principalmente, do atual brasileiro. Os dados utilizados são coerentes e as discussões apresentadas ainda são atuais. Os grupos nativos americanos se dividiram em dois padrões: o primeiro foi o paleoamericano, com registros arqueológicos distintos e morfologia semelhante às encontradas em populações africanas e australianas; já a segunda morfologia, denominada como mongoloide, caracterizou os grupos que se tornaram dominantes entre as populações nativas da América (NEVES; BERNARDO; OKUMURA, 2007). O modelo sugere que teriam ocorrido dois eventos migratórios VOCÊ QUER LER? 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 15/31 para o continente, sendo um associado às populações com traços morfológicos semelhantes à Luzia e outro com as populações com traços morfológicos semelhantes às populações indígenas atuais. 2.3. Do nomadismo ao sedentarismo Neste tópico, apresentaremos algumas discussões sobre o processo que levou os seres humanos a transformarem o modo de vida que era centrado na caça, na coleta e na alta mobilidade, em um modo de vida sedentário, que passou para a formação de assentamentos permanentes e na realização de atividades agrícolas e pastoris em algumas regiões do Oriente Próximo. Nosso objetivo é introduzir mudanças que ocorreram na história humana durante os últimos 10 mil anos em ambientes como a Mesopotâmia. Enquanto no período Paleolítico apareceram diferentes hominídeos nos continentes africanos, europeus e asiáticos e surgiram inúmeras culturas arqueológicas caracterizadas pelos instrumentos de pedra lascada (como vimos nos tópicos anteriores), no Neolítico houve uma grande transformação no modo de vida das populações humanas em um “curto” espaço de tempo, considerando que estamos falando de milhares de anos. A história do Brasil, por exemplo, possui um pouco mais de 500 anos e, quando comparamos com a Pré-História, percebemos que nossa história é ainda bem recente. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 16/31 Nos primeiros momentos da história humana, o Homo sapiens foi predominantemente caçador e coletor. Houve momentos em que os recursos necessários para a sobrevivência eram obtidos a partir da utilização de outras estratégias, como o aproveitamento dos restos de alimentos deixados por animais selvagens ou o canibalismo que, apesar de já ter sido praticado por questões simbólicas, pode ter sido exercido em função da própria necessidade de se obter Figura 3 - Os povos nômades pré-históricos tinham sua cultura e sociedade embasada na caça, como podemos ver na arte rupestre, que representa uma cena típica. Fonte: Dmitry Pichugin, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 17/31 recursos necessários à sobrevivência. Contudo, na maior parte da Pré-História, as populações desenvolveram como principais fontes de subsistência as estratégias de caça e de coleta de alimentos (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Até o surgimento do comércio, a alimentação que os primeiros hominídeos tinham à disposição se limitava à distribuição natural dos recursos. As populações eram pequenas e então caçavam e coletavam o que existia no ambiente em que viviam. A mobilidade desses grupos dependia, muitas vezes, de movimentos sazonais, orientados para a procura de áreas onde existiam os principais recursos de subsistência. Ao longo da Pré-História, encontramos exemplos de populações que consumiam recursos marinhos durante uma época do ano e, em outra, precisavam se deslocar para áreas onde caçavam pequenos animais; em outros casos, esses grupos habitavam regiões cuja distribuição de recursos não apresentava variações ao longo do ano (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Dessa maneira, os seres humanos possuíam distintas características de mobilidade e territorialidade e puderam manter a caça e a coleta como um dos principais meios de subsistência. Por outro lado, alguns sítios arqueológicos que foram ocupados entre o fim do Paleolítico Superior e o início do Neolítico apresentam algumas evidências da mudança de um modo de vida baseado na caça e na coleta para a realização de atividades que indicam os primeiros processos de sedentarização do Homo sapiens. Esse é o caso dos sítios arqueológicos da cultura Natufiana, encontrados na Palestina (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Esses povos podem ter sido os antepassados daqueles que formaram os primeiros núcleos urbanos e as primeiras civilizações durante a história da Mesopotâmia, e em seus sítios foram observados vestígios materiais que sugerem a realização de distintas atividades culturais, por exemplo: a produção de instrumentos líticos, sugerindo a realização de atividades ligadas à produção de alimentos, além de outras evidências arqueológicas que indicam a existência de práticas inéditas durante o período, como a domesticação de animais e o cultivo de cereais. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 18/31 O período Neolítico é caracterizado por diferentes mudanças no modo de vida nômade, entre elas o aparecimento das primeiras evidências da coleta de vegetais, a permanência de grupos humanos em regiões mais favoráveis à habitação, a produção de alimentos (que favoreceu a criação de recursos próprios), a invenção da cerâmica (que propiciou o armazenamento e a cocção de alimentos) e o polimento da pedra (que proporcionou a fabricação de instrumentos mais eficientes do que aqueles produzidos pelas técnicas de lascamento). Outros processos que podemos citar são: domesticação de animais e de plantas, surgimento do pastoreio e agricultura. Todos esses fenômenos contribuíram e fizeram parte do processo de sedentarização das populações humanase da formação das cidades (MARCONI; PRESOTTO, 2001). O Neolítico ocorreu na região conhecida como Crescente Fértil (MARCONI; PRESOTTO, 2001), que corresponde atualmente aos territórios da Palestina, de Israel, da Jordânia, do Kuwait, do Líbano e do Chipre, assim como algumas partes da Síria, do Iraque, do Egito, da Turquia e do Irã. Esse imenso território possuía Figura 4 - As cenas cotidianas dos povos caçadores-coletores eram retratadas em pinturas e, por meio delas, podemos identificar as mudanças ocorridas nos períodos pré-históricos. Fonte: Jannarong, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 19/31 importantes redes hidrográficas, como os rios Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo. Ao longo dessa rede fluvial, estabeleceram-se populações de caçadores, coletores e, posteriormente, agricultores, dando início à formação dos primeiros centros urbanos. Algumas das atividades identificadas no registro arqueológico e associadas ao período são o cultivo do trigo, da cevada e do linho, a caça, a pesca, as atividades pastoris, a criação de ovelhas, cabras, porcos, bois etc. O modo de vida sedentário influenciou o grande aumento populacional ocorrido em diversas áreas no Crescente Fértil e, desta maneira, as aldeias se tornaram cada vez mais comuns na região. Alguns dos sítios arqueológicos mais conhecidos desse período e que representam os primeiros momentos de formação de centros urbanos são: Jericó, Mallaha, Çatalhüyük, Hacilar, Khirokitia (ou Choirokoitia), Hassuna, entre outros (MARCONI; PRESOTTO, 2001). O sítio arqueológico de Khirokitia, descoberto em 1934 no Chipre, por exemplo, foi listado como um dos patrimônios culturais da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2018). Ele é Figura 5 - A pesca se tornou também uma atividade importante de subsistência entre as populações humanos ao longo do tempo. Fonte: Ekkachai, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 20/31 bastante conhecido pelos arqueólogos, porque apresenta vestígios de um assentamento coletivo composto por fortificações e é caracterizado pela realização de atividades, como a criação de ovelhas, cabras e porcos. A agricultura também foi um processo importante para o surgimento das cidades, pois proporcionava a produção de alimentos e, consequentemente, a permanência de muitas pessoas em uma mesma região. Todavia, ao contrário do que se imaginava, o processo de sedentarização não é resultado somente dessa prática, mas envolve outros fenômenos, como a arquitetura de monumentos, os primeiros registros de escrita e comunicação, o comércio ocorrido nas aldeias ou entre aldeias, as estruturas políticas, entre outros exemplos. Há inúmeros casos de cidades que se formaram sem a agricultura, como é o caso do sítio arqueológico Çatalhüyük, localizado na Turquia, cercado por uma extensa planície bem abastecida de água, tornando a pesca uma atividade atrativa para a população, além da exploração de plantas e animais. Havia, nesse centro urbano, a elaboração de atividades específicas – como a produção de implementos de pedra, tecelagem e produtos feitos em metal e cerâmica (GOUCHER; WALTON, 2016). Diferentemente de Çatalhüyük, outros aglomerados urbanos eram especializados em atividades distintas, por exemplo: a vila de Mallaha, na Palestina, foi caracterizada pela preferência às atividades de caça, pesca e coleta, e não apresentava evidências de cultivo ou domesticação, com exceção de alguns dados que indicavam a domesticação de cães (VALLA et al., 2017). Outros exemplos demonstram que alguns centros urbanos obtiveram êxito e se consolidaram na região, enquanto outros se formaram por curtos períodos de tempo e acabaram sendo abandonados por diversos motivos políticos, econômicos, culturais etc. A continuação das atividades de caça e coleta entre as populações humanas durante o período Neolítico, mesmo após o surgimento das cidades, foi uma escolha estratégica realizada pelos grupos humanos que ocuparam o Crescente Fértil. Esse modo de vida era menos vulnerável às mudanças climáticas extremas ou aos fenômenos de cheia que ocorriam na região, que poderiam tanto fornecer os recursos hídricos necessários para as plantações quanto causar alagamentos e destruir os assentamentos. Ao longo do tempo, essas populações encontraram soluções para esses problemas, e as atividades agrícolas e pastoris foram se intensificando cada vez mais. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 21/31 2.4. Ocupação do oriente próximo A história da Mesopotâmia se configura como um dos processos históricos mais importantes da Antiguidade. Como objetivo deste tópico, mostraremos alguns aspectos importantes sobre as civilizações que surgiram nessa região, nos sistemas fluviais dos rios Tigre e Eufrates, que demonstram algumas das mais importantes invenções que surgiram no período, como os monumentos, a escrita e os códigos de leis mais antigos que temos conhecimento até hoje. Figura 6 - Nesta figura, podemos ver a pedra na qual foi registrado o Código de Hamurabi, reconhecido historicamente como um dos primeiros compilados de leis da humanidade. Fonte: jsp, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 22/31 O território compreendido como Mesopotâmia corresponde a uma vasta área onde se localizam os rios Tigre e Eufrates, e atualmente estão localizados países como o Iraque, o Kuwait e a Síria. Essa região é conhecida por muitos historiadores como o berço da civilização, pelo fato de que lá não somente surgiram as primeiras sociedades da humanidade, mas também ocorreram importantes fenômenos culturais: a invenção da escrita, o cultivo de cereais, a invenção da roda, a agricultura, entre outros (JOÃO, 2013). Durante o período Neolítico, vários povos se estabeleceram na região, dando início ao processo de sedentarização e de formação dos primeiros núcleos urbanos, por exemplo as cidades de Ur, Uruk e Akad (PINSKY, 2011). O documentário Mesopotâmia: retorno ao Éden (DISCOVERY CHANNEL, 2012) mostra diversas imagens e fatos sobre a Babilônia, Assíria e Suméria. Se você busca obter mais informações sobre os povos antigos da Mesopotâmia, o documentário pode ser uma ótima opção. Existem importantes acontecimentos que merecem destaque na história da Mesopotâmia, como as obras de irrigação, o desenvolvimento da escrita cuneiforme pelos sumérios, a formação do primeiro império unificado babilônico e a invenção do Código de Hamurabi (um dos conjuntos de leis escritas mais bem preservados da Antiguidade). Além disso, é nessa região que foram erguidos os zigurates, espécie de templos antigos que foram construídos pelo seu povo (sumérios, assírios e babilônios). Essas construções tinham o formato de pirâmides e possuíam finalidades religiosas, com idolatração aos deuses e realização de cerimônias públicas. O zigurate, de Ur, é um dos mais notáveis, construído há aproximadamente 4 mil anos (GOUCHER; WALTON, 2016). VOCÊ QUER VER? 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 23/31 Durante a Antiguidade, a Mesopotâmia foi marcada pelos regimes de cheias dos rios Tigre e Eufrates. Esse fenômeno impulsionou a criação de complexos sistemas hidráulicos, como diques, barragens, reservatórios e canais de irrigação, que conduziam a água na medida adequada para as plantações e o restante para outros lugares, impedindo a inundaçãoe o aparecimento de predadores, favorecendo as atividades agrícolas (GOUCHER; WALTON, 2016). Além disso, esses sistemas hidráulicos permitiam o armazenamento de água durante todo o ano. O texto de Jaime Pinsky, 100 textos de história antiga, é uma aproximação do mundo antigo com a nossa atualidade. Nesse livro (2003), foram reunidos cem documentos antigos que foram traduzidos e organizados em diversos temas: escravismo, educação, mitos, entre outros. Figura 7 - O surgimento da escrita marcou a passagem da pré-história para a história. O Código de Hamurabi, que vemos em detalhe nesta figura, é um importante registro histórico em escrita cuneiforme. Fonte: jsp, Shutterstock, 2018. VOCÊ QUER LER? Deslize sobre a imagem para Zoom 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 24/31 Nos primeiros momentos da história da Mesopotâmia, não havia ainda uma unificação política na região. Dessa forma, os núcleos urbanos existentes eram caracterizados por manifestações de poder, que eram independentes entre si. Entretanto, a formação de alianças e o surgimento de conflitos entre diversas aldeias motivaram a expansão de algumas cidades-estado e o predomínio de alguns povos sobre outros (PINSKY, 2011). Esses processos históricos podem ter sido alguns dos fatores que influenciaram o surgimento das principais civilizações da época, das chefias religiosas e das guerras pelo controle do território. A invenção da escrita, a construção das primeiras arquiteturas monumentais e outras inovações, como os sistemas de irrigação e a invenção da roda, são atribuídas aos sumérios, uma das primeiras civilizações conhecidas da Mesopotâmia. A maioria das informações que conhecemos atualmente sobre a Mesopotâmia deriva dos registros escritos que foram produzidos na época. A complexidade das relações políticas, econômicas e culturais existentes no período exigiam informações que precisavam ser registradas, pois a comunicação era um grande problema entre as primeiras sociedades. Sendo assim, a escrita se originou a partir do registro de pictogramas gravados em pedaços de argila, que funcionavam praticamente como símbolos autoexplicativos, representando ideias, objetos e conceitos, os quais, com o passar do tempo, se tornaram cada vez mais comuns também em outras civilizações (PINSKY, 2011). Os acádios habitaram a Mesopotâmia, enquanto essa região foi dominada pelos sumérios. O rei Sargão, da Acádia, se tornou um personagem célebre na história dessa civilização por ter conquistado cidades-estado que pertenciam aos sumérios, tendo inclusive dominado toda a Mesopotâmia (PINSKY, 2011). Esse rei foi percebido como uma referência para outros líderes que governaram a Mesopotâmia posteriormente, pois sua dinastia durou mais de um século, realizando conquistas de territórios mesopotâmicos por volta de 2370 a.C. (PINSKY, 2011). Outros povos que se destacam na história da Mesopotâmia são os assírios, conhecidos por sua alta capacidade militar e que ocuparam muitos territórios no Oriente Médio. Faziam parte de seu poderoso exército os famosos carros de guerra e também as unidades de cavalaria e infantaria. O império assírio era governado 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 25/31 por chefes que eram guerreiros, e o processo expansionista, associado a essa civilização, permitiu que vários historiadores a considerassem uma das mais organizadas e eficientes do mundo antigo. Os babilônios foram os responsáveis pela formação do primeiro império unificado na Mesopotâmia. Um de seus reis foi Hamurabi, responsável pela ampliação da hegemonia babilônica por quase todo o território mesopotâmico e pela criação dos primeiros códigos de controle da sociedade, como as leis de talião (caracterizadas por punições que eram aplicadas de acordo com a gravidade dos delitos cometidos e conhecidas pela célebre frase “olho por olho, dente por dente”). Os babilônios também desenvolveram o primeiro sistema de mensuração do tempo, que era baseado nas revoluções lunares e permitia, entre outras coisas, conhecer melhor as cheias dos rios e melhorar as condições agrícolas. Hamurabi foi considerado um dos principais personagens da história. Além de ter criado o código de leis mais famoso da Antiguidade, foi um grande militar e administrador. Como militar, possuiu conquistas notáveis em quase toda a Mesopotâmia e, como administrador, realizou pessoalmente a coordenação de diversas obras que foram construídas durante seu império, como edifícios públicos e canais de irrigação (PINSKY, 2011). A Mesopotâmia também é conhecida pelas civilizações que possuíam notáveis conhecimentos em Astronomia, Matemática e Medicina, além de diferenciarem os planetas, dividirem o ano em meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos, efetuarem cálculos matemáticos (como multiplicação, divisão, soma, subtração, raízes quadradas e cúbicas), entre outros. Nesse período, muitos males eram explicados por origens sobrenaturais, e a Medicina foi cada vez mais sendo respeitada por tratar esses males com a utilização de remédios à base de ervas, atos cirúrgicos e aplicação de receitas. VOCÊ O CONHECE? 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 26/31 VOCÊ SABIA? Os Jardins Suspensos da Babilônia são considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo, contudo praticamente não existem evidências arqueológicas, tampouco textos antigos que comprovam que eles tenham existido. Alguns pesquisadores afirmam, inclusive, que podem nunca ter sido construídos, enquanto outros acreditam que já encontraram a região onde esse local existiu (FREITAS, s/d). E você, o que acha do assunto? Existem ainda vários outros acontecimentos notáveis e povos que ocuparam a Mesopotâmia ao longo do tempo, em um período que se estende desde as origens dos primeiros assentamentos urbanos (entre 9 mil e 7.500 anos atrás) até a era cristã (MARCONI; PRESOTTO, 2001). Durante esse período, outros povos conquistaram o território, como os caldeus (responsáveis pela formação do segundo império babilônico), partos, romanos, persas, entre outros. O estudo desse período da Antiguidade é de fundamental importância, pois foi nessa região que ocorreram diversos acontecimentos importantes para a história da humanidade, como a invenção das cidades, da agricultura, dos sistemas de irrigação, da escrita, das leis e da religiosidade do ser humano. Apesar de sua enorme importância no mundo antigo, é necessário observar que a história da Mesopotâmia não se configura como uma história universal ou de uma civilização superior em relação às civilizações que se formaram em outras regiões. A história do território mesopotâmico é uma parte importante da história do mundo, porém deve ser entendida em seu próprio contexto e deve ser comparada com a história de outras regiões do planeta que também passaram por processos históricos relevantes e, em muitos casos, semelhantes. CASO Em 1932, no Nepal, foram encontrados alguns fósseis de um hominídeo chamado Ramapithecus. Os pesquisadores que analisaram a arcada dentária desse fóssil afirmaram que as características observadas eram semelhantes àquelas que encontramos em hominídeos que apareceram posteriormente. Ele foi datado entre 8 e 9 milhões de anos atrás e representava, então, os primeiros momentos da história da humanidade. 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 27/31 Alguns hominídeos, como o Sahelanthropus tchadensis e o Australopithecus afarensis, tinham a capacidade craniana compatíveis com chimpanzés, contudo os outros fósseis analisados indicavam que eram bípedes e possuíam a capacidade de andar em pé. Essas características foram analisadasna observação de ossos das pernas e dos joelhos, e dos crânios desses hominídeos. Por outro lado, a interpretação de que o Ramapithecus era um possível ancestral do ser humano se deu somente a partir da análise da arcada dentária. Dessa maneira, será que apenas as observações de algumas características isoladas permitem inserir determinados fósseis dentro da história da humanidade? A resposta é: não. Com o passar do tempo, as interpretações sobre o Ramapithecus e a descoberta de novos fósseis da mesma espécie permitiram concluir que essa espécie não era ancestral da espécie humana, mas sim de um orangotango, que diz respeito muito mais à linhagem evolutiva dos primatas de uma maneira geral do que ao Homo sapiens sapiens. Foi preciso compreender que, para interpretar a existência de um antepassado do ser humano, seria necessário encontrar mais evidências do que apenas a arcada dentária, bem como pesquisar um pouco mais sobre o assunto, e só depois publicar a descoberta. Finalizamos retomando um pouco do que aprendemos sobre os principais acontecimentos relacionados à História da Mesopotâmia. Trata-se de uma discussão muito importante, pois foi nessa região que os povos pioneiros formaram os primeiros núcleos urbanos do mundo antigo e foi onde se desenvolveu a escrita cuneiforme e as primeiras evidências de agricultura. Assim, concluímos o capítulo, compreendendo como os hominídeos foram deixando suas marcas pelo mundo que possibilitaram aos historiadores compreender e sistematizar as origens e a evolução da humanidade. Síntese Chegamos ao fim do capítulo. Estudamos alguns dos principais fenômenos relacionados aos primeiros hominídeos que habitaram o planeta e que fazem parte do processo evolutivo que deu origem ao ser humano moderno. Além disso, 08/05/2020 História da Hominização às Primeiras Civilizações https://fmu.blackboard.com/webapps/late-Course_Landing_Page_Course_100-BBLEARN/Controller 28/31 apresentamos também importantes discussões sobre os processos históricos que levaram o ser humano a mudar o modo de vida e construir os primeiros assentamentos humanos ao longo do território mesopotâmico. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: conhecer as características dos principais fósseis de hominídeos que fazem parte da linhagem humana; compreender os processos que levaram o ser humano do nomadismo ao sedentarismo; aprender novos conhecimentos sobre a ocupação do território mesopotâmico e a formação das primeiras civilizações. Referências bibliográficas ARMITAGE, S. J. et al. The southern route “out of Africa”: evidence for an early expansion of modern humans into Arabia. Science, Washington, v. 331, n. 6016, p. 453-456, jan. 2011. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/49791241_The_Southern_Route_Out _of_Africa_Evidence_for_an_Early_Expansion_of_Modern_Humans_into_Arabia (https://www.researchgate.net/publication/49791241_The_Southern_Route_Out_ of_Africa_Evidence_for_an_Early_Expansion_of_Modern_Humans_into_Arabia)>. Acesso em: 8/2/2018. BOEDA, E. et al. 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