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trabalho 01 - pavimentação

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AVALIAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO ESTRUTURAL DE SUBLEITOS 
MELHORADOS COM CAL 
 
Luis Miguel Gutiérrez Klinsky 
Valéria Cristina De Faria
 
Sandra Aparecida Margarido Bertollo 
Antônio Donizete Leal 
Centro de Pesquisas Rodoviárias 
Grupo CCR 
 
 
RESUMO 
A cal é um dos aditivos mais utilizados no setor rodoviário para estabilização de solos problemáticos. Esse 
aditivo é utilizado principalmente para: secar e melhorar a trabalhabilidade dos solos, reduzir a expansão e a 
plasticidade, e também para incrementar a capacidade de suporte de solos. O objetivo deste estudo foi avaliar a 
adição de 3%, 5% e 7% de cal hidratada a um solo expansivo e de baixa capacidade de suporte e determinar a 
contribuição estrutural do solo cal no pavimento. As misturas de solo cal foram testadas em laboratório por meio 
dos ensaios de Limite de Consistência, Compactação Proctor na energia intermediária, Índice de Suporte 
Califórnia (ICS ou CBR), Resistência à Compressão Simples (RCS), Resistência à Tração (RT) e Módulo de 
Resiliência (MR). Os ensaios de RCS, RT e MR foram realizados em corpos de prova de solo cal aos 3, 7 e 28 
dias, com o propósito de avaliar a influência do tempo de cura. Os resultados obtidos nos ensaios laboratoriais 
mostraram que a adição de 3% de cal hidratada no solo é suficiente para melhorar suas propriedades de 
resistência e rigidez; a adição de teores superiores produziu ganhos pouco significativos nas propriedades 
avaliadas. Com os resultados de Módulo de Resiliência foi realizada uma avaliação estrutural de estruturas 
hipotéticas de pavimentos, para avaliar a contribuição estrutural do subleito melhorado com cal. Os resultados 
dessa análise indicam que a estabilização do solo com cal hidratada possibilitaria a utilização de subleitos 
problemáticos, evitando a substituição do material. 
Palavras-chave: Solo cal; Módulo de Resiliência, Avaliação Estrutural 
 
ABSTRACT 
Lime is one of the most used additives in road construction to stabilize problematic soils. This additive is used 
mainly to: dry and improve soil workability, to reduce swell and plasticity, and also to improve soil bearing 
capacity. The purpose of this study was to assess de addition of 3%, 5% and 7% of hydrated lime to a highly 
expansive soil with low bearing capacity and also was determined its structural contribution as pavements 
layer. The soil lime mixtures were tested in laboratory using Atterberg Limits, Proctor Compaction, California 
Bearing Ratio (CBR), Unconfined Compressive Strength (RCS); Tensile Strength (RT); and Resilient Modulus 
(MR). RCS, RT and MR tests were performed on soil lime specimens after 3, 7 and 28 days of curing, to evaluate 
time influence. Laboratory results showed that 3% of hydrated lime is enough to considerably improve 
resistance and stiffness properties of the studied soil. Mixtures stabilized with 5% and 7% of hydrated lime also 
had an improved performance, but their behavior was asymptotic, when compared with mixtures stabilized with 
3% of hydrated lime. The Resilient Modulus of soil lime mixtures obtained in laboratory was used to evaluate 
hypothetical pavement structures with lime stabilized subgrade. The results showed that soil lime stabilization is 
a good alternative to improve the structural performance of problematic subgrades, avoiding the material 
substitution. 
Key-words: Soil Lime Stabilization, Resilient Modulus, Structural Evaluation 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Os novos projetos estruturais de pavimentos têm o desafio de aproveitar materiais localizados 
ao longo do traçado geométrico, para atender às novas tendências de reduzir a exploração de 
recursos naturais. Contudo, muitas vezes os materiais disponíveis nos locais de trabalho não 
atendem às exigências mínimas para resistir às solicitações impostas pelo tráfego veicular. 
 
A estabilização com cal hidratada é uma alternativa muito utilizada para melhorar e estabilizar 
solos problemáticos, isto é, com baixa capacidade de suporte e elevada expansão, e assim 
 
reduzir ou até evitar a substituição do material local por outros considerados nobres, como o 
macadame seco. 
 
O objetivo deste estudo foi avaliar a estabilização de um solo problemático com diferentes 
teores de cal hidratada. Para isso, foi executado um programa laboratorial para avaliar 
diversas propriedades de interesse à engenharia rodoviária. Foram utilizados os ensaios 
tradicionais de limite de consistência, granulometria e CBR. Para melhor avaliar o efeito 
estabilizante da cal hidratada, empregaram-se os ensaios mecânicos de compressão simples 
estática, compressão diametral estática e compressão triaxial cíclica, para diversos tempos de 
cura. Os resultados de módulo de resiliência foram utilizados para realizar uma análise de 
tensões na estrutura de um pavimento hipotético com e sem subleito melhorado com cal. 
 
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 
2.1. Principais mudanças dos solos estabilizados com cal 
O Índice de Plasticidade (IP) é o parâmetro mais comumente utilizado para avaliar as 
mudanças na consistência dos solos devido aos efeitos estabilizantes da adição de cal. Esse 
aditivo promove uma reorganização e disposição aleatória dos grãos, mudando a textura dos 
solos devido à aglutinação das partículas; como resultado o solo torna-se um material friável e 
granular. Diversos autores (THOMPSON, 1969; LIMA 1981; LITTLE, 1999) afirmam que 
esse processo reduz o IP dos solos, melhorando a trabalhabilidade do material na construção 
da camada do pavimento e facilitando sua compactação. 
 
As características de compactação dos solos também sofrem alteração devido à estabilização 
com cal. Segundo o TRB (1987), os solos modificados com cal apresentam menor massa 
específica seca máxima (MESmax) que o solo sem cal, para a mesma energia de compactação. 
Em relação à umidade ótima de compactação (Wot), a incorporação de cal incrementa a 
demanda de água e, quanto maior a porcentagem do aditivo, maior é a umidade ótima da 
mistura. 
 
2.2. Principais ensaios utilizados para avaliação de misturas de solo cal 
O ensaio de CBR tem sido bastante utilizado no meio rodoviário devido à sua extensa difusão. 
Apesar de não ser recomendado para materiais tratados com cal (TRB, 1987), esse ensaio 
permite obter alguma noção do incremento da capacidade de suporte. Vale ressaltar que os 
valores de CBR de misturas de solo cal não são recomendados para dimensionamento de 
estruturas de pavimento; a NAASRA (2008), por exemplo, limita o valor de CBR em 15%, 
para considerar sua contribuição em projetos de pavimentos. 
 
Usualmente, a compressão simples estática de corpos de prova cilíndricos é o ensaio mais 
utilizado para avaliar misturas de solo cal, no qual é obtido o parâmetro de Resistência à 
Compressão Simples (RCS). A adição de cal a solos reativos produz um aumento da RCS e 
esse incremento é maior para longos períodos de cura. Segundo Little (1999), para que um 
solo seja considerado reativo à cal, deve apresentar aos 28 dias de cura uma RCS mínima de 
700 kPa ou um ganho mínimo de resistência de 350 kPa, quando comparado com o solo sem 
cal. 
 
Outro ensaio empregado para estudar as misturas de solo cal é a compressão diametral 
estática de corpos de prova cilíndricos, para obter o parâmetro de resistência à tração (RT). 
Segundo a National Lime Association (2004) esse parâmetro é o mais adequado para 
determinar as tensões de tração. Da mesma forma que acontece com o parâmetro RCS, a 
adição de cal hidratada a solos reativos produz um incremento da RT. 
 
 
Segundo a AASHTO (2002), o Módulo de Resiliência (MR) deve ser considerado como uma 
propriedade fundamental no processo de dimensionamento de pavimentos. Assim, o ensaio 
triaxial cíclico, utilizado para obter esse parâmetro, é cada vez mais utilizado para avaliar as 
misturas de solo cal. 
 
De modo geral, o aumento de resistência do solo cal acontece em concomitância com o 
enrijecimentoda mistura, mudando sua relação tensão deformação. Little (1999) afirma que 
essas misturas apresentam uma rigidez até 25 vezes maior que a dos solos sem cal, além de 
maior resistência à tensão desviatória e à deformação permanente. 
 
2.3. Contribuição da mistura de solo cal na estrutura do pavimento 
De acordo com o Guia da AASHTO (2002) os valores de MR obtido aos 28 dias de cura 
podem ser utilizados para o dimensionamento de camadas estabilizadas com agentes 
cimentantes. Segundo Little (1999), Mallella et al. (2004), Yusuf et al. (2001) e Solanki et al. 
(2010) os subleitos estabilizados com cal poderiam ser considerados como camadas 
estruturais contribuintes nos projetos de dimensionamento de pavimentos. 
 
Nesse sentido, diversas agências rodoviárias passaram a incluir os subleitos melhorados com 
cal nos cálculos de dimensionamento, sendo o Módulo de Resiliência (MR) o parâmetro mais 
utilizado nesses cálculos, como mostra a Tabela 1. Vale notar que, essas agências rodoviárias 
exigem a execução do ensaio de compressão triaxial cíclica para determinar o valor de MR de 
projeto, e fornecem esses valores apenas como referência. Com relação ao Módulo de Poisson 
(), as agências da Tabela 1 recomendam valores que oscilam de 0,15 até 0,35. 
 
No Guia MEPDG (Mechanistic Empirical Pavement Design Guide), as camadas de solos 
estabilizados com cal são consideradas como materiais insensíveis à mudança de umidade, 
portanto, assume-se que o MR deles é constante ao longo do tempo (MALLELLA et al. 
2004). 
 
Tabela 1: Valores de MR recomendados por agências rodoviárias internacionais 
Agência Rodoviária 
MR 
recomendado 
(MPa) 
Referência Bibliográfica 
AASHTO 103-206 AASHTO (2002) 
Texas DOT 207-310 Texas DOT (2005) 
Florida DOT < 85 Florida DOT (2008) 
AUSTROADS < 150 Jameson (2013) 
Método de Dimensionamento Inglês < 100 Highways Agency (2006) 
Método de Dimensionamento Francês < 120 LCPC (1997) 
 
3. MATERIAIS E MÉTODOS 
O solo utilizado nesta pesquisa foi inicialmente caracterizado, através de ensaios de Limites 
de Consistência e Granulometria por Sedimentação, como um A-6 (9), de acordo com a 
AASHTO M 145. A Figura 1 apresenta a curva granulométrica do solo estudado. 
 
 
Figura 1: Curva granulométrica do solo estudado 
 
A cal utilizada foi hidratada do tipo CH-1 e foi adicionada ao solo em teores de 3%, 5% e 7%. 
Esses teores foram fixados para avaliar o teor ótimo do aditivo em função dos parâmetros 
avaliados no estudo. Nas misturas de solo cal foram executados os seguintes ensaios: 
 limites de consistência (DNER ME 82/94 e DNER ME 122/94); 
 granulometria (DNER ME 51/94); 
 compactação na energia intermediária (DNER ME 129/94); 
 índice de suporte Califórnia, ISC ou CBR (DNER ME 254/94); 
 compressão simples estática (DNER-ME 180/94); 
 compressão diametral estática (DNER-ME 181/94); 
 compressão triaxial cíclica (DNIT 134/2010). 
 
Os ensaios de compressão simples estática, compressão diametral estática e compressão 
triaxial cíclica foram executados em corpos de prova conservados em câmera úmida, na 
temperatura de 25
o
C, durante 3, 7 e 28 dias, para avaliar o efeito do tempo de cura nos 
parâmetros fornecidos por esses ensaios. 
 
Com os resultados do ensaio de compressão triaxial cíclica foi possível estimar o módulo de 
resiliência através do modelo recomendado pela NCHRP 1-28 (1997), conhecido no Brasil 
como Modelo Composto (Equação 1). 
 
 
 
 
 Equação 1 
 
Onde: MR = Módulo de Resiliência (MPa); 
 d = tensão desvio (kPa); 
 3 = tensão confinante (kPa); 
 k1; k2; k3 = coeficientes de calibração. 
 
 
4. RESULTADOS 
4.1. Análise dos Resultados 
A Figura 2 apresenta os resultados de limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e 
índice de plasticidade (IP) das misturas de solo cal. Nota-se que a adição de cal hidratada 
0 
10 
20 
30 
40 
50 
60 
70 
80 
90 
100 
0,001 0,01 0,1 1 10 
P
o
rc
en
ta
g
em
 q
u
e 
p
a
ss
a
 
Diâmetro dos grãos (mm) 
 
produziu pequenos ganhos nos valores de LL, LP e IP. Essa tendência não era esperada, uma 
vez que a bibliografia relata diminuição dos índices de consistência em função do incremento 
do teor de cal hidratada. 
 
Na Figura 3 são apresentados os resultados de compactação na energia intermediária das 
misturas solo cal. Nota-se que a massa específica seca máxima (Figura 3a) diminuiu conforme 
o teor de cal hidratada aumentou, já a umidade ótima foi maior nas misturas solo cal, quando 
comparadas com o solo sem cal, como é mostrado na Figura 3b. Esse comportamento é 
concordante com a bibliografia estudada. 
 
 
Figura 2: Limites de consistência das misturas solo cal 
 
 
Figura 3: Resultados da compactação na energia intermediária das misturas solo cal 
a) massa específica seca máxima; b) umidade ótima 
 
O solo estudado sem cal apresentou um valor de CBR de 4,7% e uma expansão de 4,6%, 
como é apresentado na Figura 4a e 4b, respectivamente. Ainda nessa figura nota-se que a 
adição de 3% de cal hidratada no solo aumentou consideravelmente o valor de CBR até 45% e 
reduziu a expansão até 0,4%. Contudo, valores superiores de cal hidratada (5% e 7%) não 
produziram ganhos significativos no valor de CBR nem redução expressiva da expansão. 
 
10 
15 
20 
25 
30 
35 
40 
45 
0 2 4 6 8 
U
m
id
a
d
e 
(%
) 
Teor de Cal (%) 
LL (%) 
LP(%) 
IP (%) 
1,700
1,750
1,800
0 2 4 6 8
M
a
ss
a
 E
sp
e
c
íf
ic
a
 S
e
c
a
 M
á
x
im
a
 (
g
/c
m
3
)
Teor de Cal (%)
(a)
12
13
14
15
16
17
18
19
0 2 4 6 8
U
m
id
a
d
e
 (
%
)
Teor de Cal (%)
(b)
 
 
Figura 4: Resultados do ensaio de: a) CBR; b) Expansão 
 
Os resultados de resistência à compressão simples (RCS) e de resistência à tração (RT) das 
misturas solo cal em função do teor de cal são apresentados nas Figuras 5a e 5b, 
respectivamente, e na Tabela 2. Vale notar que as normas DNER-ME 180/94 e DNER-ME 
181/94, de RCS e RT, respectivamente, indicam que os corpos de prova devem ser submersos 
durante 24 horas, previamente à execução do ensaio. Contudo, os corpos de prova avaliados 
nesta pesquisa não resistiram à imersão e se desintegraram após poucas horas. Assim, os 
resultados apresentados na Figura 5 e na Tabela 2, foram obtidos da ruptura dos CP sem 
imersão. Nota-se nessa figura que, o incremento do teor de cal hidratada de 3% a 5%, ou de 
3% a 7% não produziu ganhos notórios na RCS e na RT. 
 
Tabela 2: Resultados dos parâmetros RCS, RT e MR 
Teor de 
Cal (%) 
Cura 
(Dias) 
RCS 
(kPa) 
RT 
(kPa) 
Resultados do Ensaio de Compressão Triaxial Cíclica 
Modelo Composto 
MR de Ensaio 
(MPa) 
MR 
calculado 
(MPa) k1 k2 k3 R
2
 Máximo Mínimo 
0 
3 
343 49 62,43 0,31 -0,23 0,59 98 59 60 
3 540 58 90,00 0,33 -0,16 0,74 217 115 119 
5 605 55 114,01 0,31 -0,21 0,73 210 130 121 
7 726 61 162,99 0,27 -0,19 0,60 252 161 161 
3 
7 
560 55 109,37 0,30 -0,17 0,73 220 136 126 
5 615 48 116,78 0,23 -0,17 0,68 167 115 113 
7 710 63 83,35 0,25 -0,09 0,78 188 113 113 
3 
28 
640 59 130,65 0,26 -0,16 0,70 231 149 140 
5 689 63 159,14 0,26 -0,18 0,62 263 168 163 
7 735 72 126,82 0,31 -0,17 0,83 275 175 153 
 
Na Figuras 5a é observado que o tempo de cura não produziu ganhos muito importantes no 
parâmetro RCS. Apenas o solo com 7% de cal hidratada apresentou RCS superior a 700 kPa e 
ganho maior a 350 kPa, para todos os tempos de cura, que é o critério estabelecido por Little 
(1999) para considerar o solo reativo. 
 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
0 2 4 6 8
C
B
R
 (
%
)
Teor de Cal (%)
(a)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
0 2 4 6 8
E
x
p
a
n
sã
o
 (
%
)
Teor de Cal (%)
(b)
 
 
Figura 5: Resultados de: a) resistência à compressão simples e; b) resistência à tração das 
misturas de solo cal 
 
Thompson (1966) afirma que a RT corresponde a aproximadamente 13% da RCS, enquanto 
que oTRB (1987) recomenda estimar a RT como 25% da RCS para misturas de solo cal. Na 
Figura 5 e na Tabela 2 é notado que os valores de RT obtidos neste estudo correspondem a 
aproximadamente 10% da RCS, confirmando a correlação estabelecida por Thompson (1966). 
 
Na Tabela 2 são apresentados os resultados do ensaio de compressão triaxial cíclica, realizado 
nas misturas de solo cal aos 3, 7 e 28 dias de cura, para determinação do módulo de resiliência 
(MR). Nessa tabela são apresentados os coeficientes de calibração k1, k2 e k3 utilizados no 
modelo composto (Equação 1) para estimar o valor de MR. 
 
A norma DNIT 134/2010 estabelece o emprego de 18 pares de tensão no ensaio triaxial de 
compressão cíclica. Durante a execução do ensaio foram registrados o maior valor de MR, 
assim como o menor valor de MR. Esses valores são apresentados na Tabela 2 e na Figura 6. 
Nota-se que aos 28 dias de cura foram obtidos os maiores valores de MR, oscilando de 150 
MPa até 250 MPa. 
 
Segundo Little (2000) e Solanki et al. (2010), as tensões desenvolvidas em subleitos de 
rodovias são próximas a d=41,34 kPa e 3=13,78 kPa. Assim, esses valores foram utilizados 
no modelo composto (Equação 1) para estimar os valores numéricos de MR das misturas solo 
cal. Os resultados de MR assim calculado são apresentados na Tabela 2 e para melhor 
visualização na Figura 7. 
 
O solo sem cal apresentou um MR calculado de 60 MPa (Tabela 2) e a adição de cal hidratada 
aumentou o módulo até valores superiores aos 100 MPa. Contudo, nota-se na Figura 7 que o 
tempo de cura não produziu ganhos muito grandes no MR. Segundo Little (1999) as reações 
pozolânicas nas misturas de solo cal acontecem após longos períodos de cura e continuam se 
processando inclusive após anos. Portanto, seriam necessários tempos de cura maiores para 
melhor avaliar o enrijecimento de solos estabilizados com cal. 
 
0
100
200
300
400
500
600
700
800
3 5 7
R
C
S
 (
k
P
a
)
Teor de Cal (%)
(a)
3 Dias 7 Dias 28 Dias
0
10
20
30
40
50
60
70
80
3 5 7
R
T
 (
k
P
a
)
Teor de Cal (%)
(b)
3 Dias 7 Dias 28 Dias
 
 
Figura 6: MR de ensaio das misturas solo cal em função do teor de cal hidratada 
 
 
Figura 7: MR das misturas solo cal calculadas com o modelo composto para 
d=41,34 kPa e 3=13,78 kPa 
 
4.2. Simulação de uma estrutura com subleito melhorado com cal 
Foram avaliadas duas estruturas de pavimentos (Figura 8) para verificar a contribuição da 
introdução do subleito melhorado com cal. Na estrutura “A” foi considerado um revestimento 
de CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), uma base graduada simples (BGS) e um 
subleito constituído pelo solo utilizado neste estudo, com MR=60 MPa. Já na estrutura “B”, o 
revestimento e a base foram similares às usadas na estrutura “A” e foi introduzida uma 
camada de subleito melhorado com cal com MR=120 MPa, correspondente à mistura com 3% 
do aditivo. 
 
O carregamento utilizado na simulação foram duas rodas de 20 kN distanciadas 300 mm e 
com pressão dos pneus de 560 kPa. O software mePADS (Mechanistic-Empirical Pavement 
Design and Analisys Software, 2012) foi utilizado para avaliar as tensões nos pavimentos. 
Esse software realiza análise de camadas múltiplas lineares e é utilizado no dimensionamento 
de pavimentos na República da África do Sul. 
 
0 
50 
100 
150 
200 
250 
300 
350 
400 
0 2 4 6 8 
M
R
 (
M
P
a
) 
Teor de Cal (%) 
 3 Dias (Menor) 3 Dias (Maior) 
 7 Dias (Menor) 7 Dias (Maior) 
28 Dias (Menor) 28 Dias (Maior) 
0 
20 
40 
60 
80 
100 
120 
140 
160 
180 
200 
3 5 7 
M
R
 (
M
P
a
) 
Teor de Cal (%) 
 3 Dias 
 7 Dias 
28 Dias 
 
Os parâmetros avaliados na estrutura do pavimento foram a tensão de tração na fibra inferior 
do revestimento (t) e a tensão de compressão no topo do subleito (c). Já que a profundidade 
do topo do subleito foi diferente na estrutura “A” e “B”, fixaram-se as profundidades de z=35 
cm (topo do subleito da estrutura “A”) e z=65 cm (topo do subleito da estrutura “B”), para 
avaliar a tensão de compressão. 
 
 
Figura 8: Estruturas de pavimento hipotéticas avaliadas no mePADS 
 
Nota-se na Tabela 3, que a incorporação do subleito melhorado com cal na estrutura do 
pavimento reduziu a tensão de tração do revestimento (t). Nessa tabela também é 
apresentada a estimativa de vida de fadiga do revestimento (Nf), determinada pelo software 
mePADS. Verifica-se que o revestimento da estrutura “B”, com subleito melhorado com cal, 
tem uma vida de fadiga superior à estrutura “A”. 
 
Tabela 3: Avaliação de tensões nas estruturas de pavimentos 
Parâmetro 
Estrutura de 
Pavimento 
A B 
t (z= 5cm) 
(kPa) 
1292,3 1274,5 
c (z=35cm) 
(kPa) 
41,87 51,65 
c (z=65cm) 
(kPa) 
21,56 19,75 
Nf 
(ciclos) 
2,805x10
5
 2,970x10
5
 
 
Com relação às tensões de compressão, ainda na Tabela 3 observa-se que na profundidade de 
35 cm, que corresponde ao topo do subleito da estrutura “A”,a c foi maior na estrutura “B”. 
Contudo, na profundidade de 65 cm esse comportamento foi invertido e a tensão de 
compressão foi menor na estrutura “B”, o que indica uma melhor distribuição das tensões no 
subleito melhorado com cal. 
 
5. CONCLUSÕES 
Este estudo avaliou a estabilização de um solo expansivo e baixa capacidade de suporte com 
cal hidratada. Os resultados do programa laboratorial realizado em misturas desse solo com 
 
cal hidratada mostraram que: 
 os limites de consistência (LL, LP e IP) aumentaram levemente quando foi adicionado 
3%, 5% e 7% de cal hidratada; 
 a massa específica seca máxima diminui e umidade ótima aumentou, conforme foi 
incrementado o teor de cal hidratada no solo; 
 a adição de 3% de cal hidratada no solo é suficiente para aumentar consideravelmente 
o valor de CBR e reduzir a expansão; 
 a adição de 3% de cal hidratada produziu os maiores ganhos de RCS e RT, enquanto 
que teores maiores de cal não representaram ganhos importantes de resistência. Os 
maiores valores de RCS e RT foram obtidos aos 28 dias de cura, o que demonstra a 
importância do tempo de cura nas misturas de solo cal. 
 a incorporação de 3% de cal hidratada no solo incrementou 100% o valor de módulo 
de resiliência, quando comparado com o MR do solo sem adição de cal. 
 
A análise das estruturas de pavimentos mostrou que o emprego de subleitos melhorados com 
cal poderia estender a vida útil do revestimento asfáltico. Também se verificou que esse 
material é superior em termos de distribuição de tensões decorrentes do tráfego veicular. Vale 
notar que, para que o subleito melhorado com cal seja considerado como uma camada 
estrutural, deve se garantir que a resistência e rigidez sejam conservadas ao longo do tempo. 
 
AGRADECIMENTOS 
Os autores agradecem a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pelos Recursos de 
Desenvolvimento Tecnológico (RDT) disponibilizados para realização deste estudo. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
American Association of State Highway and Transportation Officials (2002). AASHTO Guide for Mechanistic-
Empirical Design of new and rehabilitated pavement structures. Disponível em: http://onlinepubs.trb.org. 
Acessado em: 28 de Julho de 2012. 
Florida Department of Transportation. (2008). Flexible pavement design manual, Florida DoT. Tallahassee, 
Florida, Estados Unidos da América. 
Highways Agency. (2009). Design guidance for road pavement foundations. Draft HD25. Interim advice note 
73/06 revision 1. The Highways Agency. Londres, Reino Unido. 
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1
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2
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3
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4
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