Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AVALIAÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO ESTRUTURAL DE SUBLEITOS MELHORADOS COM CAL Luis Miguel Gutiérrez Klinsky Valéria Cristina De Faria Sandra Aparecida Margarido Bertollo Antônio Donizete Leal Centro de Pesquisas Rodoviárias Grupo CCR RESUMO A cal é um dos aditivos mais utilizados no setor rodoviário para estabilização de solos problemáticos. Esse aditivo é utilizado principalmente para: secar e melhorar a trabalhabilidade dos solos, reduzir a expansão e a plasticidade, e também para incrementar a capacidade de suporte de solos. O objetivo deste estudo foi avaliar a adição de 3%, 5% e 7% de cal hidratada a um solo expansivo e de baixa capacidade de suporte e determinar a contribuição estrutural do solo cal no pavimento. As misturas de solo cal foram testadas em laboratório por meio dos ensaios de Limite de Consistência, Compactação Proctor na energia intermediária, Índice de Suporte Califórnia (ICS ou CBR), Resistência à Compressão Simples (RCS), Resistência à Tração (RT) e Módulo de Resiliência (MR). Os ensaios de RCS, RT e MR foram realizados em corpos de prova de solo cal aos 3, 7 e 28 dias, com o propósito de avaliar a influência do tempo de cura. Os resultados obtidos nos ensaios laboratoriais mostraram que a adição de 3% de cal hidratada no solo é suficiente para melhorar suas propriedades de resistência e rigidez; a adição de teores superiores produziu ganhos pouco significativos nas propriedades avaliadas. Com os resultados de Módulo de Resiliência foi realizada uma avaliação estrutural de estruturas hipotéticas de pavimentos, para avaliar a contribuição estrutural do subleito melhorado com cal. Os resultados dessa análise indicam que a estabilização do solo com cal hidratada possibilitaria a utilização de subleitos problemáticos, evitando a substituição do material. Palavras-chave: Solo cal; Módulo de Resiliência, Avaliação Estrutural ABSTRACT Lime is one of the most used additives in road construction to stabilize problematic soils. This additive is used mainly to: dry and improve soil workability, to reduce swell and plasticity, and also to improve soil bearing capacity. The purpose of this study was to assess de addition of 3%, 5% and 7% of hydrated lime to a highly expansive soil with low bearing capacity and also was determined its structural contribution as pavements layer. The soil lime mixtures were tested in laboratory using Atterberg Limits, Proctor Compaction, California Bearing Ratio (CBR), Unconfined Compressive Strength (RCS); Tensile Strength (RT); and Resilient Modulus (MR). RCS, RT and MR tests were performed on soil lime specimens after 3, 7 and 28 days of curing, to evaluate time influence. Laboratory results showed that 3% of hydrated lime is enough to considerably improve resistance and stiffness properties of the studied soil. Mixtures stabilized with 5% and 7% of hydrated lime also had an improved performance, but their behavior was asymptotic, when compared with mixtures stabilized with 3% of hydrated lime. The Resilient Modulus of soil lime mixtures obtained in laboratory was used to evaluate hypothetical pavement structures with lime stabilized subgrade. The results showed that soil lime stabilization is a good alternative to improve the structural performance of problematic subgrades, avoiding the material substitution. Key-words: Soil Lime Stabilization, Resilient Modulus, Structural Evaluation 1. INTRODUÇÃO Os novos projetos estruturais de pavimentos têm o desafio de aproveitar materiais localizados ao longo do traçado geométrico, para atender às novas tendências de reduzir a exploração de recursos naturais. Contudo, muitas vezes os materiais disponíveis nos locais de trabalho não atendem às exigências mínimas para resistir às solicitações impostas pelo tráfego veicular. A estabilização com cal hidratada é uma alternativa muito utilizada para melhorar e estabilizar solos problemáticos, isto é, com baixa capacidade de suporte e elevada expansão, e assim reduzir ou até evitar a substituição do material local por outros considerados nobres, como o macadame seco. O objetivo deste estudo foi avaliar a estabilização de um solo problemático com diferentes teores de cal hidratada. Para isso, foi executado um programa laboratorial para avaliar diversas propriedades de interesse à engenharia rodoviária. Foram utilizados os ensaios tradicionais de limite de consistência, granulometria e CBR. Para melhor avaliar o efeito estabilizante da cal hidratada, empregaram-se os ensaios mecânicos de compressão simples estática, compressão diametral estática e compressão triaxial cíclica, para diversos tempos de cura. Os resultados de módulo de resiliência foram utilizados para realizar uma análise de tensões na estrutura de um pavimento hipotético com e sem subleito melhorado com cal. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Principais mudanças dos solos estabilizados com cal O Índice de Plasticidade (IP) é o parâmetro mais comumente utilizado para avaliar as mudanças na consistência dos solos devido aos efeitos estabilizantes da adição de cal. Esse aditivo promove uma reorganização e disposição aleatória dos grãos, mudando a textura dos solos devido à aglutinação das partículas; como resultado o solo torna-se um material friável e granular. Diversos autores (THOMPSON, 1969; LIMA 1981; LITTLE, 1999) afirmam que esse processo reduz o IP dos solos, melhorando a trabalhabilidade do material na construção da camada do pavimento e facilitando sua compactação. As características de compactação dos solos também sofrem alteração devido à estabilização com cal. Segundo o TRB (1987), os solos modificados com cal apresentam menor massa específica seca máxima (MESmax) que o solo sem cal, para a mesma energia de compactação. Em relação à umidade ótima de compactação (Wot), a incorporação de cal incrementa a demanda de água e, quanto maior a porcentagem do aditivo, maior é a umidade ótima da mistura. 2.2. Principais ensaios utilizados para avaliação de misturas de solo cal O ensaio de CBR tem sido bastante utilizado no meio rodoviário devido à sua extensa difusão. Apesar de não ser recomendado para materiais tratados com cal (TRB, 1987), esse ensaio permite obter alguma noção do incremento da capacidade de suporte. Vale ressaltar que os valores de CBR de misturas de solo cal não são recomendados para dimensionamento de estruturas de pavimento; a NAASRA (2008), por exemplo, limita o valor de CBR em 15%, para considerar sua contribuição em projetos de pavimentos. Usualmente, a compressão simples estática de corpos de prova cilíndricos é o ensaio mais utilizado para avaliar misturas de solo cal, no qual é obtido o parâmetro de Resistência à Compressão Simples (RCS). A adição de cal a solos reativos produz um aumento da RCS e esse incremento é maior para longos períodos de cura. Segundo Little (1999), para que um solo seja considerado reativo à cal, deve apresentar aos 28 dias de cura uma RCS mínima de 700 kPa ou um ganho mínimo de resistência de 350 kPa, quando comparado com o solo sem cal. Outro ensaio empregado para estudar as misturas de solo cal é a compressão diametral estática de corpos de prova cilíndricos, para obter o parâmetro de resistência à tração (RT). Segundo a National Lime Association (2004) esse parâmetro é o mais adequado para determinar as tensões de tração. Da mesma forma que acontece com o parâmetro RCS, a adição de cal hidratada a solos reativos produz um incremento da RT. Segundo a AASHTO (2002), o Módulo de Resiliência (MR) deve ser considerado como uma propriedade fundamental no processo de dimensionamento de pavimentos. Assim, o ensaio triaxial cíclico, utilizado para obter esse parâmetro, é cada vez mais utilizado para avaliar as misturas de solo cal. De modo geral, o aumento de resistência do solo cal acontece em concomitância com o enrijecimentoda mistura, mudando sua relação tensão deformação. Little (1999) afirma que essas misturas apresentam uma rigidez até 25 vezes maior que a dos solos sem cal, além de maior resistência à tensão desviatória e à deformação permanente. 2.3. Contribuição da mistura de solo cal na estrutura do pavimento De acordo com o Guia da AASHTO (2002) os valores de MR obtido aos 28 dias de cura podem ser utilizados para o dimensionamento de camadas estabilizadas com agentes cimentantes. Segundo Little (1999), Mallella et al. (2004), Yusuf et al. (2001) e Solanki et al. (2010) os subleitos estabilizados com cal poderiam ser considerados como camadas estruturais contribuintes nos projetos de dimensionamento de pavimentos. Nesse sentido, diversas agências rodoviárias passaram a incluir os subleitos melhorados com cal nos cálculos de dimensionamento, sendo o Módulo de Resiliência (MR) o parâmetro mais utilizado nesses cálculos, como mostra a Tabela 1. Vale notar que, essas agências rodoviárias exigem a execução do ensaio de compressão triaxial cíclica para determinar o valor de MR de projeto, e fornecem esses valores apenas como referência. Com relação ao Módulo de Poisson (), as agências da Tabela 1 recomendam valores que oscilam de 0,15 até 0,35. No Guia MEPDG (Mechanistic Empirical Pavement Design Guide), as camadas de solos estabilizados com cal são consideradas como materiais insensíveis à mudança de umidade, portanto, assume-se que o MR deles é constante ao longo do tempo (MALLELLA et al. 2004). Tabela 1: Valores de MR recomendados por agências rodoviárias internacionais Agência Rodoviária MR recomendado (MPa) Referência Bibliográfica AASHTO 103-206 AASHTO (2002) Texas DOT 207-310 Texas DOT (2005) Florida DOT < 85 Florida DOT (2008) AUSTROADS < 150 Jameson (2013) Método de Dimensionamento Inglês < 100 Highways Agency (2006) Método de Dimensionamento Francês < 120 LCPC (1997) 3. MATERIAIS E MÉTODOS O solo utilizado nesta pesquisa foi inicialmente caracterizado, através de ensaios de Limites de Consistência e Granulometria por Sedimentação, como um A-6 (9), de acordo com a AASHTO M 145. A Figura 1 apresenta a curva granulométrica do solo estudado. Figura 1: Curva granulométrica do solo estudado A cal utilizada foi hidratada do tipo CH-1 e foi adicionada ao solo em teores de 3%, 5% e 7%. Esses teores foram fixados para avaliar o teor ótimo do aditivo em função dos parâmetros avaliados no estudo. Nas misturas de solo cal foram executados os seguintes ensaios: limites de consistência (DNER ME 82/94 e DNER ME 122/94); granulometria (DNER ME 51/94); compactação na energia intermediária (DNER ME 129/94); índice de suporte Califórnia, ISC ou CBR (DNER ME 254/94); compressão simples estática (DNER-ME 180/94); compressão diametral estática (DNER-ME 181/94); compressão triaxial cíclica (DNIT 134/2010). Os ensaios de compressão simples estática, compressão diametral estática e compressão triaxial cíclica foram executados em corpos de prova conservados em câmera úmida, na temperatura de 25 o C, durante 3, 7 e 28 dias, para avaliar o efeito do tempo de cura nos parâmetros fornecidos por esses ensaios. Com os resultados do ensaio de compressão triaxial cíclica foi possível estimar o módulo de resiliência através do modelo recomendado pela NCHRP 1-28 (1997), conhecido no Brasil como Modelo Composto (Equação 1). Equação 1 Onde: MR = Módulo de Resiliência (MPa); d = tensão desvio (kPa); 3 = tensão confinante (kPa); k1; k2; k3 = coeficientes de calibração. 4. RESULTADOS 4.1. Análise dos Resultados A Figura 2 apresenta os resultados de limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e índice de plasticidade (IP) das misturas de solo cal. Nota-se que a adição de cal hidratada 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0,001 0,01 0,1 1 10 P o rc en ta g em q u e p a ss a Diâmetro dos grãos (mm) produziu pequenos ganhos nos valores de LL, LP e IP. Essa tendência não era esperada, uma vez que a bibliografia relata diminuição dos índices de consistência em função do incremento do teor de cal hidratada. Na Figura 3 são apresentados os resultados de compactação na energia intermediária das misturas solo cal. Nota-se que a massa específica seca máxima (Figura 3a) diminuiu conforme o teor de cal hidratada aumentou, já a umidade ótima foi maior nas misturas solo cal, quando comparadas com o solo sem cal, como é mostrado na Figura 3b. Esse comportamento é concordante com a bibliografia estudada. Figura 2: Limites de consistência das misturas solo cal Figura 3: Resultados da compactação na energia intermediária das misturas solo cal a) massa específica seca máxima; b) umidade ótima O solo estudado sem cal apresentou um valor de CBR de 4,7% e uma expansão de 4,6%, como é apresentado na Figura 4a e 4b, respectivamente. Ainda nessa figura nota-se que a adição de 3% de cal hidratada no solo aumentou consideravelmente o valor de CBR até 45% e reduziu a expansão até 0,4%. Contudo, valores superiores de cal hidratada (5% e 7%) não produziram ganhos significativos no valor de CBR nem redução expressiva da expansão. 10 15 20 25 30 35 40 45 0 2 4 6 8 U m id a d e (% ) Teor de Cal (%) LL (%) LP(%) IP (%) 1,700 1,750 1,800 0 2 4 6 8 M a ss a E sp e c íf ic a S e c a M á x im a ( g /c m 3 ) Teor de Cal (%) (a) 12 13 14 15 16 17 18 19 0 2 4 6 8 U m id a d e ( % ) Teor de Cal (%) (b) Figura 4: Resultados do ensaio de: a) CBR; b) Expansão Os resultados de resistência à compressão simples (RCS) e de resistência à tração (RT) das misturas solo cal em função do teor de cal são apresentados nas Figuras 5a e 5b, respectivamente, e na Tabela 2. Vale notar que as normas DNER-ME 180/94 e DNER-ME 181/94, de RCS e RT, respectivamente, indicam que os corpos de prova devem ser submersos durante 24 horas, previamente à execução do ensaio. Contudo, os corpos de prova avaliados nesta pesquisa não resistiram à imersão e se desintegraram após poucas horas. Assim, os resultados apresentados na Figura 5 e na Tabela 2, foram obtidos da ruptura dos CP sem imersão. Nota-se nessa figura que, o incremento do teor de cal hidratada de 3% a 5%, ou de 3% a 7% não produziu ganhos notórios na RCS e na RT. Tabela 2: Resultados dos parâmetros RCS, RT e MR Teor de Cal (%) Cura (Dias) RCS (kPa) RT (kPa) Resultados do Ensaio de Compressão Triaxial Cíclica Modelo Composto MR de Ensaio (MPa) MR calculado (MPa) k1 k2 k3 R 2 Máximo Mínimo 0 3 343 49 62,43 0,31 -0,23 0,59 98 59 60 3 540 58 90,00 0,33 -0,16 0,74 217 115 119 5 605 55 114,01 0,31 -0,21 0,73 210 130 121 7 726 61 162,99 0,27 -0,19 0,60 252 161 161 3 7 560 55 109,37 0,30 -0,17 0,73 220 136 126 5 615 48 116,78 0,23 -0,17 0,68 167 115 113 7 710 63 83,35 0,25 -0,09 0,78 188 113 113 3 28 640 59 130,65 0,26 -0,16 0,70 231 149 140 5 689 63 159,14 0,26 -0,18 0,62 263 168 163 7 735 72 126,82 0,31 -0,17 0,83 275 175 153 Na Figuras 5a é observado que o tempo de cura não produziu ganhos muito importantes no parâmetro RCS. Apenas o solo com 7% de cal hidratada apresentou RCS superior a 700 kPa e ganho maior a 350 kPa, para todos os tempos de cura, que é o critério estabelecido por Little (1999) para considerar o solo reativo. 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0 2 4 6 8 C B R ( % ) Teor de Cal (%) (a) 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 0 2 4 6 8 E x p a n sã o ( % ) Teor de Cal (%) (b) Figura 5: Resultados de: a) resistência à compressão simples e; b) resistência à tração das misturas de solo cal Thompson (1966) afirma que a RT corresponde a aproximadamente 13% da RCS, enquanto que oTRB (1987) recomenda estimar a RT como 25% da RCS para misturas de solo cal. Na Figura 5 e na Tabela 2 é notado que os valores de RT obtidos neste estudo correspondem a aproximadamente 10% da RCS, confirmando a correlação estabelecida por Thompson (1966). Na Tabela 2 são apresentados os resultados do ensaio de compressão triaxial cíclica, realizado nas misturas de solo cal aos 3, 7 e 28 dias de cura, para determinação do módulo de resiliência (MR). Nessa tabela são apresentados os coeficientes de calibração k1, k2 e k3 utilizados no modelo composto (Equação 1) para estimar o valor de MR. A norma DNIT 134/2010 estabelece o emprego de 18 pares de tensão no ensaio triaxial de compressão cíclica. Durante a execução do ensaio foram registrados o maior valor de MR, assim como o menor valor de MR. Esses valores são apresentados na Tabela 2 e na Figura 6. Nota-se que aos 28 dias de cura foram obtidos os maiores valores de MR, oscilando de 150 MPa até 250 MPa. Segundo Little (2000) e Solanki et al. (2010), as tensões desenvolvidas em subleitos de rodovias são próximas a d=41,34 kPa e 3=13,78 kPa. Assim, esses valores foram utilizados no modelo composto (Equação 1) para estimar os valores numéricos de MR das misturas solo cal. Os resultados de MR assim calculado são apresentados na Tabela 2 e para melhor visualização na Figura 7. O solo sem cal apresentou um MR calculado de 60 MPa (Tabela 2) e a adição de cal hidratada aumentou o módulo até valores superiores aos 100 MPa. Contudo, nota-se na Figura 7 que o tempo de cura não produziu ganhos muito grandes no MR. Segundo Little (1999) as reações pozolânicas nas misturas de solo cal acontecem após longos períodos de cura e continuam se processando inclusive após anos. Portanto, seriam necessários tempos de cura maiores para melhor avaliar o enrijecimento de solos estabilizados com cal. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 3 5 7 R C S ( k P a ) Teor de Cal (%) (a) 3 Dias 7 Dias 28 Dias 0 10 20 30 40 50 60 70 80 3 5 7 R T ( k P a ) Teor de Cal (%) (b) 3 Dias 7 Dias 28 Dias Figura 6: MR de ensaio das misturas solo cal em função do teor de cal hidratada Figura 7: MR das misturas solo cal calculadas com o modelo composto para d=41,34 kPa e 3=13,78 kPa 4.2. Simulação de uma estrutura com subleito melhorado com cal Foram avaliadas duas estruturas de pavimentos (Figura 8) para verificar a contribuição da introdução do subleito melhorado com cal. Na estrutura “A” foi considerado um revestimento de CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente), uma base graduada simples (BGS) e um subleito constituído pelo solo utilizado neste estudo, com MR=60 MPa. Já na estrutura “B”, o revestimento e a base foram similares às usadas na estrutura “A” e foi introduzida uma camada de subleito melhorado com cal com MR=120 MPa, correspondente à mistura com 3% do aditivo. O carregamento utilizado na simulação foram duas rodas de 20 kN distanciadas 300 mm e com pressão dos pneus de 560 kPa. O software mePADS (Mechanistic-Empirical Pavement Design and Analisys Software, 2012) foi utilizado para avaliar as tensões nos pavimentos. Esse software realiza análise de camadas múltiplas lineares e é utilizado no dimensionamento de pavimentos na República da África do Sul. 0 50 100 150 200 250 300 350 400 0 2 4 6 8 M R ( M P a ) Teor de Cal (%) 3 Dias (Menor) 3 Dias (Maior) 7 Dias (Menor) 7 Dias (Maior) 28 Dias (Menor) 28 Dias (Maior) 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 3 5 7 M R ( M P a ) Teor de Cal (%) 3 Dias 7 Dias 28 Dias Os parâmetros avaliados na estrutura do pavimento foram a tensão de tração na fibra inferior do revestimento (t) e a tensão de compressão no topo do subleito (c). Já que a profundidade do topo do subleito foi diferente na estrutura “A” e “B”, fixaram-se as profundidades de z=35 cm (topo do subleito da estrutura “A”) e z=65 cm (topo do subleito da estrutura “B”), para avaliar a tensão de compressão. Figura 8: Estruturas de pavimento hipotéticas avaliadas no mePADS Nota-se na Tabela 3, que a incorporação do subleito melhorado com cal na estrutura do pavimento reduziu a tensão de tração do revestimento (t). Nessa tabela também é apresentada a estimativa de vida de fadiga do revestimento (Nf), determinada pelo software mePADS. Verifica-se que o revestimento da estrutura “B”, com subleito melhorado com cal, tem uma vida de fadiga superior à estrutura “A”. Tabela 3: Avaliação de tensões nas estruturas de pavimentos Parâmetro Estrutura de Pavimento A B t (z= 5cm) (kPa) 1292,3 1274,5 c (z=35cm) (kPa) 41,87 51,65 c (z=65cm) (kPa) 21,56 19,75 Nf (ciclos) 2,805x10 5 2,970x10 5 Com relação às tensões de compressão, ainda na Tabela 3 observa-se que na profundidade de 35 cm, que corresponde ao topo do subleito da estrutura “A”,a c foi maior na estrutura “B”. Contudo, na profundidade de 65 cm esse comportamento foi invertido e a tensão de compressão foi menor na estrutura “B”, o que indica uma melhor distribuição das tensões no subleito melhorado com cal. 5. CONCLUSÕES Este estudo avaliou a estabilização de um solo expansivo e baixa capacidade de suporte com cal hidratada. Os resultados do programa laboratorial realizado em misturas desse solo com cal hidratada mostraram que: os limites de consistência (LL, LP e IP) aumentaram levemente quando foi adicionado 3%, 5% e 7% de cal hidratada; a massa específica seca máxima diminui e umidade ótima aumentou, conforme foi incrementado o teor de cal hidratada no solo; a adição de 3% de cal hidratada no solo é suficiente para aumentar consideravelmente o valor de CBR e reduzir a expansão; a adição de 3% de cal hidratada produziu os maiores ganhos de RCS e RT, enquanto que teores maiores de cal não representaram ganhos importantes de resistência. Os maiores valores de RCS e RT foram obtidos aos 28 dias de cura, o que demonstra a importância do tempo de cura nas misturas de solo cal. a incorporação de 3% de cal hidratada no solo incrementou 100% o valor de módulo de resiliência, quando comparado com o MR do solo sem adição de cal. A análise das estruturas de pavimentos mostrou que o emprego de subleitos melhorados com cal poderia estender a vida útil do revestimento asfáltico. Também se verificou que esse material é superior em termos de distribuição de tensões decorrentes do tráfego veicular. Vale notar que, para que o subleito melhorado com cal seja considerado como uma camada estrutural, deve se garantir que a resistência e rigidez sejam conservadas ao longo do tempo. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pelos Recursos de Desenvolvimento Tecnológico (RDT) disponibilizados para realização deste estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Association of State Highway and Transportation Officials (2002). AASHTO Guide for Mechanistic- Empirical Design of new and rehabilitated pavement structures. Disponível em: http://onlinepubs.trb.org. Acessado em: 28 de Julho de 2012. Florida Department of Transportation. (2008). Flexible pavement design manual, Florida DoT. Tallahassee, Florida, Estados Unidos da América. Highways Agency. (2009). Design guidance for road pavement foundations. Draft HD25. Interim advice note 73/06 revision 1. The Highways Agency. Londres, Reino Unido. Jameson, G. (2013). Proposed Procedures of the Design of Pavements on Selected Subgrade and Lime-stabilised Subgrade Materials. 49 pp. Publicado pelo AUSTROADS, Sidney, Australia. LCPC. (1997). French design for pavement structures, [tradução ao inglês]. Laboratoire Central des Ponts et Chausses. Paris, França. Lima, D.C. (1981). Algumas considerações relativas a aspectos da estabilização dos solos,em particular à estabilização solo-cal. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos, SP. Little, D. N. (1999). Evaluation of Structural Properties of Lime Stabilized Soils and Aggregates, Volume 1: Summary of Findings. Report prepared for National Lime Association, Arlington, VA, Estados Unidos da América. Little, D. N. (2000). Evaluation of Structural Properties of Lime Stabilized Soils and Aggregates, Volume 3: Mixture Design and Testing Protocol For Lime Stabilized Soils. Report prepared for National Lime Association, Arlington, VA, Estados Unidos da América. Mallella, J., Quintus, H.V.P.E., Smith, K. L. (2004). Consideration of Lime-Stabilized Layers in Mechanistic- Empirical Pavement Design. Documento submetido à National Lime Association. 38 pp. Champaing, Illinois, Estados Unidos de América. MePADS. (2012). Disponível em: http://asphalt.csir.co.za/samdm. Acesso em: 21 de Novembro de 2012. National Lime Association. (2004). NLA: Lime-treated soil, construction manual. Lime stabilization and lime modification. Estados Unidos da América. Disponível em: www.lime.org. Acessado em: 13/02/2009. National Association of Australian State Road Authorities. (2008). NAASRA: Technical Basis of Austroads Guide to Pavement Technology, Part 2: Pavement Structural Design. Austroroads Technical Report. Sidney – Austrália. http://onlinepubs.trb.org/ http://www.lime.org/ National Cooperative Highway Research Program. (1997). NCHRP: Laboratory determination of resilient modulus for flexible pavement design. NCHRP Web Document 14 for Project 1-28. Transportation Research Board, Washington, D.C., Estados Unidos da América. Solanki, P.; Zaman, M. M.; Dean, J. (2010) Resilient Modulus of Clay Subgrades Stabilized with Lime, Class C Fly Ash and Cement Kiln Dust for Pavement Design. Em: Transportation Research Record: Journal of the Transportation Research Board, No. 2186. Washington, D.C., Estados Unidos da América. Texas Department of Transportation. (2005). Guidelines for modification and stabilization of soils and base for use in pavement structures. Tx DoT 09/205, Texas DoT. Austin, Texas, Estados Unidos da América. Thompson, M.R. (1969). Engineering Properties of Lime-Soil Mixtures. Em: Journal of Materials, ASTM, Vol.4. Transportation Research Board. (1987). TRB: State of the Art Report 5 – Lime Stabilization. Transportation Research Board. (www.trb.org ). Estados Unidos da América. Thompson, M. R. (1966). Lime-Reactivity of Illinois Soils. Journal of Soil Mechanics and Foundation Division. Em ASCE Journal, V. 92, SM5 September. Yusuf, F.A.M.S.; Little, N.D.; Sarkar, S.L. (2001). Evaluation of Structural Constribution of Lime Stabilization of Subgrade Soils in Mississippi. Transportation Research Record 1757. Washington D. C., Estados Unidos da América. Endereço dos Autores: 1 Centro de Pesquisas Rodoviárias, Grupo CCR, Rodovia Presidente Dutra (BR116/SP/RJ) km 184,3; Santa Isabel, SP. luis.gutierrez@grupoccr.com.br 2 Centro de Pesquisas Rodoviárias, Grupo CCR, Rodovia Presidente Dutra (BR116/SP/RJ) km 184,3; Santa Isabel, SP valeria.faria@grupoccr.com.br 3 ENGELOG, Grupo CCR, Rodovia Rua do Retiro, 2855, Jundiaí, SP. sandra.bertollo@grupoccr.com.br 4 Centro de Pesquisas Rodoviárias, Grupo CCR, Rodovia Presidente Dutra (BR116/SP/RJ) km 184,3; Santa Isabel, SP. mailto:luis.gutierrez@grupoccr.com.br mailto:valeria.faria@grupoccr.com.br mailto:sandra.bertollo@grupoccr.com.br
Compartilhar