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A Questão Agrária no Brasil

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História do Brasil Contemporâneo
Prof. Maurício Bertola
Aula 7: A QUESTÃO AGRÁRIA (1930-2013)
HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Aula 7: A QUESTÃO AGRÁRIA (1930-2013)
Conteúdo Programático desta aula:
	Travar contato com a questão agrária ao longo da história contemporânea do Brasil.
	 Conhecer as principais tentativas de realização da reforma agrária no Brasil
HISTÓRIA DO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Aula 7: A QUESTÃO AGRÁRIA (1930-2013)
INTRODUÇÃO:
 . A questão agrária no Brasil constitui-se num dos pontos mais importantes e polêmicos do desenvolvimento histórico de nossa sociedade.
 . Desde o século XVI, quando do início da colonização, o latifúndio escravista, cujo estatuto legal àquela época era o “Sistema de Sesmarias”, constituiu a base do exploração colonial e da posse e uso da terra nas colônias.
 
 
 
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 . Com a separação política de Portugal e a consolidação do Império Brasileiro, essa questão não foi abordada. Isso é óbvio, posto que, este Estado Imperial havia se estruturado para o favorecimento da Classe Senhorial Escravista, para a manutenção do latifúndio e da exploração escravista, monocultora e exportadora, como nos ensina Caio Prado Jr.
 . A partir de 1850, com a promulgação da Lei Eusébio de Queiróz, que extinguiu o tráfico de escravos africanos, essas classes dominantes trataram de garantir que os (futuros) imigrantes e os (futuros) libertos NÃO tivessem acesso à terra e com isso não ameaçassem o seu monopólio de poder.
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 . A Lei 601 de 1850, apresentou novos critérios com relação aos direitos e deveres dos proprietários de terra. Essa lei surgiu em um “momento oportuno”, quando o tráfico negreiro passou a ser proibido em terras brasileiras. A atividade, que representava uma grande fonte de riqueza, teria de ser substituída por uma economia onde o potencial produtivo agrícola deveria ser mais bem explorado. Ao mesmo tempo, ela também responde ao projeto de incentivo à imigração que deveria ser financiado com a dinamização da economia agrícola e regularizaria o acesso a terra frente aos novos campesinos assalariados.
Dessa maneira, ex-escravos e estrangeiros teriam que enfrentar enormes restrições para possivelmente galgarem a condição de pequeno e médio proprietário. 
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CONTINUAÇÃO:
 
 . Com essa nova lei, nenhuma nova sesmaria poderia ser concedida a um proprietário de terras ou seria reconhecida a ocupação por meio da ocupação das terras. As chamadas “terras devolutas”, que não tinham dono e não estavam sobre os cuidados do Estado, poderiam ser obtidas somente por meio da compra junto ao governo. A partir de então, uma série de documentos forjados começaram a aparecer para garantir e ampliar a posse de terras daqueles que há muito já a possuíam. Aquele que se interessasse em, algum dia, desfrutar da condição de fazendeiro deveria dispor de grandes quantias para obter um terreno. Dessa maneira, a Lei de Terras transformou a terra em mercadoria no mesmo tempo em que garantiu a posse da mesma aos antigos latifundiários.
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CONTINUAÇÃO:
 . Com a proclamação da República, pouco foi alterado nesse aspecto, até porque, na “República Velha” o poder dos latifundiários, mormente sua fração mais importante e dinâmica – os “Barões do Café”, não apenas manteve, mas reforçou seu poder e exclusividade política com o “Coronelismo” . 
 . Até o Estado Novo, Vargas, então presidente provisório e depois constitucional, pouco se preocupou com a situação do trabalhador rural, obviamente por ele mesmo ser proprietário de terras no RS. Claro que não deixava de se preocupar com os investimentos no campo, já que a economia brasileira ainda se baseada na exportação de produtos agrícolas. Como se vê, campo havia ficado de fora da legislação trabalhista, por conta de pressões dos latifundiários.
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 . Getúlio Vargas e seu governo estava mais preocupado com a organização das grandes cidades do Sudeste, com o crescimento das favelas no Rio de Janeiro e dos bairros pobres (onde já moravam os imigrantes) em São Paulo, demonstra preocupação com os trabalhadores rurais em função do Êxodo do campo para a cidade.
 . Vale prestar atenção também à total ausência de referências à reforma agrária nas legislações. A lógica do governo era de favorecimento do “produtor” (do dono da terra) que, bem amparado, produziria mais e melhor. Fazia parte desta lógica de amparo aos donos de terras o favorecimento do trabalhador rural, pois se acreditava que um trabalhador satisfeito seria preferível a um que desejasse abandonar o campo para migrar para as cidades. 
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. A ideia dos Senhores de Terra, latifundiários e “coronéis”, contudo, era diferente. Acreditava-se que trabalhadores com acesso a direitos, educação e saúde seriam perigosos, porque mais ativos politicamente, e que contestariam seu poder, ou pior, tornar-se-íam comunistas!
. Quanto à doação de terras, por parte do governo, ela acontecia em áreas pouco povoadas, principalmente no que ficou conhecido como “Marcha para o Oeste”, cuja proposta era ocupar o Centro-Oeste brasileiro, até então pouco conhecido e povoado. Era o caso do vale do Amazonas, do Tocantins e do Araguaia e do sertão Nordestino (onde não houvesse ocupação prévia, claro). Tais terras eram destinadas tanto a trabalhadores da região, como a imigrantes sem emprego nas cidades.
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O PERÍODO DEMOCRÁTICO E A REFORMA AGRÁRIA:
 
 
 
. O Período Democrático, ou Republica Populista, de 1946 a 1964, já contava com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), assinada em 1943, ainda no Estado Novo. 
. No fim do deste período, a situação só se agravava. 
 O mais grave desta situação é que, até a década de 1960, os trabalhadores rurais eram a maioria dos trabalhadores no Brasil. Ao mesmo tempo, mantinha-se a relação desigual na posse de terras, com alta concentração das terras nas mãos de poucos. dos 8.510.000 km², apenas 31% encontravam-se ocupados e, nem sempre, de forma efetiva. Ou seja, o Brasil precisava urgentemente de uma reforma agrária!
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 . O governo de João Goulart se preocupou com a questão. Aliás, já vimos que foi justamente a sua intenção de desenvolver diversas reforma no Brasil que levou ao Golpe que iria depô-lo e instituir a ditadura civil-militar em 64.
 . Entre suas ações, o lançamento do Estatuto do Trabalhador Rural, em 1963, previa a extensão dos direitos trabalhistas ao campo. O Estatuto, contudo, foi recebido de forma agressiva pelos donos de terra, que começaram a expulsar os trabalhadores que exigiam seus direitos, aumentando ainda mais o êxodo rural.
 . Já no Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, pensado para o período de 1963 a 1965, estava a clara a intenção de favorecer o pequeno proprietário rural que comprovasse ter ocupado e feito render, sem contestação, terras virgens. 
 
 
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O mais difícil nisso tudo era, claro, o detalhe da “contestação”. Afinal, bastava uma terra ser ocupada para que seu dono aparecesse exigindo a expulsão dos trabalhadores. Enfim, apesar dos esforços de Jango, é importante nós percebermos que a própria Constituição de 1946 era conservadora neste âmbito: ela exigia indenização aos proprietários, deixando o governo despreparado, em termos financeiros, para bancar a reforma.
Ainda assim, Jango não desistiu. Dias antes do Golpe, um projeto de reforma agrária seria enviado ao Congresso, mas nunca chegaria a ser votado, devido ao Golpe de1º de abril de 1964.
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AS LIGAS CAMPONESAS: 
 . As “Ligas Camponesas”, iniciaram-se em 1955, com a tentativa de trabalhadores rurais de uma fazenda de se organizar através de cotas para alcançar benefícios que as leis não garantiam.
 . Acusados de comunistas e impedidos de se organizar, procuraram ajuda na cidade, com o advogado Francisco Julião, que seria reconhecido como um líder. Através das ações de Julião, a fazenda seria desapropriada em 1959, resultando numa vitória significativa para os trabalhadores rurais. Rapidamente, a ideia das Ligas se espalhou pelo nordeste. Com o golpe militar de 1964 a repressão do novo regime abateu-se sobre eles e o movimento foi desarticulado e Julião preso e exilado.
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Em 1964, o governo militar criou o Estatuto da Terra, que acenava com a perspectiva de reforma agrária. Porém, pouco foi feito nesse sentido pois o Estatuto foi usado como forma de controle dos movimentos sociais.
Em 1970 a ditadura criou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Com algumas interrupções devido a crises políticas, desde então é este órgão que trata da reforma agrária no país.
 
O Movimento “Sem-Terra”:
A partir da Abertura a luta pela reforma agrária retomaria o ritmo. Com apoio da Igreja católica e de igrejas protestantes, diversos trabalhadores rurais se organizariam para realizar ocupações, sempre como forma de forçar o governo a realizar a
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reforma que, institucionalmente, só acontecia (e acontece!) de forma muito lenta. A partir desses movimentos organizados teria origem o maior e mais conhecido movimento de luta pela reforma agrária no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
 . O movimento surgiria em plena agitação das Diretas Já, através do Primeiro Encontro Nacional dos Sem Terra, em Cascavel, Paraná, em 1984.
 . Durante o Governo Sarney, apesar das promessas de realização efetiva da reforma com o Plano Nacional da Reforma Agrária (PNRA), nada foi feito de efetivo. Apesar disso, a promulgação da Constituição de 1988 é considera um marco na luta pela Reforma Agrária, por ter incluído em seu texto a regulamentação da função social da terra e o direito à ocupação quando tal função é desrespeitada.
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CONCLUSÃO:
 
 . A questão agrária no Brasil é complexa e possui uma origem histórica que remonta ao período colonial.
 . As legislações brasileiras ao longo dos séculos XIX e XX visaram a manutenção da estrutura fundiária concentradora e excludente.
 . Durante o Estado Novo essa questão chegou à ser estudada pelos organismos governamentais, mas a preocupação era com o processo de “Exodo Rural” e contaram com a oposição das oligarquias proprietárias de terras.
 . Durante a “República Populista” o problema foi “atacado” de forma espontânea pela organização das “Ligas Camponesas” e pelo “Estatuto do Trabalhador Rural” no governo Goulart
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 . O governo militar pouco fez nesse sentido, apesar do “Estatuto da Terra” e da criação do INCRA.
 . Com a redemocratização articulou-se o “MST”, que, apesar de suas lutas e reinvindicações, sofreu a oposição das políticas neo-liberais dos governos federais e da articulação de uma forte “bancada ruralista” cujo objetivo era manter as estruturas latifundiárias capitalizadas no campo brasieliro.

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