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Neurociencias_2009

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neurociências
Neuroimunologia
Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro
Movimentos oculares no bebê
Marcelo Fernandes da Costa
Diagnóstico da retinite pigmentada
Vaegan, Paul Beaumont
Ondas de visão
Bruno Duarte Gomes, Luiz Carlos de Lima Silveira
A prática mental no contexto da fisioterapia neurológica
Sergio Machado et al.
Riboflavina e hipertensão arterial
Camille Feitoza França, Lucia Marques Vianna
www.atlanticaeditora.com.br
JANEIRO • MARÇO de 2009 • Ano 5 • Nº 1
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ISSN 1807-1058
neuroneurociências
Neurociências e relações interpessoais
Fabio Biasotto Feitosa
Duloxetina e depressão do idoso
Michele Mancini
Psicofísica visual
Marcelo Fernandes da Costa
Memória de prática de Libras
Sonia Yara Brunswick Vallado
Reabilitação vestibular
Paulo Cesar Nunes Junior et al.
Eletrofisiologia visual
Givago da Silva Souza et al.
Tumor no vermis cerebelar
Cyntia Rogean de Jesus Alves et al. www.atlanticaeditora.com.br
ABRIL • JUNHO de 2009 • Ano 5 • Nº 2
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ISSN 1807-1058
neurociências
Mecanismos neuropáticos no lúpus eritematoso sistêmico
Luiz Fernando de Souza Passos
Determinação da atividade da GABA-T
Cibelly da Graça Amoras et al.
Adaptação sensorial no controle postural 
José Angelo Barela et al.
Transtorno afetivo bipolar
Stevin Zung, Quirino Cordeiro, Homero Vallada
Neurotoxicidade dos solventes orgânicos
Eliza Maria da Costa Brito Lacerda et al. 
www.atlanticaeditora.com.br
JULHO • SETEMBRO de 2009 • Ano 5 • Nº 3
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ISSN 1807-1058
neurociências
Ia JORNADA FLUMINENSE SOBRE COGNIÇÃO IMUNE E NEURAL 
História da imunologia cognitiva
Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Yuri Chaves Martins
Os princípios da mente e da personalidade
Diogo Rizzato Lara 
Relações entre comportamento e imunidade
João Palermo Neto, Frederico Azevedo da Costa-Pinto
Fisiopatologia da atividade imunológica
Nelson Monteiro Vaz
Mimetismo apoptótico
Poliana Deolindo, Marcello A. Barcinski
Sintaxe comum e conexões imunoneuroendócrinas
Wilson Savino
www.atlanticaeditora.com.br
OUTUBRO• DEZEMBRO de 2009 • Ano 5 • Nº 4
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ISSN 1807-1058
Sumário
Volume 5 número 1 - janeiro/março de 2009
EDITORIAL
“Neuroimunologias”, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro ............................................................................... 3
OPINIÕES
Cem trilhões de sinapses, Marcus Vinícius C. Baldo ............................................................................. 6
Ondas de visão, Bruno Duarte Gomes, Luiz Carlos de Lima Silveira ........................................................ 8
Reabilitação visual: tateando no escuro das funções visuais, 
Marcelo Fernandes Costa ................................................................................................................. 11
Percepção e ação imaginadas, Mirella Gualtieri ................................................................................. 13
Neurogênese no cérebro adulto: a morte de um dogma e o sonho de Cajal, 
Walace Gomes Leal ......................................................................................................................... 16
Antecipando a vez, Sergio Neuenschwander ...................................................................................... 20
ARTIGOS ORIGINAIS
Diagnostic use and independence of the fast oscillation relative to 
other electro-oculogram parameters: a specific sensitivity to retinitis 
pigmentosa, Vaegan, Paul Beaumont ................................................................................................ 22
Estudo prospectivo na demência do tipo Alzheimer, Aurilene de S. Guerra, 
Amdore G. Assano, Aucilene N. de Siqueira, João Carlos Alchieri ......................................................... 28
REVISÕES
Movimentos oculares no bebê: o que eles nos indicam sobre o status 
oftalmológico e neurológico, Marcelo Fernandes da Costa .................................................................. 33
Riboflavina no controle da hipertensão e no acidente vascular encefálico, 
Camille Feitoza França, Lucia Marques Vianna .................................................................................... 40
A prática mental no contexto da fisioterapia neurológica, Sergio Machado, 
Mariana Pacheco, Victor Hugo Bastos, Pedro Ribeiro .......................................................................... 46
NORMAS DE PUBLICAÇÃO .......................................................................................................... 55
EVENTOS ....................................................................................................................................... 57
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20092
© ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada 
ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário 
do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou 
propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. 
Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na 
revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Fisiologia do Exercício, Enfermagem Brasil, Nutrição Brasil e MN-Metabólica.
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
Revista Multidisciplinar das Ciências do Cérebro
Editor: Luiz Carlos de Lima Silveira, UFPA
Editor associado: Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Fiocruz 
Editor-assistente: Daniel Martins de Barros, HC-USP
Presidente do conselho editorial: Roberto Paes de Carvalho, UFF
Conselho editorial
Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística)
Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia)
Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento)
Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento)
Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia)
Eliane Volchan, UFRJ (Cognição)
João Santos Pereira, UERJ (Neurologia)
Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional)
Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística)
Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição)
Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação)
Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia)
Marco Antônio Prado, UFMG (Neuroquímica)
Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética)
Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia)
Stevens Kastrup Rehen, UFRJ (Neurobiologia Celular)
Vera Lemgruber, Santa Casa do Rio de Janeiro (Neuropsiquiatria)
Wilson Savino, FIOCRUZ (Neuroimunologia)
Neurociências é publicado com o apoio de:
SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento)
Presidente: Marcus Vinícius C. Baldo
www.sbnec.org.br
ISSN 1807-1058
Administração e vendas
Antonio Carlos Mello
Assistente de vendas – 
Atendimento
Márcia P. Nascimento
melloassinaturas@uol.com.br
Atlântica Editora e Shalon 
Representações
Praça Ramos de Azevedo, 206/1910
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1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00
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Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
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Editor assistente – Publicidade
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Direção de arte
Cristiana Ribas
cristiana@atlanticaeditora.com.br
Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail:
artigos@atlanticaeditora.com.brNeurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 3
Editorial
Publicações sobre diferentes aspectos das interações anatômicas e fun-
cionais entre os sistemas cognitivos nervoso e imune proliferaram desde os 
trabalhos pioneiros do endocrinologista canadiano de origem austro-húngara 
Hans Selye (1907-1982) nos anos 30. Selye caracterizou o impacto do estres-
se no sistema imune, descrevendo, em animais de experimentação subme-
tidos a condições físicas e mentais adversas, uma “síndrome de adaptação 
geral” que se traduzia pelo aumento do volume das glândulas supra-renais em 
contraste com a atrofia tímica e dos linfonodos [1]. Nos anos 70, o psicólogo 
americano Robert Ader, considerado pai da Psicoimunologia, estendeu, junto 
com Nicholas Cohen, a noção de reflexo condicionado no sistema nervoso, 
proposta pelo médico e naturalista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) 
em 1903 [2], ao funcionamento do sistema imune. Ader & Cohen mostraram 
a estupefatos imunologistas do mundo inteiro que ratos que recebiam água 
adoçada com sacarina simultaneamente a uma injeção da droga imunossu-
pressora ciclofosfamida (que causa náusea) desenvolviam, como esperado, 
aversão à água doce. Para a grande surpresa dos autores, entretanto, quando 
a sede se tornou maior do que a aversão, alguns dos animais que beberam 
a água adoçada pela sacarina tornaram-se imunossuprimidos e morreram de 
infecções, sem terem sido expostos a nenhuma droga capaz de deprimir a 
resposta imune [3]! Outro marco, sem nenhuma dúvida, foram os trabalhos 
do Hugo Besedovsky nos anos 70 apontando os efeitos do sistema imune 
sobre o sistema endócrino, ilustrados, em animais de experimentação, pela 
capacidade da timectomia neonatal em causar atrofia dos órgãos sexuais [4]. 
No início dos anos 80, pesquisas de David Felten na Universidade de Indiana 
nos Estados Unidos da América mostraram a existência de conexões nervosas 
com vasos sanguíneos e de terminações nervosas próximas a grupamentos 
de células imunes, macrófagos e mastócitos no timo, provendo as primeiras 
evidências de como operariam as interações neuroimunes. A demonstração 
de receptores de neuropeptídeos em linfócitos pela neurofarmacologista 
americana Candace Beebe Pert em 1946 [5] e de receptores de citocinas 
em neurônios [6] nos anos 90 pavimentam a estrada que levava ao reconhe-
cimento de bases anatômicas e funcionais para essa neuroimunologia que 
poderíamos chamar de “clássica”. Um livro texto em dois volumes publicado 
por Ader, Cohen e Felten em 1991 torna-se referencial para os interessados 
no assunto - há uma edição de 2007 [7] - e termos como “Neuroimunologia”, 
“Neuroimunomodulação”, “Neuroimunoendocrinologia”, “Psicoimunologia” e 
“Psiconeuroimunologia” tornam-se um lugar-comum que assiste, com vigor, 
raiar o terceiro milênio.
“Neuroimunologias”
Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Editor associado
Médico, Doutor em Biologia 
Humana (Imunologia), Pesqui-
sador Titular da Fiocruz e do 
CNPq, Coordenador do Centro 
de Pesquisa, Diagnóstico e 
Treinamento em Malária e 
Professor de Imunologia no 
Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, 
Rio de Janeiro
Endereço para correspondên-
cia: Tel/Fax (21) 3865-8145, 
ribeiro@ioc.fiocruz.br
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20094
São da competência de uma neuroimunologia 
mais antiga e familiar tanto a patologistas quanto a 
neurologistas e imunologistas clínicos os estudos do 
envolvimento e dano do sistema nervoso em doenças 
causadas ou mediadas por fenomenologia imune 
como o lúpus eritematoso sistêmico, a sarcoidose e 
a ataxia telangiectásica, para ficar só em exemplos 
tradicionais.
Pode-se, por outro lado, incluir no território de 
uma neuroimunologia das patologias infecciosas os 
trabalhos que envolvem aspectos ou abordagens 
imunológicas do comprometimento cerebral em 
doenças causadas por agentes infecciosos e parasi-
tários com tropismo para o tecido neural. Em países 
pobres a lista é imensa: as meningites infecciosas, 
a neurosífilis, a doença da arranhadura do gato, 
a raiva, as doenças causadas por príons, como a 
Doença de Creutzfeldt-Jakob (a doença da vaca lou-
ca), a neurocisticercose, a triquinose, a hidatidose 
cerebral, a estrongiloidíase e angiostrongiloidíase, 
a meningoencefalite amebiana, a toxoplasmose ce-
rebral, as tripanosomíases, sobretudo a africana... 
para citar as mais conhecidas. Nessa mesma cate-
goria de neuroimunologia de infecções, poder-se-iam 
classificar as pesquisas sobre o comprometimento 
cerebral, que ocasionalmente acompanha doenças 
causadas por agentes infecciosos e parasitários sem 
grande ou nenhum tropismo para o tecido nervoso, 
e que é mediado por uma dramática resposta imune 
e inflamatória decorrente do processo infeccioso. O 
exemplo referencial permanece a malária cerebral 
que, felizmente rara em nosso país onde ainda se 
registram algumas centenas de milhares de casos 
da parasitose [8], responde, junto com a anemia 
grave, pela maioria dos óbitos de crianças atribuídos 
à doença em áreas hiperendêmicas na África e Ásia 
[9]. A aparição e disseminação da AIDS nas últimas 
décadas do século passado socializaram as gravís-
simas formas cerebrais de doenças parasitárias e 
fúngicas associadas a ela. Tais tipos de neuroimu-
nologia concernem, infelizmente, estados mórbidos 
mais comuns e graves em populações desprovidas 
de condições socioeconômicas e sanitárias condi-
zentes com a dignidade, abundantes em países do 
hemisfério sul.
É possível reconhecer, sem dificuldade nem exa-
gero, expertise e mesmo certa tradição na condução 
de pesquisas em todas essas “neuroimunologias”, 
que são evidentemente de abordagem potencial em 
um periódico com o perfil da Neurociências, em um 
país como o nosso. Afinal, tal qual uma “Belíndia”, o 
Brasil reúne virtudes de países desenvolvidos (como a 
Bélgica) e problemas dos em desenvolvimento (como 
a Índia): o desenvolvimento tecnológico, recursos 
humanos capacitados para a condução de pesquisa 
de alto padrão nas fronteiras do conhecimento, a 
baixa natalidade, o aumento da expectativa de vida e 
os problemas de saúde predominantemente crônico-
degenerativos dele decorrentes versus os baixos 
índices de desenvolvimento humano e de educação, 
uma expectativa de vida significativamente menor, 
alta natalidade, condições sanitárias inadequadas e 
a exuberante e diversa plêiade de patologias tropicais 
resultante.
Por outro lado, parece haver nas neurociências 
uma lacuna a ser preenchida por uma neuroimuno-
logia que ousaríamos conceituar de “cognitiva” [10] 
voltada ao estudo de semelhanças e diferenças nos 
mecanismos e fenômenos cognitivos (específicos) 
dos processos de reconhecimento de objetos do 
mundo real (inclusive de micróbios...) nos sistemas 
nervoso e imune. Para tal reconhecimento, os siste-
mas cognitivos valem-se de dois tipos de imagens. 
Um primeiro tipo é o das “ imagens complementares” 
que têm dos objetos. Deste modo, receptores mobi-
lizáveis na percepção de todo e qualquer estímulo 
de nossos sentidos assim como imunoglobulinas e 
receptores de linfócitos T estão programados para 
reconhecer, de forma complementar e específica os 
estímulos que recebem diuturnamente. Tais imagens 
operariam em complementaridade com o “objeto” a 
ser reconhecido, tal qual a mão e a luva, a chave e a 
fechadura, o pé e a pegada na areia, a faca e a ferida 
causada por ela, como gosta de dizer Irun Cohen em 
seu fabuloso Tending Adam’s garden [11], ou ainda o 
antígeno Duffy e a proteína DBP do Plasmodium vivax 
[12] e a molécula CD4 e o ligante correspondente 
no vírus da AIDS (HIV) [13]. Outro tipo de imagem da 
qual os sistemas cognitivos parecem também se valer 
corresponde às “imagens em espelho” ou “imagens 
internas”, já demonstradas de forma inequívoca no 
sistema imune, no que se convencionou chamar de 
rede idiotípica, e que seriam construídas com a expe-
riência no sistema nervoso para que ele seja capaz de 
(re)conhecer o que já conhece. Neurociências, atenta 
também a essa“quarta via”, publicou recentemente 
um número temático [14] dedicado ao assunto com 
um artigo sobre o uso de imagens pelos sistemas 
cognitivos imune e neural e sete comentários de 
cientistas de diferentes áreas; da genética à exobio-
logia, da neuroquímica à filosofia e da antropologia 
à imunologia. Da mesma forma, um artigo [15] no 
último número de nossa revista chama a atenção 
para a visão de que o sistema imune, não teria, nos 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 5
processos cognitivos de que se vale, os finalismos 
que se lhe atribuem usualmente.
É na tentativa de contribuir para o preenchimento 
dessa lacuna com a aproximação de imunologistas, 
neurocientistas e neuroimunologistas de renome e 
prestígio internacionais e fomentar a formação de 
jovens profissionais e estudantes nessa “neuroimu-
nologia cognitiva” que os Editores de Neurociências 
decidem criar um fórum de discussão sobre as cog-
nições imune e neural. Assim, nasce a “I Jornada 
Fluminense sobre Cognição Imune e Neural” prevista 
para ocorrer em 11 de agosto de 2009 em Niterói RJ 
e ser objeto de número temático da revista com os 
artigos referentes às conferências do evento.
É natural que Neurociências, conhecedora da 
vitalidade dos grupos brasileiros com excelência nes-
sas diferentes “neuroimunologias” e empenhada na 
promoção da interação entre cientistas de diferentes 
backgrounds (neuroimunologistas ou não), abra seu 
espaço e estimule publicações nestes temas. Faze-
mos isso com óbvio prazer e na esperança de estar 
despertando curiosidade e interesse em nosso meio 
e fomentando a formação de jovens grupos nas su-
báreas das neurociências mais carentes de recursos 
humanos e de estudos, como a “neuroimunologia 
cognitiva”.
Referências
Selye H. A syndrome produced by diverse nocuous 1. 
agents. 1936. J Neuropsychiatry Clin Neurosci 
1998;10(2):230-1.
Pavlov IP. Physiology of Digestion. Nobel Lecture. The 2. 
Nobel Prize in Physiology or Medicine 1904. [citado 
2009 mar 16]. Disponível em: http://nobelprize.
org/nobel_prizes/medicine/laureates/1904/pavlov-
lecture.html.
Ader R, Cohen N. Behaviorally conditioned immunosu-3. 
ppression. Psychosom Med 1975;37(4):333-40. 
Besedovsky HO, Sorkin E. Thymus involvement in fema-4. 
le sexual maturation. Nature 1974;249(455):356-8.
Pert CB, Ruff MR, Weber RJ, Herkenham M. Neuro-5. 
peptides and their receptors: a psychosomatic ne-
twork. J Immunol 1985;135(2Suppl):820s-6s
Sawada M, Itoh Y, Suzumura A, Marunouchi T. Expres-6. 
sion of cytokine receptors in cultured neuronal and 
glial cells. Neurosci Lett 1993;160(2):131-4.
Ader R. Psychoneuroimmunology. 4th Edition. New 7. 
York: Academic Press; 2007. 1269 pp.
Secretaria de Vigilância em Saúde. Sivep Malária. 8. 
Resumo Epidemiológico por local de notificação – Na-
cional. [citado 2009 mar 16]. Disponível em: http://
dw.saude.gov.br/portal/page/portal/sivep_malaria/
TAB99449:tab_resumo_n?Ano_n=2009.
Roca-Feltrer A, Carneiro I, Armstrong Schellenberg JR. 9. 
Estimates of the burden of malaria morbidity in Africa 
in children under the age of 5 years. Trop Med Int 
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Daniel-Ribeiro CT, Martins YC. Imagens internas e 10. 
reconhecimento imune e neural de imagens externas: 
os caminhos e contextos das redes biológicas de 
cognição para a definição da identidade do indivíduo. 
Neurociências 2008;4(3): 117-148.
Cohen I. Cognitive images in Tending Adam’s Garden: 11. 
evolving the cognitive immune system. London: Aca-
demic Press; 2000. p.70.
Chaudhuri A, Zbrzezna V, Johnson C, Nichols M, 12. 
Rubinstein P, Marsh WL, Pogo AO. Purification 
and characterization of an erythrocyte membrane 
protein complex carrying Duffy blood group antige-
nicity. Possible receptor for Plasmodium vivax and 
Plasmodium knowlesi malaria parasite. J Biol Chem 
1989;264(23):13770-4.
Sattentau QJ, Weiss RA. The CD4 antigen: physiologi-13. 
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 Neurociências 2008; 4(3):115-77.14. 
Vaz NM. Imunologia: uma harmonia de ilusões. Neu-15. 
rociências 2008;4(4):196-204.
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20096
Opinião
Cem trilhões de sinapses
Marcus Vinícius C. Baldo
Laboratório de Fisiologia 
Sensorial “Roberto Vieira”, 
ICB-USP, Presidente da SBNeC 
(Gestão 2008-2011)
Endereço para correspondên-
cia: baldo@usp.br
Correm, em nossas veias e artérias, 10 trilhões de glóbulos vermelhos. 
Juntos, eles cumprem muito bem o seu papel, o qual depende monotonica-
mente (embora não linearmente) do número de células circulantes. Curiosa-
mente, esse número é cem vezes maior que o total estimado de neurônios 
que possuímos, os famosos cem bilhões. No entanto, como é possível que 
um conjunto cem vezes menor de células possa ir tanto além do transporte 
de gases, compondo sinfonias, recriando o Big Bang, construindo – e devas-
tando – civilizações? A resposta, em grande parte, repousa sobre um conceito 
simples e fundamental: comunicação. Palavra de origem latina que significa 
“tornar comum”, ou seja, trocar, compartilhar.
A mera existência de comunicação entre os nossos neurônios – a sinap-
se – faz do conjunto algo radicalmente diferente da simples soma de seus 
elementos. As sinapses criam um sistema interagente cujo comportamento 
transcende qualitativamente a contribuição individual de suas unidades. Na 
verdade, enquanto uma hemácia já pode cumprir, individualmente, seu papel 
infinitesimal, um neurônio isolado serve absolutamente para nada! É apenas 
da cooperação estampada em uma rede neuronal, graças às suas interações 
sinápticas, que emerge a complexidade necessária para que possamos com-
por uma sinfonia, recriar o Big Bang e construir uma civilização. 
Mais do que isso, é graças a uma comunicação flexível e plástica entre 
os neurônios que podemos aprender com os próprios erros e com os erros 
alheios, passando a compor sinfonias ainda mais ricas, corrigindo as teo-
rias e os aceleradores que recriam o Big Bang e, esperamos, evitando que 
a nossa civilização seja devastada por nós mesmos. É por meio de nossas 
sinapses que tentamos aprender o que é o universo, e é também por meio 
delas que aprendemos quem somos. Por isso, todos os anos repito a mes-
ma coisa aos meus alunos: da próxima vez em que alguém perguntar quem 
você é, responda, sem hesitar, “eu sou as minhas sinapses”. E é um tanto 
paradoxal que seguimos perscrutando e tentando compreender os meandros 
de nosso cérebro, o qual é justamente aquilo que nos permite compreender 
alguma coisa. Se por metáfora do cientista imaginamos alguém que aponta 
sua lupa para a natureza, nós, neurocientistas, empunhamos nossa lupa à 
frente do espelho.
A propósito, falando de metáforas e de neurocientistas, podemos nos 
perguntar: somos neurônios ou somos hemácias? Não há qualquer dúvida a 
respeito de nossas contribuições individuais (ainda que infinitesimais). Temos 
assistido a uma grande expansão da neurociência brasileira, graças, principal-
mente, à formação de jovens neurocientistas (muitos ainda desempregados). 
Sim, temos feito a nossa parte, tal como as hemácias; algumas vezes até nos 
juntamos em grumos, o que, em nosso caso, pode ser benéfico. Mas ainda 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 7
estamos longe de constituir uma rede interagente, 
em que a comunicação seja a moeda corrente, e de 
onde possa emergir uma comunidade neurocientífica 
que vá muito além da soma de suas partes.
A Sociedade Brasileira de Neurociências e 
Comportamento (SBNeC), em seus trinta e um anos 
de existência, possui atualmente um cadastro com 
pouco mais de 1700 sócios, entre pesquisadores, 
profissionais e alunos de graduação e pós-graduação. 
Embora crescente, esse número é ainda inferior aos 
mais de 2500 inscritos no I Congresso de Neurociên-
cias da América Latina, Caribe e Península Ibérica (I 
NeuroLatAm), realizado recentemente em Búzios; é, 
também, muitíssimo inferior aos mais de 124 mil cur-
rículos encontrados, na Plataforma Lattes, a partir da 
palavra-chave“neurociência”. Ou seja, a SBNeC está 
anêmica. Pior que isso: estamos desconectados!
Se o número de neurônios é 100 vezes inferior 
ao de hemácias, o número estimado de sinapses – 
100 trilhões – supera em dez vezes este último. Ou 
seja, este parece ser o segredo: cada um de nós 
conectar-se a 1000 outros neurocientistas! Falo, 
aqui, de cooperação, intercâmbio, troca de conheci-
mento e de experiências, e não de 999 “co-autores” 
pegando carona na publicação do trabalho realizado 
pelo milésimo. E para que sinapses, estáveis e fun-
cionais, possam se formar, tudo o que a neurociência 
brasileira precisa é de informação. Novamente, tudo 
o que precisamos é de comunicação. Este é um pro-
jeto de longo prazo, mas que precisa começar agora, 
colocando os neurocientistas brasileiros em um único 
e grande mapa, onde todos possam encontrar e ser 
encontrados. 
Se você é neurocientista e prefere ser visto como 
um neurônio e não como uma hemácia (com toda a 
consideração que elas merecem), faça a sua parte! 
Mas, caso não tenha muita certeza do que fazer, não 
hesite em me perguntar (baldo@usp.br). Aguardo seu 
contato (quem sabe vira uma sinapse?). 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20098
Opinião
Ondas de visão
Bruno Duarte Gomes*, Luiz Carlos de Lima Silveira**
*Universidade Federal do Pará, 
Instituto de Ciências Biológi-
cas, Campus Universitário do 
Guamá, 66075-900 Belém 
PA, **Universidade Federal 
do Pará, Instituto de Ciências 
Biológicas, Departamento de 
Fisiologia e Núcleo de Medicina 
Tropical
Endereço para correspondên-
cia: Luiz Carlos de Lima 
Silveira, Universidade Federal 
do Pará, Instituto de Ciências 
Biológicas, Av. Generalíssimo 
Deodoro 92, 66055-240 Belém 
PA, E-mail: luiz@ufpa.br
O conhecimento oriundo da pesquisa em Neurociência tem gerado aplica-
ções de inquestionável importância em vários aspectos da atividade humana, 
em especial no cuidado à saúde, com técnicas cada vez mais sensíveis e 
específicas para diagnósticos e prognósticos utilizados em pacientes sofrendo 
de doenças do sistema nervoso. Além do que, dentro das ciências naturais, 
a Neurociência surge também como uma necessidade do ser humano em 
responder perguntas como: como e por que pensamos, lembramos de fatos 
antigos ou recentes, sentimos, desejamos? O que é a consciência e como 
ela se desenvolve no encéfalo? Tanto para as futuras aplicações, quanto 
para uma resposta, se não completa, mas ao menos aproximada a essas 
perguntas, o entendimento de como exatamente funciona o córtex cerebral 
é provavelmente o passo mais importante.
Existem várias frentes de trabalho na busca pela compreensão de como 
funciona o encéfalo, alguns dedicando-se a temas como os mecanismos 
subjacentes à percepção, às emoções, à motivação, ao controle motor, ao 
aprendizado, à memória, abordando esses temas com o desenvolvimento 
de novas técnicas e novos equipamentos para registrar o funcionamento 
dos neurônios, assim como a formulação de novas teorias a serem testadas 
experimentalmente sobre o funcionamento neural. O estudo dos sistemas 
sensoriais é uma parte importante dessa busca, com destaque para o sis-
tema visual, dada a importância desse sentido para o dia-a-dia do ser huma-
no. Como é bem sabido, a importância desse sistema sensorial para nós, 
primatas, reflete-se na impressionante extensão de área cortical dedicada 
direta e indiretamente à visão [1-5]. Tanto para a visão quanto para outros 
sentidos, a constatação da existência de mapas corticais de representação 
topográfica da função sensorial, teve conseqüências fundamentais no enten-
dimento da função cortical. No caso do sistema visual esses mapas foram 
delimitados na área visual primária (V1) e nas demais áreas visuais do córtex 
cerebral no trabalho exaustivo realizado em muitos laboratórios por vários 
pesquisadores [1-5], entre eles os detentores do Prêmio Nobel de Fisiologia 
e Medicina de 1981, David H. Hubel e Torsten N. Wiesel [1], os quais tam-
bém mostraram que diferentes propriedades funcionais da visão podem ser 
mapeadas topograficamente como bem demonstram a estrutura das colunas 
corticais de processamento de forma e movimento de estímulos simples [1]. 
Os trabalhos de Hubel e Wiesel deixaram de modo muito claro que o padrão 
espaçotemporal de ativação de conjuntos específicos de neurônios corticais 
constitui o código que representa os estímulos sensoriais. 
Os padrões espaçotemporais de ativação cortical em áreas sensoriais 
têm sido explorados recentemente por uma variedade de trabalhos usando 
a técnica de marcação com corantes sensíveis à voltagem (VSD, voltage-
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 9
sensitive dye) [6-10]. A VSD é uma técnica de image-
amento óptico que permite visualizar em alta resolu-
ção temporal e espacial, os padrões de ativação do 
córtex cerebral in vivo através do registro de ondas de 
excitação ou ondas de propagação cortical. Na VSD 
a área cortical a ser analisada é exposta e marcada 
com o corante sensível à voltagem. As moléculas 
do marcador ligam-se à superfície externa das mem-
branas celulares e atuam como transdutores eletro-
ópticos ou seja transdutores de variações elétricas 
em sinais ópticos através das alterações na absorção 
ou emissão fluorescente que ocorrem na escala de 
microsegundos. Essas alterações são monitoradas 
por detectores ópticos quando a superfície cortical 
marcada é iluminada com luz de comprimento de 
onda correspondente ao pico de excitação espectral 
do corante usado. A partir daí é construída uma se-
qüência de imagens das variações da fluorescência 
do córtex cerebral que correspondem às variações 
de voltagem, utilizando-se uma câmara de altíssima 
resolução temporal [10-11].
Xu et al. publicaram os resultados de seus 
trabalhos com VSD mostrando o padrão de variação 
espaçotemporal de ondas de propagação cortical em 
V1 e V2 de ratos anestesiados [10]. Neste estudo, já 
influente entre os pesquisadores da área, as ondas 
são produzidas mediante estimulação com redes 
quadradas acromáticas em movimento (drifting gra-
tings). As ondas de propagação cortical mostradas 
por Xu et al. indicam uma variação espaço-temporal 
estereotipadas que inicia com a produção de uma 
onda primária, com latência de aproximadamente 
100 ms (99,8 ± 18,2 ms), em uma pequena área 
de representação retinotópica monocular de V1, e 
que se espalha depois por toda a área primária, 
propagando-se em direção à V2 onde, na borda entre 
V1 e V2 sofre uma redução de velocidade e uma forte 
compressão. Após a compressão, uma onda é então 
produzida em V2 e se propaga até V1. Essa segunda 
onda foi chamada pelos autores de onda refletida. 
Pode-se descrever o que foi observado por esses 
pesquisadores numa região do córtex cerebral que 
continha uma parte de V1 e V2 separadas por uma 
fronteira sinuosa porém contínua. O início da onda de 
despolarização primária em V1 é vista como um clarão 
que inicia 100 ms após o início do movimento do 
estímulo visual periódico espaçotemporal, a drifting 
grating. Esse clarão propaga-se em alta velocidade tal 
qual uma onda de choque em direção a V2, sofrendo 
na fronteira entre V1 e V2 uma redução de veloci-
dade e um estreitamento. Logo após, uma onda se 
inicia já em V2 de modo quase contínuo à região do 
estreitamento que se encontra em V2 e se propaga 
com forte intensidade e velocidade em direção à V1, 
causando uma despolarização em toda a área V1/V2 
analisada. Xu et al. observaram o mesmo padrão de 
propagação das ondas corticais em vários animais e, 
em cada animal, com várias varreduras. Tanto a onda 
primária quanto a refletida puderam ser claramente 
discernidas usando quatro detectores ópticos de um 
total de 464 usados.
O estudo de Xu et al. mostrou ainda que de modo 
similar ao que ocorre com as ondas do potencial 
cortical provocado visual registrado com eletródios 
eletroencefalográficos posicionados no couro ca-
beludo [12-13], a probabilidade de produzir a onda 
primária e portantotodo o padrão de propagação 
observado, diminuía com a redução de tamanho e 
contraste da rede apresentada. Finalmente, o estudo 
destaca ainda a imensa diferença entre os padrões 
de propagação provocados por estimulação e aqueles 
espontâneos. Em comparações repetidas usando os 
mesmos animais, as ondas espontâneas demonstra-
ram ser mais rápidas do que as ondas provocadas. 
Além disso, iniciam-se em pontos variados e possuem 
padrão de propagação em várias direções. Nenhuma 
compressão foi observada com as ondas de propa-
gação cortical espontâneas.
Um outro achado bastante interessante foi o fato 
de que resultados similares aos encontrados com pro-
pagação cortical espontânea foram obtidos mediante 
a estimulação com as redes quando Xu et al. injeta-
ram na superfície cortical estudada pequenas doses 
de bicuculina, um antagonista de receptores GABA
A
, 
um dos principais grupos de receptores ligantes do 
ácido gama aminobutírico (GABA), o aminoácido que 
constitui o principal neurotransmissor inibitório do 
sistema nervoso central. Sob influência da bicuculina, 
ocorreu a produção da onda primária mas, no entanto, 
não houve compressão ou reflexão. Esse resultado 
sugere um papel crítico para a inibição devida à libe-
ração de GABA no comportamento espaçotemporal da 
resposta visual e mostra de modo elegante o balanço 
dinâmico entre excitação e inibição das redes neurais 
corticais em atividade por estimulação visual tal como 
ocorre na borda V1/V2 do sistema visual. 
As “ondas de visão” de Xu et al. mostram de 
forma sólida que pelo menos quando se considera 
grandes populações de neurônios, o padrão espa-
çotemporal de ativação de áreas corticais contém 
o código no qual está representada a informação 
sensorial no córtex cerebral visual. 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200910
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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 11
Opinião
Reabilitação visual: tateando 
no escuro das funções visuais
Marcelo Fernandes Costa
Departamento de Psicologia 
Experimental, Instituto de Psi-
cologia, Universidade de São 
Paulo, São Paulo, Núcleo de 
Neurociências e Comportamen-
to, Universidade de São Paulo
Endereço para correspondên-
cia: Marcelo Fernandes da 
Costa, Universidade de São 
Paulo, Instituto de Psicologia 
Av. Prof. Mello Moraes, 1721, 
Bloco A, sala D-9 05508-900 
São Paulo SP, Tel: (11) 3091 
1915, E-mail:costamf@usp.br 
A área de estimulação visual precoce é praticamente empírica. Isto se 
deve por vários motivos dos quais acredito serem três os que mais contribuem 
para tal: 1) Poucos são os profissionais com formação aprofundada em sis-
tema visual que trabalham com procedimentos de estimulação visual, como 
oftalmologistas, ortoptistas e tecnólogos em oftalmologia, sendo, na maioria 
das vezes, realizados por terapeutas com pouca especialização na área visual; 
2) As avaliações de função visual são muito limitadas tanto em número de 
funções avaliadas quanto aos tipos de testes aplicados, já que habitualmente 
se considera função visual apenas acuidade visual ou de resolução ou de 
discriminação, medidas psicofisicamente, geralmente utilizando os Cartões 
de Acuidade de Teller (Stereo Optical, IL, USA) ou métodos semelhantes 
com pranchas, raquetes etc; 3) Pouco se sabe sobre como o sistema visual 
processa não só a função visual de discriminação de detalhes, mas outras 
funções como limiar de detecção no campo visual, visão de cores, visão de 
contraste, processamento dinâmico e visão de movimento, profundidade 
entre outras, raramente são avaliadas. Os estudos das capacidades visuais 
funcionais em grupos de pacientes com baixa visão frequentemente não 
discriminam os grupos com base em suas patologias e fatores etiológicos, o 
que diminui muito a possibilidade de se discriminar as capacidades funcionais 
de cada grupo em específico.
Em recente estudo que realizou uma inspeção das características de-
mográficas, educacionais e de função visual [1], um dos poucos estudos 
que avalia outras funções visuais, além da acuidade visual, encontrou uma 
porcentagem em torno de 44% de crianças com possibilidade de dano na 
percepção cromática, o que supera, e muito, os 8% encontrado nos homens 
e 0,5% nas mulheres da população normal, e uma redução na função de 
sensibilidade ao contraste como um todo para quase todas as crianças. 
Mesmo quando se tratada habitual avaliação da a acuidade visual, deve-
se ter o cuidado de controlar muito bem os grupos envolvidos, suas etiologias 
para não corrermos o risco de perder informações extremamente importantes 
para o processo reabilitacional. Avaliamos a acuidade visual de crianças com 
paralisia cerebral do tipo espástico com a metodologia dos potenciais visuais 
corticais provocados de varredura (PVCPv) e observamos que a acuidade de 
resolução é progressivamente pior nos grupos hemiplégico, diplégico e te-
traplégico, respectivamente. Não só isso, acuidade tem uma alta correlação 
intragrupo com as medidas funcionais do quadro motor [2](Costa et al., 2004). 
No trabalho de Oliveira et al., [3](2004) fica evidente que a melhora compor-
tamental observada em bebês prematuros saudáveis quando comparados 
com bebês nascidos à termo se deve, muito provavelmente, a uma melhor 
uso da acuidade visual que em ambos não difere pelo método do PVCPv. 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200912
Desta forma, é inferido que as áreas de associação 
devam ser a chave para o entendimentos dos efeitos 
obtidos pela estimulação visual precoce. Tal achado 
vai de encontro ao trabalho em modelos animais de 
Diamond [4](2001). Na hidrocefaliaencontramos uma 
maior porcentagem de prejuízos na acuidade visual 
nos pacientes portadores de mielomeningocele, do 
que nos bebês com hidrocefalia secundária à hemor-
ragia intracraniana [5](Costa et al., 2008).
Fica, portanto, evidente que há a necessidade 
de se explorar de maneira mais consistente e con-
trolada as diversas funções visuais para se ter um 
quadro mais claro das reais capacidades visuais dos 
pacientes. Cada patologia pode afetar o sistema 
visual de maneiras completamente distintas e em 
graus diferentes. Somente estudos bem controlados 
com relação às etiologias, grupos etários e outras 
importantes variáveis, assim como o entendimento 
das funções visuais de cor, movimento, contraste, 
profundidade e visão de detalhes em cada processo 
patológico é que nos garantirá substrato suficiente 
para desenvolvermos protocolos de estimulação vi-
sual mais focados para cada necessidade específica 
e, consequentemente, mais eficientes.
Referências
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Costa MF, Munoz FMH, Salomão SR, Ventura DF. 5. 
Acuidade visual para padrões espaciais periódicos 
medida pelos potenciais visuais evocados de varre-
dura em crianças com hidrocefalia. Neurociências 
2008;4:87-92.
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 13
Opinião
Percepção e ação imaginadas
Mirella Gualtieri
Mestre em Neurociencias 
(IPUSP) Instituto de Psicologia, 
USP
Endereço para correspondên-
cia: Av. Prof. Mello Moraes, 
1721. CEP 05508-900. São 
Paulo - SP, Brasil. Tel. (11) 
3091-8611.], E-mail mirellag@
usp.br
Quando alguém “vê”, “escuta” ou “se movimenta” mentalmente esta 
pessoa está fazendo uso de imagens mentais, um fenômeno essencialmente 
cognitivo, visto que é independente da estimulação dos receptores sensoriais. 
A noção de imagens mentais foi por muito tempo um domínio exclusivamen-
te explorado em extensas discussões e teorias da filosofia e da psicologia 
cognitiva. Entre os behavioristas, a existência das imagens mentais como 
um processo cognitivo legítimo ou “um tipo de pensamento” foi rejeitada por 
Watson [1] e posteriormente por Pylyshyn [2]. Em 1977, Skinner afirmou não 
haver evidencias da construção mental de imagens e que construir cópias do 
mundo ao qual o corpo responde seria desperdício de tempo. No campo das 
neurociências, contudo, a abordagem do tema é recente. Em uma revisão 
de 2001, publicada na Nature Neuroscience, Kosslyn, Ganis e Thompson [3] 
discutem as imagens mentais, à luz da neurociência cognitiva e mostram que 
as imagens mentais não são apenas um processo de recuperar memórias. A 
memória é, sem dúvida, essencial para este processo, mas o que possibilita 
a construção de imagens mentais depende da atividade de diferentes estru-
turas encefálicas, compondo uma rede em grande parte semelhante àquela 
relacionada aos processos de percepção e ação.
Em sua revisão, os autores mostram como o uso de ferramentas como 
ressonância magnética funcional (fRM), tomografia por emissão de pósitron 
(PET), estimulação magnética transcraniana (TMS) e eletrofisiologia fizeram 
das imagens mentais um evento fisiológico registrável e vem contribuindo 
na identificação dos circuitos neurais envolvidos nesse processo e de seus 
efeitos comportamentais tanto em situações fisiológicas quanto em casos 
de lesão encefálica.
Considerando os achados de uma variedade de trabalhos que aplicaram 
métodos diferentes, Kosslyn et al. [4] apontam as duas principais conclusões 
comuns aos diferentes estudos: 1) Os circuitos envolvidos no processo de 
imagens mentais são comuns àqueles envolvidos na percepção ou ação da 
modalidade considerada, podendo envolver desde as áreas corticais primárias, 
e 2) Processos de controle respiratório e de freqüência cardíaca são afetados 
de forma bastante similar pelas imagens mentais e estímulos perceptuais.
Dentre as diferentes modalidades de imagens mentais, a visual é defi-
nitivamente a mais estudada e há mais tempo [5,6]. Achados conflitantes 
e de grande interesse aos pesquisadores da área têm sido observados a 
partir destes estudos. Em pacientes com lesões corticais de áreas visuais, 
o acometimento da percepção visual e da visualização de imagens pode ser 
concomitante ou ocorrer exclusivamente para apenas um dos processos. 
Alterações concomitantes foram reportadas para aspectos específicos da 
visão, como cor [7] ou faces [8], indicando que as imagens mentais, assim 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200914
como a percepção, resultam da integração de carac-
terísticas específicas que deverão compor a imagem 
mental final. Alem disso, já foi descrita a extinção 
das imagens mentais exclusivas para informações de 
forma e de localização de objetos, como resultado de 
lesões corticais nas áreas das vias ventral e dorsal, 
respectivamente [9]. 
Os estudos de imagens mentais auditivas en-
volvem, em sua maioria, recursos musicais. Compa-
rando pacientes epiléticos graves que tiveram o lobo 
temporal direito removido para tratamento da doença 
e participantes controle em tarefa de julgamento de 
notas musicais (julgar como mais agudas ou graves) 
baseado em percepção e imagens mentais, Zatorre & 
Halpern [10] encontraram que os pacientes lobotomi-
zados tiveram dificuldade no desempenho em ambas 
as condições de teste. A conclusão de seu trabalho 
foi de que o papel de ao menos parte das estruturas 
neurais críticas para a discriminação de freqüência so-
nora é compartilhado entre o processo perceptual e o 
mental. Em outro estudo, Zatorre et al. [11], utilizaram 
PET para avaliar o desempenho de controles em uma 
tarefa similar a do estudo anterior. As imagens reve-
laram diversas áreas ativadas em comum. Entre elas, 
regiões do córtex auditório associativo (Brodmann 
21 e 22), córtex frontal bilateral (Brodmann 45/9 e 
10/47) e córtex motor suplementar (Brodmann 6). 
Kosslyn e cols descrevem ainda uma serie de outros 
estudos em sua revisão. As conclusões comuns a 
todos eles são que a maioria das estruturas neurais 
envolvidas na percepção auditiva é compartilhada 
com o processo de imagens mentais. Ao contrario do 
observado para imagens visuais, neste caso não há 
ativação da área auditoria primaria (A1).
Com relação às imagens mentais motoras, assim 
como nas modalidades anteriores, os resultados 
mostram envolvimento de áreas encefálicas comuns 
entre as atividades de ação e de imagem mental. A 
participação do aparato motor para a aquisição de 
imagens mentais motoras pode explicar a eficácia 
da prática mental sobre a performance física [12-
14]. É uma técnica usada por atletas, por exemplo. 
A explicação é a de que ao se imaginar fazendo certo 
movimento, constroem-se associações fortes entre 
a atividade de áreas importantes na realização de 
tarefas motoras complexas.
Para os autores da revisão, há ainda uma sé-
rie de perguntas a serem respondidas. Entre elas: 
o papel de áreas corticais primárias nas imagens 
mentais e porque estas regiões não são envolvidas 
nas imagens mentais auditivas; a causa da alta 
variabilidade interpessoal na habilidade de construir 
imagens mentais e o efeito do conteúdo semântico 
da imagem sobre os mecanismos neurais envolvidos 
na aquisição das imagens.
Alem das questões levantas pelos autores, o 
conhecimento gerado pelos estudos citados aqui 
e outros apontam para um carátermarcante deste 
assunto, as fronteiras que faz com outras áreas do 
conhecimento. O envolvimento de um grande número 
de áreas comuns durante processos perceptivos ou 
de imagens mentais – incluindo em alguns casos 
áreas corticais primárias – pode, por exemplo, ser 
considerado um substrato fisiológico para antigas teo-
rias filosóficas que entrelaçam os mundos percebido, 
envolvido com a noção – ou ilusão – de realidade, e 
imaginado. Uma questão mais importante que deve 
surgir é baseada não nas áreas comuns envolvidas 
nos processos de percepção e geração de imagens 
mentais de qualquer modalidade, mas sim nas áre-
as ativadas diferentemente durante um processo 
ou o outro. Isto porque se ao ouvirmos uma música 
que está tocando no radio ou ouvirmos uma música 
mentalmente grande parte das estruturas ativadas 
são as mesmas, mas existe algum recurso que nos 
permite saber a diferença entre uma atividade e a 
outra. Deste modo, o recurso das imagens mentais e 
sua comparação com a percepção ou ação motora po-
dem tornar-se modelo importante nas neurociências 
para a abordagem de talvez um dos assuntos mais 
intrigantes, polêmicos e de difícil acesso: consciên-
cia. A avaliação de vias bioquímicas envolvidas em 
cada processo, por exemplo, pode ser útil no acesso 
do que possibilita a distinção entre uma atividade e 
outra, fazendo com que para um individuo normal, a 
diferença entre ouvir e ouvir mentalmente seja clara e 
indubitável. Ainda, a contribuição que o mapeamento 
das características comuns e distintas à percepção 
e as imagens mentais pode ter na interpretação e 
possivelmente no tratamento de episódios de alu-
cinação e delírios, presentes em grande número de 
distúrbios.
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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200916
Resumo
Por muitos anos acreditou-se que o sistema nervoso central (SNC) de mamíferos adultos era 
incapaz de gerar novos neurônios. No entanto, estudos pioneiros realizados por Joseph Altman, 
Michael Kaplan e Fernando Nottebohm, respectivamente, nas décadas de 60, 70 e 80, propicia-
ram a base para os estudos realizados na década de 90 que confirmaram definitivamente que 
o cérebro adulto possui a capacidade de gerar novos neurônios. Portanto, os circuitos neurais 
do cérebro de mamíferos adultos não são fixos e imutáveis como se pensava. Estes achados 
experimentais sugerem que o cérebro modula e mantém circuitos neurais pré-existentes por 
adição de novos neurônios e que este fenômeno pode ser utilizado para a substituição de 
neurônios perdidos durante doenças do SNC.
Palavras-chave: sistema nervoso central, giro denteado, zona subventricular, bulbo olfatório, 
neurogênese adulta.
Abstract
There was a long-lasting belief that the central nervous system (CNS) of adult mammals was 
unable to generate new neurons. Nevertheless, the pioneer studies performed by Joseph Altman, 
Michael Kaplan e Fernando Nottebohm, respectively in the 1960´s, 1970´s and 1980´s were 
the basis for studies performed in the 1990´s that definitively confirmed that the adult brain 
possesses the capacity of producing new neurons. Thus, the neural circuits of adult mammalian 
brains are not fixed and immutable as previously thought. These experimental findings suggest 
that the brain modulates and maintains preexisting neural circuits by adding newborn cells. In 
addition, this phenomenon might be used to replace neurons lost after CNS diseases.
Key-words: central nervous system, dentate gyrus, subventricular zone, olfactory bulb, adult 
neurogenesis.
Opinião
Neurogênese no cérebro adulto: 
a morte de um dogma 
e o sonho de Cajal
Walace Gomes Leal 
Professor de Neuroanatomia e 
Neuropatologia Experimental, 
Laboratório de Neuroproteção e 
Neurorregeneração Experimen-
tal Professor Victor Hugh Perry, 
Instituto de Ciências Biológi-
cas, Universidade Federal do 
Pará
Endereço para correspondên-
cia: Instituto de Ciências Bio-
lógicas, Universidade Federal 
do Pará 66075-900 Belém 
PA, Tel: (91) 3201 7741, E-
mail:wgomesleal@pq.cnpq.br
O neuroanatomista espanhol Santiago Ramon y Cajal (1851-1934), jun-
tamente com Camilo Golgi, foi agraciado com o prêmio Nobel de Fisiologia e 
Medicina em 1906 por seus inigualáveis estudos neuroanatômicos, os quais 
são a base do que se conhece atualmente sobre a estrutura e função do 
sistema nervoso central (SNC). No entanto, com as técnicas disponíveis à 
época, o fundador da Neurociência moderna não encontrou evidências para a 
formação de novos neurônios (neurogênese) ou outro processo regenerativo 
significativo no SNC adulto. Este fato contribuiu para a perpetuação do dogma 
ilustrado pela célebre frase de Cajal: “(...) nos centros neurais adultos, as 
vias neurais são fixas e imutáveis. Tudo pode morrer. Nada pode regenerar 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 17
(...)” [1]. No entanto, Cajal tinha um sonho, qual seja 
que as gerações futuras de pesquisadores achassem 
uma maneira de suplantar a inerente incapacidade do 
SNC em regenerar [1]. Infelizmente, Cajal não viveu 
o suficiente para constatar o que aconteceu a partir 
da década de 60, quando pesquisadores começaram 
a publicar evidências experimentais de que novos 
neurônios são formados no cérebro adulto.
Na década de 60, Joseph Altman e Gopal Das 
publicaram uma série de artigos utilizando timidina 
marcada com um isótopo radioativo do hidrogênio 
(tritium, 3-H) para marcar células mitóticas, sugerindo 
a formação de pequenas células granulares, deno-
minadas à época “microneurônios”, no hipocampo, 
bem como progenitores neurais proliferativos na zona 
subventricular (na parede dos ventrículos laterais) e 
bulbo olfatório de animais adultos [2]. No entanto, 
as dimensões das células mitóticas descritas por 
Altman & Das eram parecidas com as de células 
gliais e não existiam técnicas eficazes para diferen-
ciar neurônios e células gliais à época, o que levou 
a comunidade científica a não dar o devido crédido a 
estes resultados. Na década de 70, os estudos de 
Michael Kaplan confirmaram os achados de Altman 
& Das, através de microscopia eletrônica e autoradio-
grafia [3,4], mostrando queos neurônios mitóticos 
(positivos para 3H-timidina) presentes no hipocampo 
e no bulbo olfatório do cérebro de roedores adultos 
apresentavam características ultraestruturais de 
neurônios e que recebiam sinapses de neurônios 
vizinhos. No entanto, os critérios ultraestruturais 
usados por Kaplan para diferenciar neurônios e glia 
foram questionados e outros autores sugeriram que 
células gliais também poderiam receber sinapses de 
células vizinhas ou que células adultas sofrendo repa-
ro de DNA poderiam incorporar a timidina radioativa. 
Novamente, os resultados de Kaplan, que sugeriam 
neurogênese no cérebro adulto, não foram levados 
em consideração [4].
Na década de 80, Fernando Nottebohm e co-
laboradores realizaram uma série de experimentos 
meticulosos mostrando claramente que novos neu-
rônios são formados no cérebro adulto de canários 
[5]. Canários machos possuem núcleos vocais bem 
desenvolvidos e cantam bem mais que canários 
fêmeas. Nottebohm e colaboradores demonstraram 
experimentalmente que injeções de testosterona em 
canários fêmeas faz com estes pássaros passem a 
cantar de forma semelhante a canários machos, o 
que é concomitante com o aumento do tamanho de 
seus núcleos vocais [6]. Estes autores demonstra-
ram que a hipertrofia dos núcleos vocais das fêmeas 
era principalmente devida à adição de novos neu-
rônios nesta região, pois a injeção do marcador de 
proliferação celular 3H-timidina em pássaros adultos 
resultava em marcação neuronal nos núcleos vocais 
30 dias após a injeção [6]. Para ter certeza da iden-
tidade neuronal das células marcadas, estes autores 
também realizaram estudos com microscopia eletrô-
nica e registro eletrofisiológico concomitante com 
injeção intracelular de células nos centros vocais 
de canários e demonstraram, de forma irrefutável, 
que as células recém formadas nos centros vocais 
dos pássaros eram neurônios e não células gliais. 
Apesar da demonstração irrefutável de que ocorre 
neurogênese no cérebro adulto de canários, estes 
fenômeno foi considerado à época restrito ao cére-
bro de pássaros e, portanto, sem relevância para 
mamíferos.
Apenas na década de 90, houve aceitação geral 
pela comunidade científica de que novos neurônios 
são formados no cérebro de mamíferos adultos. No 
início da década de 90, demonstrou-se a presença 
de progenitores neurais no hipocampo de roedores 
adultos [7] e que estes progenitores poderiam ser 
induzidos a proliferar in vitro, gerando tanto neurônios 
como células gliais [8]. Este achado motivou vários 
estudos que, indubitavelmente, demonstraram a pre-
sença de progenitores neurais no giro denteado do 
hipocampo e na zona subventricular na parede dos 
ventrículos laterais de roedores adultos [9]. Novas 
técnicas surgiram na década de 90, possibilitando 
a identificação clara dos novos neurônios formados 
no cérebro adulto. Por exemplo, passou-se a utilizar 
injeções intraperitoneais em animais adultos do 
análogo da timidina bromodeoxiuridina (BrdU), que ao 
ser incorporado na fase S durante a divisão celular, 
permite a marcação inequívoca das células recém 
formadas sem a necessidade da autoradiografia. 
Além disso, surgiram anticorpos específicos que 
reconhecem proteínas presentes em neuroblastos 
migratórios (neurônios imaturos), principalmente 
a proteína associada a microtúbulos doublecortin 
(DCX) [10] e neurônios diferenciados, por exemplo 
a proteína marcadora de núcleos neuronais NeuN 
[11]. A realização de imunofluorescência para BrdU 
e DCX ou BrdU e NeuN, com a confirmação da du-
pla marcação por microscopia confocal, permite a 
identificação inequívoca da identidade neuronal das 
células formadas no cérebro adulto. Finalmente, no 
final da década de 90, demonstrou-se que novos 
neurônios são formados no hipocampo humano, o que 
expandiu o significado funcional da neurogênese no 
cérebro adulto [12]. Estudos recentes confirmaram 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200918
que novos neurônios são também formados na zona 
subventricular do cérebro humano [13].
Atualmente é bem estabelecido que existem 
duas regiões neurogênicas principais no cérebro 
adulto normal: a zona subventricular (SVZ, do inglês 
subventricular zone) na parede dos ventrículos laterais 
[14] e a zona subgranular (SGZ, do inglês subgranular 
zone) do giro denteado no hipocampo [15]. Nestas 
regiões, células tronco e/ou progenitores neurais 
geram constantemente neurônios imaturos (neuro-
blastos). Na SVZ de roedores adultos (Figura 1), os 
neuroblastos (células DCX+) migram constantemente 
para o bulbo olfatório através da via migratória ros-
tral, onde se diferenciam em interneurônios e são 
incorporados nos circuitos neurais desta região [16]. 
No hipocampo, progenitores geram neuroblastos que 
migram da SGZ do giro denteado para a camada gra-
nular, onde transformam-se em neurônios granulares 
adultos e são integrados nos circuitos hipocampais 
[15]. No cérebro humano adulto, existem evidências 
experimentais que sugerem a ocorrência de novos 
neurônios, tanto no hipocampo [12] como na SVZ 
[13]. A ocorrência de neurogênese em outras regiões 
do SNC adulto ainda é controversa [17]. No entanto, 
alguns estudos sugerem que novos neurônios podem 
ser formados no neocórtex [18] e outras regiões do 
SNC adulto [19].
Figura 1 - Neurogênese na zona Subventricular 
(SVZ) de um rato adulto. Neuroblastos migratórios 
(células vermelhas apontadas pela seta) da SVZ 
foram marcados por imunofluorescência utilizando 
o anticorpo anti-doublecortin (DCX). Estas células 
migram continuamente para o bulbo olfatório, onde 
transformam-se em interneurônios que são integra-
dos aos circuitos neurais desta região. VL= ventrícu-
lo lateral; ST = Striatum. Escala = 50 μm.
Os circuitos neurais do cérebro adulto não são 
fixos e imutáveis como Cajal pensava. No entanto, o 
sonho de Cajal foi realizado, pois as gerações futu-
ras descobriram que o encéfalo é mais plástico do 
que se pensava, por ser capaz de manter, modular e 
substituir circuitos neurais pré-existentes adicionando 
continuamente novos interneurônios [20]. No entanto, 
muitas perguntas ainda precisam ser respondidas. 
Por que novos neurônios são formados no cérebro 
adulto? Qual a importância deste fenômeno em 
condições patológicas? Os neurônios gerados no 
cérebro adulto podem substituir as células perdidas 
em condições patológicas, tais como o acidente vas-
cular encefálico (AVC, acidente vascular cerebral)? A 
neurogênese endógena poderá ser utilizada um dia 
como terapia celular para doenças do SNC humano? 
Nós discutiremos estes e outros tópicos nos próximos 
volumes da revista Neurociências.
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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200920
Opinião
Antecipando a vez
Sergio Neuenschwander
Doutorado em Neurociências 
pela Universidade Pierre et 
Marie Curie, Paris, Pós-douto-
rado no Instituto Max-Planck 
for Brain Research, Frankfurt, 
Investigador principal no Insti-
tuto Max-Planck, onde dirige 
um grupo voltado a estudos da 
dinâmica neuronal relacionada 
à percepção visual
Endereço para correspondên-
cia: Max-Planck Institute for 
Brain Research, Deutschorden-
strasse, 46 - 60528 - Frankfurt 
am Main – Alemanha, Tel: +49 
6996769235, E-mail: neuen-
schwand@mpih-frankfurt.mpg.de
Estudos funcionais do cérebro através de técnicas de imagens por resso-
nância magnética (fMRI) proporcionaram uma abordagem única a processos 
cognitivos, inimaginável há apenas uma década atrás. Tornou-se possível a 
investigação não-invasiva de mecanismos neurais ligados a capacidades cogniti-
vas como a percepção, planejamento motor, emoções e estados da consciência. 
Pôde-se visualizar processos em diferentes escalas espaciais, desde extensas 
regiões do córtex e núcleos subcorticais, aos padrões de conexões e detalhes da 
organização colunar do córtex. No centro desta revolução, que permitiu avançar 
a largos passos nosso conhecimento sobre o cérebro em funcionamento, existe 
uma noção importante e crucial. Assume-se que o sinal de fMRI, o BOLD, de 
alguma forma traduza um sinal de origem neural [1]. Afinal, o que pretende-se 
medir nas imagens funcionais do cérebro é em última instância a atividade 
neuronal e não simplesmente as variações hemodinâmicas associadas a ela. 
O recente trabalho experimental de Sirotin e Das [2] questiona esta noção ao 
mostrar que respostas hemodinâmicas podem também existir dissociadas da 
atividade neuronal. Estes resultados são ainda mais relevantes porque foram 
obtidos em condições que replicam protocolos experimentais comumente 
utilizados em estudos de fMRI. Nestes estudos, testes comportamentais são 
realizados em ensaios periódicos, repetidas vezes, favorecendo o aparecimento 
de sinais antecipatórios ligados a expectativa. Um inesperado puxão de tapete 
para a comunidade científica do fMRI? Talvez.
No estudo de Sirotin e Das [2] sinais hemodinâmicos do córtex visual foram 
obtidos através de registros de imagens de sinais intrínsecos em macacos-
resos. Estes sinais, como no fMRI, são indicativos dos níveis de oxigênio no 
sangue e portanto trocas metabólicas relacionadas à atividade neuronal, que 
regulam localmente o aporte sanguíneo. Diferentemente do fMRI, a técnica de 
imagens por sinais intrínsecos, no entanto, é um método invasivo. Por meio 
de procedimentos cirúrgicos sucessivos, implanta-se uma câmara de registro 
óptico que serve como janela de acesso à superfície do córtex. A dura mater é 
substituída por um filme de silicone transparente, proporcionando visualização 
cristalina do córtex [3]. Durante as sessões experimentais, uma câmera de vídeo 
de alta sensibilidade é acoplada à câmara de registro. Para a iluminação do 
córtex, utiliza-se de comprimentos de onda distintos (vermelho e verde), o que 
permite a obtenção de medidas independentes para os níveis de oxigenação 
(oxihemoglobina) e volume sanguíneo (hemoglobina total). Nos experimentos 
de Sirotin e Das, longas sequências de imagens foram registradas durante os 
testes comportamentais. Em um recinto escuro, os macacos eram treinados 
a observar durante alguns segundos um ponto diminuto na tela de um compu-
tador (ponto de fixação, PF), que tinha sua cor alternada periodicamente. Além 
do PF, não existia qualquer outro estímulo visual associado ao teste. Se o PF 
assumisse a cor verde, os macacos necessitavam fixá-lo atentamente para 
serem recompensados; se assumisse a cor vermelha, poderiam relaxar. Este 
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 21
paradigma, ainda que simples, permitia o surgimento 
de uma condição de forte expectativa, já que as mu-
danças no PF associadas a recompensa aconteciam 
em intervalos fixos. Controles cuidadosos foram ainda 
feitos para uma condição de expectativa não associada 
a qualquer estímulo visual (nem mesmo o PF), mas sim 
a um estímulo auditivo.
A análise das imagens funcionais do córtex revelou 
o inesperado. Uma clara modulação dos sinais hemo-
dinâmicos no córtex visual ocorria independente do 
estímulo visual. Para a perplexidade de todos, registros 
eletrofisiológicos, obtidos através da inserção de um 
eletródio na região do córtex correspondente ao registro 
óptico, mostraram que as modulações hemodinâmicas 
aconteciam independentes de qualquer resposta de dis-
paros de neurônios (potenciais de ação). Nem mesmo 
alterações nos componentes espectrais de potenciais 
de campo elétrico local (LFP) puderam ser observadas, 
sugerindo que as alterações hemodinâmicas não pode-
riam ser atribuídas a respostas neuronais individuais ou 
de populações locais. Controles feitos para respostas 
a um estímulo visual (padrões de barras), no entanto, 
mostraram padrões conhecidos: variações importantes 
no sinal hemodinâmico associadas a um aumento nas 
respostas de células individuais e oscilações gama de 
alta frequência do LFP [4].
O fato das variações nos sinais hemodinâmicos 
ocorrerem associadas à cadência dos testes com-
portamentais apontam para um mecanismo novo, 
a ser compreendido. Quando espera-se um evento, 
como por exemplo a mudança de cor do PF, um sinal 
antecipatório é gerado internamente no cérebro, 
provavelmente ligado ao sistema de ativação ascen-
dente. Este sinal modulatório seria capaz de aumentar 
antecipadamente o fluxo sanguíneo no tecido neural. 
É importante observar que este sinal vascular é 
específico, já que nos controles experimentais em 
que expectativa era gerada por um estímulo auditivo 
não observa-se alterações hemodinâmicas no córtex 
visual (o córtex auditivo não foi estudado).
Além de uma crítica aos estudos de fMRI, que 
devem levar em conta a possibilidadede sinais he-
modinâmicos estarem relacionados a contingências 
experimentais (expectativa) e não propriamente ao estí-
mulo, o estudo de Sirotin e Das demonstra claramente 
a importância das relações de contexto nas operações 
do cérebro. Recentemente, registros do córtex visual 
primário através de eletródios-múltiplos [5,6] mostra-
ram que a expectativa pode modular profundamente 
as características temporais das respostas neuronais. 
Nestes estudos, macacos foram treinados a indicar 
mudanças no PF ou no estímulo visual para receberem 
uma recompensa. Como nos experimentos de Sirotin 
e Das, o fato das mudanças a serem detectadas ocor-
rerem sempre em mesmo ponto a partir do início de 
uma repetição gerava uma condição de expectativa, um 
sinal antecipatório. Os registros da atividade individual 
de neurônios e LFP mostraram um forte aumento de 
componentes oscilatórios das respostas na banda de 
frequência gama (de 30 a 90 Hz). Estes efeitos podiam 
ainda ser modulados em função do valor da recom-
pensa (suco de banana é o preferido dos macacos), 
o que sugere claramente a participação de processos 
internos ligados a expectativa e motivação. É interes-
sante observar, como demonstrado em experimentos 
com gatos anestesiados, o aumento das sinal BOLD 
parece estar relacionado ao aumento de respostas 
oscilatórias gama da atividade cortical [7].
Estudos que levam em conta relações contex-
tuais para abordar os processos cognitivos são de 
extrema importância. Como vimos no trabalho de 
Sirotin e Das, abordagens experimentais em animais 
realizando uma tarefa de comportamento são essen-
ciais para a observação de processos mesoscópi-
cos, com conseqüências importantes para a nossa 
compreensão de mecanismos de funcionamento do 
cérebro. Se por um lado este trabalho contribui com 
um argumento crítico, por outro revela mecanismos de 
controle neurovascular não são visíveis na ponta de 
um eletródio. E de novo o sinal BOLD tem sua vez.
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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200922
Artigo original
Diagnostic use and independence 
of the fast oscillation relative to other electro-
oculogram parameters: a specific sensitivity 
to retinitis pigmentosa
Uso diagnóstico e independência da oscilação rápida 
em relação a outros parâmetros do eletro-oculograma: 
sensibilidade específica na retinite pigmentada
Vaegan*, Paul Beaumont**
*Eye & Vision Research 
Institute, Sydney, Australia, 
School of Optometry and Visual 
Science, University of New 
South Wales, Australia, **Eye 
& Vision Research Institute, 
Sydney, Australia
Endereço para correspondên-
cia: Vaegan, School of Op-
tometry and Visual Science, 
University of New South Wales 
NSW 2052 Australia, Tel: +61 
(2) 9385 6551
Abstract
Aims: Fast oscillation (FO) measurement is described but not required in the ISCEV standard 
electro-oculogram (EOG). Vaegan (1995) found the EOG scores were independent, that 4 FO 
cycles were enough and replaced preadaptation without affecting test time or clinical utility. 
Vaegan and Beaumont (1996) found small FOs in most cases of retinitis pigmentosa (RP) but 
seldom in 13 other classes of disease. We used tighter controls of stimulation and diagnosis, 
to reexamine these relationships in a much larger sample. Methods: 1029 complete EOGs were 
recorded with definite diagnosis in 956 cases classified into 14 major clinical groups. Pupils 
were dilated > 8mm. Impedance was <3 kohm. Ganzfeld background was 200 cd.m-2. Each FO 
1 min phase commenced immediately after 15 sec of eye movements. We recorded a running 
average of maximum excursion amplitudes in the preceding 4sec. There were 2 to 7 cycles of 
light (200 cd.m-2) and complete dark phases preceding the EOG. The first cycle was ignored. 
The maximum amplitude in all dark and light phases and dark trough and light peak times were 
recorded. We calculated the FO (mean dark/light) for increasing numbers of cycles and the Arden 
ratio for each eye. All outlying data was checked for accuracy. Cases with missing scores were 
rejected. Principal component factor analysis was applied and normal ranges of scores plotted 
across major groups. Results: Correlations between and within eyes were similar. Five factors 
emerged. Amplitude, weighing equally on dark trough and light peak, accounted for 22% of the 
variance. The other factors, loading on the FO, the Arden ratio and the two times accounted for 
about ca 16% each. Amplitude correlated positively with the FO and negatively with the Arden 
Ratio in the orthogonal solution. Amplitudes and Arden Ratios were abnormal in many clinical 
groups and most frequently in RP (>85%) but times had low variance and no correlation to dis-
ease. The FO was low in >75% of RP cases and <20% in other diseases. Conclusion: The FO is 
an independent EOG parameter with a unique place in clinical electrodiagnosis. It is sensitive to 
and specific for RP and can be recorded in < 12 min, replacing preadaptation . A combination of 
an abnormal FO and an abnormal standard EOG (Arden ratio and/or amplitude) is very specific to 
RP. The electroretinography, by contrast, takes longer and is only reduced proportionately more 
than is expected from the field loss, in around 50% of cases. An EOG, including an FO, therefore 
has an important place in RP diagnosis, especially for patients with early disease and especially 
children and who cannot accept ERG electrodes of electroretinography.
Key-words: electro-oculogram, retinitis pigmentosa, fast oscillation, retinal disease, diagnosis, 
adaptation.
Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 23
Aims
To re-examine the number of light/dark cycles 
required for reliable testing of the fast oscillation 
(FO); to demonstrate the statistical independence of 
various EOG parameters; and to determine the rates 
of abnormal responses for Arden ratio and FO in 
various disease states, using a much larger sample, 
tighter controls of stimulation and diagnosis, than in 
a previous study.
Background
In Animal studies on the Fast Oscillation, Linsen-
meier and Steinberg compared vitreal, intracellular 
and sub retinal pigment epithelium recordings in the 
cat after light exposure (Figure 1). The intraretinal 
fast oscillation trough (FO) [1], measured between 
the c-wave and the light peak in the transepithelial 
recordings, reflects delayed basal hyperpolarisa-
tion of the RPE. This trough largely accounts for a 
corresponding trough in the vitreal recordings. The 
delayed basal hyperpolarisation, like the light rise, 
is thought to result from the transmission of a sub-
stance in the subretinal space which accumulates as 
the photoreceptors depolarize in response to light, 
to the RPE via a second messenger system which 
leads to a light evoked decrease in Cl- channels at 
the basement

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