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neurociências Neuroimunologia Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro Movimentos oculares no bebê Marcelo Fernandes da Costa Diagnóstico da retinite pigmentada Vaegan, Paul Beaumont Ondas de visão Bruno Duarte Gomes, Luiz Carlos de Lima Silveira A prática mental no contexto da fisioterapia neurológica Sergio Machado et al. Riboflavina e hipertensão arterial Camille Feitoza França, Lucia Marques Vianna www.atlanticaeditora.com.br JANEIRO • MARÇO de 2009 • Ano 5 • Nº 1 N e u ro c iê n c ia s - V o lu m e 5 - N ú m e ro 1 - Ja n e iro / M a rço d e 2 0 0 9 ISSN 1807-1058 neuroneurociências Neurociências e relações interpessoais Fabio Biasotto Feitosa Duloxetina e depressão do idoso Michele Mancini Psicofísica visual Marcelo Fernandes da Costa Memória de prática de Libras Sonia Yara Brunswick Vallado Reabilitação vestibular Paulo Cesar Nunes Junior et al. Eletrofisiologia visual Givago da Silva Souza et al. Tumor no vermis cerebelar Cyntia Rogean de Jesus Alves et al. www.atlanticaeditora.com.br ABRIL • JUNHO de 2009 • Ano 5 • Nº 2 N e u ro c iê n c ia s - V o lu m e 5 - N ú m e ro 2 - A b ril/ Ju n h o d e 2 0 0 9 ISSN 1807-1058 neurociências Mecanismos neuropáticos no lúpus eritematoso sistêmico Luiz Fernando de Souza Passos Determinação da atividade da GABA-T Cibelly da Graça Amoras et al. Adaptação sensorial no controle postural José Angelo Barela et al. Transtorno afetivo bipolar Stevin Zung, Quirino Cordeiro, Homero Vallada Neurotoxicidade dos solventes orgânicos Eliza Maria da Costa Brito Lacerda et al. www.atlanticaeditora.com.br JULHO • SETEMBRO de 2009 • Ano 5 • Nº 3 N e u ro c iê n c ia s - V o lu m e 5 - N ú m e ro 3 - Ju lh o / S e te m b ro d e 2 0 0 9 ISSN 1807-1058 neurociências Ia JORNADA FLUMINENSE SOBRE COGNIÇÃO IMUNE E NEURAL História da imunologia cognitiva Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Yuri Chaves Martins Os princípios da mente e da personalidade Diogo Rizzato Lara Relações entre comportamento e imunidade João Palermo Neto, Frederico Azevedo da Costa-Pinto Fisiopatologia da atividade imunológica Nelson Monteiro Vaz Mimetismo apoptótico Poliana Deolindo, Marcello A. Barcinski Sintaxe comum e conexões imunoneuroendócrinas Wilson Savino www.atlanticaeditora.com.br OUTUBRO• DEZEMBRO de 2009 • Ano 5 • Nº 4 N e u ro c iê n c ia s - V o lu m e 5 - N ú m e ro 4 - O u tu b ro / D e ze m b ro d e 2 0 0 9 ISSN 1807-1058 Sumário Volume 5 número 1 - janeiro/março de 2009 EDITORIAL “Neuroimunologias”, Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro ............................................................................... 3 OPINIÕES Cem trilhões de sinapses, Marcus Vinícius C. Baldo ............................................................................. 6 Ondas de visão, Bruno Duarte Gomes, Luiz Carlos de Lima Silveira ........................................................ 8 Reabilitação visual: tateando no escuro das funções visuais, Marcelo Fernandes Costa ................................................................................................................. 11 Percepção e ação imaginadas, Mirella Gualtieri ................................................................................. 13 Neurogênese no cérebro adulto: a morte de um dogma e o sonho de Cajal, Walace Gomes Leal ......................................................................................................................... 16 Antecipando a vez, Sergio Neuenschwander ...................................................................................... 20 ARTIGOS ORIGINAIS Diagnostic use and independence of the fast oscillation relative to other electro-oculogram parameters: a specific sensitivity to retinitis pigmentosa, Vaegan, Paul Beaumont ................................................................................................ 22 Estudo prospectivo na demência do tipo Alzheimer, Aurilene de S. Guerra, Amdore G. Assano, Aucilene N. de Siqueira, João Carlos Alchieri ......................................................... 28 REVISÕES Movimentos oculares no bebê: o que eles nos indicam sobre o status oftalmológico e neurológico, Marcelo Fernandes da Costa .................................................................. 33 Riboflavina no controle da hipertensão e no acidente vascular encefálico, Camille Feitoza França, Lucia Marques Vianna .................................................................................... 40 A prática mental no contexto da fisioterapia neurológica, Sergio Machado, Mariana Pacheco, Victor Hugo Bastos, Pedro Ribeiro .......................................................................... 46 NORMAS DE PUBLICAÇÃO .......................................................................................................... 55 EVENTOS ....................................................................................................................................... 57 Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20092 © ATMC - Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. 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Revista Multidisciplinar das Ciências do Cérebro Editor: Luiz Carlos de Lima Silveira, UFPA Editor associado: Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Fiocruz Editor-assistente: Daniel Martins de Barros, HC-USP Presidente do conselho editorial: Roberto Paes de Carvalho, UFF Conselho editorial Aniela Improta França, UFRJ (Neurolingüística) Carlos Alexandre Netto, UFRGS (Farmacologia) Cecília Hedin-Pereira, UFRJ (Desenvolvimento) Daniela Uziel, UFRJ (Desenvolvimento) Dora Fix Ventura, USP (Neuropsicologia) Eliane Volchan, UFRJ (Cognição) João Santos Pereira, UERJ (Neurologia) Koichi Sameshima, USP (Neurociência computacional) Leonor Scliar-Cabral, UFSC (Lingüística) Lucia Marques Vianna, UniRio (Nutrição) Marco Antônio Guimarães da Silva, UFRRJ/UCB (Fisioterapia e Reabilitação) Marco Callegaro, Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (Psicoterapia) Marco Antônio Prado, UFMG (Neuroquímica) Rafael Linden, UFRJ (Neurogenética) Rubem C. Araujo Guedes, UFPE (Neurofisiologia) Stevens Kastrup Rehen, UFRJ (Neurobiologia Celular) Vera Lemgruber, Santa Casa do Rio de Janeiro (Neuropsiquiatria) Wilson Savino, FIOCRUZ (Neuroimunologia) Neurociências é publicado com o apoio de: SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) Presidente: Marcus Vinícius C. Baldo www.sbnec.org.br ISSN 1807-1058 Administração e vendas Antonio Carlos Mello Assistente de vendas – Atendimento Márcia P. Nascimento melloassinaturas@uol.com.br Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP Atendimento (11) 3361 5595/3361 9932 E-mail: melloassinaturas@uol.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 180,00 www.eventoserevistas.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente – Publicidade Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: artigos@atlanticaeditora.com.brNeurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 3 Editorial Publicações sobre diferentes aspectos das interações anatômicas e fun- cionais entre os sistemas cognitivos nervoso e imune proliferaram desde os trabalhos pioneiros do endocrinologista canadiano de origem austro-húngara Hans Selye (1907-1982) nos anos 30. Selye caracterizou o impacto do estres- se no sistema imune, descrevendo, em animais de experimentação subme- tidos a condições físicas e mentais adversas, uma “síndrome de adaptação geral” que se traduzia pelo aumento do volume das glândulas supra-renais em contraste com a atrofia tímica e dos linfonodos [1]. Nos anos 70, o psicólogo americano Robert Ader, considerado pai da Psicoimunologia, estendeu, junto com Nicholas Cohen, a noção de reflexo condicionado no sistema nervoso, proposta pelo médico e naturalista russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) em 1903 [2], ao funcionamento do sistema imune. Ader & Cohen mostraram a estupefatos imunologistas do mundo inteiro que ratos que recebiam água adoçada com sacarina simultaneamente a uma injeção da droga imunossu- pressora ciclofosfamida (que causa náusea) desenvolviam, como esperado, aversão à água doce. Para a grande surpresa dos autores, entretanto, quando a sede se tornou maior do que a aversão, alguns dos animais que beberam a água adoçada pela sacarina tornaram-se imunossuprimidos e morreram de infecções, sem terem sido expostos a nenhuma droga capaz de deprimir a resposta imune [3]! Outro marco, sem nenhuma dúvida, foram os trabalhos do Hugo Besedovsky nos anos 70 apontando os efeitos do sistema imune sobre o sistema endócrino, ilustrados, em animais de experimentação, pela capacidade da timectomia neonatal em causar atrofia dos órgãos sexuais [4]. No início dos anos 80, pesquisas de David Felten na Universidade de Indiana nos Estados Unidos da América mostraram a existência de conexões nervosas com vasos sanguíneos e de terminações nervosas próximas a grupamentos de células imunes, macrófagos e mastócitos no timo, provendo as primeiras evidências de como operariam as interações neuroimunes. A demonstração de receptores de neuropeptídeos em linfócitos pela neurofarmacologista americana Candace Beebe Pert em 1946 [5] e de receptores de citocinas em neurônios [6] nos anos 90 pavimentam a estrada que levava ao reconhe- cimento de bases anatômicas e funcionais para essa neuroimunologia que poderíamos chamar de “clássica”. Um livro texto em dois volumes publicado por Ader, Cohen e Felten em 1991 torna-se referencial para os interessados no assunto - há uma edição de 2007 [7] - e termos como “Neuroimunologia”, “Neuroimunomodulação”, “Neuroimunoendocrinologia”, “Psicoimunologia” e “Psiconeuroimunologia” tornam-se um lugar-comum que assiste, com vigor, raiar o terceiro milênio. “Neuroimunologias” Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, Editor associado Médico, Doutor em Biologia Humana (Imunologia), Pesqui- sador Titular da Fiocruz e do CNPq, Coordenador do Centro de Pesquisa, Diagnóstico e Treinamento em Malária e Professor de Imunologia no Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro Endereço para correspondên- cia: Tel/Fax (21) 3865-8145, ribeiro@ioc.fiocruz.br Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20094 São da competência de uma neuroimunologia mais antiga e familiar tanto a patologistas quanto a neurologistas e imunologistas clínicos os estudos do envolvimento e dano do sistema nervoso em doenças causadas ou mediadas por fenomenologia imune como o lúpus eritematoso sistêmico, a sarcoidose e a ataxia telangiectásica, para ficar só em exemplos tradicionais. Pode-se, por outro lado, incluir no território de uma neuroimunologia das patologias infecciosas os trabalhos que envolvem aspectos ou abordagens imunológicas do comprometimento cerebral em doenças causadas por agentes infecciosos e parasi- tários com tropismo para o tecido neural. Em países pobres a lista é imensa: as meningites infecciosas, a neurosífilis, a doença da arranhadura do gato, a raiva, as doenças causadas por príons, como a Doença de Creutzfeldt-Jakob (a doença da vaca lou- ca), a neurocisticercose, a triquinose, a hidatidose cerebral, a estrongiloidíase e angiostrongiloidíase, a meningoencefalite amebiana, a toxoplasmose ce- rebral, as tripanosomíases, sobretudo a africana... para citar as mais conhecidas. Nessa mesma cate- goria de neuroimunologia de infecções, poder-se-iam classificar as pesquisas sobre o comprometimento cerebral, que ocasionalmente acompanha doenças causadas por agentes infecciosos e parasitários sem grande ou nenhum tropismo para o tecido nervoso, e que é mediado por uma dramática resposta imune e inflamatória decorrente do processo infeccioso. O exemplo referencial permanece a malária cerebral que, felizmente rara em nosso país onde ainda se registram algumas centenas de milhares de casos da parasitose [8], responde, junto com a anemia grave, pela maioria dos óbitos de crianças atribuídos à doença em áreas hiperendêmicas na África e Ásia [9]. A aparição e disseminação da AIDS nas últimas décadas do século passado socializaram as gravís- simas formas cerebrais de doenças parasitárias e fúngicas associadas a ela. Tais tipos de neuroimu- nologia concernem, infelizmente, estados mórbidos mais comuns e graves em populações desprovidas de condições socioeconômicas e sanitárias condi- zentes com a dignidade, abundantes em países do hemisfério sul. É possível reconhecer, sem dificuldade nem exa- gero, expertise e mesmo certa tradição na condução de pesquisas em todas essas “neuroimunologias”, que são evidentemente de abordagem potencial em um periódico com o perfil da Neurociências, em um país como o nosso. Afinal, tal qual uma “Belíndia”, o Brasil reúne virtudes de países desenvolvidos (como a Bélgica) e problemas dos em desenvolvimento (como a Índia): o desenvolvimento tecnológico, recursos humanos capacitados para a condução de pesquisa de alto padrão nas fronteiras do conhecimento, a baixa natalidade, o aumento da expectativa de vida e os problemas de saúde predominantemente crônico- degenerativos dele decorrentes versus os baixos índices de desenvolvimento humano e de educação, uma expectativa de vida significativamente menor, alta natalidade, condições sanitárias inadequadas e a exuberante e diversa plêiade de patologias tropicais resultante. Por outro lado, parece haver nas neurociências uma lacuna a ser preenchida por uma neuroimuno- logia que ousaríamos conceituar de “cognitiva” [10] voltada ao estudo de semelhanças e diferenças nos mecanismos e fenômenos cognitivos (específicos) dos processos de reconhecimento de objetos do mundo real (inclusive de micróbios...) nos sistemas nervoso e imune. Para tal reconhecimento, os siste- mas cognitivos valem-se de dois tipos de imagens. Um primeiro tipo é o das “ imagens complementares” que têm dos objetos. Deste modo, receptores mobi- lizáveis na percepção de todo e qualquer estímulo de nossos sentidos assim como imunoglobulinas e receptores de linfócitos T estão programados para reconhecer, de forma complementar e específica os estímulos que recebem diuturnamente. Tais imagens operariam em complementaridade com o “objeto” a ser reconhecido, tal qual a mão e a luva, a chave e a fechadura, o pé e a pegada na areia, a faca e a ferida causada por ela, como gosta de dizer Irun Cohen em seu fabuloso Tending Adam’s garden [11], ou ainda o antígeno Duffy e a proteína DBP do Plasmodium vivax [12] e a molécula CD4 e o ligante correspondente no vírus da AIDS (HIV) [13]. Outro tipo de imagem da qual os sistemas cognitivos parecem também se valer corresponde às “imagens em espelho” ou “imagens internas”, já demonstradas de forma inequívoca no sistema imune, no que se convencionou chamar de rede idiotípica, e que seriam construídas com a expe- riência no sistema nervoso para que ele seja capaz de (re)conhecer o que já conhece. Neurociências, atenta também a essa“quarta via”, publicou recentemente um número temático [14] dedicado ao assunto com um artigo sobre o uso de imagens pelos sistemas cognitivos imune e neural e sete comentários de cientistas de diferentes áreas; da genética à exobio- logia, da neuroquímica à filosofia e da antropologia à imunologia. Da mesma forma, um artigo [15] no último número de nossa revista chama a atenção para a visão de que o sistema imune, não teria, nos Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 5 processos cognitivos de que se vale, os finalismos que se lhe atribuem usualmente. É na tentativa de contribuir para o preenchimento dessa lacuna com a aproximação de imunologistas, neurocientistas e neuroimunologistas de renome e prestígio internacionais e fomentar a formação de jovens profissionais e estudantes nessa “neuroimu- nologia cognitiva” que os Editores de Neurociências decidem criar um fórum de discussão sobre as cog- nições imune e neural. Assim, nasce a “I Jornada Fluminense sobre Cognição Imune e Neural” prevista para ocorrer em 11 de agosto de 2009 em Niterói RJ e ser objeto de número temático da revista com os artigos referentes às conferências do evento. É natural que Neurociências, conhecedora da vitalidade dos grupos brasileiros com excelência nes- sas diferentes “neuroimunologias” e empenhada na promoção da interação entre cientistas de diferentes backgrounds (neuroimunologistas ou não), abra seu espaço e estimule publicações nestes temas. Faze- mos isso com óbvio prazer e na esperança de estar despertando curiosidade e interesse em nosso meio e fomentando a formação de jovens grupos nas su- báreas das neurociências mais carentes de recursos humanos e de estudos, como a “neuroimunologia cognitiva”. Referências Selye H. A syndrome produced by diverse nocuous 1. agents. 1936. J Neuropsychiatry Clin Neurosci 1998;10(2):230-1. Pavlov IP. Physiology of Digestion. Nobel Lecture. The 2. Nobel Prize in Physiology or Medicine 1904. [citado 2009 mar 16]. Disponível em: http://nobelprize. org/nobel_prizes/medicine/laureates/1904/pavlov- lecture.html. Ader R, Cohen N. Behaviorally conditioned immunosu-3. ppression. Psychosom Med 1975;37(4):333-40. Besedovsky HO, Sorkin E. Thymus involvement in fema-4. le sexual maturation. Nature 1974;249(455):356-8. Pert CB, Ruff MR, Weber RJ, Herkenham M. Neuro-5. peptides and their receptors: a psychosomatic ne- twork. J Immunol 1985;135(2Suppl):820s-6s Sawada M, Itoh Y, Suzumura A, Marunouchi T. Expres-6. sion of cytokine receptors in cultured neuronal and glial cells. Neurosci Lett 1993;160(2):131-4. Ader R. Psychoneuroimmunology. 4th Edition. New 7. York: Academic Press; 2007. 1269 pp. Secretaria de Vigilância em Saúde. Sivep Malária. 8. Resumo Epidemiológico por local de notificação – Na- cional. [citado 2009 mar 16]. Disponível em: http:// dw.saude.gov.br/portal/page/portal/sivep_malaria/ TAB99449:tab_resumo_n?Ano_n=2009. Roca-Feltrer A, Carneiro I, Armstrong Schellenberg JR. 9. Estimates of the burden of malaria morbidity in Africa in children under the age of 5 years. Trop Med Int Health 2008;13(6):771-83. Daniel-Ribeiro CT, Martins YC. Imagens internas e 10. reconhecimento imune e neural de imagens externas: os caminhos e contextos das redes biológicas de cognição para a definição da identidade do indivíduo. Neurociências 2008;4(3): 117-148. Cohen I. Cognitive images in Tending Adam’s Garden: 11. evolving the cognitive immune system. London: Aca- demic Press; 2000. p.70. Chaudhuri A, Zbrzezna V, Johnson C, Nichols M, 12. Rubinstein P, Marsh WL, Pogo AO. Purification and characterization of an erythrocyte membrane protein complex carrying Duffy blood group antige- nicity. Possible receptor for Plasmodium vivax and Plasmodium knowlesi malaria parasite. J Biol Chem 1989;264(23):13770-4. Sattentau QJ, Weiss RA. The CD4 antigen: physiologi-13. cal ligand and HIV receptor. Cell 1988;52(5):631-3. Neurociências 2008; 4(3):115-77.14. Vaz NM. Imunologia: uma harmonia de ilusões. Neu-15. rociências 2008;4(4):196-204. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20096 Opinião Cem trilhões de sinapses Marcus Vinícius C. Baldo Laboratório de Fisiologia Sensorial “Roberto Vieira”, ICB-USP, Presidente da SBNeC (Gestão 2008-2011) Endereço para correspondên- cia: baldo@usp.br Correm, em nossas veias e artérias, 10 trilhões de glóbulos vermelhos. Juntos, eles cumprem muito bem o seu papel, o qual depende monotonica- mente (embora não linearmente) do número de células circulantes. Curiosa- mente, esse número é cem vezes maior que o total estimado de neurônios que possuímos, os famosos cem bilhões. No entanto, como é possível que um conjunto cem vezes menor de células possa ir tanto além do transporte de gases, compondo sinfonias, recriando o Big Bang, construindo – e devas- tando – civilizações? A resposta, em grande parte, repousa sobre um conceito simples e fundamental: comunicação. Palavra de origem latina que significa “tornar comum”, ou seja, trocar, compartilhar. A mera existência de comunicação entre os nossos neurônios – a sinap- se – faz do conjunto algo radicalmente diferente da simples soma de seus elementos. As sinapses criam um sistema interagente cujo comportamento transcende qualitativamente a contribuição individual de suas unidades. Na verdade, enquanto uma hemácia já pode cumprir, individualmente, seu papel infinitesimal, um neurônio isolado serve absolutamente para nada! É apenas da cooperação estampada em uma rede neuronal, graças às suas interações sinápticas, que emerge a complexidade necessária para que possamos com- por uma sinfonia, recriar o Big Bang e construir uma civilização. Mais do que isso, é graças a uma comunicação flexível e plástica entre os neurônios que podemos aprender com os próprios erros e com os erros alheios, passando a compor sinfonias ainda mais ricas, corrigindo as teo- rias e os aceleradores que recriam o Big Bang e, esperamos, evitando que a nossa civilização seja devastada por nós mesmos. É por meio de nossas sinapses que tentamos aprender o que é o universo, e é também por meio delas que aprendemos quem somos. Por isso, todos os anos repito a mes- ma coisa aos meus alunos: da próxima vez em que alguém perguntar quem você é, responda, sem hesitar, “eu sou as minhas sinapses”. E é um tanto paradoxal que seguimos perscrutando e tentando compreender os meandros de nosso cérebro, o qual é justamente aquilo que nos permite compreender alguma coisa. Se por metáfora do cientista imaginamos alguém que aponta sua lupa para a natureza, nós, neurocientistas, empunhamos nossa lupa à frente do espelho. A propósito, falando de metáforas e de neurocientistas, podemos nos perguntar: somos neurônios ou somos hemácias? Não há qualquer dúvida a respeito de nossas contribuições individuais (ainda que infinitesimais). Temos assistido a uma grande expansão da neurociência brasileira, graças, principal- mente, à formação de jovens neurocientistas (muitos ainda desempregados). Sim, temos feito a nossa parte, tal como as hemácias; algumas vezes até nos juntamos em grumos, o que, em nosso caso, pode ser benéfico. Mas ainda Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 7 estamos longe de constituir uma rede interagente, em que a comunicação seja a moeda corrente, e de onde possa emergir uma comunidade neurocientífica que vá muito além da soma de suas partes. A Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC), em seus trinta e um anos de existência, possui atualmente um cadastro com pouco mais de 1700 sócios, entre pesquisadores, profissionais e alunos de graduação e pós-graduação. Embora crescente, esse número é ainda inferior aos mais de 2500 inscritos no I Congresso de Neurociên- cias da América Latina, Caribe e Península Ibérica (I NeuroLatAm), realizado recentemente em Búzios; é, também, muitíssimo inferior aos mais de 124 mil cur- rículos encontrados, na Plataforma Lattes, a partir da palavra-chave“neurociência”. Ou seja, a SBNeC está anêmica. Pior que isso: estamos desconectados! Se o número de neurônios é 100 vezes inferior ao de hemácias, o número estimado de sinapses – 100 trilhões – supera em dez vezes este último. Ou seja, este parece ser o segredo: cada um de nós conectar-se a 1000 outros neurocientistas! Falo, aqui, de cooperação, intercâmbio, troca de conheci- mento e de experiências, e não de 999 “co-autores” pegando carona na publicação do trabalho realizado pelo milésimo. E para que sinapses, estáveis e fun- cionais, possam se formar, tudo o que a neurociência brasileira precisa é de informação. Novamente, tudo o que precisamos é de comunicação. Este é um pro- jeto de longo prazo, mas que precisa começar agora, colocando os neurocientistas brasileiros em um único e grande mapa, onde todos possam encontrar e ser encontrados. Se você é neurocientista e prefere ser visto como um neurônio e não como uma hemácia (com toda a consideração que elas merecem), faça a sua parte! Mas, caso não tenha muita certeza do que fazer, não hesite em me perguntar (baldo@usp.br). Aguardo seu contato (quem sabe vira uma sinapse?). Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 20098 Opinião Ondas de visão Bruno Duarte Gomes*, Luiz Carlos de Lima Silveira** *Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológi- cas, Campus Universitário do Guamá, 66075-900 Belém PA, **Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Fisiologia e Núcleo de Medicina Tropical Endereço para correspondên- cia: Luiz Carlos de Lima Silveira, Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Av. Generalíssimo Deodoro 92, 66055-240 Belém PA, E-mail: luiz@ufpa.br O conhecimento oriundo da pesquisa em Neurociência tem gerado aplica- ções de inquestionável importância em vários aspectos da atividade humana, em especial no cuidado à saúde, com técnicas cada vez mais sensíveis e específicas para diagnósticos e prognósticos utilizados em pacientes sofrendo de doenças do sistema nervoso. Além do que, dentro das ciências naturais, a Neurociência surge também como uma necessidade do ser humano em responder perguntas como: como e por que pensamos, lembramos de fatos antigos ou recentes, sentimos, desejamos? O que é a consciência e como ela se desenvolve no encéfalo? Tanto para as futuras aplicações, quanto para uma resposta, se não completa, mas ao menos aproximada a essas perguntas, o entendimento de como exatamente funciona o córtex cerebral é provavelmente o passo mais importante. Existem várias frentes de trabalho na busca pela compreensão de como funciona o encéfalo, alguns dedicando-se a temas como os mecanismos subjacentes à percepção, às emoções, à motivação, ao controle motor, ao aprendizado, à memória, abordando esses temas com o desenvolvimento de novas técnicas e novos equipamentos para registrar o funcionamento dos neurônios, assim como a formulação de novas teorias a serem testadas experimentalmente sobre o funcionamento neural. O estudo dos sistemas sensoriais é uma parte importante dessa busca, com destaque para o sis- tema visual, dada a importância desse sentido para o dia-a-dia do ser huma- no. Como é bem sabido, a importância desse sistema sensorial para nós, primatas, reflete-se na impressionante extensão de área cortical dedicada direta e indiretamente à visão [1-5]. Tanto para a visão quanto para outros sentidos, a constatação da existência de mapas corticais de representação topográfica da função sensorial, teve conseqüências fundamentais no enten- dimento da função cortical. No caso do sistema visual esses mapas foram delimitados na área visual primária (V1) e nas demais áreas visuais do córtex cerebral no trabalho exaustivo realizado em muitos laboratórios por vários pesquisadores [1-5], entre eles os detentores do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina de 1981, David H. Hubel e Torsten N. Wiesel [1], os quais tam- bém mostraram que diferentes propriedades funcionais da visão podem ser mapeadas topograficamente como bem demonstram a estrutura das colunas corticais de processamento de forma e movimento de estímulos simples [1]. Os trabalhos de Hubel e Wiesel deixaram de modo muito claro que o padrão espaçotemporal de ativação de conjuntos específicos de neurônios corticais constitui o código que representa os estímulos sensoriais. Os padrões espaçotemporais de ativação cortical em áreas sensoriais têm sido explorados recentemente por uma variedade de trabalhos usando a técnica de marcação com corantes sensíveis à voltagem (VSD, voltage- Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 9 sensitive dye) [6-10]. A VSD é uma técnica de image- amento óptico que permite visualizar em alta resolu- ção temporal e espacial, os padrões de ativação do córtex cerebral in vivo através do registro de ondas de excitação ou ondas de propagação cortical. Na VSD a área cortical a ser analisada é exposta e marcada com o corante sensível à voltagem. As moléculas do marcador ligam-se à superfície externa das mem- branas celulares e atuam como transdutores eletro- ópticos ou seja transdutores de variações elétricas em sinais ópticos através das alterações na absorção ou emissão fluorescente que ocorrem na escala de microsegundos. Essas alterações são monitoradas por detectores ópticos quando a superfície cortical marcada é iluminada com luz de comprimento de onda correspondente ao pico de excitação espectral do corante usado. A partir daí é construída uma se- qüência de imagens das variações da fluorescência do córtex cerebral que correspondem às variações de voltagem, utilizando-se uma câmara de altíssima resolução temporal [10-11]. Xu et al. publicaram os resultados de seus trabalhos com VSD mostrando o padrão de variação espaçotemporal de ondas de propagação cortical em V1 e V2 de ratos anestesiados [10]. Neste estudo, já influente entre os pesquisadores da área, as ondas são produzidas mediante estimulação com redes quadradas acromáticas em movimento (drifting gra- tings). As ondas de propagação cortical mostradas por Xu et al. indicam uma variação espaço-temporal estereotipadas que inicia com a produção de uma onda primária, com latência de aproximadamente 100 ms (99,8 ± 18,2 ms), em uma pequena área de representação retinotópica monocular de V1, e que se espalha depois por toda a área primária, propagando-se em direção à V2 onde, na borda entre V1 e V2 sofre uma redução de velocidade e uma forte compressão. Após a compressão, uma onda é então produzida em V2 e se propaga até V1. Essa segunda onda foi chamada pelos autores de onda refletida. Pode-se descrever o que foi observado por esses pesquisadores numa região do córtex cerebral que continha uma parte de V1 e V2 separadas por uma fronteira sinuosa porém contínua. O início da onda de despolarização primária em V1 é vista como um clarão que inicia 100 ms após o início do movimento do estímulo visual periódico espaçotemporal, a drifting grating. Esse clarão propaga-se em alta velocidade tal qual uma onda de choque em direção a V2, sofrendo na fronteira entre V1 e V2 uma redução de veloci- dade e um estreitamento. Logo após, uma onda se inicia já em V2 de modo quase contínuo à região do estreitamento que se encontra em V2 e se propaga com forte intensidade e velocidade em direção à V1, causando uma despolarização em toda a área V1/V2 analisada. Xu et al. observaram o mesmo padrão de propagação das ondas corticais em vários animais e, em cada animal, com várias varreduras. Tanto a onda primária quanto a refletida puderam ser claramente discernidas usando quatro detectores ópticos de um total de 464 usados. O estudo de Xu et al. mostrou ainda que de modo similar ao que ocorre com as ondas do potencial cortical provocado visual registrado com eletródios eletroencefalográficos posicionados no couro ca- beludo [12-13], a probabilidade de produzir a onda primária e portantotodo o padrão de propagação observado, diminuía com a redução de tamanho e contraste da rede apresentada. Finalmente, o estudo destaca ainda a imensa diferença entre os padrões de propagação provocados por estimulação e aqueles espontâneos. Em comparações repetidas usando os mesmos animais, as ondas espontâneas demonstra- ram ser mais rápidas do que as ondas provocadas. Além disso, iniciam-se em pontos variados e possuem padrão de propagação em várias direções. Nenhuma compressão foi observada com as ondas de propa- gação cortical espontâneas. Um outro achado bastante interessante foi o fato de que resultados similares aos encontrados com pro- pagação cortical espontânea foram obtidos mediante a estimulação com as redes quando Xu et al. injeta- ram na superfície cortical estudada pequenas doses de bicuculina, um antagonista de receptores GABA A , um dos principais grupos de receptores ligantes do ácido gama aminobutírico (GABA), o aminoácido que constitui o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central. Sob influência da bicuculina, ocorreu a produção da onda primária mas, no entanto, não houve compressão ou reflexão. Esse resultado sugere um papel crítico para a inibição devida à libe- ração de GABA no comportamento espaçotemporal da resposta visual e mostra de modo elegante o balanço dinâmico entre excitação e inibição das redes neurais corticais em atividade por estimulação visual tal como ocorre na borda V1/V2 do sistema visual. As “ondas de visão” de Xu et al. mostram de forma sólida que pelo menos quando se considera grandes populações de neurônios, o padrão espa- çotemporal de ativação de áreas corticais contém o código no qual está representada a informação sensorial no córtex cerebral visual. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200910 Referências Hubel DH, Wiesel TN. Receptive fields, binocular 1. interaction and functional architecture in the cat’s visual cortex. J Physiol (London) 1962;160:106-54. Gross CG, Bender DB, Rocha Miranda CEG. Visual 2. receptive fields of neurons in inferotemporal cortex of the monkey. Science (New York) 1969;166:1303-6. Gross CG, Rocha Miranda CE, Bender DB. Visual prop-3. erties of neurons in the inferotemporal cortex of the macaque. J Neurophysiol 1972;35:96-111. Van Essen DC, Maunsell JHR. Hierarchical organiza-4. tion and functional streams in the visual cortex. TINS 1983;6:370-5. Gattass R, Nascimento Silva S, Soares JGM, Lima B, 5. Amorim AKJ, Diogo ACM, Farias MF, Moura MM, Bo- telho EP, Mariani OS, Azzi JCB, Fiorani Jr M. Cortical visual areas in monkeys: location, topography, con- nections, columns, plasticity and cortical dynamics. Philo Trans Royal Soc 2005;360:709-31. Delaney KR, Gelperin A, Fee MS, Flores JA, Gervais R, 6. Tank, DW, Kleinfeld D. Waves and stimulus-modulat- ed dynamics in an oscillating olfactory network. Proc Natl Acad Sci USA 1994; 91:669-73. Freeman WJ, Barrie JM. Analysis of spatial patterns 7. of phase in neocortical gamma EEGs in rabbit. J Neu- rophysiol 2000; 84:1266-78. Arieli A, Shoham D, Hildesheim R, Grinvald A. Co-8. herent spatiotemporal patterns of ongoing activity revealed by real-time optical imaging coupled with single-unit recording in the cat visual cortex. J Neuro- physiol 1995;73:2072-93. Roland PE, Hanazawa A, Undeman C, Eriksson D, 9. Tompa T, Nakamura H, Valentiniene S, Ahmed B. Cortical feedback depolarization waves: A mechanism of top-down influence on early visual areas. Proc Natl Acad Sci 2006;103:12586–91. Xu W, Huang X, Takagaki K, Wu JY. Compression and 10. reflection of visually evoked cortical waves. Neuron 2007;55:119-29. Grinvald A, Hildesheim R. VSDI: a new era in function-11. al imaging of cortical dynamics. Nature Rev Neurosci 2004;5:874-85. Gomes BD, Souza GS, Rodrigues AR, Saito CA, 12. Silveira LCS, Silva Filho M. Normal and dichromatic color discrimination measured with transient VEP. Vis Neurosci 2006;23:617-27. Souza GS, Gomes BD, Saito CA, da Silva Filho M, 13. Silveira LCL. spatial luminance contrast sensitivity measured with transient vep: comparison with psy- chophysics and evidence of multiple mechanisms. Inv Ophthalmol Vis Sci 2007;48:3396-404. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 11 Opinião Reabilitação visual: tateando no escuro das funções visuais Marcelo Fernandes Costa Departamento de Psicologia Experimental, Instituto de Psi- cologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Núcleo de Neurociências e Comportamen- to, Universidade de São Paulo Endereço para correspondên- cia: Marcelo Fernandes da Costa, Universidade de São Paulo, Instituto de Psicologia Av. Prof. Mello Moraes, 1721, Bloco A, sala D-9 05508-900 São Paulo SP, Tel: (11) 3091 1915, E-mail:costamf@usp.br A área de estimulação visual precoce é praticamente empírica. Isto se deve por vários motivos dos quais acredito serem três os que mais contribuem para tal: 1) Poucos são os profissionais com formação aprofundada em sis- tema visual que trabalham com procedimentos de estimulação visual, como oftalmologistas, ortoptistas e tecnólogos em oftalmologia, sendo, na maioria das vezes, realizados por terapeutas com pouca especialização na área visual; 2) As avaliações de função visual são muito limitadas tanto em número de funções avaliadas quanto aos tipos de testes aplicados, já que habitualmente se considera função visual apenas acuidade visual ou de resolução ou de discriminação, medidas psicofisicamente, geralmente utilizando os Cartões de Acuidade de Teller (Stereo Optical, IL, USA) ou métodos semelhantes com pranchas, raquetes etc; 3) Pouco se sabe sobre como o sistema visual processa não só a função visual de discriminação de detalhes, mas outras funções como limiar de detecção no campo visual, visão de cores, visão de contraste, processamento dinâmico e visão de movimento, profundidade entre outras, raramente são avaliadas. Os estudos das capacidades visuais funcionais em grupos de pacientes com baixa visão frequentemente não discriminam os grupos com base em suas patologias e fatores etiológicos, o que diminui muito a possibilidade de se discriminar as capacidades funcionais de cada grupo em específico. Em recente estudo que realizou uma inspeção das características de- mográficas, educacionais e de função visual [1], um dos poucos estudos que avalia outras funções visuais, além da acuidade visual, encontrou uma porcentagem em torno de 44% de crianças com possibilidade de dano na percepção cromática, o que supera, e muito, os 8% encontrado nos homens e 0,5% nas mulheres da população normal, e uma redução na função de sensibilidade ao contraste como um todo para quase todas as crianças. Mesmo quando se tratada habitual avaliação da a acuidade visual, deve- se ter o cuidado de controlar muito bem os grupos envolvidos, suas etiologias para não corrermos o risco de perder informações extremamente importantes para o processo reabilitacional. Avaliamos a acuidade visual de crianças com paralisia cerebral do tipo espástico com a metodologia dos potenciais visuais corticais provocados de varredura (PVCPv) e observamos que a acuidade de resolução é progressivamente pior nos grupos hemiplégico, diplégico e te- traplégico, respectivamente. Não só isso, acuidade tem uma alta correlação intragrupo com as medidas funcionais do quadro motor [2](Costa et al., 2004). No trabalho de Oliveira et al., [3](2004) fica evidente que a melhora compor- tamental observada em bebês prematuros saudáveis quando comparados com bebês nascidos à termo se deve, muito provavelmente, a uma melhor uso da acuidade visual que em ambos não difere pelo método do PVCPv. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200912 Desta forma, é inferido que as áreas de associação devam ser a chave para o entendimentos dos efeitos obtidos pela estimulação visual precoce. Tal achado vai de encontro ao trabalho em modelos animais de Diamond [4](2001). Na hidrocefaliaencontramos uma maior porcentagem de prejuízos na acuidade visual nos pacientes portadores de mielomeningocele, do que nos bebês com hidrocefalia secundária à hemor- ragia intracraniana [5](Costa et al., 2008). Fica, portanto, evidente que há a necessidade de se explorar de maneira mais consistente e con- trolada as diversas funções visuais para se ter um quadro mais claro das reais capacidades visuais dos pacientes. Cada patologia pode afetar o sistema visual de maneiras completamente distintas e em graus diferentes. Somente estudos bem controlados com relação às etiologias, grupos etários e outras importantes variáveis, assim como o entendimento das funções visuais de cor, movimento, contraste, profundidade e visão de detalhes em cada processo patológico é que nos garantirá substrato suficiente para desenvolvermos protocolos de estimulação vi- sual mais focados para cada necessidade específica e, consequentemente, mais eficientes. Referências Lenon J, Harpe R, Biswas S, Lloyd C. Paediatric low-1. vision assessment and management in a specialist clinic in the UK. British Journal of Visual Impairment 2007;25:103-19. Costa MF, Salomão SR, Berezovsky A, de Haro FMH, 2. Ventura DF. Relationship between vision and motor impairment in children with spastic cerebral palsy: new evidence from electrophysiology. Behav Brain Res 2004;149:145-50. Oliveira AGF, Costa MF, Souza JM, Ventura DF. 3. Contrast sensitivity threshold measured by sweep- visual evoked potential in term and preterm infants at 3 and 10 months of age. Braz J Med Biol Res 2004;37:1389-96. Diamond MC. Response of the brain to enrichment. 4. An Acad Bras Ciênc 2001;73:211-20. Costa MF, Munoz FMH, Salomão SR, Ventura DF. 5. Acuidade visual para padrões espaciais periódicos medida pelos potenciais visuais evocados de varre- dura em crianças com hidrocefalia. Neurociências 2008;4:87-92. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 13 Opinião Percepção e ação imaginadas Mirella Gualtieri Mestre em Neurociencias (IPUSP) Instituto de Psicologia, USP Endereço para correspondên- cia: Av. Prof. Mello Moraes, 1721. CEP 05508-900. São Paulo - SP, Brasil. Tel. (11) 3091-8611.], E-mail mirellag@ usp.br Quando alguém “vê”, “escuta” ou “se movimenta” mentalmente esta pessoa está fazendo uso de imagens mentais, um fenômeno essencialmente cognitivo, visto que é independente da estimulação dos receptores sensoriais. A noção de imagens mentais foi por muito tempo um domínio exclusivamen- te explorado em extensas discussões e teorias da filosofia e da psicologia cognitiva. Entre os behavioristas, a existência das imagens mentais como um processo cognitivo legítimo ou “um tipo de pensamento” foi rejeitada por Watson [1] e posteriormente por Pylyshyn [2]. Em 1977, Skinner afirmou não haver evidencias da construção mental de imagens e que construir cópias do mundo ao qual o corpo responde seria desperdício de tempo. No campo das neurociências, contudo, a abordagem do tema é recente. Em uma revisão de 2001, publicada na Nature Neuroscience, Kosslyn, Ganis e Thompson [3] discutem as imagens mentais, à luz da neurociência cognitiva e mostram que as imagens mentais não são apenas um processo de recuperar memórias. A memória é, sem dúvida, essencial para este processo, mas o que possibilita a construção de imagens mentais depende da atividade de diferentes estru- turas encefálicas, compondo uma rede em grande parte semelhante àquela relacionada aos processos de percepção e ação. Em sua revisão, os autores mostram como o uso de ferramentas como ressonância magnética funcional (fRM), tomografia por emissão de pósitron (PET), estimulação magnética transcraniana (TMS) e eletrofisiologia fizeram das imagens mentais um evento fisiológico registrável e vem contribuindo na identificação dos circuitos neurais envolvidos nesse processo e de seus efeitos comportamentais tanto em situações fisiológicas quanto em casos de lesão encefálica. Considerando os achados de uma variedade de trabalhos que aplicaram métodos diferentes, Kosslyn et al. [4] apontam as duas principais conclusões comuns aos diferentes estudos: 1) Os circuitos envolvidos no processo de imagens mentais são comuns àqueles envolvidos na percepção ou ação da modalidade considerada, podendo envolver desde as áreas corticais primárias, e 2) Processos de controle respiratório e de freqüência cardíaca são afetados de forma bastante similar pelas imagens mentais e estímulos perceptuais. Dentre as diferentes modalidades de imagens mentais, a visual é defi- nitivamente a mais estudada e há mais tempo [5,6]. Achados conflitantes e de grande interesse aos pesquisadores da área têm sido observados a partir destes estudos. Em pacientes com lesões corticais de áreas visuais, o acometimento da percepção visual e da visualização de imagens pode ser concomitante ou ocorrer exclusivamente para apenas um dos processos. Alterações concomitantes foram reportadas para aspectos específicos da visão, como cor [7] ou faces [8], indicando que as imagens mentais, assim Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200914 como a percepção, resultam da integração de carac- terísticas específicas que deverão compor a imagem mental final. Alem disso, já foi descrita a extinção das imagens mentais exclusivas para informações de forma e de localização de objetos, como resultado de lesões corticais nas áreas das vias ventral e dorsal, respectivamente [9]. Os estudos de imagens mentais auditivas en- volvem, em sua maioria, recursos musicais. Compa- rando pacientes epiléticos graves que tiveram o lobo temporal direito removido para tratamento da doença e participantes controle em tarefa de julgamento de notas musicais (julgar como mais agudas ou graves) baseado em percepção e imagens mentais, Zatorre & Halpern [10] encontraram que os pacientes lobotomi- zados tiveram dificuldade no desempenho em ambas as condições de teste. A conclusão de seu trabalho foi de que o papel de ao menos parte das estruturas neurais críticas para a discriminação de freqüência so- nora é compartilhado entre o processo perceptual e o mental. Em outro estudo, Zatorre et al. [11], utilizaram PET para avaliar o desempenho de controles em uma tarefa similar a do estudo anterior. As imagens reve- laram diversas áreas ativadas em comum. Entre elas, regiões do córtex auditório associativo (Brodmann 21 e 22), córtex frontal bilateral (Brodmann 45/9 e 10/47) e córtex motor suplementar (Brodmann 6). Kosslyn e cols descrevem ainda uma serie de outros estudos em sua revisão. As conclusões comuns a todos eles são que a maioria das estruturas neurais envolvidas na percepção auditiva é compartilhada com o processo de imagens mentais. Ao contrario do observado para imagens visuais, neste caso não há ativação da área auditoria primaria (A1). Com relação às imagens mentais motoras, assim como nas modalidades anteriores, os resultados mostram envolvimento de áreas encefálicas comuns entre as atividades de ação e de imagem mental. A participação do aparato motor para a aquisição de imagens mentais motoras pode explicar a eficácia da prática mental sobre a performance física [12- 14]. É uma técnica usada por atletas, por exemplo. A explicação é a de que ao se imaginar fazendo certo movimento, constroem-se associações fortes entre a atividade de áreas importantes na realização de tarefas motoras complexas. Para os autores da revisão, há ainda uma sé- rie de perguntas a serem respondidas. Entre elas: o papel de áreas corticais primárias nas imagens mentais e porque estas regiões não são envolvidas nas imagens mentais auditivas; a causa da alta variabilidade interpessoal na habilidade de construir imagens mentais e o efeito do conteúdo semântico da imagem sobre os mecanismos neurais envolvidos na aquisição das imagens. Alem das questões levantas pelos autores, o conhecimento gerado pelos estudos citados aqui e outros apontam para um carátermarcante deste assunto, as fronteiras que faz com outras áreas do conhecimento. O envolvimento de um grande número de áreas comuns durante processos perceptivos ou de imagens mentais – incluindo em alguns casos áreas corticais primárias – pode, por exemplo, ser considerado um substrato fisiológico para antigas teo- rias filosóficas que entrelaçam os mundos percebido, envolvido com a noção – ou ilusão – de realidade, e imaginado. Uma questão mais importante que deve surgir é baseada não nas áreas comuns envolvidas nos processos de percepção e geração de imagens mentais de qualquer modalidade, mas sim nas áre- as ativadas diferentemente durante um processo ou o outro. Isto porque se ao ouvirmos uma música que está tocando no radio ou ouvirmos uma música mentalmente grande parte das estruturas ativadas são as mesmas, mas existe algum recurso que nos permite saber a diferença entre uma atividade e a outra. Deste modo, o recurso das imagens mentais e sua comparação com a percepção ou ação motora po- dem tornar-se modelo importante nas neurociências para a abordagem de talvez um dos assuntos mais intrigantes, polêmicos e de difícil acesso: consciên- cia. A avaliação de vias bioquímicas envolvidas em cada processo, por exemplo, pode ser útil no acesso do que possibilita a distinção entre uma atividade e outra, fazendo com que para um individuo normal, a diferença entre ouvir e ouvir mentalmente seja clara e indubitável. Ainda, a contribuição que o mapeamento das características comuns e distintas à percepção e as imagens mentais pode ter na interpretação e possivelmente no tratamento de episódios de alu- cinação e delírios, presentes em grande número de distúrbios. Referências Watson JB. Psychology as the behaviorist views it. 1. Psychol Rev 1913;20:158–77. Pylyshyn ZW. What the mind’s eye tells the mind’s 2. brain: a critique of mental imagery. Psychol Bull 1973;80:1-24. Kosslyn SM, Ganis G, Thompson WL. Neural foun-3. dations of imagery. Nature Reviews Neuroscience 2001;2:635-42. Skinner BF. Why I am not a cognitive psychologist. 4. Behaviorism 1977;5:1–10. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 15 Farah MJ. The neurological basis of mental imagery: a 5. componential analysis. Cognition 1984;18:245–72. Chatterjee A, Southwood MH. Cortical blindness and 6. visual imagery. Neurology 1995;45:2189–95. De Vreese LP. Two systems for colour-naming de-7. fects: verbal disconnection vs colour imagery disor- der. Neuropsychologia 1991;29:1–18. Young AW, Humphreys GW, Riddoch MJ, Hellawell DJ, 8. De Haan EH. Recognition impairments and face imag- ery. Neuropsychologia 1994;2:693–702. Levine DN, Warach J, Farah MJ. Two visual systems in 9. mental imagery: dissociation of ‘what’ and ‘where’ in imagery disorders due to bilateral posterior cerebral lesions. Neurology 1985;35:1010–8. Zatorre RJ, Halpern AR. Effect of unilateral temporal-10. lobe excision on perception and imagery of songs. Neuropsychologia 1993;31:221–32. Zatorre RJ, Halpern AR, Perry DW, Meyer E, Evans 11. AC. Hearing in the mind’s ear: a PET investigation of musical imagery and perception. J Cogn Neurosci 1996;8:29–46. Driskell J, Copper C, Moran A. Does mental practice 12. enhance performance? J Appl Psychol 1994;79:481– 92. Maring JR. Effects of mental practice on rate of skill 13. acquisition. Phys Ther 1990;70: 165–72. Weiss T, Hansen E, Rost R, Beyer L. Mental practice 14. of motor skills used in poststroke rehabilitation has own effects on central nervous activation. Int J Neuro- sci 1994;78:157–66. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200916 Resumo Por muitos anos acreditou-se que o sistema nervoso central (SNC) de mamíferos adultos era incapaz de gerar novos neurônios. No entanto, estudos pioneiros realizados por Joseph Altman, Michael Kaplan e Fernando Nottebohm, respectivamente, nas décadas de 60, 70 e 80, propicia- ram a base para os estudos realizados na década de 90 que confirmaram definitivamente que o cérebro adulto possui a capacidade de gerar novos neurônios. Portanto, os circuitos neurais do cérebro de mamíferos adultos não são fixos e imutáveis como se pensava. Estes achados experimentais sugerem que o cérebro modula e mantém circuitos neurais pré-existentes por adição de novos neurônios e que este fenômeno pode ser utilizado para a substituição de neurônios perdidos durante doenças do SNC. Palavras-chave: sistema nervoso central, giro denteado, zona subventricular, bulbo olfatório, neurogênese adulta. Abstract There was a long-lasting belief that the central nervous system (CNS) of adult mammals was unable to generate new neurons. Nevertheless, the pioneer studies performed by Joseph Altman, Michael Kaplan e Fernando Nottebohm, respectively in the 1960´s, 1970´s and 1980´s were the basis for studies performed in the 1990´s that definitively confirmed that the adult brain possesses the capacity of producing new neurons. Thus, the neural circuits of adult mammalian brains are not fixed and immutable as previously thought. These experimental findings suggest that the brain modulates and maintains preexisting neural circuits by adding newborn cells. In addition, this phenomenon might be used to replace neurons lost after CNS diseases. Key-words: central nervous system, dentate gyrus, subventricular zone, olfactory bulb, adult neurogenesis. Opinião Neurogênese no cérebro adulto: a morte de um dogma e o sonho de Cajal Walace Gomes Leal Professor de Neuroanatomia e Neuropatologia Experimental, Laboratório de Neuroproteção e Neurorregeneração Experimen- tal Professor Victor Hugh Perry, Instituto de Ciências Biológi- cas, Universidade Federal do Pará Endereço para correspondên- cia: Instituto de Ciências Bio- lógicas, Universidade Federal do Pará 66075-900 Belém PA, Tel: (91) 3201 7741, E- mail:wgomesleal@pq.cnpq.br O neuroanatomista espanhol Santiago Ramon y Cajal (1851-1934), jun- tamente com Camilo Golgi, foi agraciado com o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1906 por seus inigualáveis estudos neuroanatômicos, os quais são a base do que se conhece atualmente sobre a estrutura e função do sistema nervoso central (SNC). No entanto, com as técnicas disponíveis à época, o fundador da Neurociência moderna não encontrou evidências para a formação de novos neurônios (neurogênese) ou outro processo regenerativo significativo no SNC adulto. Este fato contribuiu para a perpetuação do dogma ilustrado pela célebre frase de Cajal: “(...) nos centros neurais adultos, as vias neurais são fixas e imutáveis. Tudo pode morrer. Nada pode regenerar Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 17 (...)” [1]. No entanto, Cajal tinha um sonho, qual seja que as gerações futuras de pesquisadores achassem uma maneira de suplantar a inerente incapacidade do SNC em regenerar [1]. Infelizmente, Cajal não viveu o suficiente para constatar o que aconteceu a partir da década de 60, quando pesquisadores começaram a publicar evidências experimentais de que novos neurônios são formados no cérebro adulto. Na década de 60, Joseph Altman e Gopal Das publicaram uma série de artigos utilizando timidina marcada com um isótopo radioativo do hidrogênio (tritium, 3-H) para marcar células mitóticas, sugerindo a formação de pequenas células granulares, deno- minadas à época “microneurônios”, no hipocampo, bem como progenitores neurais proliferativos na zona subventricular (na parede dos ventrículos laterais) e bulbo olfatório de animais adultos [2]. No entanto, as dimensões das células mitóticas descritas por Altman & Das eram parecidas com as de células gliais e não existiam técnicas eficazes para diferen- ciar neurônios e células gliais à época, o que levou a comunidade científica a não dar o devido crédido a estes resultados. Na década de 70, os estudos de Michael Kaplan confirmaram os achados de Altman & Das, através de microscopia eletrônica e autoradio- grafia [3,4], mostrando queos neurônios mitóticos (positivos para 3H-timidina) presentes no hipocampo e no bulbo olfatório do cérebro de roedores adultos apresentavam características ultraestruturais de neurônios e que recebiam sinapses de neurônios vizinhos. No entanto, os critérios ultraestruturais usados por Kaplan para diferenciar neurônios e glia foram questionados e outros autores sugeriram que células gliais também poderiam receber sinapses de células vizinhas ou que células adultas sofrendo repa- ro de DNA poderiam incorporar a timidina radioativa. Novamente, os resultados de Kaplan, que sugeriam neurogênese no cérebro adulto, não foram levados em consideração [4]. Na década de 80, Fernando Nottebohm e co- laboradores realizaram uma série de experimentos meticulosos mostrando claramente que novos neu- rônios são formados no cérebro adulto de canários [5]. Canários machos possuem núcleos vocais bem desenvolvidos e cantam bem mais que canários fêmeas. Nottebohm e colaboradores demonstraram experimentalmente que injeções de testosterona em canários fêmeas faz com estes pássaros passem a cantar de forma semelhante a canários machos, o que é concomitante com o aumento do tamanho de seus núcleos vocais [6]. Estes autores demonstra- ram que a hipertrofia dos núcleos vocais das fêmeas era principalmente devida à adição de novos neu- rônios nesta região, pois a injeção do marcador de proliferação celular 3H-timidina em pássaros adultos resultava em marcação neuronal nos núcleos vocais 30 dias após a injeção [6]. Para ter certeza da iden- tidade neuronal das células marcadas, estes autores também realizaram estudos com microscopia eletrô- nica e registro eletrofisiológico concomitante com injeção intracelular de células nos centros vocais de canários e demonstraram, de forma irrefutável, que as células recém formadas nos centros vocais dos pássaros eram neurônios e não células gliais. Apesar da demonstração irrefutável de que ocorre neurogênese no cérebro adulto de canários, estes fenômeno foi considerado à época restrito ao cére- bro de pássaros e, portanto, sem relevância para mamíferos. Apenas na década de 90, houve aceitação geral pela comunidade científica de que novos neurônios são formados no cérebro de mamíferos adultos. No início da década de 90, demonstrou-se a presença de progenitores neurais no hipocampo de roedores adultos [7] e que estes progenitores poderiam ser induzidos a proliferar in vitro, gerando tanto neurônios como células gliais [8]. Este achado motivou vários estudos que, indubitavelmente, demonstraram a pre- sença de progenitores neurais no giro denteado do hipocampo e na zona subventricular na parede dos ventrículos laterais de roedores adultos [9]. Novas técnicas surgiram na década de 90, possibilitando a identificação clara dos novos neurônios formados no cérebro adulto. Por exemplo, passou-se a utilizar injeções intraperitoneais em animais adultos do análogo da timidina bromodeoxiuridina (BrdU), que ao ser incorporado na fase S durante a divisão celular, permite a marcação inequívoca das células recém formadas sem a necessidade da autoradiografia. Além disso, surgiram anticorpos específicos que reconhecem proteínas presentes em neuroblastos migratórios (neurônios imaturos), principalmente a proteína associada a microtúbulos doublecortin (DCX) [10] e neurônios diferenciados, por exemplo a proteína marcadora de núcleos neuronais NeuN [11]. A realização de imunofluorescência para BrdU e DCX ou BrdU e NeuN, com a confirmação da du- pla marcação por microscopia confocal, permite a identificação inequívoca da identidade neuronal das células formadas no cérebro adulto. Finalmente, no final da década de 90, demonstrou-se que novos neurônios são formados no hipocampo humano, o que expandiu o significado funcional da neurogênese no cérebro adulto [12]. Estudos recentes confirmaram Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200918 que novos neurônios são também formados na zona subventricular do cérebro humano [13]. Atualmente é bem estabelecido que existem duas regiões neurogênicas principais no cérebro adulto normal: a zona subventricular (SVZ, do inglês subventricular zone) na parede dos ventrículos laterais [14] e a zona subgranular (SGZ, do inglês subgranular zone) do giro denteado no hipocampo [15]. Nestas regiões, células tronco e/ou progenitores neurais geram constantemente neurônios imaturos (neuro- blastos). Na SVZ de roedores adultos (Figura 1), os neuroblastos (células DCX+) migram constantemente para o bulbo olfatório através da via migratória ros- tral, onde se diferenciam em interneurônios e são incorporados nos circuitos neurais desta região [16]. No hipocampo, progenitores geram neuroblastos que migram da SGZ do giro denteado para a camada gra- nular, onde transformam-se em neurônios granulares adultos e são integrados nos circuitos hipocampais [15]. No cérebro humano adulto, existem evidências experimentais que sugerem a ocorrência de novos neurônios, tanto no hipocampo [12] como na SVZ [13]. A ocorrência de neurogênese em outras regiões do SNC adulto ainda é controversa [17]. No entanto, alguns estudos sugerem que novos neurônios podem ser formados no neocórtex [18] e outras regiões do SNC adulto [19]. Figura 1 - Neurogênese na zona Subventricular (SVZ) de um rato adulto. Neuroblastos migratórios (células vermelhas apontadas pela seta) da SVZ foram marcados por imunofluorescência utilizando o anticorpo anti-doublecortin (DCX). Estas células migram continuamente para o bulbo olfatório, onde transformam-se em interneurônios que são integra- dos aos circuitos neurais desta região. VL= ventrícu- lo lateral; ST = Striatum. Escala = 50 μm. Os circuitos neurais do cérebro adulto não são fixos e imutáveis como Cajal pensava. No entanto, o sonho de Cajal foi realizado, pois as gerações futu- ras descobriram que o encéfalo é mais plástico do que se pensava, por ser capaz de manter, modular e substituir circuitos neurais pré-existentes adicionando continuamente novos interneurônios [20]. No entanto, muitas perguntas ainda precisam ser respondidas. Por que novos neurônios são formados no cérebro adulto? Qual a importância deste fenômeno em condições patológicas? Os neurônios gerados no cérebro adulto podem substituir as células perdidas em condições patológicas, tais como o acidente vas- cular encefálico (AVC, acidente vascular cerebral)? A neurogênese endógena poderá ser utilizada um dia como terapia celular para doenças do SNC humano? Nós discutiremos estes e outros tópicos nos próximos volumes da revista Neurociências. Referências Ramon y Cajal S. Degeneration and regeneration of 1. the nervous system. New York: Hafner; 1928. Altman J, Das GD. Autoradiographic and histological 2. evidence of postnatal hippocampal neurogenesis in rats. J Comp Neurol 1965;124(3):319-35. Kaplan MS. Neurogenesis in the 3-month-old rat vi-3. sual cortex. J Comp Neurol 1981;195(2):323-38. Kaplan MS. Environment complexity stimulates visual 4. cortex neurogenesis: death of a dogma and a research career. Trends Neurosci 2001;24(10):617-20. Nottebohm F, Alvarez-Buylla A, Cynx J, Kirn J, Ling CY, 5. Nottebohm M, Suter R, Tolles A, Williams H. 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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200920 Opinião Antecipando a vez Sergio Neuenschwander Doutorado em Neurociências pela Universidade Pierre et Marie Curie, Paris, Pós-douto- rado no Instituto Max-Planck for Brain Research, Frankfurt, Investigador principal no Insti- tuto Max-Planck, onde dirige um grupo voltado a estudos da dinâmica neuronal relacionada à percepção visual Endereço para correspondên- cia: Max-Planck Institute for Brain Research, Deutschorden- strasse, 46 - 60528 - Frankfurt am Main – Alemanha, Tel: +49 6996769235, E-mail: neuen- schwand@mpih-frankfurt.mpg.de Estudos funcionais do cérebro através de técnicas de imagens por resso- nância magnética (fMRI) proporcionaram uma abordagem única a processos cognitivos, inimaginável há apenas uma década atrás. Tornou-se possível a investigação não-invasiva de mecanismos neurais ligados a capacidades cogniti- vas como a percepção, planejamento motor, emoções e estados da consciência. Pôde-se visualizar processos em diferentes escalas espaciais, desde extensas regiões do córtex e núcleos subcorticais, aos padrões de conexões e detalhes da organização colunar do córtex. No centro desta revolução, que permitiu avançar a largos passos nosso conhecimento sobre o cérebro em funcionamento, existe uma noção importante e crucial. Assume-se que o sinal de fMRI, o BOLD, de alguma forma traduza um sinal de origem neural [1]. Afinal, o que pretende-se medir nas imagens funcionais do cérebro é em última instância a atividade neuronal e não simplesmente as variações hemodinâmicas associadas a ela. O recente trabalho experimental de Sirotin e Das [2] questiona esta noção ao mostrar que respostas hemodinâmicas podem também existir dissociadas da atividade neuronal. Estes resultados são ainda mais relevantes porque foram obtidos em condições que replicam protocolos experimentais comumente utilizados em estudos de fMRI. Nestes estudos, testes comportamentais são realizados em ensaios periódicos, repetidas vezes, favorecendo o aparecimento de sinais antecipatórios ligados a expectativa. Um inesperado puxão de tapete para a comunidade científica do fMRI? Talvez. No estudo de Sirotin e Das [2] sinais hemodinâmicos do córtex visual foram obtidos através de registros de imagens de sinais intrínsecos em macacos- resos. Estes sinais, como no fMRI, são indicativos dos níveis de oxigênio no sangue e portanto trocas metabólicas relacionadas à atividade neuronal, que regulam localmente o aporte sanguíneo. Diferentemente do fMRI, a técnica de imagens por sinais intrínsecos, no entanto, é um método invasivo. Por meio de procedimentos cirúrgicos sucessivos, implanta-se uma câmara de registro óptico que serve como janela de acesso à superfície do córtex. A dura mater é substituída por um filme de silicone transparente, proporcionando visualização cristalina do córtex [3]. Durante as sessões experimentais, uma câmera de vídeo de alta sensibilidade é acoplada à câmara de registro. Para a iluminação do córtex, utiliza-se de comprimentos de onda distintos (vermelho e verde), o que permite a obtenção de medidas independentes para os níveis de oxigenação (oxihemoglobina) e volume sanguíneo (hemoglobina total). Nos experimentos de Sirotin e Das, longas sequências de imagens foram registradas durante os testes comportamentais. Em um recinto escuro, os macacos eram treinados a observar durante alguns segundos um ponto diminuto na tela de um compu- tador (ponto de fixação, PF), que tinha sua cor alternada periodicamente. Além do PF, não existia qualquer outro estímulo visual associado ao teste. Se o PF assumisse a cor verde, os macacos necessitavam fixá-lo atentamente para serem recompensados; se assumisse a cor vermelha, poderiam relaxar. Este Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 21 paradigma, ainda que simples, permitia o surgimento de uma condição de forte expectativa, já que as mu- danças no PF associadas a recompensa aconteciam em intervalos fixos. Controles cuidadosos foram ainda feitos para uma condição de expectativa não associada a qualquer estímulo visual (nem mesmo o PF), mas sim a um estímulo auditivo. A análise das imagens funcionais do córtex revelou o inesperado. Uma clara modulação dos sinais hemo- dinâmicos no córtex visual ocorria independente do estímulo visual. Para a perplexidade de todos, registros eletrofisiológicos, obtidos através da inserção de um eletródio na região do córtex correspondente ao registro óptico, mostraram que as modulações hemodinâmicas aconteciam independentes de qualquer resposta de dis- paros de neurônios (potenciais de ação). Nem mesmo alterações nos componentes espectrais de potenciais de campo elétrico local (LFP) puderam ser observadas, sugerindo que as alterações hemodinâmicas não pode- riam ser atribuídas a respostas neuronais individuais ou de populações locais. Controles feitos para respostas a um estímulo visual (padrões de barras), no entanto, mostraram padrões conhecidos: variações importantes no sinal hemodinâmico associadas a um aumento nas respostas de células individuais e oscilações gama de alta frequência do LFP [4]. O fato das variações nos sinais hemodinâmicos ocorrerem associadas à cadência dos testes com- portamentais apontam para um mecanismo novo, a ser compreendido. Quando espera-se um evento, como por exemplo a mudança de cor do PF, um sinal antecipatório é gerado internamente no cérebro, provavelmente ligado ao sistema de ativação ascen- dente. Este sinal modulatório seria capaz de aumentar antecipadamente o fluxo sanguíneo no tecido neural. É importante observar que este sinal vascular é específico, já que nos controles experimentais em que expectativa era gerada por um estímulo auditivo não observa-se alterações hemodinâmicas no córtex visual (o córtex auditivo não foi estudado). Além de uma crítica aos estudos de fMRI, que devem levar em conta a possibilidadede sinais he- modinâmicos estarem relacionados a contingências experimentais (expectativa) e não propriamente ao estí- mulo, o estudo de Sirotin e Das demonstra claramente a importância das relações de contexto nas operações do cérebro. Recentemente, registros do córtex visual primário através de eletródios-múltiplos [5,6] mostra- ram que a expectativa pode modular profundamente as características temporais das respostas neuronais. Nestes estudos, macacos foram treinados a indicar mudanças no PF ou no estímulo visual para receberem uma recompensa. Como nos experimentos de Sirotin e Das, o fato das mudanças a serem detectadas ocor- rerem sempre em mesmo ponto a partir do início de uma repetição gerava uma condição de expectativa, um sinal antecipatório. Os registros da atividade individual de neurônios e LFP mostraram um forte aumento de componentes oscilatórios das respostas na banda de frequência gama (de 30 a 90 Hz). Estes efeitos podiam ainda ser modulados em função do valor da recom- pensa (suco de banana é o preferido dos macacos), o que sugere claramente a participação de processos internos ligados a expectativa e motivação. É interes- sante observar, como demonstrado em experimentos com gatos anestesiados, o aumento das sinal BOLD parece estar relacionado ao aumento de respostas oscilatórias gama da atividade cortical [7]. Estudos que levam em conta relações contex- tuais para abordar os processos cognitivos são de extrema importância. Como vimos no trabalho de Sirotin e Das, abordagens experimentais em animais realizando uma tarefa de comportamento são essen- ciais para a observação de processos mesoscópi- cos, com conseqüências importantes para a nossa compreensão de mecanismos de funcionamento do cérebro. Se por um lado este trabalho contribui com um argumento crítico, por outro revela mecanismos de controle neurovascular não são visíveis na ponta de um eletródio. E de novo o sinal BOLD tem sua vez. Referências Logothetis NK. What we can do and what we cannot 1. do with fMRI. Nature 2008;453(7197):869-78. Sirotin YB, Das A. Anticipatory haemodynamic signals 2. in sensory cortex not predicted by local neuronal activ- ity. Nature 2009;457(7228):475-9. Shtoyerman E, Arieli A, Slovin H, Vanzetta I, Grinvald A 3. (2000). Long-term optical imaging and spectroscopy reveal mechanisms underlying the intrinsic signal and stability of cortical maps in V1 of behaving monkeys. J Neurosci 2000;20(21):8111-21. 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Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 200922 Artigo original Diagnostic use and independence of the fast oscillation relative to other electro- oculogram parameters: a specific sensitivity to retinitis pigmentosa Uso diagnóstico e independência da oscilação rápida em relação a outros parâmetros do eletro-oculograma: sensibilidade específica na retinite pigmentada Vaegan*, Paul Beaumont** *Eye & Vision Research Institute, Sydney, Australia, School of Optometry and Visual Science, University of New South Wales, Australia, **Eye & Vision Research Institute, Sydney, Australia Endereço para correspondên- cia: Vaegan, School of Op- tometry and Visual Science, University of New South Wales NSW 2052 Australia, Tel: +61 (2) 9385 6551 Abstract Aims: Fast oscillation (FO) measurement is described but not required in the ISCEV standard electro-oculogram (EOG). Vaegan (1995) found the EOG scores were independent, that 4 FO cycles were enough and replaced preadaptation without affecting test time or clinical utility. Vaegan and Beaumont (1996) found small FOs in most cases of retinitis pigmentosa (RP) but seldom in 13 other classes of disease. We used tighter controls of stimulation and diagnosis, to reexamine these relationships in a much larger sample. Methods: 1029 complete EOGs were recorded with definite diagnosis in 956 cases classified into 14 major clinical groups. Pupils were dilated > 8mm. Impedance was <3 kohm. Ganzfeld background was 200 cd.m-2. Each FO 1 min phase commenced immediately after 15 sec of eye movements. We recorded a running average of maximum excursion amplitudes in the preceding 4sec. There were 2 to 7 cycles of light (200 cd.m-2) and complete dark phases preceding the EOG. The first cycle was ignored. The maximum amplitude in all dark and light phases and dark trough and light peak times were recorded. We calculated the FO (mean dark/light) for increasing numbers of cycles and the Arden ratio for each eye. All outlying data was checked for accuracy. Cases with missing scores were rejected. Principal component factor analysis was applied and normal ranges of scores plotted across major groups. Results: Correlations between and within eyes were similar. Five factors emerged. Amplitude, weighing equally on dark trough and light peak, accounted for 22% of the variance. The other factors, loading on the FO, the Arden ratio and the two times accounted for about ca 16% each. Amplitude correlated positively with the FO and negatively with the Arden Ratio in the orthogonal solution. Amplitudes and Arden Ratios were abnormal in many clinical groups and most frequently in RP (>85%) but times had low variance and no correlation to dis- ease. The FO was low in >75% of RP cases and <20% in other diseases. Conclusion: The FO is an independent EOG parameter with a unique place in clinical electrodiagnosis. It is sensitive to and specific for RP and can be recorded in < 12 min, replacing preadaptation . A combination of an abnormal FO and an abnormal standard EOG (Arden ratio and/or amplitude) is very specific to RP. The electroretinography, by contrast, takes longer and is only reduced proportionately more than is expected from the field loss, in around 50% of cases. An EOG, including an FO, therefore has an important place in RP diagnosis, especially for patients with early disease and especially children and who cannot accept ERG electrodes of electroretinography. Key-words: electro-oculogram, retinitis pigmentosa, fast oscillation, retinal disease, diagnosis, adaptation. Neurociências • Volume 5 • Nº 1 • janeiro/março de 2009 23 Aims To re-examine the number of light/dark cycles required for reliable testing of the fast oscillation (FO); to demonstrate the statistical independence of various EOG parameters; and to determine the rates of abnormal responses for Arden ratio and FO in various disease states, using a much larger sample, tighter controls of stimulation and diagnosis, than in a previous study. Background In Animal studies on the Fast Oscillation, Linsen- meier and Steinberg compared vitreal, intracellular and sub retinal pigment epithelium recordings in the cat after light exposure (Figure 1). The intraretinal fast oscillation trough (FO) [1], measured between the c-wave and the light peak in the transepithelial recordings, reflects delayed basal hyperpolarisa- tion of the RPE. This trough largely accounts for a corresponding trough in the vitreal recordings. The delayed basal hyperpolarisation, like the light rise, is thought to result from the transmission of a sub- stance in the subretinal space which accumulates as the photoreceptors depolarize in response to light, to the RPE via a second messenger system which leads to a light evoked decrease in Cl- channels at the basement
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