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NEUROCIÊNCIA APLICADA À APRENDIZAGEM São José dos Campos Telma Pantano Jaime Luiz Zorzi Copyright © 2009 by Pulso Editorial Ltda. ME Avenida Anchieta, 885 (Jardim Esplanada) 12242-280 São José dos Campos – SP. Fone/Fax: (12) 3942-1302 e-mail: atendimento@pulsoeditorial.com.br home-page: http://www.pulsoeditorial.com.br Impresso no Brasil/Printed in Brazil, com depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto no. 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer parte desta edição, por qualquer meio, sem a expressa autorização da editora. A violação dos direitos de autor (Lei no 5.988/73) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Editor responsável: Vicente José Assencio-Ferreira Diagramação: Dimitri Ribeiro Ferreira Capa: Isabel Cardoso e Dimitri Ribeiro Ferreira Impressão e acabamento: Parma Editora e Gráfica Ltda. Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) Pantano, Telma e Zorzi, Jaime Luiz / . Neurociência aplicada à aprendizagem. - Telma Pantano e Jaime Luiz Zorzi. - São José dos Campos: Pulso, 2009. Os autores dos capítulos foram organizadores desta obra. ISBN 978-85-89892-63-6 192p 1. Neurociência 2. Educação 3. Aprendizagem As relações entre o cérebro e a aprendizagem tornam-se, a cada dia que passa, cada vez mais explícitas. Antes relegado a uma “biologização” do ato de aprender o cérebro é considerado, atualmente, a fonte de registro e integração dos conhecimentos que permitem ao indivíduo atuar sobre o mundo e adquirir consciência do mesmo. Este é um papel de indiscutível relevância. Nos tempos atuais, falar em aprendizagem e negligenciar os mecanismos cerebrais responsáveis pelo ato de aprender, conservar, recuperar e associar conhecimentos, significa desconsiderar um dos principais componentes responsáveis pelo processo evolutivo humano . Não há como negar a importância do funcionamento mental como base para a aprendizagem. Este livro pretende apresentar conhecimentos recentes relativos às neurociências e relacioná-los com o processo de ensino- aprendizagem trazendo perspectivas e novos horizontes no raciocínio e atuação nas áreas de saúde e educação. Simplesmente conhecer como o cérebro funciona pode não ser a garantia de uma atuação eficaz nas situações envolvendo a aprendizagem. Porém, tal conhecimento, aliado a uma postura reflexiva, que permita levar a teoria até uma aplicação prática, pode gerar uma atuação mais consciente e eficaz, fundamentada em dados científicos seguros. Nosso cérebro está preparado para interagir com o ambiente, reagindo aos estímulos e formando novas sinapses que se traduzem em novos conhecimentos. Conseqüentemente, desta dinâmica dependerá a adaptação do sujeito ao mundo em que vive. Graças à sua capacidade de garantir a aprendizagem, o cérebro pode modificar-se, constantemente, a fim de garantir adaptações cada vez mais complexas. Desta forma, a aprendizagem pode ser vista como um processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos ou demandas do ambiente, transformando-se e permitindo uma atuação do indivíduo no mundo em que vive. Promover situações que facilitem a aprendizagem, fornecer os estímulos adequados ao cérebro em formação, sempre considerando o seu desenvolvimento e maturação, é função daqueles que se preocupam e atuam diretamente com a ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação aprendizagem. Este é, fundamentalmente, o caso da Educação e de todos os demais profissionais ligados ao desenvolvimento humano. Propostas de ensino bem planejadas, fundamentadas, que levem em consideração o modo como o cérebro trabalha, podem facilitar e aumentar a conectividade sináptica, garantindo uma maior eficiência no processo de aprendizagem. Pessoas ensinam e pessoas aprendem. A todo o momento desempenhamos ambos os papéis. Porém, o tanto que conseguimos aprender e o tanto que conseguimos ensinar depende dos mecanismos subjacentes responsáveis por tais fenômenos. E é neste incrível universo de possibilidades de transformações que este livro pretende conduzir os seus leitores. Faça um ótimo proveito... Telma Pantano Jaime Luiz Zorzi Ana Paula Sabatini de Mello Braga Graduação em Psicologia pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-graduação em Neuropsicologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atualmente é Neuropsicóloga e Coordenadora do Setor de Neuropsicologia do Serviço de Psicologia Hospitalar da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e coordenadora do curso de pós-graduação em Neuropsicologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Realiza atendimento clínico em Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica, com experiência em distúrbios de aprendizagem, distúrbios psiquiátricos, quadros degenerativos e avaliação pré e pós-cirúrgica em Neurocirurgia. Adriana Foz Educadora, Psicopedagoga, Neuropsicóloga, Membro da diretoria da SBNp, pesquisadora CNPq - Neurociência na Educação. Beatriz de Andrade Sant’Anna Psicóloga Clínica e Professora Universitária, formada pela Universidade de São Paulo - USP, com especialização em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP. Neuropsicóloga do NANI (Núcleo de Atendimento Interdisciplinar Infantil), Centro Paulista de Neuropsicologia da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista - FFC/UNESP - Marília - SP. Claudia Berlim de Mello Psicóloga, Especialista em Neuropsicologia, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento no Contexto Socio-cultural pela UnB. Doutora em Psicologia (Neurociências e Comportamento) pela USP, Coordenadora do Núcleo de Atendimento Interdisciplinar Infantil (NANI), Centro Paulista de Neuropsicologia. Giseli Donadon Germano Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação. AUTORES Jaime Luiz Zorzi Fonoaudiólogo, especialista em linguagem e Doutor em Educação. Professor e diretor do CEFAC Pós-Graduação em Saúde e Educação. Presidente do Instituto CEFAC. Kátia A. Hühn Chedid Psicopedagoga. Orientadora Educacional. Curso de extensão em Neuropsicologia. Participante do grupo de pesquisa na Faculdade de Educação da Mari Ivone Misarelli Fonoaudióloga clínica, graduada pela Unifesp no curso de Fonoaudiologia, mestre em Fonoaudiologia pela PUC/SP USP- Neurociências e Educação. Mirella Liberatore Prando Fonoaudióloga, membro do Grupo de Neuropsicologia Clínica e Experimental - GNCE PUCRS, Mestranda em Psicologia, área de concentração em Cognição Humana da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil; Especialização em Neuropsicologia pela UFRGS. Rubens Wajnstein Médico neuropediatra pela FMUSP, Mestre em Distúrbios da Comunicação pela UNIFESP, Professor da cadeira de Neurologia pela UNIABC, Faculdades São Camilo e Universidade Metodista de São Paulo. Rudá Alessi Médico residente em Neurologia pela Faculdade de medicina do ABC. Simone Aparecida Capellini Fonoaudióloga. Doutora e Pós-Doutora em Ciências Médicas - Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - FCM/UNICAMP - Campinas - SP. Docente do Departamento de Fonoaudiologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista - FFC/UNESP-Marília - SP. Telma Pantano Fonoaudióloga, Psicopedagoga, Mestre e Doutora em Ciências pela FMUSP, Colaboradora pelo SEPIA-IPQ-HC-FMUSP, coordenadora do curso de Neurociências do CEFAC – Centro de Especialização em Saúde e Educação, Professora do curso de Psicopedagogia das Faculdades Mozarteum de São Paulo, Sócia titular e membro da diretoria da ABPp gestão 2008/2010. Vera Lúcia Orlandi Cunha Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista - FFC/UNESP-Marília - SP. Vicente José Assencio-Ferreira Médico, Neuropediatra e Doutor em Medicina (Neurologia) pela USP, Professor do CEFAC eDiretor Clínico do CEMTE (Centro Educacional Municipal Terapêutico Especializado) de Taubaté SumárioSumárioSumárioSumárioSumário Capítulo 1 Introdução às Neurociências ......................................... 11 Capítulo 2 Atenção e Memória ....................................................... 23 Capítulo 3 Crescimento, Desenvolvimento e Envelhecimento do Sistema Nervoso .............................................. 37 Capítulo 4 Funções Vísuo-construtivas, Praxias e Agnosias ........... 61 Capítulo 5 Pensamento, Inteligência e Funções Executivas ........... 81 Capítulo 6 Linguagem e Cognição ................................................ 105 Capitulo 7 Processamento Auditivo Central ................................ 113 Capítulo 8 Aprendizagem e Habilidades Acadêmicas .................. 125 Capítulo 9 A análise do Processamento Ortográfico e suas Implicações no Diagnóstico dos Transtornos de Aprendizagem ........................................... 141 Capítulo 10 Avaliação das Funções Cognitivas na Criança, no Adolescente e no Adulto .............................. 157 Capítulo 11 Neurociência na Educação I ......................................... 171 Capítulo 12 Neurociência na Educação II ....................................... 183 10 Neurociências Pantano & Zorzi 11 Capítulo 1 Introdução às Neurociências Telma Pantano e Vicente José Assencio-Ferreira Este capítulo abordará alguns conhecimentos de neuroanatomia e neurofisiologia que formarão a base para os tópicos discutidos nos capítulos posteriores. As neurociências cognitivas fornecem aos profissionais de saúde e educação bases consistentes sobre o funcionamento do cérebro e suas possíveis aplicações no processo de ensino-aprendizagem. De uma forma geral, conhecer o cérebro e o seu funcionamento, pode permitir agregar à atuação clínica e pedagógica, conhecimentos sobre a maturação neurológica e o desenvolvimento de funções superiores, fornecendo melhores condições para oferecer estímulos coerentes e adequados a cada faixa etária. Uma estimulação em tempo inadequado pode causar tantos danos quanto a ausência de estimulação. Crianças que “pulam” estágios de desenvolvimento encontram dificuldades enormes para recuperar o que perderam1. Da mesma forma a estimulação que não respeita as etapas do desenvolvimento cognitivo e neurológico da criança pode fornecer aprendizagens incompletas e imaturas cuja re-significação pode ser, extremamente, complexa de ser realizada. O cérebro é a matéria prima para o processo de aprendizagem. É o principal responsável pela integração do organismo com o seu meio ambiente. Se considerarmos a aprendizagem a resultante da interação do indivíduo com o meio ambiente, perceberemos que é ele que propicia o arcabouço biológico para o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Sem dúvida nenhuma para o profissional de saúde e educação torna-se incoerente que trabalhe com processamentos cognitivos como a linguagem e a aprendizagem, sem o conhecimento da estrutura biológica em que se dá esses processos. Da mesma forma, é necessário compreender o funcionamento neurológico, o 12 Neurociências desenvolvimento e a maturação cerebral para que possamos conhecer e desenvolver o potencial cognitivo de um indivíduo para as funções relacionadas à linguagem e à aprendizagem. O cérebro é uma estrutura formada por aproximadamente 100 bilhões de neurônios (1x1011) de formas e tamanhos diferentes conjuntamente com as células da glia (na proporção aproximada de 10 células da glia para cada neurônio) que lhe oferecem alimento e sustentação. Atualmente tem-se discutido no meio científico evidências de que as células da glia teriam um papel importante no funcionamento neuronal e, até mesmo, diferenciar-se em neurônios, porém esses estudos ainda não são conclusivos2,3,4. Cada neurônio comunica-se com milhares de outros neurônios utilizando prolongamentos curtos (dendritos) ou longos (axônios) (Figura 1) formando, assim, incontáveis possibilidades de conexões neuronais, à semelhança de uma rede (Figura 2). Figura 1. Célula nervosa (neurônio) com corpo celular, axônio e dendritos (retirado de http://www.cerebromente.org.br/n17/history/ neurons2_p.htm). Pantano & Zorzi 13 Figura 2. Comunicação entre neurônios formando redes ou retículos neurais (retirado de http://www.cerebromente.org.br/n17/history/ neurons2_p.htm). A cada novo estímulo, que gera um novo conhecimento, uma nova rede se forma conectando-se às antigas, sendo infinitas as possibilidades de formação de redes. Assim, para que se estabeleça uma adequada utilização destas conexões existe um sistema complexo de processamento que seleciona as redes importantes para cada ocasião, a fim de possibilitar respostas rápidas a cada estímulo, seja ele verbal ou não verbal. Por exemplo, se estamos estabelecendo um diálogo sobre borboletas, o sistema nervoso central seleciona as redes neuronais em que este inseto está inserido, facilitando a fluidez e ritmo da conversação. Se estamos sendo atacados por um animal feroz, o sistema nervoso seleciona as redes que registraram anteriores ataques, para favorecer uma resposta rápida necessária num momento como este. Obviamente, pessoas experientes em ataques deste tipo, terão respostas mais rápidas e precisas; aquelas que nunca antes vivenciaram tal circunstância ficarão paralisadas, sem opor qualquer atividade motora para fugir ou impedir o ataque. A “comunicação” neuronal acontece através da transmissão do impulso elétrico (criado no corpo da célula nervosa) utilizando estes “fios” (dendritos e axônios); no final de cada um destes prolongamentos existem estruturas denominadas sinapses, onde estão localizadas inúmeras vesículas sinápticas, preenchidas com substâncias químicas denominadas neurotransmissores (NT); com a chegada do impulso elétrico estas vesículas se rompem os neurotransmissores são lançados no espaço denominado de fenda sináptica, transformando o estímulo elétrico em estímulo químico (Figura 3). 14 Neurociências Figura 3. Desenho esquemático da sinapse nervosa com vesículas sinápticas e os neurotransmissores sendo eliminados após estímulo elétrico. Surgem as denominações de neurônio pré-sináptico (o que enviará o estímulo elétrico) e neurônio pós-sináptico (o que receberá esse estímulo). Porém, o impulso elétrico não atravessa a fenda sináptica; na sinapse, o neurônio pré-sináptico libera o NT que ativa ou inibe o neurônio pós-sináptico modificando seu receptor. O que determina a ativação ou inibição pós-sináptica é a característica do NT em ter ação excitadora (exemplo: adrenalina) ou inibidora (exemplo: ácido gamaminobutírico – GABA). Isto explica e justifica porque um impulso elétrico pode determinar excitação ou depressão das funções encefálicas. Na tabela 1 estão descritos alguns dos NT já classificados pelos neurocientistas, que afirmam existir muitos deles ainda não identificados. Pantano & Zorzi 15 Tabela 1. Relação de alguns neurotransmissores conhecidos dos neurocientistas e seus locais de síntese. 16 Neurociências Porém o neurônio não possui função passiva nesse processo5. Ele é extremamente ativo e integra a informação transmitida por outros neurônios que chegam até ele, estruturando assim uma nova informação. Os neurônios organizam-se no que chamamos de Sistema Nervoso Central (SNC) e Periférico (SNP). A porção central é composta peloencéfalo e pela medula espinhal. O encéfalo, que é protegido pelo crânio, compõe-se de estruturas denominadas cérebro, cerebelo, diencéfalo e tronco encefálico (mesencéfalo, formação reticular, ponte e bulbo) (Figura 4). Figura 4. Encéfalo em corte sagital, vista lateral direita e corte coronal (retirado de http://www.neuroanatomia.ufba.br/imagens.htm). Pantano & Zorzi 17 A medula espinhal, que é protegida pelas vértebras, compõe-se de substância cinzenta (com acúmulo de corpos celulares dos neurônios) central em forma de “H” e substância branca (com acúmulo de axônios ascendentes e descendentes) circunjacente. A porção periférica é composta pelos nervos: 12 pares de nervos cranianos (responsáveis pela sensibilidade e ativação motora da região da cabeça) e 33 pares raquidianos (responsáveis pela sensibilidade e ativação motora do resto do corpo). O cérebro é constituído por dois hemisférios e cada hemisfério propriamente dito é dividido em cinco lobos: occipital, temporal, parietal, frontal e insular (Figura 5). O córtex cerebral é constituído por seis camadas corpos celulares, portanto, de substância cinzenta, situados na periferia do córtex e formando giros cerebrais, que revestem os dois hemisférios (direito e esquerdo). O funcionamento cerebral é integrado, ou seja, uma região depende das outras para realizar suas funções. Figura 5. Esquema do encéfalo mostrando a localização dos lobos cerebrais. É desse emaranhado de células que surge então um dos mais complexos (senão o mais complexo) órgão do ser humano que o possibilita a funções extremamente elaboradas como a linguagem, a aprendizagem, o pensamento e a consciência. Apesar da aparente semelhança anatômica entre os dois hemisférios são grandes as diferenças funcionais que existem entre eles. 18 Neurociências a) Hemisfério Cerebral Esquerdo - em 98% das pessoas é no hemisfério cerebral esquerdo que está localizado a função de linguagem, fala e escrita.; - os neurotransmissores dominantes são a dopamina e a acetilcolina, que proporcionam o controle motor fino tanto manual como para a fala; - é responsável pela sintaxe e semântica do idioma; - permite a compreensão do significado literal das palavras; - favorece a praticidade nas ações, a ser prático nas atividades e na conclusões; - permite a interpretação linear e seqüencial dos acontecimentos; - reduz algo complexo em partes mais simples; - procura por detalhes; - classifica e ordena os estímulos - faz interpretação e justificação dos acontecimentos; - realiza observação focada, dirigida do acontecimento; - segue um padrão lógico; - é objetivo; - estima o tempo cronologicamente, hora a hora, dia a dia; - encara os fatos como verdadeiro ou falso, branco ou preto; - retém a memória recente; - tem espírito crítico e “vocação pessimista”. b) Hemisfério Cerebral Direito - o neurotransmissor dominante é a norepinefrina que estimula a percepção de novos estímulos visio-espaciais; - avalia o contexto, entonação, ritmo da fala (prosódia); - capta o simbolismo, a metáfora do texto e fala; - percebe o humor e a estética do acontecimento; - permite uma visão holística da situação; - percebe o todo e o padrão do acontecimento; - possibilita a criatividade, imaginação; - oferece a percepção de profundidade, reconhecimento do rosto e do estado emocional; - oferece a sensação de antipatia, mesmo imotivada, sem ter certeza da razão, do porque; - avalia o acontecimento de forma global, sem se deter em detalhes. - Segue a intuição; - Estabelece padrões sem seguir um processo etapa por etapa; - É subjetivo; - Vê o tempo como um todo – um projeto, uma carreira; - Pensa positivamente, sem preocupar-se com midéias preconcebidas; - Pergunta-se “porque não?”e quebra as regras. Pantano & Zorzi 19 Para a neurociência essas funções extremamente elaboradas como a linguagem e a aprendizagem são processamentos cognitivos resultantes de processos cognitivos primários como: sensação, percepção, atenção e memória(s). Tudo tem início com a transformação dos estímulos sensoriais nos nossos receptores por impulsos elétricos num processo conhecido como transdução. É dessa forma que fazemos contato com o mundo que nos cerca uma vez que a rede interna do nosso cérebro só consegue entender sinais elétricos6. Dessa forma, o que conhecemos do mundo é uma re-leitura do que foi transmitido ao nosso cérebro pelos estímulos sensoriais. Os receptores periféricos transmitem impulsos ao cérebro de acordo com o que conseguem perceber do mundo externo7,8. Esses impulsos devem ser integrados e re-construídos num processo que se denomina percepção. Essas percepções somente podem ser compreendidas e reconhecidas depois de um processo de aprendizagem contínuo que classifica, organiza, compara e integra os estímulos sensoriais em um único objeto. Após os processos de sensação e de percepção a informação em processamento chega ao nosso sistema límbico responsável pela atribuição emocional ao estímulo. É assim que a informação recebe um colorido emocional9. Porém, como o nosso cérebro é inundado a todo momento por inúmeros estímulos advindos de diversos canais sensoriais (além de diversos estímulos advindos do mesmo canal sensorial) torna-se necessário assim uma seleção dos estímulos externos e uma hierarquização desses estímulos através de um processo cognitivo denominado atenção. A atenção faz com que alguns estímulos sejam preferencialmente processados enquanto outros são reduzidos ou não são processados. Esta é uma das características mais importantes da atenção: para que possamos ter atenção a um estímulo específico devemos ter “desatenção” aos outros estímulos. É através dessa seleção de estímulos o nosso cérebro pode realizar processamentos cada vez mais sofisticados com os estímulos selecionados. A atenção tem algumas características que devem ser investigadas por profissionais de saúde e educação que trabalhem com qualquer processamento cognitivo. O sujeito deve poder focalizar a atenção - o princípio da atenção propriamente dito; sustentá-la por um determinado período de tempo enquanto se realizam os processos cognitivos necessários; alterná-la entre dois 20 Neurociências estímulos e dividi-la deixando um processamento automático e o outro consciente. Da mesma forma a atenção pode ser automática – através de estímulos intensos, súbitos, em movimento ou contrastantes com o fundo que deslocam nosso foco atencional sem o controle do sujeito; e voluntária – no qual o indivíduo pode ter controle na escolha de seu foco atencional. Não se sabe exatamente como o cérebro faz para selecionar um estímulo em detrimento de outros, porém sabe-se que essa seleção acontece de dois modos: pela intensidade dos estímulos que estimulam os receptores sensoriais e por mecanismos de memória baseado nas experiências anteriormente vividas pelo indivíduo. Memória e atenção são assim funções intrinsecamente relacionadas. Memória é uma atividade eletrofisiológica a nível neuronal que tem a função de fixação, retenção e resgate de informações. Compõe- se de sistemas inter-relacionados, ou seja, sistemas que funcionam de forma independente cujo funcionamento pode ser diferente, porém é colaborativo com os outros. Dessa forma uma lesão neuronal na região de determinada memória poderá fazer com que deixe de desempenhar a função daquela região, porém outros módulos são capazes de minimizar as deficiências alterando seu próprio funcionamento10. A primeira grande dissociação entre sistemas de memória diz respeito ao tempo no qual a memória pode ser armazenada. Surge então a memória operacional cujo funcionamento é descrito por Baddeley desde a década de 197011 e relaciona-se com o armazenamento e significaçãode conteúdos por um curto espaço de tempo; e as memórias a longo-prazo cuja função é o estoque a por longo tempo da informação. Dissociações de diferentes memórias de longo-prazo também são descritas12, sendo as mais aceitas aquelas relacionadas a memórias explícitas ou declarativa (que podem ser expressas de forma verbal) e memórias implícitas ou de procedimentos (cuja expressão não pode ser explicitada ou pode ser explicitada somente através de atos motores). As memórias explícitas tem sua origem principalmente no córtex temporal e as memórias implícitas no núcleo estriado, no neocórtex, amígdala e cerebelo. O hipocampo é a principal estrutura responsável pela organização e passagem da informação da memória operacional para as memórias de longo-prazo. Assim, como foi dito anteriormente tanto a linguagem quanto a aprendizagem têm suas origens nos processos acima Pantano & Zorzi 21 explicitados. A linguagem é um sistema cognitivo que permite ao homem classificar as coisas desse mundo, dar-lhes uma ordem e torná- los manejáveis9. Já a aprendizagem organiza, integra, dá forma e nome aos estímulos perceptivos vindos do mundo externo ao mesmo tempo que permite integrações e elaborações mentais das informações advindas do mundo externo, permitindo elaborações cada vez mais subjetivas e simbólicas. O processo de aprendizagem envolve áreas motoras, sensitivas, auditivas, ópticas, olfativas, vestibulares, térmicas... Tanto os estímulos a que somos submetidos como aqueles que conseguimos organizar e elaborar mentalmente são dependentes de aspectos culturais e sociais. Dessa forma, somente o resultado da aprendizagem pode ser observado através das mudanças de comportamento ou de elaborações mentais de um indivíduo. Chegamos por fim às funções executivas que se caracterizam por ser uma série de funções complexas dependentes também dos processamentos anteriores. Tem sua origem no córtex frontal (área pré-frontal) e são funções extremamente necessárias para um comportamento eficaz e apropriado. Envolvem a capacidade de iniciar uma determinada tarefa; o planejamento de ações ou mesmo de discursos relacionando-os com o contexto; o levantamento de hipóteses; a flexibilidade de pensamento; tomada de decisões; auto- regulações; julgamento de si mesmo (auto-crítica e análise contextual) e a utilização de feedback. Cabe ao profissional de saúde e educação que atua com a aprendizagem conhecer, avaliar e intervir no funcionamento cognitivo da criança, adolescente ou adulto de forma a favorecer um funcionamento que permita a aquisição de novos conceitos e significados de forma flexível e organizada permitindo ao sujeito adquirir assim autonomia no seu processo de elaboração mental e aprendizagem. Bibliografia 1. OCDE (Organização de cooperação e desenvolvimento econômicos). Compreendendo o Cérebro: Rumo a uma nova ciência do aprendizado. Editora Senac. São Paulo. 2003. 2. Camargo, N.; Smit, AB; Verheijen, MH. SREBPs: SREBP function in glia-neuron interactions. The FEBS journal. 276 (3), 628-36. Feb. 2009. 3. Lathia JD, Mattson MP, Cheng A. Notch: from neural development to neurological disorders. J Neurochem. 2008 Dec;107(6):1471-81. 4. Tsui H, Winer S, Chan Y, Truong D, Tang L, Yantha J, Paltser G, Dosch HM. Islet glia, neurons, and beta cells. Ann N Y Acad Sci. 2008 Dec;1150:32-42. 22 Neurociências 5. Yerushalmi U, Teicher M. Evolving synaptic plasticity with an evolutionary cellular development model. Pos One;3(11):3697. Epub 2008 Nov 11. 6. Mora, F. Como funciona el cérebro? Alianza Editorial SA. Madrid. 2005. 7. Purves, D.; Augustine, GJ.; Fitzpatrick, D.; Katz, LC.; LaMantia, A-S; McNamara, JO. The chemical senses. Sinauer Associates, Sunderland, EUA. 1996. 8. Buck, L.B. The Chemical senses: Smell and taste. 4a. ed, McGraw-Hill, Nova York, EUA. 2000. 9. Mora, F. El cientifico curioso: la ciencia del cerebro en el dia a dia. Ediciones temas de Hoy, S.A. Barcelona. 2008. 10. Xavier, 1993. Xavier, G. F. (1993). A modularidade da memória e o sistema nervoso. Psicologia USP, 4, 61-115. 11. Baddeley, Alan. Memória humana: teoria Y Practica. McGraw-Hill. Madrid. Espanha. 1998. 12. Xavier, G. F. (1996). Memória: correlatos anatomo-funcionais. Em R. Nitrini, P. Caramelli & L. L. Mansur (Orgs.), Neuropsicologia, das bases anatômicas à reabilitação (pp. 107-126). São Paulo: Clínica Neurológica Hospital de Clínicas FMUSP. Pantano & Zorzi 23 Capítulo 2 Atenção e Memória Telma Pantano e Vicente José Assencio-Ferreira O processo de aprendizagem necessariamente envolve compreensão, assimilação (memória), atribuição de significado e estabelecimento de relações entre o conteúdo a ser apreendido e os conteúdos a ele relacionados e já armazenados. Nessa visão cognitiva, a aprendizagem é um processamento resultante de processos cognitivos que envolvem sensação, percepção, atenção e memórias (operacional e de longo prazo). Uma vez que a atenção e as memórias são processos anteriores aos de aprendizagem, o profissional de saúde e educação que se ocupe da aprendizagem deve conhecer profundamente e saber avaliar tais processos para realizar uma avaliação bem estruturada e elaborada. Assim, conhecimentos básicos sobre a neuroanatomia e neurofisiologia da atenção e memória, permitem uma melhor compreensão dos achados teóricos que os neurocientistas nos oferecem todo dia. Apesar de ser matéria em franco desenvolvimento, suas as bases anatomofisiológicas já estão bastante sistematizadas. Neste capítulo, os aspectos relacionados à atenção e à memória serão abordados separadamente apenas como uma divisão didática, uma vez que ambos estão intimamente imbricados no decorrer do processamento cognitivo. Neuroanatomotofisiologia da Atenção Para que o sistema nervoso estabeleça a função atenção, é necessário o trabalho/envolvimento de grandes áreas corticais e subcorticais. Através de exames funcionais é possível perceber que o desenvolvimento da atenção determina o aumento de impulsos elétricos de neurônios localizados em várias áreas do encéfalo. Quando um animal presta atenção em um estímulo, os neurônios do córtex frontal e do colículo superior (ponto de passagem 24 Neurociências de estímulos visuais) aumentam sua atividade nervosa. As células do córtex parietal relacionadas ao processamento visual (percepção da cor, forma e detalhes finos) também respondem mais fortemente. Isto sugere que a atenção acentua o processamento sensorial como um todo, o que facilita o movimento planejado para uma provável/possível resposta. De uma forma simplista podemos afirmar que os elementos corticais participantes do controle atencional envolvem o lobo parietal posterior, a área pré-motora e o córtex pré-frontal. De um lado o lobo frontal detecta o alvo e prepara a adequada resposta, enquanto o lobo parietal orienta a atenção. Uma outra abordagem, com visão integrativa propõe um sistema que inclui, também, participação co córtex intraparietal e frontal superior, o qual está envolvido no controle da seleção dos estímulos e respostas, relacionando-se com a rede neural temporo- parietal-frontal inferior, especializada na detecção de estímulos comportamentalmente relevantes. Quanto as áreas subcorticais são evidentes as participações do tálamo, área cingulada e formação reticular do tronco encefálico. A formação reticular situado no tronco encefálico é constituído por grupos mais ou menos bem definidos de neurônios, que promovem o controle eferente da sensibilidade, selecionando informações sensoriais que lhe chegam, eliminando ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, promovendo a atenção seletiva. Depende da ativação do córtex frontal anterior que determina o que deve ou não deve “passar”para o córtex, funcionando como um filtro. É o denominado filtro atencional em que estímulos seriam selecionados com base em características físicas pré-estabelecidas pelo córtex frontal anterior. Estímulos filtrados não teriam prioridade de acesso aos sistemas corticais de processamento, a não ser que eventos inesperados, surpreendentes ou incongruentes no ambiente, “furem o bloqueio” e sejam prontamente, de forma quase inevitável, elevados à categoria de foco de atenção. Existe, portanto, um selecionador ou um processamento pré-atencional antes que a informação se torne consciente e estabeleça uma resposta específica. Na Figura 1 estão esquematizados os sistemas de “filtros” que os estímulos têm que percorrer para desenvolverem ou não a atenção e serem processados. Pantano & Zorzi 25 En tr ad a de in fo rm aç ão Es tím ul os s el ec io na do s A. Filtro Simples B. Filtro Atenuador C. Filtro Amplificador Filtro Pré filtragem Pós filtragem Neuroanatomofisiologia da Memória Na contextualização da memória a participação de estruturas encefálicas subcorticais é marcante, em especial as relacionadas com o Sistema Límbico. Sabe-se que este mesmo sistema participa intimimamente com os processos emocionais, em conjunto com o Hipotálamo e a área Pré-Frontal. Falar de memória nos obriga a falar das atividades relacionadas à emoção, pois as bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são Figura 1. Modelo representativo de filtros seletivos de informações. (A) com filtro simples, que impede a passagem de informações não selecionadas e deixa apenas os estímulos selecionados alcançarem níveis superiores de processamento. (B) com filtro atenuador, que restringe, mas não impede a passagem de informações não selecionadas. Dessa forma permite que as informações selecionadas chegem com maior intensidade relativa nos sistemas de processamento e (C) com filtro amplificador, em que as informações selecionadas têm sua atividade amplificada pelo filtro1,2,3,4,5. 26 Neurociências realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto, são derivadas do Sistema Límbico. Na Figura 2 estão citadas as áreas corticais e subcorticais que se conectam com o sistema límbico. A memória de curto prazo permanece no córtex cerebral, mas a retenção da mesma como memória de longo prazo, promove o deslocamento dos estímulos para áreas encefálicas mais profundas, sumarizadas na Figura 3. Enquanto permanece no córtex, a informação arquivada temporariamente, sofre ação de dois sistemas de suporte: um de natureza vísuo-espacial e outro de natureza fonológica. Posteriormente, para lidar com as associações entre as informações mantidas nos sistemae de suporte e promover as integração com as memórias de longa duração é necessário tornar-se consciente (ou seja, cortical) as memórias de longa duração. Assim, Baddeley7 estruturou outro Corpo Caloso Cerebelo (vermis) Hipocampo Amígdala Lobo Temporal Hipotálamo Tálamo Córtex pré-frontal Figura 2. Esquema representativo das estruturas corticais e subcorticais que se conectam com o sistema límbico (Tálamo, hipotálamo, Amígdala e Hipocampo). Pantano & Zorzi 27 elemento no modelo de memória de curto prazo, em que existe a participação de estruturas subcorticais, primariamente, inconscientes. A atenção é um processo neural que se expressa no comportamento dos indivíduos8 e é observada pela capacidade de filtrar informações em diferentes pontos do processo perceptivo. A atenção faz com que haja a percepção de alguns estímulos e a negligência de outros dentro do processamento cognitivo. De todos os estímulos perceptivos que invadem o nosso córtex, a atenção atua como um mecanismo que escolhe os estímulos relevantes para serem processados enquanto os demais são atenuados ou não processados9,10. São características do processo atencional a possibilidade de controle voluntário sobre ele, bem como a sua capacidade limitada. Assim, pode-se escolher os estímulos a receberem seleção atencional; da mesma forma, não é possível ter mais de um foco atencional em um processamento cognitivo complexo ao mesmo tempo. Com relação à origem do processo atencional, a atenção pode ser classificada como automática e voluntária ou controlada8,11,12. A atenção automática não tem o controle voluntário e é destinada a estímulos salientes sensorialmente ou relevantes biologicamente, ou seja, estímulos súbitos, intensos, em movimento, contrastantes com o fundo (exemplo: parede versus animal) e significativos em um dado contexto (ex.: alguém chamando o seu nome numa festa). Figura 3. Esquema de localização dos sistemas de memória de longa duração (adaptado de Squire & Knowlton6) 28 Neurociências Já a atenção voluntária pode ser dirigida a motivações fisiológicas como dor de barriga, fome e sede, assim como a motivações sociais como sugestões verbais e a procura na internet de um determinado tema. A atenção voluntária pode ser operacionalizada de acordo com algumas características8,12: • Seletiva: privilegiar determinados estímulos em detrimento de outros – mecanismo atencional básico; • Sustentada: manter atenção em um estímulo durante um determinado tempo; • Alternada: alternar o foco atencional – desengajar-se de um estímulo e engajar-se em outro; • Dividida: desempenhar simultaneamente duas tarefas – um estímulo torna-se um processamento automático e o outro, um processamento controlado. Por sua vez, os focos atencionais podem estar relacionados a estímulos sensoriais, memórias, pensamentos, recordações e a execução de cálculos mentais. A atenção está diretamente relacionada ao contexto em que o indivíduo está inserido, às características dos estímulos, expectativas individuais, motivação, relevância da tarefa desempenhada e experiências anteriores13,14. Pode-se avaliar o funcionamento da atenção através de exames de ressonância magnética funcional, em que é possível verificar as estruturas cerebrais envolvidas nos diferentes tipos de informação sensorial, bem como através de testes atencionais como o stroop23 (Figura 4), escuta dicótica, testes de performance contínua e o digit spam, entre outros. Figura 4. O Canadá está utilizando o efeito Stroop nas estradas para chamar a atenção dos motoristas, pois eles não costumam prestar muita atenção nas placas convencionais. Pantano & Zorzi 29 A maior parte das alterações atencionais são resultantes de quadros lesionais e disfuncionais orgânicos e podem sofrer alterações de intensidade, sendo consideradas: alterações simples, brandas, oscilatórias e flutuantes. As alterações relacionadas aos aspectos quantitativos de atenção são classificadas como distração, hiperprosexia, hipoprosexia e aprosexia8,15,25. Distração ou distraibilidade é a dificuldade para concentrar a atenção sobre um estímulo contextualmente mais significativo. Pode ocorrer por excesso de concentrção como em pessoas ansiosas, ou pessoas com interesse por estímulos exclusivos (pensamentos, sensações e percepções). Em situações de hipervigilância, como por exemplo em situações focos emocionais: filme de terror, terror noturno, condições paranóides, quadros fóbicos e uso de cocaína e estimulantes, há a flutuação da atenção com qualquer estímulo do ambiente. Nesses casos há um aumento da atenção voluntária e uma queda da atenção espontânea. A hiperprosexia relaciona-se ao aumento quantitativo da atenção e, conseqüentemente, à diminuição dos aspectos qualitativos da mesma. Nesse caso, o indivíduo interessa-se pelas mais variadas solicitaçõessensoriais sem se fixar em um objeto específico, ou seja, sem produzir processamentos mais complexos aos estímulos que recebem a atenção. Tal quadro envolve estados patológicos que envolvem excitação psicomotora, tais como episódios maníacos, transtorno hipercinético da infância, intoxicações por cocaína ou estimulantes. Por sua vez, a hipoprosexia envolve o enfraquecimento acentuado da atenção tanto automática quanto voluntária. Relaciona- se a quadros como transtornos depressivos, embriaguez alcóolica aguda e embriaguez patológica, autismo, demências, paralisias, esquizofrenia, transtorno cognitivo leve, epilepsia, paralisia geral e deficiências mentais. Por último, a aprosexia representa ausência total de atenção por mais intensos que sejam os estímulos. É observada em quadros de acentuada deficiência mental, distúrbios metabólicos e tóxicos, traumas cranioencefálicos (TCEs) subcorticais, inibição cortical e estados demenciais graves. Em função de memórias previamente armazenadas, o córtex cerebral sabe quais estímulos devem ser selecionados em detrimento de outros. Atenção e memória formam, assim, uma via de mão dupla em que um é dependente do outro para a seleção dos estímulos e para o seu armazenamento. 30 Neurociências A memória é uma atividade eletrofisiológica que possui a função de permitir o registro, manutenção e evocação de fatos já acontecidos8. É modulada por fenômenos psíquicos como: consciência, atenção e concentração, interesse, emoção, sensopercepção, repetição e associação dos estímulos a serem percebidos. De acordo com Nogueira15, os dados de memória podem ser armazenados de forma isolada (dados vazios e aleatórios – número de telefone), relacionados (uma relação simples com um objeto ou pessoa – nomes próprios) e de forma integrada (relacionam-se com uma série de significados)15. Os dados armazenados de forma integrada são considerados numa postura cognitiva como a aprendizagem propriamente dita. Toda memória possui as fases de fixação, retenção e evocação dos estímulos. O processo de fixação depende de vários fatores, tais como nível de consciência do indivíduo, estado geral do organismo (nutrição, cansaço, calma), atenção global, capacidade de manutenção da atenção sustentada, interesse e conteúdo emocional que o indivíduo atribui ao estímulo, assim como de seu conhecimento prévio, da capacidade de compreensão do conteúdo e dos canais senso-perceptivos envolvidos. O tempo de fixação é limitado pelo grau de importância e pelo tipo de utilização que faremos de cada evento registrado. A capacidade de fixação pode ser trabalhada, treinada e, consequentemente, melhorada. A conservação depende da repetição e utilização dos estímulos e da sua associação com outros elementos é, portanto, um processo dinâmico e integrativo com as memórias já armazenadas pelo indivíduo. A evocação é a reprodução dos dados fixados15. Problemas no resgate (evocação) da informação podem estar relacionados a falhas nos processos de fixação e conservação, mecanismos fisiológicos relacionados ao desinteresse ou desuso, lesões, quadros demenciais e emocionais. O material evocado nunca é o mesmo que o fixado, uma vez que sofreu alterações decorrentes do processo de conservação em que são atribuídas características pessoais aos elementos armazenados. Fazemos muito mais fixação do que evocação uma vez que nem toda material preparado para armazenamento é conservado e posteriormente evocado. As memórias podem receber diferentes classificações como, por exemplo, serclassificadas conforme as percepções e capacidades funcionais, sendo consideradas memórias visual, Pantano & Zorzi 31 espacial, gustativa, olfativa, tátil, proprioceptiva, aritmética ou musical15,16. Fisiologicamente, de acordo com o tempo de armazenamento, a memória pode ser dividida em operacional, que funciona através de estímulos bioquímicos, e a longo prazo, cuja consolidação se dá através de reorganização neuronal e de “brotamento” neuronal17. A memória operacional é um conjunto de habilidades cognitivas que permite que informações novas e antigas sejam mantidas ativas (on-line) a fim de serem manipuladas com o objetivo de realizar determinada tarefa18. O material armazenado na memória operacional deve ser utilizado imediatamente para não ser transformado ou descartado. É uma das principais memórias relacionadas à produção e compreensão da linguagem, aprendizagem, funções executivas e raciocínio. Envolve principalmente o funcionamento do córtex pré-frontal22,24. Por serem estruturadas de forma mais estável (através de brotamento neuronal ou reorganização dendrítica, como já explicado), as memórias a longo prazo podem receber várias classificações. A mais utilizada relaciona-se ao tipo de informação armazenada. De acordo com essa proposta de classificação, tais memórias podem ser divididas em explícitas (semântica, autobiográfica, episódica), que podem ser reproduzidas por meio de linguagem, e implícitas, que não podem ser expressas de forma lingüística12,16,19,20. As memórias implícitas são utilizadas em habilidades motoras, perceptivas, aprendizado de regras e procedimentos. Estão relacionadas ao sistema sensorial e/ou motor envolvido no processo de aprendizado de regras (exemplo: regras gramaticais, conjugação verbal em língua estrangeira). São memórias não declarantes mais relacionadas a habilidades e estratégias motoras, sofrendo pouco prejuízo em quadros de demência. Porém, em quadros degenarativos como a doença de Huntington, o seu comprometimento é bastante evidente. A memória explícita envolve o processo de registrar e evocar de forma consciente informações relacionadas a pessoas, eventos e conhecimentos factuais. Depende das regiões mesiais dos lobos parietais. Os processos patológicos envolvidos no prejuízo dessa memória são a síndrome de Wernicke-Korsakoff e lesões no lobo temporal que envolvam o hipocampo. Nesses casos, há perda de capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há mais de alguns minutos, incluindo eventos marcantes e traumáticos11. A memória explícita divide-se em semântica, autobiográfica e episódica. 32 Neurociências As falhas e/ou lapsos de memória comumente observados em pessoas jovens parecem estar relacionados com a avalanche de informações do mundo moderno, o que provocaria uma assimilação superficial dos conteúdos e conseqüentemente pouca retenção devido a falhas na etapa de fixação. As principais causas desses quadros são usualmente atribuídas a pouca concentração, estresse (uma vez que o excesso de cortisol provoca uma “atrofia” do hipocampo), ansiedade, depressão e o uso contínuo e excessivo de drogas, álcool, maconha e calmantes. Em relação às alterações quantitativas da memória, pode-se citar a hipermnésia, que envolve a recordação em quantidade aumentada, porém com redução dos aspectos qualitativos, como nos casos de transtornos orgânicos gerais, excitação maníaca ou hipomaníaca, epilepsia, sonhos, hipnose, situações limites de risco (sofrimento ou morte iminente), manifestações tóxicas por cocaína ou anfetamina e o início de certas evoluções demenciais. Na hipermnésia as capacidades de fixação e conservação encontram-se diminuídas e está associada a situações de aceleração do ritmo psíquico. A amnésia é a perda da capacidade de fixar, armazenar ou evocar conteúdos. De acordo com Nogueira15 pode afetar conteúdos específicos ou sistematizados (nomes próprios, palavras, fatos, pessoas ou números); tempo (inespecíficas ou localizadas)15. As amnésias podem também ser classificadas como psicogênicas (perda de lementos focais com valor psicológico) ou orgânicas (menos seletiva em relação ao conteúdo esquecido), ou então, conforme a relação temporal com um evento específico, como anterógradas (depois da causa determinante ou do distúrbio)ou retrógradas (antes da causa determinante). A amnésia pode ser reversível ou irreversível 12. É comumente observada em casos de transtornos psicogênicos como amnésia dissociativa, psicoses agudas e em caso de transtornos orgânicos como as demências orgânicas, Alzheimer, síndrome de Korsakov, epilesia, alcoolismo, uso de benzodiazepínicos e anestesias gerais, traumatismos cranianos e retardo mental. Quanto aos aspectos qualitativos da memória, as principais alterações relacionam-se às paramnésias que são deformações do processo de evocação de conteúdos previamente fixados com distorções que incluem acréscimos de detalhes, significados ou emoções falsas aos fatos. São observados em transtornos orgânicos como a esquizofrenia paranóide, síndorme maníaca e histeria grave, transtornos de personalidade e transtornos mentais orgânicos como a Pantano & Zorzi 33 síndorme de Korsakov, Alzheimer21, alcoolismo, epilepsia e retardo mental de grau moderado. Outra alteração qualitativa é denominada memória enxertada, que se caracteriza pelo acréscimo de informações falsas a um núcleo verdadeiro de informações. Outras alterações possíveis são os delírios e alucinações mnêmicas, além das fabulações (nas quais elementos da imaginação do paciente ou lembranças isoladas completam lacunas da memória, comuns em encefalites, intoxicações e alcoolismo crônico). Os quadros patológicos mais freqüentemente relacionados a alterações de memória são a criptomnésia (falseamentos de memória nos quais as lembranças aparecem como novas recordações); lembranças obsessivas; agnosias (falsos reconhecimentos); quadros demenciais (exemplo: mal de Alzheimer); traumatismos crânio-encefálicos; acidentes vasculares cerebrais; epilepsias; hipóxia e encefalites. Nogueira (2005)14 apresenta um esquema bastante simplificado sobre as alterações de memória (Quadro 1). Quadro 1. Possibilidades diagnósticas das alterações da memória quantitativas e qualitativas14. Todas essas alterações de memória assim como de atenção podem ter repercussões importantes para a aprendizagem, elaboração e compreensão de linguagem. Cabe então aos profissionais que trabalham com essas alterações investigá-las e conhecê-las em profundidade para que o seu trabalho possa se tornar cada vez mais efetivo e completo. 34 Neurociências Bibliografia 1. Broadbent, DE. Perception and communication. London: Pergamon Press; 1958. 2. Treisman AM. Contextual cues in seletive listening. Q J Exp Psychol B 1968;12:242-8. 3. Deutsch JA, Deutsch D. Attention: some theoretical considerations. Psychol Rev 1960;70(1)80-90. 4. Kandel ER, Schwartz JH, Jessell TM. Princípios de Neurociência. 4ª edição. São Paulo: Manole; 2003. 5. Helene AF, Xavier GF. A construção da atenção a partir da memória. Rev Bras Psiquiatr 2003:25(2)12-20. 6. Squire LR, Knowlton BJ. Memory, hippocampus, and brain systems. In: Gazzaniga MS, editor. The cognitive neurociences. Cambridge: A Bradford Book; 1995. p. 825-37. 7. Baddeley A. The episodic buffer: a new component of working memory? Trends Cogn Sci 2000;4(11):417-23. 8. Bear, MF; Cooper, LN; Ebner , FF. A physiological basis for a theory of synapse modification. Science, Vol 237, 4810, 42-48. 2002. 9. Pessoa, K., Gutierrez, L. G., Bandettini, P. A., Ungerleider, L. G. Neural correlates of visual working memory: fmRI amplitude predicts task performance. 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O Sistema Nervoso, desenvolvido mais recentemente na escala filogenética, é o elemento que permite ao homem a modulação de seu comportamento para sobrevivência e adaptação ao meio ambiente. Em outras palavras, através do sistema nervoso os indivíduos aprendem a otimizar recursos para viver bem. Os cinco primeiros anos na espécie humana são cruciais para seu desenvolvimento. É a fase em que nosso encéfalo sai dos 400 gramas do nascimento para chegar perto de 1,5 quilo da idade adulta. A diferença de tamanho é explicada pelas conexões que vão acontecendo nos cinco primeiros anos entre os neurônios das crianças, formando uma rede de informações que fundamenta o que chamamos de inteligência. O desempenho do sistema nervoso humano está de tal modo relacionado à cultura, consciência, linguagem, memória, que o distingue dos outros animais. Este é um problema que discutiremos neste capítulo, na tentativa de entender o sistema nervoso através de sua intelectualização. É de suma importância, também, entender a própria evolução do cérebro humano através de sua neurogênese, já que desta resultará a base anatômica para o seu desenvolvimento, desde a infância, passando pela adolescência e chegando à vida adulta. Assim sendo abordaremos, num primeiro tempo, a organogênese do sistema nervoso, suas correlações e implicações. 38 Neurociências Diferenciaçãoe especialização celular Durante o período embrionário inicia-se a cadeia de processos que vai culminar no que conhecemos como diferenciação e especialização celular. No caso das células nervosas, este processo implica na capacidade de sintetizar neurotransmissores e enzimas, desenvolver receptores protéicos e formar conexões específicas com outras células na sua periferia e à distância. Resumidamente, podemos dizer que a seqüência de eventos que levam uma célula indiferenciada a se transformar em um neurônio inclui a determinação (“separação” de um grupo de células que vai se expressar geneticamente como neurônios e sua disposição em regiões específicas do embrião), diferenciação (engloba a proliferação e formação de neurônios de certa linha, sua migração para os locais adequados e desenvolvimento de suas interconexões específicas). Estes dois processos são determinados pela interação balanceada da expressão genética intrínseca das células e fatores presentes no microambiente embrionário, sendo que cada evento ocorrido desencadeia uma seqüência de outros eventos, e assim sucessivamente, numa cadeia interdependente. O último estágio deste processo, a formação de interconexões entre os neurônios, inicia-se no período embrionário, porém só vai se completar na fase pós-embrionária, através da influência adequada de fatores ambientais. Embriologia O sistema nervoso dos vertebrados desenvolve-se a partir do ectoderma, camada mais externa dos três folhetos embrionários. O ectoderma se espessa dando origem à placa neural, a qual se invagina para formar uma estrutura tubular, denominada de tubo neural. Este evento ocorre entre a terceira e a quarta semana de idade gestacional, onde sinais provenientes do mesoderma subjacente (notocorda) induzem a formação da placa neural, fato este, descoberto em 1924 por Hans Spemann e Hilde Mangold apud Jessel e Sanes, 2000a31. Assim, o mesoderma libera substâncias químicas específicas para o ectoderma, as quais influenciarão na expressão gênica das células ectodermais, cruciais para a formação do tubo neural. Dentre essas substâncias temos o ácido retinóico, um derivado da vitamina A e um dos membros da família dos esteróides, o qual ativa uma classe de fatores de transcrição – os receptores Pantano & Zorzi 39 retinóicos – que modulam a expressão de genes particulares. Uma outra classe de indutores é conhecida como fatores tróficos, dentre eles, podemos citar o fator de crescimento fibroblástico (fibroblast growth factor – FGF) e a família dos fatores de crescimento transformantes (transforming growth factor – TGF)1. Quando da formação do tubo neural, as duas semanas subseqüentes, ou seja, quinta e sexta semana de idade gestacional serão marcadas pela indução das vesículas encefálicas, as quais se diferenciarão, morfologicamente, em todas as estruturas encefálicas (Figura 1). Temos, assim, as três vesículas encefálicas primárias compostas pelo prosencéfalo (encéfalo anterior), mesencéfalo (encéfalo médio) e o rombencéfalo (encéfalo posterior). Como conseqüência do desenvolvimento embrionário, o prosencéfalo originará duas vesículas secundárias: o telencéfalo ou cérebro propriamente dito, e o diencéfalo; o mesenséfalo não se modifica e o rombencéfalo originará duas outras vesículas secundárias: o metencéfalo, o qual se tornará cerebelo e ponte, e o mielencéfalo, o qual se tornará bulbo43. Durante todo este processo, a luz do tubo neural se encontra repleta de líquido cerebrospinal e constituirá o sistema ventricular, composto pelos ventrículos laterais direito e esquerdo, terceiro e quarto ventrículos e os forames interventriculares que conectam os ventrículos laterais ao terceiro ventrículo e o aqueduto mesencefálico que une o terceiro ao quarto ventrículo1. Constituição do Sistema Nervoso Os hemisférios cerebrais são incompletamente separados, sendo principalmente unidos pelo corpo caloso. Cada hemisfério possui quatro lobos: frontal, parietal, temporal e occipital. A camada superficial do encéfalo apresenta depressões denominadas sulcos, que delimitam os giros ou circunvoluções cerebrais e permite considerável aumento de superfície do chamado córtex cerebral, onde serão processadas as informações mais complexas. O padrão de giros e sulcos varia em cada cérebro, podendo ser diferente nos dois hemisférios de um mesmo indivíduo. Os dois sulcos mais importantes são o lateral e o central. O sulco lateral separa o lobo temporal, situado abaixo dos lobos frontal e parietal situados acima. O sulco central está localizado no lobo parietal, ladeado por dois giros paralelos, um anterior, o giro pré-central e outro posterior, giro pós-central. 40 Neurociências O córtex cerebral é a fina camada de substância cinzenta (corpo celular de neurônios) que reveste o centro branco (área de projeção das terminações nervosas) do encéfalo. No córtex cerebral chegam impulsos provenientes de todas as vias da sensibilidade inclusive formação reticular) que aí se tornam conscientes e são interpretadas. Do córtex saem impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos voluntários e com ele estão relacionados os fenômenos psíquicos. O córtex cerebral, durante o desenvolvimento filogenético, sofreu um aumento progressivo atingindo seu maior desenvolvimento na espécie humana, o que pode ser correlacionado com o grande desenvolvimento das funções intelectuais nesta espécie. Assim, ele está correlacionado com o desenvolvimento das funções nervosas superiores43. Sua superfície se tornou, relativamente, maior que o seu volume, uma condição que explica o aparecimento de sulcos e giros, necessários para acomodar o crescimento do cérebro dentro do crânio10. No período da adolescência observamos um grande aumento de circuitos cerebrais, com várias interconexões se formando, utilizando-se das informações básicas adquiridas durante os primeiros anos de vida, como descreveremos a seguir. A Especialização do Sistema Nervoso Nos recém-nascidos, o cérebro é um órgão de grande plasticidade. Seus dois hemisférios, o esquerdo e o direito, ainda não estão completamente especializados. Isso só acontecerá entre os cinco e dez anos de idade. Dentro de cada hemisfério, não se conectaram as terminações nervosas responsáveis por dons elementares, como a fala, a visão, o tato ou tão refinados quanto raciocínio matemático, pensamento lógico ou musical. Para se desenvolver, o cérebro precisa de ginástica. Basta dizer que cada pessoa pode realizar de 3 a 150.000 conexões neurais. O pico acontece por volta dos dois anos de idade (vide abaixo), havendo uma perda gradual com o passar do tempo. São muitas conexões, e melhores também. Isso porque, nessa fase, entre outras coisas, o organismo produz mielina – substância que envolve os neurônios, cuja finalidade é aumentar a velocidade e lisura durante a transmissão de informações. Só que essa produção termina na terceira década de vida. É por isso que, apesar de o adulto possuir neurônios e, conseqüentemente, ser capaz de aprender uma língua estrangeira ou um esporte novo, o tempo necessário é habitualmente maior. Pantano & Zorzi 41 Mielinização Concomitantemente aos processos de migração e organização cortical está ocorrendo a mielogênese47. A bainha de mielina é um complexo lipoprotéico, caracterizado pela superposição de várias membranas celulares que revestem o axônio ao longo de seu comprimento, deixando pequenos intervalos denominados de nódulos de Ranvier. No SNC está bainha é formada pelo oligodendrócito, o qual pode envolver, aproximadamente, 15 axônios de uma só vez. A proporção entre as células do tecido nervoso é de aproximadamente 10 células da glia para cada neurônio33. O pico de mielinização ocorre de 24 semanas de vida intra- uterina ao nascimento e do nascimento até, aproximadamente, 24 mesesde vida pós-natal47. Entre o sexto e o décimo-oitavo mês de vida pós-natal a substância branca é, proporcionalmente, de menor volume em relação ao córtex mais maduro. O crescimento da substância branca continua por um período longo até o fim da primeira década, tendo a substância cinzenta já adquirida proporções adultas7. Sinaptogênese O mecanismo de formação de sinapses entre as células nervosas é um mecanismo altamente complexo, pois exige que um número imenso de células “encontre” seus alvos adequados a fim de formar os diferentes tratos e regiões cerebrais, para constituir finalmente todo o sistema nervoso central e periférico. É um processo delicado e de alta precisão, cujos fenômenos ainda não são completamente compreendidos. De maneira simplificada, podemos entender que um grupo de células nervosas “sabe” qual o seu destino através do reconhecimento de marcadores moleculares presentes em sua constituição que devem “casar- se” com os do local alvo. Através da completa combinação de marcadores, como uma “senha” estabelece-se a conexão entre as células. Além disso, os axônios também devem ser guiados, por mecanismos semelhantes, a seus alvos, que também serão reconhecidos através de marcadores químicos. Após o estabelecimento inicial destas conexões, ocorrem modificações adicionais levando à moldagem da massa de células, com aumento da diferenciação, retirada da população excedente (em geral por privação de fatores de crescimento e nutricionais) e remodelação das sinapses. Finalmente, haverá um ajuste mais fino, sendo que neste último e mais sofisticado processo o aprendizado passa a ter um papel crucial. Todas estas etapas de interação celular são altamente complexas e, portanto, 42 Neurociências são etapas críticas para um correto desenvolvimento de toda a futura rede neuronal. Erros de migração celular levam a uma série de outras aberrações no processo, que culminam com as chamadas malformações congênitas acometendo o sistema nervoso, muitas vezes induzidas, por exemplo, pelo uso de drogas durante o período crítico de diferenciação celular (primeiro trimestre da gestação)51. Para que o neurônio seja capaz de realizar uma sinapse, torna- se mister, após a migração ou, em alguns casos, durante a migração, estender seus prolongamentos, os quais se tornarão axônios e ou dendritos. Após o processo de projeção do axônio, o qual é mediado por diversas proteínas, ele se conectará com seus alvos, com o objetivo de estabelecer um circuito responsável pela comunicação entre as diversas regiões do SN e a comunicação do SN com os outros sistemas do organismo. O contato estabelecido entre o neurônio e outras células excitáveis (outros neurônios, músculos e glândulas) é denominado de sinapse, conceito este estabelecido em 1887 por Charles Sherrington apud Bear et al., 20018. Parece difícil determinar quando uma sinapse surge e quando o seu desenvolvimento está completo. Mas, uma vez formada, as junções sinápticas são estruturas dinâmicas que podem, grosseiramente, ser remodeladas até mesmo durante a vida adulta38. As sinapses podem ser elétricas ou químicas. Nas primeiras, a transmissão do impulso ocorre através de corrente elétrica, esta se propaga de forma instantânea, ou seja, as membranas plasmáticas dos neurônios pré e pós sinápticos entram em contato, permitindo a passagem direta de pequenas moléculas, como íons. Estas sinapses ocorrem, principalmente, entre um neurônio e outro (sinapse interneural) e representam uma pequena quantidade nos seres humanos, os quais têm, na sua grande maioria, sinapses químicas, onde o contato que se estabelece entre os neurônios e as células efetoras (sinapse neuro-efetora) só ocorre na dependência de um mediador químico, denominado neurotransmissor11 ou neuromodulador42. Durante o desenvolvimento dos contatos sinápticos tem- se a especialização pós-sináptica com o alargamento da fenda sináptica e a formação dos receptores. Na região pré-sináptica ocorre a formação de vesículas, neurotransmissores e neuromoduladores47. Com o decorrer da maturação do SNC, há um aumento (no número e densidade dos receptores38, maturação dos componentes pré-sinápticos e aumento do comprimento dendrítico47. O período que compreende o mais alto nível de sinaptogênese está entre o sétimo mês de gestação e dois anos de idade47. Pantano & Zorzi 43 Nutrição e desenvolvimento do sistema nervoso A literatura é controversa quanto ao fator de maturação mais importante, porém nos períodos gestacional e pós–natal precoce, evidencia-se decisivamente o fator nutricional. Ocorre intenso anabolismo e a matéria prima para os processos maturativos provém do aporte nutricional2,3. Entretanto, a simples assimilação de nutrientes não está ligada de modo direto ao desenvolvimento cerebral. A idéia “alimente-se e seja inteligente” é uma compreensão simplória3. O aporte nutritivo necessita atender à demanda variável do SN como um todo e a das diferentes regiões encefálicas em particular, e a cada tempo do período maturativo. A carência de um mesmo nutriente pode portanto causar anormalidades diversas com diferente gravidade. Também restrições até moderadas podem produzir lesões permanentes, conforme o período evolutivo do SN, em que ocorra4-7. Em estudos de experimentação animal existe descrição as alterações no sistema nervoso jovem por carência nutricional – celularidade reduzida, numérica e funcionalmente, diminuição da síntese de DNA, erros na replicação, diferenciação neural alterada, redução do número de sinapses por célula cortical, alteração na densidade neuronal e dos seus circuitos, transtornos no desenvolvimento dos sistemas neurotransmissores, ainda, modificação nas células de Bell do cérebro, alterações na glia da córtex cerebral, redução da mielinogênese, e também, alterações no metabolismo da glicose e do glutamato. Alguns destes resultados são persistentes, outros revertem, se houver correção alimentar. Verifica-se que ocorre acometimento em todas as fases do neurodesenvolvimento, inclusive cruciais como proliferação, migração, organização e mielinação. Há evidências de sucederem fatos semelhantes no cerebelo humano. Sabe-se, portanto da possibilidade do SN ser distorcido quanto a nobres funções, em decorrência de déficit nutricional na fase de rápido desenvolvimento. Morte celular programada A morte celular programada (programmed cell death – PCD) é um fenômeno que ocorre tanto no SNC, quanto no SNP, resultando na perda de até metade de todos os neurônios gerados inicialmente. Este processo de superprodução, seguido por drástica redução no número de células é, comumente, descrito como um fenômeno que ocorre após os axônios ter atingido seu alvo e o estabelecimento das sinapses haver iniciado8,31. Acredita-se que este 44 Neurociências declínio no número de células seja um reflexo da competição entre os diferentes axônios que inervam a mesma célula-alvo e por uma regulação na quantidade limitada de fatores tróficos16. No entanto, Rakic e Zecevic48, em pesquisando o desenvolvimento do telencéfalo humano, postularam dois tipos de PCD, uma no período embrionário, onde a PCD é sincrônica com a proliferação e migração das células neurais e, provavelmente, não estaria relacionada com a estabilização do circuito neuronal e a PCD no período fetal, esta sim, coincide com a diferenciação e sinaptogênese estando, pois, relacionada com o desenvolvimento das conexões dos alvos axonais. Todavia, a PCD de neurônios e células da glia é geneticamente regulada e a maioria, se não todas as PCDs ocorrem em forma de apoptose, estes dois termos são, comumente, usados como sinônimos48. A apoptose é um tipo de PCD morfologicamente caracterizada por retração celular, convoluções da membrana, condensação da cromatina no núcleo, fragmentação do núcleo,porém existe a integridade de organelas citoplasmáticas e da membrana, ausência de reação inflamatória e os corpos apoptóticos são removidos pela ação fagocitária dos macrófagos ou das células glias adjacentes40. Mas, faz-se necessário saber que há outro tipo de morte celular na qual a célula sofre necrose, onde há a ruptura da membrana celular e liberação dos conteúdos intracelulares. A necrose é causada por insulto ao SNC e se caracteriza por reação inflamatória52, não sendo esta característica de PCD no desenvolvimento normal do SN. Desenvolvimento e crescimento Sabemos que, para sobreviver, o animal interage com seu meio ambiente a partir de comportamentos instintivos, considerados inatos, isto é, geneticamente determinados para uma dada espécie. Esses comportamentos por mais estereotipados que sejam, podem sofrer alguma espécie de modificação de acordo com a pressão do meio ambiente. A atividade de alimentação é um exemplo dessa condição: programas pré-determinados geneticamente garantem a atividade muscular relacionada à alimentação: uma seqüência de movimentos encadeados que tem como resultado final o transporte do alimento ao trato digestivo. Tal condição “pré-programada” pode ser alterada, pois os padrões de alimentação podem ser variados de acordo com o tipo de alimento, volume e densidade do alimento ingerido e a adaptação do sistema nervoso desenvolve-se ao longo da vida27. Pantano & Zorzi 45 Para que o desenvolvimento e crescimento ocorram adequadamente, sofrerão, ao longo do tempo, influências chamadas de: hereditariedade, ambiente, maturação e aprendizagem. Hereditariedade O desenvolvimento e crescimento do ser humano começam no momento da fecundação, e é a partir desse momento que a hereditariedade começa a exercer sua influência, pois ela significa a transmissão das características da espécie e, em particular, de certas características individuais dos pais aos filhos. A hereditariedade é transmitida pelos genes, que têm em seu interior um conjunto de instruções ou programações para o desenvolvimento do indivíduo. Tais instruções ou programações dependerão de vários fatores, sendo o fator ambiental um deles. Ambiente É tido como a soma total de estímulos que atinge um organismo vivo, de modo a traduzir o código genético determinado no momento da concepção. O ambiente pode ser: intracelular (de dentro da célula), intercelular (existe entre as várias células orgânicas), intra-uterino (antes do nascimento) e pós-uterino (depois do nascimento). Vimos desta forma, que o fator ambiental está presente desde o momento da concepção. Além da hereditariedade e ambiente, temos a maturação e aprendizagem como indispensáveis ao desenvolvimento humano. Maturação do Sistema Nervoso na adolescência É definida como o desenvolvimento das estruturas corporais neurofisiológicas, determinado pelas potencialidades inatas e independentemente de experiência prévia, que poderá tanto possibilitar quanto limitar o desenvolvimento do comportamento. O indivíduo, ao nascer, não tem ainda condições de ter suas células nervosas em funcionamento, e necessitará de dois processos para que isto ocorra: a mielinização das fibras nervosas (já descrito) e um meio ambiente que estimule adequadamente. Assim, desde que a maturação das ligações nervosas esteja realizada, a aprendizagem de uma função pode fazer-se facilmente; como a motricidade e a inteligência desenvolvem-se por etapas sucessivas, é 46 Neurociências necessário que em cada estágio, o indivíduo receba as estimulações e o tipo de ensino compatíveis com seu potencial cerebral. Temos então, a partir de um certo estágio do desenvolvimento, o aumento da importância do fator ambiental na expressão da maturação do sistema nervoso, o que é fundamental na puberdade e adolescência. A experiência e o aprendizado passarão a desempenhar um papel fundamental para a integração das regiões cerebrais e mesmo para promover alterações estruturais celulares. Nesse estágio, a plasticidade assume o sentido e garante a especialização crescente. Também nessa fase temos os chamados “períodos críticos”, em que o indivíduo deverá ser exposto a determinados fatores ambientais a fim de permitir o adequado desenvolvimento de suas habilidades perceptuais, motoras, cognitivas e sociais. Vários experimentos em recém-nascidos têm demonstrado a importância de manter um nível de estimulação sensorial e motora, associado à interação social adequada para permitir que o sistema nervoso complete a sua maturação (Ex: recém-nascidos hospitalizados por longo tempo, privados de contato físico e estimulação ambiental adequada, apresentam desempenhos cognitivos e sociais bem abaixo do normal, com atraso na aquisição da marcha, linguagem e sua interação com outras crianças e adultos torna-se deficitária). Outro exemplo que ilustra bem o papel da estimulação ambiental como determinante da fase final de maturação do sistema nervoso pode ser inferido a partir da seguinte observação: indivíduos com estrabismo congênito, não sendo capaz de fixar os dois olhos no mesmo foco pela presença de desvio em um deles, favorecem um dos olhos, e podem perder parte da visão no olho não favorecido, por privação sensorial. O reconhecimento deste fato permitiu que os oftalmologistas passassem a intervir mais cedo, mesmo cirurgicamente, para a correção do estrabismo, a fim de preservar a acuidade visual normal e permitir a restauração da visão binocular. A natureza pode moldar processos após o nascimento também de outra maneira, mais claramente através da programação genética, que determina seqüências inteiras do desenvolvimento posterior. Arnold Gesell, 1925, empregou o termo maturação para descrever esses padrões seqüenciais de mudanças geneticamente programadas, e este termo ainda é utilizado uniformemente hoje em dia. Mudanças no tamanho e na forma corporal, mudanças nos hormônios na puberdade, mudanças nos músculos e ossos, e mudanças no sistema nervoso, todas elas podem ser programadas desta maneira. O Timing (o momento no tempo) das mudanças puberais Pantano & Zorzi 47 difere de um adolescente para outro, mas a seqüência básica é essencialmente a mesma em todos os indivíduos. Tais seqüências, que começam na concepção e continuam até a morte, são compartilhadas por todos os membros da nossa espécie. As instruções para essas seqüências são parte da informação hereditária específica que é transmitida no momento da concepção. A maioria dos comportamentos do ser humano é aprendida, ou seja, são produtos da aprendizagem, excentuando-se os reflexos que são automatismos inatos. Por isso, é de suma importância que tomemos a aprendizagem como objeto de nosso estudo. A evolução da aprendizagem A partir do nascimento, o indivíduo começa a apresentar comportamentos que lhe dão condições de sobrevivência no novo ambiente, que agora é diferente do que tinha no ambiente intra- uterino. Estes comportamentos são assim chamados de condutas reflexas, involuntárias e que surgem em função de estimulação ambiental. Pouco a pouco, os reflexos começam a desaparecer, dando lugar então, às condutas adquiridas. Para que estas condutas tenham condições de serem adquiridas, serão necessárias as oportunidades. O processo de aprendizagem terá início então, quando o indivíduo, ao exercitar seu próprio reflexo, o generaliza, aplicando-o à situação diversa. Por exemplo, o reflexo de sucção ao ser “exercitado” pelo bebê, lhe permite dali um tempo, sugar o próprio dedo, modificando uma conduta reflexa. A aprendizagem neste exemplo, não teria condições de ocorrer, se não houvesse o que falamos anteriormente, a maturação. Se a maturação nervosa não desse condições ao recém-nascido fazer o movimento de levar o dedo à boca, o comportamento não seria observado. São muitas conhecidas as experiências
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