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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA E PRODUÇÃO CENTRO DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO – CETREDE CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NEYLSON LIMA BARBOSA ANÁLISE DOS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA DE ELEVADORES FORTALEZA Agosto - 2010 NEYLSON LIMA BARBOSA ANÁLISE DOS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA DE ELEVADORES Monografia submetida à Coordenação do Curso de Especialização em Engenharia de Produção, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Produção. Orientador: Prof. Sérgio José Barbosa Elias, M.Sc FORTALEZA Agosto - 2010 NEYLSON LIMA BARBOSA ANÁLISE DOS PROCESSOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA DE ELEVADORES Monografia apresentada como parte dos requisitos necessários a obtenção do título de Especialista em Engenharia de Produção, outorgado pela Universidade Federal do Ceará, em cuja biblioteca setorial do Centro de Tecnologia encontra-se a disposição dos interessados. A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica. Monografia aprovada ____/ _____ / 2010. ____________________________________________ Aluno (a) _____________________________________ Prof. Fernando Ribeiro de Melo Nunes, Dr. Avaliador __________________________________ Prof. Sérgio José Barbosa Elias, M.Sc Orientador (a) __________________________________ Prof. Sérgio José Barbosa Elias, M.Sc Coordenador do Curso de Especialização em Engenharia de Produção Dedico este trabalho à minha esposa Maria, que soube fazer do esperar, do motivar e do apoio sempre incondicional, a minha principal ajuda na elaboração deste trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, a fonte de tudo. Aos meus pais, que sempre tiveram como meta a educação, como a maior das heranças que se pode oferecer a um filho. Ao meu orientador, Prof. Sérgio Elias pelo conhecimento e dom de ensinar, pela orientação sempre objetiva e clara no aprimoramento deste trabalho. Aos professores deste curso, pela sua contribuição no meu crescimento, permitindo- me a base de desenvolvimento desta pesquisa. Aos colegas do curso, pela troca de experiências. A Ícone Elevadores Ltda., na figura de todos aqueles que autorizaram e colaboraram na execução deste trabalho. A Universidade Federal do Ceará e ao CETREDE pela missão de desenvolvimento do conhecimento. RESUMO A economia do século vinte e um apresenta uma característica marcante: o crescimento do setor de serviços, no entanto, a sobrevivência das empresas do setor depende de sua habilidade e flexibilidade de inovar e efetuar melhorias contínuas. Como resultado, as empresas vêm buscando incessantemente novas ferramentas de gerenciamento, que as direcionem para uma maior competitividade através da qualidade e produtividade. Este trabalho tem por objetivo demonstrar a aplicabilidade dos princípios e técnicas da Engenharia de Produção em empresas prestadoras de serviços de manutenção em elevadores. Iniciando com um histórico sobre a evolução dos elevadores e uma revisão teórica sobre o estado atual das técnicas: de manutenção, análise de processos, estudo do trabalho, produção enxuta, lean em serviços e gerenciamento da rotina diária, foi elaborada uma sistemática para avaliar a aplicabilidade dos conceitos. Através de um estudo de caso foram analisados os processos do setor de manutenção preventiva, de uma empresa de pequeno porte de prestação de serviços na área de assistência técnica de elevadores, buscando validar a adaptabilidade dos princípios e técnicas encontrados na literatura, utilizadas na manufatura, aos processos que suportam serviços. Ao final do trabalho é descrita a metodologia de melhoria de processos implementadas na empresa analisada. Palavras-chave: Serviços. Elevadores. Processos. Manutenção Preventiva. LISTA DE FIGURAS E QUADROS Figura 1. Matriz produto-processo.........................................................................20 Figura 2. Matriz produto-processo para operações fabris ................................. 21 Figura 3. Matriz produto-processo para operações de serviços ....................... 22 Figura 4. Símbolos utilizados em fluxogramas de processo ............................. 25 Figura 5. A estrutura do Sistema de Produção Toyota ....................................... 30 Figura 6. As categorias dos princípios do Sistema de Produção Toyota ......... 31 Figura 7. Etapas do mapeamento do fluxo de valor ............................................ 35 Figura 8. Mapa do estado atual ............................................................................. 46 Figura 9. Mapa do estado futuro ........................................................................... 49 Quadro 1. Símbolos para o MFV dos serviços de manutenção ......................... 37 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 11 1.1 Definição do Problema ........................................................................................... 11 1.2 Importância ........................................................................................................... 110 1.3 Delimitação do Tema ............................................................................................ 110 1.4 Objetivos ............................................................................................................... 121 1.4.1 Objetivo Geral ....................................................................................................... 121 1.4.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 121 1.5 Metodologia .......................................................................................................... 121 1.5.1 Metodologia de Pesquisa ..................................................................................... 121 1.5.2 Universo e Amostra .............................................................................................. 132 1.5.3 Sujeitos da Pesquisa ............................................................................................ 132 1.6 Estrutura do Trabalho .......................................................................................... 132 2 REVISÃO TEÓRICA..................................................................................... 154 2.1 Histórico do Transporte Vertical ......................................................................... 154 2.2 Manutenção ............................................................................................................ 16 2.3 Análise de Processo .............................................................................................. 20 2.4 Estudo do Trabalho .............................................................................................. 254 2.5 Produção Enxuta .................................................................................................... 27 2.6 Lean em Serviços ................................................................................................. 321 2.6.1 Mapeamento do Fluxo de Valor ........................................................................... 343 2.7 Gerenciamento da Rotina Diária ...........................................................................37 3 PROJETO DE SOLUÇÃO DO PROBLEMA ................................................ 410 3.1 Perfil da Empresa ................................................................................................. 410 3.1.1 Histórico ................................................................................................................ 410 3.1.2 Natureza do Negócio ............................................................................................ 421 3.1.3 Local e Abrangência de Atuação ........................................................................ 421 3.1.4 Setor da Economia ............................................................................................... 421 3.2 Descrição do Problema ........................................................................................ 421 3.2.1 Conceituação ........................................................................................................ 443 3.2.2 Estado Atual ........................................................................................................... 44 3.2.3 Plano de Trabalho e Implementação ..................................................................... 46 3.2.4 Estado Futuro ......................................................................................................... 47 4 CONCLUSÕES ............................................................................................ 510 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 532 ANEXOS ................................................................................................................... 55 11 1 INTRODUÇÃO 1.1 Definição do Problema Uma das maiores dificuldades que as empresas de manutenção de elevadores enfrentam é a de aumentar a produtividade e melhorar a qualidade de seus setores de manutenção preventiva. A busca pela expansão da participação no mercado leva as empresas a uma cuidadosa revisão nos métodos de trabalho para se alcançar maior produtividade e, conseqüentemente, maior competitividade. Aliado a isso há o fato das empresas sofrerem pressão do mercado no sentido de baixar os preços dos serviços oferecidos, forçando-as a reduzir os custos na mesma proporção ou de forma mais acentuada. Métodos ineficientes de trabalho e a falta de padronização dos processos dos serviços de manutenção reduzem produtividade, bem como, a qualidade das tarefas executadas. 1.2 Importância A análise dos processos da manutenção preventiva de elevadores procura evidenciar as falhas e deficiências existentes no método atual de execução da tarefa e propor um método mais eficiente de execução, levando em consideração os aspectos técnico-econômicos e de segurança. A necessidade de expandir a participação no mercado através do aumento da competitividade conduz a uma cuidadosa revisão nos métodos de trabalho para se alcançar maior produtividade. Há também pressão do mercado no sentido de redução dos valores dos serviços oferecidos que força a busca pela redução na mesma proporção, ou de forma mais acentuada, dos custos. 1.3 Delimitação do Tema Análise dos processos do setor de manutenção preventiva de uma empresa de pequeno porte, de prestação de serviços na área de assistência técnica de 12 elevadores. Os dados foram levantados a partir de uma pesquisa de campo com os técnicos e funcionários envolvidos na execução dos serviços de manutenção preventiva. 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo Geral Baseado na análise de processos, estudar e propor melhorias para as atividades realizadas pelos técnicos do setor de manutenção preventiva de uma empresa de prestação de serviços na área de assistência técnica de elevadores. 1.4.2 Objetivos Específicos • Revisar a literatura sobre a evolução dos elevadores. • Revisar a literatura sobre o estado atual das técnicas de manutenção, análise de processos, estudo do trabalho, produção enxuta, lean em serviços e gerenciamento da rotina diária. • Realizar observações nas atividades dos técnicos do setor de manutenção preventiva. • Analisar os resultados obtidos na pesquisa de campo através das técnicas descritas na literatura. • Propor um método que melhore a realização das atividades de manutenção preventiva. 1.5 Metodologia 1.5.1 Metodologia de Pesquisa O estudo seguiu as diretrizes da pesquisa descritiva de campo alicerçada nas técnicas revisadas na bibliografia escolhida, procurando a compreensão do 13 contexto das evoluções das técnicas produtivas. Foi feito um levantamento e análise de dados referentes à empresa em estudo por meio das diversas fontes de informação disponíveis, como relatórios internos, plano de metas e objetivos, observação direta e aplicação de questionários específicos que permitam uma pesquisa de campo estruturada. 1.5.2 Universo e Amostra O estudo foi executado no setor de manutenção preventiva de uma empresa de pequeno porte da área de manutenção, instalação e modernização de elevadores localizada no município de Fortaleza-CE. As coletas de dados ocorreram diariamente no campo, durante um período de seis semanas, para cada técnico e atividade. Os dados foram registrados em formulários e compilados em planilhas que foram desenvolvidas no decorrer do estudo. 1.5.3 Sujeitos da Pesquisa Os sujeitos da pesquisa são os técnicos envolvidos na execução dos serviços do setor de manutenção preventiva de elevadores. 1.6 Estrutura do Trabalho O Capítulo 1 contempla a introdução e o objetivo da monografia, a definição do problema, a delimitação do tema, além da metodologia e importância do próprio trabalho. O Capítulo 2 apresenta um histórico do transporte vertical e da evolução dos elevadores e uma revisão teórica de conceitos inerentes às técnicas de manutenção, análise de processos, estudo do trabalho, produção enxuta, lean em serviços e gerenciamento da rotina diária, utilizados como fundamentação conceitual do trabalho. 14 O Capítulo 3 apresenta um projeto de solução do problema através da descrição da empresa, da análise do método de trabalho e da definição do método melhorado, baseado nas técnicas revisadas no capítulo 2, descrevendo seus elementos componentes, os detalhes necessários para sua aplicação e os indicadores afetados devido sua aplicação. Finalmente, no Capítulo 4, são apresentadas as conclusões sobre o trabalho. 15 2 REVISÃO TEÓRICA 2.1 Histórico do Transporte Vertical Segundo Dal Monte (2000), há muito tempo a história registra os esforços da humanidade para transportar verticalmente cargas e pessoas. Há 1500 anos antes do nascimento de Cristo, os egípcios já estavam às voltas com a dura tarefa de elevar as águas do Nilo através de rudimentares elevadores. Com o passar dos séculos, a tração animal, incluindo aí a humana, foi substituída, primeiro pela energia do vapor, exclusivamente para o transporte de cargas e, mais tarde, com o surgimento de novos mecanismos de segurança, o de passageiros. Somente em 1853, ano em que a história confere ao americano Elisha Graves Otis a invenção do elevador de segurança, o uso de elevadores como meio de transporte de passageiros começou a se popularizar. Em 1880, na feira da indústria em Mannheim na Alemanha, é apresentado o primeiro elevador movido a motor elétrico, construído por Werner Von Siemens. Até metade do século XX, o controle da operação do elevador (coleta de chamadas, partida, parada, nivelamento) era realizado pelo ser humano, ou seja, o ascensorista era parte indispensável desse processo. Em 1950, usando dispositivos eletromecânicos (relés), foi instalado o primeiro elevador com portas automáticas, sistema de coleta de chamadas e sinais sonoros que dispensavamo ascensorista. Tais sistemas de controle, apesar de funcionais, apresentavam problemas de ordem prática bastante relevantes. Como as instalações possuíam uma grande quantidade de elementos, a ocorrência de uma falha qualquer significava o comprometimento de várias horas ou mesmo dias de trabalho de pesquisa e correção do elemento faltoso. Além disto, pelo fato dos relés apresentarem dimensão física elevada, os painéis ocupavam grande espaço. Outro fator ainda comprometedor dos controladores a relés era o fato de que, como a programação lógica do processo era realizada por interconexões elétricas com lógica fixa, eventuais alterações nela exigiam longas interrupções na operação do elevador a fim de reconectarem os elementos. Tal fato tornava a reprogramação do controlador, com intuito de adicionar melhorias ao sistema, inviável. 16 A introdução da tecnologia eletrônica, a partir de 1960, resulta no desenvolvimento de circuitos de controle eletrônicos e chaveamentos sem contatos físicos. Com a introdução da técnica de relés sem contatos físicos implementados por transistores, os controladores lógicos ficaram menores e mais confiáveis. Nessa fase o processo de fabricação dos controladores foi simplificado, porém as dificuldades quanto a possíveis reprogramações persistiam. No final da década de 60, os circuitos integrados (CI) permitiram o desenvolvimento de minicomputadores que foram utilizados nos controladores lógicos dos novos elevadores. A partir da metade da década de 70, os novos controladores multiplicaram suas funções com a introdução dos microprocessadores. Os microprocessadores hoje substituem os complexos comandos com relés, necessitando de apenas alguns dispositivos eletrônicos auxiliares que possibilitam facilmente várias reprogramações, inclusive em tempo real. Dessa forma foi possível criar o conceito de “elevador inteligente”, onde o comando se adapta buscando aperfeiçoar os processos de funcionamento do equipamento. O atual estágio de desenvolvimento tecnológico permitiu a elaboração de elevadores cada vez mais sofisticados e com um crescente número de operações para atender aos usuários. Antes da Segunda Guerra Mundial, andar em um elevador causava desconforto, o carro andava com freqüência aos solavancos, vibrava durante a frenagem e geralmente parava a vários centímetros acima ou abaixo do andar indicado. É por esse motivo que o desenvolvimento visou sempre um objetivo básico: a conquista de um produto que pudesse oferecer ao usuário de elevadores o máximo de conforto com o mínimo do tempo de viagem, além de melhorar o tráfego de passageiros do edifício. 2.2 Manutenção A atividade de manutenção em elevadores tem um foco diferente e não atingiu o patamar em que se encontra a manutenção industrial. Daí a tentativa de adaptar os conceitos propostos para a manufatura ao uso em manutenção de elevadores. O ato de reparar e conservar máquinas, instrumentos e ferramentas é uma prática observada desde os primórdios da civilização mas, efetivamente, foi na revolução industrial, durante o século XVIII, que a função manutenção emergiu. 17 Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (NBR 5462-1994), manutenção é: “Combinação de todas as ações técnicas e administrativas, incluindo as de supervisão, destinadas a manter ou recolocar um item em um estado no qual possa desempenhar uma função requerida”. Pinto e Xavier (2001, p. 22) definem manutenção como: “Garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção e a preservação do meio ambiente, com confiabilidade, segurança e custo adequados”. De acordo com Xenos (1998), as atividades de manutenção eram consideradas um mal necessário, mas esta visão começou a mudar inicialmente nas indústrias, tornando-se reconhecida como uma função estratégica. O autor ainda observa que é comum a utilização da expressão “em manutenção” para designar as atividades de reparo de algum equipamento que quebrou. O simples ato de ficar somente consertando os equipamentos depois da ocorrência de falhas não pode ser entendido como manutenção. A partir deste enfoque, cabe observar Slack, Chambers e Johnston (2008) que definiu manutenção como “o termo usado para abordar a forma pela qual as organizações tentam evitar as falhas ao cuidar de suas instalações físicas”. Modernamente, a finalidade da manutenção não é apenas consertar, nem agir antes que a falha ocorra, mas atuar de forma que nenhuma falha aconteça no período em que o sistema foi programado para funcionar. Para Pinto e Xavier (2001) os tipos principais de manutenção são definidos segundo algumas práticas básicas que os norteiam: • Manutenção Corretiva – é a atuação para correção de falha ou do desempenho menor que o esperado. Pode ser dividida em duas fases: a) Manutenção Corretiva não Planejada – é a correção da falha de maneira aleatória, ou seja, é a correção da falha ou desempenho menor que o esperado após a ocorrência do fato. Esse tipo de manutenção implica altos custos, pois normalmente levam a perdas de produção, perdas de qualidade e elevados custos indiretos de manutenção. Outro fato relevante é que quebras aleatórias podem causar no equipamento danos de extensões bem mais elevadas. b) Manutenção Corretiva Planejada – é a correção do desempenho menor que o esperado ou da falha, por decisão gerencial, isto é, pela atuação em função de acompanhamento preditivo ou pela decisão de operar até a quebra. Pela própria definição, indica que tudo o que é planejado tende a ter custos inferiores, maior segurança e prazos de execução reduzidos. 18 • Manutenção Preventiva – é a atuação realizada de forma a reduzir ou evitar a falha ou queda no desempenho, obedecendo a um plano previamente elaborado, baseado em intervalos definidos de tempo. De acordo com Pinto e Xavier (2001) a essência de uma manutenção preventiva eficiente está na determinação dos intervalos de tempo. A definição da periodicidade, quando não estipulada corretamente, leva a duas situações distintas: Ocorrências de falhas antes de completar o período estimado, para a intervenção; Abertura do equipamento/reposição de componentes prematuramente. • Manutenção Preditiva – é a atuação realizada com base em modificação de parâmetro de condição ou desempenho cujo acompanhamento obedeça a uma sistemática. A manutenção preditiva leva em consideração dados e aspectos de conhecimento técnico, a fim de controlar e prevenir falhas, podendo ser considerada como uma ferramenta imprescindível no estudo do nível ótimo de manutenção dos equipamentos, devendo ser implantada concomitantemente a manutenção preventiva. • Manutenção Detectiva – é a atuação efetuada em sistemas de proteção que busca detectar falhas não perceptíveis ao pessoal de operação e manutenção. Para Pinto e Xavier (2001) a identificação de falhas ocultas é primordial para garantir a confiabilidade, deste modo na manutenção detectiva especialistas realizam verificações no sistema, mantendo-o operante, buscando as falhas ocultas e, preferencialmente, corrigindo-as, mantendo o sistema operando. • Engenharia de Manutenção: uma definição utilizada “é o conjunto de atividades que permite que a confiabilidade seja aumentada e a disponibilidade garantida” (PINTO e XAVIER, 2001, p. 46). Ou seja, é deixar de ficar consertando, convivendo com problemas crônicos mas melhorar padrões e sistemáticas, desenvolvendo a manutenibilidade, dar feedback ao projeto e interferir tecnicamente nas compras. Desde o surgimento dos métodos preventivos, a manutenção ganhou aspectos gerenciais, deixando de ser encarada simplesmente como um conjunto de técnicas de reparo. De acordo com Xenos (1998), para permitir o gerenciamento eficiente da manutenção, são necessárias as seguintes funções de apoio:19 - Tratamento de falhas dos equipamentos – estas são as atividades de remoção dos sintomas das falhas e identificação de suas causas fundamentais para estabelecer contramedidas adequadas. - Padronização da manutenção – é a utilização dos procedimentos e padrões técnicos e gerenciais relacionados às atividades de manutenção, incluindo os manuais de manutenção, catálogos de peças, padrões de inspeção e procedimentos de teste dos equipamentos. - Planejamento da manutenção – são as ações de preparação dos serviços de manutenção que definem quando as ações serão executadas. - Peças-reservas e almoxarifado – o objetivo desta função é o de adquirir, armazenar e controlar as peças de reposição e materiais de consumo dos equipamentos, conforme suas necessidades de manutenção. - Orçamento de manutenção – objetiva distribuir e controlar os recursos financeiros alocados ao departamento de manutenção com base no plano de manutenção para os próximos períodos. - Educação e treinamento – é o conjunto de atividades de transferência e prática de conhecimento que visa formar pessoal capacitado a desempenhar as funções dentro do departamento de manutenção. As diversas formas de manutenção industrial, de modo geral, são convencionais e excluem a participação dos operadores da produção nos serviços de manutenção. A exceção fica por conta da manutenção produtiva total (MPT, ou TPM, do inglês total productive maintenance) nova forma de gestão, onde a participação dos operadores da produção é fundamental na manutenção de suas máquinas. Para Slack, Chambers e Johnston (2008, p. 647) manutenção produtiva total é definida como: “a manutenção produtiva realizada por todos os empregados através de atividades de pequenos grupos”. Onde manutenção produtiva é: “gestão de manutenção que reconhece a importância de confiabilidade, manutenção e eficiência econômica nos projetos das fábricas” (NAKAJIMA apud SLACK, CHAMBERS E JOHNSTON, 2008, p. 647). A manutenção produtiva total não só é um elo importante para a prática da qualidade total, sendo decisiva na qualidade final do produto, uma vez que participa na manutenção da capabilidade dos processos produtivos. 20 2.3 Análise de Processo Um processo “é uma ordenação específica das atividades de trabalho no tempo e no espaço, com um começo, um fim, insumos e resultados claramente identificados, sendo enfim, uma estrutura para tomada de ações” (DAVENPORT apud OLIVEIRA, 2007, p. 9). Para Harrington apud Oliveira (2007) processo também pode ser encarado como um grupo de tarefas que têm interligação lógica, baseadas no uso de recursos da empresa para gerar determinados resultados consistentes com seus objetivos. Segundo Hayes e Wheelwright apud Corrêa e Corrêa (2008) haveria uma correlação entre os tipos de processo produtivo que deveriam ser selecionados e as características de volume e variedade dos produtos produzidos por eles. Esta correlação é ilustrada pela diagonal de alinhamento da matriz produto-processo baseada na idéia original de Hayes e Wheelwright apud Corrêa e Corrêa (2008). Figura 1 - Matriz produto-processo Fonte: Corrêa e Corrêa, 2008, p.219. De acordo com Corrêa e Corrêa (2008) a literatura distingue a denominação dos tipos de processo sobre a diagonal principal da matriz conceitual produto- processo para operações fabris e para serviços. Para operações fabris, a matriz ficaria conforme a figura 2. 21 Figura 2 - Matriz produto-processo para operações fabris Fonte: Corrêa e Corrêa, 2008, p. 220. • Processo por tarefa (job shop) – produção de pequenos lotes de uma grande variedade de produtos com variados roteiros de produção e com arranjos físicos funcionais, para permitir que os fluxos percorram qualquer roteiro que seja necessário. Não existe conexão entre os centros produtivos. • Processo em lotes (batch) – um processo similar ao processo por tarefa no sentido de que seu arranjo físico deve ser funcional pelo alto grau de flexibilidade requerido, mas os funcionários são especializados e dedicados aos equipamentos e há a ocorrência de economias de escala. • Processo em linha – produção de unidades de peças discretas, fluindo de estação de trabalho a estação de trabalho. • Processo em fluxo contínuo – semelhante à produção em linha, porém com os equipamentos conectados uns aos outros, em geral por tubulação ou esteiras de transporte, resultando em baixos níveis de estoques em processo. Os processos citados são os chamados processos clássicos, no entanto, existem processos que buscam se beneficiar dos pontos fortes de cada tipo de processo clássico e são denominados processos híbridos. Para Corrêa e Corrêa (2008) não existem significativas diferenças conceituais no gerenciamento das operações fabris ou de serviços em relação aos aspectos sobre seleção de processos produtivos. Porém, nas operações onde 22 predominam o processamento do fluxo de pessoas e informações – serviços – foi convencionada uma denominação diferente para os diversos tipos de processo produtivos. Assim, para operações de serviços a matriz produto-processo fica como ilustrada na figura 3. Figura 3 - Matriz produto-processo para operações de serviços Fonte: Corrêa e Corrêa, 2008, p. 223. • Serviços profissionais – são serviços prestados de forma completamente customizada, personalizando o atendimento e o pacote de serviços às necessidades do cliente. Ex.: consultorias, médicos, dentistas. • Serviços profissionais de massa – são serviços que, embora requeiram personalização, procuram aumentar seus ganhos de escala no sentido de atender a um número maior de clientes por dia em suas unidades de operação. Ex.: hospitais especializados. • Loja de serviços – são operações que tratam de um volume intermediário de clientes por dia em suas unidades de operação típicas. Ex.: hotéis, restaurantes, hospitais. • Serviços de massa customizados – são serviços que atendem a um volume grande de clientes mas que, com o uso de tecnologias, criam no cliente uma sensação de serviço personalizado. Ex.: sites de comércio eletrônico. 23 • Serviços em massa – são serviços em que um grande número de clientes é atendido por dia numa unidade típica, de forma padronizada. Ex.: metrô, ônibus. Harrington apud Oliveira (2007) define um sistema produtivo, partindo de uma visão global para uma visão pontual: • Macroprocesso: é um processo que geralmente envolve mais de uma função na estrutura organizacional e sua operação tem um impacto significativo no modo como a organização funciona. • Processo: é um grupo de tarefas que tem interligação lógica, baseadas no uso de recursos da empresa para gerar determinados resultados consistentes com seus objetivos. • Subprocesso: é a parte que, inter-relacionada de forma lógica com outro subprocesso, realiza um objetivo específico em apoio ao macroprocesso e contribui para a missão deste. • Atividades: são ações que ocorrem dentro do processo ou subprocesso. São geralmente desempenhadas por uma unidade (pessoa ou departamento) para produzir um resultado particular. • Tarefa: é uma parte específica do trabalho, ou seja, o menor enfoque do processo, podendo ser um único elemento e/ou um subconjunto de uma atividade. De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2008, p. 487) desperdício “é toda atividade que não agrega valor”. A partir deste contexto Hines e Taylor apud Nazareno, Rentes e Silva (1993) afirmam que quando pensamos sobre desperdício é comum definir três diferentes tipos de atividades quanto à sua organização: • Atividades que agregam valor - atividades que, aos olhos do consumidor final, agregam valor ao produto ou serviço, ou seja, atividades pelas quais o consumidor ficaria satisfeito em pagar. • Atividades desnecessárias que não agregam valor - são atividades que, aosolhos do consumidor final, não agregam valor ao produto e que são desnecessárias em qualquer circunstância. Estas atividades são nitidamente desperdícios e devem ser eliminadas a curto e médio prazo. • Atividades necessárias que não agregam valor: são atividades que, aos olhos do consumidor final, não agregam valor ao produto ou serviço mas que são 24 necessárias. Tratam-se de desperdícios difíceis de serem eliminados em curto prazo e que, portanto, necessitam de um tratamento em longo prazo, ao menos que sejam submetidos a um processo de transformação radical. Realizadas as análises de valor agregado, os esforços de melhoria devem se concentrar em encontrar maneiras de eliminar as atividades que não agregam valor, bem como aumentar a eficiência e a eficácia das atividades que agregam valor. Existem quatro enfoques que devem ser considerados no desenvolvimento de possíveis soluções de melhorias dos processos, segundo Barnes (1982). São eles: • Eliminar todo trabalho desnecessário – muitos processos normalmente executados não são realmente necessários, portanto, não deveriam passar por melhorias ou simplificações, mas sim serem eliminados. • Combinar operações ou elementos – dividir um processo em várias operações simples é uma prática comum que, em alguns casos, leva a um excessivo manuseio de matérias, ferramentas e equipamentos. Combinar duas ou mais operações ou realizar alterações no método que permitam a combinação de operações pode tornar o processo mais simples. • Modificar a seqüência das operações – as operações de uma produção em pequena escala podem ser executadas em uma determinada sequência, apresentando bons resultados, no entanto, a mesma sequência de operações pode ser ineficiente para produções em larga escala. Em alguns casos a mudança na sequência das operações elimina retrocessos, reduz o manuseio e os transportes e torna efetivo o fluxo contínuo do trabalho. • Simplificar as operações essenciais – após a realização do estudo do processo produtivo e, implantadas todas as melhorias necessárias, analisa-se cada operação básica no processo tentando simplificá-la ou melhorá-la. A visão dos processos dá a empresa uma compreensão mais clara da sua eficácia na satisfação das necessidades do cliente e também na realização do seu trabalho. Uma razão para se executar uma análise do processo é o fato de se poder guiar programas de redução de custos e de tempos de ciclos, de melhoria da qualidade do processo ou outros esforços para melhorar o desempenho organizacional. “Análise de processos é uma ferramenta para avaliar uma operação em termos da sequência de passos desde os recursos de entrada no sistema até as 25 saídas, com o objetivo de definir ou melhorar seu processo” (CORRÊA e CORREÂ, 2008, p. 224). Uma das mais importantes ferramentas para análise de processos é o fluxograma de processos. Barnes (1982) descreve o fluxograma de processos, ou gráfico do fluxo do processo, a fim de se tornar possível uma melhor compreensão de processos e sua posterior melhoria. O gráfico representa os diversos eventos que ocorrem durante a execução de uma tarefa específica ou durante uma série de ações. São utilizados alguns símbolos padronizados, figura 4. Figura 4 - Símbolos utilizados em fluxogramas de processo Fonte: Barnes, 1982. Existem outras técnicas que podem ser usadas para analisar processos, conforme Slack, Chambers e Johnston (2008): diagramas de fluxo simples, folhas de roteiros e estrutura de processamentos do cliente. No entanto, o fluxograma de processo é a técnica mais comumente usada para identificar oportunidades de melhoria na eficiência dos processos. 2.4 Estudo do Trabalho Baseados nos princípios da administração científica de Taylor dois campos de estudo emergiram separados, porém relacionados: o estudo dos tempos dedicado a medição do tempo que deve despender a execução dos trabalhos e o estudo dos métodos que se concentra na determinação dos métodos e atividades que devem ser incluídos nos trabalhos. 26 De acordo com Barnes (1982) foi Taylor quem deu inicio ao estudo de tempos em 1881, sendo considerado por ele o principal fator do aumento da eficiência operacional da empresa, aumentando a capacidade produtiva, reduzindo os custos decorrentes dos desperdícios e favorecendo a melhoria das condições sócio-econômicas de seus funcionários. Paralelamente, na mesma época, Frank Gilbreth, desenvolveu um trabalho acrescentando o estudo dos métodos. Atualmente os estudos de tempos e métodos são utilizados em conjunto, ambos se complementando na definição de sistemas e métodos de trabalho, com o objetivo de determinar o método ideal ou o método mais próximo do ideal que possa ser usado na prática. A prática conjunta destes dois métodos é referida como estudo do trabalho. Segundo Slack, Chambers e Johnston (2008, p. 280) estudo do trabalho, é o termo genérico para as técnicas, particularmente de estudo do método e medição do trabalho, que são utilizados no exame do trabalho humano em todo seu contexto, e que leva sistematicamente a investigação de todos os fatores que afetam a eficiência e a economia de situações, sendo analisado para obter melhorias. Para Barnes (1982) o estudo do trabalho é um estudo sistemático dos sistemas de trabalho com os seguintes objetivos: • Desenvolver o sistema e o método preferido – o que se pretende é projetar um sistema, uma seqüência de operações e procedimentos que mais se aproximem da solução ideal. • Padronizar o sistema e o método desenvolvido – depois de ter encontrado o melhor método de se executar uma operação, esse método deve ser padronizado. • Determinar o tempo padrão – o estudo de movimentos e de tempos poderá ser usado para determinar o número padrão de minutos que uma pessoa qualificada, devidamente treinada e com experiência, deveria gastar para executar uma tarefa, trabalhando normalmente. • Treinar o operador – o mais eficiente método de trabalho tem pouco valor, a menos que seja posto em prática. De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2008) o tempo que um trabalhador qualificado necessita para realizar um trabalho específico com um nível definido de desempenho é chamado tempo básico. O tempo padrão é uma 27 extensão do tempo básico onde são incluídas tolerâncias para pausa e descanso, levando em consideração as condições sob as quais o trabalho é realizado. Corrêa e Corrêa (2008) propõem o desenvolvimento de um método em cinco passos básicos, com o objetivo de determinar um tempo padrão para as diversas tarefas ou ciclos de tarefas componentes do trabalho: 1. Definir a tarefa a ser estudada – tarefa é uma parte do trabalho a ser realizado. 2. Dividir a tarefa em elementos – os elementos das tarefas deverão ter também pontos de início e fim bem definidos, para que a cronometragem seja possível e deverão corresponder a atividades que ocorram nas condições normais de realização da tarefa. 3. Cronometrar os elementos – sobre os elementos selecionados, o analista de tempos fará a cronometragem preliminar de um trabalhador treinado no método de trabalho considerado. 4. Determinar o tamanho da amostra – o objetivo de um estudo de tempos é obter um valor de tempo para cada elemento, que corresponda ao valor verdadeiro da média dos tempos para valores possíveis na maior parte das vezes. O tamanho da amostra dependerá das médias e dispersões dos tempos obtidos na cronometragem preliminar. 5. Estabelecimento dos padrões – com base na determinação dos tamanhos de amostra necessários, o trabalho de cronometragem pode ser completado. Os valores obtidos, no entanto, estarão sujeitos a variações de ritmo do operador, que está sendo cronometrado. O analista de tempos deverá estimar o quanto acimaou abaixo de um ritmo de trabalho considerado normal o operador estava trabalhando durante a cronometragem. A correção é feita através de um fator de ritmo julgado pelo analista. A sistemática para o desenvolvimento do estudo dos métodos pode ser dividida em seis partes, conforme Slack, Chambers e Johnston (2008): 1. Selecionar o trabalho a ser estudado – selecionar, entre as tarefas e atividades discretas das operações produtivas, aquelas que darão o maior retorno sobre o investimento do tempo de estudá-las. 28 2. Registrar todos os fatos relevantes do método presente – registrar o método atual leva a um maior entendimento do trabalho e, a partir de uma avaliação crítica, melhorar o método. 3. Examinar esses fatos criticamente e na seqüência – através de questionamentos, expor as razões existentes no método atual, de modo a detectar deficiências em sua razão de ser e, portanto, desenvolver métodos alternativos. 4. Desenvolver o método mais prático, econômico e efetivo – buscar aplicar mudanças e melhoramentos na tentativa de eliminar partes inteiras da atividade; combinar elementos; mudar a seqüência dos eventos, de modo que melhore a eficiência do trabalho; ou simplificar a atividade para reduzir o conteúdo de trabalho. 5. Implantar o novo método – Instalar as novas práticas de trabalho através das técnicas de gerenciamento de projetos do processo de implantação. Manter o método pela checagem periódica dele em uso – além de assegurar que as novas práticas aplicadas não foram alteradas. Pode ser usado como uma oportunidade para repensar e melhorar métodos, continuamente. Diversas decisões na gestão das operações dependem da existência de padrões para o trabalho a ser realizado, ou seja, conhecer como será realizado e quanto de trabalho uma equipe ou indivíduo tem capacidade de realizar. 2.5 Produção Enxuta No período anterior à Revolução Industrial, a produção dava-se de forma praticamente artesanal. O grande aumento de produtividade conseguido com a produção mecanizada, em substituição ao artesanato, garantia uma vantagem competitiva às empresas que optaram por esse tipo de produção. A partir da segunda década do século XX, com o advento da administração científica de Taylor e da linha de produção de Ford, a lógica da produção modificou- se, havendo enormes melhorias na produtividade industrial. Segundo Womack, Jones e Roos (1992), quando Ford introduziu a linha de montagem de automóveis 29 em fluxo contínuo na fábrica de Highland Park, em Detroit, provocou impacto a partir da implantação do sistema inovador de produção em massa, assim denominado por Ford. Apesar de todo sucesso alcançado por Ford com a massificação da produção de seu único modelo padronizado, esse sucesso mais se verificou dentro da fábrica, “mas jamais elaborou a organização e o sistema administrativo necessários para efetivamente administrar o sistema total de fábricas, as operações de engenharia e os sistemas de marketing exigidos pela produção em massa.” (WOMACK, JONES e ROOS, 1992, p. 28). A idéia da manufatura enxuta teve início na fábrica de automóveis da Toyota, através do executivo Taiichi Ohno “o maior crítico do desperdício que a história já conheceu” (WOMACK e JONES, 2004, p. 3). Tudo começou num período em que o Japão estava com a sua economia devastada pela guerra, precisando de capital para sobreviver. A Toyota estava buscando uma forma de reverter a situação e se tornar competitiva no mercado mundial onde Ford, Chrysler e GM lideravam as ações do mercado. A partir daí, Taiichi Ohno quebrou as barreiras com suas idéias inovadoras, implementando o Sistema de Produção Toyota, ou sistema de produção enxuta, que consistia em ações relacionadas à redução de desperdício, mudança de cultura dos trabalhadores, com o conceito de pensamento enxuto, como relata Womack e Jones (2004, p.3): o pensamento enxuto, poderoso antídoto para o desperdício, é uma forma de especificar valor, alinhar na melhor seqüência as ações que criam valor, realizar essas atividades sem interrupções toda vez que alguém as solicita e realizá-las de forma cada ver mais eficaz. O principal objetivo do Sistema de Produção Toyota foi produzir muitos modelos em pequenas quantidades (OHNO, 1997). De acordo com Ohno (1997), a base do Sistema de Produção Toyota é a absoluta eliminação de desperdício. Os dois pilares necessários à sustentação do sistema são: Just in Time e Jidoka (automação com um toque humano). Dennis (2008) afirma que os pilares são baseados na imagem da casa de produção lean, onde a base da sustentação é a estabilidade e padronização, as paredes formadas pelo sistema de entrega just in time e jidoka, tendo como principal 30 objetivo o atendimento com foco em satisfazer as necessidades dos clientes que representam o telhado, figura 5. Figura 5 - A estrutura do Sistema de Produção Toyota Fonte: adaptado de Dennis, 2008. Shingo (2008) identifica sete tipos de desperdícios do processo de produção em massa que devem ser evitados no sistema de produção enxuta: 1. Superprodução – Produzir excessivamente ou cedo demais, resultando em um fluxo pobre de peças e informações ou excesso de inventário; 2. Espera – Longos períodos de ociosidade de pessoas, peças e informação, resultando em um fluxo pobre, bem como em lead times longos; 3. Transporte excessivo – Movimento excessivo de pessoas, informação ou peças resultando em dispêndio desnecessário de capital, tempo e energia; 4. Processos Inadequados – Utilização do jogo errado de ferramentas, sistemas ou procedimentos, geralmente quando uma aproximação mais simples pode ser mais efetiva; 5. Inventário desnecessário – Armazenamento excessivo e falta de informação ou produtos, resultando em custos excessivos e baixa performance do serviço prestado ao cliente; 6. Movimentação desnecessária – Desorganização do ambiente de trabalho, resultando baixa performance dos aspectos ergonômicos e perda freqüente de itens. 31 7. Produtos Defeituosos – Problemas freqüentes nas cartas de processo, problemas de qualidade do produto, ou baixa performance na entrega. Segundo Liker (2006), são 14 os princípios do Sistema de Produção Toyota e foram divididos em quatro categorias conforme a figura 6. Figura 6 - As categorias dos princípios do Sistema de Produção Toyota Fonte: Liker, 2006, p. 34. 1. Basear as decisões administrativas em uma filosofia de longo prazo, mesmo em detrimento de metas financeiras de curto prazo. 2. Criar o fluxo de processo contínuo para trazer os problemas à tona. 3. Usar sistemas puxados para evitar a superprodução. 4. Nivelar a carga de trabalho (Heijunka). Trabalhar como tartaruga, não como lebre. 5. Construir uma cultura de parar e resolver os problemas, obtendo a qualidade logo na primeira tentativa. 6. Tarefas padronizadas são a base para a melhoria contínua e a capacitação dos funcionários. 7. Usar controle visual para que nenhum problema fique oculto. 8. Usar somente tecnologia confiável e completamente testada que atenda aos funcionários e processos. 9. Desenvolver líderes que compreendam completamente o trabalho, que vivam a filosofia e a ensinem aos outros. 32 10. Desenvolver pessoas e equipes excepcionais e que sigam a filosofia da empresa. 11. Respeitar sua rede de parceiros e de fornecedores desafiando-os e ajudando-os a melhorar. 12. Ver por si para compreender completamente a situação (Gemba). 13. Tomar decisões lentamente por consenso, considerando completamente todas as ações; implementá-las com rapidez. 14. Tornar-se uma organização de aprendizagem através da reflexão incansável (Hansei) e da melhoria contínua (Kaizen). O objetivo crucial da produção enxuta é produzir mais com cada vez menos, não somente custo, mastambém: menos esforço humano, menos equipamentos, menos tempo e menos espaço. Com tudo isso, as empresas devem atender todas as expectativas dos clientes. 2.6 Lean em Serviços Os serviços são caracterizados pela intangibilidade, ou seja, não podem ser visualizados, tocados ou provados antes da contratação, o que torna a avaliação do cliente muito subjetiva. Além disso, os serviços são produzidos e consumidos simultaneamente. Como conseqüência, não existe oportunidade de inspeção final antes da entrega. Os serviços também são perecíveis, não podendo ser estocados, o que dificulta o uso eficiente da capacidade produtiva, que se não for utilizada pela inexistência de demanda é perdida para sempre. Como última característica, tem-se que os serviços são variáveis, já que dependem de quem os executa e onde são processados, o que também dificulta o controle de qualidade e, por isso, se faz necessário muito investimento em treinamento e padronização (FITZSIMMONS e FITZSIMMONS, 2005). Womack (2004) destacam que as características especiais da prestação de serviços em comparação com o setor de manufatura constituem a base para um gerenciamento inovador e potencialmente otimizado. Como na manufatura, o cliente que consome serviços não quer pagar pelo desperdício ou pela falta de eficiência da empresa, o que torna essencial implementar continuamente melhorias nos processos e a melhoria do aproveitamento dos recursos. 33 Neste sentido, Fortes (2010), em sua pesquisa aponta que é possível identificar a crescente aplicação de conceitos de Lean Thinking (ou Mentalidade Enxuta) para serviços em setores como saúde, seguros, finanças e assistência técnica. O Lean Service é baseado nos princípios da mentalidade enxuta, com as adaptações voltadas para as empresas prestadoras de serviços, ou seja, transferir para as operações de serviços não a lógica da linha de manufatura, e sim, as práticas da produção enxuta. O Lean Service visa atender à demanda dos clientes sem desperdícios, ou seja, utilizando o mínimo de materiais, equipamentos, instalações e recursos humanos. Conforme George (2003) estas formas de desperdícios, quando aplicadas a serviços, podem ser interpretadas como: 1. Superprodução – é a produção de saídas de serviços além daquilo que é necessário para uso imediato. 2. Tempo de espera – é qualquer atraso entre o fim de uma atividade de um processo e o início da atividade seguinte. Qualquer tempo de espera durante o qual esse trabalho fica na fila é considerado atraso, não importa qual a causa subjacente. 3. Transporte – refere-se à movimentação desnecessária de materiais, produtos ou informações. Transporte excessivo implica que, cada movimentação de uma atividade para outra leva tempo e cria uma fila na atividade recebedora. 4. Superprocessamento – há dois elementos de superprocessamento: adicionar mais valor do que os clientes estejam dispostos a pagar, ou permitir que trabalho não adicionador de valor se infiltre em um processo. 5. Estoques – refere-se a qualquer trabalho em processo, além daquilo que é necessário para produzir para o cliente. 6. Movimento – é a movimentação desnecessária de pessoas. 7. Defeitos – são processos falhos ou de baixa qualidade que resultam em queda na qualidade dos serviços. Womack (2004) aponta algumas etapas de uma proposta para um plano de ação para implementação do Lean Service nas empresas: 1. Identificação dos processos-chave, ou seja, mapear processos primários (que agregam valor ao processo) de suporte, os vitais para os clientes e 34 para empresa, complementando o levantamento com a atribuição dos respectivos responsáveis para cada processo. 2. Seleção dos processos mais importantes e o detalhamento do fluxo atual, contando com a colaboração dos clientes e responsáveis. Tem-se então o mapa do cenário atual, desde que validado por todos os envolvidos nas etapas descritas. 3. Envolver a equipe, de forma a identificar os valores do ponto de vista do cliente. Essa fase será primordial para indicar as atividades que não agregam valor. É possível que após essa análise seja necessário mudar o processo como um todo. Será necessário elaborar um novo fluxo, o mapa do cenário futuro. 4. Implementar as mudanças enfatizando o imprescindível papel da liderança na introdução dos princípios Lean, de forma a sedimentar os conceitos e buscar o engajamento de todos, em um ciclo contínuo em busca do processo perfeito para cada serviço. 2.6.1 Mapeamento do Fluxo de Valor O ponto de partida é a definição do valor e o único capaz de defini-lo com toda a propriedade é o cliente. A empresa é responsável pela criação do valor, porém, não pode determiná-lo. É de fundamental importância o entendimento dos clientes e o que eles entendem e percebem como sendo valores e, conseqüentemente, todas as atividades importantes para a eliminação de desperdícios e alcance dos objetivos. Dentro desta filosofia, diversas ferramentas são utilizadas para aplicar a metodologia e o Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) mostra-se de importância fundamental para o conhecimento do fluxo do valor. Esta ferramenta é um método de modelagem de empresas relativamente simples com um procedimento para construção de cenários de produção. Para Rother e Shook (2003), o MFV é uma ferramenta essencial, pois ajuda a visualizar mais do que simplesmente os processos individuais, pode-se enxergar o fluxo. Mapear ajuda a identificar as fontes do desperdício, fornece uma linguagem comum para tratar dos processos de produção tornando as decisões sobre o fluxo 35 visíveis. Junta conceitos e técnicas enxutas, que ajudam a evitar a aplicação de técnicas isoladamente, formando a base para um plano de implementação e mostra a relação entre o fluxo de informação e o fluxo de material. A meta que se pretende alcançar com o MFV é a obtenção de um fluxo contínuo, orientado pelas necessidades dos clientes, desde a matéria prima até o produto final. O primeiro passo para o mapeamento do fluxo de valor é definir a família de produtos ou segmento de serviços que será mapeada e analisada para se aplicar as técnicas e ferramentas lean. O segundo passo é entender o fluxo e as melhorias necessárias para fazer as mudanças no processo produtivo. O próximo passo é desenhar o estado atual da cadeia de valor. Durante o mapeamento do estado atual surgem idéias sobre o estado futuro, e desenha-se o MFV futuro. Na figura7 é possível observar a troca de informações e a relação existente entre o mapa atual e o mapa futuro, indicando o desenvolvimento do estado atual e o futuro que se sobrepõe. A última etapa do MFV é a elaboração de um plano de implementação que descreva o planejamento e as ações necessárias para se chegar ao estado futuro e colocá-lo em prática. De acordo com Rother e Shook (2003) quando o mapa do estado futuro é alcançado, ele se torna atual. A partir desse ponto surge a necessidade de se elaborar outro mapa futuro, tornando-se assim, um ciclo contínuo de melhorias. Figura 7 - Etapas do mapeamento do fluxo de valor Fonte: Rother e Shook, 2003. No MFV tradicional são usados parâmetros de tempo típicos dos processos produtivos, de acordo com Rother e Shook (2003): 36 • Lead time (L/T) • Tempo de ciclo (T/C) • Tempo de processamento (que agrega valor) (TAV) • Tempo que não agrega valor (TNAV), • Tempo de mudança (setup) (T/M) Segundo a adaptação do método proposto por Silva (2009), especificamente para serviços de manutenção, existem parâmetros de tempo mais adequados a representar a atividade: • Tempo total médio de manutenção (mean maintenance lead time – MMLT) – é o tempo decorrido entre o conhecimento da necessidade de efetuar um tipo de intervenção de manutenção num equipamento e a sua entrega, pronto a operar em condições normais,após a realização da intervenção. • Tempo médio de preparação (mean time to organize – MTTO) – é o tempo médio requerido para preparar e planejar as tarefas de manutenção e obter os recursos necessários, até se iniciar o trabalho operacional. • Tempo médio de manutenção (mean time to repair – MTTR) – é o tempo requerido para realizar todas as tarefas de trabalho de manutenção (planejadas e não planejadas). • Tempo médio de teste (mean time to yeld – MTTY) – é o tempo requerido para o equipamento ser testado e aceite como bom para operar, depois de terminado o trabalho de manutenção. As definições dadas permitem identificar quais os tempos que agregam valor (TAV) e os que não agregam valor (TNAV), independentemente de serem necessários ou não. MMLT = MTTO + MTTR + MTTY Recorrendo ao principio da produção enxuta que diz que: “Só o que o Cliente quer, é reconhecido como valor”, apenas o MTTR é considerado como TAV. Os outros parâmetros de tempo MTTO e MTTY são TNAV, apesar de serem processos necessários. A partir destes parâmetros obtém-se um indicador de eficiência da manutenção, baseado no fator tempo: 37 Eficiência da Manutenção (%) = MTTR x 100 MMLT Segundo Silva (2009), um MFV do estado atual ou do futuro contém na sua estrutura todos os elementos necessários à compreensão do que acontece durante os três períodos de tempo (MTTO, MTTR e MTTY) em que ocorrem as atividades de manutenção. Os símbolos adaptados a partir dos propostos por Rother e Shook (2003) utilizados para representar estes elementos são representados no quadro 1. ELEMENTOS MFV SÍMBOLO DESCRIÇÃO Processo São os elementos de trabalho que acontecem durante todo o período em que o equipamento está parado, até ele ficar completamente operacional Trabalho Empurrado Representa a seqüência dos processos quando programados de forma convencional Material/Serviço Entregue Fluxo de materiais ou serviços entregue em partes do processo ou ao cliente no final do processo Informação Manual Fluxo de informações manuais (documentos em papel) Informação Eletrônica Fluxo de informações eletrônicas Dados Os dados dos processos e sobre outros elementos (tempos, quantidade de operadores, etc.) Atraso São intervalos entre processos que apenas contribuem para aumentar o MMLT, sem agregar valor Linha de Tempo Representação gráfica dos tipos de tempos (TAV, TNAV). O TAV é representado no nível inferior, o TNAV no nível superior Deslocamento/Transporte Representa os deslocamentos de pessoas ou transporte de materiais Quadro 1. Símbolos para o MFV dos serviços de manutenção Fonte: SILVA, 2009, p. 09. 38 Apesar da escassez de literatura que trata da abordagem da mentalidade enxuta para serviços, é crescente o movimento de transferência de conceitos e ferramentas utilizadas na manufatura para aplicações em operações de serviços. 2.7 Gerenciamento da Rotina Diária O total quality control (TQC) é definido como um sistema administrativo no qual o controle é exercido por todas as pessoas para a satisfação das necessidades de todas as pessoas. O TQC atende aos objetivos da empresa por ser um sistema gerencial que parte do reconhecimento das necessidades das pessoas e estabelece padrões para o atendimento dessas necessidades. Além disso, visa manter e melhorar continuamente esses padrões, a partir de uma visão estratégica e de uma abordagem humanista (CAMPOS, 1992). O gerenciamento da rotina diária (GRD) faz parte do gerenciamento pelas diretrizes, sendo o GRD um desdobramento deste modelo de qualidade que visa a prática do TQC por um processo de garantia da qualidade, baseado no gerenciamento participativo. Para Campos (1992, p. 67) o gerenciamento pelas diretrizes, é um sistema administrativo que envolve todos da organização, com o objetivo de melhorar a competitividade para garantia de sobrevivência da empresa. Contudo, fica a alta gerência com a responsabilidade de manter o controle da qualidade através de: planejamento da qualidade, manutenção da qualidade e melhoria da qualidade. O gerenciamento pelas diretrizes objetiva direcionar as ações de todos os processos em um único rumo, estabelecendo as diretrizes de controle que se desdobram em diretrizes e metas gerenciais, e assim sucessivamente, em toda hierarquia e é a base para a realização da estratégia da empresa. Na implantação do TQC, a primeira prioridade é implantar o gerenciamento da rotina diária. Segundo Campos (1992) o GRD é fundamentado nos seguintes pontos: • Perfeita definição da autoridade e da responsabilidade de cada pessoa. • Padronização dos processos e do trabalho. • Monitoração dos resultados destes processos e sua comparação com as metas. 39 • Ação corretiva no processo a partir dos desvios encontrados nos resultados, quando comparados às metas. • Ambiente de trabalho saudável e na máxima utilização do potencial das pessoas. • Busca contínua da perfeição. Campos (1992, p. 68) define GRD como: “as ações e verificações conduzidas para que cada pessoa possa assumir as responsabilidades no cumprimento das obrigações conferidas a cada indivíduo e a cada organização”. E aponta as seguintes etapas de implantação: 1. Definição da função – é um procedimento para a distribuição de responsabilidades e engajamento de todos no gerenciamento participativo, além de determinação das funções das pessoas, nos setores, definição das características de produtos e/ou serviços e as entradas e saídas de insumos, nos meios e fins da organização. 2. Macrofluxograma – explicita os processos da empresa e ajuda na definição de autoridade e na atribuição de responsabilidades, pela definição dos itens de controle. 3. Verificação dos itens de controle – identificar os itens de controle, determinando a freqüência de verificação e quais as metas a serem estabelecidas. 4. Fluxograma de tarefas – montar, de forma participativa, os fluxogramas das áreas de trabalho para ajudar na padronização. 5. Definição de procedimento padrão de operação – padronizar os processos, observando o alcance das metas propostas nos itens de controle. 6. Identificação dos problemas – definir claramente os problemas e resolvê-los com a participação de todas as pessoas como meio de melhorar continuamente os procedimentos padrão de operação. 7. Educação/treinamento – educar e treinar o pessoal nos métodos e práticas do controle de qualidade, como forma aplicar eficazmente o GRD. Para Campos (1992) a rotina é estabelecida de tal forma que a administração da empresa possa delegar a condução dos processos às pessoas que os operam e passar a se preocupar com os projetos de melhorias que visam a 40 conferir maior competitividade à empresa. A rotina é composta de atividades que visam o controle de qualidade dos processos que se estabelecem, a partir da identificação dos itens de controle, sistematização e delegação de responsabilidades. 41 3 PROJETO DE SOLUÇÃO DO PROBLEMA 3.1 Perfil da Empresa 3.1.1 Histórico A história da Ícone Elevadores Ltda. começa a ser escrita no final dos anos 90 quando o mercado brasileiro de transporte vertical era dividido quase que integralmente por cinco grandes empresas: a americana Otis; a Atlas, empresa pertencente ao grupo brasileiro Villares; a Sür, outra empresa brasileira; a Kone, uma empresa de capital finlandês; e a suíça Schindler. Nesse período as oscilações da economia e a elevação da cotação das moedas estrangeiras fizeram algumas das empresas perderem mercado apresentando fortes prejuízos e outras se fortalecerem. Devido a esse cenário começaram a ocorrerem fusões e aquisições entre as cinco grandes empresas. Em 1999 a Kone anuncia a intenção de compra da Atlas, negócio que acabou não se realizando devido à intervençãoda Schindler que se antecipou e adquiriu 98% do capital da Atlas, surgindo assim a empresa Atlas- Schindler. No mesmo ano o grupo alemão Thyssenkrupp compra a brasileira Sür, desse negócio surge a empresa Thyssen-Sür. Em 2001, devido ao fracasso na aquisição da Atlas e aos seguidos prejuízos com a perda de mercado, a Kone anuncia a intenção de venda de suas operações na América Latina para a Otis, o negócio não se realiza com a Otis e sim com a Thyssen-Sür. A empresa que surgiu após essa fusão passa a se chamar Thyssenkrupp Elevadores. Com a fusão das operações da Kone no Brasil com a Thyssenkrupp ocorreram reestruturações nos quadros de funcionários, o que acarretou o desligamento de muitos deles, na grande maioria funcionários da Kone. A Ícone surgiu no início de 2002, da idéia de dois ex-funcionários da Kone (filial Fortaleza) de ofertar serviços de manutenção em elevadores e escadas rolantes com qualidade comparável a dos fabricantes, com o diferencial da agilidade no atendimento e mantendo um estreito relacionamento com o cliente. 42 Posteriormente expandiu suas atividades com a venda de elevadores e a modernização de equipamentos instalados. 3.1.2 Natureza do Negócio Prestação de serviço e desenvolvimento de soluções em transporte vertical. Executando manutenção, instalação e modernização de elevadores, escadas e esteiras rolantes. 3.1.3 Local e Abrangência de Atuação A Ícone Elevadores atua em quase todo Ceará, estando sediada em Fortaleza. A empresa possui um potencial de atuação de todo o estado, mas atualmente a maior parte das suas atividades está concentrada na capital e região metropolitana. 3.1.4 Setor da Economia A Ícone Elevadores tem como foco principal a prestação de serviços de manutenção na área de transporte vertical. Possui aproximadamente 600 equipamentos sob sua responsabilidade de manutenção, o que representa em torno de 11% do mercado local. Atua também na comercialização de elevadores, representando as marcas Orona e GMV e na modernização de equipamentos instalados. 3.2 Descrição do Problema Este estudo foi conduzido no setor de manutenção preventiva da empresa, que funcionava até aquele momento sem qualquer planejamento sistemático. A busca pela expansão da participação no mercado levou a empresa a uma cuidadosa revisão nos métodos de trabalho para se alcançar maior produtividade e, 43 conseqüentemente, maior competitividade. Aliado a este fator, a empresa sofre pressão do mercado no sentido de baixar os preços dos serviços oferecidos, forçando dessa forma, a baixar na mesma proporção, ou de forma mais acentuada, os custos. A redução dos custos com atividades que não agregam valor aos serviços de manutenção preventiva, resultante da somatória das perdas no processo, foi o principal foco do estudo. Nestas circunstâncias, a empresa buscou viabilizar uma metodologia que vise otimizar as atividades de manutenção preventiva, tornando-as integradas e alinhadas às necessidades e objetivos dos clientes. Considerando as características da manutenção de elevadores, que se traduzem na grande variedade de máquinas e equipamentos, bem como a complexidade tecnológica de muitos destes, é fundamental a necessidade de se ter um setor de manutenção preventiva eficaz. Desta forma, procurou-se implantar uma metodologia de gestão da manutenção preventiva alinhada com o estilo de gestão da empresa, resultando em uma metodologia adaptada. Para tornar sua implantação a menos traumática possível e garantir a sua continuidade, foram utilizadas técnicas e ferramentas de gerenciamento, como: análise de processos, estudos de tempos e métodos, mentalidade enxuta e gerenciamento da rotina diária. Foram realizados levantamentos qualitativos e quantitativos, entrevistas não estruturadas com os técnicos e demais funcionários envolvidos no processo, visitas periódicas ao local para coleta de dados dos processos em um período de seis semanas e aplicação do mapeamento de fluxo de valor (MFV) como método de identificação de perdas e fontes de ineficiência do processo. As etapas de aplicação do MFV foram: 1. A partir dos dados coletados desenhou-se o mapa do estado atual. 2. Definiu-se o plano de trabalho para implementação das melhorias. 3. Baseado nas melhorias necessárias desenhou-se uma proposta para o mapa do estado futuro. Os resultados foram discutidos ao final do estudo com os técnicos e funcionários do setor, com o objetivo de identificar a necessidade de novas melhorias e da elaboração de um novo mapa do estado futuro, formando um ciclo de melhoria contínua, eliminando as fontes de desperdício e agregando valor ao cliente. 44 3.2.1 Conceituação No intuito de adaptar as técnicas gerenciais empregadas, comumente utilizadas para operações de produção fabris, foram adotadas alguma convenções dos conceitos: • Manutenção preventiva – as legislações municipais, amparadas pela ABNT e pelos Conselhos Regionais de Arquitetura e Engenharia (CREA’s), recomendam, e em alguns casos exigem, que todos os equipamentos de transporte vertical – elevadores, escadas e esteiras rolantes, plataformas elevatórias – estejam amparados por contrato de conservação e manutenção com empresas regulamentadas e passem por manutenção preventiva mensal. Assim o intervalo de realização das manutenções preventivas realizadas nos equipamentos é de aproximadamente 30 dias, por instrução da legislação. • Planta e células de trabalho – em unidades fabris as plantas estão divididas em linhas ou células de produção que são áreas onde ocorrem a produção de um produto ou parte do mesmo. Desta forma considera- se planta de produção para manutenção de elevadores toda a área geográfica de atuação da empresa no estado, da mesma forma, considera-se célula de trabalho (produção) cada unidade física (edificações) onde estão instalados os equipamentos. • Demanda – considerando o conceito que descreve demanda como a quantidade de um bem ou serviço que os clientes desejam adquirir durante um intervalo de tempo, e os critérios da legislação vigente, a demanda de manutenção preventiva que a empresa precisa atender é a quantidade de equipamentos em carteira no intervalo de um mês. A demanda diária é quantidade de equipamentos em carteira dividida pelo número de dias úteis do mês. 45 3.2.2 Estado Atual A central de controle das operações (CCO) coordena as operações de campo da empresa, dentre elas, a manutenção preventiva. Diariamente os técnicos iniciavam as atividades de manutenção preventiva na empresa. A CCO emitia as ordens de serviço (OS) referentes às manutenções do dia para cada técnico e enviava ao setor de suprimentos (SS) as requisições dos materiais necessários a execução das respectivas OS’s. Os técnicos retiravam os materiais no SS e em seguida eram transportados às células de trabalho. Na realização da atividade de manutenção preventiva, cada técnico seguia as instruções do plano de manutenção quanto às tarefas a serem executadas, no entanto, a seqüência e forma de execução das tarefas ficava a cargo de cada técnico. Ao fim do dia os técnicos eram transportados das células de trabalho à empresa para entregaram as ordens de serviço finalizadas. A concentração de técnicos na empresa no início e ao final do ciclo das atividades diárias de manutenção preventiva, requeria um número de operadores no CCO e SS, para atendimento dos técnicos, maior do que o necessário para as operações dos respectivos setores entre estes períodos, levando a empresa a significativas perdas por capacidade ociosa. A demanda de manutenções diárias por técnico era calculada de acordo com o número de equipamentos em carteira sem levar em conta as características – modelo, número de andares, tempo em operação – de cada um. Dados: ▪Número de técnicos de manutenção preventiva = 10 ▪ Equipamentos em carteira = 524 ▪ Demanda = 524 equipamentos/mês ▪ Demanda diária = 524/20 = 26,2 equipamento/dia ▪ Demanda diária por técnico = 26,2/10 = 2,62 equipamento/dia ▪ Demanda por técnico = 52,4 equipamento/mês Com base na descrição dos processos apresentados, juntamente com os dados de tempos dos processos, obtidos por cronometragem, o mapa do estado atual é apresentado da figura 8, demonstrando o fluxo de serviços, materiais e informações. 46 CLIENTECENTRAL DE CONTROLE DAS OPERAÇÕES CCO SETOR DE SUPRIMENTOS RECEBER OS’S RECEBER MATERIAIS MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 1 ENCERRAR OS’S MTTO = 10min 2 OPERADORES MTTO = 10min 2 OPERADORES MTTO = 10min MTTR = 150min MTTY = 10min 1 OPERADOR MTTO = 10min 2 OPERADORES MTTO = 10min MTTR = 150min MTTY = 10min 1 OPERADOR MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 2 10min 20min 10min 30min 150min 20min 10min 150min 20min 30min20min 10min MMLT = 480min MTTR = 300min Figura 1. Mapa do estado atual Na análise do mapa percebem-se as perdas por espera no início e no fim do ciclo de trabalho, devido ao processo de emissão e encerramento das ordens de serviço, o recebimento dos materiais no SS e o deslocamento para os postos de trabalho e de volta dos mesmos. Verifica-se que as operações ocorrem de forma seriada, ou seja, uma operação somente é iniciada após o final da operação anterior, algumas poderiam ocorrer paralelamente. Outra característica percebida é o alto emprego do fluxo de informações manuais, notoriamente mais lento em comparação ao fluxo de informações eletrônicas (celular, rádio, PDA, email). A falta da distribuição prévia dos serviços em setores levava a um maior tempo de deslocamento entre postos de trabalho. O número de manutenções realizadas diariamente era principalmente comprometido devido às perdas por espera, fato evidenciado no cálculo da eficiência da atividade de manutenção preventiva, onde nota-se o baixo índice de agregação de valor da atividade de manutenção preventiva na metodologia empregada nas operações. Cálculo da eficiência: MMLT = 480min MTTR = 300min Eficiência da Manutenção (%) = MTTR x 100 = 300 x 100 = 62,5% MMLT 480 47 3.2.3 Plano de Trabalho e Implementação Através da análise do mapa do fluxo de valor do estado atual, percebe-se que há uma acentuada perda por esperas devido a uma organização ineficiente dos processos na rotina diária da CCO e SS. Baseando-se nos conceitos do GRD foi elaborada uma instrução de trabalho para auxiliar o gerenciamento da rotina diária. A instrução desenvolvida contém uma breve definição das funções de cada setor e dos fluxogramas gerais (Anexo A) e, com a descrição dos procedimentos operacionais específicos para as principais atividades de cada, reorganizaram-se as rotinas de trabalho e implantou-se um controle efetivo das mesmas, o foco foi melhorar o fluxo de entrada e saída de informações e atender com maior rapidez e eficiência às solicitações dos técnicos. Foi calculada a demanda de manutenções preventivas de acordo com o número de portas (andares) total da carteira de clientes, ou seja, o somatório de todos os andares de toda carteira de equipamentos em manutenção. A partir da nova metodologia de cálculo da demanda, dividiu-se a carteira de clientes em rotas equalizadas, compostas por células de trabalho, contemplando horas produtivas, improdutivas (reuniões, planejamentos), com os postos de trabalho concentrados pela proximidade geográfica. Para reduzir as perdas por transporte (deslocamento) foi demandada a cada técnico uma rota, predefinida e fixa, para executar as manutenções num intervalo de 30 dias. Diariamente os técnicos iniciam as atividades de manutenção preventiva diretamente nas células de trabalho e comunicam-se com a CCO através de rádio e celular, informando o andamento (início e fim) da execução das tarefas. Ao fim do dia os técnicos encerram as atividades de manutenção preventiva nas células de trabalho e comunicam a CCO o encerramento das atividades do dia. Antes da execução de cada manutenção preventiva os técnicos informam à CCO sobre os materiais necessários à execução das tarefas da manutenção. A CCO solicita o envio dos materiais ao setor de suprimentos e o mesmo envia os materiais diretamente aos postos de trabalho. Semanalmente os técnicos comparecem à empresa para entregar os formulários de OS das manutenções realizadas e tratar dos demais assuntos necessários. 48 Seguindo as técnicas de análise de processos, elaborou-se um fluxograma (Anexo B) das tarefas de uma manutenção preventiva em um elevador. A partir do modelo elaborado foi proposta uma otimização da seqüência de execução das tarefas, através de estudos e sugestões de um grupo de análise formado pelos indivíduos (coordenador, supervisor e técnicos) envolvidos nos processos. Avaliou-se ainda a execução das tarefas, componentes da atividade de manutenção preventiva, através do estudo do trabalho, por meio de cronometragem (Anexo C) e avaliação dos movimentos, com cada um dos técnicos, assim selecionou-se os melhores métodos de execução das tarefas. Como resultado elaborou-se um novo plano de manutenção onde estão indicadas as tarefas a serem executadas, bem como, a seqüência e forma de execução das mesmas. Desta forma, foram reduzidas as perdas de tempo que ocorriam durante a atividade de manutenção propriamente. 3.2.4 Estado Futuro Através da análise do mapa do fluxo de valor da situação atual e do plano de trabalho e implementação, segue o mapa de fluxo de valor do estado futuro na figura 9. Dados: ▪ Número de técnicos de manutenção preventiva = 7 ▪ Equipamentos em carteira = 524 ▪ Demanda = 7860 portas/mês ▪ Média de portas por equipamento = 15 portas/equipamento ▪ Demanda diária = 7860/20 = 393 portas/dia ≈ 26 elevadores/dia ▪ Demanda diária por técnico = 393/7 = 56,1 portas/dia ≈ 4 elevadores/dia ▪ Demanda por técnico = 1122,8 portas/mês ≈ 75 elevadores/mês 49 CLIENTECENTRAL DE CONTROLE DAS OPERAÇÕES CCO SETOR DE SUPRIMENTOS MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 3 MTTO = 2min MTTR = 100min MTTY = 10min 1 OPERADOR MTTO = 3min MTTR = 100min MTTY = 10min 1 OPERADOR MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 4 MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 1 MANUTENÇÃO EQUIPAMENTO 2 MTTO = 3min MTTR = 100min MTTY = 10min 1 OPERADOR MTTO = 2min MTTR = 100min MTTY = 10min 1 OPERADOR 13min 100min 10min 12min 100min 10min 100min 10min12min 13min 100min MMLT = 480min MTTR = 400min Figura 9 - Mapa do estado futuro Cálculo da eficiência: MMLT = 480min MTTR = 400min Eficiência da Manutenção (%) = MTTR x 100 = 400 x 100 = 83,3% MMLT 480 Comparando o MFV do estado atual com o do estado futuro pode-se verificar uma redução das perdas por espera e transporte, processos ocorrendo de forma paralela e o maior emprego de troca de informações por meio eletrônico. O resultado positivo das mudanças pode ser comprovado através do aumento da eficiência da manutenção de 62,5% para 83,3%, este parâmetro reflete o aumento do tempo de agregação de valor para o cliente na atividade de manutenção preventiva. O aumento da produtividade verifica-se através da demanda de manutenções executadas por técnico.No estado atual cada técnico atendia uma demanda de manutenções de aproximadamente 2,5 elevadores/dia (52 elevadores/mês), demanda esta que foi elevada para aproximadamente 4 elevadores/dia (75 elevadores/mês). Desta forma, utilizando o método de trabalho ilustrado no MFV futuro e mantendo-se a carteira atual de equipamentos em 50 manutenção, é possível atender a demanda total com 7 técnicos, número menor que
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