Buscar

ARCABOUÇOS E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 33 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Clóvis Guimarães Neto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARCABOUÇOS E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA 
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2007 
 
 
 2
Clóvis Guimarães Neto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARCABOUÇOS 
 E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS 
DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
Trabalho apresentado ao Curso de 
especialização em Esporte Escolar do 
Centro de Educação à Distância da 
Universidade de Brasília em Parceria com o 
Programa de Capacitação Continuada em 
Esporte Escolar do Ministério do Esporte 
para obtenção do título de Especialista em 
Esporte Escolar. 
Orientador: 
Profº. Ms. Nelson Cunha Guimarães 
Leitor: Profº. Ms. Israel Teoldo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 2007 
 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guimarães Neto, Clóvis 
 
ARCABOUÇOS E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA 
EDUCAÇÃO INFANTIL, Belo Horizonte, 2007 
 
 
33p. 
 
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 
2007 
 
1. Arcabouços 2. Abordagens 3. Pedagógicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4
 
Clóvis Guimarães Neto 
 
 
 
 
ARCABOUÇOS E ABORDAGENS PEDAGÓGICAS 
DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 
 
 
Trabalho apresentado ao Curso de 
especialização em Esporte Escolar do 
Centro de Educação à Distância da 
Universidade de Brasília em Parceria com o 
Programa de Capacitação Continuada em 
Esporte Escolar do Ministério do Esporte 
para obtenção do título de Especialista em 
Esporte Escolar, pela comissão formada 
pelos professores: 
 
 
 
 
 
Presidente: Professor Mestre Nelson Cunha Guimarães 
Universidade Federal de Minas Gerais. 
 
 
Membro: Professor Mestre Israel Teoldo 
 Universidade Federal de Minas Gerais. 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte (MG), 04 de julho de 2007 
 
 
 5
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A minha eterna amada, Cássia, a qual participou ativamente desta minha jornada, com 
seu incentivo permanente nesta minha caminhada e por entender os momentos 
poupados a seu lado para a realização deste trabalho. 
Ao meu filho Felipe, o meu melhor trabalho realizado, sendo o maior propulsor nesta 
jornada chamada: VIDA. 
 6
 
 
RESUMO 
 
Esta monografia é composta de estudo de caso e revisão bibliográfica, onde se buscou 
no do Curso de Pós-graduação em Esporte Escolar, novos caminhos para que, através de 
estudos e abordagens teóricas ajudem a traçar uma visão mais abrangente e consciente 
das práticas pedagógicas aplicadas na Educação Física Infantil. Para isso, foram 
realizadas observações de aulas, entrevista com a professora e a análise do projeto 
pedagógico de Educação Física de uma escola particular de Belo Horizonte. 
 
Esse estudo ressalta a importância de se ter conhecimento dos pensamentos pedagógicos 
que circulam a Educação Física brasileira. Concluiu-se ser fundamental ao professor, 
buscar o que está sendo proposto pela área, contribuindo assim, para o desenvolvimento 
de uma prática com objetivos e intenções definidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7
SUMÁRIO 
 
 
 
1. Introdução............................................................................................................................ 08 
2. Justificativa.......................................................................................................................... 09 
3. Fundamentação Teórica...................................................................................................... 11 
4. Métodos e técnicas de coleta de dados............................................. ....................................20 
4.1 A escola .............................................................................................................................. 22 
4.2 Coleta de dados ....................................................................................................................23 
5. Analise e discussão................................................................................................................ 26 
6. Conclusão.............................................................................................................................. 30 
7. Referência...............................................................................................................................31 
8. Anexo......................................................................................................................................33 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8
 
1. INTRODUÇÂO 
 
Este estudo buscou alertar os profissionais da área, o quanto é importante ter 
conhecimentos dos Arcabouços e Abordagens Pedagógicas da Educação Física na 
Educação Infantil. 
 
 O assunto precisa ser mais discutido no âmbito acadêmico, para que não ocorra 
fatos como o que acontece na realidade da Rede Municipal de Belo Horizonte, onde as 
aulas não estão sendo ministradas por profissionais da área. 
 
Este trabalho teve como objetivo situar o leitor no processo histórico da Educação 
Física, Relacionar a Educação Física Infantil com Arcabouços e Abordagens 
Pedagógicas da Educação Física para que o profissional tenha uma visão mais 
abrangente das práticas pedagógicas, fazer sugestões e contribuições e críticas para que 
o profissional tenha um leque maior de conhecimento a respeito do tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9
 
2. JUSTIFICATIVA 
 
Este tema instigou a buscar novos conhecimentos e o aprofundamento em 
disciplinas que tratavam da infância. Surgiu então a idéia de relacionar a Educação 
Infantil com os arcabouços e as abordagens pedagógicas na organização do trabalho de 
um determinado profissional da área da Educação Física, tendo em vista que esse estudo 
pode ajudar a traçar uma visão mais abrangente e mais consciente destes profissionais 
nas suas práticas pedagógicas. Não é pretensão desse trabalho trazer uma verdade 
acabada, mas sim, uma contribuição acerca da prática pedagógica da Educação Física 
Infantil. Pretendemos então, dar sugestões, fazer algumas críticas e analises, para que 
esse profissional possa ter um leque maior de conhecimentos a respeito do tema. 
 
 
O estudo de caso é um método de pesquisa que deve ser usado para estudar um 
caso isolado, bem delimitado. A situação estudada é diferente de outras, porém, pode 
ser ao mesmo tempo similar a outras. Contudo, o estudo de caso permite que se faça 
generalizações de seus resultados. De acordo com Lakatos & Marconi (1992), “qualquer 
caso que se estude com profundidade pode ser considerado como representação de muitos outros ou até 
mesmo, todos os casos semelhantes”. 
 
No primeiro capítulo desse trabalho é realizado um levantamento das tendências 
que influenciaram a Educação Física ao longo dos anos de sua existência, com a 
intenção de situar o leitor no processo histórico da Educação Física. Tentaremos 
também justificar a importância de pesquisar sobre os arcabouços teóricos e as 
abordagens pedagógicas. 
 
No segundo capítulo é exposto os aspectos da realidade estudada: os motivos da 
escolha da escola , a pedagogia adotada, os objetivos e intenções da instituição 
educacional. Pontos relevantes do projeto pedagógico para a Educação Física também 
serão discutidos. 
 10
 
No terceiro capítulo é apresentado as observações da prática e a entrevista 
realizada com a professora, tentando fazer um diálogo entre o prescrito e o realizado. 
Faremos também uma apresentação da professora, relatando alguns aspectos 
importantes da sua história de vida, tais como sua relação com a Educação Física, a 
escolha pela profissão, sua formação acadêmica e sua experiência na área. 
 
Esse trabalho não pretende trazer uma verdade acabada e sim uma contribuição 
acerca da prática da Educação Física escolar, entretanto pode ganharsignificado dentro 
de outras realidades, que não somente a estudada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11
 
 
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Para contar um pouco da história da Educação Física no Brasil é preciso buscar as 
raízes na Europa do século XIX. Para Soares (1994), o século XIX é de extrema 
importância para entendermos a Educação Física, já que é nesse século que os conceitos 
sobre o corpo e sua utilização como força de trabalho são elaborados. É no início desse 
século que acontece a consolidação de uma nova sociedade: a Capitalista. Sendo essa 
uma sociedade que apresenta desigualdades sociais, com a riqueza concentrada em uma 
pequena parcela, para a classe dos trabalhadores só restava oferecer ao mercado sua 
força de trabalho, expressa na energia física. Sendo assim, para essa nova sociedade, os 
exercícios físicos passam a ter um papel destacado. 
 
“julgava-se que, através deles, e sem mudar as condições materiais de vida 
a que estava sujeito o trabalhador daquela época seria possível adquirir o 
corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela nova sociedade 
capitalista” (SOARES et al., 1992). 
 
O Estado, entendendo a força de trabalho como fonte de lucro, passa então a dar 
maior atenção aos exercícios físicos quando percebe que eles podem favorecer o 
aumento da produção. “A Educação Física será a própria expressão física da 
sociedade do capital. Ela encarna e expressa os gestos automatizados, disciplinados e, 
se faz protagonista de um corpo saudável” (SOARES, 1994). A partir disso, inicia 
também uma preocupação com os cuidados do corpo ligados à higiene, com a intenção 
de construir um homem saudável para a nova sociedade que se consolidava. Essa 
preocupação estava baseada na idéia de que os corpos não saudáveis dificultam a 
implantação do regime capitalista, visto que esses impediam o aumento da produção e, 
consequentemente, o aumento do lucro. 
Assim, a Educação Física se instala nas escolas, na visão de Soares(1994) “como 
um importante instrumento de aprimoramento físico dos indivíduos que, fortalecidos 
 12
pelo exercício físico, que em si gera saúde, estariam mais aptos para contribuir com a 
grandeza da indústria nascente, dos exércitos, assim como com a prosperidade da 
pátria”. 
 
Confirmando a entrada da Educação Física nas escolas, Vago (1999) argumenta 
que “a presença da Educação Física nas práticas escolares, no Brasil, remonta ao 
século XIX, e desde então ela experimenta um processo permanente de enraizamento 
escolar”). Ao longo desses anos, a Educação Física foi sendo apropriada de diferentes 
maneiras, apresentando uma constante mudança de perspectivas e de tendências 
provocada por questionamentos sobre a própria prática. 
 
Para Ghiraldelli Jr (1997), a elite dominante da sociedade de cada momento 
histórico usava a Educação Física como um instrumento para formar os corpos de 
homens e mulheres de acordo com os seus interesses. Sendo assim, de acordo esse autor 
é possível identificar cinco tendências da Educação Física Brasileira: Educação Física 
Higienista (1889-1930), Educação Física Militarista (1930-1945), Educação Física 
Pedagogicista (1945-1964), Educação Física Competitivista (pós-64) e Educação Física 
Popular. 
 
A Educação Física Higienista enfatizava a questão da saúde. Seu papel 
fundamental era formar homens e mulheres sadios e fortes. Porém, sua responsabilidade 
não era somente zelar pela saúde individual, mas também pelo bem-estar coletivo. A 
Educação Física deveria disciplinar os hábitos da população para impedir a deterioração 
da saúde e da moral. 
 
A Educação Física Militarista tinha como principal objetivo formar uma 
juventude capaz de suportar o combate, a luta e a guerra. A atividade física era utilizada 
como um meio de eliminar os fracos e prestigiar os fortes. A coragem, a vitalidade, o 
heroísmo e a disciplina constituíam a base da Educação Física. “A educação Física 
Militarista, por sua vez, visava à formação do cidadão-soldado, capaz de obedecer 
 13
cegamente e de servir de exemplo para o restante da juventude pela sua bravura e 
coragem” (GHIRALDELLI JR., 1997). 
 
A Educação Física Pedagogicista introduziu um novo conceito para a sua prática. 
A Educação Física não deveria mais ser entendida apenas como uma prática capaz de 
promover a saúde ou disciplinar à juventude, mas, como uma prática eminentemente 
educativa. Essa tendência defendia a idéia de que a única forma de promover a 
educação integral do ser humano era através da educação do movimento. Acreditava-se 
que a Educação Física possuía instrumentos capazes de preparar a juventude para o 
convívio democrático. 
 
A Educação Física Competitivista se inspirava na competição e na superação 
individual como valores fundamentais para uma sociedade moderna. O objetivo nesse 
momento era formar atletas, para que esses pudessem prestigiar o país com medalhas 
olímpicas. Acreditava-se que essa era uma maneira de transmitir uma imagem positiva 
do Brasil ao mundo. A Educação Física na escola ficava reduzida ao esporte de 
rendimento e à busca de uma performance ótima. A escola era vista como uma fonte 
inesgotável de futuros atletas. A mídia dava a sua contribuição para divulgar a nova 
idéia, na medida em que transmitia, com exagero, imagens do desporto de alto nível. 
 
A Educação Física Popular não estava preocupada com a saúde, não estava 
preocupada em formar o cidadão-soldado, não tinha caráter educativo e não pretendia 
formar atletas. Ela estava em busca de ludicidade e cooperação e servia aos interesses 
da classe trabalhadora. 
 
O que conseguimos perceber é que Ghiraldelli Jr (1997) faz uma divisão 
cronológica das tendências da Educação Física em tempos muito rígidos, limitando 
assim seu começo e posteriormente seu fim. Isso nos remete a idéia de que em 
determinado momento, uma prática surge na sociedade, se instala por um tempo e 
depois simplesmente desaparece. 
 
 14
Porém, dentro de uma visão crítica e realista, fica fácil perceber que os fatos não 
acontecem de forma linear como foi exposto. Ao contrário disso, a história dever ser 
entendida como um processo dinâmico, sendo que ao mesmo tempo estão presentes 
diferentes concepções. Umas mais expressivas e com maior força do que outras, 
contudo se relacionando de alguma forma. 
 
Entendendo a história como algo dinâmico, Vago (1999) afirma que “esse processo 
de enraizamento escolar não foi homogêneo em termos de representações a respeito 
das expectativas criadas em torno de sua intervenção na formação humana” Pode-se 
perceber então que diferentes representações da Educação Física coincidem em um 
mesmo tempo e espaço. Dessa forma, é possível identificar simultaneamente a presença 
de várias representações da Educação Física. Segundo Vago (1999) são elas: 
 
- Educação Física como domadora de corpos humanos: percebe-se aqui fortes 
influências médicas e militares, difundindo práticas de higienização e 
disciplinarização dos corpos para obter a ordem escolar; 
- Educação Física como produtora de uma raça forte e enérgica: para essa 
representação, ela é usada como um instrumento capaz de promover a regeneração 
da raça brasileira, considerada fraca e doente; 
- Educação Física como celeiro de atletas: a Educação Física é submetida aos 
princípios do esporte de rendimento e a escola passa a ser vista como uma rica fonte 
de formação dos futuros atletas; 
- Educação Física como terapia psicomotora: percebe-se uma aproximação e 
submissão da prática da Educação Física a psicomotricidade. “ A prática escolar de 
Educação Física é organizada, grosso modo, como lugar e tempo de tratamento 
dos chamados distúrbios de natureza psicológica que as crianças revelariam por 
meio dos movimentos corporais” (VAGO,1999) 
- Educação Física como aprendizagem motora: a Educação Física ficar reduzida ao 
ensino das habilidadesmotoras básicas, como por exemplo, andar, correr, saltar, 
entre outras, representando assim um tempo de preparação, para que no futuro as 
 15
crianças já estejam prontas para o aprendizado de diferentes modalidades 
esportivas: 
- Educação Física como promotora da saúde: essa representação pode ser percebida 
desde os tempos do aparecimento da Educação Física nas instituições escolares. 
Muitas vezes, fazendo uma leitura do corpo humano numa dimensão somente 
biológica, porém já é possível perceber também outras leituras que ultrapassam essa 
idéia do biológico; 
- Educação Física como apropriação da cultura corporal: essa representação vem se 
consolidando a partir da década de 1980, momento em que surgem críticas às 
práticas escolares predominantes da época. Para essa representação, a Educação 
Física pode ser entendida como uma área de conhecimento “responsável por 
investigar, problematizar e ensinar as práticas corporais inventadas pelos seres 
humanos ao longo da história, considerando suas dimensões culturais e sócio-
econômicos” (VAGO, 1999). 
 
Então, a partir da década de 80, no Brasil, foi possível perceber algumas mudanças 
no cenário sócio-político. Começam a surgir críticas ao ensino da Educação Física que 
vinha perpetuando uma prática injusta. A insatisfação com o modelo vigente da época, 
que seguia a linha tecnicista esportivista e biologista era notável. Não se queria mais 
sustentar os conceitos que vigoravam até então. A intenção era desenvolver uma 
Educação Física para o ser humano e sua formação. 
 
É ainda nesse momento que a Educação Física passa por um período de valorização 
dos conhecimentos produzidos pela ciência. Dá-se início aos programas de mestrado na 
área, criando para os profissionais a oportunidade de ampliar a reflexão e discussão 
acerca da Educação Física. Em conseqüência das reflexões e debates, começa então uma 
nova produção de conhecimento relacionado à Educação Física escolar. 
 
Alguns autores constroem propostas de intervenção para o ensino da Educação 
Física na escola. Essas propostas se constituem em modelos de ensino pensados e 
estruturados por diferentes autores para orientar a atuação do professor na sua prática. 
 16
São essas propostas de intervenção que chamamos de arcabouços teóricos e abordagens 
pedagógicas. Sobre essas produções teóricas Caparroz (1997) diz assim: 
“procurei, assim, aprofundar o entendimento do contexto em que a 
produção teórica fora elaborada, bem como a importância que a mesma 
teve na perspectiva de avançar em direção ao redimensionamento das 
concepções pedagógicas, das abordagens metodológicas, dos paradigmas 
que balizavam a produção científica, enfim da ruptura e superação que ela 
procurou estabelecer em relação a uma produção que até então se pautava 
quase que única e exclusivamente na perspectiva biologicista, da aptidão 
física”. 
 
Atualmente na área da Educação Física coexiste vários arcabouços teóricos e 
abordagens pedagógicas, e acredito que todos eles influenciam a formação do 
profissional e continuam influenciando a prática cotidiana desses professores. É 
pensando dessa forma que percebo a importância de pesquisar sobre esses arcabouços. 
Pesquisar sobre eles pode permitir entender de que maneira essas influências refletem 
na prática de cada profissional. Que adaptações e modificações esses arcabouços e 
abordagens sofrem quando aplicadas em diferentes contextos. 
 
Esse estudo não irá considerar todos os arcabouços e abordagens existentes, e sim 
aquelas que acredito serem as mais difundidas na área. Pensando assim elegi esses 
arcabouços teóricos e abordagens na expectativa de que eles pudessem estar presentes 
nas aulas e no discurso da professora. Entre eles estão os arcabouços teóricos e as 
abordagens: desenvolvimentista, construtivista-interacionista, crítico-superadora, 
sociológica ou sistêmica, crítico-emancipatória, psicomotricidade e recreação. A seguir 
apresento sucintamente essas abordagens, anunciando os autores, as obras 
representativas e a proposta de cada um. 
 
A abordagem desenvolvimentista “é dirigida especificamente para crianças de 
quatro a quatorze anos, e busca nos processos de aprendizagens e desenvolvimento 
uma fundamentação para a Educação Física escolar” (DARIDO, 1999). É difundida, 
 17
no Brasil, principalmente pelos trabalhos de Tani (1987) e Manoel (l988), citados por 
Darido (1999), tendo a obra “Educação Física escolar: fundamentos de uma abordagem 
desenvolvimentista” como a mais representativa. Defende a idéia de que o movimento é 
o principal meio e fim da Educação Física. Seu objetivo se resume em oferecer 
experiências de movimentos adequados ao nível de desenvolvimento da criança para 
que ela aprenda as habilidades motoras. Por isso, uma aula de Educação Física deve 
privilegiar o aprendizado do movimento, mesmo que outras aprendizagens ocorram em 
decorrência da prática das habilidades motoras. Os conteúdos de ensino devem obedecer 
a uma seqüência de desenvolvimento motor de acordo com a idade, possibilitando assim 
a formação de estruturas motoras cada vez mais organizadas e complexas. A limitação 
dessa abordagem acontece na medida em que ela desconsidera o meio sócio-cultural no 
qual a criança está inserida, o infante é concebido como um ser a-histórico. 
 
A abordagem construtivista-interacionista tem como principal autor o professor 
João Batista Freire, que divulgou essa proposta através da obra “Educação de corpo 
inteiro”, publicada em 1991. A principal área do conhecimento que fundamenta essa 
abordagem é a psicologia, baseando principalmente nos trabalhos de Piaget. De acordo 
com essa abordagem as aulas de Educação Física devem oferecer tarefas desafiadoras 
para que os próprios alunos construam os seus conhecimentos a partir da interação com 
o meio. Os jogos e as brincadeiras são os conteúdos mais privilegiados, pois se acredita 
que enquanto a criança está jogando ou brincando, ela está aprendendo. 
 
Os principais autores envolvidos na construção da abordagem crítico-superadora 
são: Carmem Lúcia Soares, Celi Nelza Zülke Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani 
Filho, Micheli Ortega Escobar e Valter Bracht, que têm como principal obra à 
“Metodologia de Ensino da Educação Física”, publicada em 1992. Essa proposta se 
apoia no discurso da justiça social, e busca fundamentos nas áreas de conhecimento da 
filosofia e das ciências humanas. Para os autores “a Educação Física é uma disciplina 
que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada de 
cultura corporal” ( SOARES et al., 1992), que tem como temas o jogo, o esporte, a 
ginástica, a capoeira e a dança entre outros. Defende a idéia de que o ensino desses 
 18
conteúdos deve ocorrer de forma contextualizada, além de estar de acordo com as 
características da classe social e sócio-cognitivas dos alunos. Segundo essa abordagem, 
o sentido da avaliação no processo de ensino-aprendizagem da Educação Física é o de 
ser uma referência para analisar a aproximação ou distanciamento do eixo curricular que 
norteia o projeto pedagógico da escola. 
 
A abordagem sociológica ou sistêmica tem Mauro Betti como principal autor, e a 
obra “Educação Física e sociedade”, publicada em 1991 como a mais representativa. As 
áreas de conhecimento que fundamentam esse arcabouço teórico são a sociologia, a 
filosofia e a psicologia. Para o autor, a Educação Física é tratada como um sistema 
hierárquico aberto, uma vez que ela sofre influências da sociedade ao mesmo tempo em 
que a influencia. O Objetivo proposto para a Educação Física é “integrar e introduzir o 
aluno no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar 
produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o 
esporte, a dança, a ginástica...)”(BETTI, 1992). De acordo com essa abordagem é 
fundamental que os conteúdos sejamexperimentados na prática pelos alunos, conhecê-
los apenas não é suficiente. Essa abordagem introduz dois princípios à Educação Física: 
o princípio da não exclusão, que diz que nenhuma atividade pode excluir qualquer aluno 
das aulas; e o princípio da diversidade, que propõem que as aulas ofereçam atividades 
diferenciadas e não privilegiem apenas um tipo de conteúdo. 
 
A abordagem crítico-emancipatória tem como idealizador Elenor Kunz. A 
principal área do conhecimento que fundamenta esse arcabouço teórico é a filosofia, 
justamente por ser esta a área do conhecimento que fundamentou seus estudos no curso 
de doutorado. As obras representativas são “Educação Física: Ensino e Mudanças” 
(Kunz,2001) e “Transformação Didático-Pedagógico do Esporte” (Kunz,2001). Essa 
abordagem tenta romper com as anteriores do ensino da Educação Física. A intenção é 
proporcionar aos alunos as competências que vão além do saber fazer técnico. Tentar 
desenvolver igualmente com os alunos as competências de saber agir e saber pensar, 
que os capacitarão para uma vida social mais plena, habilitando-os a conhecer, 
 19
reconhecer e problematizar os sentidos e significados da realidade que os cercam, 
agindo assim de forma crítica e autônoma sobre a mesma. 
 
Uma das propostas de intervenção que repercutiu no Brasil foi a 
psicomotricidade, cujo principal autor de referência foi o francês Jean Le Boulch. Foi 
fortemente influenciada por teorias psicológicas que tratam o movimento como um 
recurso terapêutico. Essa proposta traz um modelo de Educação Física que tem como 
objetivo das aulas o desenvolvimento do esquema corporal, da lateralidade, do 
equilíbrio, da coordenação motora, entre outros. Tem sido utilizada para fundamentar as 
aulas, principalmente, da educação infantil e das quatro séries iniciais do ensino 
fundamental. A proposta não considera o contexto sócio-cultural do aluno, pois se 
acredita que as crianças só assimilam o conhecimento através das compreensões 
imediatas. Ainda hoje, encontra-se fortes influências dessa proposta na prática da 
educação infantil. 
 
Outra proposta de intervenção da Educação Física é a recreação, que foi 
apropriada a partir do modelo recreacionista ou da Educação Física informal, aquela que 
acontece fora do âmbito da escola. Essa proposta foi utilizada como conteúdo e método 
das aulas para os primeiros ciclos com o argumento de que a recreação permitia que a 
criança movimentasse livremente. Esse argumento serviu para camuflar o verdadeiro 
propósito que inseria a recreação na Educação Física dos primeiros ciclos, que era o de 
gastar as energias acumuladas, fazendo com que as crianças ficassem mais calmas e 
tranqüilas para retornar às atividades dentro da sala de aula. Para essa proposta, a 
Educação Física é vista como um prêmio que, de acordo com o comportamento das 
crianças avalia-se se elas merecem ou não a aula. Dessa forma, a Educação Física não é 
entendida como uma área de conhecimento que tem conteúdo para ser ensinado. O 
brincar é entendido como algo que vai apenas ocupar o tempo das crianças. Não existe 
um entendimento mais profundo sobre a importância do brincar na formação delas. 
 
 
 
 20
 
 
 
 
4. MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS 
 
4.1 A ESCOLA 
 
O trabalho foi realizado com apenas uma escola, observando e estudando uma 
realidade; constituindo assim em um estudo de caso. 
 
A escolha da Escola (não revelarei o nome verdadeiro da escola pesquisada por 
questão de ética) se deu por um conjunto de fatores favoráveis ao desenvolvimento 
desse trabalho. Primeiramente por ser uma escola que oferece a Educação Física para a 
Educação Infantil, outro fator foi à receptividade e disponibilidade da escola e da 
professora de Educação Física em colaborar com a pesquisa, e por último a localização 
da escola e a facilidade de acesso a ela. 
 
A escola pertence à rede particular de ensino de Belo Horizonte, localizada na 
região Sul, sendo uma das duas unidades existentes na cidade. A escola trabalha com a 
Pedagogia Logosofica, que tem sua origem na concepção que a Logosofia traz do 
homem, do universo e de Deus. 
 
A Logosofia pode ser entendida como uma linha de pensamento que foi 
desenvolvida por um humanista, pensador e educador argentino chamado Carlos 
Bernardo Gonzále Pecotche. De acordo com esses pensamentos, a escola é destinada 
aos alunos cujos pais querem e buscam uma educação que ultrapasse os limites da 
simples informação sobre os conteúdos que integram os programas de ensino, uma 
educação que possibilite a formação da criança e do jovem na totalidade do seu ser 
físico, psicológico e espiritual; uma educação que colabore para a formação de seres 
pensantes e mais felizes, socialmente aptos e moralmente sãos. 
 21
 
A idéia de criarem-se as Escolas Logosóficas surgiu no I Congresso 
Internacional de Logosofia, realizado em Montevidéu no ano de 1960. No Brasil, o 
primeiro colégio surgiu em Belo Horizonte no ano de 1963. 
 
Atualmente, a escola oferece a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o 
Ensino Médio nos turnos manhã e tarde, com cerca de 900 alunos. A Educação Infantil 
nesta escola – que constitui o nível de ensino pesquisado neste trabalho – tem como 
objetivo realizar um trabalho educacional que ultrapasse os limites dos conteúdos 
curriculares e que promova uma integração cada vez maior das disciplinas, evitando a 
fragmentação do conhecimento e possibilitando, ainda, a participação ativa do 
educando em seu processo educativo. Por isto é utilizada a metodologia de projetos que 
visa organizar a classe em torno de metas previamente definidas por alunos e 
professores. Além de trabalhar com as áreas de conhecimento da Matemática, da Língua 
Portuguesa, da Geografia, História ou Ciências, os alunos contam com aulas 
especializadas de Música, Artes, Inglês, Informática e Educação Física. Essa última é o 
recorte desse trabalho. 
 
De acordo com o projeto pedagógico desta escola, a Educação Física é entendida 
como a disciplina que trata pedagogicamente dos temas da cultura corporal do 
movimento, e ainda é a disciplina responsável pelo trato do movimento humano como 
forma de expressão e linguagem. 
 
São traçados alguns objetivos gerais que orientam o trabalho do ensino da 
Educação Física nessa escola em todos os níveis de ensino, sendo eles: proporcionar aos 
alunos experiências corporais; dar condições aos alunos de entender e agir no sentido de 
melhorar a saúde e o bem-estar físico; contribuir para o desenvolvimento das qualidades 
pessoais, como autonomia, cooperação, criatividade, entre outras; preparar o aluno para 
o lazer; compreender as raízes históricas de temas ligados à cultura corporal e a 
valorização da cultura popular. 
 
 22
Especificamente para a Educação Infantil, a Educação Física é considerada 
como um tempo e um espaço intencionalmente organizado, pensado e planejado para 
vivências de brincadeiras e jogos da cultura infantil. Acredita-se que as brincadeiras e os 
jogos desempenham um papel educativo fundamental para as crianças dessa faixa etária. 
 
São traçados ainda alguns objetivos específicos para a Educação Física na 
Educação Infantil como, por exemplo: contribuir para que a criança desenvolva uma 
atitude saudável e positiva em relação ao próprio corpo; proporcionar atividades em 
grupos onde a solidariedade prevaleça sobre a competitividade: proporcionar situações 
onde a criança possa experimentar de diferentes maneiras e com diferentes estímulos as 
diversas formas de se movimentar utilizando jogos e brincadeiras da cultura corporal 
infantil e outras vivências: entre outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 23
4.2 COLETA DE DADOS 
 
Durante três meses acompanhamos as aulas de Educação Física da Educação 
Infantil do CECAP. As aulas, nessa escola, acontecem duas vezes por semana com 
duração de trinta minutoscada aula. As turmas são mistas com aproximadamente vinte 
alunos. 
 
O local das aulas é, na grande maioria das vezes, o mesmo: uma quadra. 
Somente por algum imprevisto é que as aulas acontecem em outro local. Recordaremos 
aqui um dia que ilustra essa afirmativa. Chegando à escola encontrei um funcionário 
dizendo à professora que a quadra, onde normalmente acontecem às aulas, estava 
interditada porque havia uma construção no prédio ao lado que podia oferecer algum 
risco para as crianças, já que estavam caindo lajotas de cerâmica. Diante desse fato, a 
aula foi transferida para o pátio central da escola, sendo esse espaço também possível 
para a realização da aula. Já que a escola possui outros espaços as aulas poderiam 
explorar esses diferentes locais, permitindo assim que as crianças experimentassem 
outros espaços, vivenciassem outros ambientes, tornando as aulas mais diversificadas 
em relação ao espaço. 
 
A rotina básica das aulas é a seguinte: a turma chega na quadra e assenta no chão 
para escutar a explicação. Quando as crianças chegam muito dispersas ou agitadas, a 
professora costuma cantar algumas músicas criadas por ela mesma para conseguir a 
atenção dos alunos (“Eu vou falar, eu vou falar, se a turma não ouvir, aula eu não vou 
dar” ou ainda “Em cima da linha amarela, agora eu vou ficar, e esperar a professora que 
agora vai falar”). A professora então explica a brincadeira da aula e, depois disso 
começam a brincar. Normalmente, a brincadeira ocupa mais da metade do tempo da 
aula, e nos minutos finais as crianças exploram o material que a professora leva para a 
aula. 
O fato da professora criar as músicas que são utilizadas em sua aula como uma é 
analisado como uma iniciativa positiva. Mas, por outro lado, despertá-nos uma 
preocupação se essas músicas estão sendo utilizadas de forma instrumentalizada. Nesse 
 24
momento, a música não tem sentido nela mesma. Está sendo usada apenas como uma 
estratégia para disciplinar as crianças. Uma das maiores críticas feitas à proposta da 
recreação é que ela apresenta um conteúdo sem que ele tenha significado nele mesmo. 
Nesse sentido, é possível fazer uma relação dessa estrutura com a recreação, já que em 
sua proposta está presente essa idéia. 
 
Ao longo da aula a brincadeira vai sofrendo variações e ganhando novos 
desafios. Para exemplificarmos essa situação tomei como exemplo a brincadeira 
“coelhinho sai da toca” A brincadeira começa com o número de tocas igual ao número 
de alunos. Depois de algumas rodadas elimina-se uma toca, tendo agora mais alunos do 
que tocas. A brincadeira passa a ser um desafio, a criança precisa ficar atenta para não 
ficar sem toca. Passando-se mais algumas rodadas, o novo desafio é formar duplas de 
coelhinhos. As crianças devem ficar de mãos dadas e trocar de toca dessa forma, não 
podendo soltar as mãos na hora de correr. E assim, progressivamente, as brincadeiras 
vão se alterando e ganhado novos elementos. 
 
A relação de materiais disponíveis para a Educação Física é bem grande e 
diversificada. Tem bolas de vários tipos e tamanhos, arcos, cordas, colchões, pneus, 
elástico, cones, bastões, sucatas entre outros. A professora tenta variar a seleção desses 
materiais, levando em cada aula um material diferente, com a intenção de proporcionar 
diversas vivências para as crianças. Nesse momento da aula a professora orienta, sugere 
e propõe movimentos com o material, além de permitir que as próprias crianças criem 
os seus movimentos e explorem o material respeitando a singularidade de cada uma. 
Nesse modelo de aula, na qual as crianças exploram os materiais de diferentes maneiras, 
podemos perceber uma certa influência da psicomotricidade. 
 
O tempo foi passando, e então percebemos a hora de fazer a entrevista. Já 
estávamos com o projeto pedagógico em mãos, já havia feito a observação de um 
número considerável de aulas e para completar a coleta de dados só faltava mesmo o 
discurso da professora. Marcamos previamente, o dia e local para a entrevista, que seria 
 25
gravada. A professora se sentiu bastante à vontade e demonstrou tranqüilidade e 
segurança para responder as perguntas. 
 
Antes de tecermos qualquer comentário sobre os resultados, achamos 
fundamental apresentar a professora e contar um pouco sobre a sua trajetória na 
Educação Física.. À vontade de prestar vestibular para Educação Física surgiu devido ao 
gosto pela prática da atividade física. Nos anos de colégio, sua relação com a Educação 
Física foi muito positiva. Gostava das aulas, era motivada e interessada. Ainda no 
colégio, fez parte da equipe de voleibol, apesar de gostar também de outros esportes. 
Iniciou o curso de Educação Física na Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 
1980. A partir do segundo período da faculdade começou a fazer estágio na área escolar. 
E em 1984 se formou. Trabalhou em diversas instituições escolares, sempre ministrando 
aulas para a Educação Infantil, além de outros níveis de ensino. Nesta escola, ela está 
desde o ano de 1992 e, nessa instituição ela é a professora que ministra as aulas para 
todas as turmas da Educação Infantil. Além da Educação Infantil, ela também é a 
professora de algumas turmas do Ensino Fundamental e Médio. No primeiro semestre 
de 2002, deu início ao mestrado na Faculdade de Educação da Universidade Federal de 
Minas Gerais, desenvolvendo um trabalho na área da história da Educação Física. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26
 
 
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO 
 
Começando a análise da entrevista, a primeira observação que fazemos é 
que as abordagens pedagógicas que a professora anuncia são aquelas que foram 
mais marcantes durante o seu processo de formação. Nessa hora ela conta um 
pouco sobre esse momento fazendo referência a um curso que Le Boulch deu na 
Escola de Educação Física no ano em que lá estudava. Ela fala que durante um 
tempo trabalhou dentro da perspectiva da psicomotricidade. 
 
É possível perceber que a professora tem consciência daquilo que faz e que é 
capaz de refletir sobre sua própria prática. Ela dá conta de perceber suas ações e 
intenções num determinado momento e se acha que suas concepções estão 
ultrapassadas, é capaz de buscar as mudanças necessárias. “Eu acho que o legal é você 
avançar, é você estar por dentro das pesquisas. O que então tem sido descoberto, o que 
a área tem pesquisado e proposto como mais interessante”. 
 
Atualmente, a professora acredita que, dentro da cultura corporal de movimento, 
são os jogos e as brincadeiras que têm mais sentido e significado para as crianças. 
Sendo assim, em suas aulas para a Educação Infantil existe uma predominância dessas 
atividades. E tem ainda a ginástica geral que, segundo ela, são atividades que envolvem 
“o subir, o saltar, alguma coisa assim que não está exatamente dentro de um jogo, de 
uma brincadeira”. 
 
De acordo com Freire (1991), deve haver uma valorização dos jogos e 
brincadeiras dentro da escola, pois diante das características das crianças, são eles que 
apresentam maior significado para elas contribuindo assim para o desenvolvimento de 
cada uma. 
 
 27
Comparado as duas falas citadas acima, é notável que existe uma aproximação 
entre as idéias. É possível perceber que uma concorda com a outra na medida em que 
elege um conteúdo, nesse caso os jogos e as brincadeiras, como mais significativo para 
as crianças. 
 
Dessa forma, parece existir uma hierarquização dos saberes trabalhados nas 
aulas de Educação Física. E então surgem alguns questionamentos como, por exemplo: 
por que não trabalhar outros conteúdos como o esporte, a dança, as lutas, nas aulas de 
Educação Física? Será que as crianças não têm o direito de acesso a esses temas? Ou 
será que a Educação Física não é a disciplina responsável em transmitir esses 
conhecimentos construídos historicamente pela humanidade? 
 
Quando perguntada à professora se ela utilizaalgum arcabouço teórico e 
abordagem como referência para a sua prática, ela responde dizendo que não sabe se 
pode falar que existe um arcabouço teórico e uma abordagem em estado puro. Ela diz 
ainda que o professor na interação com os alunos acaba fazendo, de acordo as 
limitações existentes (de espaço, material, tempo, etc), a Educação Física possível. “E 
essa Educação Física possível, é que é a verdadeira”. A professora reconhece que tem 
limitações, que em vários momentos ela encontra dificuldades na realização da sua 
prática. Mas, relata que está em constante avaliação sobre a mesma. 
 
“Eu acho que a minha consciência é a que mais me cobra. Eu tenho uma 
preocupação muito grande que seja uma aula interessante. Se eu tenho a 
sensação de que tomei, que eu só ocupei o tempo dos meus alunos, eu me 
sinto mal comigo mesma. Então eu acho que essa avaliação da minha 
própria consciência é a avaliação que, talvez, mais exige de mim”. 
 
Concordamos plenamente com essas reflexões. Acreditamos que todo professor 
tem suas potencialidades e suas capacidades e também limitações. E é claro que elas se 
tornam um desafio a mais na prática de cada um. O importante é que tenhamos essa 
 28
consciência, essa percepção, e cada vez mais devemos estar atentos para vencê-las e 
construir uma Educação Física capaz de formar um homem melhor. 
 
Analisando o Projeto Político Pedagógico da escola e relacionando-o com as 
abordagens pedagógicas anunciadas na Fundamentação teórica, é possível perceber que 
existe uma aproximação com as idéias propostas pelo arcabouço teórico e a abordagem 
construtivista-interacionista de João Batista Freire. 
 
Esse autor critica as instituições escolares na medida em que elas ignoram o 
mundo da cultura infantil, e dão pouca importância em suas ações cotidianas para o 
movimento, os jogos, a fantasia, a brincadeira, e ainda outros conteúdos específicos da 
infância. Ele afirma que “negar a cultura infantil é, no mínimo, mais uma das cegueiras 
do sistema escolar” (FREIRE, 1991). Ele acredita que a Educação Física é a disciplina 
curricular responsável em transmitir esses conhecimentos da cultura infantil. 
 
Com base nessas afirmações do autor, encontramos relação com o discurso 
presente no projeto pedagógico da Educação Física dessa escola quando se fala que a 
“Educação Física no infantil é um tempo e um espaço intencionalmente organizado, 
pensado e planejado para vivências de brincadeiras e jogos da cultura infantil” (PPP -
Colégio Logosófico, 2002). Daólio (1998) faz uma crítica a essa abordagem quando 
percebe “a falta de uma discussão mais contundente sobre a dinâmica da cultura 
infantil” Esse autor fala que na ausência de uma definição e discussão acerca dessa 
cultura infantil torna-se difícil para a Educação Física selecionar os conteúdos a serem 
trabalhados por ela. 
 
Freire (1997) diz que a criança só aprende se o conteúdo for significativo para ela. 
E para que um conteúdo tenha significado é preciso ter uma ação corporal. Só que essa 
ação corporal deve ser transmitida através de uma linguagem acessível para as crianças, 
entendida pelo autor como os jogos e as brincadeiras da cultura infantil. É essa 
linguagem que vai garantir o interesse e a motivação das crianças. Quando no projeto 
pedagógico encontramos a afirmação “sendo a brincadeira e os jogos uma atividade 
 29
social específica e fundamental na infância, esses encontram um papel educativo 
importante na escolaridade das crianças” (PPP Colégio Logosófico, 2002), fica claro 
que realmente existe uma concordância com as idéias da abordagem construtivista-
interacionista. 
 
De acordo com o exposto acima, podemos concluir que as idéias presentes no 
projeto pedagógico vão ao encontro da abordagem sugerida por João Batista Freire 
porém, não encontramos nenhum tipo de referência a esse autor. Consultando a 
bibliografia do projeto pedagógico percebemos que várias outras obras são citadas mas 
a obra representativa dessa abordagem “Educação de Corpo Inteiro” ( FREIRE, 1991), 
não faz parte dessa relação. Entre as obras que fazem parte dessa relação estão a 
“Transformação Didático-Pedagógica do Esporte” (KUNZ, 2001) representando a 
abordagem crítico-emancipatória, e a obra “Metodologia do Ensino da Educação Física” 
(SOARES et al,1992) que representa a abordagem crítico-superadora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 30
 
 
6. CONCLUSÃO 
 
É fundamental que o professor busque o que está sendo proposto pela área. Isso 
contribui para o desenvolvimento de uma prática com objetivos e intenções definidas. 
 
Foi possível notar que a história da formação do professor influencia fortemente 
a sua prática. Muitas ações desenvolvidas no cotidiano escolar representam um pouco a 
trajetória percorrida por cada professor durante o processo de construção dos saberes. 
 
Vale ressaltar que a Educação Física na Educação Infantil precisa construir um 
projeto que entenda a criança como um sujeito social, respeitando as suas 
singularidades. É preciso pensar a infância como um tempo em si mesmo, onde o modo 
de pensar, sentir e ser das crianças são levados em consideração. 
 
Termino esse trabalho expressando a importância que ele teve na minha 
formação profissional. O seu desenvolvimento foi fundamental na medida em que 
possibilitou o entendimento de muitas questões que vinham, até então, sem 
esclarecimentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 31
7. RFERÊNCIAS 
 
BETTI, Mauro. Ensino de Primeiro e segundo Graus: Educação Física para quê? 
Revista Brasileira de Ciências do Esporte. P. 282-287, 1992. 
 
CAPARRROZ, Francisco Eduardo. Entre a Educação Física da Escola e Educação 
Física na Escola. Vitória: UFES, 1997. 
 
Colégio Logosófico . Projeto Político Pedagógico da Educação Física do Colégio 
Logosófico Belo Horizonte 2002(mimeo) 
 
DAÓLIO, Jocimar, Educação Física e Cultura. Revista Corporconsciência, n. 1, p. 11-
28, 1º semestre de 1998. 
 
DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola: Questões e Reflexões. Araras, 
SP: Gráfica e Editora Topázio, 1999. 
 
FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro. 2ª edição. São Paulo: Scipione, 
1991. 
 
GHIRARDELLI JÚNIOR, Paulo. Educação Física Progressista: A Pedagogia Crítico-
Social dos Conteúdos e a Educação Física Brasileira. 6ª edição. São Paulo : Edições 
Loyola, 1997. 
 
LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. A Metodologia do Trabalho 
Científico. 4ª edição. São Paulo: Atlas. 1992. 
 
SOARES, Carmen Lúcia, Taffarel, Suely, Pimenta, Selma Garrido e Libâneo, José 
Carlos. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. 
 
 32
SOARES, Carmen Lúcia. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. Campinas, SP: 
Autores associados, 1994. 
 
KUNZ, Elenor. Transformação Didática Pedagógica do Esporte. 4ª edição, São Paulo, 
SP; Ed. Unijuí, 2001. 
 
VAGO, Tarcísio Mauro. Início e fim do século XX: Maneiras de fazer Educação Física. 
In: SOARES, Carmem Lúcia, Caderno Cedes 48 Corpo e Educação 1ª edição. 
Campinas, 1999. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 33
 
 
 
8. ANEXO 
 
ROTEIRO DA ENTREVISTA 
 
1) Nos últimos 10/15 anos, no âmbito da Educação Física escolar brasileira, várias 
abordagens pedagógicas foram sendo construídas. Você tem conhecimento dessas 
abordagens? Fale um pouco sobre elas. 
2) Você consegue identificar quais foram às abordagens que influenciaram na sua 
formação? 
3) E quais abordagens você utiliza hoje como referência para a sua prática? 
4) Quais são os conteúdos que você considera significativos para as suas aulas? 
5) Você faz algum tipo de avaliação da sua prática? 
6) Você consegue perceber alguma interferência da Logosofia na suas aulas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	4. MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
	4.1 A ESCOLA 
	6. CONCLUSÃO

Outros materiais