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TRABALHO SOBRE O LIVRO ANTROPOLOGIA JURÍDICA - HISTORIA DO DIREITO 2

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ROCHA, José Manuel de Sacadura, Antropologia Jurídica: para uma filosofia antropológica do direito, Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 09-91. Resumido por Flávio Mendes Pereira, aluno de Direito da Universidade do Distrito Federal. 
O presente trabalho almeja apresentar uma síntese do Livro Antropologia Jurídica: para uma filosofia antropológica do direito.
Parte I- Antropologia, Poder e Direito
Antropologia- O que é?
Antropologia é o estudo do homem. Antropo (homem) e logo (estudo; ciência).
As principais áreas da antropologia são a Antropologia Física, que consiste no estudo do homem através de sua evolução física e a Antropologia Cultural, que consiste no estudo do homem através de sua evolução cultural.
No mundo, existem várias culturas, umas foram consideradas como imutáveis, como a “cultura oriental” ou “cultura ocidental”, mas na verdade a cultura está sempre em transformação, sempre mutável, podendo ser considerada como um conjunto de valores, regras e comportamentos de um grupo determinado. Essas diferenças culturais são chamadas de alteridade. 
Uma cultura tem história. A Antropologia Cultural quer estudar como os valores, regras e comportamentos dos ancestrais são criados a partir de fatores históricos presentes na relação com a natureza e com os outros homens, em termo de sobrevivência, e não suas implicações sociais e políticas. 
A Antropologia de vestígios consiste nesse estudo através de vestígios do passado que possam revelar a forma de ser e viver. A cultura é tão mutável que muitos grupos não se lembram da cultura de seus ancestrais, sendo esse o papel do antropólogo, resgatar como era viver no passado, resgatar o que estava morto e que as vezes ficam ainda impregnados nos hábitos atuais. 
Já a Antropologia de Direito ou legal consiste no estudo do homem enquanto ser normativo, tendo como referência as regras de conduta dentro do mecanismo cultural de um determinado grupo. A Antropologia legal reconhece a necessidade valorativa de normas e regras de conduta sem que essas fossem formalizadas mediante a escrita ou de um sistema burocrático e estatal, por isso não é chama de Antropologia Jurídica. 
Assim, a Antropologia é reconhecida por esse trabalho desenvolvido pela dedicação maior em estudar os povos, culturas e civilizações do passado e exóticas. Uma outra forma de reconhecimento é através de estudos de outras culturas, principalmente de povos isolados e afastados da cultura ocidental e no estudo dos primários. Lembrando que primários não remetem a povos selvagens, sendo essa expressão desrespeitosa, mas sim uma sociedade considerada menos complexa e diferenciada por não possuírem tecnologia.
A Antropologia comparada consiste em tentar compreender nossa cultura e leis comparando-a com a formação primária e diferenciando-as de outros povos, comparação essa com base em aspectos físicos e culturais do homem.
Alteridade e colonização. Quando estudamos uma cultura de um povo podemos ter vários objetivos, como a de explorá-los, entende-los e protege-los, podendo existir visões fundidas e normalmente conflitantes quando é feito esse contato com outros povos devido as suas diferenças culturais, o que chamamos de alteridade. Já a colonização, alvo dos primeiros antropólogos, consistiu na exploração dos nativos e na sua evolução histórica. O interesse imperialista foi o verdadeiro motivo inicial que fez nascer o interesse antropológico pelos nativos das colônias. 
Antropologia do Direito – O que é? 
A Antropologia do Direito consiste no estudo de regras e sanções em meio a sociedade simples e que faziam com que essas funcionassem de forma organizada nos tempos primitivos sem a necessidade da intervenção do poder Estatal. As regras eram dadas de acordo com o convívio com o seu grupo, partindo da ideia do individualismo voltado para o coletivo com base nos costumes desse meio social.
Nesse sentido, temos como exemplo os esquimós do Alasca, que tinham como regra a divisão de alimentos. Nesse sentido, aquele que estocasse alimentos no inverno, época escarça de alimentos, era punido com a pena de morte, ato esse considerado como sendo de justiça. Outra regra apresentada pelos esquimós era de que: aqueles que não produziam alimentos, como as crianças nascidas no inverno e os idosos, também eram punidos com a pena de morte. No caso do exemplo apresentado, o dever de polícia era da própria comunidade e não do Estado. 
No mesmo sentido, temos os conceitos de Autoridade e Poder. Autoridade, consiste na sociedade impor regras a serem obedecidas por conveniência, tradição e carisma, podendo ser apresentada como regras primárias. Já o Poder consiste na vigilância e punição em caso de descumprimento, podendo ser apresentada como regras secundárias, trazendo a ideia de Dualidade da lei, conforme apresentado também pelo filósofo Max Weber (1864-1920). 
Principais Escolas Antropológicas 
Esse capítulo consiste no estudo das principais Escolas Antropológicas em seu desenvolvimento e consequências dentro da Antropologia do Direito. 
Escola Evolucionista: está intimamente ligada com a Evolução das Espécies, partindo da ideia apresentada pela tese de Charles Darwin (1809-1882), que consiste no estudo de que os animais que se adaptavam ao ambiente com mais facilidade eram considerados mais fortes e os que tinham dificuldades os mais fracos, se não extintos. Partindo desse estudo, os Europeus se apresentaram como sendo os mais fortes e evoluídos e os demais povos como sendo os mais fracos. 
Entretanto, os antropólogos, mediante o estudo empírico desses povos, perceberam que o “diferente” não evidenciava exatamente “inferioridade”, mas sim uma forma de se adaptar ao meio vivido e que em condições ambientais propícias, esses grupos “inferiores” poderiam avançar na escala de desenvolvimento dos demais. 
Assim, a Escola Evolucionista está ligada a ideia de que certas condições de convívio com a natureza influenciam o desenvolvimento de determinado grupo humano. 
Escola Funcionalista: apresentou o estudo dos povos isolados e dos mais longínquos extremos da terra. Defende a predominância da cultura sobre a economia e política. 
O desenvolvimento dos grupos humanos está ligado a valores que constituem a sua cultura própria e diversificada e é a partir das funções institucionais culturais que esses se desenvolvem, traçando estratégia de sobrevivência que ultrapassam o simples se adaptar à natureza. 
Diferença não é sinônimo de inferioridade nem de atraso tecnológico. 
Assim, essa escola apresenta a ideia de que muitos grupos humanos não se apresentaram como superiores economicamente por opção própria, visto que não almejam essa disputa econômica ou política, optando por diferentes meios de sobrevivência a partir de fatores essencialmente humanos, baseando apenas o seu desenvolvimento na funcionalidade de suas instituições, o que desobriga as instituições a se desenvolverem na mesma linha e ritmo das demais.
Escola Estruturalista: tem como semelhança a Escola Funcionalista no entendimento de que deve-se compreender cada grupo humano e entender sua dinâmica interna antes de analisar sua gênese e evolução. Essa escola apresentou a ideia de que um grupo humano apresenta um conjunto de relações e formas sociais de existência material de uma determinada organização da produção da vida em grupo, denominada estrutura.
Uma estrutura não é observável, uma vez que essa está intrínseca no meio social, podendo ser estudada pelo antropólogo mediante três metodologias, sendo a primeira metodologia a de que toda estrutura é um conjunto determinado de relações interligadas por meios de leis internas que apresentam transformações constantes; a segunda é de que toda estrutura possui uma combinação específica de elementos que a compõem; a terceira é de que as estruturas se unem formando sistemas sociais complexos através de leis de compatibilidade, mas sem origem única definida. 
Escola Estruturalista marxista: consiste no aprofundamento dos estudos apresentados pela Escola Estruturalista, vez que essa apresentou o estudo das instituiçõessociais com base na estrutura, mas deixou de aprofundar nessas estruturas, fazendo-as de forma superficial. 
Dessa feita, a Escola Estruturalista marxista vai além do estudo simples da estrutura, procurando revelar como e de que forma essas estruturas se apresentam em termos de organização pela sobrevivência do grupo e como a partir daí as demais concepções superestruturais (religião, cultura e política) lhe são imanentes, além de procurar entender o desenvolvimento ulterior dessas estruturas.
O homem e o Caminho da Dominação
O Homo sapiens. Evolução humana, que a sua primeira tarefa se deu pela liberação das mãos se libertando das funções animalescas e proporcionaram firmeza e habilidade para outras funções além da locomoção em si e podendo mais e mais se especializar em outras funções, como a do trabalho. Esse esforço de transformação fisiológica e fisionômica exigiram um esforço no desenvolvimento cerebral. 
A segunda tarefa da evolução humana se deu pela linguagem, que exigiu do homem um aparelho vocal apropriado e a produção abstrata de símbolos, sendo o homem o único animal que realiza a comunicação através de um conjunto de signos elaborados abstratamente na ânsia de traduzir o meio social e que sente a necessidade de registrar sua cultura.
Essa evolução foi se desenvolvendo com o tempo fazendo com que o cérebro humano desenvolve-se e provocando alterações fisionômicas, mas para isso era necessário que o homem estivesse nutrido, passando o desenvolvimento dos hominídeos através da dieta carnívora.
A terceira tarefa consistiu no desenvolvimento do cérebro humano e a possibilidade de desenvolver uma cultura como Homo Erectus.
Natureza, proibição de incesto e reciprocidade. A quarta tarefa do desenvolvimento humano consiste na dominação da natureza é oriunda do trabalho humano que tem como início a elaboração de instrumentos a cada necessidade, sempre desenvolvendo uma nova solução, mas para isso não era necessário somente o conhecimento da natureza entrando assim o planejamento para que dela possa ser extraído a sobrevivência. 
Ao longo do tempo o homem passou a criar a civilização. 
Entretanto, com a evolução vieram as consequências, vez que o conhecimento potencializou a dominação e exploração da natureza pelo homem e do homem pelo próprio homem que quando conhece a natureza não respeita, domina, quando é dado muito poder passa a não respeitar e querer se aprovar. Para que fosse evitado esse tipo de comportamento começou a ser proibido o incesto para que se fosse criar a necessária reciprocidade. 
Pensamento, existência e dominação. O homem começa a esquecer do trabalho como fundador da humanização e passa a conceber e interpretar o mundo a partir da razão, vindo o questionamento da existência através do pensamento, passando a privilegiar a vida real e a compreensão do pensar e agir em mão única apresentando assim a preponderância do conceber sobre o executar e o poder dos que pensam sobre os que fazem o que alguns pensam. 
O conjunto de forças produtivas e relações sociais de produção foi denominada de Modo de Produção por Karl Marx. A evolução civilista foi marcada pela produção diferente, com estruturas produtivas próprias, mas apresentou algo em comum com os ancestrais, que consiste na dominação da concepção sobre a execução, a exploração do trabalho de muitos e a expropriação do produto desse trabalho para poucos.
Magia, poder e Direito.
A Religião seria seitas e Igrejas, que não eram concebidas como necessária pelos povos indígenas, e o misticismo e a religiosidade das sociedades primárias devem-se à natural incompreensão das forças da natureza e das motivações da existência humana e sua relação com as forças naturais que originam a Magia. É com a Magia que surge o primeiro fundamento da situação de poder, e assim, do direito primitivo. 
A Magia consiste no elo místico do homem primevo com a natureza. Os rituais mágicos, no início eram vistos como caráter coercitivo por parte dos espíritos e indicados pelos praticantes de atos mágicos, feiticeiros, o xamã e o oráculo. 
Com o passar do tempo, a religião estabeleceu alianças entre o conhecimento analítico e a fé, estabelecendo certa juridicidade apresentada pelo binômio Religião e Ciência, sendo que o entendimento era de que a religião sucede a metafísica e esta, a ciência (Comte, 1798-1857).
Para Engels, a religião e a ciência são produtos de uma mesma razão e essas se completam, sendo que para o homem primevo essas são produtos de uma mesma reação a conquistar o conhecimento.
A Magia para as sociedades primárias era um tempo a adoração e a integração com o meio natural superior na qual é estabelecida as práticas de sobrevivência material, com a aplicação de regras de conduta e sanções impostas fazendo com que ocorra a Reciprocidade.
A força dos rituais e da magia com a divindade e a interpretação de suas exigências por esses ritos secretos revestem de forma contundente esse cotidiano comunitário, porém, em alguns lugares a magia é vista como uma falta de moral em relação as regras legais.
Ademais, a doação era vista como algo vinda da divindade superior, aquele que doa é uma pessoa diferenciada, uma extensão, uma sombra das forças superiores, sendo considerado como um instrumento de uma visão mágica de benevolência e passando ao homem primário a ideia de reciprocidade e assim fazendo com o doador possa ser alguém com poder, nascendo aí a ideia do poder de alguém a comunidade.
Nesse sentido, apesar do pensamento exposto, tem-se que aquele que doou se deu oriundo do efetivo produzido por ele, pela sua capacidade de trabalho e produção maior que as dos demais e não pela magia. 
Contudo, a evolução da magia serve para explicar o deslinde da história e porque as sociedades foram organizadas socialmente onde o poder está baseado na desigualdade e competitividade. 
Assim, surgem da magia o direito, fazendo relação entre o direito e a religião, haja vista que o direito religioso e divino deu origem ao direito, vindo a ser estabelecidas sanções sociais e direitos para cada época, passando a serem instrumentos de poder e de dominação social, econômica e política. 
O fim da magia é igualmente o fim da sociedade igualitária. 
Ordem, Juízes e Julgadores
As sociedades simples e sem Estados tinham suas leis e ordens aplicadas, mesmo que de forma diferenciada que por vezes eram praticadas pela sua comunidade ou por sua família e aos poucos foram evoluídos para o “conselho de anciões” e o “feiticeiro”. O controle familiar tinha por base duas funções, que seria a de educar, passando o conjunto de normas aos demais e o de sancionar, consistindo no castigo de forma espontânea (instrumento de coibição e repúdio). 
 A comunidade pode ser definida como o conjunto maior de indivíduos que compartilham o mesmo habitat e estratégias de sobrevivência econômica como poder de sancionar membro das comunidades. 
O direito público consiste no ato da sociedades simples e comunidades exercerem o poder leal diante de situações que envolvam a sobrevivência, baseado em um Direito Restitutivo, que visa educar e a ressociabilizar. 
O sedentarismo é tido como base para a formação de juízes especialistas e um direito baseado em lógica formal criminal. Conclui-se que a origem da formação das instituições jurídicas formais e em estruturas normativas complexas pode-se encontrar a problemática da propriedade em consequência do direito sucessório e assim passando ao desenvolvimento dos chamados Juízes e o interesse pelo processo de julgamento e atribuição específica e especializada de alguns que serão futuros juízes, sendo esse cargo o mais antigo. 
Nesse período não havia força policial propriamente dita para que se faça cumprir a sentença e a Comunidade não poderia ser entendida como força policial especializada. A religião e a estrutura jurídica se uniram para realizar o controle estatal.
Antropologia e Poder: Desdobramentos
A política é um conjunto de atividades humanas planejadas e integradas culturalmente cujo objetivo é a regulação do poder. A política pode ocorrersem que haja um Estado por atrás dela, como ocorreram nas sociedades primárias. Na ocorrência de poder sem Estado, obviamente o interesse dos supostos governantes era pelo não surgimento do Estado no poder.
Poder e violência em Hannah Arendt. Poder e autoridade são distintas. Poder denota violência institucionalizada e consentida. Arendt (1906-1975) autoridade e poder se completam e apresenta dois conceitos concêntricos: o da separação do poder e violência e a ocupação do espaço público. A ocupação do espaço público reativa, omissa, corresponde um vácuo de poder, ao mesmo tempo a negação da própria condição humana e a condição profícua para o totalitarismo, forma extrema de ilegalidade, arbítrio, truculência e “banalização do mal”.
Participação consiste na autoridade, legalidade, poder e democracia e a omissão consiste no autoritarismo, legalidade residual, violência e totalitarismo. 
A adoção do esvaziamento do pensar, do ser-para-si, banaliza o próximo, reduz a existência humana, não extingue o que é considerado como mal, certo do errado, e deixa levar como rebanho aos paroxismos da bestialidade. 
A resistência das sociedades primárias. Nas sociedades primárias estão vedadas pela Magia e a Dependência as situações de êxtase e banalização do mal. Os primevos conversavam com si mesmo o que potencializava a existência do si. A apatia política era impetrada pela adoção de reciprocidade por essas sociedades. 
Nesse sentido, fica evidenciado que essas sociedades tinha a intenção de evitar que o Eu fosse construído externamente, mediante uma produção pessoal em prol do coletivo em uma forma verdadeiramente ética. Nessas sociedades todo o comportamento indesejado era tratado como doença, além da ocorrência de direito societário técnico-industriais em que o direito a solidão prevalece, mantendo a distância da introspecção ocasionando a alienação geral, afins de se evitar a banalização do mal e o sentimento supérfluo da vida humana.
Revisitando “A Sociedade Contra o Estado” de Pierre Clastres
A obra de Clastres foi tida como base a Antropologia Política subvertendo a concepção estrutucionalista marxista, tendo se originado o Direto e o Estado. O conceito marxista tem como base a Antropologia econômica que faz relação com as desigualdades entre as classes e a produção e necessidade do Estado como instrumento de poder que obrigam ainda a continuação da dominação e exploração econômica. 
Se nas sociedades primárias não existiam dominação e exploração primária e assim não poderia surgir o poder, a Antropologia buscou outra explicação para o surgimento do poder e a possível consequência do Estado, o que levou ao inverso do entendimento apresentado, que consiste na ideia de que o poder externo não por relações de produção, mas sim por obrigações coercitivas à produção de excedente econômico com vistas a servir outros que não trabalhavam para garantir o seu sustento.
Nesse sentido, mediante esse tipo de organização, as sociedades primárias produziram o chamado poder e possivelmente o Estado, não por um processo de exploração econômica. 
Para Clastres, a Antropologia Política diz respeito a origem de buscar a realidade e prática primeva não economicamente exclusiva, mas pelo seu surgimento apenas pelo nível de produção ou categorias superestruturais.
Nesse deslinde, a luta contra o Estado ainda permanece, se fazendo presente o poder espiritual na busca de salvação e felicidade contra os chefes tribais com “algum poder”, que através das suas façanhas puderam conquistar a confiança dos povos e constituir o seu poder.
Diante do enfrentamento da religião e filosofia contra o Estado, essas acabam banalizadas, passando os feiticeiros a seres sacerdotes, os rituais viraram liturgias, a magia se transforma em religião e o poder caminha de forma tecnocientífica entre a Igreja e o Estado nas sociedades complexas com poder, fazendo com que a ideia de Um e Único se perca. 
Antropologia Política e a questão da liberdade. A liberdade é, a todo custo, o seu fim! Essa expressão leva ao pensamento de que as sociedades primárias tinham consciência de que o poder do Estado não era libertador, o que ocasionou a sua resistência na adoção desse tipo de poder, optando pelo poder da comunidade na sua forma coercitiva. Essa liberdade está associada com a construção do próprio progresso tecnocientífico, especialmente quando aplicado ao direito, em outras palavras, quando o direito adquire tal desenvolvimento tecnocientífico que pode construir a liberdade humana.
Dessa feita, o estudo dessas sociedades primárias foi possível demonstrar que não se tratam de uma sociedade selvagem ou primitiva, mas sim de uma sociedade que apresentou uma estratégia política consciente das comunidades e não se submeteram aos paradoxos tecnocratas que escondem sempre os devaneios megalomaníacos do poder e/ou do Estado, podendo ser classificada como Liberdade e Igualdade. 
Se o imperativíssimo político, o princípio e a escolha forem a liberdade, e esta acima da igualdade material, então é real a possibilidade de uma democracia constitucional forte e duradoura. Esse status corresponde a Antropologia Política de Clartes e a compreensão da dimensão da alteridade desenvolvidas pelo poder de Um-Único entre as sociedades sem Estado. 
Antropologia política e os problemas da liberdade. O problema do liberalismo é que a maioria das vezes sob seu manto se esconde o problema da desigualdade ontológica como fato social. Um discurso adotado é de que a desigualdade seria um fenômeno natural, sendo isso que as classes dominantes queriam para consolidar seus bens e privilégios, reduzindo as narrativas de justiça social à formalidade viciada da lei e do direito de propriedade e sucessório. 
Contudo, para Rousseau e Marx a igualdade não é colocada de forma irresponsável a descartar as preocupações socioeconômicas. Tem-se a centralidade da liberdade como princípio, afins de que se possa evitar a tirania e o totalitarismo.
A liberdade reforça mais os sentimentos individualistas e a despreocupação com a política. A garantia da liberdade material a preocupação pelo coletivo some, uma vez que a democracia incentiva essa liberdade e o pessoalismo para além do bem-estar geral, podendo ser levada ao egoísmo.
A alteridade e o cuidar de si. A alteridade já é uma condição para que a liberdade seja realizada como princípio natural pelos dizeres cósmicos e da natureza. Nas sociedades primárias a liberdade e igualdade constituem uma unidade fundante. Nesse sentido, não é possível dizer que as sociedades que adotam o poder e o Estado seria pela capacidade de separar ambos os princípios fundantes.
A várias variáveis ao dizer liberdade, mas no final consiste na ideia da busca pela felicidade e do cuidado que se deve ter consigo mesmo que passou a ser o conhecimento de si dentro do cristianismo e o mais importante seria o manter a si o coletivo. 
Parte II- Breve estudo do Caso Brasileiro
Brasil: uma utopia nacional
Os Semióforos, tem como objetivo a aproximação cultural, tendo em vista, uma visão distorcida e invertida da realidade brasileira, é uma simbologia própria que não revela um cotidiano profundamente marcado pela desigualdade, descriminação, dominação de elites.
Por outro lado, os Semióforos têm como étnica, racial, religiosa, a riqueza de nossa natureza, construindo assim uma nova ideologia, capaz de subverter a realidade de carência de cidadania sem a efetiva participação do povo.
O verdeamarelismo é um mito, em si mesmo, menos aqueles que deveriam ser especiais; saúde, educação, transporte, lazer e entre outros.
A história e os Semióforos. Na história o Brasil está destinado a ser escolhido por um povo, escolhido por deus, esse povo foi a nação portuguesa, segundo historiadores e cientistas a chegada da esquadra de Cabral ao Brasil não tenha sido acidental, pois o desvio de rota é um mito.
A partir da exuberância da natureza e de suas riquezas, construiu um mito de uma terra abençoada por Deus, pois o vasto período escondeu a escravidão de índios e negros.
Nesse contexto, o verdeamarelismocontinuava fortemente alicerçados na exuberância e na exploração e desenvolvimento do brasil, nesse período o verdeamarelismo passa a esconder a permanência do modelo de agroexportador do café, a exploração de mão-de-obra nativas, de negros e índios.
Na contramão do poder secular de elites, Getúlio Vargas acabou culminado com um golpe que instaurou o estado novo, impossibilitado de fato concretizar a revolução de 1930, com vista atender uma burguesia ansiosa a substituir as importações e o modelo agrário exportador.
O novo estado emerge em meio a uma ditadura entre os militares, em acabar com a política de café com leite.
O verdeamarelismo a centralidade do poder e esconde uma ditadura sangrenta, com fechamento do parlamento brasileiro, escondeu ainda ascensão da burguesia industrial e financeira nacional e urbana.
Finalmente um pais industrializado, após o fim do estado novo, o Brasil conhece breve período democrático no governo de Juscelino Kubitschek, que havia de se desenvolver ‘‘ 50 anos em 5 ’’, cujo o marco e mostrar a construção de Brasília e o deslocamento rumo ao sertão da máquina político-administrativa do estado.
O verdeamarelismo não resistiu aos poucos movimentos de denuncia velada, o Brasil vivia uma ditatura ainda mais sangrentas e truculentas, período de perseguições políticas, torturas, assassinados e desaparecimentos até hoje não explicados.
Identidade nacional de cima para baixo. Para explicar os destinos superiores dos brasileiros, a visão idílica ficou estabelecida por muitos séculos ainda.
O Brasil, desde a sua descoberta, contudo, no início deverá ser construída pelo colonizador, e depois cobiçados por outras nações coloniais.
Neste contexto a proclamação da república transfere de fato de um pais colonial para um outro tipo de estado e governo, o Semióforos são partes integrantes da nossa cultura. O verdeamarelismo repassa toda a história Brasileira, inaugurado sobre o mito da fundação da nação brasileira, ao contrário dos períodos subsequentes, na primeira república, na república nova, permaneceu com o alicerce da construção autoritária da nacionalidade brasileira.
A Antropologia do Dilema Brasileiro
A Revolução Individualista consiste no movimento de conteúdo ideológico é a institucionalização do indivíduo como centro da moral do sistema, de modo que a sociedade passou a ser vista como um instrumento de sua felicidade, onde se esperam comportamentos diferenciados no espaço tido como casa e o espaço da rua, que devem ser complementares, nunca exclusivos ou paralelos. 
Nos espaços privados tem-se que as prerrogativas de liberdade individual juridicamente devem ser respeitadas e no caso dos espaços públicos, tem-se que esses indivíduos devem se comportar com civilidade e tolerância, questão essa que parte da ideia do convívio social ou da inclusão em um espaço que por ser de todos, ninguém propriamente deve remetê-lo a comportamentos de cidadania regulamentados pelo Estado. 
Essa separação entre privado e público não se originaram das sociedades primárias, mas sim a invenção o homem industrial e do Estado moderno sob a hegemonia liberal da classe burguesa.
A cultura relacional brasileira: de cidadão a pessoa. A Antropologia relacional traz a noção de noção de cidadania. O uso do conceito cidadania para os “modernos” consiste no direito, motivo de orgulho, calcado na hegemonia, uma totalidade para criar a unidade, construindo um elemento de distinção e não de alcance de privilégios. 
Já para os brasileiros, o conceito de cidadania consiste em um dever, sinal de anonimato e inferioridade, usada pejorativamente e contra as leis. O individualismo é considerado um esforço e não um direito. 
Nos estados modernos a cidadania é tida como igualitária, comunidade homogênea, individualista e exclusiva. Já no Brasil, cidadania é tida como comunidade heterogênea, desigual, relacional e inclusiva. 
Ao indivíduo é retirado o status de pessoa quando o cidadão perde o seu conteúdo nobre, sendo que esse se transforma em indivíduo, suspenso e nu, podendo ser incluído a partir do poder econômico, político, tradição ou cargo ocupado ou ainda emprestado de outro. 
Dessa feita, para a cultura relacional o mais importante é este emprestar de status alheio, sendo essa uma forma de inclusão social. 
A necessidade de autoafirmação sociojurídica é a “argamassa” que constrói nossa nacionalidade, nossa personalidade política, nossa utopia de existência e justiça social. Nessa ambiguidade entre o público e o privado, divididos entre o mundo cotidiano e o universo oficial, reforçamos a subserviência a sistemas de inclusão autoritárias e elitistas. 
A inconsciência de classe e o mito da cultura conciliadora. A estrutura social apresentas perplexidades diante as relações pessoais e possibilita a hierarquização e “patronagem” que permitem elos considerados acima da lei, por vezes menosprezando os considerados “inferiores” tanto como meio social como na relação de patrão e empregado, oriundos da provação dos desiguais. 
A conciliação é considera um mito diante da sociedade e do seu enfrentamento da realidade de desigualdade e injustiça no Brasil, algo que vem sendo negligenciado. Dessa feita, as relações pessoas se mostram fortemente como fatores estruturais do sistema do que como sobrevivência do passado. 
 
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