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1 Bases para a produção de Café Orgânico Vanessa Cristina de Almeida Theodoro1 Ivan Franco Caixeta2 Sérgio Pedini3 Apresentação Grande parte das técnicas propostas pela agricultura orgânica estão sendo aplicadas ao cultivo de café, principalmente na região Sul de Minas Gerais e no interior de São Paulo. Os cafeicultores orgânicos partem de dois princípios básicos: o primeiro é a não utilização de agrotóxicos, que desequilibram o solo e a planta e eliminam os inimigos naturais, e o segundo é que os sistemas de produção orgânica geram um equilíbrio solo/planta pelo uso da matéria orgânica, produzindo plantas mais resistentes às pragas e doenças. A tecnologia moderna, centrada no uso de agroquímicos e na dependência de insumos externos, tem sido questionada quanto a sua viabilidade e sustentabilidade econômica/ambiental, colocando- se em contrapartida à cafeicultura orgânica, baseada em novos conceitos de sistema de produção como “agroecológico” e “auto- sustentável”. Outro fator que exerce pressão pela mudança dos sistemas de produção é o interesse crescente pelo consumo de produtos isentos de resíduos e que não agridam o ambiente, notadamente 1 Pós-graduanda em Fitotecnia/UFLA – Diretora de Pesquisa da Associação de Cafeicultura Orgânica do Brasil (ACOB) 2 Prof. de Cafeicultura da Escola Superior de Agricultura e Ciências de Machado/ESACMA.- MS/Fitotecnia –Presidente da ACOB 3 Professor da Escola Agrotécnica Federal de Machado e consultor da AAO – Associação de Agricultura Orgânica 2 aqueles orgânicos e certificados por entidades idôneas e reconhecidas internacionalmente. 1.0 Introdução O presente trabalho originou-se de uma coletânea de informações sobre o tema, visando suprir a demanda tecnológica, gerada pela necessidade de atender aos cafeicultores que optaram por produzir “organicamente”. A Cafeicultura Orgânica baseia-se em novas tecnologias que ainda não foram comprovadas cientificamente, o que leva o agricultor a agir por tentativa, e os técnicos responsáveis pela assistência técnica, a recomendarem com base nos conhecimentos desenvolvidos em sistemas agroquímicos. Esperamos fornecer subsídios “básicos” desse novo sistema de produção da cafeicultura, confiantes que já foi dado o primeiro passo, no sentido de conscientizar a comunidade científica brasileira, sobre a importância dessa nova linha de pesquisa. 2.0 Agricultura Orgânica: Definições e Filosofia O primeiro passo para caracterizar o café orgânico, é a compreensão da definição de Agricultura Orgânica, como se costuma denominar o processo de cultivar organicamente, objeto de grande polêmica e preconceito. Não existe nenhuma definição para Agricultura Orgânica universalmente aceita. Algumas definições simplesmente especificam uma lista das práticas permitidas, excluindo várias outras tecnologias e abordagens gerais. A Agricultura Orgânica é um modelo de agricultura que propõe o cultivo da terra para produção de alimentos sadios, sem o uso de produtos químicos tóxicos a saúde humana e dos animais, sem contaminar a água, o solo e o ar, ou seja, ela deve ser 3 ecologicamente sustentável, mas também, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente aceitável. A base científica e filosófica da prática da Agricultura Orgânica, compreende os seguintes princípios: I) O solo não é um substrato inerte, mas o hábitat de múltiplos organismos e microorganismos, que funcionam como agentes transformadores dos nutrientes, tornando-os solúveis e disponíveis as plantas. II) O desequilíbrio nutricional ou do meio ambiente propiciam o aparecimento de parasitas e reduzem as defesas das plantas, tornando-as mais vulneráveis as doenças (Teoria da Trofobiose). III) Os fertilizantes de origem mineral, por sua natureza de não-viventes, devem ser evitados, pois não têm os mesmos efeitos que o adubo líquido ou o composto bem preparado. IV) As plantações devem formar um todo orgânico, para alcançar a maior auto-suficiência possível. 3.0 Príncipios básicos para produção de Café Orgânico 3.1 Certificação de alimentos orgânicos A certificação é o processo de legitimação da produção, ou seja, é necessário que alguém ateste que determinado produto é realmente orgânico. Através de inspeções um técnico (engenheiro agrônomo, técnico agrícola ou veterinário, conforme o caso) visita a propriedade e verifica se o produtor pode ou não ser considerado orgânico. A IFOAM (International Federation of Organic Agriculture Movements), elaborou normas básicas para agricultura orgânica, a serem seguidas por todas as associações afiliadas. Em maio de 1999, foi elaborada uma Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento que passou a valer como versão oficial 4 da normatização da agricultura orgânica no Brasil, que se encontra em anexo neste boletim. No Brasil já existem certificadoras que dispõem de normas técnicas, como a Associação de Agricultura Orgânica (São Paulo), fundada em maio de 1989 e desde sua criação vem trabalhando na elaboração de suas Normas Técnicas. As Normas são sempre discutidas e aprovadas pelo Conselho Deliberativo da A.A.O e têm um caráter dinâmico, estando sujeitas a constantes reformulações visando seu aprimoramento. De acordo com as Normas executa-se, então, a certificação, que é realizada a partir de inspeções a propriedade do agricultor solicitante. É elaborado um questionário, onde serão levantadas questões relativas aos temas tratados nas Normas. Uma vez certificado, o agricultor assina um contrato com a A.A.O, onde se compromete a seguir estritamente as Normas e fornecer todas as informações que se fizerem necessárias ao seu processo de acompanhamento pela entidade. A A.A.O. se compromete, por sua vez, a efetuar um acompanhamento periódico em sua propriedade. Outra entidade certificadora no Brasil, é o Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD), em Botucatu (São Paulo), que certifica produtos biodinâmicos e orgânicos, de acordo com as Diretrizes Biodinâmicas Internacionais e normas da IFOAM. Os biodinâmicos foram os pioneiros no Brasil a lançar seus selos e normas de qualidade, por iniciativa da Associação Beneficente Tobias, proprietária das marcas criadas para os selos. 3.2 Selo oficial de Certificação ou de garantia As associações de agricultura orgânica devem implantar sistemas de certificação de produtores e firmas, estabelecendo selos oficiais de Certificação ou de Garantia, com as seguintes finalidades: 1) fomentar as práticas de agricultura orgânica; 2) 5 estabelecer e promover uma marca de qualidade; 3) proteger os agricultores, criadores, industriais e comerciantes de alimentos orgânicos e insumos naturais da ação de competidores desonestos. 3.3 Significado dos termos “recomendado”, ”eventualmente permitido” e “proibido” utilizados nas Normas de Produção Vegetal Recomendado – Refere-se às práticas e produtos plenamente aceitos em agricultura orgânica, através de consenso universal, podendo ser usados sem restrições pelos interessados. Aí se enquadram a reciclagem de biomassa e nutrientes, o controle biológico de pragas, a rotação de culturas, a adubação verde, etc.. Além da produção vegetal, estes procedimentos recomendados abrangem a proteção/conservação do meio ambiente e o tratamento mais humanitário aos animais. Alguns desses aspectos tem se tornado obrigatórios. O selo oficial de garantia é aplicado sem nenhuma restrição, exceto na fase de conversão à orgânica, quando se faz uso de uma etiqueta, que identifica os produtos de agricultura em conversão. Eventualmente permitido – Refere-se às práticas e produtos não são plenamente compatíveis com os princípios da agricultura orgânica, ou há controvérsias em seu uso, devendo, assim, serem limitados ou qualificados apenas para fins específicos. As comissõestécnicas das associações de agricultura orgânica devem conceder permissão especial para o uso específico de práticas ou produtos dessa categoria. Na maior parte das normas, as caldas a base de cobre e o enxofre estão nessa condição. Conforme o caso, o selo oficial de garantia poderá não ser concedido, permitindo-se apenas o uso da etiqueta que identifica os produtos de agricultura em conversão à orgânica. 6 Proibido – Refere-se às práticas e produtos não permitidos nos programas de certificação, por não estarem conforme com os princípios da agricultura orgânica, incluem todos os agrotóxicos e os fertilizantes de alta solubilidade, especialmente os nitrogenados. O uso destas práticas ou substâncias constitui transgressão grave, sujeito a penalidades, que poderão resultar no cancelamento temporário ou definitivo do contrato e do uso de selo oficial de garantia. 3.4 Processo de conversão de uma propriedade convencional à orgânica Esse processo de mudança tem aspectos normativos, biológicos e educativos. Os aspectos normativos precisam ser observados para que o café receba o selo orgânico de qualidade. Os biológicos que incluem o reequilíbrio das populações de insetos e das condições do solo. Os aspectos educativos dizem respeito ao aprendizado, por parte dos agricultores e de seus funcionários, de conceitos e técnicas de manejo que viabilizam a agricultura orgânica. Dificilmente uma propriedade convencional de grande porte será convertida totalmente à orgânica em curto período de tempo, principalmente por questões econômicas. O recomendado é que a conversão seja feita em partes, com intervalos de 1,5 a 3 anos, até que o solo possa se recuperar dos maus tratos produzidos pelas técnicas convencionais. Um ponto de partida para se iniciar a conversão é realizar um diagnóstico da propriedade, incluindo o levantamento dos recursos disponíveis (naturais, humanos, benfeitorias, infra-estrutura regional), os aspectos sócio-econômicos e comerciais. Uma parte integrante da conversão na grande maioria dos casos é a mudança nas vias de comercialização. Como se trata de 7 um mercado diferenciado, convém que os canais de comercialização sejam definidos anteriormente à produção. Um exemplo de como funciona esse processo de conversão na cultura do café, que atualmente está sendo discutido e possivelmente ocorram alterações, de acordo com as Normas da Associação de Agricultura Orgânica (A.A.O – São Paulo), a produção de café em conversão é caracterizada como produção “SAT” (abreviatura de sem agrotóxico), não sendo identificada como uma nova categoria de produção certificada, e sim como um reconhecimento de uma estratégia de conversão para o sistema orgânico. Para cada período de doze meses, dentro desse prazo, haverá metas a serem atingidas que, caso não sejam cumpridas ou que não tenham justificativas plausíveis para tal, farão com que o processo seja definitivamente encerrado. Nesse caso, o produtor perde o direito ao certificado “SAT”. O certificado “SAT’, somente é emitido para culturas perenes, onde não estejam sendo utilizados agrotóxicos, mas apenas os produtos permitidos nas Normas Técnicas de Produção da A.A.O, com exceção dos fertilizantes sintetizados quimicamente e solúveis. 4.0 Produção de mudas No dimensionamento do viveiro é preciso dar atenção à área necessária, que depende do número de mudas que se quer produzir (o que pode ser observado no Quadro 01). Quadro 01 –Área de viveiro em função do no de mudas que se pretende produzir. Número de mudas Área total de viveiro (m2) 1.000 10.000 50.000 10 100 500 8 100.000 1000 Na Cafeicultura Orgânica é permitida a utilização de mudas formadas no substrato padrão, de acordo com a Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais -CFSEMG (1989) que recomenda um substrato composto de 700 l de terra peneirada e 300 litros de esterco de curral (ou 80 litros de esterco de galinha ou ainda 10 a 15 litros de torta de mamona) com adição de 1,0 Kg de P2O5 e 0,3 kg de K2O. Theodoro et alii (1997) comprovaram que a utilização de esterco de curral curtido e húmus de minhoca, em dosagens iguais dos mesmos (30%), com a adição de P2O5 e K2O de acordo com a CFSEMG (1989), apresentou efeito similar na formação de mudas de cafeeiro. Para a formação de mudas de cafeeiro em substrato orgânico, ainda não existe recomendação, faltando pesquisas nesta área. De acordo com a disponibilidade de matéria orgânica na propriedade pode-se adotar o substrato alternativo. O substrato alternativo, pode ser preparado com 60-80% de terra de barranco ou terriço e 20-40 % de húmus de minhoca. Pode ser usado esterco de curral bem curtido a base de 30 a 50 %, ou ainda de 10 a 15 % de esterco de galinha. Outro fertilizante aceito pelas Normas, desde comunicado seu uso à certificadora, é o sulfato de potássio, como fonte alternativa do K2O exigido na formação da muda. O único inconveniente é seu alto preço. 5.0 Plantio Para o plantio, na Fazenda Jacarandá localizada em Machado (Sul de Minas Gerais), num espaçamento de 3,20 por 0,50 m, foram adicionados cinco litros de composto orgânico, dois litros 9 de esterco de curral curtido, 100 gramas de fosfato da araxá, 100 gramas de super simples e 200 mililitros de Ajifer – 6 em cobertura. O preparo do solo limitou-se à capina das linhas de plantio e coveamento. Também na Fazenda Jacarandá foram deixados pequenos cordões de mato em meio aos talhões, distribuídos a cada 50 metros. O objetivo destes cordões foi diminuir o impacto de possíveis inimigos naturais do cafeeiro no estágio de muda, e oferecer um acréscimo de matéria orgânica, ajudando a manter o equilíbrio e a sustentabilidade da plantação. Nas áreas mais íngremes o espaçamento foi menor, adensando-se a lavoura, para diminuir a exposição do solo ao sol e à chuva, melhorando a sua conservação. Nestas àreas foram utilizadas fileiras duplas, com espaçamento de 70 cm entre plantas, 50 cm entre fileiras simples, e 1,20m entre fileiras duplas. 6.0 Práticas culturais utilizadas 6.1 Adubação A quantidade de CO2 que passa à atmosfera vindo da respiração vegetal, animal e microbiológica, é avaliada em 20 a 100 kg por dia e por ha. O gás carbônico desprendido na atmosfera é parcialmente reabsorvido pelas plantas através da fotossíntese, passando a fazer parte novamente do tecido vegetal. Este circuito é denominado "Ciclo do Carbono" e nele se verifica, de certa maneira, um equilíbrio entre CO2 desprendido no solo e o absorvido pelas folhas das plantas. Por outro lado, a energia que se desprende é estimada em 4 a 5 kcal/g de matéria seca, e apenas uma parte dela é aproveitada pelos organismos, sendo o restante dissipado em forma de calor. Assim como ocorre na natureza os diversos tipos de adubos orgânicos são na realidade a matéria orgânica em diferentes 10 estágios de decomposição, apresentando com isto diferentes níveis energéticos. De acordo com o ciclo do carbono, podemos listar algumas fontes de adubação orgânica conforme o esquema a seguir: Nível de energia O processo acontece de cima para baixo, do material mais bruto ao mais decomposto, já em contato com as partículas do solo, Energia solar fotossíntese (respiração e decomposição) Adubação Verde (respiração e decomposição) Palha (respiração e decomposição) Cama de frango ou galinha (respiração e decomposição) Composto (respiração e decomposição) Tortas e farinhas (respiração e decomposição) Estercos animais (respiração e decomposição) Bokashi (respiração e decomposição) Biofertilizantes líquidos (respiração e decomposição) Húmus (respiração e decomposição) CO2 11 criando condições de vida para diferentes grupos de organismos desempenharem diferentes funções. Nesta elevada biodiversidade suas funções são otimizadas trazendo o equilíbrio dinâmicoe estabilidade do sistema. Podemos utilizar a matéria orgânica em três estágios, a fim de condicionar o solo e nutrir as plantas: a) Matéria orgânica sobre o solo: recomenda-se a utilização de material mais grosseiro, como palha, adubação verde roçada, etc.. de preferência fermentado, o que favorece o trabalho de distribuição sobre o terreno e diminui a possibilidade de dispersão de sementes de mato. Essa cobertura morta estimula a restituição de maior biodiversidade ao solo, favorecendo uma longa sucessão de organismos decompositores da matéria orgânica. Além de oferecer maior proteção ao impactos da gota da chuva ou irrigação sobre as partículas do solo, diminuir a perda de água por evaporação mantendo o solo úmido, reduzir as oscilações bruscas de temperatura, impedir fisicamente o crescimento do mato e repelir insetos transmissores de viroses. b)Matéria orgânica no solo: recomenda-se a utilização de material diverso, desde que compostado. O composto apresenta um grau de decomposição mais elevado do que a cobertura morta e por isso pode ser incorporado superficialmente. c) Matéria orgânica para a planta: neste caso utilizaremos material de maior solubilidade como: estercos animais, tortas, cinzas, biofertilizantes líquidos, bokashi, húmus de minhoca, etc.. Têm a função de complementar a nutrição da planta. *A utilização de uma das três formas acima citadas não exclui a outra! Uma nutrição rica e equilibrada, tanto para o solo quanto para a planta é resultado da utilização das três formas conjuntamente. 12 6.2 Principais fontes de Matéria Orgânica Os resíduos vegetais e animais constituem as principais fontes de matéria orgânica para os solos, como também excelente matéria-prima para a fabricação de fertilizantes orgânicos. Muitos dos produtos que podem ser utilizados como adubo orgânico são produzidos nas próprias fazendas, como os estercos, camas de galinha, palhas, restos vegetais, compostos e adubos verdes, sendo facilmente utilizáveis e geralmente baratos. Um grupo bastante heterogêneo de produtos tem origem industrial ou agroindustrial. Nesta categoria incluem-se as tortas oleaginosas (amendoim, algodão, mamo na, cacau), borra de café, bagaços de frutas e outros subprodutos da indústria de alimentos, resíduos das usinas de açúcar e álcool (torta de filtro, vinhaça e bagaço de cana), resíduos de cortumes, industriais de papel e celulose, moinhos e usinas de beneficiamento de grãos. O custo do transporte, é um fator importante para a definição da viabilidade econômica do uso como adubo dos materiais de origem agroindustrial, especialmente daqueles produzidos longe dos locais de consumo. Quadro 3: Categorias de adubos orgânicos de acordo com sua origem Origem animal origem vegetal resíduos industriais Esterco de bovinos Esterco de aves Esterco de suínos Esterco de outros animais adubos verdes coberturas mortas Agroindústrias indústrias manufatureiras E ainda: compostos orgânicos, Bokashi, biofertilizantes e adubos orgânicos comerciais. 6.2.1 Forma dos nutrientes na matéria orgânica Uma característica muito particular dos fertilizantes orgânicos relaciona-se ao fato de que os nutrientes, exceto o potássio, encontram-se predominantemente na forma orgânica. Assim sendo, 13 para serem absorvidos pelas plantas há necessidade da transformação para a forma mineral através do processo de decomposição da matéria orgânica ou de mineralização. Com isto, ocorre uma lenta liberação dos nutrientes para a solução do solo. A liberação dos nutrientes em doses homeopáticas para a solução do solo, em acordo com a lenta absorção pelas plantas, resulta em vantagens adicionais da adubação orgânica, em relação à adubação mineral, quais sejam: - Menor potencial de salinidade às sementes, plântulas e microorganismos; - Menor potencial de perdas dos nutrientes por lixiviação; - Possibilidade de realização de uma única adubação, ao invés de ter que fazer parcelamentos. Com relação à necessidade de transformação da forma orgânica para a forma mineral, nos cálculos em adubação orgânica tem-se que considerar os Índices de Conversão. Os índices de conversão representam o percentual médio de transformação da quantidade total do nutriente da forma orgânica para a forma mineral. 14 Tabela 1: Índices de conversão dos nutrientes aplicados na forma orgânica para a forma mineral, em cultivos sucessivos, considerando a incorporação de fertilizantes orgânicos no solo. Índices de conversão(1) Nutrientes 1o cultivo 2o cultivo 3o cultivo ............................%...................... N 40 30 10 P 50 20 10 K 100 - - Ca 50 20 10 M g 50 20 10 S 50 20 10 (1) Tempo de cultivo de 100 a 150 dias, correspondente a um cultivo de espécie anual ou ao período de máxima exigência de lavouras perenes. *Fonte: Vale et alii, 1995. 6.2.2 Número de nutrientes da matéria orgânica O fertilizante orgânico apresenta todos os dezesseis nutrientes de plantas (macro e micronutrientes essenciais). Considerando o papel do solo no suprimento de nutrientes às plantas, a aplicação de fertilizantes orgânicos resulta no aumento da disponibilidade de todos os 13 nutrientes fornecidos pelo solo. 6.2.3 Concentração dos nutrientes da matéria orgânica Os fertilizantes orgânicos devem, sempre que possível, ser analisados antes da aplicação ao solo, pois tanto o teor de umidade de fertilizantes sólidos quanto o teor de nutrientes nos mesmos apresentam-se bastante variáveis. Em fertilizantes líquidos ocorre o mesmo problema. Para os resíduos vegetais, as variações ocorrem devido a espécie de planta, da idade e da fertilidade do solo. Por sua vez, nos resíduos animais 15 varia com a espécie animal, com o tipo de criação, com a alimentação utilizada, com o processo de coleta e com as condições de armazenagem. Além do teor de água e teores totais dos nutrientes, os fertilizantes orgânicos são também caracterizados pela relação C/N, dada a importância da mesma na definição da mineralização líquida. Como o conteúdo de nutrientes nos fertilizantes orgânicos é muito baixo, notadamente quando comparados com fertilizantes minerais, deve-se atentar para o fato de que as quantidades de fertilizantes orgânicos a serem aplicadas são muito elevadas, aumentando sobremaneira os custos de produção, incluindo os custos de transporte e de aplicação. Portanto, recomenda-se cautela no planejamento do programa de adubação direcionado para a cafeicultura orgânica, respeitando-se as necessidades nutricionais do cafeeiro e a viabilidade econômica de tal operação. 6.3 Cálculos na recomendação de adubação orgânica 6.3.1 Fertilizantes sólidos Conhecendo-se o teor de nutrientes no fertilizante orgânico sólido, que é dado com base na matéria seca, o teor de matéria seca ou matéria orgânica e o índice de conversão da forma orgânica para a forma mineral, pode-se calcular, dentro de um raciocínio lógico, a quantidade de fertilizante a ser aplicada. Ou, a seguinte fórmula pode ser útil para os referidos cálculos: A X= __________________ B/100 . C/100 . D/100 Onde: 16 X = Quantidade do fertilizante orgânico sólido aplicado ou a aplicar (Kg/ha; g/planta); A = Quantidade do nutriente aplicado ou a aplicar (Kg/ha; g/planta); B = Teor de matéria seca do fertilizante (%); C = Teor do nutriente na matéria seca (%); D = Índice de conversão (%) (Tabela). Considerando a baixa disponibilidade normalmente verificada para os fertilizantes orgânicos e considerando que se deve evitar a aplicação de nutrientes em quantidades muito superiores às recomendadas, os cálculos devem tomar por base, inicialmente, o nutriente cuja quantidade será satisfeita com a menor dose. 6.3.2 Fertilizantes líquidos Para o caso dos fertilizantes orgânicos líquidos (chorume e vinhaça), a fórmula passa a ser a seguinte:A X= _____________ C’ . D/100 Onde: X = Quantidade de fertilizante orgânico líquido aplicada ou a aplicar (m3/ha; l/planta); C’= Concentração do nutriente no fertilizante (Kg/m3; g/l); D = Índice de conversão (%). (Tabela) Tabela 2: Concentração de nutrientes em fertilizantes orgânicos líquidos Fertilizantes N P2O5 K2O 17 ...........................Kg/m3..................... Chorume 1,0 – 6,0 2,0 –6,0 1,0 – 3,0 Vinhaça 0,3 – 1,2 0,1- 0,3 1,0 – 8,0 Fonte: Vale et alii, 1995. Tabela 3: Teor de nutrientes, de matéria seca e relação C/N de alguns fertilizantes orgânicos sólidos Fertilizantes Matéria seca N P2O5 K2O C/N ........................................... % ......................................... Casca de café 80 – 90 0,6 – 1,2 0,2 – 0,5 - 50 – 120 Gramíneas 85 –95 0,8 – 1,3 0,2 – 0,5 0,4 –0,7 40 – 80 Palhada de milho 80 –95 0,4 – 0,6 0,2 – 0,4 0,9 – 1,7 60 – 120 Palh. Leguminosas 85 – 95 1,5 – 5,0 0,3 – 1,0 0,5 – 3,0 30 – 120 Bagaço de cana 70 – 90 0,8 – 2,0 0,1 – 0,3 0,5 – 1,6 200 – 800 Serragem de madeira 90 – 95 0,05 0,02 0,03 15 – 30 Est. De bovinos 20 – 85 0,3 – 3,5 0,3 – 2,0 0,3 –2,0 15 – 30 Est. De equinos 40 – 80 0,3 – 2,0 0,4 – 2,5 0,3 –2,0 15 – 30 Esterco de ovinos 40 – 80 0,3 – 4,0 0,6 – 2,1 0,3 –3,0 10 – 20 Esterco de aves 20 – 80 0,3 – 5,0 0,2 – 4,0 0,3 – 4,0 15 – 25 Esterco de suínos 40 – 90 0,3 – 3,0 0,2 – 3,0 0,3 – 3,0 10 – 20 Tortas 65 – 95 0,8 – 2,0 0,5 – 2,0 0,3 – 1,0 30 – 50 Lixo urbano 60 – 90 0,3 – 1,3 0,2 – 1,5 0,2 – 1,5 - Farinha-osso 85 – 95 1,0 18,0 - - Farinha-sangue 85 - 95 10,0 - - - Fonte: Vale et alii, 1995 6.4. Bokashi Bokashi é a definição em língua japonesa de todo composto de origem orgânica. Devido à sua composição muito rica em matéria 18 orgânica, proporciona ao solo uma série de vantagens, entre elas uma melhor estrutura. O Bokashi é fermentado em EM, que é um conjunto de microorganismos que vivem no solo naturalmente fértil. Não se tratando nem de fertilizante químico e nem de hormônio. O EM é uma suspensão na qual coexistem mais de 10 gêneros e 80 espécies de microorganismos eficazes, assim chamados porque agem no solo, fazendo com que a sua capacidade natural tenha plena ação. Pode-se dizer que o EM é constituído basicamente por quatro grupos de microorganismos que são: *Leveduras; *Actinomicetos; *Bactérias produtoras de ácido lático; *Bactérias fotossintetizantes. Cada grupo desempenha uma função no solo melhorando a capacidade de produção das plantas, pois confere a elas, maior resistência aos agentes patógenos existentes no solo e maior disponibilidade de elementos necessários ao crescimento. 6.4.1 Cuidados na preparação do Bokashi O principal cuidado que se deve observar ao preparar o Bokashi, é o seu ponto de umidade. A umidade no preparo é tão importante que através dela podemos obter um Bokashi de extrema qualidade ou então um Bokashi putrefato, onde a maioria dos nutrientes se perde através da má fermantação. O primeiro passo para se obter a umidade ideal de fermentação, é ir molhando aos poucos o material. Depois de tudo uniformemente misturado, coloca-se um pouco na palma da mão, que deve ser fechada com força e esse composto não deve escorrer entre os dedos e nem deve ser tão seco a ponto de não formar um 19 torrão. O torrão que se forma na mão deve ser facilmente esfarelado quando manipulado. 6.4.2 Fermentação do Bokashi Após a mistura de todos os componentes do Bokashi e com sua umidade ideal em torno de 50%, o Bokashi deve ser colocado para fermentar, sempre lembrando que a temperatura da fermentação não deve ultrapassar 50o C. Cada vez, que o composto atingir essa temperatura, deve ser revolvido. O Bokahi deve ser amontoado e coberto em sacos de estopa ou lona de algodão, para iniciar a fermentação. Dependendo da temperatura e umidade do local, o Bokashi atinge a temperatura de 50o C em torno de 20 a24 horas. Depois do primeiro revolvimento, o Bokashi continua sua fermentação, sendo necessário revolver toda vez que atingir 50o C. Em condições ideais, o Bokashi estará pronto em uma semana a dez dias. 6.4.3 Método de aplicação do Bokashi Pode ser aplicado em covas, ruas, no pé da planta, a lanço ou com calcareadeira, quando a área for muito grande. O Bokashi é compatível com práticas convencionais da agricultura. No caso de aplicação manual, deve-se tomar cuidado para que não haja torrões muito grandes. A quantidade de Bokashi a ser aplicada no solo varia muito em função do histórico e análise do solo do cafezal. Em solo onde a quantidade de matéria orgânica é baixa, a dosagem e a frequência de aplicação é bem diferente de um solo onde a matéria orgânica é sempre incorporada. Como o Bokashi possibilita a melhora do solo em diversos aspectos, com o decorrer do tempo, pode-se diminuir gradativamente a dosagem de aplicação no solo. 20 Em condições adequadas, o Bokashi pode ser armazenado por até 06 (seis) meses. Quadro 4 : Relação dos materiais utilizados no preparo do Bokashi Ingredientes Quantidades Farelo de arroz 500 Kg Farelo de algodão 200 Kg Farelo de soja 100 Kg Farelo de osso 170 Kg Farinha de peixe 30 Kg Termofosfato 40 Kg Carvão moído 200 Kg Melaço 04 litros EM/4 04 litros Água 350 litros Fonte: A.A.O (1998) 6.5 Supermagro (Biofertilizante) O Biofertilizante (Supermagro) é um adubo orgânico líquido, proveniente de um processo de decomposição da matéria orgânica (animal ou vegetal), através de fermentação anaeróbica (fermentação bacteriana sem a presença de oxigênio), em meio líquido. O Biofertilizante (Supermagro) é utilizado como adubo foliar, complementar a adubação orgânica do solo, fornecendo micronutrientes, atuando também como defensivo natural por ser um meio de crescimento de bactérias benéficas, principalmente Bacillus subtilis, que inibe o crescimento de fungos e bactérias causadores de doenças nas plantas, além de aumentar a resistência contra insetos e ácaros. Sua composição é rica e variada apresentando: esterco, água, sais minerais (micronutrientes), outros resíduos animais, 21 melaço e leite; visando um completo processo de fermentação e equilíbrio nutricional das plantas. Quadro 5: Ingredientes do supermagro Ingredientes Unidade Quantidade Esterco fresco de vaca Kg 40 Água Litro 140 Leite Litro 9 Melaço Litro 9 Fonte: A.A.O (1998) Quadro 6: Sais Minerais para supermagro Ordem Sais Minerais Unidade Quantidade 1 Sulfato de Zinco * Kg 3,0 2 Sulfato de Magnésio Kg 1,0 3 Sulfato de Manganês Kg 0,3 4 Sulfato de Cobre Kg 0,3 5 Cloreto de Cálcio Kg 2,0 6 Boráx * Kg 1,5 7 Molibdato de Sódio Kg 0,2 Fonte: A.A.O (1998) *devem ser divididos em duas vezes. Quadro 7 : Produtos complementares p/ supermagro Ingredientes Unidade Quantidade Farinha de ossos Kg 0,2 Restos de peixe Kg 0,5 Sangue Litro 0,1 Restos moídos de fígado Kg 0,2 Fonte: A.A.O (1998) 22 6.5.1 Preparo do Supermagro Em um recipiente de 200 l (tambor) devem ser colocados os 40 litros de esterco, 100 litros de água, 1 litro de leite e l litro de melaço, misturar bem e deixar fermentar por 3 dias. A cada 5 dias dissolver um dos sais minerais em 2 litros de água morna, juntar com 1 litro de leite, 1 litro de melaço (ou 0,5 Kg de açúcar), e um dos ingredientes complementares e misturar com o esterco em fermentação. Após adicionar todos os sais minerais, na ordem sugerida na tabela(Sais Minerais), completar até 180 litros e deixar fermentar. No verão, por 30 dias. No inverno, por 45 dias. 6.5.2 Método de aplicação do Supermagro A diluição recomendada é de 2% e a pulverização mensal. No caso da impossibilidade de preparar o Biofertilizante Supermagro, pode-se pulverizar o café com boro e molibdênio, nas mesmas proporções adicionados em esterco e água, após um mês de fermentação.6.6 Manejo do esterco Uma forma fácil e eficiente de aproveitar o esterco de bovino pode ser o confinamento à noite. Para isto basta ter um local onde os animais possam ficar fechados, neste local é distribuída a cama, que pode ser capim, palhas diversas, casca de cereais, sabugos picados, turfa entre outras. Esse material deve ter propriedades absorventes para reter a urina. É recomendado a quantidade de 6 a 10 Kg de material seco por 1000 Kg de peso vivo do animal. Depois de alguns dias o material pode parecer muito úmido, neste momento adiciona-se mais um pouco do material utilizado para cama, com o objetivo de retermos o máximo de urina possível. Para enriquecer ainda mais, uma vez por semana, coloque pequenas camadas de 23 cinza, farinha de ossos, pó de rocha, etc. Desta maneira, depois de mais ou menos 15 dias, terá um material rico composto por palha, urina, esterco e outros materiais que foram polvilhados; pronto para ser utilizado como matéria-prima para o composto. As camas são normalmente materiais pobres e quase não contribuem para aumentar o teor de nutrientes dos estercos, mas ajudam a diminuir perdas, principalmente nitrogênio (elevam a relaçãoC/N). A composição do esterco varia com o tipo de alimentação, idade do animal, espécie e raça. E a cama em função do tipo de material empregado como tal, a quantidade usada é a frequência de retirada e reposição. O método que aproveita de maneira mais eficiente o esterco de aves é o de galinheiro cobertos de piso firme, que oferece uma área para as aves ciscarem e tomarem sol. Neste piso é colocada a cama numa altura de 10 a 15 cm. O tempo de permanência dessa cama vai depender da relação C/N do material (Tabela). Quanto maior a relação, maior o tempo de permanência da cama, com limite de no máximo três meses. Se caso for usar materiais que tenham baixa relação C/N, para não perder muito nitrogênio para o ar, aconselha-se espalhar um pouco de pó de carvão, farinha de osso ou superfosfato simples. Duas características do esterco que podem ajudar o agricultor a definir o tempo de permanência da cama ou frequência de retirada, é distinguir a cama do esterco e cheiro excessivo de amoníaco. O ponto ideal é quando o material começa a ficar sem distinção e o cheiro ainda não está forte. Este material também pode ser matéria-prima para o composto. Tabela 4 24 Quantidade de resíduos produzidos diariamente por algumas espécies animais Espécie (peso vivo) Fezes (Kg/dia) Urina (Kg/dia) Bovino (453 Kg) 23,5 9,1 Equino (385 Kg) 16,3 3,6 Suíno (72 Kg) 3,4 1,8 Aves (1,6 Kg) 0,1 ---- Fonte: Trani et alii (1981) Tabela 5 Teores de N, P205 e K2O de alguns estercos frescos Esterco Umidade N(%) P2O5(%) K2O(%) Bovino Galinha Porco 80 10 85 0,55 1,50 0,50 0,23 1,00 0,35 0,60 0,40 0,40 Fonte: Costa, 1987. Tabela 6: Composição média de nutrientes de algumas fontes de matéria orgânica e recomendações de utilização no plantio e condução do cafeeiro Fonte Teores aproximados Recomendações N% P2O5% K2O% Kg/cova L/cova ou m.l. Est. galinha (gaiola) 2,0 2,0 1,0 1-2 4-10 Est. galinha (cama) 1,5 1,0 0,7 2-3 4-10 Est. curral (curtido) 0,6 0,3 0,6 3-5 10-25 Torta de mamona ou algodão 5,0 2,0 1,0 0,5-0,8 1-2,5 Palha de café 1,7 0,1 3,2 2-3 2-5 25 Esterco de suíno 0,5 0,3 0,4 3-5 ---- Esterco de equino 0,7 0,3 0,8 3-5 ---- Adaptado de Matielo, 1991 e Malavolta, 1993. 7.0 Compostagem Compostagem é um processo biológico de transformação da matéria orgânica em substâncias húmicas estabilizadas, com propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem. A verificação dos teores de carbono e nitrogênio (Relação C/N), quando se faz a incorporação ou enterrio dos restos como plantas, colmos, ramas e raízes, é extremamente importante, pois a velocidade de decomposição depende dela. A boa aeração é importante para garantir o fornecimento de oxigênio que permite a decomposição aeróbica, mais rápida e mais eficiente que a anaeróbica. O fornecimento de oxigênio a matéria em decomposição dá-se por meio de revolvimentos manuais, fazendo-se que as camadas externas passem a ocupar a parte interna. Em ambiente aeróbico, a decomposição além de mais rápida e melhor conduzida, não produz mau cheiro nem a proliferação de moscas, o que constitue um fator estético para o local e recomendável para a saúde pública. Sendo a compostagem um processo biológico de decomposição da matéria orgânica, a presença de água é imprescindível para as necessidades fisiológicas dos organismos, os quais não vivem na ausência da umidade. Umidade abaixo de 40% reduz a atividade dos microorganismos, principalmente das bactérias, sendo que de 30% para menos a água torna-se um fator limitante para a decomposição; abaixo de 12% cessa, praticamente , toda a 26 atividade biológica, tornando o processo extremamente lento, muito antes de atingir esse limite. A utilização do fosfato de araxá para enriquecimento e auxílio na decomposição de compostos orgânicos, é uma prática que está se tornando cada vez mais comum entre os agricultores. Compostos orgânicos produzidos com a adição de fosfato de araxá durante a sua confecção, na proporção de 6 Kg/ m3 inicial, considerando uma adubação orgânica na faixa de 30 t/ha, apresentaram uma elevação significativa nos teores de P, Ca e Zn, com tendência de aumento nos valores de pH. Tal adição de fosfato equivale a uma fosfatagem em campo de 1.000 Kh/ha, acrescida da vantagem de o fosfato ser levado ao solo de forma pré-solubilizada. Tabela 7 : Composição química e matéria orgânica dos principais materiais vegetais do processo de compostagem Macronutrientes (%) Micronutrientes (ppm) Espécie M.O % C/N N P K Ca Mg Cu Zn Fe Mn B C.M.V. 96 56/1 1,00 0,20 0,50 0,54 0,15 1 12 631 63 1 C.M.S. 90 75/1 0,70 0,22 0,65 0,83 0,19 8 34 2.723 211 1 C.N.V. 96 40/1 1,40 0,13 0,76 0,47 0,12 1 10 741 25 1 C.N.S. 85 35/1 1,40 0,39 1,51 0,78 0,17 1 13 2.389 101 1 P. Café 79 29/1 1,60 0,10 2,15 0,39 0,12 10 15 1.375 126 19 P. Arroz 82 79/1 0,60 0,04 1,30 0,35 0,16 1 17 475 643 3 P. feijão 95 61/1 0,90 0,05 0,45 1,15 0,32 2 28 500 82 25 27 Obs.: C.M.V. Capim Meloso verde; C.M.S. Capim Meloso seco; C.N.V. Capim Napiê verde; C.N.S. Capim Napiê seco; P. Palha Fonte: EMCAPA/CPDCS, 1995. 7.1 O Processo da Compostagem Os materiais compostáveis podem ter diversas origens: agrícola, domiciliar ou industrial. A escolha correta da mistura é de fundamental importância para o sucesso do processo de compostagem. Para isso é preciso conhecer o teor de carbono (C) e de nitrogênio (N) de cada um dos resíduos vegetais e do esterco, para se atingir a proporção ideal para o trabalho dos microorganismos. (Tabelas 10 e 11). Experimentalmente se sabe que os microorganismos assimilam 30 partes em peso de carbono para 1 parte em peso de nitrogênio. Daí a relação 30/1 ser a mais indicada para a mistura em compostagem. Mas nem todo o material orgânico é aproveitado pelos microorganismos. Em geral eles aproveitam apenas 10 partes (ou 35%) do carbono para formar sua biomassa (peso vivo); as outras 20 partes (65%) são perdidas na forma de gás carbônico, na respiração. Assim, portanto, a relação inicial 30/1 da matéria orgânica acaba sendo reduzida a 10/1. Uma maneira prática de se conseguir isso é combinando-se materiais com relação C/N alta com materiais com relação C/N baixa A fórmula abaixo pode ser aplicada com a finalidade de se obter quantas partes do material rico em carbono devem ser colocadas para cada parte do material rico em nitrogênio. (30 x Nm) - Cn Cc – (30 x Nc) 28 Onde: Nm = % de nitrogênio do material rico em N Cn = % de carbono do material rico em N Nc = % de nitrogênio do material rico em C Cc =% de carbono do material rico em C Quando se tem mais de dois materiais que se quer misturar os cálculos são feitos dois a dois, sempre combinando-se materiais que apresentam relação C/N acima de 30/1, com aqueles que apresentam relação inferior. Assim, tendo-se esterco de aves, bagaço de cana e palha de café, os cálculos são feitos para a mistura esterco + bagaço e depois esterco + palha de café. A proporção será então de 2 partes de esterco para “X” partes de bagaço e “Y” partes de palha de café. A escolha do local é extremamente importante. Deve ser uma área, se possível, plana, protegida de ventos e insolação direta, com fácil acesso para a carga e descarga do material e ter água disponível. A pilha de composto deve ter de 1 a 3 metros de largura, comprimento variável e altura de até 1,50 metros. Deve ser feita preferencialmente em local sombreado. Deve ser feita misturando- se alternadamente o material procedendo-se a rega da pilha a cada camada, tendo o cuidado para não encharcar. Depois de pronta, a pilha deve ser revestida com capim ou sapé, para proteger da chuva e reduzir a evaporação. Após aproximadamente 20-25 dias a atuação de microorganismos elevará a temperatura da pilha até cerca de 75o C. Ao ocorrer a queda da temperatura, faz-se o reviramento ou corte da pilha, que provoca arejamento e mistura do material. Após o corte a temperatura se eleva novamente. Com o seu resfriamento, o material semi-curado já pode ser utilizado. 29 Tabela 8 – Composição Média de Materiais Ricos em Nitrogênio Materiais MO% C% N% C/N P2O5% K2O% Algodão: semente ardida 95,62 54,96 4,58 12/1 1,42 2,37 Amoreira: folhas 86,08 45,24 3,77 12/1 1,07 ne Banana: folhas 88,89 49,02 2,58 19/1 0,19 ne Borra de café 90,46 50,60 2,30 22/1 0,42 1,26 Cacau: película 91,10 51,84 3,24 16/1 1,45 3,74 Café: semente desnaturada 92,83 52,32 3,27 16/1 0,39 1,69 Cássia alta: ramos 93,61 52,35 3,40 15/1 1,08 2,98 Crotalarea juncea 91,42 50,70 1,95 26/1 0,40 1,81 Cevada: bagaço 95,07 51,30 5,13 10/1 1,30 0,15 Couro em pó 92,03 43,75 8,74 5/1 0,22 0,44 Esterco de suínos 53,10 29,50 1,86 16/1 1,06 2,23 Esterco de aves 52,21 29,01 2,76 11/1 2,07 1,67 Esterco de equinos 96,19 25,50 1,67 18/1 1,00 1,19 30 Eucalipto: resíduos 77,60 42,45 2,83 15/1 0,35 1,52 Feijão de porco 88,54 48,45 2,55 19/1 0,50 2,41 Feijão guandu::palhas 55,90 52,49 1,81 29/1 0,59 1,14 Feijão guandu: sementes 96,72 54,60 3,64 15/1 0,82 1,89 Fumo: resíduos 70,92 39,06 2,17 18/1 0,51 2,78 Ingá: folhas 90,69 50,64 2,11 24/1 0,19 0,33 Labelabe 88,46 50,16 4,56 11/1 2,08 ne Laranja: bagaço 22,58 12,78 0,71 18/1 0,12 0,41 Lúpulo: bagaço 47,58 26,08 1,63 16/1 1,32 0,86 Mandioca: folhas 91,64 52,20 4,35 12/1 0,72 ne Mucuna preta: ramas 90,68 49,28 2,24 22/1 0,58 2,79 Mucuna preta: sementes 95,34 54,18 3,87 14/1 1,05 1,45 Penas de galinha 88,20 54,20 13,55 4/1 0,50 0,30 Rami: resíduos 60,64 35,26 3,20 11/1 3,68 4,02 Resíduos de cerveja 95,80 53,04 4,42 12/1 0,57 0,10 Serrapilheira 30,68 16,32 0,96 17/1 0,08 0,19 Materiais MO% C% N% C/N P2O5% K2O% Sisal: polpa 67,38 64,35 5,85 11/1 0,49 0,43 Sangue seco 84,96 47,20 11,80 4/1 1,20 0,70 Torta de algodão 92,40 51,12 5,68 9/1 2,11 1,33 Torta de amendoim 95,24 53,55 7,65 7/1 1,71 1,21 Torta de linhaça 94,85 50,94 5,66 9/1 1,72 1,38 Torta de mamona 92,20 54,40 5,44 10/1 1,91 1,54 Torta de soja 78,40 45,92 6,56 7/1 0,54 1,54 Torta de usina de cana- de-açúcar 78,78 43,80 2,19 20/1 2,32 1,23 ne= não encontrado; MO= matéria orgânica; C= carbono; N= nitrogênio; C/N: relação C/N; P2O5= teor de fósforo; K2O= teor de potássio do material seco, em massa. Fonte: Paschoal, A.D. (1994) Tabela 9 – Composição Média de Materiais Ricos em Carbono Materiais MO% C% N% C/N P2O5% K2O% Abacaxi: fibras 71,41 39,60 0,90 44/1 ne 0,46 31 Arroz: casca 54,55 30,42 0,78 39/1 0,58 0,49 Arroz: palhas 54,34 30,42 0,78 39/1 0,58 0,41 Aveia: casca 85,00 47,25 0,75 63/1 0,15 0,53 Aveia: palha 85,00 47,52 0,66 72/1 0,33 0,91 Algodão: resíduos de sementes 96,14 53,00 1,06 50/1 0,23 0,83 Banana: talo e cacho 85,28 46,97 0,77 61/1 0,15 7,36 Bagaço de cana 96,14 39,59 1,07 37/1 0,25 0,94 Cacau: casca dos frutos 85,28 48,64 1,28 38/1 0,41 2,54 Café: cascas 71,44 30,04 0,86 53/1 0,17 2,07 Café: palha 88,68 51,73 0,62 83/1 0,26 1,96 Capim gordura 82,20 51,03 0,63 81/1 0,17 ne Capim guiné 93,13 49,17 1,49 33/1 0,34 ne Capim jaraguá 92,38 50,56 0,79 64/1 0,27 ne Capim cidreira 88,75 58,84 0,82 62/1 0,27 ne Capim milhã roxo 90,51 50,40 1,40 36/1 0,32 ne Materiais MO% C% N% C/N P2O5% K2O% Capim mimoso 91,52 52,14 0,66 79/1 0,26 ne Capim pé de galinha 91,60 47,97 1,17 41/1 0,51 ne Capim rhodes 93,60 50,32 1,36 37/1 0,63 ne Cássia negra: cascas 86,99 53,20 1,40 38/1 0,10 Ne Castanha: cascas 89,48 54,76 0,74 74/1 0,24 0,64 Centeio: cascas 96,24 46,92 0,68 69/1 0,66 0,61 Centeio: palhas 98,04 47,00 0,47 100/1 0,29 1,01 Cevada: cascas 85,00 47,60 0,56 85/1 0,28 1,09 Cevada: palhas 85,00 47,25 0,75 63/1 0,22 1,26 Esterco de ovinos 82,94 46,08 1,44 32/1 0,74 1,65 Esterco de bovinos 96,19 53,44 1,67 32/1 0,68 2,11 Feijoeiro: palhas 94,68 52,16 1,63 32/1 0,29 1,94 Grama batatais 90,80 50,04 1,39 36/1 0,36 ne Grama sêda 90,55 50,22 1,62 31/1 0,67 ne Lenheiro: resíduos 39,92 20,50 0,75 30/1 0,60 0,42 Mamona: cápsulas 94,60 62,54 1,18 53/1 0,30 1,81 Mandioca: cascas e raízes 58,94 32,64 0,34 96/1 0,30 0,44 32 Mandioca: ramas 95,26 52,40 1,31 40/1 0,35 ne Mandioca: cascas 96,07 53,50 0,50 107/1 0,26 1,27 Milho: palhas 96,75 53,76 0,48 112/1 0,38 1,64 Milho: sabugos 45,20 52,52 0,52 101/1 0,19 0,90 Samambaia 95,90 53,41 0,49 109/1 0,04 0,19 Serragem de madeira 93,45 51,90 0,06 865/1 0,01 0,01 Trigo: cascas 85,00 47,60 0,85 56/1 0,47 0,99 Trigo:palhas 92,40 51,10 0,73 70/1 0,07 1,28 Tungue: cascas de sementes 85,17 47,36 0,74 64/1 0,17 7,36 ne= não encontrado; MO= matéria orgânica; C= carbono; N= nitrogênio; C/N: relação C/N;P2O5= teor de fósforo; K2O= teor de potássio do material seco, em massa. Fonte: Paschoal, A.D. (1994) 8.0 Produção de Húmus de Minhoca (Vermicompostagem) A minhocultura, ou seja, o cultivo de espécies de minhocas em cativeiro, é uma atividade zootécnica que tem como processo básico a vermicompostagem. Esse processo consiste na transformação dos resíduos orgânicos em uma forma mais estabilizada da matéria orgânica, resultante da ação das minhocas e da microflora que vive em seu trato digestivo. Através da criação de minhocas obtêm-se 2 produtos finais: a minhoca e o vermicomposto, conhecido comercialmente como húmus. A fonte de matéria-prima para a criação de minhocas.constitui-se em todo esterco animal proveniente de criações de bovinos, equinos, caprinos, suínos e ovinos. No entanto, observa-se que o esterco bovino devido a facilidade de ser obtido, vem se constituindo na principal fonte de matéria-prima entre os criadores. É necessário que toda matéria-prima utilizada na preparação do substrato, passe por um processo de fermentação ou compostagem. 33 A maioria dos produtores de vermicomposto utiliza a espécie Eisenia foetida, conhecida vulgarmente como minhoca vermelha da Califórnia ou minhoca do esterco. Essa preferência se deve à habilidade de converter os resíduos orgânicos pouco decompostos em material estabilizado, à sua extraordinária proliferação e ao seu rápido crescimento. 8.1 O Minhocário O local escolhido para implantação do minhocário deve preencher alguns requisitos básicos: A) Água: deve existir um abundância e ser de boa qualidade. Ela é utilizada para regar os canteiros e o material em compostagem B) Localização: o local deve ser de fácil acesso, para facilitar o abastecimento com matéria-prima, e depois o escoamento do vermicomposto para a lavoura. No caso de aplicação na produção de mudas de café, é interessante que o minhocário esteja bem próximo ao viveiro, como no exemplo da FazendaCachoeira. C) Declividade: o terreno deverá ter uma pequena declividade (2%), facilitando o escoamento da água da chuva. Os canteiros devem ter as seguintes características: A) Dimensões: adota-se como padrão, canteiros de 1,0 metro de largura, 0,30 a 0,50 metros de altura (dimensões internas) e comprimento variável, de acordo com o dimensionamento da criação. B) Tipos: as paredes podem ser construídas com bambu, tijolos, madeira, placas de cimento e outros materiais que estejam disponíveis. 34 C) Piso: o fundo pode ser cimentado ou terra batida. Nos canteiros cimentados, a superfície interna deve ter declividade de 2%, indo a água acumular-se no local mais baixo, escoando por drenos colocados na parede. 8.2 Manejo do Minhocário Antes de ir para o canteiro, a matéria-prima deve passar pelo processo de compostagem. No caso de fazendas onde seja desenvolvida atividade pecuária, tendo-se, portanto, grande disponibilidade de esterco bovino, este pode ser somente curtido e oferecido às minhocas, não sendo necessária a compostagem. Para tanto faz-se uma camada de 20 a 30 cm de altura, procede-se o umedecimento assim como é feito na compostagem e faz-se o reviramento a cada 2 ou 3 dias, mantendo sempre a umidade. Em torno de 15 dias o esterco estará curtido e poderá ser fornecido às minhocas. É importante que ele não mais aqueça (fermente). A colocação das matrizes segue os seguintes passos: A)Para iniciantes: o inóculo de 1 a 2 litros de minhocas/ m2 de canteiro é suficiente. Elas logo se multiplicam, de modo que após 45-60 dias sua população deve ter duplicado. b) Criações comerciais: tendo em vista um dos dois produtos finais como principal: b.1) Minhoca: faz-se um inóculo de 1 a 2 litros/m2 e obtêm-se após 45-60 dias o dobro da população inicial. b.2) Vermicomposto: faz-se o inóculo de 4 a 5 litros/m2 e obtêm-se após 20-30 dias o material processado e praticamente a mesma quantidade de minhocas. O inóculo deve ser feito preferencialmente de manhã, de modo que as minhocas tenham o dia inteiro para se adaptar ao 35 canteiro até que chegue a noite, momento em que pode ocorrer fugas. A cobertura de palha seca (camada de 10-30cm) é essencial a atividade da vermicompostagem. Esta cobertura tem a função de evitar a ação predatória de pássaros, o impacto das gotas de chuva, o ressecamento rápido do composto e a incidência direta da luz solar sobre o cimento. Pode também ser usada uma cobertura em meia ou duas águas, feita com estrutura de ferro ou madeira e sapé ou plástico, que evita o excesso de água da chuva nos canteiros. O manejo diário do minhocário segue a seguinte rotina: • Temperatura: as minhocas toleram temperaturas que variam de 16 a 24o C aproximadamente. A manutenção é feita através de irrigação e da cobertura morta. O aquecimento excessivo do material pode acontecer caso o processo de compostagem não tenha sido eficiente. Portanto, as minhocas, somente devem ser colocadas em substrato que não sofra mais fermentação, pois o aquecimento pode causar a sua morte ou induzir a fuga. • Umidade: a umidade ideal varia entre 75 a 80%. Um método prático para a avaliação, consiste em se tomar uma pequena porção do material usado para encher o canteiro e espremê-lo com uma das mãos: vertendo algumas gotas entre os dedos, a umidade é a ideal; ocorrendo escorrimento abundante, é desnecessária a irrigação. Caso o canteiro esteja com excesso de água, deve-se retirar a cobertura de palha seca e proceder o reviramento do material para que ocorra evaporação da água excedente e arejamento do substrato. • Luminosidade: a luz é prejudicial às minhocas e é evitada através da cobertura de palha seca. 36 • Predadores: galinhas, porcos, rãs, sapos e ratos são predadores vorazes, não devendo deixá-los aproximarem- se dos canteiros. O ataque de pássaros é evitado colocando-se a cobertura morta sobre os canteiros. As formigas lava-pé também são bastante problemáticas. A forma de evitá-las é limpando bem o terreno onde serão contruídos os canteiros, exterminando todos os formigueiros encontrados. Se mesmo assim, existem ninhos construídos dentro do canteiro, a área do ninho deve ser retirada. Iscas com produtos químicos não devem ser utilizadas, pois podem também matar as minhocas. Sanguessugas podem também ser encontradas. Se elas existirem no local dos canteiros, podemos evitá-las colocando uma fina camada de calcário no fundo do canteiro, antes de proceder o seu enchimento. 8.3 Retirada do Húmus A colheita pode ser manual, mecânica ou migratória. A umidade deve ser tal, que o húmus não esteja muito úmido a ponto de dificultar a separação húmus-minhoca, nem muito seco, a ponto de se perder húmus pelo vento. Isto ocorre geralmente a 40%. a) Colheita Manual: as minhocas são coletadas no canteiro através de catação ou do uso de peneiras ou ainda através de iscas colocadas sobre o canteiro.O método de iscas baseia-se no fato de que, quando as minhocas transformam todo o composto ou esterco curtido em húmus, elas migram à procura de novo alimento. Nesse momento, devemos montar as “iscas”, ou seja, esterco curtido ou composto novo sobre o canteiro. Essas podem ser feitas distribuindo-se sacos de estopa cheios do substrato novo sobre o canteiro, a cada 2 ou 3 metros, ou simplesmente distribuindo-se uma camada de 5 a 10 cm diretamente sobre o canteiro. 37 b) Colheita Mecânica: é realizada através de peneiras giratórias, onde o húmus atravessa a malha de peneira e as minhocas ficam retidas, saindo na extremidade do cilindro. c) Colheita Migratória: é feita através de canteiros duplos. A criação é feita em apenas um dos canteiros de cada vez. De 10 a 15 dias antes das minhocas transformarem todo esterco curtido ou composto em húmus completa-se o outro canteiro com novo substrato. À medida que o alimento para as minhocas for acabando elas migrarão para o outro canteiro em busca de novo alimento. O canteiro anexo funciona, na realidade, como uma “isca gigante”. 8.4 Aplicação do Húmus A aplicação do húmus de minhoca na cafeicultura é feita em cobertura, de preferência com ligeira incorporação ao solo, e, é claro, no plantio. As quantidades aplicadas variam de acordo com o tipo de solo, sendo aconselhável que um técnico lhe auxilie. Em geral, no entanto, são aconselhadas as seguintes quantidades: Plantio (g/cova) Cobertura 300-600 1 a 3Kg por pé, aumentando 30% todos os anos. A utilização de húmus de minhoca na formação de mudas de cafeeiro, já foi discutida no capítulo de Produção de mudas e Plantio. Ressaltamos que a utilização do húmus de minhoca (e dos fertilizantes orgânicos em geral) pelos produtores, tem se dado de forma empírica em relação as dosagens para as diferentes fases da cultura do café, carecendo de informações técnico-científicas. 9.0 Adubação Verde 38 Na atualidade pode-se conceituar a adubação verde como a utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas, incorporando-as ao solo ou deixando-as na superfície, visando-se à proteção superficial, bem como a manutenção e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo, inclusive a profundidades significativas. O conceito atual sobre a adubação verde está associada a quatro pontos básicos: 1) cobertura e proteção do solo; 2) manutenção e/ou melhoria das condições físicas, químicas e biológicas no solo; 3) aração biológica e introdução de microvida em profundidade no solo; 4) uso eventual da fitomassa produzida na alimentação animal ou em outras finalidades. Uma prática cada vez mais importante para a cafeicultura orgânica é a adubação verde. Esta prática prevê a introdução de espécies vegetais, nas ruas do cafezal, que serão cortadas antes que completem seu ciclo vegetativo, e deixadas sobre o solo ou incorporadas levemente ao solo. Destacam-se entre as plantas utilizadas, as leguminosas,porque fixam nitrogênio do ar, e oferecem matéria orgânica ao solo, mas as gramíneas também podem ser usadas com outros objetivos. A escolha das espécies de plantas depende de suas características e das condições edafoclimáticas locais. Para se definir a quantidade de linhas a ser plantada, deve-se levar em conta não apenas o espaçamento da lavoura cafeeira, mas também a agressividade da espécie de adubo verde escolhido. Destacam-se entre as espécies de leguminosas mais usadas: mucuna, guandu, puerária, feijão de corda, tremoço e a ervilhaca. Entre as espécies de plantas usadas em adubação verde que não pertencem a família das leguminosas, destacam-se: nabo- forrageiro, aveia preta, milheto e mamona. 39 Quantidade de nutriente por 100 Kg de matéria seca. Espécie N P K Ca Mg C Cu * Zn * Crotalária 2,17 0,09 1,59 0,43 0,37 50,8 8 23 Feijão de porco 3,19 0,15 5,62 1,35 0,63 50,1 9 62 Girassol 1,61 0,15 3,35 0,31 0,93 40,5 44 11 Guandu 2,61 0,14 2,61 1,79 0,45 56,3 7 22 Mucuna preta 2,49 0,13 1,40 1,17 0,27 52,2 14 29 Aveia preta 1,65 0,10 1,60 0,25 0,17 59,8 11 7 Centeio 1,22 0,07 1,40 0,18 0,14 44,6 15 6 Ervilhaca 2,02 0,13 2,10 0,86 0,27 37,6 24 9 Nabo forr. 2,96 0,19 3,90 1,51 0,54 43,1 53 7 *ppm Quantidade de nutriente em Kg/ha. Espécie Quant. de mat. seca (Kg/ha) N P K Ca Mg C Girassol 5540 89 8,3 186 17,2 51,3 2244 Aveia preta 8670 143 8,7 139 21,7 14,7 5185 Centeio 4780 58 3,4 67 8,6 6,7 2132 Ervilhaca 3170 64 4,1 67 27,3 8,6 1192 Nabo forr. 6510 192 12,4 254 98,3 35,6 2806 9.1 Procedimentos para plantio dos adubos verdes: a) Inocular as sementes das leguminosas com estirpes específicas de bactérias fixadoras de nitrogênio. A ocorrência de nódulos destacáveis com facilidade, de cor rosada, indica atividade 40 da associação simbiótica entre bactérias e as leguminosas e a consequente fixação de nitrogênio. A inoculação , ou seja, forma de colocar a bactéria junto as sementes das leguminosas pode ser simples ou com revestimento das sementes. Na inoculação simples usamos 100 ml de água mais 100 gramas de inoculantes misturados em uma pasta homogênea. Esta pasta é misturada as sementes que são espalhadas sobre uma superfície plástica ou de cimento e secas a sombra. Sementes inoculadas desta forma deverão ser semeadas no máximo até o dia seguinte. Caso contrário deverão ser reinoculadas. Na inoculação com revestimento das sementes há um aumento na sobrevivência do rizóbio protegendo a planta e a bactéria. Para este revestimento usa-se goma arábica ou gomas caseiras preparadas com polvilho de araruta, mandioca ou farinha de trigo. Junta-se a goma ao inoculante até formar uma pasta, em seguida mistura-se a semente fazendo-se boa homogeneização. As sementes em superfície de plástico ou cimento, podem ser armazenadas durante uma semana em local fresco, arejado e sombreado. O inoculante hoje em dia é comercializado no mercado de insumos. Material usado na inoculação e revestimento das sementes Leguminosas Goma arábica (40% ) I noculante (g) Semente (kg) Sementes grandes 300 100 25 Sementes médias 500 100 8 41 Sementes pequenas 500 100 5 b) Após o preparo do solo, a semeadura pode ser feita a lanço seguida de incorporação superficial com uma gradagem; c) A melhor época de incorporação é durante o florescimento, onde a energia fotoassimilada está voltada para a parte aérea. Esta incoporação deve ser feita de preferência deitando e cortando o material ao solo com o rolo faca ou grade. 10.0 Manejo do Mato Na agricultura orgânica, as ervas que podem concorrer e afetar os cultivos são consideradas invasoras, e não daninhas, porque contribuem para a cobertura e proteção do solo, reciclagem de nutrientes, melhoria do solo pelo aumento do nível de matéria orgânica, rompimento de camadas campactadas e outros benefícos. O controle das invasoras pode ser realizado por: a) Uso de sementes isentas de sementes de invasoras; b) Práticas mecânicas como aração, gradagem, cultivos, roçadas, mondas e capinas manuais, em momentos adequados; c) Uso de plantas alelopáticas, adub. Verde, cobertuta morta, cobertura viva, rotação e consorciação de culturas. d) Uso de cobertura inerte (plástico) que não cause contaminação ou poluição. No quadro abaixo (Fonte: adaptado de Plantas Indicadoras Livro Verde. CEPAGRI, 1997) podemos notar, como as invasoras podem nos ajudar no manejo do solo e nutrição das plantas: 42 43 12.0 Controle de Pragas e Doenças Existem alguns produtos naturais que podem ser preparados na própria fazenda. Entre os produtos mais utilizadas destacamos: o extrato de pimenta e alho e a calda bordalesa, que fazem parte do receituário orgânico. Abaixo são apresentadas as receitas básicas: 12.1 Extrato de Pimenta e Alho: 44 INGREDIENTES QUANTIDADE Pimenta-do-reino moída 100 g Álcool 1 litro Sabão neutro 25 g Preparo: • Adicionar 100g de pimenta-do-reino a 1 litro de álcool em vidro ou garrafa, com tampa. Deixar em repouso por uma semana; • Dissolver 25g de sabão neutro em 1 litro de água quente; Modo de Usar: Na hora de usar, pegar um copo de extrato de pimenta-do- reino, a solução de sabão, diluir em 10 litros, agitar a mistura e pulverizar. Recomendações: Recomenda-se o uso desta calda, principalmente, para as lagartas, pulgões, tripes e cigarrinhas das solanáceas (batata- inglesa, jiló, beringela, pimentão e tomate), mas também para as de flores, hortaliças, frutíferas, grãos e cereais. No caso do café, se presta muito bem como repelente do bicho mineiro. Para melhorar o efeito de proteção desta calda contra insetos pode-se adicionar o extrato alcoólico de alho a calda antes da pulverização, sendo recomendada, principalmente para a cultura do tomateiro. • Triturar 100g de alho e juntar a 1 litro de álcool em vidro ou garrafa, com tampa. Deixar em repouso por uma semana. Na hora de usar, pegar um copo de extrato de pimenta-do-reino, 1/2 45 copo de extrato de alho, a solução de sabão, diluir em 10 litros, agitar a mistura e pulverizar. Para o caso das duas receitas, antes de usá-las deve-se observar se estão ocorrendo inimigos naturais das pragas nas culturas e se estes, sozinhos não estão sendo eficientes no controle. Fonte: Paiva, 1995. 12.2 Calda Bordaleza 1) colocar 100 gramas de sulfato de cobre em um saco de pano pequeno 2) mergulhar o saco contendo o sulfato de cobre em cinco litros de água quente, deixando-se de molho por 24 horas. 3) dissolver 100 gramas de cal virgem de boa qualidade em cinco litros de água, que devem ser despejadas sobre o produto 4) despejar a solução de sulfato de cobre sobre a solução de cal, misturando bem com um bastão 5) coar a mistura e despejar no pulverizador para a aplicação A calda bordaleza é um fungicida cujo uso é permitido na agricultura orgânica porque o sulfato de cobre é um produto pouco tóxico que contribui para melhorar o equilíbrio nutricional das plantas. (Fonte: Gonzaga, 1994) 11.3 Extrato de NIM (Azadirachta indica) INGREDIENTES QUANTIDADE Sementes secas e moídas de NIM 5 Kg Água 5 litros 46 Sabão 10 g Colocar os 5 quilos de sementes de NIM moídas em um saoco de pano, amarrar e colocar em 5 litros de água. Depois de 12 horas, espremer e dissolver 10 gramas de sabão neste extrato. Misturar bem e acrescentar água para obter 500 litros de preparado. Aplicar sobre as plantas infestadas, imediatamente após preparar. Indicação: Inseticida de amplo espectro, atualmente mais de 418 espécies de pragas e insetos que ocorrem em vários países são afetados pelos extratos de Nim: Mosca branca (Bemisia tabaci), pulgões (Aphis gossypii), baratas, traça do amendoim (Corcyra cephalonica), Culex fatigans, Diabrotica undecimpunctata, Meloydogyne arenaria,M. javanica, M. incognita, Musca domestica, , tombamento (Rhizoctonia solani), etc. Fonte: Stoll (1989), Schmutterer (1995). 11.4 Controle de carrapato bovino (Araucária – Pinheiro do Paraná / Araucaria angustifolia) INGREDIENTES QUANTIDADE Folhas verdes de Araucária 200 gramas Sal mineral 5 Kg Picar as folhas verdes de Araucária e misturar ao sal mineral. Coloque em uma panela aberta e leve ao fogo. Mexer a mistura, até secar as folhas de Araucária. Retirar as folhas secas e colocar nos cochos para o gado. Os carrapatos cairão em 47 menos de 5 dias. Não provoca intoxicação ao gado e não deixa gosto no leite. Fonte: Técnicos da Estação Experimental de São Roque - IAC (1996) 12.0 Pesquisas atuais A crescente demanda por informações científicas a respeito de agricultura orgânica exige, atualmente que instituições de pesquisa desenvolvam trabalhos nesta área, visando estudar as novas técnicas de produção e comprovar a viabilidade das mesmas. Durante todo o século, o padrão convencional acumulou enorme conhecimento científico e tecnológico e, apesar de criticado por seu enfoque altamente específico, é inegável que seus avanços foram cruciais para garantir a segurança alimentar de alguns povos. No entanto, garantir a segurança alimentar de toda a população mundial e a conservação dos recursos naturais, como exige a noção de sustentabilidade, demandará um conhecimento que integre o saber específico da agronomia convencional com o conhecimento “sistêmico”, isto é, que permita integrar os diversos componentes de um agroecossistema; aspecto fundamental para a reorientação da pesquisa agropecuária. 13.0 Anexo: Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento A partir de maio de 1999, entrou em vigor a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Abastecimento que passou a valer como versão oficial da normatização da Agricultura Orgânica, no país. 48 NORMAS DISCIPLINADORAS PARA A PRODUÇÃO, TIPIFICAÇÃO, PROCESSAMENTO, ENVASE, DISTRIBUIÇÃO, IDENTIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE DE PRODUTOS ORGÂNICOS, SEJAM DE ORIGEM ANIMAL OU VEGETAL 1. Do conceito 1.1. Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária e industrial, todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e sócio-econômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados–OGM/transgênicos, ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação, visando: a) a oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente; b) a preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou transformado, em que se insere o sistema produtivo; c) a conservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, da água e do ar; e d) o fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos orgânicos, e o incentivo à regionalização da produção de produtos orgânicos para os mercados locais. 49 1.2. Considera-se produto da agricultura orgânica, seja “in natura” ou processado, todo aquele obtido em sistema orgânico de produção agropecuária e industrial. O conceito de sistema orgânico de produção agropecuária e industrial abrange os denominados ecológico, biodinâmico, natural, sustentável, regenerativo, biológico, agroecológico e permacultura. Para efeito desta Instrução considera-se produtor orgânico, tanto o produtor de matérias-primas como o processador das mesmas. 2. Das Normas de produção orgânica Considera-se unidade de produção, a propriedade rural que esteja sob sistema orgânico de produção. Quando a propriedade inteira não for convertida para a produção orgânica, a certificadora deverá assegurar-se de que a produção convencional está devidamente separada e passível de inspeção. 2.1. Da conversão Para que um produto receba a denominação de orgânico, deverá ser proveniente de um sistema onde tenham sido aplicadas as bases estabelecidas na presente Instrução, por um período variável de acordo com a utilização anterior da unidade de produção e a situação ecológica atual, mediante as análises e a avaliação das respectivas instituições certificadoras ( Anexo I). 2.2. Das máquinas e dos equipamentos: As máquinas e os equipamentos usados na unidade de produção não podem conter resíduos contaminantes, dando-se prioridade ao uso exclusivo à produção orgânica. 2.3. Sobre os produtos de origem vegetal e os recursos naturais (plantas, solos e água): 50 Tanto a fertilidade como a atividade biológica do solo e a qualidade das águas, deverão ser mantidas e incrementadas mediante, entre outras, as seguintes condutas: a) proteção ambiental; b) manutenção e preservação de nascentes e mananciais hídricos; c) respeito e proteção à biodiversidade; d) sucessão animal-vegetal; e) rotação e/ou associação de culturas; f) cultivo mínimo; g) sustentabilidade e incremento da matéria orgânica no solo; h) manejo da matéria orgânica; i) utilização de quebra-ventos; j) sistemas agroflorestais; e k) manejo ecológico das pastagens. 2.3.1.O manejo de pragas, doenças e de plantas invasoras deverá se realizar mediante a adoção de uma ou várias condutas, de acordo com os Anexos II e III, desta Instrução, que possibilitem: a) incremento da biodiversidade no sistema produtivo; b) seleção de espécies, variedades e cultivares resistentes; c) emprego de cobertura vegetal, viva ou morta, no solo; d) meios mecânicos de controle; e) rotação de culturas; f) alelopatia; g) controle biológico (excetuando-se OGM/transgênicos); h) integração animal-vegetal; e i) outras medidas mencionadas nos Anexos II e III, da presente Instrução . 2.3.1.1. É vedado o uso de agrotóxico sintético, seja para combate ou prevenção, inclusive, na armazenagem. 51 2.3.1.2. A utilização de medida não orgânica para garantir a produção ou a armazenagem, desqualifica o produto para efeito de certificação, de acordo com o subitem 2.1, da presente Instrução. 2.3.2 As sementes e as mudas deverão ser oriundas de sistemas orgânicos. 2.3.2.1. Não existindo no mercado sementes oriundas de sistemas orgânicos adequadas a determinada situação ecológica específica, o produtor poderá lançar mão de produtos existentes no mercado, desde que avaliadas pela instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos geneticamente modificados(OGM/transgênicos). 2.3.2.2. Para culturas perenes, não havendo disponibilidade de mudas orgânicas, estas poderão ser oriundas de sistemas convencionais, desde que avaliadas pela instituição certificadora, excluindo-se todos os organismos geneticamente modificados/transgênicos e de cultura de tecido vegetal, quando as técnicas empregadas conduzam a modificações genéticas ou induzam à variantes soma-clonais. 2.3.3. Os produtos oriundos de atividades extrativistas só serão certificados como orgânicos, caso o processo de extração não comprometa o ecossistema e a sustentabilidade do recurso explorado. 2.4. Produtos de origem animal Os produtos orgânicos de origem animal devem provir de unidades de produção, prioritariamente auto-suficientes quanto à geração de alimentos para os animais em processo integrado com a produção vegetal, conforme o Anexo IV, da presente Instrução. Para a efetivação da sustentabilidade, esses sistemas devem obedecer os seguintes requisitos: a) respeitar o bem-estar animal; 52 b) manter um nível higiênico emtodo o processo criatório, compatível com as normas de saúde pública vigentes; c) adotar técnicas sanitárias preventivas sem o emprego de produtos proibidos; d) contemplar uma alimentação nutritiva, sadia e farta, incluindo-se a água, sem a presença de aditivos químicos e/ou estimulantes, conforme o Anexo IV, da presente Instrução; e) dispor de instalações higiênicas, funcionais e confortáveis; f) praticar um manejo capaz de maximizar uma produção de alta qualidade biológica e econômica; e g)utilizar raças, cruzamentos e o melhoramento genético (não OGM/transgênicos), compatíveis tanto com as condições ambientais e como estímulo à biodiversidade. 2.4.1. Entende-se por bem estar animal, permanecer o mesmo livre de dor, de sofrimento, angústia e viver em um ambiente em que possa expressar proximidade com o comportamento de seu habitat original: movimentação, territoriedade, vadiagem, descanso e ritual reprodutivo. 2.4.2. Os insumos permitidos e proibidos na alimentação animal estão especificados no Anexo IV, da presente Instrução. 2.4.3. O transporte, pré-abate e o abate dos animais devem seguir princípios humanitários e de bem estar animal, assegurando a qualidade sanitária da carcaça. 2.4.4. Excepcionalmente, para garantir a saúde ou quando houver risco de vida de animais, na inexistência de substituto permitido, poder-se-ão usar medicamentos convencionais. 2.4.4.1. É obrigatório comunicar à certificadora o uso desses medicamentos, bem como registrar a sua administração que deve respeitar o que estabelece o subitem 2.4.4., desta Instrução. O período de carência estipulado pela bula do produto a ser cumprido, 53 deverá ser multiplicado pelo fator três, podendo ainda ser ampliado de acordo com a instituição certificadora. 2.4.4.2. São permitidas todas as vacinas previstas por Lei. 2.4.5 . Preferencialmente, a aquisição dos animais deve ser feita em criações orgânicas. 2.4.5.1.No caso de aquisição de animais de propriedades convencionais, estes devem prioritariamente ser incorporados à unidade produtora orgânica, com a idade mínima em que possam ser recriados sem a presença materna. 2.4.5.2.Os animais adquiridos em criações convencionais devem passar por quarentena tradicional, ou outra a ser definida pela certificadora. 3. Do processamento Processamento é o conjunto de técnicas de transformação, conservação e envase de produtos de origem animal e/ou vegetal. 3.1. Somente será permitido o uso de aditivos, coadjuvantes de fabricação e outros produtos de efeito brando (não OGM/transgênicos), conforme mencionado Anexo V da presente Instrução, e quando autorizados e mencionados nos rótulos das embalagens. 3.2. As máquinas e os equipamentos utilizados no processamento dos produtos orgânicos deverão estar comprovadamente limpos de resíduos contaminantes, conforme estabelece os termos desta Instrução e seus anexos. 3.3. Em todos os casos, a higiene no processamento dos produtos orgânicos será fator decisivo para o reconhecimento de sua qualidade. Para efeito de certificação, as unidades de 54 processamento devem cumprir, também, as exigências contidas nesta Instrução e nas legislações vigentes específicas. 3.3.1. A higienização das instalações e dos equipamentos deverá ser feita com produtos biodegradáveis, e caso esses produtos não estejam disponíveis no mercado, deverá ser consultada a certificadora. 3.4. Para o envase de produtos orgânicos, deverão ser priorizadas embalagens produzidas com materiais comprovadamente biodegradáveis e/ou recicláveis. 3.5. Poderá ser certificado como produto processado orgânico, aquele cujo componente principal seja de origem orgânica. 3.5.1.Os aditivos e os coadjuvantes de fabricação de origem não orgânica, serão permitidos em percentuais a serem definidos pelas certificadoras e pelo Órgão Colegiado Nacional, conforme estabelece o Anexo V, da presente Instrução. 3.5.2. É obrigatório explicitar no rótulo do produto, os tipos e as quantidades de aditivos, os coadjuvantes de fabricação e outros produtos de origem não orgânica nele contidos, sempre de acordo com o subitem 3.1, da presente Instrução. 3.5.3. Os ingredientes de origem não orgânica serão permitidos em percentuais definidos no Anexo VII, da presente Instrução. 4. Da armazenagem e do transporte Os produtos orgânicos devem ser identificados e mantidos em local separado dos demais de origem desconhecida, de modo a evitar possíveis contaminações, seguindo o que prescreve o Anexo VI, da presente Instrução. 4.1. A higiene e as condições do ambiente de armazenagem e do transporte será fator necessário para a certificação de sua qualidade orgânica. 55 4.2. Todos os produtos orgânicos devem estar devidamente acondicionados. 5. Da identificação Além de atender as normas vigentes quanto às informações que devem constar nas embalagens, os produtos certificados deverão conter um “selo de qualidade” registrado no Órgão Colegiado Nacional, específico para cada certificadora, atendendo às condições previstas no Anexo VII da presente Instrução, além das contidas abaixo: a) será mencionado no rótulo a denominação "produto orgânico"; e b) o nome e o número de registro da certificadora junto ao Órgão Colegiado Nacional. No caso de produto a granel, o mesmo será acompanhado do certificado de qualidade orgânica. 6. Do controle da qualidade orgânica A certificação e o controle da qualidade orgânica serão realizados por instituições certificadoras credenciadas nacionalmente pelo Órgão Colegiado Nacional, devendo cada instituição certificadora manter o registro atualizado dos produtores e dos produtos que ficam sob suas responsabilidades. 7. Da responsabilidade Os produtores certificados assumem a responsabilidade pela qualidade orgânica de seus produtos e devem permitir o acesso da certificadora a todas as instalações, atividades e informações relativas ao seu processo produtivo. 7.1. À instituição certificadora cabe a responsabilidade pelo controle da qualidade orgânica dos produtos certificados, permitindo o acesso do Órgão Colegiado Estadual ou do Distrito Federal a todos 56 os atos, procedimentos e informações pertinentes ao processo de certificação. 8. Dos órgãos colegiados 8.1.O Órgão Colegiado Nacional será composto paritariamente por 5 (cinco) membros do Poder Público, titular e suplente e 5 (cinco) membros de Organizações Não-Governamentais, titular e suplente, que tenham reconhecida atuação junto à sociedade no âmbito da agricultura orgânica, de forma a respeitar a paridade de um representante por região geográfica, chegando a um total de até 10(dez) membros. 8.1.1. A escolha dos membros das organizações governamentais, será de responsabilidade exclusiva do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. 8.1.2. A escolha dos membros das organizações não- governamentais obedecerá sistemática própria dessas organizações. 8.2. Os Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal serão compostos paritariamente por 5 (cinco) membros do Poder Público, titular e suplente e 5 (cinco) membros de Organizações Não- Governamentais, titular e suplente, que tenham reconhecida atuação junto à sociedade no âmbito da agricultura orgânica, chegando a um total de até 10(dez) membros. 8.2.1. A escolha dos membros das organizações governamentais, nas Unidades Federativas, será de responsabilidade exclusiva das Delegacias Federais de Agricultura. 8.2.1.1. A escolha dos membros das organizações não- governamentais obedecerá sistemática própria dessas organizações. 57 8.3 . Cabe ao Órgão Colegiado Nacional fiscalizar as atividades dos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal, de acordo com as normas vigentes. 8.4.Cabe aos Órgãos Colegiados Estaduais e do Distrito Federal, fiscalizar as atividades das certificadoras locais. As que não cumprirem a legislação em vigor serão passíveis de sanções, de acordo com as normas vigentes. 8.5.Ao Órgão Colegiado
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