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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL Ariana Celis Alcantara 2 SUMÁRIO 1 SERVIÇO SOCIAL: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ............................................................. 3 2 SERVIÇO SOCIAL: DA CARIDADE À ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL ................................... 9 3 A FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS ASSISTENTES SOCIAIS NO BRASIL .............................. 18 4 O MOVIMENTO DE RUPTURA COM O SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL ...................... 25 5 O LEGADO DA RECONCEITUAÇÃO PARA O SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO .................. 28 6 A RELEVÂNCIA DAS TENDÊNCIAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O SERVIÇO SOCIAL............................................................................................................................. 37 3 1 SERVIÇO SOCIAL: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS O objeto de trabalho do ferreiro é o ferro, do oleiro o barro. Agora, você saberia dizer qual o objeto de trabalho do assistente social? Onde ou em que incide o trabalho do assistente social? Qual sua matéria prima? Nesse bloco vamos entender um pouco mais sobre a questão social e as expressões da questão social, sendo esta última o objeto de trabalho do Serviço Social. Também iremos entender a relação do capitalismo e a questão social. Vamos lá? 1.1 Surgimento do Capitalismo O capitalismo é um sistema de produção e reprodução da vida social cujo objetivo final é o lucro. Nesse sistema a produção é social, todavia seus lucros são privados, ou seja, diversas pessoas participam da elaboração de determinado bem, mas somente o(s) dono(s) do estabelecimento ficam com os lucros. Os capitalistas possuem os meios de produção (instrumentos, máquinas etc.) e o trabalhador vende sua força de trabalho, contudo o trabalhador não para de produzir quando atinge o valor correspondente a sua força de trabalho, materializado na forma de ordenado, ele continua trabalhando. A esse trabalho excedente, Marx chamou de mais-valia e desse trabalho a mais não pago que vem o lucro do capitalista. Nem sempre o sistema de produção da vida social foi dessa maneira. O sistema capitalista surge em meados do século XV com o declínio da sociedade feudal. O feudalismo vigorou no período da Idade Média (do século V ao XV) e o feudalismo teve início com as invasões germânicas (bárbaras), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente (Europa). A sociedade feudal era organizada em três castas: o clero, a nobreza e os camponeses. O poder nesse período era centralizado nas mãos dos senhores feudais (nobreza) e o trabalho era feito pelos servos (camponeses). O declínio do feudalismo ocorre entre o século XI e XV com as cruzadas. As cruzadas foram as expedições do clero (igreja) que pretendiam recuperar poder no Oriente. Essas cruzadas abriram diversas rotas entre a Europa e o Oriente, o que significou a abertura de rotas comerciais. Também houve a promessa de terras para quem estivesse nas cruzadas, com isso além do conhecimento adquirido nas cruzadas, os camponeses passaram a ter suas terras, formando as primeiras cidades medievais que foram chamadas de burgos e seus moradores de burgueses. O surgimento dos burgos aliado a guerra de 100 anos entre França e Inglaterra (1337- 1453), as epidemias da época e a fome colaboraram para a crise do sistema feudal e início do sistema capitalista. Esse lento processo durou do século XI até o século XV. Com a crise, diversos camponeses passaram a vender sua força de trabalho e produzir mercadorias. Inicialmente as mercadorias produzidas eram trocadas por outras mercadorias, depois o dinheiro foi inserido para facilitar o processo de troca, com o passar do tempo os 4 comerciantes começaram a comprar produtos e a revender por um preço mais caro. Esse período é chamado de capitalismo comercial (BARBOSA, 2014). De acordo com Tavares (apud BARBOSA, 2014), nesse período a produção da mercadoria dependia totalmente do artesão, desde a idealização prévia ao tempo e ritmo de produção, o que a tornava pouca. Nesse sentido os burgueses fundaram um local único de trabalho que reunia vários artesãos e as etapas de produção foram divididas, trazendo dinamismo e aumento da produção, porém aumentando os custos, já que precisava reunir vários artesãos. Com o advento da indústria e da Revolução Industrial as máquinas que passam a ditar a quantidade necessária de trabalhadores. Nesta época, houve a migração do campo para a cidade e com o surgimento das cidades industriais que, por consequência do grande acúmulo de pessoas na zona urbana, acarretou inúmeros problemas sociais, como violência, miséria, fome, graves doenças e outros agravantes. Foi nesse tocante que apareceram os primeiros assistentes sociais, denominados agentes sociais (BARBOSA, 2014). O capitalismo, por sua vez, percorreu as fases comercial ou mercantil (século XV ao XVIII), concorrencial ou industrial (século XVIII a XIX), monopolista e financeiro (século XX a atual). 1.2 Capitalismo e desigualdade social A desigualdade social é inerente ao modo de produção capitalista, todavia há diferentes formas de pensar em enfrentamentos. No artigo a seguir, Alcoforado (2016) desenvolve o pensamento de Karl Marx e de Thomas Piketty. Disponível em: <https://goo.gl/fRRVw2>. 1.3 Dimensões do capitalismo e particularidades brasileiras Muita gente se pergunta por que o desenvolvimento do capitalismo no Brasil é diferente de países como os Estados Unidos, França, Suécia. Outros países parecem que conseguem extrair benefícios a mais do que no Brasil, onde além do problema da pobreza, também temos uma das piores desigualdades econômicas do mundo. Para entender melhor essa situação, Sabrina Fernandes fala um pouco sobre o capitalismo dependente, que é uma forma de enxergar a situação de subdesenvolvimento no Brasil. Vários autores tratam do assunto, mas Sabrina aborda a visão do sociólogo Florestan Fernandes. A forma como uma sociedade se organiza, se divide, e como isso se relaciona a estruturas de poder é algo que na sociologia chamamos de estratificação social. Vários autores da sociologia clássica olhavam pra esse problema, não só Marx. Estratificação social: a forma de classificar dos indivíduos e grupos sociais com base em dados e condições socioeconômicas comuns e suas relações de poder. 5 A estratificação social no Brasil é evidente e intensa, reflete numa desigualdade de renda, de bens, racial, de gênero, e também política, no sentido de quem participa do poder político e de quem é dominado. Essa estratificação é de classes, o que é diferente de um sistema de castas, como já existiu na Índia no passado formalmente, ou um sistema de estamentos, que era comum sob o feudalismo. Fazemos várias distinções sobre esses sistemas, o sistema de classes é um sistema com maior mobilidade vertical. Tanto castas quanto estamentos são sistemas verticais, com hierarquia vertical. Tem grupos dominantes e grupos dominados. O sistema de classes, sob o capitalismo, também é sistema vertical com classe dominante e classes dominadas. Só que nos primeiros a mobilidade é nula ou quase nula. No de classes isso é diferente, você pode nascer pobre e morrer rico e nascer rico e morrer pobre. Por mais que existam valores culturais e sociais atrelados a muito preconceito de classe, a estrutura em si não impede uma pessoa pobre de casar com uma rica, ou de crescer na vida ou de perder tudo. O sistema de classes tem muita mobilidade vertical em teoria, frisa-se em teoria. Se nos basearmos só nessa informação, pode-se acabar acreditando que basta se esforçar muito que você vai subir a escadinha da mobilidade vertical, porém não é bem assim, pois a desigualdade não vai acabar, porque ela é parte desse sistema. A desigualdade e a pobreza não são entidades separadas, especialmente em setores que para produzir muito lucro e, digamos, pra crescer na vida, tem que explorartanta mão de obra a ponto de deixar os explorados só a ponto de subsistência. No Brasil temos o que Florestan chama de capitalismo dependente, e sob o capitalismo dependente é necessário impor mais restrições a essa mobilidade para proteger a fragilidade da burguesia nacional diante das forças capitalistas de fora, como dessas potências dominantes que a gente chama de imperialistas. Em outros países, com o capitalismo mais desenvolvido, se consegue garantir um pouco mais de mobilidade, até para poder assegurar o consentimento das pessoas ao sistema. Um país com capitalismo bem desenvolvido e dominante consegue garantir um nível econômico com mais abertura pros seus cidadãos - e isso parece quase uma defesa dos méritos do capitalismo, mas não é bem assim. Esses países, que são uma minoria no nosso planeta, conseguem fazer isso em decorrência dessa posição no capitalismo global que faz com que seja às custas de outros países, outras classes trabalhadoras, aqueles que tem que se responsabilizar pela indústria mais barata, com mais extração de excedente econômico. De forma bem simples, há uma relação entre capitalismo dependente e o capitalismo do tipo imperialista. E costuma haver uma herança histórica também, como a manutenção do capitalismo de países que já foram colônias como capitalismo dependente. Ele pode até se desenvolver um pouco, mas ele se mantém subdesenvolvido. 6 Assim, Florestan vai dizer que a economia mundial capitalista se desenvolve de forma diferente em cada país, de forma desigual. Isso se dá pelas relações estabelecidas entre os países imperialistas e os países periféricos. Dessa forma, o capitalismo no Brasil é dependente e subdesenvolvido. Grande parte do excedente econômico é gerada pela exportação de produtos primários, e a organização da produção, nesse setor, dificilmente poderia evoluir para formas especificamente capitalistas, sem elevar os custos a níveis demasiado altos. Nessa situação, a classe dominante brasileira se garante em cima de deixar as coisas nessa situação de dependência. Ela não tem confiança na sua própria habilidade de competir com as potências capitalistas, então ela opta por se encaixar em uma divisão de mercado internacional com uma posição semiperiférica, focada em commodities, essas matérias primas, e uma manutenção relativa de uma economia de exportação e comercialização de excedente econômico que torna essa burguesia menos vulnerável internamente. Florestan fez essa análise no século passado, mas essa realidade não mudou muito. O Brasil continua muito dependente e a nossa economia de exportação é majoritariamente de exportação de commodities, recursos minerais, vegetais, agrícolas. Saiba mais com o vídeo “Capitalismo à brasileira” de Sabrina Fernandes. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=p9hbj8Z1Ttk>. 1.4 A questão social e suas manifestações no Brasil A questão social está fundamentada no conflito existente entre a relação capital x trabalho e tem sua gênese, segundo Iamamoto (1999), no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana — o trabalho –, das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. Ela expressa, portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais. Nesse sentido o processo de urbanização e industrialização no Brasil expos os conflitos entre os interesses e necessidades das diferentes classes sociais, evidenciando as diversas manifestações da questão social. Cabe lembrar que não existe uma nova questão social, ela sempre existiu, e tem seu cerne na contradição da relação capital x trabalho, todavia suas manifestações variam conforme o momento histórico. Assim temos uma questão social e diversas expressões, ou manifestações, da questão social. Atualmente a questão social passa por um processo de criminalização e de transferência de responsabilidade. Tanto evoca o passado em que a questão social era tratada como “caso de polícia”, como é tratada como objeto de ações filantrópicas e de benemerência. A mundialização do capital e os rebatimentos da reestruturação produtiva e das políticas neoliberais intensificaram as expressões da questão social no Brasil. O processo de acumulação produziu um exército de desempregados e de trabalhadores 7 precarizados. O ajuste neoliberal, com a política de corte de gastos em políticas sociais, também colabora para esse processo de aprofundamento das desigualdades sociais. E é nessa disputa por diferentes projetos societários, tendo as expressões da questão social como objeto de trabalho que o assistente social é chamado a atuar. 1.5 Questão social e serviço social Todo processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação, meios ou instrumentos de trabalho que potencializam a ação do sujeito sobre o objeto e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim que resulta em um produto (IAMAMOTO, 1999). Nesta perspectiva surge o seguinte questionamento, qual é o objeto de trabalho do Serviço Social? O Serviço Social tem nas manifestações da questão social seu objeto de trabalho e se institucionaliza enquanto profissão no momento em que o Estado passa a gerir o conflito de classe e chama os assistentes sociais para atuar nesse âmbito. Dessa forma é importante para o Serviço Social decifrar as mediações por meio das quais se expressa a questão social, tornando imprescindível apreender as várias expressões que assumem as desigualdades sociais, sua produção e reprodução ampliada. Apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de reinvenção da vida construída no cotidiano (IAMAMOTO, 1999). Para Iamamoto (1999), a capacidade profissional de criar respostas criativas está ligada a capacidade de leitura crítica da realidade social. A ausência de leitura crítica pode levar o profissional a práticas imediatistas, a verem a realidade como postos, sem poder modificá-la, de modo fatalista. Decorre em risco, também, a atitude messiânica, ou seja, aquela que coloca o assistente social como herói ou salvador. Para tanto é necessário competência para ser propositivo e negociar com as instituições seus projetos profissionais, uma vez que o assistente social dispõe de autonomia relativa no em seu trabalho. Segundo a autora, a pesquisa da realidade social é um recurso fundamental para a formulação de proposta de trabalho, mas para isso é necessário entender a gênese da questão social e as situações particulares e fenômenos singulares com os quais o Serviço Social se depara no campo do trabalho. Considerando a descentralização das políticas públicas, exige-se hoje um profissional com domínio das particularidades da questão social tanto no nível macro como no nível micro. Iamamoto (1999) considera que a questão social, que sendo, é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se repõem, podendo o Serviço Social colaborar para projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida. 8 REFERÊNCIAS ALCOFORADO, Fernando. O combate às desigualdades sociais no capitalismo: segundo Marx e Piketty. Fundação Astrogildo Pereira, 13 maio 2016. Disponível em: <https://goo.gl/fRRVw2>. Acesso em: 28 mar. 2019. BARBOSA, Daniela Alves de Lima (org.). Introdução ao Serviço Social. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. OLIVEIRA, Valdeir Claudinei (org.). Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço SociaI. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. 9 2 SERVIÇO SOCIAL: DA CARIDADE À ASSISTÊNCIA PROFISSIONAL Você faz Serviço Social porque gosta de ajudar as pessoas? A maioria dos estudantes de Serviço Social já se deparou com esse questionamento, masvocê saberia dizer porque as pessoas associam o Serviço Social com ajuda? A resposta está nas nossas origens. Das damas de caridades à assistentes sociais. Da mocinha boazinha à profissional do diagnóstico social. Como foi esse percurso? Nesse bloco vamos revisitar o passado, entender a nossa gênese, inclusive as influências mundiais, para então prosseguir na trilha da evolução do Serviço Social. Será que existem resquícios desse período? Vamos conferir. 2.1 A questão social e prática da assistência na primeira república O mercado de trabalho capitalista brasileiro formou-se a partir de longo processo de transição de colônia para república. O trabalhador passa a vender sua mão de obra, porém se sujeitando às imposições do capital. Surge então, a necessidade de controlar socialmente a exploração do trabalho. Assim, a compra e a venda da força de trabalho deixaram de ser uma negociação puramente mercantil e passaram a ser regulamentadas juridicamente pelo Estado (OLIVEIRA, 2014). Saiba mais sobre a Primeira República no Brasil com o artigo de Juliana Bezerra disponível em: <https://goo.gl/8tMQmU>. A parte mais importante da regulamentação foram as leis sociais. Segundo Oliveira (2014), podemos afirmar que elas se tornaram "'visíveis" em decorrência dos movimentos sociais iniciados com o intuito de lutar contra as condições de vida deploráveis do proletariado. Esses movimentos denunciaram para a sociedade brasileira a difícil realidade vivida pelos trabalhadores, e tinham como objetivo conquistar a cidadania social como classe. Os movimentos sociais refletiam as grandes transformações que ocorriam na sociedade, e as classes dominantes a Igreja e o Estado aqui — foram obrigadas a se posicionar quanto à questão social. Para o autor, a consolidação industrial gradual e os problemas enfrentados pela sociedade da época exigiam mudanças profundas nas formas que compunham o Estado. Mas não só isso: a situação exigia mudanças no relacionamento entre o Estado e as classes sociais. O momento histórico determina o surgimento das leis sociais, que colocam a questão social no centro das contradições vividas até ali. A questão social passa a ser vista sob outro prisma: o antagonismo entre burguesia e classe operária. Isso representou uma mudança de foco, que antes se detinha nas diferenças entre e ricos, exploradores e explorados etc. De certa forma, a questão social passou a se apoiar em dois pontos, especialmente nos grandes centros urbanos: o aumento do número de indivíduos proletários; e a conjunção de solidariedade política e ideológica, que serviria de base para um projeto em que a classe burguesa já não seria mais dominante. 10 A implementação do serviço social ocorreu durante esse processo histórico. Porém, sua base não está na coerção do Estado, ele se desenvolveu por haver uma demanda social; e surgiu por iniciativa particular de certos grupos, especialmente alguns ligados à Igreja. Ou seja: sua origem não era o proletariado, a quem o serviço seria prestado, mas, sim, das classes dominantes. Essa posição e as ações decorrentes dela foram determinadas a partir de um aprofundamento interno do capitalismo e do vínculo econômico ao mercado mundial. O Serviço Social no Brasil, assim como em outros países, surgiu como uma imposição. Inicialmente, não havia interesse por parte do proletariado em exigir sua criação ou seu desenvolvimento. Nesse aspecto, serviço social e leis sociais são muito diferentes. O primeiro foi concebido pelas classes dominantes, a segunda nada mais foi que o resultado da pressão da classe trabalhadora para obter o reconhecimento da própria cidadania (OLIVEIRA, 2014). A pressão exercida pelo operário, mesmo aquela não manifestada tão abertamente, serviu de impulso a concretização de políticas diferenciadas. São essas políticas as responsáveis por delinear (por meio da caridade e da repressão) o surgimento e a ação executada pelo serviço social. As condições de trabalho e de vida do operário das fábricas mostravam a ânsia do capitalismo pela mais-valia. Jornada extenuante de trabalho, trabalho de crianças e mulheres tão penoso quanto, todavia com salários menores que dos homens, condições precárias de moradia, baixíssimos salários. A luta do operário concentrou-se no modo (excessivo) como sua força de trabalho era explorada. Afinal, ela era seu único bem, ele dependia dela para sobreviver. Se resultado dessa luta fosse positivo, haveria outro benefício: toda a classe poderia participar mais ativamente da sociedade (OLIVEIRA, 2014). Saiba mais sobre a formação do operariado brasileiro no artigo de Leandro Carvalho. Disponível em: <https://goo.gl/j3VDxi>. O modo como esses movimentos se organizavam variava muito, a depender do estágio em que se encontravam. Havia, por exemplo, as associações de socorro mútuo e as caixas beneficentes que não possuíam vínculos organizações corporativas, até as ligas operárias. As ligas buscavam atender às necessidades que os operários de vários setores tinham em comum e mesmo com sua fragilidade levaram à criação de sindicatos e de resistência. Estes, sim, conseguiram direcionar seu trabalho às relações de produção. Esses sindicatos e sociedades reuniam os mais engajados na resistência operária. Logo os líderes desses movimentos passaram a ser perseguidos, presos ou deportados e as reivindicações do movimento operário passaram a incomodar, e a classe dominante viu a necessidade de reprimi-los. Segundo Oliveira (2014), suas principais reivindicações eram: defesa de melhores salários; jornadas de trabalho mais humanas; proibição do trabalho infantil; regulamentação do trabalho de menores e mulheres; direito a férias; contrato coletivo de trabalho; seguro contra doenças e acidentes; reconhecimento de suas entidades. Nas duas primeiras décadas do século XX, conforme o autor (2014), especialmente na primeira, foram realizadas muitas greves e manifestações. Houve alguns poucos 11 ganhos com legislações trabalhista, que foram relacionadas a acidentes de trabalho e com o seguro coletivo. Somente quando a legislação trabalhista passa a ser competência do Congresso Nacional, em 1926, o Estado passa atuar aprovando nos anos subsequentes leis relacionadas a férias, seguro em caso de doença, trabalho de mulheres e menores, dentre outras. Todavia havia diferenciação de aplicabilidade nos setores de agroexportação, dos setores industriais. O controle e a reprodução da força de trabalho urbana não eram prioridade para a Primeira República. Esta era controlada por uma parte da burguesia ligada à a força de trabalho urbana que disso, até aquele momento o movimento operário não tinha conseguido obter reconhecimento como de classe. A repressão policial foi o modo que o Estado da Primeira República encontrou para combater os movimentos sociais. Ele não conseguia atenuar as causas que impeliam movimentos, ou seja, as fracas políticas sociais que tentavam implementar não resolviam o problema. A burguesia não conhecia a questão operária, por isso apoiava a repressão, mas ao mesmo tempo, era a favor da caridade e da assistência social. Em época de eleições essa preocupação se mostrava maior, porém o verdadeiro objetivo era aumentar a possibilidade de votos e apoio político (OLIVEIRA, 2014). Conheça sobre o enfrentamento da questão social na Primeira República nos vídeos disponíveis em: Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=6t27vxTZRLQ Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=AtEW84SeuwE O Estado e a classe dominante enxergavam os operários e as relações de produção como um problema exclusivo do empresariado e o movimento, por sua vez, não conseguia apoio de outros segmentos da sociedade, como os trabalhadores rurais. Assim apesar da expansão da classe operária, ela permanecia isolada, pois era ignorada pelos demais segmentos da sociedade e o Estado os via como “problemas” do empresariado. Para o empresariado, a questão socialsó se torna relevante após a dissolução do Estado Novo e o fim da Segunda Guerra Mundial. Era necessário que os empresários se adaptassem à nova fase pelo qual passava o capitalismo. Eles aderiram, ao populismo ao desenvolvimentismo, e a coerção perdeu espaço para a busca de aprovação. Os debates passaram a girar em torno de como os direitos do operário entravam em choque não somente com a indústria, mas com a sociedade como um todo (OLIVEIRA, 2014). O operário era visto de forma diferente do trabalhador intelectual. Os direitos aos operários de fábrica, como por exemplo as férias remuneradas ou regulamentação do trabalho de menores, poderiam criar tempo ocioso para crimes e vagabundagem. A regulamentação de direitos também ia contra a lógica financeira das indústrias e isso provocou uma campanha contra os benefícios do trabalhador, culpando o próprio operário pelas suas dificuldades. 12 E como essa situação abre caminho para o assistente social? Para Oliveira (2014), o trabalhador precisa de alguém que lhe mostre como usar seu tempo livre de maneira construtiva, ele precisa aprender a se dedicar a família, a organizar o seu lar. O Serviço Social é o instrumento que ajudaria o Estado e a burguesia a controlar o trabalhador, apesar das concessões e em decorrência delas. Esse era o meio de manter o poder intacto, ou quase. Os problemas sociais do operariado e de sua família são interpretados como agitações de ordem moral (inadaptação moral, desvios comportamentais), resultantes da leitura positivista da realidade. Dessa forma, justifica-se não apenas o controle no chão de fábrica, mas também dos espaços íntimos destes trabalhadores. Passou-se então a oferecer algumas “assistências” que incentivaram os trabalhadores a terem comportamento aceitável. Os operários que tivessem uma vida pessoal organizada e que não aderissem às greves eram recompensados. 2.2 Práticas sociais: histórico e evolução A assistência assumiu diversas formas com o passar do tempo, mas todas sempre tiveram por base a caridade para com os pobres. Encontramos referências da prática assistencial ligada a caridade desde 3000 a.C. com as Confrarias do Deserto, que tinham como objetivo ajudar pessoas que sofriam com fome, doenças e outras privações nas caravanas do deserto, estas, por sua vez, inspiraram as “novas confrarias”. O cristianismo ampliou a base da assistência e a igreja católica, principalmente com São Tomás de Aquino, situou a caridade como um dos pilares da fé, imperativo de justiça social aos mais humildes. A igreja, recém-organizada, entregou a responsabilidade da prática aos diáconos e às confrarias. Foi então que a população de necessitados passou a receber visitas domiciliares. Em 1517 o alemão Martinho Lutero publicou uma crítica profunda à Igreja Católica, o que provocou a Reforma Religiosa, ocasionando a fundação do protestantismo. A nova Igreja Protestante pregava a caridade e que o “cumprimento dos princípios da fé era responsabilidade de cada pessoa, e a organização da prática da assistência, responsabilidade do Estado e não da Igreja” (Martinelli, 2000, p.98). A prática da assistência foi influenciada pela reforma de Lutero, passando a ter uma base não religiosa em diversos países. 1525 – Publicação da obra “De Subvencione Pauperum” (“Da assistência aos Pobres”) do humanista espanhol católico Juan Luis Vivés, considerada um marco para a organização da prática social. 1601 – Promulgada a Lei dos Pobres na Inglaterra, que ajuda os mais necessitados, porém estes teriam que trabalhar. Os inspetores fiscalizavam a forma como as pessoas atendidas viviam. 13 1816 – John Bunnell Davis criou em Londres um Centro de Proteção à Infância. O centro organizava grupos voluntários de visitadoras domiciliares e foi influenciado pela obra de Vivés. 1834 – Promulgada a Nova Lei dos Pobres, seguia os moldes da anterior, porém dificultava o acesso daqueles que não podiam trabalhar. O trabalho passou a ser obrigatório e análogo à escravidão, inclusive, com castigos físicos. 1848 – É criado o Conselho Geral da Saúde na Inglaterra após Edwin Chadwick demonstrar em relatório que existia uma relação estreita entre pobreza e insalubridade. O Dr. P.H. Holland também já havia relatado sobre as condições de vida da classe trabalhadora da Inglaterra naquele período. Saiba mais: Livro: A situação da classe operaria na Inglaterra – Frederic Engels 1851 – Florence Nightingale tomou conhecimento dos trabalhos de assistência realizados pelas diaconisas na Alemanha e pelas irmãs de caridade na França e decidiu conhecer inloco as ações. Adotou assim as visitas domiciliares aos pobres e enfermos como prática. 1865 – Octavia Hill, pioneira na área, iniciou um trabalho sobre educação social e familiar. 1869 - A alta burguesia inglesa, a Igreja e o Estado criaram a Sociedade de Organização da Caridade. Com essa sociedade eles pretendiam se manter no poder, impedir as manifestações dos trabalhadores, controlar a “questão social” e assegurar o funcionamento adequado da sociedade. Racionalizar a assistência e dar base cientifica era a proposta da Sociedade. 1882 – Criação da Sociedade de Organização da Caridade nos Estados Unidos. 1884 – Criação do Centro de Ação Social em Londres. 1893 – A sede da Sociedade inglesa cria seu primeiro curso para formação de visitadores voluntários. O fim do século XIX foi carregado de preocupações para a Sociedade de Organização de Caridade. Entre elas, questões como o crescimento de movimentos sociais promovidos pelos trabalhadores, sua estruturação da prática, e a formação de profissionais. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o número de agentes só crescia, assim como a necessidade de que eles tinham que ser muito bem treinados. A boa formação seria imprescindível na abordagem da questão social, cada vez mais agravada pelo capitalismo e pela ordem burguesa. 14 2.3 A profissionalização e a expansão da prática A americana Mary Ellen Richmond, da sociedade de Organização da Caridade, teve importante papel na história do Serviço Social. Richmond nasceu em 1861 e foi propulsora da filantropia aplicada. Ela acreditava que somente o ensino especializado seria capaz de qualificar agentes de assistência de forma apropriada. Conseguiu propagar suas ideias de tal forma, que em 1899 foi criada a primeira Escola de Filantropia Aplicada (Oliveira, 2014). Segundo o autor, a americana acreditava que a assistência era uma tarefa reintegradora, capaz de reformar o caráter do indivíduo, o que ia ao encontro da expectativa da burguesia. Para o Estado burguês as ações sociais deveriam ser baseadas em ensinamentos científicos e em procedimentos técnicos e ainda, que os profissionais fossem especializados nas relações humanas sociais, para assim enfrentar os rebatimentos da questão social atuando em seu favor. Assim com o agravamento da questão social, no período após a segunda guerra, houve uma expansão das escolas formadoras de agentes especializados. Passou da primeira escola de Filantropia, em Amsterdã na Holanda e a primeira escola de Serviço Social em 1908 na Inglaterra, para cerca de duzentas escolas espalhadas por toda a Europa e pelos Estados Unidos. Richmond se inspirou no trabalho de Florence Nightingale e a assistência individual e domiciliar ganhou destaque em sua atuação. Para ela era necessário realizar um diagnóstico social e este só seria possível através de fiscalização e investigação. A americana, que dedicou sua vida para causas sociais, publicou o livro Diagnóstico Social em 1917 e foi muito importante para o reconhecimento da profissão da profissão. Saiba mais sobre diagnóstico social com o artigo de Andreia Carvalho Lameiras. Disponível em: <https://goo.gl/1pDMb6>. O número de profissionais aumentou de forma considerável levando a Sociedade de Organização de Organização da Caridade a realizar, em 1976, a primeira ConferênciaNacional de Trabalhadores Sociais, na cidade de Nova York nos Estados Unidos. No evento Richmond defendeu que os profissionais da área fossem chamados de trabalhadores sociais e a profissão de trabalho social, pois acreditava que a nomenclatura trabalho pudesse distinguir o trabalho profissional da prática de caridade. Porém essa nomeação passou a ser utilizada somente nos EUA. A vertente norte-americana da Sociedade queria tornar o assistente social autônomo, independente da igreja. Na Europa, o objetivo era o oposto: manter a assistência social a serviço da Igreja, que se beneficiava dos conhecimentos científicos e da técnica do Serviço Social para espalhar a doutrina católica, mantendo sua posição de destaque no cenário mundial (OLIVEIRA, 2014. p. 23). O pensamento da época era, predominantemente, conservador e somado a influência da igreja católica da época deu a prática social uma dimensão de controle dos padrões 15 da sociedade burguesa. As encíclicas (cartas escritas pela autoridade papal aos bispos e fiéis) são exemplos dessa dimensão e tentativa da igreja de manter a sua hegemonia ideológica e controlar os movimentos sociais. A Rerum Novarum, escrita pelo Papa Leão XIII, em 1891 e a Quadragesimo Anno, escrita pelo Papa Pio XI, em 1931 são encíclicas que trouxeram a questão social para o debate, todavia sob o viés de controle sob o manto do humanismo. A Rerum Novarum (Das coisas novas) trata de questões levantadas na revolução industrial e apesar de apoiar a organização dos trabalhadores em sindicatos, nega o socialismo e defende a propriedade privada. Foi considerada a Carta Magna do Magistério Social da Igreja. A Quadragesimo Anno relembra os 40 anos da Rerum Novarum e retoma a discussão dos problemas da sociedade. Conheça as encíclicas: Rerum Novarum: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/edh_enciclica_rerum_novarum.pdf Quadragesimo Anno: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/edh_enciclica_quadragesimo_anno. pdf 2.4 Serviço social e a trajetória a caminho de sua profissionalização A profissionalização do Serviço Social enquanto especialização do trabalho ocorreu nos anos entre 1920 e 1930, sobre forte influência da igreja católica europeia. A demanda do Estado e da Igreja para respostas às expressões das questões sociais da época impulsiona os estudos da americana Mary Richmond, que apoiada nos fundamentos do Serviço Social de Caso, consegue dar uma nova dimensão ao trabalho profissional, ainda que a técnica estava a serviço da doutrina social da Igreja. A primeira escola de filantropia Em Nova York, no ano de 1899, foi criada a primeira escola de filantropia aplicada. Esta escola foi muito importante para o ensino do Serviço Social, assim como o processo de profissionalização. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=EPsyPmhMYA0>. Campo de atuação Foi através do trabalho das visitadoras sociais que o Serviço Social iniciou suas atividades em instituições públicas e privadas. O trinômio: higiene, educação e saúde caracterizou o Serviço Social da época e impulsionou a criação de um novo campo de atuação. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5-o-nc9HrFA>. 16 Mary Richomnd Mary Richomnd fazia parte da Sociedade de Organização da Caridade de Baltimore. Ela exerceu importante papel na criação das escolas de Serviço Social. Richomnd concebia a tarefa de assistência como eminente reintegradora e reformadora. Mesmo não sendo burguesa ela tinha grande aceitação na burguesia o que favorecia a aplicação de suas ideias. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PKp7RO3mOFI>. Igreja e a prática social O processo de institucionalização do Serviço Social caminhava a passos rápidos e isso motivou a sua inserção em instituições públicas e privadas. Atenta a isso a Sociedade de Organização da Caridade procurou impulsionar a organização desse novo profissional. Na primeira Conferência Nacional de Trabalhadores Sociais, que foi realizada em Nova York, no ano de 1916, Mary Richomnd formulou uma proposta a qual a nova profissão receberia o nome de Trabalhado Social e seus agentes de trabalhadores sociais. Na Europa a profissão era referida como Social Service e na América como Social Work. Apesar de parecer só um caso de semântica, a diferenciação do termo traria consigo os dois caminhos que a profissão percorreria. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CZIehWWyAyw>. 2.5 As influências americana e franco-belga No texto a seguir conheceremos um pouco mais sobre a influência exercida pelos Estados Unidos e pela Europa no Serviço Social. Momento de Leitura: OLIVEIRA, Valdeir Claudinei. (Org.) Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Socia I. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. Estados Unidos e Europa: diferentes abordagens com o mesmo objetivo. O Serviço Social e a influência da igreja em dois continentes: diferenças e semelhanças. p. 67 a 74 17 REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Valdeir Claudinei (org.). Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço SociaI. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. 18 3 A FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS ASSISTENTES SOCIAIS NO BRASIL A igreja católica conta com um importante papel na gênese do Serviço Social, todavia é através do Estado que ocorre a institucionalização da profissão. O Estado brasileiro precisou dar uma resposta para as diversas expressões da questão social que avançava e viu no assistente social um profissional treinado que poderia fazer a mediação Estado x população. No bloco 3 vamos conferir como a categoria se preparou para responder a esse chamado do Estado. 3.1 As primeiras escolas de Serviço Social A criação das escolas de Serviço Social foi atrelada a igreja e ocorre em um momento em que esta se mobiliza para recuperação e defesa de seus interesses, buscando sua reafirmação como influência normativa na sociedade. 1897 – Escola de Filantropia Aplicada Anterior à criação da primeira escola de Serviço Social no mundo foi criada a Escola de Filantropia Aplicada, idealizada por Mary Richmond, em 1897 em Toronto. Essa escola realizava cursos de aprendizagem da aplicação científica da filantropia. 1899 – A primeira escola de Serviço Social no mundo foi fundada em Amsterdã, capital da Holanda. 1925 – É fundada a primeira escola da América Latina em Santiago no Chile. 1932 – Surge o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS) com o “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”, promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho e contou com a participação de Adèle Loneaux da Escola Católica de Serviço Social de Bruxelas. O intuito do CEAS era a formação técnica especializada de quadros para a ação social e a difusão da doutrina social da Igreja. O curso intensivo e a viagem de duas fundadoras do CEAS para a Bélgica seriam as bases para a abertura da escola de Serviço Social posteriormente. 1936 – Fundação em São Paulo da primeira escola de Serviço Social do Brasil. O objetivo era formar profissionais com personalidade conservadora fundamentada na ideologia da igreja católica por meio de práticas assistencialistas a favor da estabilidade dos interesses dos donos do capital. 1937 – É fundado no Rio de Janeiro o Instituto de Educação Familiar e Social, composto pelas Escolas de Serviço Social e Educação Familiar. 19 3.2 O CEAS e a primeira escola de Serviço Social em São Paulo O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo, chamado de CEAS, surge, em 1932, da necessidade de conferir maior efetividade e rentabilidade às iniciativas e obras promovidas pela filantropia das classes dominantes do Estado de São Paulo. O “Curso Intensivo de Formação Social para Moças” promovido pelas Cônegas de Santo Agostinho foi o embrião para o CEAS, uma vez que ao encerrar o curso foi feito um apelo para a organização de uma açãosocial visando atender o bem-estar da sociedade. As participantes do curso eram as moças das famílias ricas e da classe dominante da sociedade paulista (CARVALHO; IAMAMOTO, 2011). A fundação do CEAS, de acordo com os autores (2011), também está vinculado a conjuntura específica de São Paulo do momento. O movimento insurrecional de 1932 procurava reaver o poder local e nacional dos quais foram excluídos dois anos antes. Também é necessário entender que o sentido dessa ação social seria a tentativa de intervir diretamente junto ao proletariado para afastá-lo de influências subversivas ou revolucionárias. Saiba mais sobre a Revolução Constitucionalista de 1932: ● KOBAYASHI, Eliza. O que foi a revolução constitucionalista de 1932? Nova Escola, 7 mar. 2018. Disponível em: <https://goo.gl/6w9CUS>. Acesso em: 28 mar. 2019. ● https://www.youtube.com/watch?v=6xMkoJaeFPY A presença feminina foi marcada nesse período tanto como promotoras das ações como público alvo, pois o CEAS fundou Centros operários que procuravam atrair as operárias e entrar em contato com as classes trabalhadoras via mulheres, com aulas de trabalhos manuais e noções de higiene. Assim as atividades do CEAS eram orientadas para a formação técnica e especializada de quadros para a ação social e a difusão da doutrina social da Igreja. A partir do engajamento desse grupo é fundada, em 1936, a Escola de Serviço Social de São Paulo, a primeiro desse gênero no país. A partir desse momento nota-se que, paralelamente à demanda inicial por quadros habilitados por essa formação técnica especializada, originada da própria ação social católica, começa a aparecer outro tipo de demanda, partindo de determinadas instituições estatais (CARVALHO; IAMAMOTO, 2011, p.184). https://novaescola.org.br/autor/61/eliza-kobayashi 20 Nesse sentido, não podemos afirmar que a fundação da primeira Escola de Serviço Social foi uma iniciativa exclusiva do movimento católico, pois já havia uma demanda a partir do Estado. Como exemplo temos a criação de cargos fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores, no Departamento Estadual do Trabalho, o contrato como Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, ampliando o campo de ação da assistente social junto aos poderes públicos. A formação técnica especializada passou por processos de adequação conforme a demanda institucional. A introdução de cursos específicos (como o curso de formação familiar), assim como o número consolidado de bolsistas, alguns custeados pelo Estado e grande instituições estatais, bem como os cursos intensivos de formação de auxiliares sociais ilustram essa afirmação. Todavia essa demanda não elimina o caráter doutrinário da formação do assistente social da época, ele é considerado funcional às necessidades das empresas e do Estado. 3.3 A escola do Rio de Janeiro e o perfil dos primeiros assistentes sociais O Rio de Janeiro era a maior cidade do país e o principal centro das instituições ligadas à igreja, além de concentrar os centros econômicos e políticos, por isso possuía grande número de obras e instituições assistenciais com participação do Estado e, também, diversas instituições públicas. Conheça um pouco mais sobre a época que precedeu as escolas de Serviço Social e justificou a demanda dos assistentes sociais no Rio de Janeiro. Vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KTZJKQx1LJA>. A Primeira Semana de Ação Social do Rio de Janeiro, em 1936, foi um momento histórico para o Serviço Social carioca. Organizada pelo movimento católico laico e pelo grupo de Ação Social, o evento reuniu instituições de caridade, intelectuais católicos e membros do movimento católico laico com o propósito de difusão da ideologia da igreja de forma mais dinâmica. Posterior à semana, foram fundadas: 1938 - Escola técnica de Serviço Social - Iniciativa do Juízo de Menores 1940 - Curso de preparação em Trabalho Social na Escola de Enfermagem Ana Nery (federal) 1944 - Escola de Serviço Social como desdobramento masculino do Instituto Social. Os relatos existentes sobre as tarefas desenvolvidas pelos primeiros assistentes sociais demonstram uma atuação doutrinária e eminentemente assistencial. Confira a cronologia dos campos de trabalho dos assistentes sociais formados e as respectivas 21 entidades do Rio de Janeiro no período de 1939 a 1947 por Carvalho e Iamamoto (2006 p.209). Cronologia dos campos de trabalho dos assistentes sociais formados - Entidades Rio de Janeiro, 1939 a 1947 Ano Estado - paraestatal e autarquias Particular 1939 Juízo de Menores Serviço Social da Prefeitura do Distrito Federal Associação Lar Proletário 1940 Escola de Serviço Social (Ana Nery) Serviço Social da Policlínica de Botafogo Associação das Senhoras Brasileiras 1941 Ministério do Trabalho (Fiscalização) Serviço Social da Imprensa Nacional Serviço Social da Gávea Serviço Social da Escola Gonzaga Júnior 1942 Serviço de Assistência ao Menor Serviço Social do Hospital Artur Bernardes IAPC Legião Brasileira de Assistência Serviço Social da Casa da Empregada Paróquia Santa Teresinha Serviço Social da Casa do Pobre Escolas de Serviço Social 1943 Serviço Social de Aprendizagem Industrial (SENAI) Confederação dos Círculos Operários Cia. de Seguros Sul-América 1944 Serviço Social do Instituto de Cardiologia Ministério da Aeronáutica IAPIA Serviço Social do IAPM - IAPTC - CAPSPDP - IPASE - CAPFCB Casa do Comércio “A Exposição” Ação Social Arquidiocesana S.S. da Cia. Petropolitana de Fiação e Tecelagem Cia. Carioca Industrial Campanha de Redenção da Criança 1945 Serviço Social dos Servidores da Prefeitura Cia. Cerâmica Brasileira Fazenda S. José Serviço Social Rural 1946 SESC Fundação Leão XII AGIR (Empresa editorial) Fabrica Bonsucesso 1947 SESI Fonte: Carvalho e Iamamoto (2011, p. 209). 22 3.4 O ensino e a prática do Serviço Social no Brasil O momento Leitura irá discutir o ensino e prática do Serviço Social no Brasil. Acesse o texto e conheça os discursos e as práticas dos primeiros assistentes sociais profissionais brasileiros. Momento Leitura: OLIVEIRA, Valdeir Claudinei (org.). Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço SociaI. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. Unidade 4: Discursos e práticas nas primeiras escolas e instituições de Serviço Social no Brasil. Tema: O ensino e a prática do Serviço Social no Brasil. Texto: Discursos, práticas e os primeiros assistentes sociais profissionais. p. 119 a 131 3.5 A institucionalização do Serviço Social brasileiro Texto síntese: Institucionalização da prática profissional dos assistentes sociais CARVALHO, Raul de; IAMAMOTO, Marilda Vilela. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. p. 323 à 342. Desenvolvido, exclusivamente, para fins didáticos. O processo de surgimento e desenvolvimento das grandes entidades assistenciais - estatais, autárquicas ou privadas - é também o processo de legitimação e institucionalização do Serviço Social. O Serviço Social pode ser apreendido globalmente apenas em sua relação com as políticas sociais do Estado, implementadas pelas entidades sociais e assistenciais. O processo de profissionalização dos assistentes sociais formados nas Escolas especializadas também compõe sua institucionalização. No momento em que o Serviço Social se insere na divisão sócio-técnica do trabalho, através da intervenção do Estado no agravamento da questão social, por meio da política social, este procura romper, ainda que de forma incipiente, com os traços filantrópicos para se constituir em uma profissão, na qual seus agentes desempenham o papel de executores da política social, e assim se inserem no mercado de trabalho. A partir dos aspectos materiais de sua intervenção, o Serviço Social deixa de ser uma forma de distribuição controladada pequena caridade particular das classes dominantes, para constituir-se numa das engrenagens de execução das políticas sociais do Estado e corporações empresariais. Nesse momento os assistentes sociais foram integrados a tipos de equipamento já existentes, como elementos auxiliares e subsidiários ao desempenho das práticas materiais principais de cada instituição particular. Organizados em turmas ou departamentos específicos, os assistentes sociais terão por âmbito de atuação uma área abrangente e pouco definida. 23 O serviço social é incorporado a instituições cujas práticas materiais principais são dos mais diversos tipos: medicina curativa medicina preventiva, puericultura, recuperação motora, seguro, distribuição de auxílios, conjuntos habitacionais, assessoria jurídica, institutos correcionais para menores e adultos, asilos e etc. Isto é, inúmeras atividades, aos quais são utilizadas por faixas relativamente amplas da população. O serviço social se dedicará àqueles segmentos mais carentes, cujo comportamento se torna mais desviante em face de um padrão definido como normal. Isto não significa, porém, que o serviço social se dedique exclusivamente à parcela mais miserável da sociedade. Significa, outrossim, que o serviço social se dedica prioritariamente à parcela mais carente e problemática da população que tem acesso ao equipamento social e assistencial, entendido este em sua diversidade e características próprias. Assim, integrando-se a uma grande diversidade de instituições que se definem a partir de práticas sociais e assistenciais determinadas, o serviço social tem por clientela privilegiada os segmentos mais carentes que têm acesso a elas. A esta especificidade acrescenta-se uma particularidade, profundamente vinculada a origem do serviço social: o fato de sua atenção voltar-se mais diretamente para mulheres e crianças. A ação do serviço social pouco tem a ver diretamente com as práticas materiais principais desempenhadas pelas instituições, dessa forma, em relação a esses aspectos, a ação do serviço social é auxiliar e subsidiária. Tal ação auxiliar se torna necessária tanto em função do próprio conteúdo dessas instituições dentro do modo de produção capitalista, como das características que esse modo de produção assume entre nós. As instituições assistenciais não se destinam a superar o estado de múltiplas carências, mas tende a reproduzir, minorando ou remediando, as sequelas mais latentes da exploração. O não acesso a direito perpassa a existência e exigências da triagem da seleção socioeconômica dos encaminhamentos a obras da comunidade etc. Estes são elementos extremamente contraditórios, entre outros motivos, por se situar nos limites da contradição entre a necessidade de restringir o consumo e a necessidade política de tentar absorver e neutralizar as reivindicações e conflitos sociais. Também tem-se a necessidade de privilegiar a característica dessa prática social enquanto elemento "racionalizador", no sentido de minimizar o consumo per capita dos serviços assistenciais. Neste sentido, por colocar-se entre as instituições e a população, o serviço social atua, por um lado, como meio de triagem e seleção; por outro lado, deve atuar também como instrumento de atração e ligação de parcelas específicas da população, as quais são destinados programas assistenciais determinados, criando uma clientela preferencial do serviço social. O esclarecimento dos direitos se faz acompanhar da explicitação dos deveres da população-cliente em relação às instituições ou programas, e das normas e canais que deverão ser utilizados. A ação de esmorecimento constitui um primeiro passo na integração daquela clientela aos aparatos institucionais através dos quais se exerce um controle social. Também tem-se a proposta de ação educativa, com o fato de propor, veicular e induzir mudanças de comportamento, sem colocar em questão as estruturas de classes. 24 A distribuição de auxílios (auxílios materiais, facilidades especiais etc.) é uma atividade também presente em quase todas as instituições, serviços e programas assistenciais. Realizada a partir da pesquisa econômico-social, é monopolizada pelo serviço social constituindo-se numa de suas principais atividades. A formação de "clientela" através da manipulação do equipamento assistencial ou de outras benesses não é uma descoberta recente. Governantes e mandatários paternalistas fazem parte de uma tradição antiga em nossa história social. Nesse novo estágio, caberá ao serviço social selecionar e manter em acompanhamento e controle constante os indivíduos e famílias beneficiárias do paternalismo institucionalizado. As práticas de pesquisa e classificação, atividade tradicional e o original do serviço social, assume um caráter metódico e burocrático a partir da sua institucionalização. Permitem uma hierarquização, uma graduação dos riscos a que estão sujeitos indivíduos, famílias, comunidades etc., conforme o âmbito de atuação de cada instituição. Permitem, assim, delimitar uma população alvo preferencial da atuação de programas assistenciais e da própria atuação do serviço social, estabelecendo as bases de uma patologia social. Por exemplo, como “irrecuperáveis” ou “recuperáveis”; aqueles evoluídos e não evoluídos conforme sejam considerados capazes ou não de aceitar e aplicar as normas e técnicas de comportamento propostos etc. Essa classificação informará ao serviço social a atitude a assumir em relação a cada grupo, a qual pode variar do esquecimento a medidas paliativas rotineiras e à multiplicação das iniciativas de intervenção e controle. O processo de institucionalização, as novas e múltiplas atividades que o serviço social passa a desenvolver orientam uma reestruturação profunda em suas formas de organização e intervenção. A legitimação da intervenção do serviço social através de um mandato institucional e, muito frequentemente, por um quadro jurídico-legal; o assistente social será um agente legitimado pelo Estado. No aspecto da organização do trabalho, observa-se a estruturação de turmas seções e departamentos de serviço social, centralizadores ou coordenadores da atuação dispersa dentro da instituição. O serviço social será facilitada sua pretensão de desenvolver-se em sentido do planejamento, organização e gestão de programas assistenciais, ao mesmo tempo em que procurará assumir novos setores do campo social ao absorver domínios de outras disciplinas. Munidos desse novo instrumental os assistentes sociais procuraram afirmar o status teórico de sua profissão e apagar não só o estigma do agente benévolo e autoritário, mas também a figura do agente intermediário (e subalterno) entre o paciente e o agente técnico principal a partir da qual, originalmente, era reclamada a institucionalização da profissão. REFERÊNCIA CARVALHO, Raul de; IAMAMOTO, Marilda Vilela. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 19. ed. São Paulo: Cortez, 2011. OLIVEIRA, Valdeir Claudinei (org.). Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço SociaI. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2014. 25 4 O MOVIMENTO DE RUPTURA COM O SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL Em determinado momento histórico o Serviço Social brasileiro passa a questionar a sua prática e inicia um processo de ruptura com o conservadorismo, abrindo a possibilidade de uma nova identidade. Esse movimento foi gradativo e ficou conhecido como o Movimento de Reconceituação do Serviço Social. Será que esse movimento alcançou o seu objetivo de uma nova prática profissional? Esperamos que ao final deste bloco você consiga responder essa questão. 4.1 Movimento de reconceituação no Brasil e na América Latina No início da década de 1960 os assistentes sociais do Brasil, assim como os da América Latina, passaram a questionar as práticas tradicionais do Serviço Social e na sequência dão inícioao, nomeado, “Movimento de Reconceituação do Serviço Social”. Alves (2017) irá conduzir o momento de leitura e irá problematizar os rumos desse movimento tanto no Brasil como na América Latina. Tome nota e realize essa importante leitura. ALVES, Márcia Oliveira. Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social: das origens aos dias atuais. Curitiba: Intersaberes, 2017. Capítulo 2: Serviço Social na contemporaneidade: Dos movimentos de ruptura aos desafios do cotidiano na atualidade. Texto: O movimento de ruptura do Serviço Social: Brasil e América Latina em destaque. p. 53 a 57 4.2 Os seminários de Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista O movimento de reconceituação atravessou três perspectivas, a saber: a perspectiva modernizadora, a perspectiva de reatualização do conservadorismo e a perspectiva de intenção de ruptura. Os documentos produzidos nos seminários de Araxá, Teresópolis, Sumaré e Alto da Boa Vista, promovidos pelo Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS), constituem as primeiras expressões do processo de renovação do Serviço Social no Brasil na perspectiva modernizadora. O Seminário de Araxá acontece de 19 a 26 de março de 1967 na cidade de Araxá, estado de Minas Gerais. Tem como pauta a teorização do Serviço Social. O documento de Araxá analisa a criação do Serviço Social, questiona sua natureza (é ciência? é arte? é ciências sociais aplicadas?) e seu caráter. Preconizou, ainda, a metodologia do Serviço Social de caso e discutiu sobre o desenvolvimento de comunidades. Todavia reafirma a metodologia tradicional, com o intuito de “tratar os indivíduos desajustados”. 26 O Seminário de Teresópolis aconteceu em 1970 no município que leva o nome do seminário, no estado do Rio de Janeiro. Teve como foco a metodologia. O seminário teve como roteiro diversas questões sobre diagnósticos e formas de intervenção. Tentou instrumentalizar o assistente social para responder as demandas do regime ditatorial. O Seminário de Sumaré, realizado no Rio de Janeiro de 20 a 24 de novembro de 1978 trouxe a tona questões relacionadas ao “fazer” profissional, abordando a relação do serviço Social com a cientificidade, a fenomenologia e a dialética. O Seminário de Alto de Boa Vista, estado de São Paulo, aconteceu em 1984. Constitui- se como um marco para o Serviço Social e inicia, de fato, a renovação do Serviço Social na perspectiva teórica da ação, bem como de seus processos de análise da realidade, aderindo ao materialismo histórico dialético. Colaborou para as bases do Código de Ética de 1986. 4.3 Conquistas e limites do movimento de ruptura O movimento de ruptura não acaba no Seminário de Boa Vista e é importante destacar as fases seguintes suas conquistas e limites. Grandes pensadores e pensadoras do Serviço Social, como Martinelli, Yazbeck, Boschetti, Barroco, Antunes, dentre outros, se reuniram para falar sobre esse processo. Confiram nesse vídeo: Vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qExDNXsdy2A 4.4 O Projeto Ético-Político Profissional Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (NETTO, 1999). Para Netto (1999), os elementos éticos de um projeto profissional não se limitam a normativas morais e/ou prescrições de direitos e deveres: eles envolvem, ademais, as opções teóricas, ideológicas e políticas dos profissionais – por isto mesmo, a contemporânea designação de projetos profissionais como ético-políticos revela toda a sua razão de ser: uma indicação ética só adquire efetividade histórico-concreta quando se combina com uma direção político-profissional. Os projetos que visam à dignidade humana e buscam uma sociedade mais justa e igualitária se depara o projeto divergente dos interesses do capital, que quer a 27 prevalência de uma sociedade de privilégios. Por isso a importância de um direcionamento coletivo com pertinente análise de conjuntura da realidade social. O projeto ético-político do Serviço Social se materializa no Código de Ética Profissional, na Lei de Regulamentação da Profissão, nas Diretrizes Curriculares, na organização das entidades da categoria (CFESS/CRESS, ABEPSS, ENESSO e organização sindical) e nas Resoluções do conjunto CFESS/CRESS. Tal projeto é hegemônico na categoria, porém não é exclusivo, coexistem, ainda, profissionais com tendências neoconservadoras, que estão alinhadas com o projeto societário do capitalismo. Para Alves (2017), esse aparato trava cotidianamente uma luta com as forças conservadoras e oferece uma denuncia que marca o compromisso social dessa profissão. Saiba mais com o artigo “A Construção do Projeto Ético-Político do Serviço Social” de José Paulo Netto disponível em: <https://goo.gl/jNNW1e>. 4.5 A prática profissional e as implicações no processo formativo Na entrevista com Michelle Venâncio dos Santos, tutora universitária e assistente Social de Ambulatório Médico de Especialidades, você vai conhecer o processo de formação até a atuação como profissional do Serviço Social. REFERÊNCIA ALVES, Márcia Oliveira. Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social: das origens aos dias atuais. Curitiba: Intersaberes, 2017. NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do Serviço Social. In: MOTA, Ana Elizabete et al. (orgs.). Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. p. 141-160. Disponível em: < https://goo.gl/jNNW1e>. Acesso em: 22 fev. 2019. 28 5 O LEGADO DA RECONCEITUAÇÃO PARA O SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO O Movimento de Reconceituação iniciou o processo de amadurecimento do Serviço Social e o aproximou da vertente crítica. Novas diretrizes curriculares, revisão do Código de Ética e da Lei de Regulamentação da profissão foram as bases legais para a “virada” política da profissão. O diálogo com diversas correntes teóricas metodológicas contribuíram para o crescimento intelectual da profissão e iremos conferir nesse bloco esse desenvolvimento. 5.1 A prática profissional da contemporaneidade No momento leitura desse bloco iremos abordar a prática profissional do assistente social e suas implicações no processo formativo. Acesso o livro e realize essa importante leitura: ALVES, Márcia Oliveira. Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social: das origens aos dias atuais. Curitiba: Intersaberes, 2017. p. 87 à 94 5.2 Política Social enquanto espaço de intervenção profissional Temos notado que ao longo do tempo, no desenvolvimento da sociedade capitalista, o trabalhador não recebe o suficiente para manter suas necessidades básicas e de sua família, ficando algumas dessas questões sob responsabilidade do Estado, como saúde, educação, assistência social, dentre outras. Assim, o desenvolvimento das políticas sociais se dá de acordo com a ação do Estado. Sabemos que a concepção do Estado é histórica e relacional e precisa ser situado em seu processo histórico e de acordo com a concepção que ele assume, podendo agir de forma Liberal, Social ou Neoliberal. O Estado Liberal surge, no século XIX, com a proposta de rompimento com a economia feudal e, ainda, visava se desvencilhar da aristocracia e do clero, tendo o direito à propriedade privada e a liberdade (tanto do mercado como individual) como norte. O Estado atua de forma mínima, pois, de acordo com os liberais, a sociedade se autorregula, cabendo ao Estado garantir apenas os mínimos, sem atrapalhar ou substituir o mercado, uma vez queo mercado deve cuidar do bem-estar coletivo. Acredita-se no sistema de meritocracia, que cada um pode desenvolver suas capacidades (ALVES, 2017). Ainda, segundo Alves (2017), o Estado Liberal entra em declínio com as sucessivas crises do sistema capitalista e passa a temer que o Estado mínimo não seja capaz de resolver as expressões da questão social. Os proletários entram em cena nesse momento e passam a reivindicar a ação do Estado, abrindo margem para um novo 29 período histórico em que o Estado passa de obstáculo para parceiro do capital na condução das políticas sociais. Essa nova forma de atuar do Estado é denominada de Estado de bem-estar social, ou Welfare State. No Estado de bem-estar social os tributos pagos pela população retornam em bens e serviços, modificando não apenas a ordem social, mas também a econômica e cultural. O Estado assume o bem-estar da sociedade e também a função de atuar como contratendência do ciclo econômico do capital, ou seja, tentar aliviar os efeitos das crises e ajudar ao grande capital recuperar suas taxas de lucros. Cada país vivenciou uma forma diferente de Estado de bem-estar social e em alguns países, como no caso do Brasil, sequer foi implementado. Com a não consolidação do Estado de bem-estar social, o liberalismo retorna com novas características dando origem ao Estado Neoliberal. A reestruturação produtiva aliada às políticas de austeridade tornam-se marcas do Estado Neoliberal. Saiba mais: Significado de Austeridade: <https://www.youtube.com/watch?v=ackZ1QdTlBo>. Reestrututuração produtiva de Rodolfo Alves Pena: <https://goo.gl/WH9kud>. Assim, com a compreensão da relação Estado, políticas sociais e o período histórico, podemos situar a atuação do assistente social nas políticas sociais, uma vez que as políticas sociais tem sido a resposta do Estado para as múltiplas expressões da questão social, sendo estas [expressões da questão social] o objeto de trabalho do assistente social. Todavia, até o movimento de reconceituação do Serviço Social, os assistentes sociais não compreendiam de forma crítica as políticas sociais e além de atuarem como executores terminais, lidavam com a pobreza como problemas sociais e os pobres como pessoas que necessitavam serem adaptados ao meio ou como pessoas com desvio de conduta. Atuavam também somente pelos interesses de seus empregadores. O atual projeto ético-político da profissão defende a ampliação das políticas sociais e que ela não se restrinja somente aos mais pobres ou que seja de caráter focalizado, busca-se que as políticas sociais possam contribuir para a redução das desigualdades sociais. As reflexões sobre as políticas sociais devem estar inseridas no contexto da crise estrutural do capital e o enfrentamento da questão social, que por sua vez, não pode ser desassociada da contradição capital x trabalho. Nessa arena tem-se a precarização das relações de trabalho, inclusive dos e das assistentes sociais. Nesse sentido, tendo 30 na atualidade, o Estado como o maior empregador* dos assistentes sociais é imprescindível a correta leitura da realidade das políticas sociais. * Compare o perfil profissional dos assistentes sociais nos últimos 10 anos. 2015 - http://www.fenas.org.br/downloads.php?x=63 2005 - http://www.cfess.org.br/pdf/perfilas_edicaovirtual2006.pdf As estratégias para fazer frente à questão social têm sido tensionadas por projetos sociais distintos, que convivem em luta no seu interior, os quais presidem a estruturação e a implementação das políticas sociais públicas e dos serviços sociais atinentes aos direitos legais inerentes aos poderes do Estado - legislativo, executivo e judiciário. Vive-se uma tensão entre a defesa dos direitos sociais, a privatização e a mercantilização do atendimento às necessidades sociais, com claras implicações nas condições e relações de trabalho do assistente social (CFESS, 2012 p. 54). Frente à diversidade das políticas sociais que o assistente social atua, o conjunto CFESS/CRESS, em 2008, deu-se início à construção de documentos com o objetivo de traçar diretrizes profissionais. Não se trata de descrição de procedimentos técnicos, mas de parâmetros que possam colaborar no processo de reflexão na atuação profissional. Os documentos publicados pelo CFESS são grandes aliados da atuação do assistente social nas diversas políticas sociais. Vamos conferir? Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde A publicação tem como finalidade referenciar a intervenção dos profissionais de Serviço Social na área da saúde. Constitui-se como produto do Grupo de Trabalho Serviço Social na Saúde, instituído pelo CFESS em 2008, que incorporou nas suas discussões e sistematizações as deliberações dos 36º e 37º Encontro Nacional CFESS/CRESS (CFESS, 2018). Disponível em: <https://bit.ly/2IKjGmW>. 31 Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Assistência Social A publicação é uma reedição do "Parâmetros Para Atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos na Política de Assistência Social", produzido em parceria com o Conselho Federal de Psicologia (CFP). Esta nova versão, que inaugura a série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, visa consolidar a política de assistência social como direito e assegurar as condições técnicas e éticas requeridas para o exercício do trabalho com qualidade (CFESS, 2018). Disponível em: <https://bit.ly/2kaYPwV>. Subsídios para a atuação de assistentes sociais na Política de Educação O objetivo do documento é contribuir para que a atuação profissional na Política de Educação se efetive em consonância com os processos de fortalecimento do projeto ético-político do serviço social e de luta por uma educação pública, laica, gratuita, presencial e de qualidade, que, enquanto um efetivo direito social, potencialize formas de socialiabilidade humanizadoras (CFESS, 2018). Disponível em: <https://goo.gl/Es4VTY>. Subsídios para o debate sobre Serviço Social na Educação (2011) O documento tem a finalidade de, a partir do acúmulo teórico e político da categoria, construído em especial nas duas últimas décadas, sobre a inserção do Serviço Social na educação, contribuir para o aprofundamento da reflexão sobre uma concepção de educação coerente com o projeto ético-político profissional que, por sua vez, oriente o debate das particularidades do trabalho do/a assistente social nesta política pública, assim como as ações profissionais, no sentido de fortalecer as lutas sociais em defesa de uma educação emancipadora (CFESS, 2018). Disponível em: <https://goo.gl/8GtgyW>. Atuação de assistentes sociais no sociojurídico: subsídios para reflexão O documento objetiva qualificar e referenciar a intervenção de assistentes sociais e faz parte da série de publicações intitulada Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. A brochura é produto da construção do Grupo de Trabalho Serviço Social no Sociojurídico. 32 Disponível em: <https://goo.gl/sq63mV>. Atuação de assistentes sociais na Política Urbana: subsídios para reflexão O livro é o quinto volume da série Trabalho e projeto profissional nas políticas sociais, que aborda também os temas Assistência Social, Saúde, Educação e Sociojurídico. A publicação busca uma aproximação histórica, teórica e política à problemática da questão urbana e do direito à cidade, explicitando as tensões e os desafios postos ao exercício profissional de assistentes sociais. Destaca também as principais ações desenvolvidas pela categoria nesse campo, passando pelas de caráter socioeducativo, de caráter organizativo e de mobilização popular, de assessoria, supervisão e formação, e de planejamento, gestão e coordenação, mas sem estabelecer qualquer tipo de prescrição ou mesmo receituário profissional (CFESS, 2018). Disponível em: <https://goo.gl/Uz99ix>. 5.3 A lei deregulamentação do assistente social de 1993 A categoria profissional dos assistentes sociais foi uma das primeira categoria a ter uma Lei de Regulamentação da profissão. Em 27 de agosto de 1957 foi sancionada a primeira Lei de Regulamentação do exercício profissional do assistente social. Disponível em: <https://goo.gl/3XGfHA>. A primeira Lei vigorou durante 36 anos, até ser promulgada a Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, que “dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências”. Foi importante a mudança pois a direção social da categoria profissional já havia evoluído e também para melhor compreensão do papel do assistente social para a sociedade. Disponível em: <https://goo.gl/1xcI8K>. A Lei de Regulamentação da profissão contém 24 artigos que versam sobre a designação e o exercício profissional, as competências e atribuições privativas, a duração da jornada de trabalho (30 horas semanais) e as competências do CRESS e CFESS. Confira entrevista que comemorou os 21 anos da lei de regulamentação da profissão. Disponível em: <https://goo.gl/8meVRH>. A Lei de Regulamentação estipula competências profissionais e as atribuições privativas. Competências profissionais são atividades que o assistente social está apto a desenvolver, mas outros profissionais, que também possuírem competência, podem desenvolver tal atividade. Já atribuições privativas são atividades que só podem ser desenvolvidas por assistentes sociais. 33 Para saber mais: O processo legislativo e a regulamentação do Serviço Social no Brasil: uma análise documental de Jonis Manhães Sales Felippe. Disponível em: <https://goo.gl/wwUxZt>. 5.4 Dimensões constitutivas do espaço profissional nas políticas sociais Partimos do pressuposto que o Serviço Social é um profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho. O trabalho é um processo entre o homem e a natureza no qual o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza, sendo um processo inerente e somente realizado pelo homem. O que difere o homem da natureza é a sua capacidade teleológica, ou seja, o homem tem a capacidade de projetar, de imaginar antes do processo de produção, uma idealidade prévia. Assim opera transformações tanto no objeto e no sujeito. De acordo com Iamamoto (2012) todo processo de trabalho implica em uma matéria- prima ou objeto sobre o qual incide a ação, meios ou instrumentos de trabalhos que potencializam a ação do sujeito sobre o objeto e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim que resulta em um produto. Pensar o Serviço Social como trabalho requer entender esse processo, assim temos, conforme a autora: • Objeto de trabalho do assistente social: As múltiplas expressões da questão social; • Meios ou instrumentos de trabalho: Não se limita a mero conjunto de técnicas, mas amplia-se ao conhecimento, sendo as bases teórico-metodológico recursos essenciais, pois contribuem para iluminar a leitura da realidade, imprimindo rumos à ação e as moldam; • Produto de trabalho do assistente social: Interfere na reprodução material da força de trabalho e no processo de reprodução sociopolítica ou ideo-política dos indivíduos sociais. Viabiliza acessos a bens materiais e tem efeitos que incide no campo do conhecimento, dos valores, dos comportamento, da cultura. O trabalho do assistente social nas políticas sociais, não produz excedente, de forma diretamente, para o capital, mas dispõe de uma autonomia relativa, pois, apesar de não possuir os meios de produção, possui liberdade, respaldada na legislação profissional, de desenvolver o exercício da profissão. O que permite ao assistente social desenvolver atividades comprometidas com o projeto ético político e com a população atendida. Nas políticas sociais públicas não há mais-valia, mas não significa que não haja precarização na relação de trabalho. O aviltamento do salário, a polivalência, a sobrecarga de trabalho são exemplos dessas formas precárias de relações de trabalho. 34 Dessa forma o assistente social atua sobre os reflexos da reestruturação produtiva, como ao mesmo tempo sofre esses reflexos enquanto trabalhador assalariado. Caminha, ainda, em uma linha tênue entre reforçar o status quo ou ir contra a hegemonia do capital. Para atuar de forma que problematize a organização da sociedade é necessária uma sólida formação teórica e técnica, utilizando-se da capacidade teológica, ou seja, pensando em seu trabalho, objetivos e metas previamente, fugindo de improvisações. Por esse motivo é importante que o assistente social, para além do aparato normativo legal, também estabeleça, tanto para a instituição como para os usuários, seu projeto de trabalho na política que irá atuar. Saiba mais sobre projeto de trabalho do assistente social: Disponível em: <https://goo.gl/zcJxTt>. A proposta de trabalho deve ser pautada na leitura das condições objetivas e subjetivas da realidade social, levando em considerando as contradições presente no determinado espaço ocupacional. As dimensões analíticas, interventivas e éticas devem manter relação de autonomia e de interdependência entre si (ALVES, 2017). Explicaremos a seguir, de acordo com Alves (2017), essas três dimensões constitutivas do espaço profissional nas políticas sociais: Dimensão investigativa Compreende a produção do conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte, qualificam e garantem a concretização da ação interventiva. A elaboração de pesquisa não se restringe ao meio acadêmico, mas abrange um profundo conhecimento da realidade social. Também não se trata de investigação de cunho policialesco-punitiva, mas sim de entender como as expressões da questão social se manifestam em determinado território. Dimensão interventiva Subsidiada pela dimensão investigativa e ética, é a efetivação das ações profissionais, a intervenção propriamente dita. Leva ao conhecimento das tendências teórico- metodológicas, a instrumentalidade, os instrumentos técnico-operativos e os do campo das habilidades, os componentes éticos e os componentes políticos, o conhecimento das condições objetivas de vida do usuário e o reconhecimento da realidade social (TORRES apud ALVES, 2017 p. 108). 35 Dimensão ética Explicita os pressupostos estabelecidos no Código de Ética de 1993 e no projeto ético- político, destacando, principalmente, a forma como os assistentes sociais se apropriam desse conhecimento (TORRES apud ALVES, 2017 p. 108). Assim a direção social, a reflexão crítica e o posicionamento ético estão presentes nessa dimensão. Lembrando que estas dimensões não estão desarticuladas das competências estruturantes da profissão: técnica operativa, teórica metodológica e ética política. 5.5 Principais correntes teórico-metodológicas do serviço social O Serviço Social sofreu influências de diversas correntes teóricas ao longo de sua consolidação. Hoje a corrente hegemônica no Serviço Social é o materialismo histórico ou marxismo. Confira no link as principais correntes teórico-metodológicas da profissão e acompanhe a sistematização elaborada pela professora Ariana Alcantara. Disponível em: <https://bit.ly/2HXKuSW>. 36 REFERÊNCIA ALVES, Márcia Oliveira. Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social: das origens aos dias atuais. Curitiba: Intersaberes, 2017. 37 6 A RELEVÂNCIA DAS TENDÊNCIAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA O SERVIÇO SOCIAL Após percorrer toda a trajetória do Serviço Social, chegamos no último bloco da nossa disciplina de Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Serviço Social a fase contemporânea da profissão. O bloco conta com uma palestra incrível da Profª Marilda Iamamoto, a qual tanto fazemos referência. Ela resgata a trajetória, mas principalmente, reflete sobre os desafios atuais da formação e da profissão. Siga
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