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UM CORPO UM ESPÍRITO UM SENHOR Caixa Postal 201 30.161 - Belo Horizonte - MG Revisão Maria de Lourdes C. de Queiroz (Tucha) P R E F Á C I O 0 manuscrito deste livro foi lido no todo, ou em parte, por um considerável número de ministros de vários grupos evangélicos, incluindo também vários líderes de igrejas. Desejamos, nesta oportunidade, reconhecer as mais valiosas sugestões que recebemos destes homens, muitas das quais estão incorporadas neste trabalho. Honestamente podemos afirmar que estes homens representam a essência de quase todo o universo evangélico e que concordam substancialmente com as proposições aqui des critas. ÍNDICE Capítulo I Qual é o preço da unidade?............................ 7 Capítulo II O grande desafio da Igreja............................. 17 Capítulo III Obstáculos à unidade do Corpo..................... 28 Capítulo IV A doutrina de Cristo — Base da comunhão ... 37 Capítulo V Exclusões bíblicas da comunhão no Corpo de Cristo................................................................ 53 Capítulo VI O que não deve ser teste de comunhão........ 71 Capítulo VII A chave esquecida para a unidade da Igreja — Disciplina divina................................................ 77 Capítulo VIII Ética cristã........................................................ 105 Capítulo IX Sete coisas que precisamos fazer................... 130 Capítulo I QUAL É O PREÇO DA UNIDADE? As questões de vital importância que nos pro pomos examinar neste livro, bem como as soluções aqui oferecidas, não representam, na verdade, as convicções profundas de um único indivíduo, mas de muitos homens de Deus, alguns dos quais ocu pam posições de liderança no mundo cristão e car regam no coração o oneroso fardo do bem-estar da Igreja de Jesus Cristo. O autor, além de haver estudado exaustivamente o assunto, viajou milhares de quilômetros e conversou com muitos ministros já experientes, na busca de soluções para os proble mas peculiares que a Igreja enfrenta neste momen to excepcionalmente crítico de sua história. Impres- sionou-o a surpreendente unanimidade de senti mentos em tomo dessas questões, relevantes como são, na relação que mantêm com o futuro sucesso do reavivamento que já percorre a terra. A proposta na qual nos empenhamos com maior ênfase, neste momento, é um apelo ao uni- 7 versai reconhecimento, por parte da Igreja, da uni dade essencial de seus membros. Que os verda deiros filhos de Deus, sem a importância de se considerar a que grupo ou organização pertençam, sejam membros do mesmo Corpo, o Corpo de Cristo. Acreditamos que a lealdade ao Corpo de Cristo não deveria colocar em risco, de maneira alguma, a lealdade do crente a qualquer organi zação consagrada que fervorosamente acredite em reavivamento e no poder de Deus. Em outras palavras, cremos que há uma base verdadeira de comu nhão entre todos os membros do Corpo de Cristo, a despeito de filiações. O autor e outros com os quais se tem associa do na promoção de reavivamentos de massa acharam-se em condições de declarar, de sã cons ciência, suas convicções em tomo desta questão. A evolução dos acontecimentos, em escala mundial, e os avanços dentro da Igreja têm-se dado num ritmo tal, que já não podemos ignorar as questões envolvidas sem provocar sérias repercussões. Nós — que desde o início já estamos envolvidos no pre sente reavivamento, na organização e promoção de grandes concentrações, assinaladas pela presença de pessoas filiadas a muitas organizações e denomi nações — temos visto a necessidade, cada vez mais urgente, de proclamar a unidade essencial do Cor po de Cristo e os meios bíblicos pelos quais a unidade poderá ser mantida. Falando sobre a unidade do Corpo de Cristo, os estudiosos do Novo Testamento concordam em que o plano de Deus, conforme revelado nas Escri turas, tem por meta uma Igreja que seja única. Pondo de parte as claras afirmações da Bíblia, parece improvável que Deus pretendesse dividir Sua igreja em grupos incompatíveis, até mesmo, em alguns casos, hostis uns para com os outros. Não queremos dizer com isso que não haja (e sempre 8 haverá nesta presente era) certas esferas bem definidas de responsabilidade e influência dentro da Igreja. Há espaço para muitos empreendimentos, contanto que cada um reconheça os outros num verdadeiro espírito cristão. Pedro tinha um minis tério definido junto aos judeus, ao passo que o apostolado de Paulo se dirigia especificamente aos gentios. Mas, a despeito das diferenças de costu mes e temperamentos então existentes, as lideran ças da Igreja primitiva se esforçavam constante mente para que o Corpo da comunhão fosse man tido intacto entre todos os crentes. Compreendiam que o plano de Deus para Sua Igreja era que ela fosse apenas um Corpo. Assim é que, na época dos apóstolos, e mesmo depois, por algum tempo, essa unidade foi essencialmente conservada. Che gou o dia, entretanto, em que certos acontecimen tos passaram a marcar presença na Igreja, fazendo com que a unidade fosse gradualmente se extin guindo. Na verdade, a unidade da Igreja desapareceu quando a liderança de Cristo foi abandonada em favor de uma liderança humana. Quatro séculos após o nascimento da Igreja, uma Sé Papal usur pou a preeminência de Cristo e se transformou em um tribunal superior de apelação. Essa desastrosa mudança na ordem da Igreja não foi aceita por todos; nenhum líder, entretanto, pareceu capaz de defender a grande verdade da liderança de Cristo como o apóstolo Paulo. Nos séculos que se segui ram, a Igreja acabou dividida em muitos campos independentes. A ordem divinamente nomeada dos “apósto los, profetas, evangelistas, pastores e mestres” — que havia sido ordenada para o “aperfeiçoamento dos santos... até que todos estejamos reunidos na unidade da fé” — cedeu espaço às ordens humanas. 9 Assim, durante muitos séculos a preciosa uni dade da Igreja ficou perdida. O que até certo pon to, lamentavelmente, ainda ocorre. Entretanto, pa rece que já chegou a hora, e certos sinais já estão indicando, que Deus, finalmente, já começa a resta belecer a unidade tão longamente perdida. De fato, as Escrituras declaram que no final a Igreja será uma Igreja perfeita, sem mancha, sem ruga e que o Senhor apresentará a Si próprio (Efésios 5:27). Somos levados a crer que o tempo está próximo, isto é, que já em breve Deus restaurará o seu modelo original de um Corpo único, funcionando com todos os dons que lhe foram designados. Nessa declaração de unidade do Corpo de Cristo, propomo-nos mostrar a urgente razão pela qual a Igreja não deve impedir nem retardar, por excesso de precaução, o restabelecimento dessa unidade divinamente desejada. A crise mundial a exige. A sobrevivência do cristianismo apostólico a requer. E vem surgindo uma igreja modernista e unificada, que ousadamente se proclama como a verdadeira Igreja. Um maior atraso implica em um gravíssimo risco, e que, de fato, poderá tomar a Igreja vulnerável ao avanço do maligno que procura devorá-la. Amarga perseguição ou grande tribula- ção: qualquer das duas coisas poderia resultar na reunificação da Igreja, mas seria deplorável que o plano de Deus, para atingir o seu objetivo, depen desse de que uma calamidade tão medonha se aba tesse sobre o seu povo. Podemos ter aquela unida de agora mesmo, se estivermos dispostos a subor dinar nossos interesses pessoais aos interesses de toda a Igreja. A SUPERIGREJA NÃO É A RESPOSTA Mas que não haja dúvida: é preciso deixar claro que não propomos, como saída para a unidade, a 10 construção de uma nova organização ou a fusão das já existentes numa superorganização. Assim como se há de preservar a autonomia da igreja local, também se há de preservar a autonomia de qualquer grupo, grande ou pequeno, que faça parte do Corpo de Cristo. Dessa maneira mantemos o reconhecimento da liderança de Cristo. A história mostra que quando o poder aparece empossadonum determinado centro (Roma, por exemplo), ele só se move numa direção: a da Igreja apóstata. Como membros do Corpo de Cristo, somos inter dependentes uns dos outros, mas dependemos to talmente do Cabeça, que é Cristo. O mais importante agora é que nós, membros do Corpo de Cristo, reconheçamos uns aos outros, unamos os nossos esforços em mútua cooperação e alcancemos publicamente o mundo com a nossa condição de membros do Corpo de Cristo, sem darmos importância às diferenças de denominação. Para que possamos efetivamente agir com esta fi nalidade, precisamos acompanhar o método bíblico capaz, só ele, de manter intacta esta unidade. Como deve o evangelista se conduzir na igreja de um pastor? Que deve o pastor fazer para cum prir a sua obrigação cristã para com o evangelista? Como poderão dois ou três pastores de uma mesma cidade formarem um grupo entre si e em seguida desenvolverem a comunhão no local? Sob que condições seria possível realizar uma reunião que trouxesse unidade? Qual o acordo doutrinário necessário para que isso aconteça? Quais as outras qualificações necessárias? O que excluiría uma organização qualquer da comunhão ativa no Corpo de Cristo? E com relação a tais perguntas que devemos buscar na Bíblia uma resposta, se de fato deseja mos uma comunhão verdadeira e restauradora da quela unidade do Corpo de Cristo pela qual Ele 11 próprio, Jesus, intercedeu em oração. Continuar promovendo com sucesso grandes reavivamentos e manter de pé seus resultados exige que se encontre uma solução para tais problemas. Acreditamos que a resposta se acha na Bíblia. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA NO NOVO TESTAMENTO Devemos lembrar que uma das maiores difi culdades por que passa a Igreja, e que vem impe dindo a unidade do Corpo, é não estarmos conse guindo, na presente geração, aplicar corretamente a disciplina do Novo Testamento; manter adequa damente os resultados da disciplina em meio à confusão reinante. A falta da disciplina bíblica entre os membros do Corpo, assim acreditamos, fez da Igreja um alvo fácil do diabo. Sem dúvida alguma, existem pessoas que, cons cientemente, têm procurado manter a unidade ar rancando as “travas” da Igreja por meios carnais. Porém, como ensinou Jesus, isso acaba resultando também na destruição do que é bom. Quando evangelistas ou pastores visitantes são arrastados para o meio de uma contenda ou desentendimento no seio da congregação local, o resultado é sempre uma troca de insultos e recriminações entre as par tes diretamente envolvidas, decepção profunda e dispersão entre os fiéis. Disso também resulta, muitas vezes, que o Espírito de Deus se aflige e o reavivamento acaba reprimido. O Evangelho ensina amor e perdão. As palavras de Paulo aos Coríntios se aplicariam perfeitamente a muitos desses casos. “Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano? (I Cor. 6:7). Reconhecemos, todavia, que em determinadas situações a exclusão do Corpo de Cristo representa a única solução de fato. Há circunstâncias que exi 12 gem o desmembramento do fiel insubordinado ou desonesto. Entretanto, o uso dos meios errados, no cumprimento dessa medida, só aumenta ainda mais a confusão. A lei sem penalidade é insufi ciente, e isso vale tanto para o terreno espiritual como para o natural. A discussão plena desse assunto ficará reservada para um capítulo posterior. Diremos apenas isto por ora: se a Igreja deseja avançar numa linha bíbli ca, o disciplinamento dos insubordinados deve-se ater ao padrão bíblico. Excomunhão sem auto ridade divina só deixa as pessoas confusas e divididas em seus sentimentos de lealdade. Ao mesmo tempo, os que anelam por comunhão com todo o povo de Deus são obrigados a tomar partido numa guerra que não desejam e que não pode beneficiá-los. Temos de voltar aos métodos bíblicos, se quisermos que a Igreja seja apenas uma. Devemos nos lembrar de que os “dons de cura" e o ofício de “governar” são ambos sobrenaturais (I Cor. 12:28). Por não termos pensado no dom mi nisterial de “governar” como coisa dotada de auto ridade sobrenatural, o diabo tirou proveito da situa ção e semeou a ilegalidade na Igreja de Deus. En quanto continuar esse estado de coisas, não tere mos uma Igreja unida. É necessário que os encarre gados do ofício de governar reconheçam o poder que acompanha o ofício. Será realmente necessário exigir das ovelhas certas atitudes para tomar efetiva e excomunhão? Isso geralmente as divide e, em particular, confunde os novos convertidos, incapa zes normalmente de discernir entre a mão direita e a esquerda. Isso também lança na Igreja um espírito contrário ao que deveria prevalecer nela: o espírito do amor. O reconhecimento do Corpo de Cristo, seguido de uma comunhão baseada nesse princípio, 13 contribuirá para a promoção e prosperidade de qualquer organização estabelecida que se dedique ao reavivamento. O próprio princípio da comu nhão já é uma busca do bem-estar de todo o povo de Deus. O homem que de fato acredite na comu nhão servirá com lealdade e fidelidade em qualquer cargo ou posição em que Deus o tenha colocado. O homem deve ser leal a qualquer organização a que se tenha filiado, visto que fazê-lo também é ser leal à Palavra de Deus. Pois o Senhor não nos chamou para a discórdia, mas para a paz e a boa vontade entre os homens. Mas a lealdade à lide rança de Cristo deve sempre vir em primeiro lugar. Há que se compreender que uma declaração em prol da base bíblica da unidade do Corpo de Cristo e do grande reavivamento que se vai desenrolando não signifiça tomada de posição a favor de tudo o que se faz em nome do reavivamento. O fato de convivermos com determinada pessoa não significa que endossamos tudo que ela faz. Longe disso. Insistir nessa idéia nada tem de realista nem de justo. Jamais ocorreu um reavivamento na História que não fosse marcado por alguns lamentáveis extravagâncias cometidas por pessoas ambiciosas. Um exemplo bem conhecido disso são os excessos da revolta dos camponeses, ao tempo da Grande Reforma, excessos que o próprio Martinho Lutero tanto deplorou. (Essa revolta foi uma desesperada tentativa de derrubar o governo, tramada e ensaia da pela demagogia de certos religiosos sob o dis farce da Reforma.) A posição de Lutero em favor da lei e da ordem deixou claro que o ativismo im prudente dos precipitados não deveria ser identi ficado com o verdadeiro movimento da Reforma. Em nossa presente declaração enfatizamos que a unidade do Corpo de Cristo só poderá ser alcan çada, na prática, pela dedicação dos verdadeiros crentes em obediência aos mandamentos de Jesus 14 e à Sua Regra Suprema: a Regra de Ouro. É indispensável que o egoísmo e as ambições pes soais sejam subordinados para o bem do Corpo como um todo. Embora sabendo que os verdadeiros crentes devem reconhecer a importância da crítica cons trutiva e tirar proveito disso, é preciso admitir que estarão sujeitos a críticas não construtivas, radica das na inveja de pessoas secretamente convencidas de que sua segurança ou posição estarão sendo ameaçadas. Aos envolvidos nesse ministério de livramento pode ocorrer a tentação de pagar a seus opositores com a mesma moeda. Acreditamos que seria um grande erro ceder ao desejo de retaliação. Os homens de fé nunca deveríam comprometer esta mensagem, mas é preciso que evitem as dis cussões insignificantes. Pode ser necessário que o indivíduo declare francamente sua posição, mas a causa de Cristo nada tem a ganhar com disputa ou contendas. É preciso que os servos do Senhor não se desviem de suas tarefas reagindo aos prejudiciais ataques de pessoas amarguradas. O sábio mari nheiro traça de antemão o mapa de seu curso, de maneira que, se surgir uma emergência, ele saberá exatamente o que fazer. Semelhantemente, o curso do sábio seguidor de Cristo requer dele que de monstre fielmente o Evangelho “com os sinais que se seguem”. Não deve desviar-se para a direitanem para a esquerda, se deseja prestar contas com alegria Àquele que o chamou. O poder de um Evangelho miraculoso sustentará o homem de Deus, e é a resposta a toda crítica. O tempo e o evoluir dos fatos, bem como a na tureza deste grande reavivamento, tomam neces sário dirigir uma mensagem à Igreja agora. Faze mo-lo com moderação e seriedade, sabendo que há muitos olhos atentos à nossa posição em face das questões que envolvem o bem-estar da Igreja. 15 Humildemente, apresentamos esta mensagem, a mesma, em termos de conteúdo, do início deste reavivamento, mas agora elaborada com mais de talhes. Cremos que isso indica o verdadeiro cami nho para o cumprimento da oração de Jesus, ainda sem resposta (João 17). 0 leitor perceberá que não temos a pretensão de resolver a questão “organização" versus “igreja independente”. Organização, seja com envolvi mento de duas pessoas ou de uma multidão, é es sencialmente um acordo de trabalho entre homens para a promoção de uma causa. Nesse assunto de uma organização qualquer, formada para promover a obra do Corpo de Cristo, o único perigo contra o qual devemos nos prevenir, não importando que se trate de uma igreja- local ou de um movimento internacional, é o risco de se violar a liderança de Cristo. Finalmente, gostaríamos de dizer que não igno ramos o bom trabalho de promover o reconheci mento do Corpo de Cristo, o qual já vem contando com a zelosa atenção de vários líderes nas organizações do Evangelho Pleno. Apreciável tem sido o seu trabalho, sobretudo porque estabeleceu oficialmente o princípio da unidade da Igreja. O que precisa agora, para tomá-lo efetivo, é de um poderoso movimento popular, nascido das “ba ses”. Permita Deus que esse movimento reúna forças necessárias até que se transforme num movi mento de massa, movimento ininterrupto que não pare de crescer enquanto a Igreja toda não se tiver fundido num só Corpo. 16 Capítulo II O GRANDE DESAFIO DA IGREJA A Igreja de Jesus Cristo, à medida que vai executando o plano de Deus, espera alcançar três grandes objetivos, que se hão de atingir antes mesmo da vinda de Cristo: primeiro, executar Sua ordem para que se evangelize o mundo; segundo, que ela receba e manifeste a glória divina que lhe foi prometida; terceiro, que a Igreja “prossiga até a perfeição”, de modo que Jesus Cristo, quando vier apresentá-la a Si mesmo, possa ver nela uma “igre ja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef. 5:27). Como alcançaremos esses três objetivos? Como se convencerá o mundo de que Jesus é de fato o Cristo, enviado pelo Pai? Como se restabelecerá a glória divina da Igreja primitiva? Como a Igreja poderia ser aperfeiçoada? A resposta a todas essas perguntas nós a encontramos já na intercessão de Cristo, em João 17, quando Ele ora para que Seus 17 seguidores sejam um só Corpo. A Igreja é mais que uma organização, é um organismo, um corpo cons tituído de muitos membros, e, se queremos que ela cumpra a sua finalidade, é necessário que cada membro seja encontrado no lugar certo e funcio nando numa justa relação com os demais. A ORAÇÃO DE CRISTO PELA UNIDADE Analisemos a oração de Cristo, em João 17, e observemos como essa intercessão pela unidade da Igreja se relaciona com estes três grandes objetivos: 1. A evangelização do mundo2. A glorificação da Igreja 3. O aperfeiçoamento da Igreja “Para que todos spjam um; como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti, que tam bém eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste” (João 17:21). Em sua oração, Jesus nos dá a entender claramente que, apenas quando a Igreja se tomar um só Corpo, o mundo acreditará que Ele foi enviado pelo Pai. A divisão em seitas, quase sempre incompatível ou mesmo hostil, permite ao mundo um subterfúgio para não se crer na mensa gem da Igreja. Por essa razão, a Igreja precisa de unidade, se quisermos ganhar o mundo para Cristo ainda na presente geração. Observe que a oração de Cristo pela unidade se repete mais duas vezes. Só existe um outro registro nas escrituras onde o Senhor repetiu por três vezes Sua oração. Foi quando agonizava no Horto, no momento em que orava para que a vontade do Pai se cumprisse. O fato de, por três vezes, haver repe 18 lido a mesma súplica parece sugerir algo de vital importância e de significado extraordinário. Será que o problema da unificação da Igreja, para que seu Corpo se tome apenas um, demonstraria ser uma tarefa comparável em dificuldade à própria redenção? Vejamos as outras duas orações a favor da unidade da Igreja. “E eu dei-lhes a glória que a mim mo deste, para que sejam um, como nós somos um” (v. 22); “Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles, como me tens amado a mim" (v. 23). Ponderemos o sentido dessas três orações de Cristo. As três mais importantes obrigações ou necessidades da Igreja se acham diretamente asso ciadas ao cumprimento de tais súplicas: 1. a conquista do mundo pela mensagem do evangelho; 2. que a glória do Pai repouse sobre a Igreja; 3. o aperfeiçoamento da Igreja. Todos esses objetivos extremamente importan tes possuem ligações com a transformação da Igre- |a num só Corpo, ou são fundamentalmente de pendentes disso. Pois bem: essa oração de Cristo se cumprirá ou não? Ou ela talvez só se cumpra no céu? Não existe ,i menor possibilidade de erro! A oração de Jesus em favor da unidade se refere a este tempo presente — “para que o mundo creia que tu me enviaste”. O maior desafio da Igreja está diante de nós. Precisamos evangelizar o mundo em nosso tempo! 19 Mas poderiamos realizar semelhante tarefa de outra maneira senão seguindo o caminho de Cristo? É preciso que a Igreja se tome um só Corpo. Para que o mundo creia na missão de Cristo, precisamos subordinar nossas ambições pessoais ao bem de todos. Ninguém sairá perdendo se primeiro esco lher o caminho de Cristo. Ainda hoje o Corpo de Cristo se encontra divi dido. O profeta, estendendo a vista por sobre os séculos adia*nte, anteviu de que modo o Corpo de Cristo seria desfigurado. “Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu aspecto estava tão desfigu rado, que não era o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens" (Is. 52:14). Nos dias de Sua carne, o corpo de Cristo foi desfigu rado. De modo que é preciso de novo confessar que o Corpo místico de Cristo se acha tão desfigu rado, que não é o de um homem, e a sua figura não é a dos filhos dos homens”. O CORPO DE CRISTO É UM ORGANISMO A incitante razão pela qual deve a Igreja vir a ser uma só é que ela é mais que uma organização apenas; é um organismo — o Corpo de Cristo na terra. Deus “sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés (isto é, dos pés de Cristo), e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à Igreja, que é o Seu Corpo” (Ef. 1:22-23). Paulo, naquela sua grande Epístola aos Efésios, discute em detalhes essa unidade do Corpo de Cristo. Ele começa dizendo: “Procurando diligente mente guardar a unidade do Espírito no vinculo da paz” (Ef. 4:3). Essa unidade é do Espírito, mas observe que se trata também de algo que não se cumprirá sem a nossa cooperação! 20 O apóstolo fala das sete unidades que devem ser guardadas (v. 4-6): 1. Um só Corpo 2. Um só Espírito 3. Uma só esperança4. Um só Senhor 5. Uma só fé 6 . Um só batismo 7. Um só Deus e Pai COMO A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO PODERÁ SE REALIZAR? A realização da unidade do Corpo de Cristo, assim como nos foi expressamente dita, é obra do Espírito de Deus, que agirá através dos dons sobre naturais dos ministérios que Deus conferiu à Igreja (v. 7-11): 1. Apóstolos 2. Profetas 3. Evangelistas4. Pastores 5. Doutores Fomos igualmente advertidos de que esses dons ministeriais são indispensáveis à tarefa de aper feiçoar a Igreja, até que seus membros “cheguem à unidade da fé”. Um só domministerial que falte, e a obra estará incompleta: “E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evan gelistas, e outros para pastores e douto res, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. 21 Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4:11-13). Esta passagem das Escrituras deve ser lida cui dadosamente. O propósito de Deus é que todo o Corpo de Cristo seja “bem ajustado”, cada mem bro suprindo sua parte “na justa operação” e “crescimento do corpo” (v. 16). A Igreja é um Corpo cujos membros devem-se encontrar de tal maneira unificados, que formem uma só unidade; do contrário, o resultado será um Corpo doente que nunca estará apto para cumprir o propósito de Deus para ele. A SAÚDE DO CORPO ESTÁ EM JOGO O grande reavivamento que se vem espalhando pelo mundo é, basicamente, um reavivamento de cura da alma e do corpo. Há hoje em dia muitos cristãos enfermos do corpo e, o que é de se la mentar, quase sempre também o são da alma. Por que isso acontece? Encontramos uma resposta a essa pergunta em I Coríntios 11 e 12. Aí somos advertidos que o risco que ameaça a saúde e o bem-estar dos membros da Igreja se deve ao fato de que muitos dentre eles não conseguem discernir ou reconhecer o Corpo: “Porque o que come e bebe indignamen te, come e bebe para sua própria con denação, não discernindo o Corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem” (I Cor. 11:29-30). 22 Na comunhão, os cristãos discernem o Corpo do Senhor, que foi dividido em favor do nosso, e por Seus açoites somos curados. Deixar de discer nir devidamente o Corpo do Senhor, pode ter como resultado enfermidade e morte prematura. Mas Paulo se serve de todo o capítulo seguinte para mostrar aos membros do Corpo de Cristo que, ao deixarem de reconhecer o lugar dos outros membros, podem atrair também separação e doen ça para dentro desse Corpo! Veja como I Coríntios 12 trata desse assunto: 1. Os membros do Corpo de Cristo hão de formar um todo, assim como o corpo é apenas um, constituído embora de muitos membros. “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim também é Cristo” (v. 12).2. Pois todos nós fomos batizados em um espírito formando um corpo (v. 13).3. Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis (v. 18).4. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários (v. 22). 5. Não poderá um membro desprezar outro membro, nem dizer: ”Não tenho necessida de de ti” (v. 21). 6 . Os “membros devem ter igual cuidado uns dos outros” (v.25). 7. Se “um membro padece, todos os mem bros padecem com ele” (v. 26). 8 . Se “ um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (v. 26). 9. Deus dispôs os membros no Corpo na seguinte ordem (v. 28): 1. Apóstolos2. Profetas 23 3. Mestres (Doutores)4. Milagres 5. Dons de cura 6 . Socorros 7. Governos 8 . Diversidade de línguas Este capítulo deixa bem claro que o Corpo de Cristo é um só, “pois por um só Espírito sois todos batizados no Corpo”. Nenhum membro poderá dizer de outro: “Não tenho necessidade de ti”. Todos devem cuidar uns dos outros. Todos têm o propósito de servir na edificação do Corpo de Cristo. O que acontecerá se deixarmos de reconhecer todos os membros do Corpo de Cristo? Existe algu ma condenação para isso? De certo que sim. Paulo adverte os que não “discernem” o Corpo do Se nhor — fraqueza, enfermidade e até mesmo morte para os que deveríam ser membros sadios do Cor po de Cristo. O que fazer então? O imperativo que hoje se nos impõe é que nós, como membros do Corpo de Cristo, devemos reconhecer os membros como sendo um único Corpo. Não podemos mais dizer a nenhum deles: “Não tenho necessidade de ti”. Só quando a Igreja reconhecer os membros do Corpo inteiro, estará ela em condições de provar ao mun do que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Só então poderá revestir-se da glória que Jesus lhe conce dería. Só então poderá marchar em frente, rumo à perfeição. Podemos organizar nossos esforços para a prá tica do evangelismo, mas não podemos organizar o Corpo de Cristo. Ele já foi organizado. Já é um organismo. O Espírito que lhe traz motivação e o leva a funcionar é o Espírito de Deus. Os dons que se manifestam no Corpo são sobrenaturais, e não 24 de origem humana. A única coisa que podemos fazer é reconhecer os membros na sua individuali dade. Devemos, de fato, reconhecer o que Deus já fez. É Ele que fez com que o Corpo de Cristo fosse apenas um. Devemos reconhecer o que Ele fez. HÁ PODER NA UNIDADE Era intenção de Cristo que Sua Igreja exercesse grande poder sobre a terra. “Recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas” (Atos 1:8). Por que tem sido tão pequena a força espiritual da Igreja? Por que a evangelização tem sido de lentidão tão penosa? Por que a Igreja ainda não conseguiu levar o mundo como um todo a assumir seriamente sua missão? Não terá sido por ter dito aos seus membros: “Milagres, dons de cura, não tenho necessidade de vós”? Se a Igreja deseja forças para alcançar o mundo nesta nossa geração, é necessário que ela se tome apenas uma, que reconheça todos os seus membros. Assim acabarão crendo que o Pai enviou Cristo ao mundo (João 17:21). ALTERNATIVA DA IGREJA PARA A CALAMIDADE Até o reino de Satanás depende de certa unida de. Por isso, disse Jesus: “Todo reino dividido con tra si mesmo será assolado, e a casa dividida contra si mesma cairá. Ora, pois, se Satanás está dividido contra si mesmo, como substituirá o seu reino?” (Lucas 11:17-18). Se o reino de Satanás não pode substituir, dividido contra si mesmo, que dizer da Igreja? Que dizer dela na presente geração? Subsis tiremos juntos? Poremos de lado nossas mesqui nhas diferenças? Perceberemos a tempo que todos precisamos uns dos outros? 25 Ainda agora a igreja secular vem reunindo suas forças. Encontrou afinidade em elementos que se opõem ao sobrenatural. Essa igreja modernista representa-se a si mesma, ousadamente, como a Igreja. O que acontecerá em tempo de crise nacional? Quando as nações partirem para a luta de vida ou morte pela sua existência, a verdadeira Igreja estará tão dividida que não lhe restará nenhuma voz, nenhum reconhecimento como tal? Não saberá tudo sobre o futuro. Mas de uma coisa estará certa: é indispensável que os homens que compõem o Corpo de Cristo reconheçam urgente mente todos os que estão “do nosso lado”, que proclamem corajosamente essa unidade e não per mitam que barreira alguma se erga para ameaçá-la, seja como for. Na unidade há força. Josué incentivou os filhos de Israel quando disse: “Um só homem dentre vós perseguirá a mil...” (Josué 23:10). Moisés declarou que dois “poriam em fuga dez mil”. Um perseguirá mil, mas dois — dez mil! A Igreja não é um agre gado de individualistas; é um organismo vivo, envolvido por um único Espírito e trabalhando por uma causa e objetivo comuns. Neste momento é importante lembrarmo-nos da extraordinária profecia do Sumo Sacerdote que tomou parte na conspiração da morte de Cristo. Ninguém negaria ter achado estranho que o Espí rito de Deus se utilizasse de uma pessoa dessas para comunicar uma profecia de tão profundo significado sobre a unidade vindoura do povo de Deus. No entanto, esse homem, com toda a sua enorme responsabilidade pela morte do corpo físico de Cristo, foi quem profetizou: “... que Jesus haveria de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo 26 os filhos de Deus que estão dispersos” (João 11:51-52). Ora, se Deus pode transformar a ira de um homem em louvor a Ele próprio e levar os ini migos de Cristo a testemunhar do triunfo de Seu corpo, quem poderia detero eventual cumprimento de uma profecia divina? 27 Capítulo III OBSTÁCULOS À UNIDADE DO CORPO Sendo, pois, evidente que o plano de Deus para a Igreja, conforme demonstram as Escrituras, é que ela se tome uma só, e que tanto a sua perfeição quanto o bem-sucedido cumprimento da ordem di vina, para que se evangelize o mundo, dependem dessa unidade, quais as causas principais que impe diram a consecução desses objetivos? É óbvio que deveriamos descobrir quais as medidas necessárias para que se efetue a cura. AMBIÇÃO PESSOAL Se queremos que o Corpo de Cristo funcione harmoniosamente, é necessário que todo membro se adapte ao lugar que Deus ordenou para ele. “Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis” (I Cor. 12:18). Porém, como explica o apóstolo Paulo no mesmo capítulo, nem todo membro, infelizmente, se acha satisfeito 28 com o lugar que Deus lhe reservou. Ou então se recusa a reconhecer a posição que Deus reservou a outro membro. Daí, como resultado, o “cisma” no- interior do Corpo. Essa situação perturbou até mesmo o grupo apostólico. Os apóstolos nem sempre estavam livres da ambição carnal. A mãe de Tiago e João, a exemplo de outras mães, e não poucas, era am biciosa no tocante a seus filhos. Tanto assim que procurou Jesus e Lhe fez um apelo, em favor deles, provocando ali mesmo, na hora, a indignação dos outros discípulos. Pediu que se permitisse que um de seus filhos se sentasse à direita dele, e o outro à esquerda, quando já estivessem em Seu reino. 0 resultado já era de se esperar. “E ouvindo isso os dez, indignaram-se contra os dois irmãos” (Mat. 20:24). Se Jesus não estivesse lá para reagir à altura da situação, o incidente teria aberto uma brecha no grupo apostólico. Jesus reprovou a mãe dos dois discípulos e mostrou que esse desejo de que ambos fossem colocados acima dos demais apóstolos era incompativel com o Espírito de Deus. Não seria desta forma que alcançariam a magnifi cência. “Porque nem do oriente, nem do ocidente, nem do deserto vem a exaltação. Mas Detis é o Juiz; a um abate, e a outro exalta” (Salmo 75: 6- 7). A ambição interesseira, no final das contas, só faz malograr sua própria finalidade. Cabe aos membros do Corpo de Cristo não invejar uns aos outros, mas cumprir o propósito para o qual foram convocados. A ambição pessoal é a causa principal da desu nião. É um desejo humano natural querer sobres sair, tomar-se grande aos olhos humanos, ser con siderado um grande pregador, um grande evange lista, ter a maior igreja, contar com a mais concor rida escola dominical. Pode ser que, para se atingir o ápice da pirâmide, tenhamos de empurrar alguém 29 para baixo. Decerto que não há nada de errado em se desejar fazer uma grande obra para Deus, mas fazê-la de tal maneira que se provoque o ciúme e a inveja dos outros, isso é errado. Se queremos unir o Corpo, devemos evitar que se despertem as emulações resultantes do espírito de competição do homem. Somos todos membros de um único Cor po, razão para que nenhum membro se regozije contra o outro. “De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (I Cor. 12:26). Princípio n. 1: Se desejamos a unidade no Corpo de Cristo, devemos subordinar a ambição pessoal ao bem de todo o Corpo. “Todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Lucas 18:14). TENDÊNCIA A DIVIDIR-SE POR INFLUÊNCIA DE PERSONALIDADE Paulo, quando escrevia à Igreja de Corinto, notou com pesar que já começavam a aparecer divisões entre os seus membros. Percebeu que não estavam perfeitamente unidos no mesmo pensa mento e no mesmo parecer (I Cor. 1:10). Dizia um dos membros que ele era de Paulo. Outro dizia ser de Apoio, outro de Pedro, e ainda outro de Cristo. Paulo ficou alarmado com a situação. Não quis acolher a idéia de que se tornara líder de uma “panelinha”, isto é, de um grupo isolado. Só havia uma Igreja, um só Corpo de Cristo. Ele era um apóstolo junto à Igreja, não o líder ambicioso de uma nova seita. Ele fez os coríntios verem que, em bora diferentes pessoas trabalhassem na vinha de Deus, do Senhor é que provinha o crescimento. Paulo estava lidando com uma das fontes mais férteis da desunião na Igreja: aquela que surge do 30 problema da personalidade. A causa disso, às vezes, são as próprias pessoas, tal como ocorreu na Igreja de Corinto. Elas incitam o crescimento de lideranças em torno de sua personalidade. A História mostra não poucos casos de líderes que se deixaram influenciar tanto, que acabaram desenvol vendo uma espécie de complexo messiânico. A conseqüência disso foi um sectarismo da forma mais extrema que se pode imaginar. A História mostra também que quando um grupo qualquer se toma preso à idéia de que só ele representa o Corpo de Cristo, o que vem pela frente é calami dade na certa. É patente que nenhuma organização humana pode identificar-se como representante do Corpo total de Cristo. O poder de instalar os membros no Corpo de Cristo não é dado ao homem; é uma prerrogativa do Espírito de Deus. “Pois, em um só Espírito, fomos todos nós batizados em um só corpo” (I Cor. 12:13). A Igreja de Corinto estava a ponto de se fragmentar em seitas, cada um seguindo uma liderança diferente. Paulo mostrou que isso estava errado. Deus não se achava no meio disso. Foram todos batizados num só Corpo, e a tentativa de desdobrá-lo em vários outros corpos era algo que se desviava inteiramente de Seu plano. Deus estabeleceu os membros em sua Igreja como lhe aprouve. Tudo que podemos fazer é reconhecer o que Ele fez. Uma só Igreja. Estará agindo erroneamente qualquer líder que aliene seus seguidores dos outros membros do Corpo de Cristo. A verdadeira Igreja representa a comunhão entre todas as pessoas que Deus instalou no Corpo. Princípio n. 2: Os membros do Corpo de Cristo não devem incentivar seus líderes a levantar muros que, de uma forma ou de outra, dividam a comunhão do Corpo de Cristo. 31 DIFERENÇAS DOUTRINÁRIAS O apóstolo Paulo, no capítulo em que trata do amor divino, declara: “Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhe cerei plenamente, como também sou plenamente conhecido” (I Cor. 13:12). Sendo isso verdade, parece fora de dúvida que a perfeita unidade doutrinária jamais será alcançada, em todos os seus pormenores, no momento. Qualquer tentativa de impor a conformidade doutrinária em todos os pontos só resultará em graves disputas e con tendas. Ministros que ocupam o púlpito da mesma denominação costumam discordar entre si sobre determinados assuntos. O mesmo indivíduo, no curso de uma vida, modifica seus pontos de vista uma série de vezes. A comunhão entre pessoas imperfeitas não pode basear-se na conformidade doutrinária sobre todos os pontos. Deve, antes, basear-se no que está no coração, e não no que está na cabeça. As controvérsias doutrinárias mar caram presença na Igreja primitiva. A mais famosa girou em tomo da circuncisão. A Igreja de Jeru salém, com seu quadro de membros oriundos do judaísmo, estava certa de que, sem circuncisão, nin guém seria salvo. “Então alguns que tinham desci do da Judéia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes, segundo o rito de Moisés, não po deis ser salvos” (Atos 15:1). Dispunham de um for te argumento em favor de sua tese: a circuncisão fora recebida como legado de Abraão, confirmado pela Lei mosaica. Os judeus teriam antes preferido a morte a desistir da circuncisão. Observe-se como o Espírito Santo e os após tolos tratavam desse assunto. A ninguém foi dito que a circuncisão já se não fazia necessária. Tam- 32 pouco procuraram os apóstolos explicar a mudança de dispensação que vinha ocorrendo. Obviamente em se tratando dos judeus da Igreja de Jerusalém, estreitos de visão como eram, seria impossívelfazê- los entender as razões pelas quais a circuncisão se tornara desnecessária. Deus mesmo, quando jul gasse oportuno, cuidaria desse problema (o que de fato ocorreu, quando os judeus foram dispersos, no ano 70 da Era Cristã). A Igreja não proibia que os judeus fossem circuncidados; nem eles tampouco exigiam que os gentios o fossem. Mostravam desta maneira que as diferenças de crença, nessa questão pelo menos, não era necessária para a comunhão entre eles. Aos judeus permitia-se prosseguir com a circun cisão, ao passo que os gentios gozavam do direito de permanecer incircuncisos. Dispunha assim cada grupo de liberdade de consciência nesse assunto, com a condição única de não deixar que ele se transformasse em matéria de disputas.Essa questão de manter a unidade do Corpo de Cristo é mais importante que o zelo de resolver diferenças insignificantes de ponto de vista doutrinário. Afinal de contas, a verda deira unidade não se alcança nem mesmo entre aqueles que concordam entre si doutrinariamente, exceto quando cingidos pelo Espírito de Deus. Logo, não é pela conformidade sobre todos os pormenores da doutrina que se há de produzir a unidade da Igreja, mas pela obra do Espírito, que funde o povo de Deus num só Corpo. Existe, é certo, uma concordância doutrinária do que é básico e que envolve os princípios dos ensinamentos de Cristo. Disso falaremos mais detalhadamente no próximo capítulo.Principio n. 3: Não se deve permitir que o Corpo de Cristo se divida pela falta de completa 33 concordância com detalhes doutrinários — a ver dadeira unidade vem do coração, e não da cabeça. SECTARISMO Três incidentes relatados nas Escrituras, em Lucas.9, poderíam, à primeira vista, não apresentar relação alguma entre si. Mas apresentam, pois se trata de certas inclinações da natureza humana que sempre dificultam a obra do Espírito, quando Ele busca reunir os membros do Corpo de Cristo em harmoniosa relação uns com os outros. O primeiro incidente diz respeito a uma falha. Os discípulos haviam tentado expulsar o demônio de uma criança, mas, por falta de fé, fracassaram no seu intento. O Senhor dissera que se dois den tre eles estivessem de acordo sobre alguma coisa, por certo que teriam sucesso na busca do fim alme jado. Mas não estavam unidos a esse princípio, e o próximo incidente irá mostrar por quê. Na verdade, eram rivais entre si, cada um pretendendo ser o maior dos discípulos de Jesus. A ambição pessoal resultara numa disputa entre eles, visando à con quista de posições. “E suscitou-se entre eles uma discussão sobre qual deles seria o maior” (Lucas 9:46). O Senhor lhes mostrou que esses motivos eram errados; que, ao invés de desejarem pela conquista de preeminência, deveríam ambicionar, isto sim, o ser como uma criança. E “aquele que entre vós é o menor, esse é grande” (Lucas 9:48). O desejo de poder e de uma boa posição, entretanto, ainda não havia sido expulso da cabeça dos discípulos. O lugar que Jesus lhes reservara colocava-os em pé de igualdade entre si, mas, em relação a outras pessoas, o mínimo que ocorria era se acharem superiores. Vendo um homem sem credenciais apostólicas expulsar demônios, João o convidou a unir-se ao grupo. Para indignação do 34 apóstolo, o homem recusou o convite, e João or denou-lhe então que não expulsasse mais demô nios. Mas Jesus anulou a excomunhão do apóstolo. Pediu mesmo que João não lhe “proibisse” a prática da boa obra; pelo contrário, que lhe permitisse continuá-la. Jesus mostrou que o sectarismo de João mili- tava contra a causa apostólica. Declarou que esse homem estava do lado deles. “Pois quem não é contra nós, é por nós” (Marcos 9:40). Ao expulsar demônios em nome de Jesus, ele havia cerrado fileiras na guerra comum contra o inimigo. Em lugar de atrito, um espirito de mútuo entendimento é que deveria estabelecer-se entre o grupo apos tólico e aquele homem. Essas palavras de Jesus eram de grande signi ficação. Os doze apóstolos haveríam de se tomar uma peça importante na fundação da Igreja. Certa mente, era para que se associassem oficialmente a esses homens que detinham um lugar tão impor tante na Igreja. Contudo, pela fé, e em nome de Jesus, antes que por quaisquer credenciais apos tólicas, é que a Igreja haveria de cingir-se por meio da comunhão. Deus abençoaria esse obreiro inde pendente, se ele preferisse continuar trabalhando sozinho pela causa comum. Ao invés de repreendê- lo, deveríam é tê-lo incentivado. A base da comu nhão estaria assentada em Deus, não nos apósto los. O homem precisa reconhecer essa comunhão. O homem estava expulsando demônios em nome de Jesus. Esse seu gesto de operar milagres era um bom sinal de que a bênção de Deus pairava sobre ele. Por isso, cabia aos discípulos não apenas incentivá-lo, senão também ajudá-lo naquilo que estivesse ao alcance deles. Sublinhando o preceito, Jesus ainda acrescentou: “Por que qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, na verdade vos 35 digo que de modo algum perderá a sua recom pensa” (Marcos 9:41).Princípio n. 4: Mesmo que a pessoa não per tença a uma organização credenciada, ainda que seja a Igreja Apostólica, se ela estiver fazendo uma boa obra, devemos reconhecer nela um co-obreiro e membro do Corpo. 36 Capítulo IV A DOUTRINA DE CRISTO — BASE DA COMUNHÃO A despeito do que ficou dito no capítulo ante rior, havemos de convir que há certas doutrinas fundamentais que são absolutamente necessárias à verdadeira comunhão cristã. A descrença em qual quer desses elementos fundamentais, ou o hábito de fazer oposição a estes, foi causa de rompimento da comunhão na Igreja Apostólica. Qual a base doutrinária da comunhão dos mem bros do Corpo de Cristo? Ou, dito de outra manei ra, em que base se assenta a falha da comunhão? O apóstolo João nos dá a resposta: “Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus; quem permanece neste ensino, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz este ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis" (João 9-10). 37 A base doutrinária da comunhão, portanto, é a crença nos princípios da doutrina de Cristo e a prá tica dos mesmos. Em que parte do Novo Testamento podemos encontrar uma declaração desses principios básicos da doutrina de Cristo? Encontramo-la em Hebreus 6 : 1- 2 : “Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fun damento de arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e o ensino sobre batismo e imposição de mãos, e sobre ressurreição de mortos e juízo eterno”. Aqui encontramos as seis coisas, além de uma sétima, implícita, que compreendem os princípios da doutrina de Cristo. Também somos informados de que se uma pessoa negar ou esquecer essa dou trina, ela põe em risco sua parte no Corpo de Cristo. Eis os sete princípios: 1. Arrependimento das obras mortas 2. Fé em Deus 3. Doutrina dos batismos 4. Imposição das mãos 5. Ressurreição dos mortos 6 . Juízo eterno7. O prosseguirmos “até a perfeição” Até aqui já se redigiram inúmeras profissões de fé, e muita controvérsia tem sido levantada tendo por tema o que deveria incluir-se em tàis declara ções e o que deveria ser deixado de fora. Temos aqui uma lista inspirada, contendo os elementos essenciais. Exclui-se a controvérsia, a menos que se 38 queira disputar com inspiração. A doutrina de Cris to contém sete princípios. Honestamente, pode-se ignorá-los, mas desviar-se deles, uma vez que já se tomaram conhecidos, é “cair fora” e se tomar um apóstata. “Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vin douro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novoo Filho de Deus, e o expondo ao vitupério” (Heb. 6:4-6). A doutrina de Cristo provê: 1. Iluminação 2. A prova do dom celestial 3. Participação do Espírito Santo 4. A prova da boa palavra de Deus 5. E dos poderes do mundo vindouro Isso, verdadeiramente, representa uma expe riência apostólica! A experiência acima descrita provê a base da comunhão apostólica. Examine mos agora esses sete princípios da doutrina de Cristo. DOUTRINA 1 — ARREPENDIMENTO DAS OBRAS MORTAS É o arrependimento que chega em primeiro lugar na doutrina de Cristo. Crer nEle, sem arre pendimento, não basta. Disse Jesus aos judeus religiosos: “... se não vos arrependerdes, todos de 39 igual modo perecerão” (Lucas 13:3). O homem natural, se de alguma forma acredita na salvação, a salvação em que acredita é a das obras. Mas só através do “sangue de Cristo” seremos purificados da “obras mortas para servirmos ao Deus vivo” (Heb. 9:14). Foi essa a grande doutrina que Martim Lutero recuperou para a Igreja na Reforma. A Igreja me dieval era cheia de obras mortas. Ela intercedia junto aos santos, jejuava, modificava o corpo, reza va o terço, comprava indulgências, fazia romaria — tudo isso num tremendo esforço para obter a salva ção. Mas era tudo inútil. Sem arrependimento não há base para comunhão. DOUTRINA 2 — FÉ EM DEUS O próximo grande princípio da doutrina de Cristo é a fé em Deus. Fé, não nas obras mortas, mas em Deus, através de Cristo. A segunda grande verdade proclamada pela Reforma foi esta: “O justo viverá pela fé”. Cristo mostrou que ter fé nEle é ter fé em Deus. “Ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). Nenhuma doutrina bíblica é mais importante que a doutrina da fé no Senhor Jesus Cristo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. Quem crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3:35-36). DOUTRINA 3 — DOUTRINA DOS BATISMOS 40 Batismo pela água Note-se que o terceiro princípio não é a doutri na do batismo, mas a doutrina dos batismos. Algumas pessoas acreditam em batismo, mas não em batismos. O batismo pela água é o primeiro batismo. Jesus mostrou ser essa a Sua doutrina quando dis se: “Quem crer e for batizado será salvo” (Marcos 16:16). Pedro explicou que o batismo pela água é uma figura ou símbolo de uma obra interna — “a resposta de uma boa consciência”. "... que também agora, por uma verda deira figura — o batismo — vos salva, o qual não é o despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressur reição de Jesus Cristo” (I Pedro 3:21). A resposta de uma boa consciência nos salva. Paulo mostra, especificamente, que a controvérsia sobre o batismo não nos salva. “Será que Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado por amor de vós? Ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei, senão a Cristo e a Gaio; para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. E verdade, batizei tam bém a família de Estéfanas, além, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tomar vã a cruz de Cristo (1 Cor. 1:13-17). 41 O batismo é a resposta de uma boa consciência perante Deus. Um símbolo externo de iniciação no Corpo de Cristo. Paulo proibiu que o rito do batis mo fosse usado para dividir o Corpo de Cristo, derrotando desta maneira sua própria finalidade. Ele se negou a batizar em Corinto, para que seu ato não se transformasse num instrumento de divi são da Igreja. A questão foi entregue aos ministros locais. A doutrina de Cristo proclama: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16:16). Batismo no Espírito Santo Além do batismo na água, há o batismo no Espírito Santo. Essa é a doutrina de Cristo, que disse: “João batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias” (Atos 1:5). Foi essa a experiência que os 120 receberam no dia de Pentecostes, e que Pedro disse que “vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2:39). Ao mesmo tempo em que lhes falou da futura experiência no Pentecostes, Jesus também revelou a grande finalidade dela: poder para evangelizar o mundo. “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis teste munhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1:8). A doutrina do batismo no Espírito Santo é um princípio básico da doutrina de Cristo. João Batista falou de Cristo batizando Seu povo no Espírito 42 Santo (Mat.3:11-12). Os que rejeitaram a Cristo eram a palha, que queimaria no fogo que nunca se apaga. Batismo em um só Corpo Associado ao batismo no Espírito Santo existe o ato pelo qual o Espírito Santo batiza os membros de Cristo' em um só Corpo. Os homens podem juntar-se a uma organização humana, mas só se tornam membros do Corpo de Cristo através do batismo pelo Espírito no Corpo. “Pois em um só Espírito fomos todos nós batizados em um só Corpo”(I Cor. 12:13). O Espírito de Deus colocou Cristo como Cabeça do Corpo, e todo crente verdadeiro como membro do Corpo. A doutrina dos batismos nos compele, desta forma, a aceitar e reconhecer a unidade de todos os crentes verdadeiros. Visto que o Espírito coloca membros no Corpo, nenhuma personalidade humana poderá dominar ou romper essa relação sem violar a integridade do Corpo de Cristo. Quem são os membros batizados pelo Espírito Santo em um só Corpo? Temos uma lista deles em I Coríntios 12:27-28: “Ora, vós sois Corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja..." 1. Primeiramente, apóstolos 2. Em segundo lugar, profetas 3. Em terceiro, mestres (doutores) 4. Depois, operadores de milagres5. Depois, dons de curar6 . Socorros7. Governos 43 8 . Variedade de línguas 9. (Cristo é o Cabeça) Esses membros do Corpo de Cristo estão habili tados a prestar serviço através de certos dons que lhes são concedidos pelo Espírito Santo. São estes os dons: 1. A palavra de sabedoria 2. A palavra de conhecimento 3. Fé4. Dons de cura 5. Operação de milagres 6. Discernimento de espíritos 7. Profecia 8 . Variedade de línguas O reconhecimento dos dons do Espírito e dos dons de ministério que Deus concedeu à Igreja é, essencialmente, a doutrina de Cristo, pois o Espí rito Santo, através do batismo, instala esses mem bros na Igreja. (Observação: A ordem teológica desses três batismos não é, necessariamente, a ordem que temos utilizado.) A Ceia do Senhor Como o batismo pela água é o símbolo externo do batismo em Cristo (Rom. 6:3), assim também a divisão do pão na Ceia do Senhor é o símbolo do habitar de Cristo dentro de nós e do nosso habitar nEle (João 6:56). Tomamo-nos membros do Corpo de Cristo quando participamos de Cristo pela fé. “O pão que partimos, não é porventura a comunhão do Corpo de Cristo? Por que nós, embora muitos, somos um só pão, e um só corpo; porque todos par 44 ticipamos de um mesmo pão” (I Cor. 10:16-17)). Este comer do Corpo de Cristo, através do qual nos tomamos parte de Seu Corpo, é uma das Suas grandes doutrinas. O Senhor repetiu seguidamente esta verdade em Seu grande sermão, em João 6 : “Disse-lhe Jesus: Em verdade, em verda de vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha came e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a mi nha came verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebi da. Quem come a minha came e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (João 6:53-56).Os que participam de Cristo na fé, habitam em Cristo e, por isso, são parte de Seu Corpo. Essa doutrina de Cristo é absolutamente essencial à comunhão. Alguns que haviam acompanhado o Senhor até essa época foram incapazes de aceitar essa doutrina. Quando a ouviram, viraram as costas e não andaram mais com Ele. “Por causa disso muitos dos seus discí pulos voltaram para trás e não andavam mais com ele (João 6 :66). DOUTRINA 4 — A IMPOSIÇÃO DAS MÃOS O próximo princípio básico da doutrina de Cristo é o da imposição das mãos. Isso tem sido 45 praticado pela Igreja há muito tempo, mas quase sempre sem fé e sem a unção de Deus. Nesse caso, trata-se apenas de uma formalidade, de uma ceri mônia.A imposição das mãos era uma doutrina do Velho Testamento. Josué recebeu o espírito da sa bedoria através da imposição das mãos de Moisés, ato este que havia sido autorizado pelo Senhor (Num. 27:18,23). “Ora, Josué, filho de Num, foi cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés lhe tinha imposto as mãos” (Deut. 34:9). A imposição das mãos para curar Jesus iniciou Seu ministério de cura impondo as mãos sobre enfermos. “E não podia fazer ali ne nhum milagre, a não ser curar alguns poucos enfer mos, impondo-lhes as mãos” (Marcos 6:5). Na Grande Comissão, Cristo menciona a impo sição das mãos. Ele ordenou a seus discípulos que impusessem as mãos sobre os enfermos, para recu peração dos mesmos. “Porão as mãos sobre os enfermos, e estes serão curados" (Marcos 16:18). Os apóstolos acataram essa ordem em seu minis tério junto aos enfermos, na Igreja primitiva. “E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (Atos 5:12). Paulo recuperou a visão através da imposição das mãos de Ananias (Atos 9:17-18). A imposição das mãos para receber o Espírito Santo Com exceção das duas efusões espontâneas, ainda no início, a recepção do Espírito Santo só se dava pela imposição das mãos. Foi assim, por 46 exemplo, que os crentes da Samaria receberam o Espírito Santo, isto é, pela imposição das mãos de Pedro e João. “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que os de Samaria haviam recebido a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João; os quais, tendo descido, oraram por eles, para que recebessem o Espírito Santo. Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido mas somente tinham sido batiza dos em nome do Senhor Jesus. E então lhes impuseram as mãos, e eles recebe ram o Espírito Santo” (Atos 8:14-17). Os discípulos, em Éfeso, receberam o Espírito Santo pela imposição das mãos de Paulo. “Paulo... chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos [e]... havendo-lhes im posto as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo" (Atos 19:1,6). O próprio apóstolo Paulo recebeu o Espírito Santo pela imposição das mãos de um obscuro dis cípulo, Ananias (Atos 9:17). Isso mostra que esse ministério não estava reservado exclusivamente para os apóstolos. Imposição das mãos para os dons de ministério Pratica-se também a imposição das mãos para os diversos ministérios. No caso de Paulo e Bar- nabé, após terem ministrado ao Senhor com ora ção e jejum, veio o Espírito Santo e os separou para determinada tarefa. Impuseram sobre eles as 47 mãos, e a partir daí foram enviados para fora, a cumprir sua missão. “Enquanto eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito San to: Separai-me a Bamabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impu seram as mãos, os despediram” (Atos 13:2-3). Pela imposição das mãos Timóteo recebeu um dom. “Não desprezes o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a im posição das mãos do presbitério” (Tim. 4:14). “Por esta razão te lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti pela im posição das minhas mãos” (II Tim. 1:6). Vemos que, no caso de Timóteo, o dom foi ministrado a ele no momento em que lhe eram im postas as mãos, momento este seguido de profe cia. Mais tarde Paulo o admoestou a despertar o dom que lhe havia sido concedido naquela ocasião. É evidente que, na imposição de mãos, o ho mem coopera com Deus. Mas as Escrituras não nos ensinam uma imposição de mãos indiscrimi nada. Paulo adverte Timóteo para que “a ninguém imponhas precipitadamente as mãos” (I Tim. 5:22). Timóteo era um converso de Paulo, a cujos pés se sentava e com quem trabalhou por muitos anos. Paulo conhecia o passado, a formação de Timóteo, e sabia da fé de sua mãe e sua avó (II Tim. 1:5). Antes mesmo de impor-lhes as mãos, Paulo já sabia dessas coisas. 48 Atos 13 nos fala da separação entre Paulo e Bamabé, feita pelo Espírito Santo, com vistas a um ministério especial. Foi esse chamado do Espírito Santo precedido -de jejum e oração. Impuseram- lhes então as mãos e eles foram enviados para fora. Estes homens enviados em missão não eram noviços, mas obreiros já experientes, amadure cidos. Só 9 Espírito Santo concede dons para o minis tério. É uma prerrogativa dele. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repar tindo particularmente a cada um como quer (I Cor. 12:11). Assim é que Deus levou Moisés a impor as mãos sobre Josué, quando ele foi comissionado para um ministério especial (Num. 27:18-23). A iniciativa da concessão de dons pertence a Deus; ao homem cabe a iniciativa de despertá-los. DOUTRINA 5 — A RESSURREIÇÃO O quinto princípio básico do ensinamento de Cristo é a doutrina da ressurreição dos mortos. Esse glorioso evento ocorre simultaneamente com o Advento do Senhor: “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressus citou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tomará a trazer com ele.Digo-vos, pois, isto, pela palavra do Se nhor, não precederemos os que dor mem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcan jo, e com a trombeta de Deus; e os que 49 morreram em Cristo ressuscitarão primei ro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” (I Tess. 4:13-17). Jesus fez dela a Sua doutrina quando, ao falar da ressurreição dos mortos, em João 5, disse: “Não vos maravilheis disto; porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz. E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal para res surreição da condenação” (João 5:28- 29). A ordem dessas duas ressurreições é revelada em Apocalipse 20. A doutrina da ressurreição dos que morreram como justos e o evento simultâneo da Segunda Vinda de Cristo, em favor dos santos que ainda permaneçam vivos, é um princípio essencial da doutrina de Cristo. Ele mesmo nos fala desse evento em Mat. 24:30-31. A gloriosa verdade da ressurreição de todos os mortos foi confirmada e certificada pela ressurrei ção de Jesus Cristo (I Cor. 15:12). Este é o quinto grande princípio da doutrina de Cristo. DOUTRINA 6 — JUÍZO ETERNO Esta solene verdade é parte essencial da dou trina de Cristo. Ele advertiu para a realidade do juí zo ou condenação eterna (Marcos 3:29). Falou de um fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos (Mat. 25:41). Falou do castigo eterno para os maus (Mat. 25:46). Os que tentaram diminuir a 50 seriedade desta verdade ou negar a eternidade do juízo de Deus são do mesmo espírito que carac terizava Satanás quando, no Jardim do Éden, disse a primeira mentira: “Certamente não morrerás.” DOUTRINA 7 — A PERFEIÇÃO O autor do livro de Hebreus afirmou que esses seis princípios da doutrina de Cristo estavam incompletos. Havia mais um: os cristãos deveríam prosseguir “até a perfeição”. É preciso avançar ou morrer. Não que alguns deles já sejam perfeitos, mas é preciso que prossigam até o alvo. “Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigopara alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficaram, e avançando para as que estão diante de mim, pros sigo para o alvo pelo prêmio da sobe rana vocação de Deus em Cristo Jesus”(Fil. 3:12-14). Não interessa saber até que ponto já chega mos, mas se estamos prosseguindo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Esta é a doutrina de Cristo, pois Ele próprio foi quem disse: “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial” (Mat. 5:48). O plano de Deus é que no final Ele terá uma Igreja perfeita. Essa, pois, é a doutrina de Cristo, e os que gostariam de ser membros de Seu Corpo precisam acreditar nela e praticá-la. No que diz respeito a determinadas coisas, “vemos como que através de 51 espelho, obscuramente”, mas são esses os princí pios de Cristo essenciais à unidade do Corpo. Seria impossível ser membro do Corpo de Cristo e não acreditar na sua doutrina. Em verdade, fomos até advertidos para não receber em casa quem não seja portador dessa doutrina. Nem mesmo saudá-lo. 52 Capítulo V EXCLUSÕES BÍBLICAS DA COMUNHÃO NO CORPO DE CRISTO INCREDULIDADE E DETURPAÇÃO DA DOUTRINA DE CRISTO As Escrituras deixam clara a impossibilidade de comunhão entre o crente e os que negam ou per vertem a doutrina de Cristo. A estes não devemos receber em casa, nem mesmo saudá-los: “Todo aquele que vai além do ensino de Cristo e não permanece na sua doutrina, não tem a Deus; quem permanece na dou trina de Cristo, esse tem tanto ao Pai co mo ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Por que quem o saúda tem parte nas suas más obras” (II João 9-11). 53 No Novo Testamento encontramos exemplos de comunhão negada aos que violaram a doutrina de Cristo.No dia de Pentecostes, o Espírito Santo foi der ramado sobre 120 discípulos, que passaram a falar em outras línguas (Atos 1:15; 2:4). Algumas pes soas zombaram dessa manifestação (Atos 2:13) e disseram que os que procediam daquela maneira na verdade estavam embriagados de vinho. Outras, arrependidas em seu coração, indagaram dos após tolos: “Que faremos, irmãos?” (Atos 2:37). Pedro lhes disse então quatro coisas que deveríam fazer (Atos 2:38-39): 1. Arrepender-se 2. Aceitar o Senhorio de Cristo (v. 36-38) 3. Ser batizado4. Receber o Espírito Santo Os que alegremente receberam a palavra de Pedro foram batizados, e naquele dia 3.000 almas agregaram-se à Igreja. Mas os que zombaram e os que rejeitaram a exortação de Pedro, estes não se agregaram. Excluídos os que rejeitam o batismo pela água Os fariseus começaram a rejeitar o Evangelho quando recusaram o batismo de arrependimento: “Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus quanto a si mesmos, não sendo batizados por ele" (Lucas 7:30). Jesus exortou Seus discípulos a que rejeitassem a companhia deles: 54 “Deixai-os; são guias cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mat. 15:14). Deturpação da doutrina da imposição das mãos e o batismo no Espírito Santo Simão, o feiticeiro, viu que as pessoas recebiam o batismo no Espírito Santo através da imposição das mãos. Tentou então comprar esse poder para fins de exploração comercial, achando que o “dom de Deus” passaria, indiscriminadamente, para to dos sobre os quais impusesse suas próprias mãos: “E Simão vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo” (Atos 8:18-19). Pedro repreendeu essa flagrante tentativa de perverter a doutrina de Cristo dizendo a Simão que ele não tinha “parte nem sorte neste ministério”, e que ele perecería com seu dinheiro se não se arrependesse imediatamente. Deturpação da doutrina da ressurreição Himeneu e Fileto deturparam a doutrina da res surreição — espiritualizando-a — ao dizerem que ela já era coisa do passado: “E a palavra desses roerá como gangre na; entre os quais estão Himeneu e File to, os quais se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição era já feita e 55 * assim perverteram a fé de alguns” (II Tim. 2:17-18). Aos que negam a verdade da ressurreição tam bém será negado o privilégio da comunhão. Paulo entregou Himeneu e Alexandre “a Satanás, para que aprendam a não blasfemar” (I Tim. 1:19-20). Hoje $ maioria dos modernistas rejeitam a doutrina da ressurreição física. Os espiritualistas, geralmen te, agem da mesma maneira, ensinando que os mortos continuam ativos num mundo nebuloso, ha bitado por espíritos, e que nada sabem do corpo ressurrecto e glorifiçado. Deturpação da doutrina do juízo final O Livro de Judas fala dos que foram entregues ao fogo etemo. É o caso de Sodoma e Gomorra. Também mostra Enoque, já nos tempos em que antecipa o dilúvio, chamando a atenção de seus contemporâneos para o juízo vindouro. Mas não lhe deram ouvidos. Judas afirmou que em seu tem po também pessoas como essas “se introduziram furtivamente” na Igreja (v. 4). Os santos deveríam estar alertas contra elas e a “pelejar pela fé a qual de uma vez foi dada aos santos” (v. 3). Eis como descreve a inevitável sorte dessa gente: “Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco e apas centando-se a si mesmos sem temor: são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte: são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas impetuosas do mar, que espumam as suas mesmas abominações: estrelas 56 errantes, para os quais está etemamente reservada a negrura das trevas” (Judas 12-13). Esses “escamecedores, que não acreditavam no juízo final, seriam lançados para sempre na negrura das trevas”. Judas disse que estes tinham o Espírito e, por causa de sua concupiscência, provocariam eles mesmos a sua “separação” (Judas 18,19). A veracidade desse fato sempre foi comprovada. Os que não crêem no juízo final também não desejam a comunhão dos que nele crêem. Deturpação da doutrina do “prosseguimento até a perfeição” O autor de Hebreus mostrou aos crentes que não deveríam se deter nos seis princípios da doutrina de Cristo e continuar como bebês “que têm necessidade de leite, e não de alimento sóli do”. Estimulou-os para que se tornassem como “adultos”, que se alimentassem de “alimento só lido”. E resumiu o conselho dizendo: “Prossigamos até a perfeição” (Hebreus 5:11, 6:1). O autor acrescentou ainda que se os homens não avançassem sempre, estariam sujeitos a retro ceder, isto é, a “cair” (v. 6). Ele os comparou a “espinhos”: “Mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada” (Hebreus 6 :8). E assim entendemos que o Corpo de Cristo vive em uma perfeita comunhão, onde os seus mem bros estão unidos por uma fé comum nos sete prin cípios da doutrina de Cristo. 57 IMORALIDADE Houve um caso flagrante de imoralidade na Igreja de Corinto: um homem possuiu a esposa do pai. Paulo censurou asperamente esse relaxa mento de permitir que um imoral continuasse em comunhão com os da Igreja. Mostrou a eles que o impuro precisa separar-se dos puros: “Já por carta vos escrevi que não vos associeis com os que se prostituem; com isto não me referia à comunicação com os fomicadores deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com aque le que, dizendo-se irmão, for fomicador ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador como esse tal nem sequer comais” (I Cor. 5:9-11). Divórcio e novo casamento A santa declaração sobre o matrimônio é que ele deve ser observado com toda a pureza. O ato do divórcio, especificamente,este foi proibido por Cristo, exceto quando se tratasse de fomicação, esse procedimento impuro entre solteiros ou casa dos (I Cor. 5:1), e que também inclui a sodomia (Judas 7). Os que se divorciam e se casam de novo, por razões outras que a ressalvada por Cristo (Mat. 19:9), são culpados de adultério, e os adúlteros e fomicadores, bem o sabemos, são excluídos do reino de Deus (I Cor. 5:11; 6:9). Quanto aos que se envolveram em relações amorosas antes de se converterem, a seguinte de claração, proposta por numerosos grupos reli- 58 giosos, é talvez a que melhor exprima a atitude da Igreja de Cristo com essa gente: “Hoje, entre o povo cristão, há pessoas que, no passado, quando ainda viviam no pecado, se envolveram em relações conjugais embaraçosas e agora não sa bem como resolver o problema. Reco mendamos que esses casos sejam entre gues ao Senhor, e que essas pessoas caminhem na luz, à medida que Deus permita que ela ilumine suas almas." OS QUE SÃO INDISCIPLINADOS OU CAMINHAM DESORDENADAMENTE, SOBRETUDO NAS QUESTÕES FINANCEIRAS Paulo admoestou a Igreja a se afastar dos que procedem sem ordem nem disciplina, sobretudo em suas transações financeiras: “Mandamo-vos, porém irmãos, em no me do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que andar desor denadamente, e não segundo a tradi ção que de nós recebeu” (II Tess. 3:6; e 7-12). Aqui a impugnação visa, particularmente, aos que, ao invés de lutar pela vida honestamente, procuravam subtrair aos outros o que era deles. A advertência é bastante clara: a Igreja deve afastar-se de todos os que procedem desta maneira. O exemplo mais surpreendente de excomunhão por desonestidade talvez seja o caso de Ananias e Safira. A propriedade em questão pertencera a eles 59 mesmos, mas representaram a idéia de que fora integralmente doada ao Senhor, quando, na ver dade, haviam ambos retido para si uma parte dela. Como resultado dessa iníqua e calculada deso nestidade, foram fulminados ali mesmo, no meio da assembléia, pelo juízo do Senhor. Esse foi o pri meiro ato de exclusão na Igreja no Novo Testa mento. Ato que revela a atitude de Deus para com a desonestidade em questões de dinheiro. Os culpados desse terreno serão sempre excluídos da comunhão do Novo Testamento. OS QUE PROMOVEM DISSENSÕES Paulo avisa que os que se inclinam a causar divisões também serão excluídos: “Rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos con tra a doutrina que aprendestes; desviai- vos deles” (Rom. 16:17). O homem que entrasse para uma igreja e, apro veitando a oportunidade, se empenhasse em dividir a congregação ou roubar a lealdade para com seu pastor, certamente seria visto como um agente de divisões, e mui digno de ser disciplinado. LÍDERES ARROGANTES, IRASCÍVEIS E SECTARISTAS NÃO SAO PARA SER SEGUIDOS João adverte que os líderes irascíveis, sectaris- tas, teimosos e intransigentes, que falam em públi co linguagem maliciosa e se opõem à comunhão, não devem ser seguidos: 60 “Tenho escrito à Igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles a preferência, não nos recebe. Pelo que, se eu for, trarei a memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem recebê-los, e os lança fora da Igreja. Amado, não sigas o mal, mas o bem. Quem faz o bem é de Deus; mas quem faz o mal não tem visto a Deus" (III João 9-11). Diótrefes era um líder arrogante e arbitrário, que se opunha ao apóstolo João, reconhecido apóstolo da Igreja. Achando Diótrefes que não lhe davam o devido reconhecimento, passou a falar com linguagem maliciosa aos que não se dobravam diante dele. Também era dado a gabolices. João, que se achava ausente, prometeu tratar com ele na chegada, e nesse ínterim procurou Diótrefes impe dir que a congregação se submetesse à liderança do apóstolo. Nesse caso, entretanto, não há indícios de excomunhão. OS QUE DESONRAM SUA SEPARAÇÃO DO MUNDO Ensina o Novo Testamento que os cristãos são pessoas que se apartaram das coisas do mundo. Estão no mundo, mas não são do mundo. Por isso, não participam dos deleites carnais e loucuras deste mundo que comprometem esta separação. Paulo compara a Igreja a “uma virgem” a ser apre sentada a Cristo. O ato de desonra dessa sepa ração é chamado de fomicação e adultério espiri tuais: 61 “Adúlteros, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Por tanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tiago 4:4). Na Igreja de Tiatira levantou-se uma mulher que se dizia profetisa e que, aparentemente, levou mui ta gente daquela congregação a se desonrar prati cando a fomicação espiritual, O Senhor repreen deu severamente a Igreja por haver tolerado esse estado de coisas: “Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria. E dei-lhe tempo para que se arrependes se de sua prostituição; e não se arrepen deu. Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribu- lação, se não se arrependerem das suas obras” (Ap. 2:20-22). A doutrina de Balaão A doutrina de Balaão era um falso ensinamento da mesma categoria. Balaão foi contratado por Balaque para proferir uma maldição contra os filhos de Israel, mas a maldição dele acabou trans formada numa bênção. Para alcançar seu perverso desígnio, ele ensinou os filhos de Israel a desonrar sua separação casando-se com as mulheres de Moabe (Num. 31:16; 25:1-2), fazendo com que a maldição, desta maneira, sobreviesse aos filhos de Israel. 62 Essa doutrina de Balaão penetrara na Igreja de Pérgamo. O Senhor repreendeu asperamente seus líderes por permitirem que essa falsa doutrina conti nuasse irreprimida: “Entretanto, algumas coisas tenho con tra ti; porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, induzindo-os a comerem das coisas sacrificadas a ídolos e a se prostituírem” (Ap. 2:14). No final da história, o juízo de Deus abateu-se sobre Balaão, e ele foi morto quando os filhos de Israel entraram na terra de Canaã. Qualquer dou trina do suposto profeta ou profetisa que confunda liberdade cristã com libertinagem pode ser consi derada falsa. A Igreja tem obrigação de ser fiel a si própria negando a comunhão com o mundo e as suas obras. A doutrina de uma santa caminhada com Deus era um dos princípios básicos da Igreja primitiva. O apóstolo João mostrou isso claramente quando disse: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a con- cupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupis cência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (I João 2:15-17). 63 OS DE ESPÍRITO FARISAICO Embora o Senhor, em geral, fosse bondoso e paciente para com os pecadores, a denúncia que Ele dirigiu contra os fariseus era extremamente severa. Em Mateus 23:33, Jesus se dirige a eles nestes termos: “Serpentes, raça de víboras! como escapareis da condenação do inferno?” Pode pare cer, inicialmente, que não há relação alguma entre essa afirmação e o assunto de que estamos nos ocupando — isso até compreendermos exatamente quem eram os fariseus. Nem sempre nos damos conta de que Cristo reconhecia nos fariseus os legí timos sucessores de Moisés! Eles eram os funda- mentalistas de seu tempo e poderíam ser conside rados portadores de muitos dos sinais externos do verdadeiro cristão! 1. Jesus reconheceu neles os sucessores ofi ciais de Moisés quando disse: “Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fari seus. Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais con forme as suas obras; porque dizem e
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