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K e n n e th L. Gen t ry Jr. Sam Hamstra j r . C. Marv in Pate R o b e r t L. Thom as O R G A N I Z A D O R DO V O L U H C. Ma r v i n Pa t e ( s / Vida A C oleção D ebates Teológicos, o r g a n iz a d a p o r S tan ley G uiulry , a h r r . c í t p a ç o p a ra » livre tlelvate. a n a l i s a n d o p e n s a m e n t o s d i f e r e n t e s , a le m d e p r o p o n io n a r a o le i t o r a o p o r t u n i d a d e d e se a p r o f u n d a r no c o n h e c i m e n t o e na e o n v n . a o d e te m a s r e l e v a n t e s da t e o l o g ia c r i s t a . IS B N X S -7 3 6 7 -6 6 0 4 J m.__________ _ J Vida E d i t o r a d o g r u p o ZONDERVAN H a r i-e r C o i .i .in s E d i c o r a f i l i a d a à C â m a r a B u a silh ir a d o L iv r o A s s o c ia ç ã o B r a s il e ir a d e E d i t o r j ;s C r is t ã o s A s s o c ia ç ã o N a c io n a i d e L iv r a r ia s A s s o c ia ç ã o N a c io n a l d e L iv r a r ia s E v a n g é l ic a s A s s o c ia ç ã o B r a s il e ir a d l M a r k e t i n g D i r e t o D ir e ç ã o e x e c u tiv a E u d e M a r t in s S u p e r v is ã o de p r o d u ç ã o S a n d r a L e i t f . G e r ê n c ia f in a n c e ir a S é r g i o L im a G e r ê n c ia de c o m u n ic a ç ã o e m a rk e tin g S f r g i o P a v a r in i G e r ê n c ia e d i to r ia l JFa b ia n i M e d e i r o s S u p e r v is ã o e d i t o r ia l A l d o M f n f z h s Editorias OBRAS d e in t e r e s s e g e r a l OBRAS PARA IGREJA E FAMÍLIA OBRAS TEOLÓGICAS E DE RF.FKRÊNC1A OBRA EM LÍNGUA PORTUGUESA OBRAS INFANTIS K JUVENIS BÍBLIAS S t á i j ' j 1- t í . t t U y Interpretações do A PO C A LIPSE P r e t e r i s t a K e n n c t h L. Gen t r y j r . I d e a l i s t a Sam I lamstra Jr. D i s p e n s a c i o n a l i s t a p r o g r e s s i v o C. Marv in Pate D i s p e n s a c i o n a l i s t a c l á s s i c o R o b e r t L. T h o n ia s C. Marvin Pate T r a d u ç ã o V i c t o r D e a k i n s t e / Outros volumes da Coleção Debates Teológicos Cessaram os dons espirituais? Lei e evangelho ©2001, de C. Marvin Pate, Kenneth L. Gentry Jr., Sam Hamstra, Roberc L Thomas Título do original Four views on the book o f Revelation, edição publicada pela ZONDERVAN PUBLISHING H ü U SE (Grand Rapids, Michigan, eu a ) ■ Todos os direitos em língua portuguesa reservados por E d it o r a V id a Rua Júlio de Castilhos, 280 * Belenzinho c e p 03059-000 « São Paulo, sp Telefax 0 xx 11 6096 6814 www.editoravida.com.br P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e io s , SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE. Todas as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional (n v i) , ©2001, publicada por Editora Vida, salvo indicação em contrário. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( c ip ) (Câmara Brasileira do Livro, S P , Brasil) O Apocalipse : quatro pontos de visca /C. Marvin Pate , (org) ; tradução Victor Deakins. — São Paulo : Editora Vida, 2003. — (C ok*B U e b a te s Teológicos) http://www.editoravida.com.br P refácio 7 A b re v ia tu ra s 9 In tro d u çã o ao A pocalipse 11 1. 0 ponto de vista PRETERISTA 39 Kenneth L. Gentry Jr. 2. 0 ponto de vista IDEALISTA 99 Sam H am stra Jr. 3. 0 ponto de vista DISPENSACIONALISTA PROGRESSIVO 139 C. Marvin Pate 4. 0 ponto de vista DISPENSACIONALISTA CLÁSSICO 185 Robert. L. T h o m as C o n clu sã o 2 3 9 Um sábio definiu um clássico como “um livro comentado por todos, mas que quase ninguém lê”. Infelizmente, esta descri ç ã o p o d e r ia s e r a p l ic a d a a o ú lt im o i iv r o d a B íb iia — O Apocalipse. Quem ainda não foi cativado pelo poder de seu drama e a pungência de sua mensagem? Porém, quantos re almente leram o Apocalipse? Indubitavelmente, há uma gran de diferença nas respostas para essas perguntas. O propósito deste volume é ajudar a atravessar a barreira entre as respos tas que o antecedem; isto é, conduzir as pessoas a não so mente serem cativadas pelo Apocalipse, mas a engajarem-se por meio da interação pessoal. Com esse intuito, acreditamos que as contribuições presentes oferecem quatro pontos de vis ta alternativos e bem argumentados do último livro da Bíblia. Todos os autores neste volume são estudiosos evangélicos em assuntos teológicos. Para cada um, a inspiração das Escri turas é o fundam ento para o entendim ento do Apocalipse. Além disso, embora os colaboradores apresentem seu ponto de vista com convicção, o fazem com um espírito cristão e conci liador. Com esse princípio, este livro é dedicado a todos aqueles “que amam a [Cristo] por sua v in d a”, em bora as opin iões escatológicas divirjam. Gostaria de agradecer aos que ajudaram neste projeto. Mi nha gratidão se estende a outros colaboradores — Ken Gentry, Sam Hamstra e Robert Thom as — que têm ajudado a tran s formar em realidade a visão deste trabalho. Pessoalmente, esse empenho me deu o privilégio de fazer novos amigos e desen volver idéias estimulantes. Espero que meus colegas sintam o 8 * Apocalipse mesmo. Também desejo agradecer ao pessoal do editorial da Zondervan que aprovou e concluiu o pro jeto — Ed van der Maas, Verlyn D. Verbrugge, e Stanley N. Gundry. Suas contri buições foram entusiásticas e inestimáveis, C. Marvin P ate O r g a n iz a d o r ab A n c h o r Bible C o m m en ta ry b a r Biblícal A rch a eo lo g y Review b a s o r BuIIetin o f the A m erica n Society fo r O rientai R esea rch Bsac B ibliotheca S a cra icc In tern a tio n a l C riticai C o m m en ta ry j e t s Jo u rn a l fo r the E va n gelíca l T heological Society j s n t s s Jo u rn a l fo r the Study o f the New T estam ent Suplem ent Series kjv K ing Ja m e s Version l x x S e p tu a g in ta n a sb N ew A m erica n S ta n d a rd Bible N/cwr N ew In tern a tio n a l C o m m en ta ry o f the N ew Testam ent m Nova V ersão In tern a cio n a l n k j v N ew K ing Ja m e s Version N ovTSup S u p lem en ts to N ovum T esta m en tu m nrsv N ew R evised S ta n d a rd Version ms N ew T esta m en t Studies r s v R evised S ta n d a rd Version s n ts m s Society of the New T e s ta m e n t Studies M onograph Series nvjr Tyndale N ew T estam ent C o m m en ta ries T rinJ Trinity Jo u rn a l Das reações modernas ao livro de Apocalipse, três vêm rapi damente à mente. “O bsessão” é a palavra apropriada para des crever alguns dos oito milhões de devotos em profecia nos dias de h o je ,1 que estudam com afinco as profecias do Apoca lipse no estilo de Nostradamus, correlacionando eventos atuais fora de época com suas antigas advertências secretas. Seguin do esse ponto de vista, esses intérpretes comparam a China vermelha com os “reis do Leste" (Ap 16.12-16), o Mercado Co mum Europeu com os “dez chifres da b esta” (13.1-10), a mar ca da besta (666 ) em Apocalipse 13 com tudo o que for possível, de cartões de crédito à Internet e o anticristo com um desfile de p e s so a s p ro e m in e n te s , in c lu in d o A dolf Hitler, Benito Mussolini, Henry Kissinger e Mikhail Gorbatchov. Essa inten sa fascinação com o Apocalipse por quem prevê a destruição de modo pessimista não mostrou sinal algum de diminuição com a aproxim ação do ano 2000 (quando escrevem os esta obra). Porém, a leitura do último livro da Bíblia como se fosse uma visão em uma bola de cristal, causou inegavelmente mais dano que proveito, e hermeneutas responsáveis a evitam .2 Uma segunda réplica moderna ao Apocalipse pode ser ex pressa pela palavra “irrelevante”. Como indica o termo, muitos "De acordo com Paul Boyer, When time shall be no more: prophecy beliefs in modern American culture (Cambridge: Harvard Unviersity Press, 1992), p. 2 e 3. 2Para crítica da mentalidade do dia do juízo unviersal, v. C. Marvin Pate e Calvin B. Haines Jr., Doomsday delusions:what’s wrong with predictions aboul the end of the world (Downers Grove: i v p , 1995). 12 ■ Apocalipse consideram que o Apocalipse é uma antologia antiquada de imagens bizarras, originadas da paranóia, e designadas para moralizar as pessoas por meio de táticas de medos divinos. Como um professor de religião discorreu quando se fala de literatura apocalíptica, da qual o Apocalipse faz parte, “é toli ce!”. Uma suspeita é que a primeira réplica de obsessão tenha contribuído para a segunda réplica de irrelevante. Porém, muitos cristãos nos dias de hoje se acham em al gum lugar entre os dois extremos, abordando o Apocalipse com preocupação “obediente, mas hesitante”. Por outro lado, eles reverenciam o livro como inspirado por Deus e, portanto, como algo pertinente às suas vidas; eles, no entanto, acham seu sig nificado confuso e até potencialmente discordante. Em grande parte, esperamos que este trabalho se dirija a essas pessoas — para trazer esclarecimento a um tópico confuso, mas vital. Ainda não podemos obter perspicuidade de determinado assunto simplesmente por examinar isto a partir de uma só perspectiva. Essa abordagem corre o risco de ser míope e pro v inciana. Mais p ro p riam en te , o que é p reciso quando se examina o Apocalipse é uma leitura interpretativa desse livro de tal forma que o total da soma do conjunto seja maior do que as partes. Não que um texto antigo bíblico ou qualquer outro, tenha mais de um significado, uma a reivindicação da pós-m odernidade. Em vez disso, há um chamado para que percebam os nossas limitações individuais, nossa com preen são finita, e percebamos a necessidade que temos dos outros e de suas percepções e discernimento, revelados pelo Espíri to Santo, para compreender o propósito da Palavra de Deus. Aplicando a analogia das partes e do conjunto ao Apocalipse, permite-se essa declaração: As quatro interpretações neste vo lume representam as partes interpretativas, ao passo que o leitor, ajudado pelo Espírito, forma o todo. Antes de recorrer às várias perspectivas oferecidas neste livro, porém, primeiramente precisam os examinar assuntos introdutórios relativos ao Apocalipse — isto é, uma apresen tação geral, seguida de um resumo das interpretações princi pais do documento. A maior parte deste volume, no entanto, são os quatro pontos de vista atuais: o preterista; o futurista, que pode ser delineado em disp ensacio nalism o c láss ico e d ispensacionalism o progressivo; e o idealista. Esperançosa mente, o total da soma das partes individuais nos livrará da Introdução ao Apocalipse ■ 13 crítica hermenêutica refletida na famosa sátira de Mark Twain: “As pesquisas de muitos estudiosos já lançaram muita escuri dão neste assunto, e é provável que, se eles continuarem, logo não saberemos nada sobre isto!”. INTRODUÇÃO GERAL AO APOCALIPSE Estilo Antes de interpretar qualquer com posição literária co rre ta mente, incluindo a Bíblia, deve-se determinar seu gênero ou estilo literário .3 Este princípio é muito importante para o Apo calipse, e sua negligência resultou em um pântano de pontos de vista contraditórios. A dificuldade aumenta pelo fato de que o Apocalipse consiste em uma mistura de três gêneros: apocalíptico, profético, e epistolar. Alan F. Johnson descreve o primeiro desses gêneros sucintamente: O Apocalipse é [...] geralmente visto como um livro que pertence ao corpo de escritos judaicos não relativos à Bíblia, conhecidos como literatura apocalíptica. O nome para este estilo de literatura (alguns dezenove livros) é derivado da palavra “revelação” (apocalypsis) em Apocalipse 1.1 [...] Os livros apocalípticos extrabíblicos foram es critos no período de 200 a.C. a 200 d.C. Normalmente, os estudiosos dão ênfase às semelhanças do Apocalipse de João a esses livros não-canônicos — semelhanças como o uso de simbolismo e visão, a menção de mediadores angelicais da revelação, as imagens bizar ras, a expectativa de julgamento divino, a ênfase no reino de Deus, os novos céus e terra, o dualismo desse período e o porvir.4 Embora com parações significantes realmente existam en tre o Apocalipse e o material apocalíptico judeu e cristão, há diferenças críticas entre eles também, apesar de o Apocalipse ser um livro profético (1.3; 2 2 .7 ,1 0 ,1 8 ,1 9 ) , ao passo que os outros não fazem reivindicação alguma. Assim, o Apocalipse não é pseudônimo (1 .1; 22 .8); e tampouco é pessimista quanto ’Para a abordagem de “estilo", excelente, para a Bíblia, v. Gordon D. Fee e Douglas Stuart, How to read the Bible fo r ali its worth: a guide to understanding the Bible, 2 ed. (Grand Rapids: Zondervan, 1993). “•Revelation, in: The expositor’s Bible com m entary, Frank E. G a e b e l e i n (org.), Grand Rapids: Zondervan, 1981, vol. 12 p. 400 . V. tb. a bibliografia, muito útil, fornecida por Johnson sob o tópico apocalíptico, p. 400-1 , n 3. 14 ■ Apocalipse à intervenção de Deus na história. Além disso, enquanto mui tos escritores apocalípticos reconstruíram eventos passados como se fossem profecias futurísticas (vaticin ia ex eventu), por co n seg u in te p roporcionand o credibilidade à coragem profética deles, João (o autor de Apocalipse) não segue esse procedimento. Ao contrário, ele se coloca no mundo do sécu lo i d.C. e fala da consumação escatológica por vir da mesma maneira como fizeram os profetas do a t — uma consumação que, para João, já começou a romper na história na morte e ressurreição de Jesus Cristo (1.4-8; 4 e 5). Além de ser apocalíptico e profético em natureza, o Apoca lipse é envolvido por uma estrutura epistolar (1.4-8 e 22.10-21). Esta estrutura por si mesma diferencia o material apocalíptico. A prescrição (1.4-8) contém o componente epistolar típico — remetente, destinatário, saudações, e a característica de uma doxologia adicionada. O pós-escrito (22 .10-21 ), em boa forma antiga, resume o corpo dos escritos, como também legitima João como seu autor divinamente inspirado. O efeito com bi nado do prescrito e do pós-escrito, sem mencionar as cartas para as sete igrejas da província romana na Ásia (caps. 2 e 3), é para consolidar o Apocalipse na história real de sua época. É muito diferente de outros apocalipses antigos não canônicos. Por exemplo, considere a declaração de abertura em lEnoque, que o autor viu “não era para esta geração, mas a distante que está por vir” (lEnoque 1.2). Autoria Averiguando a identidade do autor de Apocalipse, duas linhas de evidência precisam ser avaliadas: a externa e a interna .5 A evidência externa consiste no testemunho dos pais da igreja, que é quase unânime a favor da opinião de que o apóstolo João foi o autor do Apocalipse. Entre eles incluem-se Papias, 5A discussão seguinte é reconhecida pelo trabalho de Robert L. Thomas, Revelation 1— 7: an exegetical commentary, Kenneth Barker (org.) (Chicago: Moody, 1992), p. 2-19. A questão da autoria do Apocalipse está relacionada estritamente à sua canonicidade, ao menos em termos da discussão dos pais da igreja. Assim, quem aceitou a autoria joanina do Apocalipse aceitou sua canonicidade. Porém, os que questionaram ou até mesmo negaram a autoria joanina, questionaram ou rejeitaram sua canonicidade (principalmente Dionísio e, em uma posição menor, Eusébio). Introdução ao Apocalipse ■ 15 Justino Mártir, o F ragm ento m uratório , Ireneu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes, e Metódio. As exce ções para esse testemunho são Dionísio, bispo de Alexandria (247-264), e Eusébio, o historiador da igreja que foi persuadi do pelos argumentos de Dionísio contra a autoria joanina do livro (embora Eusébio tenha expressado suas dúvidas com menos vigor que Dionísio). Recorrendo à evidência interna para determinar a autoria do Apocalipse, as quatro categorias de Dionísio continuam convencendo muitos contra a autoria jo a n in a ,6 que resum i mos aqui: 1) a própria identificação do escritor; 2) a constru ção do Apocalipse,quando comparado aos escritos genuínos do apóstolo João; 3) o caráter desses escritos; e 4) o estilo desse material. 1) O primeiro argumento interno oferecido por Dionísio é o fato de que o Apocalipse identifica seu autor como “Jo ã o ” (1.1,4 ,9 ; 22.8), mas nem o evangelho de João nem as cartas de João o fazem. A suposição aqui é que se o apóstolo João tives se escrito o Apocalipse, não teria sentido nenhuma compulsão para se identificar como seu autor. Porém, esse raciocínio é um argumento de silêncio e por essa razão não é convincen te. Além disso, a natureza apocalíptica pode ter compelido o autor a se identificar, de modo semelhante a do outros traba lhos que se enquadram nesse estilo. 2) Quanto à construção do Apocalipse e do Evangelho de João e de suas cartas, Dionísio argumentou que o Apocalipse não começa com a identificação de Jesus como a “Palavra”, e tam pouco com sua identificação com o testem u nha ocular, apesar de tanto o evangelho como suas cartas o fazerem. (V. Jo 1 .1 -18 com l j o 1.1-4). Mas essa observação negligencia Apocalipse 1.2 e a conexão que faz da Palavra de Deus com Cristo, como também perde o significado associado ao con ceito de “tes tem u n h a ” em Apocalipse e na outra literatura joanina (v. Ap 1.2; 22 .16 com Jo 1.19ss.; 5.32; 8 .18; 15.26; l jo 1.1-4; 5.6-11). 3) Dionísio também sustentou que o vocabulário de Apoca lipse difere significativamente dos escritos joaninos autênticos. “Esta influência esp. pode ser percebida no trabalho monumental de R. H. Charles, The Revelation o f St. John (icc; Edinburgh: T. & T. Clark, 1920), 2 vols. 16 ■ Apocalipse Não obstante, a afirmação de Dionísio não se sustenta em exa me cuidadoso. Doze das dezenove cláusulas joaninas que não são supostamente encontradas em Apocalipse acontecem na realidade (e.g., “vida”, “sangue”, “ju lgam ento”, “diabo”). Além disso, três das condições que não ocorrem em Apocalipse tam bém estão ausentes do Evangelho de João (“perdão”, “anticristo”, “adoção”), e um deles (“convicção”) não está presente em l joão . Além disso, embora “verdade” não este ja no Apocalipse, seu sinônimo, “verdadeiro”, está. Também, ao passo que “alegria” está ausente no Apocalipse, só ocorre uma vez em cada uma das três cartas de João. Então, nos resta apenas um termo, “es curidão” que com freqüência aco n tece nos outros escr itos joaninos e não em Apocalipse — sem evidência suficiente que possa fundamentar uma distinção principal. 4) Finalmente, Dionísio afirmou que o Apocalipse está es crito em grego pobre, em contraste com o estilo do bom gre go, referente ao outro material joanino. Porém, isto negligencia dois fatores: a) um estilo de escrita de um mesmo autor não é sempre consistente; b) João, como seus contemporâneos, pode bem ter usado um am anuense (secretário profissional), por meio de quem compôs seu Evangelho e as cartas (v. Rm 16.22; lPe 5.12). Porém, exilado na ilha de Patmos, (v. 1.9), presumi velmente, ele não teve acesso a tal indivíduo. Em equilíbrio, então, as evidências externa e as interna pa recem apontar o apóstolo João como o autor do Apocalipse ou, pelo menos, para um membro da Escola Joanina .7 Data Analisaremos as teorias referentes à data do Apocalipse a se guir, nesta introdução, com referência aos planos interpre- tativos do livro, mas para o momento notamos que dois pe ríodos principais qualificam-se como candidatos: o reinado do imperador Nero (54-68 d.C.) e o reinado de Domiciano (81 96 d.C.). Como será desenvolvido mais tarde, a escola prete- rista de interpretação discute o que precede, ao passo que a 7 A visão de que o Apocalipse e o evangelho de João foram escritos por membros da Escola Joanina é discutida por Elisabeth S. Fiorenza, The quest for the johannine school: the Apocalypse and the origin of both Gospel and Revelation, n t s 23, (Apr. 1977), p. 402-27. Introdução ao Apocalipse ■ 17 abordagem futu rista , esp ec ia lm e n te o d isp en sac io n a lism o clássico, se alinha com o posterior. O dispensacionalismo pro gressivo vê uma combinação das duas datas como operantes no livro, ao passo que a perspectiva idealista não está limita da a qualquer cronograma. Unidade Aproximadamente uma geração atrás, alguns intérpretes, ca tivados pela crítica da fonte, desenvolveram a teoria de auto ria múltipla para o Apocalipse, notadamente R. H. Charles e J. Massyngberde Ford .8 Evidência que supostamente milita con tra a autoria singular e se enquadra em quatro categorias: 1) a presença de paralelos — a mesma cena ou visão descrita duas vezes; 2) problemas seqüenciais — pessoas ou coisas in tro duzidas aparentem ente pela primeira vez quando, na reali dade, tinham sido mencionadas anteriormente; 3) versículos aparentemente mal empregados e seções maiores; 4) conteú do distinto dentro dos limites de certas seções que não se ajustam ao restante do livro.9 Mas, como Johnson observa, em cada caso há explicações alternativas satisfatórias. Além disso, há uma artificialidade sobre nomear certas passagens a um “interpelador”, quando não se ajustam com a unidade percebida do livro.10 Até Charles, que aplica uma aproximação fragmentária ao documento, ad mite uma unidade global do trabalho .11 Igualmente a Ford que, embora delineando três autores diferentes para o Apocalipse, não obstante designa a “redação final” a um único editor .12 Levando isto em conta, a conclusão de Johnson sobre a uni dade do Apocalipse parece justificada: Podemos afirmar que o livro em toda sua extensão exibe tanto a uni dade literária quanto conceituai, o que se espera de um único autor. Isto não elimina certos problemas difíceis de hermenêutica, nem 8C h a r l e s , The Revelation o f St. John, J. Massyngberd F o r d , Revelation, a b ; New York: Doubleday,1975. 9V. J o h n s o n , Revelation, p. 403. 10Ibid. n The Revelation o f St. John, p. 1 : l x x x v i i . l2ReveIation, p. 46. 18 ■ Apocalipse impede a presença de omissões ou interpolações encontradas nos manuscritos existentes. Tampouco, a visão de única autoria impede que João, expressando em forma escrita a revelação dada a ele por Cristo, usou várias fontes, quer oral ou escrita [...] Ainda, sob a orien tação do Espírito Santo que é naturalmente o autor primário, João prodiiiziu esse material, por si próprio, em toda a extensão do livro, e o envolveu com um conteúdo totalmente de orientação cristã.13 Estrutura Semelhante à pergunta da data do Apocalipse, o assunto de sua estrutura também está intimamente relacionado à inter pretação de alguém quanto ao livro. Por conseqüência, esten derem os o assunto mais extensivam ente na segunda parte desta introdução, pois aqui somente oferecemos o mais baixo denominador comum entre as várias escolas de pensamento que consiste de dois elementos estruturais .14 1) Em termos de conteúdo, depois de um capítulo introdutório, seguem qua tro séries de sete: sete cartas (caps. 2 e 3); sete selos (5 .1— 8.1); sete trom betas (8 .2— 11.19); e sete taças (15.1— 16.21). Interrompendo estas quatro séries estão vários interlúdios (7 .1 17; 10.1— 11.13; 12.1— 14.20). O livro conclui com o julgamento da “Babilônia”, apostasia mundial, e o triunfo final do reino de Deus (caps. 17— 21). 2) Em termos de estrutura literária, o Apocalipse con sis te de quatro visões, cada uma das quais envolve João que “vê” o plano de Deus desvelado (1.19; 4.1; 17.1; 21.9). Um epílogo conclui o livro (22.6-21). Material tradicional em Apocalipse Enquanto o Apocalipse utiliza vários materiais tradicionais (e.g., o cerimonial do tribunal greco-romano, [caps. 4 e 5]; o apocalíptico judaico, [caps. 4 e 5]; o Discurso do Monte das Oliveiras, [cap. 6]; o drama do dragão, [cap. 12]; a história neroniana, [cap. 13]), sem dúvida a fonte dominante de sua informação é o a t . Embora o Apocalipse não contenha uma única c itação esp ec íf ica do a t , não obstan te , de seus 4 0 4 13Revelation, p. 4 0 3 ,A análise detalhada de G. Mussies da linguagem do Apocalipse reafirmou a unidade do livro, The morphology ofkoine greek as used in the Apocalypse o f St. John (Leiden: E. J. Brill, 1971), p. 351. 14V. o resumo de George Eldon Ladd, A com m entary on the Revelation o f John (Grand Rapids: Eerdmans, 1972), p. 14. Introdução ao Apocalipse ■ 19 versículos, 278 contêm referências ao a t . Johnson resume bem o uso desse material pelo apóstolo João: O a t usado por João é principalmente semítico em vez de grego, pois, concorda com freqüência, com o targum aramaico e, ocasio nalmente, reflete o uso do midraxe para as passagens do a t ; e pode ser demonstrado que ele usou um texto diferente do massorético que tem afinidade íntima com o texto hebreu dos manuscritos de Qumran. Dos profetas, João recorre, com freqüência, a Isaías, Jeremias, Ezequiel, e Daniel. João também recorre repetidamente aos Salmos, Êxodo, e Deuteronômio. As reinterpretações de cris- tologia de João das passagens do a t às quais ele alude são especial mente im portante. Ele não usa o a t simplesmente em seu sentido pré-cristão, mas reforma as imagens e as visões do a t . Embora haja uma relação à continuidade inconfundível em Apocalipse com rela ção à mais antiga revelação, o novo emerge do velho como uma entidade distinta.15 0 texto de Apocalipse Do ponto de vista da crítica textual, há pouquíssimos manus critos gregos existentes para reconstruir a leitura original do Apocalipse, menor do que em qualquer outra parte do n t . Não obstante, há uma quantidade suficiente para realizar a tarefa com garantia (aproximadamente 230 manuscritos gregos). As principais testemunhas do Apocalipse são: a escrita uncial — o Códice sinaítico (séc. iv), o Códice alexandrino (séc. v), o Códice Ephraem i (séc. v); o papiro mais importante é o p47 (séc. m); os minúsculos (séc. vm—x); as citações dos pais da igreja (séc. n—v); e um comentário grego ao Apocalipse por Andreas (séc. vi).16 UM EXAME DAS PRINCIPAIS INTERPRETAÇÕES DO APOCALIPSE Tradicionalmente, quatro interpretações principais foram divul gadas. Elas tentavam desvendar os mistérios do Apocalipse: lsRevelation, p. 411 . Para a análise adicional da aplicação de João do a t em Apocalipse, v. Austin Farrer, A rebirth o f im a ges : the making of St. Jo h n ’s Apocalypse (London: Darce, 1949). Uma das mais recentes abordagens do as sunto é feita por Steve Moyise, The Old Testament in the book of Revelation, j s n t s s 115 (Sheffield: Academic Press, 1995). 16Para uma discu ssão adicional da evidência do m anuscrito , consulte Thomas, Revelation 1-7, p. 42-3. 20 ■ Apocalipse preterista, historicista, futurista, e idealista. Os nomes resumem a essên c ia das ap ro xim ações resp ectiv as . A in terp re tação preterista (passado) entende que os acontecimentos do Apo calipse em grande parte foram cumpridos nos primeiros sécu los da era cristã — quer na queda de Jerusalém em 70 d.C., quer na queda tanto de Jerusalém no século i, quanto na de Roma no século v. De fato, o livro foi escrito para confortar cristãos que sofreram perseguição tanto do culto imperial quanto do judaísmo. A escola historicista encara os eventos do Apocalipse como um desdobramento no curso da história. Essa perspectiva era especialm ente compatível com o pensam ento dos reform a dores protestantes que compararam o sistema papal de sua época com o anticristo. A sinopse futurista discute que os eventos do Apocalipse, em grande parte, não foram cumpridos, assegurando que os capítulos 4—22 esperam o fim dos tempos para a sua realiza ção. Se a interpretação preterista dominou entre os estudio sos bíblicos, mas pode-se dizer que a composição futurista é privilegiada entre as massas. O ponto de vista idealista, por meios de contraste em rela ção às três construções teológicas anteriores, é reticente em identificar historicamente o simbolismo do Apocalipse. Para essa escola de pensamento, o Apocalipse relata verdades infi nitas relativas à batalha entre o bem e o mal que continuam ao longo da era da igreja. Este volume incorpora a interpretação corrente e prevale- cente do Apocalipse. Assim, embora a aproximação histórica seja difundida, atualmente, para todos os propósitos práticos, já é uma visão ultrapassada. Suas tentativas, mal-sucedidas, de localizar o cumprimento do Apocalipse no decurso das cir cunstâncias da história, o sentenciaram a uma revisão inin terrupta com o passar do tempo e, por fim, à obscuridade (uma situação que poderia suscitar o comentário, se Jesus demora, naquele dia do juízo final os profetas contemporâneos poderi am se achar eventualmente nele!). Além disso, a falta de con senso entre os intérpretes quanto à identificação de detalhes h is tó r ic o s que s u p o s ta m e n te c u m p rem as p r o fe c ia s do Apocalipse contribuíram para o fim dessa escola. Em contrapartida, as outras três interpretações se aproxi mam e merecem atenção cuidadosa. A visão preterista, sempre a favorita no meio dos estudiosos, desfruta uma revivificação Introdução ao Apocalipse ■ 21 de interesse a nível popular, graças ao surgimento da Recons trução Cristã (mais sobre isto adiante). A visão futurista, espe cialmente o dispensacionalismo clássico, seguramente desper tará o interesse de muitos. O dispensacionalismo progressivo “a mais nova criança no meio escatológico”, está começando a cativar a imaginação daqueles que têm se desgastado quanto ao tratamento da profecia sensacionalista .17 Finalmente, uma aproximação idealista continua mantendo uma atração consi derável da influência de aplicação para a vida diária que seu sistem a encoraja. Aqueles que estão desgastados pela profe cia em geral, encontram em sua sinopse uma alternativa re frescante por se apegar ao significado presente e eterno do Apocalipse. Agora nos dirigimos a uma pesquisa dessas quatro formas hermenêuticas, cobrindo cada ponto seguinte em sua distin ção, origem, cronogram a que se presume para as profecias do Apocalipse, a estrutura do livro, e a filosofia da eficiência histórica na abordagem . Entender esses assun tos an tec ip a damente preparará melhor o leitor a se apegar aos respecti vos sistem as como um todo antes de analisar o documento mais detalhadamente. Se o leitor permitir uma pequena liber dade poética, propom os tratar essas abordagens de acordo com a ordem cronológica em Apocalipse 1.19: “Escreva, en tão, o que você viu [preterista], o que agora é [idealista], e o que acontecerá depois [futurista]”. A interpretação preterista O ponto de vista preterista considera a interpretação histórica do Apocalipse seriamente, relacionando-a com seu autor origi nal e o público. Isto é, João destinou seu livro para as verdadei ras igrejas que enfrentaram terríveis problemas no século i d.C. Dois dilemas em particular providenciaram o ânimo para e s crever o livro. Kenneth L. Gentry Jr. escreve sobre isto: O Apocalipse tem dois propósitos fundamentais relativos aos seus ouvintes originais. Em primeiro lugar, foi projetado para fortalecer 17Isso não quer dizer, porém, que o dispensacionalismo clássico será equi parado à mentalidade do juízo universal. Embora um bom número dos que prevêem o juízo universal venha dessa tradição, como veremos, eles não pre cisam ser sinônimo dela. 22 ■ Apocalipse a igreja do século i contra uma tem pestade de perseguições que estavam, por conseguinte, provocando um crescente enfraqueci mento. Uma característica nova e principal daquela perseguição foi a entrada imperial de Roma no cenário. A primeira perseguição históri ca da igreja pelo império de Roma foi por César Nero de 64 d.C. a 68 ^.C. Em segundo lugar, foi para reforçar a igreja para uma reorienta- ção principal e fundamental no rumo da história redentora, reorienta- ção necessária para a destruição de Jerusalém (o foco não era somente da aliança antiga de Israel, mas do cristianismo apostólico[v. At 1.8; 2.1 ss.; 15.2] e o templo [v. Mt 24.1-34 e Ap l l ] ) .18 Assim, a tentativa contínua de firmar o cumprimento das profecias divinas do Apocalipse no século i d.C. constitui a abor dagem distintiva dos preteristas. A origem do preterismo pode ser traçada ao sistema teoló gico conhecido como pós-milenarismo, que ensina que Cris to voltará após o milênio, um período de felicidade na terra trazida pela conversão das nações por causa da pregação do evangelho. O crédito para formular a doutrina pós-m ilenar normalmente é dado a Daniel Whitby (1638-1726) , ministro unitarista da Inglaterra. O ponto de vista de Whitby do milê nio foi adotado por teólogos liberais e conservadores. John F. Walvoord comenta: Seus pontos de vista do milênio provavelmente nunca seriam per petuados se eles não estivessem tão afinados ao pensam ento da quela época. Uma maré ascendente de liberdade intelectual, ciência, e filosofia, o humanismo, como também aumentara o conceito de progresso humano e deu uma clara visão geral do futuro. O ponto de vista de Whitby de uma era áurea para a igreja por vir era exata mente o que as pessoas queriam ouvir [...] Não é estranho que teólogos que competem para os reajustamentos em um mundo de mudanças devam achar em Whitby a chave fundamental que preci savam. Era atraente a todos os tipos de teologia. Isto proveu para o conservador um princípio aparentemente mais viável de interpretar lsBefore Jerusalem fell: dating the book of Revelation, Tyler: Institute for Christian Economics, 1989, p. 15-6. Porém, deve se lembrar que o preterismo inclui dois campos — um que localiza o cumprimento do Apocalipse basica mente no século i, uma referência à queda de Jerusalém, e outro que vê o cumprimento do Apocalipse tanto no séc. i (a queda de Jerusalém) quanta no séc. v (a queda de Roma). Introdução ao Apocalipse ■ 23 as Escrituras. Afinal de contas, os profetas do a t sabiam sobre o que estavam falando quando predisseram uma era de paz e retidão. O conhecimento crescente pelo homem das melhorias mundiais e ci entíficas que estavam vindo poderiam se ajustar nesta conjuntura. Por outro lado, o conceito estava agradando ao liberal e ao cético. Se eles não acreditavam nos profetas, pelo menos acreditaram que o homem era capaz de melhorar o seu meio ambiente. Acreditaram, também, que uma áurea era dourada estava por vir.19 Essa aceitação por parte de muitos resultou em dois tipos de p ó s -m ile n a r is m o , c o n fo rm e as a n o ta ç õ e s de Paul N. Benware: “pós-milenarismo liberal” e “pós-milenarismo bíbli co”.20 O primeiro teve seu apogeu no século xix em associação ao “evangelho social”, cuja missão era a liberação da humani dade dos males sociais (pobreza, racismo, doença, guerra, e injustiça). A pressuposição dessa escola de pensamento, de que a humanidade era basicamente boa e que enfim a socie dade melhoraria, resultava em uma era dourada na terra. Po rém, louvável como essa tentativa, o evangelho social sofreu duas falhas: abandonou a pregação do evangelho, e fundamen tou sua visão da história ingenuamente no processo evolutivo. O tempo desferiu um sopro mortal ao pós-milenarismo libe ral — os eventos catastróficos do século xx resultaram em uma posição insustentável (e.g., duas guerras mundiais, a grande depressão, a ameaça de destruição nuclear). Junto com o pós-milenarismo liberal estava o seu correlato bíblico. Os teólogos dos séculos xvm e xix que seguem essa abordagem mantiveram seus com prom issos para com o evan gelho e para com o seu poder transformador. Stanley J. Grenz relata assim: ,9The Millennial kingdom, Findlay: Dunham, 1963, p. 22-3. Em uma recente correspondência, Ken Gentry fornece duas clarificações proveitosas da apre sentação que fornecemos referente à conexão entre o preterismo e o pós-mile- narismo. Primeiro é simplista restringir a visão preterista ao pós-milenarismo. Muitos amilenaristas também se alinham com essa interpretação (e.g., Jay Adams, Cornelis Vanderwaal). Segundo, embora se dê o crédito a Whitby como o res ponsável por popularizar o pós-milenarismo, de fato é Thomas Brightman, (1 5 62-1607) quem merece esse crédito. Além disso, há um pós-milenarismo/ preterismo nascente de alguns dos pais da igreja (por exemplo, Orígenes, Eusébio, Atanásio, Agostinho). 20U nderstanding endtim es prophecy. a comprehensive approach, Chicago: Moody, 1995, p. 120-2. 24 ■ Apocalipse Suas perspectivas diferem fundamentalmente tanto do cristianis mo secular quanto do cristianismo liberal utópicos. Eles eram oti mistas e confiantes em relação ao futuro. Mas o otimismo deles originou de uma convicção no triunfo do evangelho no mundo e a operação do Espírito Santo que traria o reino, e não de qualquer con cepção errônea relativa à bondade inata da humanidade ou da habili dade da igreja para converter o mundo por seu próprio poder.21 Atualmente, o pós-milenarismo bíblico ressalta as catástro fes da história e está experimentando um ressurgimento de influência, especialmente o reconstrucionismo cristão. Sua con vicção é admirável — apesar de a igreja pregar o evangelho e executar seu papel como o sal da terra, o reino de Deus avança rá até que o mundo inteiro um dia alegremente se curvará à autoridade de Cristo. O meio para realizar essa meta será a lei de Deus que impacta a igreja e, por conseguinte, o mundo .22 Os preteristas localizam a cronometragem do cumprimen to das profecias do Apocalipse no século i d.C., esp ecif ica mente logo antes da queda de Jerusalém em 70 d.C. (entretanto alguns também vêem seu cumprimento nas quedas de Je ru salém [séc. i] e de Roma [séc. v]). Apesar de a opinião de mui tos que o Apocalipse foi escrito na década de 90, durante o reinado de Domiciano (81-96), o preterismo mantém, em gran de parte a data do livro como neroniano (54-68). Três argumentos básicos são aplicados para defender aque le período. 1) Há alusões a Nero ao longo do Apocalipse como o imperador da época (e.g., 6.2; 13.1-18; 17.1-13). 2) A condição das igrejas na Ásia Menor para a qual João escreve suas cartas (caps. 2 e 3), correlaciona-se melhor com o cristianismo judeu anterior ao ano 70, tempo que testemunhou a ruptura en tre o c r is t ia n is m o e o ju d a ís m o . De fa to , o Apocalipse atesta a perseguição dupla do cristianismo ju d ai co — pelos judeus e pelos romanos. A antiga perseguição aos cristãos pelos judeus, devido à sua fé em Jesus como o Messi as, de forma que eles foram expulsos das sinagogas, o que, por n The millennial maze\ sorting out evangelical options, Downers Grove: ivp, 1992, p. 66. 22Autores que se identificam com a interpretação preterista do Apocalipse incluem David Chilton, The days o f vengeance'. an exposition of the book of Revelation (Forth Worth: Dominion, 1987) e Gary DeMar Last days madness\ obsession of the modern church (Atlanta: American Vision,1994). Introdução ao Apocalipse ■ 25 conseguinte, os expôs à veneração a César.23 Os romanos, sub seqüentemente, tentaram forçar os cristãos judeus a venerar César. Para julgar os judeus do século i por perseguir os cris tãos, João prediz que Cristo virá em poder para destruir Jeru salém, usando o império romano para fazê-lo (e.g., 1.7,8; 22.20; caps. 2 e 3 ; 11; 1 7 e 18) — uma advertência que se tornou ver dadeira com a queda de Jerusalém em 70 d.C. 3) De acordo com Apocalipse 11, o templo parece ainda es tar erguido (quer dizer, durante todo o período da escrita do livro). Baseado em argumentos anteriores, poderíamos esboçar o Apocalipse assim: Cap. 1: A visão de João de Jesus ressurreto Caps. 2 e 3: A situação do antigo cristianism o judaico Caps. 4 e 5: A cena divina do reinado de Cristo ■ Caps. 6— 18: Julgam entos paralelos a respeito de Jerusalém Cap. 19: A vinda de Cristo para com pletar o julgam ento de Jerusalém Caps. 20— 22: O Reinado de Cristo na terra Com respeito à filosofia da história presumida pela maio ria dos preteristas,como m encionado anteriorm ente, ela é positiva (con tra Jay Adams e Cornelis Vanderwaal). O mundo melhorará por causa do triunfo do evangelho. Nesse sentido, o pós-milenarismo alinha mais com o papel do profeta do a t , cuja m ensagem proclamou a intervenção de Deus na h istó ria, do que com a destruição apocalíptica e com previsões de trevas do futuro. A interpretação idealista A abordagem idealista de Apocalipse é, às vezes, chamada de a visão “espiritualista”, visto que interpreta o livro espiritual, ou sim bolicam ente. Do m esm o modo, o Apocalipse é visto dessa perspectiva que representa o conflito contínuo do bem e do mal, sem conexão histórica imediata para qualquer even to político ou social. Raymond Calkins descreve bem essa in terpretação: 23Roma permitiu a liberdade de crença para o judaismo. Estar separado disso era perder a posição social privilegiada. 26 ■ Apocalipse Se entendem os a em ergência que levou o livro a ser escrito, sua interpretação durante seu tempo, para o nosso tempo, e durante todo o tempo fica tão claro quanto a luz do dia. À luz dessa explica ção, distante da verdade a interpretação que acha o significado principal do livro nas sugestões que nos dá aproxim adam ente o término da criação, o fim do mundo, e a natureza do último julga- menk? [...] Usar o Apocalipse desse modo é abusá-lo, porque o próprio livro não faz reivindicação alguma para ser a chave do futuro.24 Por conseguinte, Calkins resume a mensagem principal do Apocalipse em termos de cinco proposições: 1 . é uma convocação irresistível para viver heroicamente; 2 . contém apelos sem igual à resistência; 3. fala que o mal está marcado para ser derrotado no fim ; 4. apresenta um quadro novo e maravilhoso de Cristo; 5. revela-nos o fato que a história está na mente de Deus e nas mãos de Cristo, como o autor e revisor dos desti nos morais do hom em .25 Enquanto as quatro escolas de interpretação inspecionadas aqui ressoam com essas afirmações, a visão idealista se dis tingue recusando nomear as declarações que precedem a qual quer correspondência histórica e assim nega que as profecias no Apocalipse são proféticas, exceto no sentido mais geral da promessa do último triunfo do bem quando Cristo retornar .26 A origem da escola idealista de pensamento pode ser remon tada às origens da hermenêutica alegórica, ou simbólica, defen dida pelos pais da igreja de Alexandria, especialmente Clemente e Orígenes. R. H. Charles escreve sobre esses alexandrinos que: sob a influência do helenismo e da escola alegórica tradicional de interpretação que chegou ao topo em Filo, [eles] rejeitaram o senti do literal do Apocalipse, e adicionaram apenas um significado es piritual. Essa teoria domina muitas escolas de exegetas até os dias 24The social m essage o f Revelation, New York: Woman’s Press, 1920, p. 3. 25lbid., p. 3-9. “ Merrill C. Tenney fornece um resumo útil da interpretação idealista do Apocalipse, como também os outros pontos de vista, em Interpreting Revelation (Grand Rapids: Eerdmans,1957), p. 143-4. introdução ao Apocalipse ■ TI de hoje. Assim, Clemente viu nos 24 anciãos um símbolo de igual dade dos judeus e dos gentios na igreja; e nas caudas dos gafanho tos as influências destrutivas de professores imorais. Orígenes, como também Metódio, seu oponente, rejeita como judaica a inter pretação literal do capítulo xx e, nas mãos dos seus seguidores, os conteúdos históricos completos do Apocalipse foram perdidos.27 A visão amílenarísta proposta por Dionísio, Agostinho, e Jerônimo era semelhante à interpretação de Alexandria. Assim, a Escola de Alexandria, munida com o método amilenarista, tornou-se a interpretação dominante do Apocalipse até a Re forma. Como mencionado, o idealista não restringe os conteúdos do Apocalipse a um período histórico particular, mas certa mente vê isto como uma dramatização apocalíptica da bata lha contínua entre Deus e o mal. Porque os s ím bo los são polivalentes no significado e sem referente histórico específi co, a aplicação da mensagem do livro é ilimitada. Portanto, cada intérprete pode achar significação para suas respectivas situações. Dois comentários recentes sobre Apocalipse ilustram bem esse método. O primeiro é o trabalho feito por Paul S. Minear,28 para quem a interpretação dos símbolos do Apocalipse é esti mulante. Para ele, o propósito do Apocalipse é advertir os cris tãos do inimigo que está dentro — “o falso cristão”. O conjunto do livro é visto dessa perspectiva. As sete cartas fornecem o contexto do livro — é um desafio divino para a igreja ser fiel a Cristo. Daí por diante, os julgamentos são projetados não para efetuar a ruína dos de fora da cristandade, mas do infiel den tro dela. Os que perseveram em retidão recebem a promessa do novo céu e da nova terra. Visto desse modo, o Apocalipse não deve ser levado como uma injúria apocalíptica contra o não-cristão, mas, preferivelmente, como uma advertência pro fética para o cristão. O segundo trabalho sobre o Apocalipse que ilustra a inter pretação idealista é o comentário desafiador feito por Elisabeth 27Studies in the Apocalypse, Edinburgh: T. & T Clark, 1913, p. 11-2. 2SI saw a new earth : an introduction to the visions of the Apocalypse, Cleveland: Corpus, 1968. 28 ■ Apocalipse Schüssler Fiorenza, cujo propósito é “liberar o texto de seu cativeiro histórico e resgatar a mensagem do Apocalipse para a atualidade”.29 Em outras palavras, o significado do Apocalipse não será buscado no século i nem nos eventos remotos nos finais do tempo, mas, preferivelmente, na luta contínua entre os que estão em desvantagem sócio-politica e seus opresso res. Assim cbjnpreendido, o A pocalipse é uma ferram enta poderosa nas mãos de teólogos da libertação e de feministas, por se livrar, respectivam ente do jugo do capitalismo e do m achism o. O melhor modo para apreciar a abordagem de Fiorenza é ver o seu m étodo em prática. Por exem plo, ela cita, de form a aprobativa, o poema, “Dia de Ação de Graças nos Estados Uni dos" de Júlia Esquivei, que remodela o Apocalipse 17 e 18, apli cando-o à experiência dos países latino-americanos: No terceiro ano dos m assacres por Lucas e os outros coiotes contra os pobres da Guatemala Eu fui conduzido ao deserto pelo Espírito E na véspera do Dia de Ação de Graças Eu tive uma visão da Babilônia: A cidade surgiu arrogante de uma enorme plataforma de fumaça suja causada por automóveis, maquinaria e contaminação de chaminés. Era como se todo o petróleo de uma terra violada estivesse sendo consumido pelos deuses da capital e estivesse subindo lentamente, obscurecendo a face do sol de justiça e do Ancião de Dias... 29Revelation: vision of a just world, Proclamation commentaries, Minneapolis: Fortress, 1991, p. 2. Introdução ao Apocalipse ■ 29 Todo dia falsos profetas convidavam os habitantes da cidade impudica para se ajoelharem ante os idoJos de glutonaria, dinheiro, e morte: idólatras de todas as nações estavam sendo convertidos ao modo americano de vida... O Espírito me disse no rio de morte que o fluxo de sangue de muitas pessoas sacrificadas sem clemência e mil vezes afastadas das suas terras, o sangue de Kekchis, de Panzos, dos negros do Haiti, dos guaranis do Paraguai, das pessoas sacrificadas para o “desenvolvim ento”, na faixa da Transamazônica, o sangue dos antepassados dos índios que se mantiveram nestas terras, desses que até agora são mantidos como reféns na Grande Montanha e nas Colinas Pretas do Dakota pelos guardiões da besta... Minha alma foi torturada assim durante três dias e meio e um grande cansaço pesou em meu peito. Eu sentia o sofrimento de meu povo muito profundamente! Então, em lágrimas, eu me prostrei e clamei: “Senhor, o que podem os fazer? [...] Venha a mim, Senhor, desejo m orrer entre meu povo!” Sem forças, esperei pela resposta: Depois de um longo silêncio e uma pesada obscuridade Aquele que senta no trono para julgar as nações falou emum brando sussurro nos intervalos secretos de meu coração: Você tem de denunciar a sua idolatria em tem pos bons e ruins. 30 * Apocalipse Force-os a ouvir a verdade pois o que é impossível a humanos é possível para Deus.30 Caso alguém concorde, ou não, com a ideologia que esse poema comunica, quanto ao assunto, com a persuasão fem i nista radical de Fiorenza, a tentativa de capturar e aplicar o simbolismo do Xpocalipse é impressionante. Não parece ser uma regra dura e rápida para o idealista delinear a estrutura do Apocalipse. Para Minear, a chave para esboçar o livro é ficar atento aos contrastes em curso entre as visões do céu e da terra, um simbolismo da luta dentro dos cristãos, entre fidelidade a Cristo (céu) e deslealdade (terra). Para Fiorenza, o Apocalipse é estruturado no quiasma, de modo que a chave para o livro será encontrada em 10.1— 15.4, com sua descrição da luta e da liberação das comunidades oprimidas do mundo .31 O único aspecto estrutural notável na agenda interpretativa idealista é sua negação de uma leitura literal e cronológica de Apocalipse 20. Preferivelmente, no bom modo amilenarista, aquele capítulo será visto como uma des crição simbólica do potencial da igreja para reinar com Cristo nessa era. Quanto à visão mundial da escola idealista de pensam en to, o “realismo” é sua perspectiva preferida. Stanley Grenz sin tetiza essa idéia do idealista, uma posição amilenarista: O resultado é uma visão mundial caracterizada por realismo. Vitó ria e derrota, sucesso e fracasso, o bem e o mal coexistirão até o fim, afirma o amilenarismo. O futuro não é uma continuação ele vada do presente nem uma contradição abrupta a ele. O reino de Deus não vem mediante à cooperação humana com o poder divino em atividade atualmente no mundo, mas tampouco é apenas o pre sente divino pelo qual podemos aguardar esperançosam ente.32 Por conseguinte, tanto o otimismo desenfreado quanto o pessim ism o desesperador são impróprios, declara o am ile narismo. Particularmente, a visão amilenarista chama a igreja à “atividade realística” no mundo. Sob a orientação e o poder do 30Ibid,, p. 27-8. 31Ibid., p. 35-6. 32The miüennial maze, p. 187. Introdução ao Apocalipse ■ 31 Espírito Santo, a igreja terá êxito em seu mandato; todavia, o último sucesso somente virá pela graça de Deus. O reino de Deus chega como a ação divina que passa repentinamente pelo mundo; contudo a cooperação humana traz importantes resul tados, embora não seja a última palavra. Portanto, o povo de Deus deve esperar grandes co isas no p resente; desde que saibam que o reino nunca chegará por completo na história e, portanto, devem sem pre perm anecer realistas em suas ex pectativas. Dispensacionalismo clássico A interpretação mais popular do Apocalipse entre o povo du rante o século xx foi o dispensacionalismo, uma das variantes do pré-milenarismo. O nome do movimento é derivado da pala vra bíblica “dispensação”, um termo que recorre à administra ção da casa terrestre de Deus (k jv , ICo 9.17; Ef 1.10; 3.2; Cl 1.25). Os dispensacionalistas dividem a história da salvação em eras históricas ou épocas para distinguir as administrações diferen tes do envolvimento de Deus no mundo. Cyrus I. Scofield, de pois de quem a Bíblia de Scofield com referências foi popularmente chamada, definiu a dispensação como “um período de tempo durante o qual o homem é testado em relação à obediência a alguma revelação específica do testamento de Deus”.33 Durante cada dispensação, a humanidade não vive em obediência ao tes te divino, trazendo aquele período, por conseguinte sob o ju l gamento de Deus e, assim, criando a necessidade para uma dispensação nova. Lida desse modo, a Bíblia pode ser dividida nas seguintes oito dispensações (entretanto o número de no mes varia nessa escola de pensamento): inocência, consciência, governo civil, promessa, lei mosaica, igreja e idade da graça, tribulação, milênio.34 A autenticidade do dispensacionalismo foi seu compromisso a uma interpretação literal da escritura profética. Isto resultou “NewYork: Oxford, 1909 , observe em Gênesis 1 .28 . Para uma definição atualizada que enfatiza fé como o meio de receber as revelações nas várias dispensações, v. Charles C. Ryrie, Dispensationalism today (Chicago: Moody, I 'l(>5), p. 74. ■'Rightly dividing the word o f truth, New York: Loizeaux Brothers, 1896. Muitos dispensacionalistas modernos, porém, ficam cada vez mais descon- liii laveis com essas periodicidades, preferindo falar sobre a Bíbüa em termos de suas duas divisões — antiga e nova alianças. 32 ■ Apocalipse em três doutrinas famosas, apreciadas por partidários do mo vimento. 1) Uma distinção entre as profecias feitas sobre Israel no a t e a igreja no n t deve ser mantida. Em outras palavras, a igreja não substituiu Israel no plano de Deus. As promessas que ele fez à nação sobre sua restauração futura acontecerão. Então, a igreja é um parêntese no término desse plano. A dis tinção dispensacionalista entre o Israel e a igreja foi solidificada na mente de muitos como resultado de dois eventos princi pais nesse século: o holocausto (que extraiu de muitos profun da compaixão pelo povo judeu) e o renascimento do Estado de Israel, em 1948. 2) Os dispensacionalistas são pré-milenaristas; quer dizer, Cristo virá novamente e estabelecerá um reinado temporário, mil anos em Jerusalém. 3) Os dispensacionalistas acreditam no arrebatamento pré- tribulacionista, isto é, o retorno de Cristo acontecerá em duas fases: a primeira para a sua igreja que será poupada da gran de tribulação; a segunda em poder e glória para conquistar seus inimigos. O dispensacionalismo parece ter sido articulado primeira mente pelo clérigo anglicano irlandês John Nelson Darby, líder influente no movimento dos Irmãos de Plymouth na Inglater ra, no século xix. O movimento foi levado para os eu a , adquirin do notoriedade com a publicação em 1909 da Bíblia de Scofield. Pelo menos três desenvolvimentos aconteceram dentro do mo vimento durante esse século: 1) A fase mais antiga foi proposta por Darby e Scofield, período que enfatizou as próprias dispen- sações; 2) Uma segunda fase emergiu nos anos sessenta, graças ao trabalho feito por Charles C. Ryrie, D ispensationalism today [D ispensacionalism o hoje], Com esse segundo desenvolvimen to aconteceram duas mudanças notáveis: a) A fé foi real-çada como meios de salvação em quaisquer das dispensações (contra a antiga declaração da Bíblia de Scofield sobre obras que são os meios de salvação no a t ; v . a nota de rodapé em João 1.17); b) As dispensações individuais não eram mais o foco; por outro lado, a ênfase cabe agora na hermenêutica literal do dispensacionalismo; 3) Nos anos oitenta, surgiu um terceiro desenvolvimento, geral mente chamado de dispensacionalismo progressivo, (mais sobre isso posteriormente). A fase mediana, com freqüência rotulada como dispensacionalism o tradicional, continua encontrando Introdução ao Apocalipse ■ 33 apoio expressivo hoje, constitui o quarto ponto de vista oferecido neste volume sobre o Apocalipse. O entendimento do dispensacionalismo clássico do tempo do Apocalipse e sua estrutura caminham juntos. Porque essa escola de pensam ento interpreta as profecias do livro lite ralmente, seu cumprimento, então, é percebido como ainda futuro (esp. caps. 4—22). Além disso, a magnitude das profe cias (e.g., um terço da terra destruído; o sol escureceu) suge re que e les ainda não ocorreram na h istór ia . O v ers ícu lo fundamental nessa discussão é 1.19, particularmente seus três te m p o s que se p e n s a que f o r n e c e m um e s b o ç o p ara o Apocalipse: “o que você viu” (o passado, a visão de João de Jesus no cap. 1); “o que é agora” (o presente, as cartas para as sete igrejas nos caps. 2 e 3); o que acontecerá depois” (caps. 4—22). Além disso, o dispensacionalista clássico acredita que a falta de menção da igreja no capítulo 4 indicaque esta será arrebatada ao céu por Cristo antes do advento da grande tri- bulação (caps. 6— 18). Como o d ispensacionalism o está intim am ente associado ao pré-milenarismo, não surpreende que essa perspectiva veja a h istória do mundo com pessim ism o. Grenz resum e essa interpretação: Em contraste ao otimismo do pós-milenarismo, o pré-milenarismo exibe um pessimismo básico relativo à história e ao papel que desempenhamos em sua culminação. Apesar de todas as nossas tentativas de converter ou reform ar o mundo, antes do fim, o anticristo emergirá e ganhará controle dos negócios humanos, pre diz relutantemente o pré-milenarismo. Somente a ação catastrófi ca da volta do Senhor provocará o reinado de Deus e a idade gloriosa de bem-aventurança e paz. De acordo com esse pessimismo básico, relativo à história mundial, teologias pré-milenares enfatizam a descontinuidade, ou até mesmo a contradição entre a ordem presente e o reino de Deus, e eles elevam o futuro divino acim a da perversidade presente. O reino é a coisa radicalmente nova que Deus fará. Porém, indepen dentemente de como possa ser concebido, a “era dourada” — o divino futuro — vem como o presente gracioso de Deus e somente pela ação de Deus.3S '•The millennial maze, p .185. 34 ■ Apocalipse Dispensacionalismo progressivo Para discutir o “dispensacionalismo progressivo”, a mais nova das quatro interpretações inspecionadas aqui, com binam os sua origem e descrição. Na década de oitenta, certos teólogos d ispensacionalistas iniciaram uma reconsideração do s is te ma e desenvolveram o que foi chamado “progressivo” ou dis pensacionalismo “modificado”.36 Enquanto ainda seja prematu ro chamar esta abordagem uma “escola de pensamento”, toda a evidência indica que esse ponto de vista ganhará influência no decorrer do tempo. A idéia abrangente que contém essa interpretação é sua aderência à hermenêutica do “já/ ainda não”. Primeiramente popularizado por Oscar Cullmann, teólogo suíço de uma ge ração passada, esse sistema vê a primeira e a segunda vinda de Cristo pela lente de tensão da escatologia. A primeira vin da testemunha a inauguração do Reino de Deus, ao passo que a segunda resultará em sua realização completa. Até então, o cristão vive na tensão entre a era por vir (que amanheceu à primeira vinda de Cristo) e esta presente era má (que somente será transformada na Parúsia, ou a Segunda Vinda de Cristo). Gordon D. Fee capta a essência deste pensamento: A estrutura absolutamente essencial ao próprio cristianism o pri mitivo [...] é escatológica. Os cristãos passaram a acreditar que, no evento de Cristo, a nova (vinda) era amanhecera, e que, especial mente pela morte e ressurreição de Cristo e o subseqüente dom do Espírito, Deus colocara o futuro em jogo, ser consumado ainda por outra próxima (parúsia) de Cristo. Deles foi então uma existência essencialm ente escatológica. Viveram “entre os tem pos” do com e ço e a consumação do fim. Deus tinha assegurado a salvação deles; eles já eram as pessoas do futuro, vivendo a vida do futuro na presente era — desfrutando seus benefícios. Mas ainda esperaram a consum ação gloriosa dessa salvação. Assim, viveram em uma tensão essencial entre o “já ” e o “não-ainda”.37 360 s proponentes dessa abordagem incluem Craig Blaising e Darrell Bock, Progressive dispensationalism (Wheaton: Victor, 1993); Robert L. Saucy, The case for P rogressive dispensationalism-, the interface between dispensational and non-dispensational theology (Grand Rapids: Zondervan,1993). 371 and 2 Timothy, Titus, Peabody, Mass.: Hendrickson,1988, p. 19. Introdução ao Apocalipse ■ 35 Como resultado de interpretar a Bíblia desta maneira, os dispensacionalistas progressivos divergem de alguns pontos defendidos pelo dispensacionalismo clássico. 1) Os “progres sivos” acreditam que Jesu s começou seu reino divino davídico na ressurreição. Craig Blaising e Darrell Bock expressam isto assim: Pedro argumenta em Atos 2 .22 -36 que Davi predisse no salmo 16, que esse descendente seria ressurreto, incorruptível, e desse modo seria entronizado (At 2 .30 ,31). Ele argum enta a seguir que essa entronização aconteceu na entrada de Jesus no céu, de acordo com a linguagem do salmo 110.1 , que descreve a entronização do filho de Davi à destra de Deus. Pedro declara (At 2 .36) que Jesus se tornou Senhor sobre Israel (SI 110.1 usa o título Senhor para o rei empossado) e Cristo (o rei ungido) em virtude do fato que ele agiu (ou permitiram que agisse) da posição celestial em nome de seu povo para os ab ençoar com o dom do Espírito Santo [...] A entronização à destra de Deus, a posição prometida ao rei davídico em Salmos 110 .1 , é designada a Jesus em muitos textos do n t . Claro que, isto é proclam ado em Atos 2 .3 3 -3 6 .38 2) A igreja não é um parêntese no plano de Deus; antes, como judeus crédulos no a t , que formam uma parte do povo de Deus (e.g., Rm 2 .26-28; 11; G1 6.16; Ef 2 .11-22; lPe 2.9,10). 3) A nova aliança está começando a ser cumprida na igreja (e.g., 2Co 3 .1—4.6; v. tb. o livro de Hebreus). 4) A promessa do a t sobre a vinda dos gentios para adorar o verdadeiro Deus ao término da história, também está expe rimentando realização parcial na igreja (e.g., Rm 15.7-13). Com respeito aos princípios básicos do dispensacionalismo clássico, porém, os progressistas estão em acordo completo em três pontos: 1) Israel será restabelecido a Deus no futuro (isto quer dizer, há uma distinção, entretanto, não dicotomia, entre Israel e a igreja); 2) Cristo voltará para estabelecer seu reinado milenar na terra (o ponto de vista pré-milenarista); 3) a igreja não passará pela grande tribulação (a interpretação pré-tribulacionista). Concernente ao Apocalipse, em particular, os progressis tas aplicam a hermenêutica do já/ ainda não à sua estrutura ,sProgressive dispensationalism , p. 177-8. 36 ■ Apocalipse como segue: O aspecto do já aparece no livro em termos de cumprimento histórico no século i d.C., face à adoração a César e à perseguição aos judeus cristãos (não é distinta da aborda gem preterista, apesar d« não poder ser equiparada a ela). O aspecto do ainda não do Apocalipse será encontrado nessas profecias (na m aioria do livro) que espera a realização na parúsia (a grande tribulação, o anticristo, parúsia, o milênio). Como o dispensacionalismo clássico, os progressistas focali zam também Apocalipse 1.19 como a chave para a estrutura do livro, mas em lugar de examinar o versículo delineando três es truturas (passado, presente, futuro), este ponto de vista perce be somente dois períodos no trabalho. João escreve o que viu (as visões do Apocalipse como um todo), que dividem as coisas em duas realidades: as coisas que são — a era presente; e as coisas que virão a ser — a era por vir. Para João, a igreja de seus dias vive na presente era (caps. 1—3), mas no céu, em virtude da morte e ressurreição de Jesus, a era por vir já alvoreceu (caps. 4 e 5). No futuro, a idade por vir descerá à terra efetuando a derrota do anticristo (caps. 6— 9), o estabelecimento do reino messiânico temporário na terra (cap. 20), e por conseguinte o estado eterno (caps. 21 e 22). Assim, há uma sobreposição o re lato das duas eras para o cenário contínuo ininterrupto entre a terra (nesta época) e o céu (a era por vir) no Apocalipse. O dispensacionalista progressivo também vê o desdobramento da história com pessimismo, porque ele é pré-milenarista em sua perspectiva. Porém, a hermenêutica do já/ ainda não ajus ta esse pessimismo à convicção otimista que o reino de Deus alvorece espiritualmente, dando, assim, grande esperança ao povo de Deus. Por conseguinte, os dispensacionalistas progres sivos são cautelosos quanto a não necessariamente comparar esta geração atual com a última antes do retorno de Cristo. Pode ser, ou pode não ser. Tony Campolo define o realismo da tensão escatológica inerente nessa mentalidade: Qualquer teoiogia quenão vive com sentido do retorno imediato de Cristo é uma teologia que abranda a urgência de fé. Mas qual quer teologia que não nos faça viver como se o mundo ainda estará aqui por milhares de anos é uma teologia que nos conduz à irresponsabilidade social.39 “ Entrevista: The Door (Sept./ Oct. 1993, p. 14). 1 0 ponto de vista P r e t e r is t a ■ K e n n e th L. G e n try Jr. PRETERISTA DO APOCALIPSE INTRODUÇÃO Quanto mais o tempo passa, mais distante estamos dos even tos do Apocalipse. Essa reivindicação, tão notável, resume o p on to de v is ta p r e te r is ta e v a n g é lic o do A p o c a l ip s e . 1 O “preterismo” assegura que grande parte das profecias de João ocorreu no século /, logo após o livro ter sido escrito por ele. Embora as profecias estivessem no futuro quando João escre veu, e seu público as leu, elas agora estão em nosso passado. O espaço do presente livro impede uma análise completa do Apocalipse e sua complicada estrutura .2 Ainda estou fir m em ente convencido que até m esm o uma p esquisa in tro dutória de várias passagens fundamentais, figuras, e eventos na p ro fecia m a je s to s a de Jo ã o pode d em on strar a plausi- bilidade da posição preterista. Quanto à estrutura, basta isto para dizer que seu movimento sugere um avanço espiral de eventos, envolvendo a reforma de antigas profecias (e.g., note as fortes semelhanças entre os selos e as trombetas, Ap. 6 e 8). A estrutura espiral de João permite relances inversos ocasionais 'A palavra “preterista” está baseada em uma palavra latina “praeteritus” significa “o que se passou”, i.e., passado. 2Para mais detalhes preteristas no Apocalipse organizado em um sistema escatológico, v. meu He shall have dominion, 2 ed., Tyler, Tex.: Institute for Christian Economics, 1996, esp. caps. 8 e 14— 17. V. tb. David Chilton, The days o f vengeance: an exposition o fth e book o f Revelation, Forth Worth, Tex.: Dominion, 1987; Jay E. Adams, The time is at hand, Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1966. 40 ■ Apocalipse e a reconsideração de eventos de ângulos diferentes, em lu gar de uma progressão cronológica inexorável. A razão para essaxestrutura é interessante: Milton S. Terry defensor notável do método gramatical histórico de interpreta ção, preterista de peso e autoridade em hermenêutica, citada por Robert L. Thomas em seu capítulo (a seguir), lembra que “todas e tais repetições apocalípticas servem tanto o propósito de intensificar a revelação divina como o de mostrar que a coi sa é estabelecida por Deus e que ele a fará para passar rapida m en te”.3 Claro que, nenhum intérprete leva o progresso do Apocalipse implacavelmente como trabalho desenvolvido — até o d ispensacionalista c lássico Robert Thom as aceita alguns entrosamentos passados e futuros, intercalações disjuntivas, e assim sucessivamente (e.g., em Ap 11.15-19; 12.1ss. 19.1-4, 7-9).4 Antes de iniciar minha pesquisa, tenho de apontar o que a maioria dos cristãos suspeita e o que praticamente todos os estudiosos evangélicos (excluindo os dispensacionalistas clás sicos) reconhecem com referência ao livro: o A pocalipse é um livro a ltam en te figurativo que n ão pod em os a b o rd a r a partir de um litera lism o d ireto e sim ples. Porém, após fazer essa declaração, o ponto de vista preterista entende as profecias do Apocalipse refletindo eventos históricos atuais solidamente no futuro próximo de João, entretanto eles estão fixados no drama apocalíptico e ornados em hipérbole poética. Como o comentarista pré-milenarista Robert Mounce observa: “Que a 3BibIicaI Apocalyptics-, a study o f the most notable Revelatíons o f God and o f Christ, Grand Rapids: Baker, rep. 1988 (1898), p. 22. V. Gênesis 4 1 .25 ,32 . •'Robert L. T h o m a s , Revelation 8—22: An exegetical com mentary (Chicago: Moody, 1995, p. 43, 103-4, 106-7, 113, 355, 365-6). Por exemplo, “esta passagem faz parte de uma intercalação que não é uma parte de rígida sucessão cronológica do Apocalipse” (366). Uma peculiaridade notável existe no sistema dispensa cionalista clássico literário, análises cronológicas de profecia: Intercalações apa recem inesperadamente em qualquer lugar em que o sistema precisa deles. Por exemplo: 1) a imagem unificada de Daniel 2 envolve quatro impérios mun diais sucessivos que se desenvolvem progressivamente um após o outro, mas com o quarto entre dois estágios, inclusive um “império romano reavivado” separado de seu antecessor romano antigo por 1 500 anos — até agora (v. ibid., p. 153). 2) As setenta semanas de Daniel unificadas, após desenvolver progres sivamente pelas primeiras 69 semanas, param de repente no primeiro século, mas retomam novamente na grande tribulação milhares de anos depois (cf. T h o m a s , Revelatíons 1— 7 [Chicago: Moody, 1992], p. 426). 0 ponto de vista preterista ■ 41 linguagem da profecia é altamente figurativa e não tem nada a ver com a realidade dos eventos preditos. O sim bolism o não é uma negação da historicidade, mas um assunto de gê nero literário”.5 Verifique os seguintes impedimentos de um literalismo preconcebido: 1) A d ec la ra ção sobre conteúdo. Em sua declaração de aber tura, João nos informa que sua revelação foi dada “para m os trar” (gr. deixai) a mensagem e para isso “enviou seu anjo para torná-la co n h ecid a” [gr. esçm an en ] pelo seu a n jo ” (Ap 1.1). Conforme Friedrich Düsterdieck comenta: “O deixai ocorre do modo peculiar a sem ainein , isto é, a indicação do que é signi ficado por meio de “figuras significativas”.6 Na realidade, 41 vezes, João diz que ele “vê" essas profecias (e.g., 1 .12,20; 5.6; 9.1 ; 20 .1). Além disso, algumas das visões são obviam ente simbólicas, como o cordeiro morto (caps. 4 e 14), a besta de sete cabeças (caps. 13 e 17), e a prostituta babilônica (cap. 17). Em seu evangelho, João mostra o problema do literalismo entre os primeiros ouvintes de Cristo: eles interpretam mal seu ensino referente ao templo (Jo 2 .19-22), ao nascer de novo (3.3-10), ao beber água (4.10-14), ao com er sua carne (6 .5 1 56), ao ser livres (8.31-36), ao ser cegos (5.39,40), ao dormir (11.11-14), e Jesus como Rei (18.33-37). Essa abordagem errô nea é exagerada se usada na revelação de João. A natureza visual no conteúdo do Apocalipse — não somente o método de sua ass im ilação — requer in terpretação sim bólica . Quer dizer, com exceção de poucos casos (e.g., Ap 1.20; 4.5; 5.6,8; 7 .13 ,14 ; 12.9; 17.7-10), os símbolos não são interpretados para nós. E em um desses exemplos em que aceitamos uma inter pretação angelical (17.9-12), a besta de sete cabeças não é lite ralmente uma besta de sete cabeças de modo algum. 2) O p r ec ed en te d os p r o fe ta s an tigos. Os profetas do a t empregam linguagem figurativa para um dos dois propósi tos: relacionar verdades espirituais m ajestosam ente, ou sim bolizar eventos históricos dramaticamente. Por exemplo, Deus está cavalgando em uma nuvem “que vai para o Egito” (Is 19.1; ' Robert H. M o u n c e , The book o f Revelation, n i c n t ; Grand Rapids: Eerdmans, 1 ')77, p. 218. Para uma discussão útil, sucinta da hermenêutica apocalíptica, v. Vem S. Poythress, Genre and hermeneutics in Rev 20.1-6, j e t s 36, Mar. 1993, p. I I r)4. 'Criticai and exegetical handbook to the Revelation o f John, 6 ed., tradução I lenry Jacobs, Winona Lake, Ind.: Alpha, rep. 1 9 8 0 (1 8 8 4 ), p. 96. 42 ■ Apocalipse v. a seguir; “O tema Apocalíptico”) e a destruição da linguagem (Ap 13.10; v. a seguir “O sexto selo”) fala da queda de cidades antigas. Terry oferece rhuita ajuda a este respeito ,7 diz que “uma interpretação literal rígida da linguagem apocalíptica inclina- se a confusão e equívocos infinitos”.8 Até o literalista Robert Thomas admite que “a fluidez da linguagem metafórica nas Escrituras é inegável”.9 3) A d ificu ld ad e do literalism o consisten te. Alguns exem plos do literalismo parecem estranhos, irracionais,e desne cessários. Por exemplo, Robert Thomas assegura que os gafa nhotos assustadores em Apocalipse 9 e as rãs estranhas em Apocalipse 16 são demônios que literalmente assumem essas formas físicas; que os dois profetas em Apocalipse 11 literal mente vomitam fogo de suas bocas; que toda montanha no mundo será abolida durante o julgamento das sete taças; que a destruição literal da cidade da Babilônia por fogo acontecerá lentamente por mais de 1 000 anos; que Cristo retornará do céu para a terra em um cavalo, literalmente; e que a Nova Jerusa lém é um cubo de 1 500 milhas de altura .10 A EXPECTATIVA TEMPORAL (AP 1.1-3) Volto-me agora a uma pesquisa do livro de Apocalipse. Platão, em A república, afirma uma máxima singular: “O começo é a parte mais importante do trabalho”. Esse princípio assegura um significado especial para o pretensioso intérprete do Apocalipse. Infelizmente, muitos entusiastas da profecia pulam o começo desse livro, deixando de assegurar um fundamento adequado para o caminho traiçoeiro adiante. Mas tirando uma linha de Isaías, o preterista pergunta: “Será que vocês não sabem? Nunca ouviram falar? Não lhes contaram desde a antigüidade?” (Is 40.21). O preterista insiste que a chave para o Apocalipse seja encontra da em abertura. Note a introdução de João: 7BibIicaI Apocalyptics, cap. 19: “The Apocalypse of John”; v. tb. Milton S. Terry, Biblical herm eneutics: a treatise on the interpretation o f the Old and New Testaments, 2 ed., Grand Rapids: Zondervan, rep. 1974 [n.d.], cap. 26: “The Apocalypse of John”. sBiblical Apocalyptics, p. 228. 9Revelation 8—22, p. 372. l0Revelation 1— 7, p. 455 , e Revelation 8— 22, p. 30, 46, 49, 90, 264, 360, 386, 467. 0 ponto de vista preterista ■ 43 Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para m ostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer [...] Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. (Ap 1.1a, 3, grifo do autor). Agora — an tes que as visões dramáticas brilhem em cena e a imagem altamente forjada confunda o leitor — João fornece uma pista indispensável para interpretar o seu livro: Os even tos do Apocalipse devem acontecer [gr. tachos] “em breve” (v. 1) porque “o tempo está próximo [gr. engys]”.n Os léxicos gregos e as traduções modernas concordam que essas condições indicam proximidade temporal. Ao longo do n t, tachos significa “depressa, imediatamente, sem demora, breve mente”.12 O termo engys (“próximo”) também fala de proximida de temporal: do futuro (Mt 26.18), do verão (24.32) e de um festival (Jo 2.13). O apóstolo João, inspirado, informou claramen te há quase dois mil anos ao seu público da época que eles deve riam esperar as profecias “acontecer” (Ap 1.1) no tempo de vida deles. Como observa Milton Terry, os eventos do Apocalipse são referentes “só a alguns anos no futuro após João escrevê-lo”.13 O significado dessas palavras não se encontra somente na introdução ao Apocalipse, mas também na conclusão de sua obra. Assim, eles são uns parênteses que qualificam o livro todo. Note como termina: O anjo me disse: “Estas palavras são dignas de confiança e verda deiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu anjo para m ostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer..." Então me disse: “Não sele as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo" (Ap 2 2 .6 ,1 0 , grifo do autor). Ainda mais, os termos aparecem com freqüência em Apocalipse, mostrando a ênfase urgente de João na expectativa temporal. nOs teólogos notam que referências para “o tempo” indicam com freqüên cia um “tempo de crise” especial. A próxima crise no Apocalipse, como mostra rei, é o “Dia de Deus” julgamento em Israel em 67-70 d.C. (Atos 2 .16-20 ; lTs 2.14-16). 12V. Lucas 18.8; Atos 12.7 ; 22 .18 ; 25 .4 ; lTm 3.14, onde engys é usado em contextos surpreendentes (Rm 13 .11 ; 16 .20 ; Fp 4.5), se abre a pergunta do significado do evento esperado, não do significado temporal de engys. "Biblical Apocalyptics, p. 277. 44 ■ Apocalipse Encontramos tachos (“logo”) em 1.1; 2 .16; 3.11; 2 2 .6 ,7 ,1 2 ,2 0 e engys (“próximo”) em 1.3; 3.10; 2 2 .1 0 .14 Assim, como Robert Thomas que se opõe ao preterismo admite: “Um impulso prin cipal do A p o ca lip se^ su a ênfase na brevidade de tempo antes do cum prim ento”.15 João enfatiza esses dois term os claros com significados semelhantes, logo, antecipando qualquer confusão entre seus leitores quanto ao qu an do as profecias ocorreriam. O preterista, a seguir, discute positivamente que João afir ma que os eventos estão próximos já nos seus dias. Por conse guinte, eles devem estar em nosso passado distante. O preterismo é exegeticamente fundamentado, pois está arraigado em princí pios hermeneuticamente sólidos. Porém, antes de continuar mos, tenho de contar brevemente duas réplicas comuns a esta análise: O bjeção 1: João está falando do tempo de Deus, e não o nosso. As Escrituras informam que mil anos para o Senhor são “como um dia” (2Pe 3.8). Essa objeção popular cede ao peso da seguinte evidência: a) O Apocalipse é particularmente motivacional. João está aqui escrevendo para seres humanos, mas não sobre Deus. A de c laração de Pedro em 2Pedro 3 .8 é c laram ente teo lóg ica ; Apocalipse 1.1,3 são diretivas humanas, que serão ouvidas e terão influência. Pedro está lidando com o problema oposto ao de João: ele está explicando (baseado na eternidade de Deus) a d em ora da Segunda Vinda de Cristo (2Pe 2.4), ao passo que João está advertindo (baseado no sofrimento humano) da p ro xim idade de ju lgam ento temporal. b) O Apocalipse é histórico e concreto. João está escreven do para sete igrejas específicas, históricas (1.4,11; 2 .1— 3.22) sobre suas terríveis circunstâncias presentes (elas estão em “tribulação”, 1.9; 2 .9 ,10 ,13 ) , a necessidade de serem pacien tes (1.9; 2 .2 ,3 ,1 0 ,1 3 ,2 5 ; 3 .10 ,11), e os ju lgam entos da vinda iminente (2 .5 ,16 ,25 ; 3 .3 ,11; 22 .10 ,18 ,19) . 14Ap 1.19 também pode ser útil, entretanto é obscurecido na nvi. Provavel mente deveria ser trad uzido com o no The in terlin ea r G reek-English New Testament de Marshall, 2 ed. (Grand Rapids: Zondervan, 1959, p. 959) : “Escrevas as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois hão de acontecer”. V. Kenneth L. Gentry Jr., Before Jerusalem fell: dating the book o f Revelation (Tyier, Tex.: Institute for Christian Economics, 1996, p. 141-2). 15Revelation 1— 7, p. 55. 0 ponto de vista preterista ■ 45 Robert Thomas, citando William Lee, corretamente observa o seguinte referente às cartas para as sete igrejas, em Apocalipse 2 e 3: “Porém, não se pode negligenciar o caráter histórico ao longo do qual está estampado nas Epístolas [...] e que distinta mente aponta para um estado de coisas de fato ante a mente de S. João existindo nas várias igrejas".16 Isto é, várias alusões histó ricas, geográficas, e políticas nas cartas mostram que João o faz, na realidade, tendo em vista as igrejas específicas que ele ende reça. Ele estaria insultando-as impiedosamente se estivesse dis cutindo eventos dois mil anos, ou mais, atrás. Deus responde ao clamor ansioso “quanto tem po?” incentivando a paciência deles so m ente um “pouco m ais de tem po" (6 . 10 , 11 ).17 “O Apocalipse promete que não haverá nenhuma “demora" (10.6).” Para isso a natureza do livro exige uma “abordagem preterista”.18 c) O Apocalipse é enfático e declarativo. As expressões de iminência são didáticas (não-simbólicas), freqüentes (na in trodução, conclusão, e em outras partes), e variadas (v. d is cussão anterior de tachos e engys). De que outra maneira João poderia ter expressado proximidade no tempo se não por e s ses term os? Todas as traduções inglesas em pregam con d i ções que expressam proximidade temporal. d) O Apocalipse é harmonicamente paralelo. A expectativa
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