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Coleção debates teológicos - C Marvin Pate - As interpretações do apocalipse 241

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K e n n e th L. Gen t ry Jr. 
Sam Hamstra j r .
C. Marv in Pate 
R o b e r t L. Thom as
O R G A N I Z A D O R DO V O L U H
C. Ma r v i n Pa t e
( s /
Vida
A C oleção D ebates Teológicos, o r g a n iz a d a p o r S tan ley G uiulry , 
a h r r . c í t p a ç o p a ra » livre tlelvate. a n a l i s a n d o p e n s a m e n t o s d i f e r e n t e s , a le m 
d e p r o p o n io n a r a o le i t o r a o p o r t u n i d a d e d e se a p r o f u n d a r no 
c o n h e c i m e n t o e na e o n v n . a o d e te m a s r e l e v a n t e s da t e o l o g ia c r i s t a .
IS B N X S -7 3 6 7 -6 6 0 4
J
m.__________ _ J
Vida
E d i t o r a d o g r u p o
ZONDERVAN
H a r i-e r C o i .i .in s
E d i c o r a f i l i a d a à 
C â m a r a B u a silh ir a d o L iv r o
A s s o c ia ç ã o B r a s il e ir a 
d e E d i t o r j ;s C r is t ã o s
A s s o c ia ç ã o N a c io n a i 
d e L iv r a r ia s
A s s o c ia ç ã o N a c io n a l d e 
L iv r a r ia s E v a n g é l ic a s
A s s o c ia ç ã o B r a s il e ir a 
d l M a r k e t i n g D i r e t o
D ir e ç ã o e x e c u tiv a
E u d e M a r t in s
S u p e r v is ã o de p r o d u ç ã o 
S a n d r a L e i t f .
G e r ê n c ia f in a n c e ir a 
S é r g i o L im a
G e r ê n c ia de c o m u n ic a ç ã o e m a rk e tin g
S f r g i o P a v a r in i
G e r ê n c ia e d i to r ia l 
JFa b ia n i M e d e i r o s
S u p e r v is ã o e d i t o r ia l 
A l d o M f n f z h s
Editorias
OBRAS d e in t e r e s s e g e r a l 
OBRAS PARA IGREJA E FAMÍLIA 
OBRAS TEOLÓGICAS E DE RF.FKRÊNC1A 
OBRA EM LÍNGUA PORTUGUESA 
OBRAS INFANTIS K JUVENIS 
BÍBLIAS
S t á i j ' j 1- t í . t t U y
Interpretações do
A PO C A LIPSE
P r e t e r i s t a
K e n n c t h L. Gen t r y j r .
I d e a l i s t a
Sam I lamstra Jr.
D i s p e n s a c i o n a l i s t a p r o g r e s s i v o
C. Marv in Pate
D i s p e n s a c i o n a l i s t a c l á s s i c o
R o b e r t L. T h o n ia s
C. Marvin Pate
T r a d u ç ã o 
V i c t o r D e a k i n s
t e /
Outros volumes da Coleção 
Debates Teológicos
Cessaram os dons espirituais?
Lei e evangelho ©2001, de C. Marvin Pate, Kenneth L. Gentry Jr.,
Sam Hamstra, Roberc L Thomas
Título do original Four views on the book o f
Revelation,
edição publicada pela 
ZONDERVAN PUBLISHING H ü U SE 
(Grand Rapids, Michigan, eu a )
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
E d it o r a V id a
Rua Júlio de Castilhos, 280 * Belenzinho 
c e p 03059-000 « São Paulo, sp 
Telefax 0 xx 11 6096 6814 
www.editoravida.com.br
P r o ib id a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a is q u e r m e io s ,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da 
Nova Versão Internacional (n v i) ,
©2001, publicada por Editora Vida, 
salvo indicação em contrário.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( c ip ) 
(Câmara Brasileira do Livro, S P , Brasil)
O Apocalipse : quatro pontos de visca /C. Marvin Pate , (org) ; tradução 
Victor Deakins. — São Paulo : Editora Vida, 2003. — (C ok*B U e b a te s 
Teológicos)
http://www.editoravida.com.br
P refácio 7
A b re v ia tu ra s 9
In tro d u çã o ao A pocalipse 11
1. 0 ponto de vista PRETERISTA 39
Kenneth L. Gentry Jr.
2. 0 ponto de vista IDEALISTA 99
Sam H am stra Jr.
3. 0 ponto de vista DISPENSACIONALISTA PROGRESSIVO 139
C. Marvin Pate
4. 0 ponto de vista DISPENSACIONALISTA CLÁSSICO 185
Robert. L. T h o m as
C o n clu sã o 2 3 9
Um sábio definiu um clássico como “um livro comentado por 
todos, mas que quase ninguém lê”. Infelizmente, esta descri­
ç ã o p o d e r ia s e r a p l ic a d a a o ú lt im o i iv r o d a B íb iia — O 
Apocalipse. Quem ainda não foi cativado pelo poder de seu 
drama e a pungência de sua mensagem? Porém, quantos re­
almente leram o Apocalipse? Indubitavelmente, há uma gran­
de diferença nas respostas para essas perguntas. O propósito 
deste volume é ajudar a atravessar a barreira entre as respos­
tas que o antecedem; isto é, conduzir as pessoas a não so ­
mente serem cativadas pelo Apocalipse, mas a engajarem-se 
por meio da interação pessoal. Com esse intuito, acreditamos 
que as contribuições presentes oferecem quatro pontos de vis­
ta alternativos e bem argumentados do último livro da Bíblia.
Todos os autores neste volume são estudiosos evangélicos 
em assuntos teológicos. Para cada um, a inspiração das Escri­
turas é o fundam ento para o entendim ento do Apocalipse. 
Além disso, embora os colaboradores apresentem seu ponto 
de vista com convicção, o fazem com um espírito cristão e conci­
liador. Com esse princípio, este livro é dedicado a todos aqueles 
“que amam a [Cristo] por sua v in d a”, em bora as opin iões 
escatológicas divirjam.
Gostaria de agradecer aos que ajudaram neste projeto. Mi­
nha gratidão se estende a outros colaboradores — Ken Gentry, 
Sam Hamstra e Robert Thom as — que têm ajudado a tran s­
formar em realidade a visão deste trabalho. Pessoalmente, esse 
empenho me deu o privilégio de fazer novos amigos e desen­
volver idéias estimulantes. Espero que meus colegas sintam o
8 * Apocalipse
mesmo. Também desejo agradecer ao pessoal do editorial da 
Zondervan que aprovou e concluiu o pro jeto — Ed van der 
Maas, Verlyn D. Verbrugge, e Stanley N. Gundry. Suas contri­
buições foram entusiásticas e inestimáveis,
C. Marvin P ate 
O r g a n iz a d o r
ab A n c h o r Bible C o m m en ta ry
b a r Biblícal A rch a eo lo g y Review
b a s o r BuIIetin o f the A m erica n Society fo r O rientai R esea rch
Bsac B ibliotheca S a cra
icc In tern a tio n a l C riticai C o m m en ta ry
j e t s Jo u rn a l fo r the E va n gelíca l T heological Society
j s n t s s Jo u rn a l fo r the Study o f the New T estam ent Suplem ent Series
kjv K ing Ja m e s Version
l x x S e p tu a g in ta
n a sb N ew A m erica n S ta n d a rd Bible
N/cwr N ew In tern a tio n a l C o m m en ta ry o f the N ew Testam ent
m Nova V ersão In tern a cio n a l
n k j v N ew K ing Ja m e s Version
N ovTSup S u p lem en ts to N ovum T esta m en tu m
nrsv N ew R evised S ta n d a rd Version
ms N ew T esta m en t Studies
r s v R evised S ta n d a rd Version
s n ts m s Society of the New T e s ta m e n t Studies M onograph Series
nvjr Tyndale N ew T estam ent C o m m en ta ries
T rinJ Trinity Jo u rn a l
Das reações modernas ao livro de Apocalipse, três vêm rapi­
damente à mente. “O bsessão” é a palavra apropriada para des­
crever alguns dos oito milhões de devotos em profecia nos 
dias de h o je ,1 que estudam com afinco as profecias do Apoca­
lipse no estilo de Nostradamus, correlacionando eventos atuais 
fora de época com suas antigas advertências secretas. Seguin­
do esse ponto de vista, esses intérpretes comparam a China 
vermelha com os “reis do Leste" (Ap 16.12-16), o Mercado Co­
mum Europeu com os “dez chifres da b esta” (13.1-10), a mar­
ca da besta (666 ) em Apocalipse 13 com tudo o que for possível, 
de cartões de crédito à Internet e o anticristo com um desfile 
de p e s so a s p ro e m in e n te s , in c lu in d o A dolf Hitler, Benito 
Mussolini, Henry Kissinger e Mikhail Gorbatchov. Essa inten­
sa fascinação com o Apocalipse por quem prevê a destruição 
de modo pessimista não mostrou sinal algum de diminuição 
com a aproxim ação do ano 2000 (quando escrevem os esta 
obra). Porém, a leitura do último livro da Bíblia como se fosse 
uma visão em uma bola de cristal, causou inegavelmente mais 
dano que proveito, e hermeneutas responsáveis a evitam .2
Uma segunda réplica moderna ao Apocalipse pode ser ex­
pressa pela palavra “irrelevante”. Como indica o termo, muitos
"De acordo com Paul Boyer, When time shall be no more: prophecy beliefs in 
modern American culture (Cambridge: Harvard Unviersity Press, 1992), p. 2 e 3.
2Para crítica da mentalidade do dia do juízo unviersal, v. C. Marvin Pate e 
Calvin B. Haines Jr., Doomsday delusions:what’s wrong with predictions aboul 
the end of the world (Downers Grove: i v p , 1995).
12 ■ Apocalipse
consideram que o Apocalipse é uma antologia antiquada de 
imagens bizarras, originadas da paranóia, e designadas para 
moralizar as pessoas por meio de táticas de medos divinos. 
Como um professor de religião discorreu quando se fala de 
literatura apocalíptica, da qual o Apocalipse faz parte, “é toli­
ce!”. Uma suspeita é que a primeira réplica de obsessão tenha 
contribuído para a segunda réplica de irrelevante.
Porém, muitos cristãos nos dias de hoje se acham em al­
gum lugar entre os dois extremos, abordando o Apocalipse com 
preocupação “obediente, mas hesitante”. Por outro lado, eles 
reverenciam o livro como inspirado por Deus e, portanto, como 
algo pertinente às suas vidas; eles, no entanto, acham seu sig­
nificado confuso e até potencialmente discordante. Em grande 
parte, esperamos que este trabalho se dirija a essas pessoas — 
para trazer esclarecimento a um tópico confuso, mas vital.
Ainda não podemos obter perspicuidade de determinado 
assunto simplesmente por examinar isto a partir de uma só 
perspectiva. Essa abordagem corre o risco de ser míope e pro­
v inciana. Mais p ro p riam en te , o que é p reciso quando se 
examina o Apocalipse é uma leitura interpretativa desse livro 
de tal forma que o total da soma do conjunto seja maior do 
que as partes. Não que um texto antigo bíblico ou qualquer 
outro, tenha mais de um significado, uma a reivindicação da 
pós-m odernidade. Em vez disso, há um chamado para que 
percebam os nossas limitações individuais, nossa com preen­
são finita, e percebamos a necessidade que temos dos outros 
e de suas percepções e discernimento, revelados pelo Espíri­
to Santo, para compreender o propósito da Palavra de Deus. 
Aplicando a analogia das partes e do conjunto ao Apocalipse, 
permite-se essa declaração: As quatro interpretações neste vo­
lume representam as partes interpretativas, ao passo que o 
leitor, ajudado pelo Espírito, forma o todo.
Antes de recorrer às várias perspectivas oferecidas neste 
livro, porém, primeiramente precisam os examinar assuntos 
introdutórios relativos ao Apocalipse — isto é, uma apresen­
tação geral, seguida de um resumo das interpretações princi­
pais do documento. A maior parte deste volume, no entanto, 
são os quatro pontos de vista atuais: o preterista; o futurista, 
que pode ser delineado em disp ensacio nalism o c láss ico e 
d ispensacionalism o progressivo; e o idealista. Esperançosa­
mente, o total da soma das partes individuais nos livrará da
Introdução ao Apocalipse ■ 13
crítica hermenêutica refletida na famosa sátira de Mark Twain: 
“As pesquisas de muitos estudiosos já lançaram muita escuri­
dão neste assunto, e é provável que, se eles continuarem, logo 
não saberemos nada sobre isto!”.
INTRODUÇÃO GERAL AO APOCALIPSE 
Estilo
Antes de interpretar qualquer com posição literária co rre ta ­
mente, incluindo a Bíblia, deve-se determinar seu gênero ou 
estilo literário .3 Este princípio é muito importante para o Apo­
calipse, e sua negligência resultou em um pântano de pontos 
de vista contraditórios. A dificuldade aumenta pelo fato de 
que o Apocalipse consiste em uma mistura de três gêneros: 
apocalíptico, profético, e epistolar. Alan F. Johnson descreve 
o primeiro desses gêneros sucintamente:
O Apocalipse é [...] geralmente visto como um livro que pertence ao 
corpo de escritos judaicos não relativos à Bíblia, conhecidos como 
literatura apocalíptica. O nome para este estilo de literatura (alguns 
dezenove livros) é derivado da palavra “revelação” (apocalypsis) em 
Apocalipse 1.1 [...] Os livros apocalípticos extrabíblicos foram es­
critos no período de 200 a.C. a 200 d.C. Normalmente, os estudiosos 
dão ênfase às semelhanças do Apocalipse de João a esses livros 
não-canônicos — semelhanças como o uso de simbolismo e visão, 
a menção de mediadores angelicais da revelação, as imagens bizar­
ras, a expectativa de julgamento divino, a ênfase no reino de Deus, 
os novos céus e terra, o dualismo desse período e o porvir.4
Embora com parações significantes realmente existam en ­
tre o Apocalipse e o material apocalíptico judeu e cristão, há 
diferenças críticas entre eles também, apesar de o Apocalipse 
ser um livro profético (1.3; 2 2 .7 ,1 0 ,1 8 ,1 9 ) , ao passo que os 
outros não fazem reivindicação alguma. Assim, o Apocalipse 
não é pseudônimo (1 .1; 22 .8); e tampouco é pessimista quanto
’Para a abordagem de “estilo", excelente, para a Bíblia, v. Gordon D. Fee e 
Douglas Stuart, How to read the Bible fo r ali its worth: a guide to understanding 
the Bible, 2 ed. (Grand Rapids: Zondervan, 1993).
“•Revelation, in: The expositor’s Bible com m entary, Frank E. G a e b e l e i n (org.), 
Grand Rapids: Zondervan, 1981, vol. 12 p. 400 . V. tb. a bibliografia, muito útil, 
fornecida por Johnson sob o tópico apocalíptico, p. 400-1 , n 3.
14 ■ Apocalipse
à intervenção de Deus na história. Além disso, enquanto mui­
tos escritores apocalípticos reconstruíram eventos passados 
como se fossem profecias futurísticas (vaticin ia ex eventu), 
por co n seg u in te p roporcionand o credibilidade à coragem 
profética deles, João (o autor de Apocalipse) não segue esse 
procedimento. Ao contrário, ele se coloca no mundo do sécu­
lo i d.C. e fala da consumação escatológica por vir da mesma 
maneira como fizeram os profetas do a t — uma consumação 
que, para João, já começou a romper na história na morte e 
ressurreição de Jesus Cristo (1.4-8; 4 e 5).
Além de ser apocalíptico e profético em natureza, o Apoca­
lipse é envolvido por uma estrutura epistolar (1.4-8 e 22.10-21). 
Esta estrutura por si mesma diferencia o material apocalíptico. 
A prescrição (1.4-8) contém o componente epistolar típico — 
remetente, destinatário, saudações, e a característica de uma 
doxologia adicionada. O pós-escrito (22 .10-21 ), em boa forma 
antiga, resume o corpo dos escritos, como também legitima 
João como seu autor divinamente inspirado. O efeito com bi­
nado do prescrito e do pós-escrito, sem mencionar as cartas 
para as sete igrejas da província romana na Ásia (caps. 2 e 3), 
é para consolidar o Apocalipse na história real de sua época. É 
muito diferente de outros apocalipses antigos não canônicos. 
Por exemplo, considere a declaração de abertura em lEnoque, 
que o autor viu “não era para esta geração, mas a distante que 
está por vir” (lEnoque 1.2).
Autoria
Averiguando a identidade do autor de Apocalipse, duas linhas 
de evidência precisam ser avaliadas: a externa e a interna .5 A 
evidência externa consiste no testemunho dos pais da igreja, 
que é quase unânime a favor da opinião de que o apóstolo 
João foi o autor do Apocalipse. Entre eles incluem-se Papias,
5A discussão seguinte é reconhecida pelo trabalho de Robert L. Thomas, 
Revelation 1— 7: an exegetical commentary, Kenneth Barker (org.) (Chicago: 
Moody, 1992), p. 2-19. A questão da autoria do Apocalipse está relacionada 
estritamente à sua canonicidade, ao menos em termos da discussão dos pais 
da igreja. Assim, quem aceitou a autoria joanina do Apocalipse aceitou sua 
canonicidade. Porém, os que questionaram ou até mesmo negaram a autoria 
joanina, questionaram ou rejeitaram sua canonicidade (principalmente Dionísio 
e, em uma posição menor, Eusébio).
Introdução ao Apocalipse ■ 15
Justino Mártir, o F ragm ento m uratório , Ireneu, Clemente de 
Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Orígenes, e Metódio. As exce­
ções para esse testemunho são Dionísio, bispo de Alexandria 
(247-264), e Eusébio, o historiador da igreja que foi persuadi­
do pelos argumentos de Dionísio contra a autoria joanina do 
livro (embora Eusébio tenha expressado suas dúvidas com 
menos vigor que Dionísio).
Recorrendo à evidência interna para determinar a autoria 
do Apocalipse, as quatro categorias de Dionísio continuam 
convencendo muitos contra a autoria jo a n in a ,6 que resum i­
mos aqui: 1) a própria identificação do escritor; 2) a constru­
ção do Apocalipse,quando comparado aos escritos genuínos 
do apóstolo João; 3) o caráter desses escritos; e 4) o estilo 
desse material.
1) O primeiro argumento interno oferecido por Dionísio é 
o fato de que o Apocalipse identifica seu autor como “Jo ã o ” 
(1.1,4 ,9 ; 22.8), mas nem o evangelho de João nem as cartas de 
João o fazem. A suposição aqui é que se o apóstolo João tives­
se escrito o Apocalipse, não teria sentido nenhuma compulsão 
para se identificar como seu autor. Porém, esse raciocínio é 
um argumento de silêncio e por essa razão não é convincen­
te. Além disso, a natureza apocalíptica pode ter compelido o 
autor a se identificar, de modo semelhante a do outros traba­
lhos que se enquadram nesse estilo.
2) Quanto à construção do Apocalipse e do Evangelho de 
João e de suas cartas, Dionísio argumentou que o Apocalipse 
não começa com a identificação de Jesus como a “Palavra”, e 
tam pouco com sua identificação com o testem u nha ocular, 
apesar de tanto o evangelho como suas cartas o fazerem. (V. 
Jo 1 .1 -18 com l j o 1.1-4). Mas essa observação negligencia 
Apocalipse 1.2 e a conexão que faz da Palavra de Deus com 
Cristo, como também perde o significado associado ao con­
ceito de “tes tem u n h a ” em Apocalipse e na outra literatura 
joanina (v. Ap 1.2; 22 .16 com Jo 1.19ss.; 5.32; 8 .18; 15.26; l jo 
1.1-4; 5.6-11).
3) Dionísio também sustentou que o vocabulário de Apoca­
lipse difere significativamente dos escritos joaninos autênticos.
“Esta influência esp. pode ser percebida no trabalho monumental de R. H. 
Charles, The Revelation o f St. John (icc; Edinburgh: T. & T. Clark, 1920), 2 vols.
16 ■ Apocalipse
Não obstante, a afirmação de Dionísio não se sustenta em exa­
me cuidadoso. Doze das dezenove cláusulas joaninas que não 
são supostamente encontradas em Apocalipse acontecem na 
realidade (e.g., “vida”, “sangue”, “ju lgam ento”, “diabo”). Além 
disso, três das condições que não ocorrem em Apocalipse tam­
bém estão ausentes do Evangelho de João (“perdão”, “anticristo”, 
“adoção”), e um deles (“convicção”) não está presente em l joão . 
Além disso, embora “verdade” não este ja no Apocalipse, seu 
sinônimo, “verdadeiro”, está. Também, ao passo que “alegria” 
está ausente no Apocalipse, só ocorre uma vez em cada uma 
das três cartas de João. Então, nos resta apenas um termo, “es­
curidão” que com freqüência aco n tece nos outros escr itos 
joaninos e não em Apocalipse — sem evidência suficiente que 
possa fundamentar uma distinção principal.
4) Finalmente, Dionísio afirmou que o Apocalipse está es­
crito em grego pobre, em contraste com o estilo do bom gre­
go, referente ao outro material joanino. Porém, isto negligencia 
dois fatores: a) um estilo de escrita de um mesmo autor não é 
sempre consistente; b) João, como seus contemporâneos, pode 
bem ter usado um am anuense (secretário profissional), por 
meio de quem compôs seu Evangelho e as cartas (v. Rm 16.22; 
lPe 5.12). Porém, exilado na ilha de Patmos, (v. 1.9), presumi­
velmente, ele não teve acesso a tal indivíduo.
Em equilíbrio, então, as evidências externa e as interna pa­
recem apontar o apóstolo João como o autor do Apocalipse 
ou, pelo menos, para um membro da Escola Joanina .7
Data
Analisaremos as teorias referentes à data do Apocalipse a se­
guir, nesta introdução, com referência aos planos interpre- 
tativos do livro, mas para o momento notamos que dois pe­
ríodos principais qualificam-se como candidatos: o reinado 
do imperador Nero (54-68 d.C.) e o reinado de Domiciano (81 ­
96 d.C.). Como será desenvolvido mais tarde, a escola prete- 
rista de interpretação discute o que precede, ao passo que a
7 A visão de que o Apocalipse e o evangelho de João foram escritos por 
membros da Escola Joanina é discutida por Elisabeth S. Fiorenza, The quest for 
the johannine school: the Apocalypse and the origin of both Gospel and 
Revelation, n t s 23, (Apr. 1977), p. 402-27.
Introdução ao Apocalipse ■ 17
abordagem futu rista , esp ec ia lm e n te o d isp en sac io n a lism o 
clássico, se alinha com o posterior. O dispensacionalismo pro­
gressivo vê uma combinação das duas datas como operantes 
no livro, ao passo que a perspectiva idealista não está limita­
da a qualquer cronograma.
Unidade
Aproximadamente uma geração atrás, alguns intérpretes, ca­
tivados pela crítica da fonte, desenvolveram a teoria de auto­
ria múltipla para o Apocalipse, notadamente R. H. Charles e J. 
Massyngberde Ford .8 Evidência que supostamente milita con­
tra a autoria singular e se enquadra em quatro categorias: 1) a 
presença de paralelos — a mesma cena ou visão descrita duas 
vezes; 2) problemas seqüenciais — pessoas ou coisas in tro­
duzidas aparentem ente pela primeira vez quando, na reali­
dade, tinham sido mencionadas anteriormente; 3) versículos 
aparentemente mal empregados e seções maiores; 4) conteú­
do distinto dentro dos limites de certas seções que não se 
ajustam ao restante do livro.9
Mas, como Johnson observa, em cada caso há explicações 
alternativas satisfatórias. Além disso, há uma artificialidade 
sobre nomear certas passagens a um “interpelador”, quando 
não se ajustam com a unidade percebida do livro.10 Até Charles, 
que aplica uma aproximação fragmentária ao documento, ad­
mite uma unidade global do trabalho .11 Igualmente a Ford que, 
embora delineando três autores diferentes para o Apocalipse, 
não obstante designa a “redação final” a um único editor .12 
Levando isto em conta, a conclusão de Johnson sobre a uni­
dade do Apocalipse parece justificada:
Podemos afirmar que o livro em toda sua extensão exibe tanto a uni­
dade literária quanto conceituai, o que se espera de um único autor.
Isto não elimina certos problemas difíceis de hermenêutica, nem
8C h a r l e s , The Revelation o f St. John, J. Massyngberd F o r d , Revelation, a b ; New 
York: Doubleday,1975.
9V. J o h n s o n , Revelation, p. 403.
10Ibid.
n The Revelation o f St. John, p. 1 : l x x x v i i .
l2ReveIation, p. 46.
18 ■ Apocalipse
impede a presença de omissões ou interpolações encontradas nos 
manuscritos existentes. Tampouco, a visão de única autoria impede 
que João, expressando em forma escrita a revelação dada a ele por 
Cristo, usou várias fontes, quer oral ou escrita [...] Ainda, sob a orien­
tação do Espírito Santo que é naturalmente o autor primário, João 
prodiiiziu esse material, por si próprio, em toda a extensão do livro, e 
o envolveu com um conteúdo totalmente de orientação cristã.13
Estrutura
Semelhante à pergunta da data do Apocalipse, o assunto de 
sua estrutura também está intimamente relacionado à inter­
pretação de alguém quanto ao livro. Por conseqüência, esten­
derem os o assunto mais extensivam ente na segunda parte 
desta introdução, pois aqui somente oferecemos o mais baixo 
denominador comum entre as várias escolas de pensamento 
que consiste de dois elementos estruturais .14 1) Em termos de 
conteúdo, depois de um capítulo introdutório, seguem qua­
tro séries de sete: sete cartas (caps. 2 e 3); sete selos (5 .1— 
8.1); sete trom betas (8 .2— 11.19); e sete taças (15.1— 16.21). 
Interrompendo estas quatro séries estão vários interlúdios (7 .1 ­
17; 10.1— 11.13; 12.1— 14.20). O livro conclui com o julgamento 
da “Babilônia”, apostasia mundial, e o triunfo final do reino de 
Deus (caps. 17— 21). 2) Em termos de estrutura literária, o 
Apocalipse con sis te de quatro visões, cada uma das quais 
envolve João que “vê” o plano de Deus desvelado (1.19; 4.1; 
17.1; 21.9). Um epílogo conclui o livro (22.6-21).
Material tradicional em Apocalipse
Enquanto o Apocalipse utiliza vários materiais tradicionais 
(e.g., o cerimonial do tribunal greco-romano, [caps. 4 e 5]; o 
apocalíptico judaico, [caps. 4 e 5]; o Discurso do Monte das 
Oliveiras, [cap. 6]; o drama do dragão, [cap. 12]; a história 
neroniana, [cap. 13]), sem dúvida a fonte dominante de sua 
informação é o a t . Embora o Apocalipse não contenha uma 
única c itação esp ec íf ica do a t , não obstan te , de seus 4 0 4
13Revelation, p. 4 0 3 ,A análise detalhada de G. Mussies da linguagem do 
Apocalipse reafirmou a unidade do livro, The morphology ofkoine greek as used 
in the Apocalypse o f St. John (Leiden: E. J. Brill, 1971), p. 351.
14V. o resumo de George Eldon Ladd, A com m entary on the Revelation o f 
John (Grand Rapids: Eerdmans, 1972), p. 14.
Introdução ao Apocalipse ■ 19
versículos, 278 contêm referências ao a t . Johnson resume bem 
o uso desse material pelo apóstolo João:
O a t usado por João é principalmente semítico em vez de grego, 
pois, concorda com freqüência, com o targum aramaico e, ocasio­
nalmente, reflete o uso do midraxe para as passagens do a t ; e pode 
ser demonstrado que ele usou um texto diferente do massorético 
que tem afinidade íntima com o texto hebreu dos manuscritos de 
Qumran. Dos profetas, João recorre, com freqüência, a Isaías, 
Jeremias, Ezequiel, e Daniel. João também recorre repetidamente 
aos Salmos, Êxodo, e Deuteronômio. As reinterpretações de cris- 
tologia de João das passagens do a t às quais ele alude são especial­
mente im portante. Ele não usa o a t simplesmente em seu sentido 
pré-cristão, mas reforma as imagens e as visões do a t . Embora haja 
uma relação à continuidade inconfundível em Apocalipse com rela­
ção à mais antiga revelação, o novo emerge do velho como uma 
entidade distinta.15
0 texto de Apocalipse
Do ponto de vista da crítica textual, há pouquíssimos manus­
critos gregos existentes para reconstruir a leitura original do 
Apocalipse, menor do que em qualquer outra parte do n t . Não 
obstante, há uma quantidade suficiente para realizar a tarefa 
com garantia (aproximadamente 230 manuscritos gregos). As 
principais testemunhas do Apocalipse são: a escrita uncial — o 
Códice sinaítico (séc. iv), o Códice alexandrino (séc. v), o Códice 
Ephraem i (séc. v); o papiro mais importante é o p47 (séc. m); os 
minúsculos (séc. vm—x); as citações dos pais da igreja (séc. n—v); 
e um comentário grego ao Apocalipse por Andreas (séc. vi).16
UM EXAME DAS PRINCIPAIS INTERPRETAÇÕES DO APOCALIPSE
Tradicionalmente, quatro interpretações principais foram divul­
gadas. Elas tentavam desvendar os mistérios do Apocalipse:
lsRevelation, p. 411 . Para a análise adicional da aplicação de João do a t em 
Apocalipse, v. Austin Farrer, A rebirth o f im a ges : the making of St. Jo h n ’s 
Apocalypse (London: Darce, 1949). Uma das mais recentes abordagens do as­
sunto é feita por Steve Moyise, The Old Testament in the book of Revelation, 
j s n t s s 115 (Sheffield: Academic Press, 1995).
16Para uma discu ssão adicional da evidência do m anuscrito , consulte 
Thomas, Revelation 1-7, p. 42-3.
20 ■ Apocalipse
preterista, historicista, futurista, e idealista. Os nomes resumem 
a essên c ia das ap ro xim ações resp ectiv as . A in terp re tação 
preterista (passado) entende que os acontecimentos do Apo­
calipse em grande parte foram cumpridos nos primeiros sécu­
los da era cristã — quer na queda de Jerusalém em 70 d.C., quer 
na queda tanto de Jerusalém no século i, quanto na de Roma no 
século v. De fato, o livro foi escrito para confortar cristãos que 
sofreram perseguição tanto do culto imperial quanto do judaísmo.
A escola historicista encara os eventos do Apocalipse como 
um desdobramento no curso da história. Essa perspectiva era 
especialm ente compatível com o pensam ento dos reform a­
dores protestantes que compararam o sistema papal de sua 
época com o anticristo.
A sinopse futurista discute que os eventos do Apocalipse, 
em grande parte, não foram cumpridos, assegurando que os 
capítulos 4—22 esperam o fim dos tempos para a sua realiza­
ção. Se a interpretação preterista dominou entre os estudio­
sos bíblicos, mas pode-se dizer que a composição futurista é 
privilegiada entre as massas.
O ponto de vista idealista, por meios de contraste em rela­
ção às três construções teológicas anteriores, é reticente em 
identificar historicamente o simbolismo do Apocalipse. Para 
essa escola de pensamento, o Apocalipse relata verdades infi­
nitas relativas à batalha entre o bem e o mal que continuam ao 
longo da era da igreja.
Este volume incorpora a interpretação corrente e prevale- 
cente do Apocalipse. Assim, embora a aproximação histórica 
seja difundida, atualmente, para todos os propósitos práticos, 
já é uma visão ultrapassada. Suas tentativas, mal-sucedidas, 
de localizar o cumprimento do Apocalipse no decurso das cir­
cunstâncias da história, o sentenciaram a uma revisão inin­
terrupta com o passar do tempo e, por fim, à obscuridade (uma 
situação que poderia suscitar o comentário, se Jesus demora, 
naquele dia do juízo final os profetas contemporâneos poderi­
am se achar eventualmente nele!). Além disso, a falta de con­
senso entre os intérpretes quanto à identificação de detalhes 
h is tó r ic o s que s u p o s ta m e n te c u m p rem as p r o fe c ia s do 
Apocalipse contribuíram para o fim dessa escola.
Em contrapartida, as outras três interpretações se aproxi­
mam e merecem atenção cuidadosa. A visão preterista, sempre 
a favorita no meio dos estudiosos, desfruta uma revivificação
Introdução ao Apocalipse ■ 21
de interesse a nível popular, graças ao surgimento da Recons­
trução Cristã (mais sobre isto adiante). A visão futurista, espe­
cialmente o dispensacionalismo clássico, seguramente desper­
tará o interesse de muitos. O dispensacionalismo progressivo 
“a mais nova criança no meio escatológico”, está começando a 
cativar a imaginação daqueles que têm se desgastado quanto 
ao tratamento da profecia sensacionalista .17 Finalmente, uma 
aproximação idealista continua mantendo uma atração consi­
derável da influência de aplicação para a vida diária que seu 
sistem a encoraja. Aqueles que estão desgastados pela profe­
cia em geral, encontram em sua sinopse uma alternativa re­
frescante por se apegar ao significado presente e eterno do 
Apocalipse.
Agora nos dirigimos a uma pesquisa dessas quatro formas 
hermenêuticas, cobrindo cada ponto seguinte em sua distin­
ção, origem, cronogram a que se presume para as profecias 
do Apocalipse, a estrutura do livro, e a filosofia da eficiência 
histórica na abordagem . Entender esses assun tos an tec ip a­
damente preparará melhor o leitor a se apegar aos respecti­
vos sistem as como um todo antes de analisar o documento 
mais detalhadamente. Se o leitor permitir uma pequena liber­
dade poética, propom os tratar essas abordagens de acordo 
com a ordem cronológica em Apocalipse 1.19: “Escreva, en ­
tão, o que você viu [preterista], o que agora é [idealista], e o 
que acontecerá depois [futurista]”.
A interpretação preterista
O ponto de vista preterista considera a interpretação histórica 
do Apocalipse seriamente, relacionando-a com seu autor origi­
nal e o público. Isto é, João destinou seu livro para as verdadei­
ras igrejas que enfrentaram terríveis problemas no século i d.C. 
Dois dilemas em particular providenciaram o ânimo para e s ­
crever o livro. Kenneth L. Gentry Jr. escreve sobre isto:
O Apocalipse tem dois propósitos fundamentais relativos aos seus
ouvintes originais. Em primeiro lugar, foi projetado para fortalecer
17Isso não quer dizer, porém, que o dispensacionalismo clássico será equi­
parado à mentalidade do juízo universal. Embora um bom número dos que 
prevêem o juízo universal venha dessa tradição, como veremos, eles não pre­
cisam ser sinônimo dela.
22 ■ Apocalipse
a igreja do século i contra uma tem pestade de perseguições que 
estavam, por conseguinte, provocando um crescente enfraqueci­
mento. Uma característica nova e principal daquela perseguição foi a 
entrada imperial de Roma no cenário. A primeira perseguição históri­
ca da igreja pelo império de Roma foi por César Nero de 64 d.C. a 68 
^.C. Em segundo lugar, foi para reforçar a igreja para uma reorienta- 
ção principal e fundamental no rumo da história redentora, reorienta- 
ção necessária para a destruição de Jerusalém (o foco não era somente 
da aliança antiga de Israel, mas do cristianismo apostólico[v. At 1.8; 
2.1 ss.; 15.2] e o templo [v. Mt 24.1-34 e Ap l l ] ) .18
Assim, a tentativa contínua de firmar o cumprimento das 
profecias divinas do Apocalipse no século i d.C. constitui a abor­
dagem distintiva dos preteristas.
A origem do preterismo pode ser traçada ao sistema teoló­
gico conhecido como pós-milenarismo, que ensina que Cris­
to voltará após o milênio, um período de felicidade na terra 
trazida pela conversão das nações por causa da pregação do 
evangelho. O crédito para formular a doutrina pós-m ilenar 
normalmente é dado a Daniel Whitby (1638-1726) , ministro 
unitarista da Inglaterra. O ponto de vista de Whitby do milê­
nio foi adotado por teólogos liberais e conservadores. John F. 
Walvoord comenta:
Seus pontos de vista do milênio provavelmente nunca seriam per­
petuados se eles não estivessem tão afinados ao pensam ento da­
quela época. Uma maré ascendente de liberdade intelectual, ciência, 
e filosofia, o humanismo, como também aumentara o conceito de 
progresso humano e deu uma clara visão geral do futuro. O ponto 
de vista de Whitby de uma era áurea para a igreja por vir era exata­
mente o que as pessoas queriam ouvir [...] Não é estranho que 
teólogos que competem para os reajustamentos em um mundo de 
mudanças devam achar em Whitby a chave fundamental que preci­
savam. Era atraente a todos os tipos de teologia. Isto proveu para o 
conservador um princípio aparentemente mais viável de interpretar
lsBefore Jerusalem fell: dating the book of Revelation, Tyler: Institute for 
Christian Economics, 1989, p. 15-6. Porém, deve se lembrar que o preterismo 
inclui dois campos — um que localiza o cumprimento do Apocalipse basica­
mente no século i, uma referência à queda de Jerusalém, e outro que vê o 
cumprimento do Apocalipse tanto no séc. i (a queda de Jerusalém) quanta no 
séc. v (a queda de Roma).
Introdução ao Apocalipse ■ 23
as Escrituras. Afinal de contas, os profetas do a t sabiam sobre o que 
estavam falando quando predisseram uma era de paz e retidão. O 
conhecimento crescente pelo homem das melhorias mundiais e ci­
entíficas que estavam vindo poderiam se ajustar nesta conjuntura. 
Por outro lado, o conceito estava agradando ao liberal e ao cético. Se 
eles não acreditavam nos profetas, pelo menos acreditaram que o 
homem era capaz de melhorar o seu meio ambiente. Acreditaram, 
também, que uma áurea era dourada estava por vir.19
Essa aceitação por parte de muitos resultou em dois tipos 
de p ó s -m ile n a r is m o , c o n fo rm e as a n o ta ç õ e s de Paul N. 
Benware: “pós-milenarismo liberal” e “pós-milenarismo bíbli­
co”.20 O primeiro teve seu apogeu no século xix em associação 
ao “evangelho social”, cuja missão era a liberação da humani­
dade dos males sociais (pobreza, racismo, doença, guerra, e 
injustiça). A pressuposição dessa escola de pensamento, de 
que a humanidade era basicamente boa e que enfim a socie­
dade melhoraria, resultava em uma era dourada na terra. Po­
rém, louvável como essa tentativa, o evangelho social sofreu 
duas falhas: abandonou a pregação do evangelho, e fundamen­
tou sua visão da história ingenuamente no processo evolutivo. 
O tempo desferiu um sopro mortal ao pós-milenarismo libe­
ral — os eventos catastróficos do século xx resultaram em uma 
posição insustentável (e.g., duas guerras mundiais, a grande 
depressão, a ameaça de destruição nuclear).
Junto com o pós-milenarismo liberal estava o seu correlato 
bíblico. Os teólogos dos séculos xvm e xix que seguem essa 
abordagem mantiveram seus com prom issos para com o evan­
gelho e para com o seu poder transformador. Stanley J. Grenz 
relata assim:
,9The Millennial kingdom, Findlay: Dunham, 1963, p. 22-3. Em uma recente 
correspondência, Ken Gentry fornece duas clarificações proveitosas da apre­
sentação que fornecemos referente à conexão entre o preterismo e o pós-mile- 
narismo. Primeiro é simplista restringir a visão preterista ao pós-milenarismo. 
Muitos amilenaristas também se alinham com essa interpretação (e.g., Jay Adams, 
Cornelis Vanderwaal). Segundo, embora se dê o crédito a Whitby como o res­
ponsável por popularizar o pós-milenarismo, de fato é Thomas Brightman, 
(1 5 62-1607) quem merece esse crédito. Além disso, há um pós-milenarismo/ 
preterismo nascente de alguns dos pais da igreja (por exemplo, Orígenes, 
Eusébio, Atanásio, Agostinho).
20U nderstanding endtim es prophecy. a comprehensive approach, Chicago: 
Moody, 1995, p. 120-2.
24 ■ Apocalipse
Suas perspectivas diferem fundamentalmente tanto do cristianis­
mo secular quanto do cristianismo liberal utópicos. Eles eram oti­
mistas e confiantes em relação ao futuro. Mas o otimismo deles 
originou de uma convicção no triunfo do evangelho no mundo e a 
operação do Espírito Santo que traria o reino, e não de qualquer con­
cepção errônea relativa à bondade inata da humanidade ou da habili­
dade da igreja para converter o mundo por seu próprio poder.21
Atualmente, o pós-milenarismo bíblico ressalta as catástro­
fes da história e está experimentando um ressurgimento de 
influência, especialmente o reconstrucionismo cristão. Sua con­
vicção é admirável — apesar de a igreja pregar o evangelho e 
executar seu papel como o sal da terra, o reino de Deus avança­
rá até que o mundo inteiro um dia alegremente se curvará à 
autoridade de Cristo. O meio para realizar essa meta será a lei 
de Deus que impacta a igreja e, por conseguinte, o mundo .22
Os preteristas localizam a cronometragem do cumprimen­
to das profecias do Apocalipse no século i d.C., esp ecif ica ­
mente logo antes da queda de Jerusalém em 70 d.C. (entretanto 
alguns também vêem seu cumprimento nas quedas de Je ru ­
salém [séc. i] e de Roma [séc. v]). Apesar de a opinião de mui­
tos que o Apocalipse foi escrito na década de 90, durante o 
reinado de Domiciano (81-96), o preterismo mantém, em gran­
de parte a data do livro como neroniano (54-68).
Três argumentos básicos são aplicados para defender aque­
le período. 1) Há alusões a Nero ao longo do Apocalipse como 
o imperador da época (e.g., 6.2; 13.1-18; 17.1-13).
2) A condição das igrejas na Ásia Menor para a qual João 
escreve suas cartas (caps. 2 e 3), correlaciona-se melhor com o 
cristianismo judeu anterior ao ano 70, tempo que testemunhou 
a ruptura en tre o c r is t ia n is m o e o ju d a ís m o . De fa to , o 
Apocalipse atesta a perseguição dupla do cristianismo ju d ai­
co — pelos judeus e pelos romanos. A antiga perseguição aos 
cristãos pelos judeus, devido à sua fé em Jesus como o Messi­
as, de forma que eles foram expulsos das sinagogas, o que, por
n The millennial maze\ sorting out evangelical options, Downers Grove: ivp, 
1992, p. 66.
22Autores que se identificam com a interpretação preterista do Apocalipse 
incluem David Chilton, The days o f vengeance'. an exposition of the book of 
Revelation (Forth Worth: Dominion, 1987) e Gary DeMar Last days madness\ 
obsession of the modern church (Atlanta: American Vision,1994).
Introdução ao Apocalipse ■ 25
conseguinte, os expôs à veneração a César.23 Os romanos, sub­
seqüentemente, tentaram forçar os cristãos judeus a venerar 
César. Para julgar os judeus do século i por perseguir os cris­
tãos, João prediz que Cristo virá em poder para destruir Jeru­
salém, usando o império romano para fazê-lo (e.g., 1.7,8; 22.20; 
caps. 2 e 3 ; 11; 1 7 e 18) — uma advertência que se tornou ver­
dadeira com a queda de Jerusalém em 70 d.C.
3) De acordo com Apocalipse 11, o templo parece ainda es­
tar erguido (quer dizer, durante todo o período da escrita do 
livro).
Baseado em argumentos anteriores, poderíamos esboçar o 
Apocalipse assim:
Cap. 1: A visão de João de Jesus ressurreto
Caps. 2 e 3: A situação do antigo cristianism o judaico
Caps. 4 e 5: A cena divina do reinado de Cristo ■
Caps. 6— 18: Julgam entos paralelos a respeito de Jerusalém
Cap. 19: A vinda de Cristo para com pletar o julgam ento de
Jerusalém
Caps. 20— 22: O Reinado de Cristo na terra
Com respeito à filosofia da história presumida pela maio­
ria dos preteristas,como m encionado anteriorm ente, ela é 
positiva (con tra Jay Adams e Cornelis Vanderwaal). O mundo 
melhorará por causa do triunfo do evangelho. Nesse sentido, 
o pós-milenarismo alinha mais com o papel do profeta do a t , 
cuja m ensagem proclamou a intervenção de Deus na h istó­
ria, do que com a destruição apocalíptica e com previsões de 
trevas do futuro.
A interpretação idealista
A abordagem idealista de Apocalipse é, às vezes, chamada de 
a visão “espiritualista”, visto que interpreta o livro espiritual, 
ou sim bolicam ente. Do m esm o modo, o Apocalipse é visto 
dessa perspectiva que representa o conflito contínuo do bem 
e do mal, sem conexão histórica imediata para qualquer even­
to político ou social. Raymond Calkins descreve bem essa in­
terpretação:
23Roma permitiu a liberdade de crença para o judaismo. Estar separado disso 
era perder a posição social privilegiada.
26 ■ Apocalipse
Se entendem os a em ergência que levou o livro a ser escrito, sua 
interpretação durante seu tempo, para o nosso tempo, e durante 
todo o tempo fica tão claro quanto a luz do dia. À luz dessa explica­
ção, distante da verdade a interpretação que acha o significado 
principal do livro nas sugestões que nos dá aproxim adam ente o 
término da criação, o fim do mundo, e a natureza do último julga- 
menk? [...] Usar o Apocalipse desse modo é abusá-lo, porque o 
próprio livro não faz reivindicação alguma para ser a chave do 
futuro.24
Por conseguinte, Calkins resume a mensagem principal do 
Apocalipse em termos de cinco proposições:
1 . é uma convocação irresistível para viver heroicamente;
2 . contém apelos sem igual à resistência;
3. fala que o mal está marcado para ser derrotado no fim ;
4. apresenta um quadro novo e maravilhoso de Cristo;
5. revela-nos o fato que a história está na mente de Deus 
e nas mãos de Cristo, como o autor e revisor dos desti­
nos morais do hom em .25
Enquanto as quatro escolas de interpretação inspecionadas 
aqui ressoam com essas afirmações, a visão idealista se dis­
tingue recusando nomear as declarações que precedem a qual­
quer correspondência histórica e assim nega que as profecias 
no Apocalipse são proféticas, exceto no sentido mais geral da 
promessa do último triunfo do bem quando Cristo retornar .26
A origem da escola idealista de pensamento pode ser remon­
tada às origens da hermenêutica alegórica, ou simbólica, defen­
dida pelos pais da igreja de Alexandria, especialmente Clemente 
e Orígenes. R. H. Charles escreve sobre esses alexandrinos que:
sob a influência do helenismo e da escola alegórica tradicional de 
interpretação que chegou ao topo em Filo, [eles] rejeitaram o senti­
do literal do Apocalipse, e adicionaram apenas um significado es­
piritual. Essa teoria domina muitas escolas de exegetas até os dias
24The social m essage o f Revelation, New York: Woman’s Press, 1920, p. 3.
25lbid., p. 3-9.
“ Merrill C. Tenney fornece um resumo útil da interpretação idealista do 
Apocalipse, como também os outros pontos de vista, em Interpreting Revelation 
(Grand Rapids: Eerdmans,1957), p. 143-4.
introdução ao Apocalipse ■ TI
de hoje. Assim, Clemente viu nos 24 anciãos um símbolo de igual­
dade dos judeus e dos gentios na igreja; e nas caudas dos gafanho­
tos as influências destrutivas de professores imorais. Orígenes, 
como também Metódio, seu oponente, rejeita como judaica a inter­
pretação literal do capítulo xx e, nas mãos dos seus seguidores, os 
conteúdos históricos completos do Apocalipse foram perdidos.27
A visão amílenarísta proposta por Dionísio, Agostinho, e 
Jerônimo era semelhante à interpretação de Alexandria. Assim, 
a Escola de Alexandria, munida com o método amilenarista, 
tornou-se a interpretação dominante do Apocalipse até a Re­
forma.
Como mencionado, o idealista não restringe os conteúdos 
do Apocalipse a um período histórico particular, mas certa­
mente vê isto como uma dramatização apocalíptica da bata­
lha contínua entre Deus e o mal. Porque os s ím bo los são 
polivalentes no significado e sem referente histórico específi­
co, a aplicação da mensagem do livro é ilimitada. Portanto, 
cada intérprete pode achar significação para suas respectivas 
situações.
Dois comentários recentes sobre Apocalipse ilustram bem 
esse método. O primeiro é o trabalho feito por Paul S. Minear,28 
para quem a interpretação dos símbolos do Apocalipse é esti­
mulante. Para ele, o propósito do Apocalipse é advertir os cris­
tãos do inimigo que está dentro — “o falso cristão”. O conjunto 
do livro é visto dessa perspectiva. As sete cartas fornecem o 
contexto do livro — é um desafio divino para a igreja ser fiel a 
Cristo. Daí por diante, os julgamentos são projetados não para 
efetuar a ruína dos de fora da cristandade, mas do infiel den­
tro dela. Os que perseveram em retidão recebem a promessa 
do novo céu e da nova terra. Visto desse modo, o Apocalipse 
não deve ser levado como uma injúria apocalíptica contra o 
não-cristão, mas, preferivelmente, como uma advertência pro­
fética para o cristão.
O segundo trabalho sobre o Apocalipse que ilustra a inter­
pretação idealista é o comentário desafiador feito por Elisabeth
27Studies in the Apocalypse, Edinburgh: T. & T Clark, 1913, p. 11-2.
2SI saw a new earth : an introduction to the visions of the Apocalypse, 
Cleveland: Corpus, 1968.
28 ■ Apocalipse
Schüssler Fiorenza, cujo propósito é “liberar o texto de seu 
cativeiro histórico e resgatar a mensagem do Apocalipse para 
a atualidade”.29 Em outras palavras, o significado do Apocalipse 
não será buscado no século i nem nos eventos remotos nos 
finais do tempo, mas, preferivelmente, na luta contínua entre 
os que estão em desvantagem sócio-politica e seus opresso­
res. Assim cbjnpreendido, o A pocalipse é uma ferram enta 
poderosa nas mãos de teólogos da libertação e de feministas, 
por se livrar, respectivam ente do jugo do capitalismo e do 
m achism o.
O melhor modo para apreciar a abordagem de Fiorenza é ver 
o seu m étodo em prática. Por exem plo, ela cita, de form a 
aprobativa, o poema, “Dia de Ação de Graças nos Estados Uni­
dos" de Júlia Esquivei, que remodela o Apocalipse 17 e 18, apli­
cando-o à experiência dos países latino-americanos:
No terceiro ano dos m assacres
por Lucas e os outros coiotes
contra os pobres da Guatemala
Eu fui conduzido ao deserto pelo Espírito
E na véspera
do Dia de Ação de Graças 
Eu tive uma visão da Babilônia:
A cidade surgiu arrogante 
de uma enorme plataforma 
de fumaça suja causada 
por automóveis, maquinaria 
e contaminação de chaminés.
Era como se todo o petróleo 
de uma terra violada 
estivesse sendo consumido 
pelos deuses da capital 
e estivesse subindo lentamente, 
obscurecendo a face 
do sol de justiça 
e do Ancião de Dias...
29Revelation: vision of a just world, Proclamation commentaries, Minneapolis: 
Fortress, 1991, p. 2.
Introdução ao Apocalipse ■ 29
Todo dia falsos profetas
convidavam os habitantes
da cidade impudica
para se ajoelharem ante os idoJos
de glutonaria,
dinheiro,
e morte:
idólatras de todas as nações
estavam sendo convertidos ao modo americano de vida...
O Espírito me disse 
no rio de morte
que o fluxo de sangue de muitas pessoas
sacrificadas sem clemência
e mil vezes afastadas das suas terras,
o sangue de Kekchis, de Panzos,
dos negros do Haiti, dos guaranis do Paraguai,
das pessoas sacrificadas para o “desenvolvim ento”,
na faixa da Transamazônica,
o sangue dos antepassados dos índios
que se mantiveram nestas terras, desses que
até agora são mantidos como reféns na Grande Montanha
e nas Colinas Pretas do Dakota
pelos guardiões da besta...
Minha alma foi torturada assim 
durante três dias e meio 
e um grande cansaço pesou em meu peito.
Eu sentia o sofrimento de meu povo muito profundamente!
Então, em lágrimas, eu me prostrei 
e clamei: “Senhor, o que podem os fazer? [...]
Venha a mim, Senhor, desejo m orrer entre meu povo!”
Sem forças, esperei pela resposta:
Depois de um longo silêncio
e uma pesada obscuridade
Aquele que senta no trono
para julgar as nações
falou emum brando sussurro
nos intervalos secretos de meu coração:
Você tem de denunciar a sua idolatria 
em tem pos bons e ruins.
30 * Apocalipse
Force-os a ouvir a verdade
pois o que é impossível a humanos
é possível para Deus.30
Caso alguém concorde, ou não, com a ideologia que esse 
poema comunica, quanto ao assunto, com a persuasão fem i­
nista radical de Fiorenza, a tentativa de capturar e aplicar o 
simbolismo do Xpocalipse é impressionante.
Não parece ser uma regra dura e rápida para o idealista 
delinear a estrutura do Apocalipse. Para Minear, a chave para 
esboçar o livro é ficar atento aos contrastes em curso entre as 
visões do céu e da terra, um simbolismo da luta dentro dos 
cristãos, entre fidelidade a Cristo (céu) e deslealdade (terra). 
Para Fiorenza, o Apocalipse é estruturado no quiasma, de 
modo que a chave para o livro será encontrada em 10.1— 15.4, 
com sua descrição da luta e da liberação das comunidades 
oprimidas do mundo .31 O único aspecto estrutural notável na 
agenda interpretativa idealista é sua negação de uma leitura 
literal e cronológica de Apocalipse 20. Preferivelmente, no bom 
modo amilenarista, aquele capítulo será visto como uma des­
crição simbólica do potencial da igreja para reinar com Cristo 
nessa era.
Quanto à visão mundial da escola idealista de pensam en­
to, o “realismo” é sua perspectiva preferida. Stanley Grenz sin­
tetiza essa idéia do idealista, uma posição amilenarista:
O resultado é uma visão mundial caracterizada por realismo. Vitó­
ria e derrota, sucesso e fracasso, o bem e o mal coexistirão até o 
fim, afirma o amilenarismo. O futuro não é uma continuação ele­
vada do presente nem uma contradição abrupta a ele. O reino de 
Deus não vem mediante à cooperação humana com o poder divino 
em atividade atualmente no mundo, mas tampouco é apenas o pre­
sente divino pelo qual podemos aguardar esperançosam ente.32
Por conseguinte, tanto o otimismo desenfreado quanto o 
pessim ism o desesperador são impróprios, declara o am ile­
narismo. Particularmente, a visão amilenarista chama a igreja 
à “atividade realística” no mundo. Sob a orientação e o poder do
30Ibid,, p. 27-8.
31Ibid., p. 35-6.
32The miüennial maze, p. 187.
Introdução ao Apocalipse ■ 31
Espírito Santo, a igreja terá êxito em seu mandato; todavia, o 
último sucesso somente virá pela graça de Deus. O reino de 
Deus chega como a ação divina que passa repentinamente pelo 
mundo; contudo a cooperação humana traz importantes resul­
tados, embora não seja a última palavra. Portanto, o povo de 
Deus deve esperar grandes co isas no p resente; desde que 
saibam que o reino nunca chegará por completo na história e, 
portanto, devem sem pre perm anecer realistas em suas ex­
pectativas.
Dispensacionalismo clássico
A interpretação mais popular do Apocalipse entre o povo du­
rante o século xx foi o dispensacionalismo, uma das variantes 
do pré-milenarismo. O nome do movimento é derivado da pala­
vra bíblica “dispensação”, um termo que recorre à administra­
ção da casa terrestre de Deus (k jv , ICo 9.17; Ef 1.10; 3.2; Cl 1.25). 
Os dispensacionalistas dividem a história da salvação em eras 
históricas ou épocas para distinguir as administrações diferen­
tes do envolvimento de Deus no mundo. Cyrus I. Scofield, de­
pois de quem a Bíblia de Scofield com referências foi popularmente 
chamada, definiu a dispensação como “um período de tempo 
durante o qual o homem é testado em relação à obediência a 
alguma revelação específica do testamento de Deus”.33 Durante 
cada dispensação, a humanidade não vive em obediência ao tes­
te divino, trazendo aquele período, por conseguinte sob o ju l­
gamento de Deus e, assim, criando a necessidade para uma 
dispensação nova. Lida desse modo, a Bíblia pode ser dividida 
nas seguintes oito dispensações (entretanto o número de no­
mes varia nessa escola de pensamento): inocência, consciência, 
governo civil, promessa, lei mosaica, igreja e idade da graça, 
tribulação, milênio.34
A autenticidade do dispensacionalismo foi seu compromisso 
a uma interpretação literal da escritura profética. Isto resultou
“NewYork: Oxford, 1909 , observe em Gênesis 1 .28 . Para uma definição 
atualizada que enfatiza fé como o meio de receber as revelações nas várias 
dispensações, v. Charles C. Ryrie, Dispensationalism today (Chicago: Moody, 
I 'l(>5), p. 74.
■'Rightly dividing the word o f truth, New York: Loizeaux Brothers, 1896. 
Muitos dispensacionalistas modernos, porém, ficam cada vez mais descon- 
liii laveis com essas periodicidades, preferindo falar sobre a Bíbüa em termos 
de suas duas divisões — antiga e nova alianças.
32 ■ Apocalipse
em três doutrinas famosas, apreciadas por partidários do mo­
vimento. 1) Uma distinção entre as profecias feitas sobre Israel 
no a t e a igreja no n t deve ser mantida. Em outras palavras, a 
igreja não substituiu Israel no plano de Deus. As promessas 
que ele fez à nação sobre sua restauração futura acontecerão. 
Então, a igreja é um parêntese no término desse plano. A dis­
tinção dispensacionalista entre o Israel e a igreja foi solidificada 
na mente de muitos como resultado de dois eventos princi­
pais nesse século: o holocausto (que extraiu de muitos profun­
da compaixão pelo povo judeu) e o renascimento do Estado de 
Israel, em 1948.
2) Os dispensacionalistas são pré-milenaristas; quer dizer, 
Cristo virá novamente e estabelecerá um reinado temporário, 
mil anos em Jerusalém.
3) Os dispensacionalistas acreditam no arrebatamento pré- 
tribulacionista, isto é, o retorno de Cristo acontecerá em duas 
fases: a primeira para a sua igreja que será poupada da gran­
de tribulação; a segunda em poder e glória para conquistar 
seus inimigos.
O dispensacionalismo parece ter sido articulado primeira­
mente pelo clérigo anglicano irlandês John Nelson Darby, líder 
influente no movimento dos Irmãos de Plymouth na Inglater­
ra, no século xix. O movimento foi levado para os eu a , adquirin­
do notoriedade com a publicação em 1909 da Bíblia de Scofield. 
Pelo menos três desenvolvimentos aconteceram dentro do mo­
vimento durante esse século: 1) A fase mais antiga foi proposta 
por Darby e Scofield, período que enfatizou as próprias dispen- 
sações; 2) Uma segunda fase emergiu nos anos sessenta, graças 
ao trabalho feito por Charles C. Ryrie, D ispensationalism today 
[D ispensacionalism o hoje], Com esse segundo desenvolvimen­
to aconteceram duas mudanças notáveis: a) A fé foi real-çada 
como meios de salvação em quaisquer das dispensações (contra 
a antiga declaração da Bíblia de Scofield sobre obras que são os 
meios de salvação no a t ; v . a nota de rodapé em João 1.17); b) As 
dispensações individuais não eram mais o foco; por outro lado, a 
ênfase cabe agora na hermenêutica literal do dispensacionalismo;
3) Nos anos oitenta, surgiu um terceiro desenvolvimento, geral­
mente chamado de dispensacionalismo progressivo, (mais sobre 
isso posteriormente). A fase mediana, com freqüência rotulada 
como dispensacionalism o tradicional, continua encontrando
Introdução ao Apocalipse ■ 33
apoio expressivo hoje, constitui o quarto ponto de vista oferecido 
neste volume sobre o Apocalipse.
O entendimento do dispensacionalismo clássico do tempo 
do Apocalipse e sua estrutura caminham juntos. Porque essa 
escola de pensam ento interpreta as profecias do livro lite­
ralmente, seu cumprimento, então, é percebido como ainda 
futuro (esp. caps. 4—22). Além disso, a magnitude das profe­
cias (e.g., um terço da terra destruído; o sol escureceu) suge­
re que e les ainda não ocorreram na h istór ia . O v ers ícu lo 
fundamental nessa discussão é 1.19, particularmente seus três 
te m p o s que se p e n s a que f o r n e c e m um e s b o ç o p ara o 
Apocalipse: “o que você viu” (o passado, a visão de João de 
Jesus no cap. 1); “o que é agora” (o presente, as cartas para as 
sete igrejas nos caps. 2 e 3); o que acontecerá depois” (caps. 
4—22). Além disso, o dispensacionalista clássico acredita que 
a falta de menção da igreja no capítulo 4 indicaque esta será 
arrebatada ao céu por Cristo antes do advento da grande tri- 
bulação (caps. 6— 18).
Como o d ispensacionalism o está intim am ente associado 
ao pré-milenarismo, não surpreende que essa perspectiva veja 
a h istória do mundo com pessim ism o. Grenz resum e essa 
interpretação:
Em contraste ao otimismo do pós-milenarismo, o pré-milenarismo 
exibe um pessimismo básico relativo à história e ao papel que 
desempenhamos em sua culminação. Apesar de todas as nossas 
tentativas de converter ou reform ar o mundo, antes do fim, o 
anticristo emergirá e ganhará controle dos negócios humanos, pre­
diz relutantemente o pré-milenarismo. Somente a ação catastrófi­
ca da volta do Senhor provocará o reinado de Deus e a idade gloriosa 
de bem-aventurança e paz.
De acordo com esse pessimismo básico, relativo à história 
mundial, teologias pré-milenares enfatizam a descontinuidade, ou 
até mesmo a contradição entre a ordem presente e o reino de Deus, 
e eles elevam o futuro divino acim a da perversidade presente. O 
reino é a coisa radicalmente nova que Deus fará. Porém, indepen­
dentemente de como possa ser concebido, a “era dourada” — o 
divino futuro — vem como o presente gracioso de Deus e somente 
pela ação de Deus.3S
'•The millennial maze, p .185.
34 ■ Apocalipse
Dispensacionalismo progressivo
Para discutir o “dispensacionalismo progressivo”, a mais nova 
das quatro interpretações inspecionadas aqui, com binam os 
sua origem e descrição. Na década de oitenta, certos teólogos 
d ispensacionalistas iniciaram uma reconsideração do s is te ­
ma e desenvolveram o que foi chamado “progressivo” ou dis­
pensacionalismo “modificado”.36 Enquanto ainda seja prematu­
ro chamar esta abordagem uma “escola de pensamento”, toda a 
evidência indica que esse ponto de vista ganhará influência no 
decorrer do tempo.
A idéia abrangente que contém essa interpretação é sua 
aderência à hermenêutica do “já/ ainda não”. Primeiramente 
popularizado por Oscar Cullmann, teólogo suíço de uma ge­
ração passada, esse sistema vê a primeira e a segunda vinda 
de Cristo pela lente de tensão da escatologia. A primeira vin­
da testemunha a inauguração do Reino de Deus, ao passo que 
a segunda resultará em sua realização completa. Até então, o 
cristão vive na tensão entre a era por vir (que amanheceu à 
primeira vinda de Cristo) e esta presente era má (que somente 
será transformada na Parúsia, ou a Segunda Vinda de Cristo). 
Gordon D. Fee capta a essência deste pensamento:
A estrutura absolutamente essencial ao próprio cristianism o pri­
mitivo [...] é escatológica. Os cristãos passaram a acreditar que, no 
evento de Cristo, a nova (vinda) era amanhecera, e que, especial­
mente pela morte e ressurreição de Cristo e o subseqüente dom do 
Espírito, Deus colocara o futuro em jogo, ser consumado ainda por 
outra próxima (parúsia) de Cristo. Deles foi então uma existência 
essencialm ente escatológica. Viveram “entre os tem pos” do com e­
ço e a consumação do fim. Deus tinha assegurado a salvação deles; 
eles já eram as pessoas do futuro, vivendo a vida do futuro na 
presente era — desfrutando seus benefícios. Mas ainda esperaram 
a consum ação gloriosa dessa salvação. Assim, viveram em uma 
tensão essencial entre o “já ” e o “não-ainda”.37
360 s proponentes dessa abordagem incluem Craig Blaising e Darrell Bock, 
Progressive dispensationalism (Wheaton: Victor, 1993); Robert L. Saucy, The case 
for P rogressive dispensationalism-, the interface between dispensational and 
non-dispensational theology (Grand Rapids: Zondervan,1993).
371 and 2 Timothy, Titus, Peabody, Mass.: Hendrickson,1988, p. 19.
Introdução ao Apocalipse ■ 35
Como resultado de interpretar a Bíblia desta maneira, os 
dispensacionalistas progressivos divergem de alguns pontos 
defendidos pelo dispensacionalismo clássico. 1) Os “progres­
sivos” acreditam que Jesu s começou seu reino divino davídico 
na ressurreição. Craig Blaising e Darrell Bock expressam isto 
assim:
Pedro argumenta em Atos 2 .22 -36 que Davi predisse no salmo 16, 
que esse descendente seria ressurreto, incorruptível, e desse modo 
seria entronizado (At 2 .30 ,31). Ele argum enta a seguir que essa 
entronização aconteceu na entrada de Jesus no céu, de acordo com 
a linguagem do salmo 110.1 , que descreve a entronização do filho 
de Davi à destra de Deus. Pedro declara (At 2 .36) que Jesus se 
tornou Senhor sobre Israel (SI 110.1 usa o título Senhor para o rei 
empossado) e Cristo (o rei ungido) em virtude do fato que ele agiu 
(ou permitiram que agisse) da posição celestial em nome de seu 
povo para os ab ençoar com o dom do Espírito Santo [...] A 
entronização à destra de Deus, a posição prometida ao rei davídico 
em Salmos 110 .1 , é designada a Jesus em muitos textos do n t . 
Claro que, isto é proclam ado em Atos 2 .3 3 -3 6 .38
2) A igreja não é um parêntese no plano de Deus; antes, 
como judeus crédulos no a t , que formam uma parte do povo 
de Deus (e.g., Rm 2 .26-28; 11; G1 6.16; Ef 2 .11-22; lPe 2.9,10).
3) A nova aliança está começando a ser cumprida na igreja 
(e.g., 2Co 3 .1—4.6; v. tb. o livro de Hebreus).
4) A promessa do a t sobre a vinda dos gentios para adorar 
o verdadeiro Deus ao término da história, também está expe­
rimentando realização parcial na igreja (e.g., Rm 15.7-13).
Com respeito aos princípios básicos do dispensacionalismo 
clássico, porém, os progressistas estão em acordo completo 
em três pontos: 1) Israel será restabelecido a Deus no futuro 
(isto quer dizer, há uma distinção, entretanto, não dicotomia, 
entre Israel e a igreja); 2) Cristo voltará para estabelecer seu 
reinado milenar na terra (o ponto de vista pré-milenarista); 3) 
a igreja não passará pela grande tribulação (a interpretação 
pré-tribulacionista).
Concernente ao Apocalipse, em particular, os progressis­
tas aplicam a hermenêutica do já/ ainda não à sua estrutura
,sProgressive dispensationalism , p. 177-8.
36 ■ Apocalipse
como segue: O aspecto do já aparece no livro em termos de 
cumprimento histórico no século i d.C., face à adoração a César 
e à perseguição aos judeus cristãos (não é distinta da aborda­
gem preterista, apesar d« não poder ser equiparada a ela). O 
aspecto do ainda não do Apocalipse será encontrado nessas 
profecias (na m aioria do livro) que espera a realização na 
parúsia (a grande tribulação, o anticristo, parúsia, o milênio).
Como o dispensacionalismo clássico, os progressistas focali­
zam também Apocalipse 1.19 como a chave para a estrutura do 
livro, mas em lugar de examinar o versículo delineando três es­
truturas (passado, presente, futuro), este ponto de vista perce­
be somente dois períodos no trabalho. João escreve o que viu 
(as visões do Apocalipse como um todo), que dividem as coisas 
em duas realidades: as coisas que são — a era presente; e as 
coisas que virão a ser — a era por vir. Para João, a igreja de seus 
dias vive na presente era (caps. 1—3), mas no céu, em virtude 
da morte e ressurreição de Jesus, a era por vir já alvoreceu (caps. 
4 e 5). No futuro, a idade por vir descerá à terra efetuando a 
derrota do anticristo (caps. 6— 9), o estabelecimento do reino 
messiânico temporário na terra (cap. 20), e por conseguinte o 
estado eterno (caps. 21 e 22). Assim, há uma sobreposição o re­
lato das duas eras para o cenário contínuo ininterrupto entre a 
terra (nesta época) e o céu (a era por vir) no Apocalipse.
O dispensacionalista progressivo também vê o desdobramento 
da história com pessimismo, porque ele é pré-milenarista em 
sua perspectiva. Porém, a hermenêutica do já/ ainda não ajus­
ta esse pessimismo à convicção otimista que o reino de Deus 
alvorece espiritualmente, dando, assim, grande esperança ao 
povo de Deus. Por conseguinte, os dispensacionalistas progres­
sivos são cautelosos quanto a não necessariamente comparar 
esta geração atual com a última antes do retorno de Cristo. Pode 
ser, ou pode não ser. Tony Campolo define o realismo da tensão 
escatológica inerente nessa mentalidade:
Qualquer teoiogia quenão vive com sentido do retorno imediato 
de Cristo é uma teologia que abranda a urgência de fé. Mas qual­
quer teologia que não nos faça viver como se o mundo ainda estará 
aqui por milhares de anos é uma teologia que nos conduz à 
irresponsabilidade social.39
“ Entrevista: The Door (Sept./ Oct. 1993, p. 14).
1
0 ponto de vista
P r e t e r is t a
■ K e n n e th L. G e n try Jr.
PRETERISTA DO APOCALIPSE
INTRODUÇÃO
Quanto mais o tempo passa, mais distante estamos dos even­
tos do Apocalipse. Essa reivindicação, tão notável, resume o 
p on to de v is ta p r e te r is ta e v a n g é lic o do A p o c a l ip s e . 1 O 
“preterismo” assegura que grande parte das profecias de João 
ocorreu no século /, logo após o livro ter sido escrito por ele. 
Embora as profecias estivessem no futuro quando João escre­
veu, e seu público as leu, elas agora estão em nosso passado.
O espaço do presente livro impede uma análise completa 
do Apocalipse e sua complicada estrutura .2 Ainda estou fir­
m em ente convencido que até m esm o uma p esquisa in tro ­
dutória de várias passagens fundamentais, figuras, e eventos 
na p ro fecia m a je s to s a de Jo ã o pode d em on strar a plausi- 
bilidade da posição preterista. Quanto à estrutura, basta isto 
para dizer que seu movimento sugere um avanço espiral de 
eventos, envolvendo a reforma de antigas profecias (e.g., note 
as fortes semelhanças entre os selos e as trombetas, Ap. 6 e 8). A 
estrutura espiral de João permite relances inversos ocasionais
'A palavra “preterista” está baseada em uma palavra latina “praeteritus” 
significa “o que se passou”, i.e., passado.
2Para mais detalhes preteristas no Apocalipse organizado em um sistema 
escatológico, v. meu He shall have dominion, 2 ed., Tyler, Tex.: Institute for 
Christian Economics, 1996, esp. caps. 8 e 14— 17. V. tb. David Chilton, The days 
o f vengeance: an exposition o fth e book o f Revelation, Forth Worth, Tex.: Dominion, 
1987; Jay E. Adams, The time is at hand, Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and 
Reformed, 1966.
40 ■ Apocalipse
e a reconsideração de eventos de ângulos diferentes, em lu­
gar de uma progressão cronológica inexorável.
A razão para essaxestrutura é interessante: Milton S. Terry 
defensor notável do método gramatical histórico de interpreta­
ção, preterista de peso e autoridade em hermenêutica, citada 
por Robert L. Thomas em seu capítulo (a seguir), lembra que 
“todas e tais repetições apocalípticas servem tanto o propósito 
de intensificar a revelação divina como o de mostrar que a coi­
sa é estabelecida por Deus e que ele a fará para passar rapida­
m en te”.3 Claro que, nenhum intérprete leva o progresso do 
Apocalipse implacavelmente como trabalho desenvolvido — até 
o d ispensacionalista c lássico Robert Thom as aceita alguns 
entrosamentos passados e futuros, intercalações disjuntivas, e 
assim sucessivamente (e.g., em Ap 11.15-19; 12.1ss. 19.1-4, 7-9).4
Antes de iniciar minha pesquisa, tenho de apontar o que a 
maioria dos cristãos suspeita e o que praticamente todos os 
estudiosos evangélicos (excluindo os dispensacionalistas clás­
sicos) reconhecem com referência ao livro: o A pocalipse é um 
livro a ltam en te figurativo que n ão pod em os a b o rd a r a partir 
de um litera lism o d ireto e sim ples. Porém, após fazer essa 
declaração, o ponto de vista preterista entende as profecias 
do Apocalipse refletindo eventos históricos atuais solidamente 
no futuro próximo de João, entretanto eles estão fixados no 
drama apocalíptico e ornados em hipérbole poética. Como o 
comentarista pré-milenarista Robert Mounce observa: “Que a
3BibIicaI Apocalyptics-, a study o f the most notable Revelatíons o f God and o f 
Christ, Grand Rapids: Baker, rep. 1988 (1898), p. 22. V. Gênesis 4 1 .25 ,32 .
•'Robert L. T h o m a s , Revelation 8—22: An exegetical com mentary (Chicago: Moody, 
1995, p. 43, 103-4, 106-7, 113, 355, 365-6). Por exemplo, “esta passagem faz 
parte de uma intercalação que não é uma parte de rígida sucessão cronológica 
do Apocalipse” (366). Uma peculiaridade notável existe no sistema dispensa­
cionalista clássico literário, análises cronológicas de profecia: Intercalações apa­
recem inesperadamente em qualquer lugar em que o sistema precisa deles. 
Por exemplo: 1) a imagem unificada de Daniel 2 envolve quatro impérios mun­
diais sucessivos que se desenvolvem progressivamente um após o outro, mas 
com o quarto entre dois estágios, inclusive um “império romano reavivado” 
separado de seu antecessor romano antigo por 1 500 anos — até agora (v. ibid., 
p. 153). 2) As setenta semanas de Daniel unificadas, após desenvolver progres­
sivamente pelas primeiras 69 semanas, param de repente no primeiro século, 
mas retomam novamente na grande tribulação milhares de anos depois (cf. 
T h o m a s , Revelatíons 1— 7 [Chicago: Moody, 1992], p. 426).
0 ponto de vista preterista ■ 41
linguagem da profecia é altamente figurativa e não tem nada 
a ver com a realidade dos eventos preditos. O sim bolism o 
não é uma negação da historicidade, mas um assunto de gê­
nero literário”.5 Verifique os seguintes impedimentos de um 
literalismo preconcebido:
1) A d ec la ra ção sobre conteúdo. Em sua declaração de aber­
tura, João nos informa que sua revelação foi dada “para m os­
trar” (gr. deixai) a mensagem e para isso “enviou seu anjo para 
torná-la co n h ecid a” [gr. esçm an en ] pelo seu a n jo ” (Ap 1.1). 
Conforme Friedrich Düsterdieck comenta: “O deixai ocorre do 
modo peculiar a sem ainein , isto é, a indicação do que é signi­
ficado por meio de “figuras significativas”.6 Na realidade, 41 
vezes, João diz que ele “vê" essas profecias (e.g., 1 .12,20; 5.6; 
9.1 ; 20 .1). Além disso, algumas das visões são obviam ente 
simbólicas, como o cordeiro morto (caps. 4 e 14), a besta de 
sete cabeças (caps. 13 e 17), e a prostituta babilônica (cap. 17).
Em seu evangelho, João mostra o problema do literalismo 
entre os primeiros ouvintes de Cristo: eles interpretam mal 
seu ensino referente ao templo (Jo 2 .19-22), ao nascer de novo 
(3.3-10), ao beber água (4.10-14), ao com er sua carne (6 .5 1 ­
56), ao ser livres (8.31-36), ao ser cegos (5.39,40), ao dormir 
(11.11-14), e Jesus como Rei (18.33-37). Essa abordagem errô­
nea é exagerada se usada na revelação de João. A natureza 
visual no conteúdo do Apocalipse — não somente o método 
de sua ass im ilação — requer in terpretação sim bólica . Quer 
dizer, com exceção de poucos casos (e.g., Ap 1.20; 4.5; 5.6,8; 
7 .13 ,14 ; 12.9; 17.7-10), os símbolos não são interpretados para 
nós. E em um desses exemplos em que aceitamos uma inter­
pretação angelical (17.9-12), a besta de sete cabeças não é lite­
ralmente uma besta de sete cabeças de modo algum.
2) O p r ec ed en te d os p r o fe ta s an tigos. Os profetas do a t 
empregam linguagem figurativa para um dos dois propósi­
tos: relacionar verdades espirituais m ajestosam ente, ou sim­
bolizar eventos históricos dramaticamente. Por exemplo, Deus 
está cavalgando em uma nuvem “que vai para o Egito” (Is 19.1;
' Robert H. M o u n c e , The book o f Revelation, n i c n t ; Grand Rapids: Eerdmans,
1 ')77, p. 218. Para uma discussão útil, sucinta da hermenêutica apocalíptica, v. 
Vem S. Poythress, Genre and hermeneutics in Rev 20.1-6, j e t s 36, Mar. 1993, p.
I I r)4.
'Criticai and exegetical handbook to the Revelation o f John, 6 ed., tradução 
I lenry Jacobs, Winona Lake, Ind.: Alpha, rep. 1 9 8 0 (1 8 8 4 ), p. 96.
42 ■ Apocalipse
v. a seguir; “O tema Apocalíptico”) e a destruição da linguagem 
(Ap 13.10; v. a seguir “O sexto selo”) fala da queda de cidades 
antigas. Terry oferece rhuita ajuda a este respeito ,7 diz que “uma 
interpretação literal rígida da linguagem apocalíptica inclina- 
se a confusão e equívocos infinitos”.8 Até o literalista Robert 
Thomas admite que “a fluidez da linguagem metafórica nas 
Escrituras é inegável”.9
3) A d ificu ld ad e do literalism o consisten te. Alguns exem ­
plos do literalismo parecem estranhos, irracionais,e desne­
cessários. Por exemplo, Robert Thomas assegura que os gafa­
nhotos assustadores em Apocalipse 9 e as rãs estranhas em 
Apocalipse 16 são demônios que literalmente assumem essas 
formas físicas; que os dois profetas em Apocalipse 11 literal­
mente vomitam fogo de suas bocas; que toda montanha no 
mundo será abolida durante o julgamento das sete taças; que 
a destruição literal da cidade da Babilônia por fogo acontecerá 
lentamente por mais de 1 000 anos; que Cristo retornará do 
céu para a terra em um cavalo, literalmente; e que a Nova Jerusa­
lém é um cubo de 1 500 milhas de altura .10
A EXPECTATIVA TEMPORAL (AP 1.1-3)
Volto-me agora a uma pesquisa do livro de Apocalipse. Platão, 
em A república, afirma uma máxima singular: “O começo é a 
parte mais importante do trabalho”. Esse princípio assegura um 
significado especial para o pretensioso intérprete do Apocalipse. 
Infelizmente, muitos entusiastas da profecia pulam o começo 
desse livro, deixando de assegurar um fundamento adequado 
para o caminho traiçoeiro adiante. Mas tirando uma linha de 
Isaías, o preterista pergunta: “Será que vocês não sabem? Nunca 
ouviram falar? Não lhes contaram desde a antigüidade?” (Is 40.21). 
O preterista insiste que a chave para o Apocalipse seja encontra­
da em abertura. Note a introdução de João:
7BibIicaI Apocalyptics, cap. 19: “The Apocalypse of John”; v. tb. Milton S. 
Terry, Biblical herm eneutics: a treatise on the interpretation o f the Old and New 
Testaments, 2 ed., Grand Rapids: Zondervan, rep. 1974 [n.d.], cap. 26: “The 
Apocalypse of John”.
sBiblical Apocalyptics, p. 228.
9Revelation 8—22, p. 372.
l0Revelation 1— 7, p. 455 , e Revelation 8— 22, p. 30, 46, 49, 90, 264, 360, 386, 
467.
0 ponto de vista preterista ■ 43
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para m ostrar aos seus 
servos o que em breve há de acontecer [...] Feliz aquele que lê as 
palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o 
que nela está escrito, porque o tempo está próximo. (Ap 1.1a, 3, 
grifo do autor).
Agora — an tes que as visões dramáticas brilhem em cena e 
a imagem altamente forjada confunda o leitor — João fornece 
uma pista indispensável para interpretar o seu livro: Os even­
tos do Apocalipse devem acontecer [gr. tachos] “em breve” (v. 
1) porque “o tempo está próximo [gr. engys]”.n
Os léxicos gregos e as traduções modernas concordam que 
essas condições indicam proximidade temporal. Ao longo do n t, 
tachos significa “depressa, imediatamente, sem demora, breve­
mente”.12 O termo engys (“próximo”) também fala de proximida­
de temporal: do futuro (Mt 26.18), do verão (24.32) e de um 
festival (Jo 2.13). O apóstolo João, inspirado, informou claramen­
te há quase dois mil anos ao seu público da época que eles deve­
riam esperar as profecias “acontecer” (Ap 1.1) no tempo de vida 
deles. Como observa Milton Terry, os eventos do Apocalipse são 
referentes “só a alguns anos no futuro após João escrevê-lo”.13
O significado dessas palavras não se encontra somente na 
introdução ao Apocalipse, mas também na conclusão de sua 
obra. Assim, eles são uns parênteses que qualificam o livro 
todo. Note como termina:
O anjo me disse: “Estas palavras são dignas de confiança e verda­
deiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu 
anjo para m ostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de 
acontecer..."
Então me disse: “Não sele as palavras da profecia deste livro, 
pois o tempo está próximo" (Ap 2 2 .6 ,1 0 , grifo do autor).
Ainda mais, os termos aparecem com freqüência em Apocalipse, 
mostrando a ênfase urgente de João na expectativa temporal.
nOs teólogos notam que referências para “o tempo” indicam com freqüên­
cia um “tempo de crise” especial. A próxima crise no Apocalipse, como mostra­
rei, é o “Dia de Deus” julgamento em Israel em 67-70 d.C. (Atos 2 .16-20 ; lTs 
2.14-16).
12V. Lucas 18.8; Atos 12.7 ; 22 .18 ; 25 .4 ; lTm 3.14, onde engys é usado em 
contextos surpreendentes (Rm 13 .11 ; 16 .20 ; Fp 4.5), se abre a pergunta do 
significado do evento esperado, não do significado temporal de engys.
"Biblical Apocalyptics, p. 277.
44 ■ Apocalipse
Encontramos tachos (“logo”) em 1.1; 2 .16; 3.11; 2 2 .6 ,7 ,1 2 ,2 0 e 
engys (“próximo”) em 1.3; 3.10; 2 2 .1 0 .14 Assim, como Robert 
Thomas que se opõe ao preterismo admite: “Um impulso prin­
cipal do A p o ca lip se^ su a ênfase na brevidade de tempo antes 
do cum prim ento”.15
João enfatiza esses dois term os claros com significados 
semelhantes, logo, antecipando qualquer confusão entre seus 
leitores quanto ao qu an do as profecias ocorreriam.
O preterista, a seguir, discute positivamente que João afir­
ma que os eventos estão próximos já nos seus dias. Por conse­
guinte, eles devem estar em nosso passado distante. O preterismo 
é exegeticamente fundamentado, pois está arraigado em princí­
pios hermeneuticamente sólidos. Porém, antes de continuar­
mos, tenho de contar brevemente duas réplicas comuns a esta 
análise:
O bjeção 1: João está falando do tempo de Deus, e não o 
nosso. As Escrituras informam que mil anos para o Senhor 
são “como um dia” (2Pe 3.8).
Essa objeção popular cede ao peso da seguinte evidência:
a) O Apocalipse é particularmente motivacional. João está aqui 
escrevendo para seres humanos, mas não sobre Deus. A de­
c laração de Pedro em 2Pedro 3 .8 é c laram ente teo lóg ica ; 
Apocalipse 1.1,3 são diretivas humanas, que serão ouvidas e 
terão influência. Pedro está lidando com o problema oposto 
ao de João: ele está explicando (baseado na eternidade de Deus) 
a d em ora da Segunda Vinda de Cristo (2Pe 2.4), ao passo que 
João está advertindo (baseado no sofrimento humano) da p ro ­
xim idade de ju lgam ento temporal.
b) O Apocalipse é histórico e concreto. João está escreven­
do para sete igrejas específicas, históricas (1.4,11; 2 .1— 3.22) 
sobre suas terríveis circunstâncias presentes (elas estão em 
“tribulação”, 1.9; 2 .9 ,10 ,13 ) , a necessidade de serem pacien­
tes (1.9; 2 .2 ,3 ,1 0 ,1 3 ,2 5 ; 3 .10 ,11), e os ju lgam entos da vinda 
iminente (2 .5 ,16 ,25 ; 3 .3 ,11; 22 .10 ,18 ,19) .
14Ap 1.19 também pode ser útil, entretanto é obscurecido na nvi. Provavel­
mente deveria ser trad uzido com o no The in terlin ea r G reek-English New 
Testament de Marshall, 2 ed. (Grand Rapids: Zondervan, 1959, p. 959) : “Escrevas 
as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois hão de acontecer”. V. 
Kenneth L. Gentry Jr., Before Jerusalem fell: dating the book o f Revelation (Tyier, 
Tex.: Institute for Christian Economics, 1996, p. 141-2).
15Revelation 1— 7, p. 55.
0 ponto de vista preterista ■ 45
Robert Thomas, citando William Lee, corretamente observa o 
seguinte referente às cartas para as sete igrejas, em Apocalipse 
2 e 3: “Porém, não se pode negligenciar o caráter histórico ao 
longo do qual está estampado nas Epístolas [...] e que distinta­
mente aponta para um estado de coisas de fato ante a mente de
S. João existindo nas várias igrejas".16 Isto é, várias alusões histó­
ricas, geográficas, e políticas nas cartas mostram que João o faz, 
na realidade, tendo em vista as igrejas específicas que ele ende­
reça. Ele estaria insultando-as impiedosamente se estivesse dis­
cutindo eventos dois mil anos, ou mais, atrás. Deus responde 
ao clamor ansioso “quanto tem po?” incentivando a paciência 
deles so m ente um “pouco m ais de tem po" (6 . 10 , 11 ).17 “O 
Apocalipse promete que não haverá nenhuma “demora" (10.6).” 
Para isso a natureza do livro exige uma “abordagem preterista”.18
c) O Apocalipse é enfático e declarativo. As expressões de 
iminência são didáticas (não-simbólicas), freqüentes (na in­
trodução, conclusão, e em outras partes), e variadas (v. d is­
cussão anterior de tachos e engys). De que outra maneira João 
poderia ter expressado proximidade no tempo se não por e s ­
ses term os? Todas as traduções inglesas em pregam con d i­
ções que expressam proximidade temporal.
d) O Apocalipse é harmonicamente paralelo. A expectativa

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