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CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 2 Capacitando, Para iniciar o Módulo, assista ao vídeo Apresentação do Módulo 4. MÓDULO 4 – ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO Prezado capacitando, Neste módulo, vamos apresentar o que deve ser levado em conta quando da elaboração dos estudos que conduzirão ao diagnóstico do saneamento básico do seu município. Como você já deve ter percebido, o diagnóstico é uma etapa fundamental do Plano de Saneamento Básico. Dessa forma, vamos conhecer as variáveis que devem ser contempladas na elaboração desses trabalhos, bem como as fontes disponíveis para obter informações que subsidiem essa elaboração. Através do diagnóstico, é possível visualizar a situação atual e real do saneamento básico no município. Dessa forma, a partir do entendimento da situação atual será possível propor programas, projetos e ações que serão a base para as melhorias a serem realizadas no saneamento básico municipal. Torna- se importante recordar que a participação da sociedade é fundamental nessa etapa e que, assim, teremos um resultado mais afinado com a realidade local. Sendo assim, ao final deste módulo, esperamos que você seja capaz de: compreender a importância de que esta etapa deve ser muito bem consolidada, vinculando o trabalho técnico com a participação social; conhecer o saneamento básico de seu município, suas estruturas componentes e seu sistema operacional; identificar e saber buscar fontes de informações referentes aos estudos técnicos necessários para a elaboração do diagnóstico do saneamento básico do seu município. Bons estudos! MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 3 SUMÁRIO 1. ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO ............................................................................ 4 1.1 Conceituando diagnóstico ................................................................................................................... 4 1.2 Como elaborar um diagnóstico ........................................................................................................... 5 1.3 Abrangência temática dos estudos técnicos em diagnóstico do saneamento básico do município ... 7 1.3.1 Abastecimento de Água ...................................................................................................................... 7 1.3.2 Esgotamento sanitário ....................................................................................................................... 11 1.3.3 Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos ................................................................................ 13 1.3.4 Manejo de águas pluviais .................................................................................................................. 15 2. ABRANGÊNCIA TERRITORIAL E AS UNIDADES DE ANÁLISE PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO .. 18 2.1 Utilização de mapas e fotos no diagnóstico ...................................................................................... 20 3. AS TÉCNICAS DE PESQUISA PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO ............................................... 28 3.1. Fontes de informação sobre saneamento básico .............................................................................. 29 3.2. Diagnóstico Participativo ................................................................................................................... 35 3.2.1. Priorização dos problemas ............................................................................................................... 37 3.2.2. Rede de desafios ............................................................................................................................... 39 3.2.3. Sistematização das informações ...................................................................................................... 40 3.2.4. Socialização das informações ........................................................................................................... 40 4. ENFOQUES DO DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO BÁSICO ................................................................. 40 4.1. Caracterização geral do município .................................................................................................... 41 4.2. Situação institucional ......................................................................................................................... 43 4.3. Situação econômico-financeira dos serviços de saneamento básico e do município ....................... 46 4.4. Situação dos serviços de saneamento básico .................................................................................... 48 4.4.1. Abastecimento de água .................................................................................................................... 48 4.4.2. Esgotamento sanitário ...................................................................................................................... 51 4.4.3. Manejo dos resíduos sólidos ............................................................................................................ 54 4.4.3.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.305/10 .............................................................. 54 4.4.3.2. Elementos essenciais sobre manejo dos resíduos sólidos ............................................................ 62 4.4.4. Manejo de águas pluviais ................................................................................................................. 66 4.5. Situação dos setores que têm inter-relação com o saneamento básico............................................. 68 4.5.1. Desenvolvimento urbano e habitação ............................................................................................. 68 4.5.2. Meio ambiente e recursos hídricos .................................................................................................. 70 4.5.3. Situação da saúde .............................................................................................................................. 72 4.6. Escopo básico de um diagnóstico ...................................................................................................... 75 CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 4 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 77 1. ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO O diagnóstico representa uma espécie de “fotografia” da situação de um determinado sistema em dado momento. Uma fotografia pode estar mais ou menos detalhada, pode abranger um campo de visão maior ou menor, pode estar mais ou menos focada. Assim, considerando o escopo do saneamento básico em seu município, cabe avaliar, antes de qualquer outra coisa, o melhor ângulo, a melhor escala, a abrangência, o nível de detalhamento e, obviamente, os elementos a serem “fotografados”, ou seja, diagnosticados, para de fato retratar da melhor forma possível essa realidade local. Os itens a seguir buscam destacar quais informações são relevantes à elaboração do diagnóstico de um Plano Municipal de Saneamento Básico, bem como quais são as formas de obtenção das informações. Salienta-se que, mesmo tendo que cumprir com o que prevê a legislação, cada município possui particularidades devido a questões culturais, sociais, geográficas, econômicas, ambientais, etc. Por esse motivo, ninguém está mais apto a opinar e contribuir na construção dos pré-requisitos, e do próprio diagnóstico em si, que os técnicos locais e a sociedade, atuando de forma participativa. 1.1 Conceituando diagnóstico O diagnóstico é citado na Lei n° 11.445/07, no seu art. 19, como “um dos requisitos mínimos a serem observados no Plano de Saneamento Básico”. Em suma, realizar um diagnóstico é buscar conhecer a realidade, é empreender umaaproximação daquilo que se quer entender, mediante o emprego de métodos, técnicas e instrumentos. Ao realizar o diagnóstico de uma localidade, busca- se compreender, no espaço e no tempo, como o lugar é em função de determinados aspectos ou variáveis (geomorfologia, população, relações sociais, saneamento, qualidade ambiental, economia, cultura etc.). Além disso, “o diagnóstico também precisa abordar as causas das deficiências encontradas” (BRASIL, 2011a, p. 93). No contexto do saneamento, a intenção do diagnóstico é obter informações sobre os inúmeros aspectos envolvidos na prestação de serviços, contemplando a zona urbana e rural. Relembrando o que já foi apresentado no Módulo 2, reapresentamos a Figura 1 onde são elencados os temas que devem ser pesquisados e abordados no diagnóstico técnico-participativo para o Plano de Saneamento Básico. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 5 Figura 1 - Temas que precisam ser abordados no Diagnóstico Técnico-Participativo Fonte: Adaptado de Brasil (2011a) e Brasil (2012a) Torna-se fundamental, portanto, conhecer a fundo a realidade local, suas peculiaridades, carências e experiências de êxito, para então planejar e implementar ações que busquem minimizar ou corrigir os problemas encontrados. Não há sentido ou possibilidade de realizar um plano de ações para um lugar ou território quando não conhecemos a sua realidade, seus problemas, potencialidades e limitações. Neste módulo vamos abordar os elementos que devem ser diagnosticados e que contribuem para o planejamento, com vistas a realizar o Plano de Saneamento considerando a participação da sociedade da forma mais ampla possível. 1.2 Como elaborar um diagnóstico Como dito anteriormente, o diagnóstico deve ser elaborado mediante a coleta de dados e informações, que podem ser obtidas por meio de diversas técnicas de investigação. Ressaltamos, igualmente, que o diagnóstico deve contemplar tanto informações técnicas, quanto informações Situação dos setores inter-relacionados com o saneamento: desenvolvimento urbano e habitação, meio ambiente, recursos hídricos, saúde, entre outros. Aspectos socioeconômicos, culturais, ambientais e de infraestrutura. Política e gestão dos serviços de saneamento básico no município. DIAGNÓSTICO Infraestrutura atual do sistema de manejo de águas pluviais urbanas. Técnico-Participativo Infraestrutura atual do sistema de abastecimento de água. Infraestrutura atual do sistema de manejo dos resíduos sólidos urbanos. Infraestrutura atual do sistema de esgotamento sanitário. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 6 Dados técnicos Olhar técnico Métodos objetivos Demandas sociais Agentes sociais Métodos subjetivos DIAGNÓSTICO sobre elementos da vivência local, apontados pela comunidade nas ocasiões em que ela participa dos processos de mobilização social. A Figura 2 esquematiza a importância de se considerar, concomitantemente, avaliação técnica (métodos objetivos) e demandas sociais (métodos subjetivos) para a elaboração de um diagnóstico que seja o mais representativo possível da realidade local. Figura 2 - Componentes do diagnóstico MÉTODOS OBJETIVOS - São aplicadas técnicas de pesquisa que envolvem a coleta, tratamento e análise de dados, predominantemente quantitativos, gerados a partir de pesquisas de base amostral, medições de campo, base de dados da administração e dos prestadores dos serviços, entre outros (BRASIL, 2011a). MÉTODOS SUBJETIVOS - Articulam-se com técnicas da pesquisa social, quando ocorre o envolvimento dos diversos segmentos da sociedade como sujeitos do processo de investigação. Os grupos focais, as entrevistas com informantes-chave e as pesquisas de opinião são exemplos de técnicas que podem ser utilizadas. Pode-se utilizar, também, informações extraídas de bases de dados de sistemas de atendimento aos cidadãos e aos usuários dos serviços mantidos pela administração municipal e/ou pelos prestadores dos serviços e pelos órgãos ou entidades de regulação e fiscalização dos serviços ou de proteção aos consumidores (BRASIL, 2011a). ATENÇÃO As informações técnicas devem refletir as especificidades locais do município, sua identidade econômica, social e ambiental. O enfoque participativo, por sua vez, tem a finalidade de assegurar o envolvimento dos diversos setores da comunidade organizada e população em geral na construção do Plano de Saneamento Básico. Para a realização de um diagnóstico efetivo é necessário ter em mente aquilo que se quer conhecer. Objetivos claros e bem definidos otimizam o trabalho, economizando tempo, recursos MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 7 humanos e financeiros. Partindo-se de um elenco de objetivos claros, bem como da definição da metodologia mais adequada para atingi-los, pode-se chegar mais facilmente a um processo de planejamento coerente com as necessidades e realidades de seu município. Em se tratando de metodologias para a realização de diagnósticos, muitas são as possibilidades, e a escolha de uma delas vai depender basicamente do grau de complexidade e de profundidade que se queira alcançar, além, obviamente, das situações existentes e/ou a serem enfrentadas. Assim, a escolha vai depender dos objetivos, do tempo e dos recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis, bem como do grau de aprofundamento desejado para a atuação em uma dada realidade. Convém relembrar o que já foi dito no Módulo 3 em relação à participação e controle social. A realização de diagnósticos sem a participação da comunidade local acaba por não trazer sustentabilidade aos programas, projetos e ações que deles venham a se desdobrar. Por outro lado, os problemas encontrados no saneamento básico compreendem diversas áreas como geologia, meio ambiente, demografia, economia, cultura, dentre outros, exigindo assim, além da existência de diversos conhecimentos, que todos estes consigam “conversar entre si”. Estes conhecimentos técnicos servirão para alimentar o processo de discussão da sociedade, a qual, por sua vez, é encarregada de fornecer aos técnicos elementos que compõem a realidade socioambiental do local. Todo esse diálogo deve ocorrer de forma transparente e democrática, assegurando que tanto os técnicos quanto a população tenham suas ideias apresentadas e avaliadas. 1.3 Abrangência temática dos estudos técnicos em diagnóstico do saneamento básico do município Na sequência, vamos analisar como se estruturam os quatro componentes do saneamento básico. Mais adiante, neste mesmo módulo, vamos aprofundar um pouco mais sobre cada um deles, com objetivo de refletir sobre a situação encontrada em seu município e a reconhecer os aspectos acerca dos quais deve estar atento para a realização do diagnóstico e do processo de planejamento. 1.3.1 Abastecimento de Água Neste item, apresentaremos como se estrutura um Sistema de Abastecimento Água (SAA), capaz de suprir as necessidades de água potável de um município. Um SAA é composto por uma sequência coordenada de processos que, através da implantação de estruturas e equipamentos, irão cumprir com o objetivo de fornecer água potável às unidades consumidoras (residências, estabelecimentos comerciais, indústrias, etc.) para os mais diversos usos e finalidades. Tanto nas zonas urbanas quanto nas zonas rurais podemos encontrar diversos sistemas ou subsistemas de abastecimento de água. Na Figura 3 você pode observar os nove principais componentes de um típico sistema de abastecimento de água. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 8 Figura 3 - Representação de um típico Sistema de Abastecimento de Água Fonte: Adaptado de Brasil (2008) Vamos entender o que acontece em cada uma das etapas indicadas na Figura 3. 2.Bombeamento 1. Manancial 3.Produtos químicos4.Floculação 5.Decantação 6.Filtração 9.Distribuição 7.Desinfecção 8.Reservação MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 9 Manancial: corpos d’água, superficiais ou subterrâneos, fontes de água para utilização em diversos fins, como, por exemplo, o abastecimento para consumo humano. Caso o volume de água superficial não seja constante, pode ser necessário construir um reservatório para armazenar a água, geralmente com barragens de concreto ou terra. Quando há volume constante, a captação pode ser superficial, dispensando obras para reservação. Bombeamento: A água armazenada é captada e bombeada através de grandes canalizações, chamadas adutoras, até a Estação de Tratamento de Água (ETA). Na entrada da bomba instala-se um crivo para reter folhas, galhos, peixes e outros materiais de maiores dimensões, evitando que estes cheguem a ETA. Produtos químicos: Na entrada da ETA são adicionados alguns produtos químicos, como cal (para regular o pH), um floculante (como sulfato de alumínio) e em alguns casos, cloro (para reduzir a formação de limo dentro da ETA). Floculação: Essa etapa visa fazer a sujeira da água se agrupar em flocos, os quais são mais densos e irão sedimentar com mais facilidade. Isso é feito com a ajuda do floculante em um processo de mistura lenta, que pode tanto ocorrer com agitadores mecânicos, quanto pelo percurso em canais sinuosos. Decantação: Após o processo de floculação, a água passa por grandes tanques, semelhantes a piscinas, onde o material floculado, por ser mais denso que a água, acaba se acumulando ao fundo. A água superior, mais limpa, é coletada e encaminhada aos filtros. Essa é a primeira limpeza que a água sofre de fato, sendo o restante removido nos filtros. Filtração: O filtro é composto por várias camadas de materiais finos, como areia e antracito, sobre camadas de cascalho de várias granulometrias. Quando a água passa pela areia, esta retém as impurezas, removendo os flocos que porventura não foram retidos na decantação. Desinfecção: Ao final do processo ainda há necessidade de desinfecção, para garantir que eventuais micro-organismos que tenham passado por todos os processos anteriores, sejam aqui reduzidos a quantidades seguras, para não trazer malefícios a saúde. O Cloro é o componente utilizado para desinfecção. Além disso, outros produtos podem ser adicionados nesta etapa: flúor para prevenção de cáries e cal para regulação do pH, reduzindo a corrosão das tubulações. Reservação: Após tratada, a água segue para dois tipos de reservatórios: um maior localizado geralmente após a ETA, que tem como objetivo regular a vazão em horários de maior e menor consumo, e para os elevados, que fornecem pressão necessária à rede. Distribuição: A distribuição da água é feita através de redes de tubulações que são ligadas à residências, indústrias, lojas e loteamentos. Dependendo da localização, pode haver outras bombas (boosters) para darem a pressão necessária à rede. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 1 0 1.3.2 Esgotamento sanitário O sistema de esgotamento sanitário tem por objetivo fundamental dar destinação adequada às águas residuárias, isto é, aos esgotos ou efluentes, garantindo o devido tratamento antes de ocorrer a disposição final. Com isso, pretende-se minimizar e até mesmo eliminar os riscos relacionados à saúde pública e ao meio ambiente provenientes do despejo inadequado de efluentes, atendendo a padrões legais em vigor (PHILIPPI JUNIOR, 2004). Na Figura 4 estão apresentados, de forma simplificada, os componentes da coleta de um sistema de esgotamento sanitário. Figura 4 - Sistema de esgotamento sanitário Fonte: SABESP (2013) Como você pode ver, o esgoto tem um grande trajeto a percorrer antes de ser realmente tratado. Primeiramente, ele é coletado nas residências, seguindo para uma tubulação denominada rede coletora. Daí, ela segue para redes maiores denominadas coletores-tronco, as quais conduzem para grandes interceptores que transportam o esgoto até a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Esse sistema é necessário pois o esgoto é transportado por gravidade, ou seja, as redes de esgoto precisam se adaptar à topografia do município. Dessa forma, as redes de esgoto lembram muito um sistema hídrico, onde temos córregos que formam arroios e arroios que formam rios. Capacitando, Este é um momento oportuno para assistir ao vídeo 4.1. Diagnóstico dos Serviços de Abastecimento de Água. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 11 Em alguns casos utilizam-se Estações de Bombeamento de Esgoto - EBE (Figura 5), as quais bombeiam o esgoto para locais mais elevados. Porém, devido ao elevado consumo energético e ao fato de estas precisarem de limpeza constante, evita-se ao máximo o seu uso. Sendo assim, em municípios compostos de várias sub-bacias hidrográficas muitas vezes não é economicamente viável trabalhar com um pequeno número de grandes ETEs, sendo preferível adaptar o sistema à topografia do município. Figura 5 - EBE Asa Branca, em Porto Alegre (RS) Fonte: Prefeitura de Porto Alegre (2011) Depois de transportado, o esgoto segue para a ETE, onde o processo de limpeza do esgoto é efetuado. Diferente do que ocorre nas ETAs, onde os sistemas de tratamento variam pouco entre si, as características das ETEs variam significativamente dependendo do esgoto, do clima, da área disponível, da qualidade do efluente que se deseja atingir e dos recursos financeiros disponíveis. Algumas características, porém, podem ser apontadas: O tratamento de esgoto ocorre em sua maioria através de processos biológicos (utilizando microrganismos e, em alguns casos, plantas) ao invés de apenas físico-químicos como no tratamento de água; O processo é composto por quatro etapas, a saber: I. Pré-tratamento – remoção de sólidos grosseiros através de gradeamento e desarenação; II. Tratamento primário – remoção de parte dos sólidos em suspensão além de óleos e graxas, através de processos físicos (floculação e sedimentação); III. Tratamento secundário – remoção da matéria orgânica através de processos biológicos; IV. Tratamento terciário - remoção dos nutrientes (nitrogênio e fósforo principalmente) e de vírus e bactérias. Figura 6 - ETE Suzano, em São Paulo (SP) Fonte: Governo do Estado de São Paulo (2012) MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 13 Fonte: Prefeitura Municipal de Itabira Capacitando, Este é um momento oportuno para assistir ao vídeo 4.2. Diagnóstico dos Serviços de Esgotamento Sanitário. Apesar de não ser diretamente parte do tratamento do esgoto, as ETEs também precisam contar com sistemas de tratamento do lodo formado após o tratamento. Importante destacar que a qualidade final do efluente tratado nas ETEs é determinada pelas condições do rio em que este efluente será despejado. O tratamento não visa tornar o esgoto potável, mas sim estar em condições suficientes para não prejudicar o rio receptor. 1.3.3 Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos Independente de sua origem, os resíduos sólidos devem passar por uma série de operações, de tal forma que recebam manejo e destino ambiental e sanitário seguros. O gerenciamento dos resíduos sólidos pode ser resumido em 5 etapas principais, descritas a seguir. Figura 7 - Contêineres de resíduos em Caxias do Sul (RS) Acondicionamento: consiste no armazenamento dos resíduos em recipientes adequados, como lixeiras ou contêineres. A maioria dos municípios brasileiros utilizam as lixeiras e os resíduos são coletados por garis. Outros utilizam contêineres (Figura 7), seguida de coleta mecanizada com caminhões. Fonte: CODECA (2013) Coleta: consiste na remoção dos resíduos sólidos, devidamente acondicionado. Deve ocorrer de forma distinta conforme o tipo do resíduo (geralmente, comum ereciclável). Na coleta dos resíduos comuns utiliza-se o caminhão compactador (Figura 8) enquanto que para os recicláveis, utiliza-se um caminhão caçamba ou semelhante, de forma a não danificar o resíduo reciclável. Importante ressaltar que é na coleta que ocorre a separação dos resíduos. Assim, é ideal que se utilize um recipiente para resíduo comum e outro para o reciclável. Em certos casos, a coleta pode ser feita sem Figura 8 - Coleta de resíduos em Itabira CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 14 os coletores (lixeira ou contêiner), sendo realizada no que se chama sistema porta a porta, ou seja, o funcionário recolhe o resíduo diretamente na residência. Figura 9 - Triagem de resíduo Triagem: consiste no processo de separação dos materiais recicláveis do rejeito, separando o que possui valor de venda. O processo de triagem geralmente ocorre articulado à coleta seletiva, porém, alguns municípios fazem a triagem nos resíduos comuns. No Brasil, a separação é feita majoritariamente de forma manual, em geral por associações ou cooperativas de catadores (Figura 9). Fonte: Prefeitura Municipal de Indaiatuba (2013) Figura 10 - Reciclagem de embalagens laminadas Reciclagem: é a transformação do resíduo em matéria-prima novamente, em escala industrial. Assim, todo sistema de reciclagem deve analisar a existência de um mercado que receba o resíduo selecionado. Municípios isolados costumam ter mais dificuldades neste sentido, sendo que o desenvolvimento de políticas e incentivos que atraiam indústrias de reciclagem, além da formação de consórcios, é fundamental para estruturação da cadeia de reciclagem. Fonte: Cempre (2013) Figura 11 - Aterro sanitário de Biguaçu (SC) Disposição Final: é a distribuição dos rejeitos em aterros sanitários, observando normas de segurança à saúde e minimização de impactos ambientais. Fonte: Prefeitura Municipal de Florianópolis (2011) MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 15 1.3.4 Manejo de águas pluviais As intervenções humanas no ambiente urbano alteram o ciclo hidrológico, provocando impactos nas suas diferentes etapas. Isso, muitas vezes, implica em perdas materiais e humanas. Esses impactos podem ser deslizamentos de encostas, enchentes, alagamentos, entre outros. Assim, é importante entender esse ciclo, uma vez que ele é parte fundamental do manejo de águas pluviais. Na Figura 12 apresenta-se o ciclo hidrológico, o qual consiste no processo de circulação da água no nosso planeta, migrando dos oceanos para o continente e vice-versa. O ciclo consiste no seguinte: a água circula dos oceanos para as nuvens através da evaporação, para então cair em forma de chuvas, formando rios e lagos. Ao mesmo tempo, parte da água infiltra no solo formando os aquíferos e outra parcela dela é consumida por animais, plantas e seres humanos. Eventualmente essa água é liberada de volta para o ciclo, pelos animais, plantas e solo através do processo de evapotranspiração. A parte que escoa segue em direção aos oceanos, voltando assim ao seu local inicial. Figura 12 - Ciclo da água Fonte: USGS (2013) Capacitando, Este é um momento oportuno para assistir ao vídeo 4.3. Diagnóstico dos Serviços de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos. Para um sistema eficiente de gerenciamento de resíduos é fundamental a participação da população. Assim, os programas de educação ambiental são essenciais para garantir que programas como a coleta seletiva atinjam os resultados esperados. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 16 A urbanização é uma atividade antrópica, isto é, uma das intervenções humanas no meio ambiente que mais produz alterações locais nos processos do ciclo hidrológico, fundamentalmente relacionadas às mudanças na cobertura do uso do solo. Com a urbanização, as edificações, pavimentações de ruas, calçadas e a remoção da cobertura vegetal original do ambiente acarretam a redução da permeabilidade natural dessas áreas. A expansão da impermeabilização provoca redução da parcela da água precipitada que consegue infiltrar no solo, aumentando o escoamento superficial, reduzindo o escoamento subterrâneo e diminuindo a evapotranspiração. O aumento do escoamento superficial provoca, por sua vez, vários problemas na bacia hidrográfica, como a erosão e a intensificação da dimensão e da frequência das inundações urbanas. Intervenções estruturais e não estruturais são realizadas visando a redução das enchentes e inundações e melhoria das condições de segurança sanitária, patrimonial e ambiental dos municípios. As intervenções estruturais consistem em obras que objetivam a redução, o retardamento e o amortecimento do escoamento de águas pluviais. Estas obras são generalizadamente denominadas de “drenagem”. Em termos estruturais, sistemas de drenagem são geralmente compostos por tubulações e galerias que transportam a água das regiões urbanas até rios e arroios que a conduzam para fora. Esse sistema, porém, vem se mostrando insuficiente para atender à expansão das cidades. Assim, outras técnicas (Figura 13) vêm se desenvolvendo para atender tal demanda, entre elas, os reservatórios de amortecimento de cheias, a adequação de canais para a redução da velocidade de escoamento, os sistemas de drenagem por infiltração, a implantação de parques lineares, a recuperação de várzeas e a renaturalização de cursos de água (BRASIL, 2012c). MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 17 Figura 13 - a) Parque linear Barigui (PR); b) reservatório de amortecimento de cheias em Sorocaba (SP); c) desassoreamento de canal em Vila Velha (ES) Fontes: a) Secretaria do Turismo do Estado do Paraná (2013); b) Prefeitura Municipal de Sorocaba (2012); c) Prefeitura de Vila Velha (2013) Já as medidas não estruturais, são aquelas que lidam com o planejamento do município, trabalhando com a gestão do uso e ocupação do solo, conforme definido pelo Plano Diretor. No zoneamento previsto nesse documento, devem estar estabelecidas áreas de riscos, além do nível de impermeabilização do solo aceitável para cada local. Também é fundamental que sejam aprovadas as legislações pertinentes e que sejam desenvolvidos programas de educação ambiental, fornecendo o suporte necessário ao poder público e à população. Caro capacitando, o diagnóstico deverá, então, tratar dessas quatro áreas tanto individualmente, como por meio de suas relações intersetoriais. c b a Capacitando, Este é um momento oportuno para assistir ao vídeo 4.4. Diagnóstico dos Serviços de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas. Leia o texto complementar que trata de novos paradigmas tecnológicos para o setor de saneamento. Neste material você poderá aprofundar seu conhecimento sobre alternativas para os componentes do saneamento. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 18 2. ABRANGÊNCIA TERRITORIAL E AS UNIDADES DE ANÁLISE PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO Primeiramente, voltamos a ressaltar que o diagnóstico deve contemplar todo o território do município, abrangendo tanto a área urbana quanto na rural. Conforme dados levantados pela Fundação Nacional de Saúde (BRASIL, 2012b), os serviços de saneamento prestados à população que reside na zona rural apresentam atualmente elevados déficits de cobertura. Neste sentido, a Figura 14 representa a diferença entre as formas de abastecimento de água nas áreas urbanas e rurais. Figura 14 - População urbana e rural residente em domicílios com ausência de canalização interna de água, segundo as diferentes formas de abastecimento - Brasil, 2010 Fonte: Plansab (2013) - Dados do Censo Demográfico (IBGE, 2011) De modo geral, a zona rural sofre diversas carências no que diz respeito ao saneamento. Assim, é imprescindível que as informações de saneamento básico referentes à zona rural sejam contempladasno diagnóstico, bem como nas demais etapas do Plano de Saneamento, de forma que a população desses locais não seja prejudicada. Brasil (2011a) recomenda que sejam utilizadas unidades territoriais de análise que permitam observar mais facilmente as desigualdades entre as áreas rurais e urbanas. Para tanto, as localidades rurais e os bairros da sede municipal, delimitados em mapa, podem se constituir em unidades de análise. Dentro do território municipal, podem ser adotadas unidades de referência para a realização do diagnóstico, por exemplo: o logradouro, a bacia hidrográfica ou a composição de grupos, bairros ou localidades que tenham características socioambientais semelhantes, conforme os agrupamentos censitários utilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 19 O logradouro pode ser uma unidade de referência utilizada para a análise das características do ambiente construído, funcionando como um “recorte” da área urbana total. Segundo Brasil (2011a), esse recorte possibilita a identificação da situação sobre o abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem pluvial, pavimentação, limpeza pública e moradia. Salienta-se que muitas dessas informações podem ser obtidas com observação direta do logradouro, ou ainda pelo contato com a população que aí reside. Outra unidade de referência é a bacia hidrográfica, considerada a unidade básica para o planejamento municipal. Entende-se por bacia hidrográfica toda área de captação natural da água da chuva que escoa superficialmente para um corpo de água ou seu contribuinte (RIO GRANDE DO SUL, 2010). De acordo com a Lei Federal nº 11.445/07 (art. 48, inciso X), a bacia hidrográfica é a unidade de referência para o planejamento das ações da União, no âmbito da Política Federal de Saneamento Básico. Confira na Figura 15 alguns aspectos de uma bacia hidrográfica. Um dos grandes problemas verificados nas instituições públicas tem sido a adoção de diferentes zoneamentos para a prática do planejamento e acompanhamento de suas atividades. Isso tem gerado muitos problemas, dentre os quais podemos citar a impossibilidade de cruzamento de informações e, muitas vezes, a tomada de decisão completamente contrária de órgãos que deveriam possuir posicionamentos consoantes. Essa situação é um dos grandes desafios atuais dos órgãos públicos, sejam eles municipais, estaduais ou federais. LOGRADOURO - Entende-se como todas as ruas e caminhos carroçáveis e não carroçáveis, inclusive vielas, becos, escadas e passagens de acesso. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 20 Ponto onde dois rios se encontram. Neste local, as águas dos afluentes e subafluentes seguem o mesmo fluxo para o rio principal. Escoamento superficial O escoamento subterrâneo se origina quando a água infiltra e passar a ser armazenada em um aquífero. Seu fluxo pode se dar em diversas direções e, eventualmente, emergir em um lago, ou mesmo sustentar a vazão de um rio perene nos períodos de estiagem. Canal que recebe a drenagem das águas de todos afluentes da bacia hidrográfica, devido às suas características geográficas e topográficas. Linha de maior profundidade do curso principal do rio. Consiste em rios menores que deságuam nos afluentes do rio principal. Rio principal Talvegue Escoamento subterrâneo Afluente Confluência Subafluente Interflúvio Relevo elevado entre dois vales, dois rios. É o divisor de águas que separa duas bacias hidrográficas. O escoamento superficial é o deslocamento sobre o terreno, por ação da gravidade, da água precipitada da atmosfera que não se infiltra no solo ou não volta diretamente à atmosfera pela evapotranspiração. Figura 15 - Bacia hidrográfica Fonte: Adaptado de Secretaria da Educação do Estado do Paraná (2013) 2.1 Utilização de mapas e fotos no diagnóstico O diagnóstico consiste num levantamento amplo de informações, trabalhando tanto em micro, quanto em macro escala. Sendo assim, é importante que essas informações possam ser sistematizadas e representadas de modo com que sejam facilmente entendidas. Uma forma de fazer isso se dá com o uso efetivo da comunicação gráfica, utilizando recursos como as fotografias, a elaboração de mapas, também chamados de cartas ou plantas, dependendo da escala e do uso. Enquanto as fotos permitem ilustrar a realidade, ajudando a justificar as ações tomadas pelo poder público, a elaboração de mapas temáticos serve para auxiliar o gestor no processo de tomada de decisão, servindo muitas vezes como ponto de partida para o desenvolvimento de planos e programas. A Figura 16 é um exemplo de registro fotográfico que ilustra a situação de um determinado corpo É um tributário do rio principal, ou seja, um rio de dimensão menor, que deságua no rio principal. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 21 hídrico que serve de manancial para abastecimento do município. O mesmo poderá ser feito em relação ao esgotamento sanitário, ao manejo de águas pluviais e ao manejo de resíduos sólidos. Figura 16 - Trechos contaminados do arroio afluente ao Rio Burati, identificados na elaboração do diagnóstico do Plano de Saneamento do Município de Bento Gonçalves – RS Fonte: Adaptado do Plano de Saneamento do Município de Bento Gonçalves – RS (PREFEITURA DE BENTO GONÇALVES, 2009) Assim, é importante que no diagnóstico sejam desenvolvidos mapas temáticos para as áreas mais relevantes. Eles são utilizados pelo próprio órgão público para o planejamento e facilitam a transmissão de informações levantadas pelo gestor para a população, sendo uma parte importante no processo de participação. A elaboração de mapas ocorre com o auxílio de ferramentas denominadas Sistemas de Informações Georreferenciadas ou Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e de softwares de CAD (Computer Aided Design – Desenho assistido por computador). Há diversas definições sobre o que constitui um SIG. Silva (1999), por sua vez, traz alguns aspectos em comum: SIGs necessitam usar meio digital (informática); deve haver uma base integrada, sendo os dados georreferenciados e com controle de erro; deve haver funções de análise de dados através de álgebra cumulativa (soma, subtração, multiplicação, divisão, etc.) e álgebra não cumulativa (operações lógicas). Diversos softwares de SIG estão disponíveis no mercado. O INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) disponibiliza gratuitamente o Spring para download, fornecendo ainda cursos de utilização desse recurso. Você pode acessá-lo através do link: <http://www.dpi.inpe.br/spring/>. Comentários – Fotos de trechos de arroio localizado no município de Farroupilha que deságua no Rio Burati, em Bento Gonçalves. Evidencia-se a existência de alguma espécie de contaminação das águas, acarretando a formação de espumas. http://www.dpi.inpe.br/spring/ CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 22 Veja nas figuras a seguir, exemplos de mapas comumente encontrados em Planos de Saneamento Básico: uso e cobertura do solo. vegetação, zoneamento e unidades de conservação. hidrografia. hipsometria (elevação). clinografia (declividade). ATENÇÃO A qualidade do mapa elaborado depende da qualidade das informações utilizadas para gerá-lo. Assim, é fundamental que as informações levantadas pelo diagnóstico sejam adequadas, caso contrário, as informações geradas no mapa não terão validade científica. Para aprender mais sobre os SIGs, assista ao vídeo Sensoriamento Remoto, disponível na Biblioteca! MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 23 Figura 16 - Mapa de uso do solo do município de São Valentim do Sul - RS Fonte: Prefeitura de São Valentim do Sul - RS (2010) O mapa de usodo solo auxilia o gestor público a definir onde estão os pontos críticos, como aglomerados populacionais, industriais e áreas de ocupação agrícola. Isso auxilia a delimitar onde cada tipo de programa deverá atuar. Por exemplo, é a partir da distribuição da população rural no município que se elabora um sistema de coleta dos resíduos rurais, como entrega voluntária, quando há uma população muito espalhada na área do município, ou porta a porta, quando a população está mais agrupada em pequenas comunidades. Da mesma forma, quando se inicia a implantação do sistema de coleta e tratamento de esgoto, dá-se preferência, geralmente, pelos pontos mais críticos, como aqueles que apresentam um grande número de habitantes e/ou indústrias. O mapa de uso do solo, juntamente com o mapa de zoneamento, indicará as áreas onde deve haver restrição quanto à instalação de estruturas. Como exemplo, a instalação de ETEs ou de aterros sanitários deve ser feita preferencialmente longe de aglomerados urbanos. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 24 Figura 18 - Mapa de zoneamento do município de Florianópolis - SC Fonte: Prefeitura Municipal de Florianópolis - SC (2010) O mapa de zoneamento, definido a partir do Plano Diretor, servirá para determinar as áreas onde certas estruturas poderão ou não ser instaladas, tendo em vista o seu papel de contribuir com o planejamento ou previsão da expansão urbana. Enquanto o mapa de uso do solo fornece uma visão mais pontual do município, definindo como o mesmo está sendo utilizado hoje, o de zoneamento traz uma visão de como o município está planejado para ser no futuro. Dessa forma, o Plano de Saneamento Básico deve estar em sintonia com o mapa de zoneamento. As redes de água tratada, esgoto ou pluviais devem ser previstas de forma que possam ser expandidas para atender as áreas futuras. As unidades de tratamento também devem estar instaladas em local permitido pelo zoneamento. Da mesma forma, estas devem levar em conta a formação e/ou crescimento de novos loteamentos. Isso é particularmente importante, uma vez MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 25 que podem se formar novas áreas em pontos afastados do aglomerado urbano atual, as quais podem ficar muito distantes, por exemplo, de aterro sanitário, elevando os custos de coleta. Figura 19 - Mapa de hidrografia do município de Londrina - PR Fonte: Prefeitura de Londrina - PR (2009) O mapa de hidrografia tem diversos usos no planejamento urbano. Primeiramente, ele é fundamental para as obras de drenagem, servindo como ponto de partida para a delimitação de locais críticos de alagamento. Ele também definirá a necessidade de obras especiais, como pontes, galerias e afins para as redes de água e esgoto. A hidrografia também funciona como fator limitador para outras obras, em especial o aterro sanitário. É importante que o mapa de hidrografia apresente também as bacias e/ou sub-bacias municipais, uma vez que estas são fundamentais na definição dos sistemas de água e esgoto municipais. Ainda, municípios que participem de duas ou mais bacias hidrográficas devem se adaptar aos respectivos Planos de Bacia, podendo então haver diferenças significativas no planejamento municipal em dois pontos da cidade. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 26 Figura 20 - Mapa de hipsometria do município de Bento Gonçalves – RS Fonte: Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves - RS (2009) O mapa de elevações (hipsometria) do município é particularmente importante para a definição das redes e estruturas de tratamento de água e esgoto e de drenagem. Redes de drenagem de águas pluviais e de esgoto sanitário devem ser projetadas para operar sob gravidade. Para as redes de água é desejável que não existam muitas “subidas e descidas”, uma vez que isso implica a instalação de ventosas e válvulas de descarga, resultando em aumento de custos. A localização das estruturas também está condicionada à elevação: ETAs em geral são instaladas em pontos elevados, permitindo o transporte por gravidade; e ETEs situam-se em pontos baixos, ao final da rede. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 27 Figura 21 - Mapa de clinografia do Município de Pinhais – PR Fonte: Prefeitura de Pinhais – PR (2011) A clinografia permite estabelecer a declividade do terreno, ficando mais evidente se este comporta as declividades mínimas e máximas das redes de água, esgoto e drenagem. Também, locais de grande declividade propiciam grande velocidade ao escoamento da água em períodos de chuva. Dessa forma, esses locais muitas vezes precisam de obras específicas de drenagem. É particularmente importante cruzar o mapa de clinografia com o de uso do solo, o que poderá revelar áreas de risco. Grandes declividades também ocasionam problemas de acesso. Assim, a implantação de estruturas de grande porte como aterros sanitários, ETEs ou ETAs em locais isolados pode ser comprometida por acessos muito íngremes, os quais dificultam ou até impedem o trânsito de caminhões. ATENÇÃO Entenda que a elaboração de mapas não se restringe a esses cinco citados. Outros tipos de mapas poderão ser importantes para a elaboração dos Planos de Saneamento Básico, como os que dizem respeito a: geologia, pedologia (solos), geomorfologia, hidrogeologia, acessos, localização, municípios vizinhos, entre muitos outros. Ainda é necessário desenvolver mapas específicos para cada área do saneamento, como abrangência dos sistemas de água e esgoto ou da coleta de resíduos sólidos. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 28 Os tipos de mapas a serem elaborados dependerão muito das características e, principalmente, dos objetivos do município. Por exemplo, o município pretende fazer captação de água subterrânea? Mapas geomorfológicos e de profundidade dos aquíferos são necessários. Pretende trabalhar com soluções consorciadas? Mapas de localização dos municípios vizinhos e dos acessos também serão necessários. Dessa forma, cabe a cada realidade local avaliar quais informações precisam ser representadas sob a forma de mapa. Reiteramos que os mapas consistem em ferramentas de planejamento. Eles permitem obter novas informações e auxiliar no processo de tomada de decisões. 3. AS TÉCNICAS DE PESQUISA PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO A elaboração de um diagnóstico é um processo abrangente e multidisciplinar, sendo desenvolvido com o auxílio de diversas técnicas de pesquisa, as quais podemos agrupar em quatro grandes áreas, conforme definições de Brasil (2011a). Independentemente do tipo de informação, Brasil (2011a) destaca que é necessário primeiro definir o universo ou a amostra a ser investigada e a unidade de análise (domicílios, moradores, crianças, trechos de rios, pontos em unidades de tratamento de água, pontos de amostragem de solo ou corpo da água, etc.). Também devem ser definidos, caso necessário, a frequência da coleta de dados e os períodos do ano, levando em conta que alguns fenômenos têm variação sazonal. Essa definição é importante, uma vez que algumas das informações coletadas possuem maior relevância no diagnóstico, devendo assim apresentar um maior detalhamento e um maior grau de confiabilidade. PESQUISA DOCUMENTAL – Como o próprio nome já diz, é aquela realizada em documentos existentes, tais como: leis, relatórios de pesquisa, filmes, mapas, atas, gravações, arquivos públicos, entre outros. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA – As informações são obtidas mediante a análise de livros, publicações periódicas, impressos diversos e documentos eletrônicos. DADOS SECUNDÁRIOS – Referem-se a informações existentes, dados de pesquisas realizadas anteriormente, as quais são utilizadas como referência para outros trabalhos que não o original. DADOS PRIMÁRIOS – São aqueles coletados pelo próprio pesquisador ou interessado na informação, através de um métodode pesquisa, ou seja, não se aplica nem à pesquisa documental, nem à bibliográfica. Na pesquisa de campo, os dados são coletados “in situ”, através de censo – em que toda a população é analisada –, ou por amostragem – em que é definido um universo amostral. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 29 De acordo com Brasil (2011a), é importante destacar que, após a definição do conjunto de variáveis que serão investigadas e da técnica de coleta de dados, é preciso montar uma logística para a obtenção dos dados, ou seja: seleção de equipe, treinamento, definição dos instrumentos de coleta de dados (questionário, tipo de coletores de amostras, medidores, etc.), tratamento, sistematização e análises dos dados. Então podemos dizer que dispor de um planejamento bem estruturado é fundamental para que o diagnóstico elaborado realmente cumpra o seu papel de descrever a realidade de determinado local. 3.1. Fontes de informação sobre saneamento básico Apesar de certa limitação às suas áreas de atuação, os sistemas de informações são muito úteis na elaboração dos diagnósticos dos serviços de saneamento básico. Apesar de existirem alguns sistemas de acesso público, até o momento o país não conta com um sistema que faça a integração de todos esses dados. Dentre os sistemas de informação apresentados, o que possui a base de dados mais ampla sobre saneamento básico é o Sistema Nacional de Informação em Saneamento (SNIS). Administrado pelo Ministério das Cidades, o SNIS foi criado em 1995. Atualmente, ele conta com indicadores ATENÇÃO O nível de detalhamento da informação coletada, geralmente, aumenta no seguinte sentido (da mais detalhada para a menos detalhada): 1º Pesquisa de dados primários; 2º Pesquisa de dados secundários; 3º Pesquisa bibliográfica. O custo da informação também tende a seguir esse sentido, devendo então haver um equilíbrio entre os recursos disponíveis e a forma de coleta de dados. No livro “A informação no contexto dos Planos de Saneamento Básico”, entre as páginas 217 e 258, são apresentadas listas de checagem ( checklist) para o auxílio na coleta de informações em campo. Considerando o caráter indicativo desses checklists, eles poderão ser adaptados às diferentes realidades locais e regionais. O livro encontra-se à disposição para consulta no site do Ministério das Cidades no link: <http://www.cidades.gov.br/index.php/component/content/article/178-estudos-pesquisas-e- publicacoes/1985-gestao-e-planejamento-livros>. http://www.cidades.gov.br/index.php/component/content/article/178-estudos-pesquisas-e- CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 30 técnicos, operacionais e financeiros das áreas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e, desde 2002, resíduos sólidos e limpeza pública. As informações disponíveis no SNIS são encaminhadas anualmente pelos próprios municípios. A Lei 11445/07 previu a implementação do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), o qual substituirá o SNIS. Confira na Figura os objetivos do SINISA. Figura 22 - Objetivos do SINISA Fonte: Adaptado da Lei nº 11.445 (BRASIL, 2007) O Quadro 1 e o Quadro 2 apresentam as características principais de alguns sistemas de informações. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 31 Quadro 1- Relação de estudos que possuem interface com a questão do saneamento básico no Brasil SISTEMA DE INFORMAÇÃO DESCRIÇÃO RESPONSÁVEL FREQUÊNCIA ABRANGÊNCIA UNIDADE DE ANÁLISE CATEGORIAS DO SANEAMENTO DISPONÍVEL EM Censo demográfico Constitui o maior conjunto de dados socioeconômicos da população brasileira, fundamental para qualquer processo de planejamento. Última atualização: 2010. IBGE* 10 anos Todos os municípios Setor censitário Saneamento básico (água, esgoto e resíduos sólidos), <www.ibge.gov.br> PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Reúne características gerais da população, educação, trabalho, rendimento, habitação, dentre outras. Realizada desde 2001. Última atualização: 2011. IBGE Anual Todos os municípios Estado Saneamento básico (água, esgoto e resíduos sólidos) <www.ibge.gov.br> PNSB – Pesquisa Nacional de Saneamento Básico Objetiva investigar as condições de saneamento básico no país junto às prefeituras municipais e empresas contratadas para a prestação desse serviço, permitindo a avaliação da oferta e qualidade dos serviços prestados, as condições ambientais e suas implicações diretas para a saúde e a qualidade de vida da população brasileira. Realizada em 2000 e 2008. IBGE/ MCIDADES - Todos os municípios Distrito censitário (água/esgoto) e município (drenagem/resíduos sólidos) Saneamento básico (água, esgoto, drenagem e resíduos sólidos). <www.ibge.gov.br> SNIS – Sistema Nacional de Informação em Reúne informações e indicadores sobre a prestação dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e Ministério das Cidades Anual Municípios amostrados Municípios e prestadores de serviços Variáveis técnicas, operacionais e financeiras dos prestadores de serviços de <www.snis.gov.br> http://www.ibge.gov.br/ http://www.ibge.gov.br/ http://www.ibge.gov.br/ http://www.snis.gov.br/ O BÁSICO CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENT 32 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DESCRIÇÃO RESPONSÁVEL FREQUÊNCIA ABRANGÊNCIA UNIDADE DE ANÁLISE CATEGORIAS DO SANEAMENTO DISPONÍVEL EM Saneamento manejo de resíduos sólidos. Atualizado anualmente. Última atualização: 2010. abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos. SISAGUA – Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano Objetiva coletar, registrar, transmitir e disseminar os dados gerados rotineiramente, provenientes das ações de vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Atualização anual Ministério da Saúde/ Secretaria de Vigilância Sanitária em Saúde Anual Todos os municípios Municípios e sistemas de abastecimento de água Abastecimento de água (cobertura, condições de tratamento, qualidade do serviço, níveis de atendimento à Portaria n° 2914/11 do MS). Para acesso a esses dados, entre em contato com a Vigilância Sanitária mais próxima de você. Sistema Nacional de Informações das Cidades Reúne mais de 1300 indicadores socioeconômicos de cada município brasileiro, além de mapas e imagens de satélite. É possível ainda, acessar às informações sobre o andamento das ações do Ministério das Cidades nos municípios brasileiros nas áreas de Saneamento, Habitação e Modalidade Urbana. Ministério das Cidades Anual Municípios amostrados Municípios brasileiros Indicadores socioeconômicos <www.brasilemcidades.gov.br> Fonte: Adaptado de Brasil (2011a, p. 101-102) *IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e estatística http://www.brasilemcidades.gov.br/ MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 33 Quadro 2 – Relações de instituições que possuem informações úteis à elaboração do Plano INSTITUIÇÕES INFORMAÇÕES Ministério das Cidades Possui várias publicações de interesse aos gestores municipais, tratando de áreas como saneamento, participação social, meio ambiente e finanças públicas, disponíveis em www.cidades.gov.br e www.capacidades.gov.br . Disponibiliza também diagnóstico sobre o abastecimento de água, esgotamento sanitário e manejo de resíduos sólidos no Brasil. Ainda, é através do Ministério das Cidades que são desenvolvidos e ofertados os cursos da ReCESA. Ministério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior Disponibiliza informações de caráter social, como domicílios vulneráveis, CRAS, CREAS, além de relatórios de informações sociais. Possui também o Portal Data Social, onde estão sistematizados dados e indicadores relativos à assistência social, como emprego, educação, saúde, entre outros. Desenvolve o Censo SUAS, sobre dados de assistência social no país. Ainda, através do programa SIG Cisternas, possui informações sobre a utilização de cisternas no país. Agência Nacional de Águas (ANA) Disponibiliza informações sobre gestão dos recursos hídricos, rede hidrometeorológica, implementação de programas e projetos, outorgas e fiscalização, planejamento de recursos hídricos e usos múltiplos. O site oferece ainda dados hidrológicos, como boletins de monitoramento, evolução da rede por regiões hidrográficas, inventário das estações pluviométricas e fluviométricas e sistema de informações hidrológicas. Disponibiliza, também, programas de manejo existentes em algumas bacias hidrográficas do país, publicações como o Atlas de Abastecimento Urbano de Água, relatórios de acompanhamento e atividades da ANA, além de um centro de documentação com banco de imagens e de planos diretores das bacias hidrográficas. Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) O site da Funasa fornece informações sobre o saneamento para promoção da saúde, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), programas de cooperação técnica e desenvolvimento em áreas especiais. Oferece, também, informações sobre saúde indígena, como ações e atividades, diretrizes, programas e ações de saúde, Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), Projeto Vigisus, além de leis, portarias, decretos, medidas provisórias, resoluções, licitações e convênios. Também podem ser acessados manuais com orientações técnicas voltadas ao setor de saneamento, tais como: “Orientações para execução de obras e serviços de engenharia de saúde pública”, “Programação e projeto físico de unidade móvel para controle da qualidade da água”, “Manual prático de análises de água”, “Apresentação de projeto de resíduos sólidos urbanos”, “Elaboração de projeto de melhorias sanitárias domiciliares” e “Manual de saneamento”. Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC) A Secretaria Nacional de Defesa Civil mantém registro de informações sobre desastres, como deslizamentos, corridas, alagamentos e incêndios. As informações são disponibilizadas através do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres – S2ID. Agências reguladoras Disponibilizam informações sobre a regulação dos serviços de saneamento básico, tais como manuais de direitos e deveres dos usuários, relatórios de audiências públicas, indicadores da qualidade do abastecimento de água, contratos de concessão dos municípios, tarifas, deliberações, leis, decretos, convênios e resoluções. A disponibilidade dos dados varia para cada agência. Alguns municípios possuem agências reguladoras municipais, e estas disponibilizam informações semelhantes às agências reguladoras estaduais em nível municipal. Companhias Estaduais de Saneamento Básico Disponibilizam dados sobre os sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, tais como: áreas abastecidas, qualidade da água, população beneficiada, processos de tratamento, projetos e obras e, também, informações sobre conta de água, meio ambiente, tarifas e licitações. A disponibilidade dos dados varia para cada companhia. http://www.cidades.gov.br/ http://www.capacidades.gov.br/ O BÁSICO CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENT 34 INSTITUIÇÕES INFORMAÇÕES Secretarias Estaduais de Planejamento e Gestão Fornecem informações sobre indicadores econômicos, produto interno bruto, estudos referentes à produção industrial, arranjos produtivos locais (APLs), índice municipal de alerta, índice de desenvolvimento econômico, indicadores sociais, anuários estatísticos, planos plurianuais (PPAs), ações governamentais, dados municipais, resumos socioeconômicos e mapas. Secretarias Estaduais de Meio Ambiente Fornecem dados sobre políticas de meio ambiente, combate à desertificação, gestão ambiental, programas de preservação da água e de reflorestamento, legislação e licenciamento ambiental, mudanças climáticas, educação ambiental, planejamento ambiental, qualidade da água, balneabilidade das praias, coleta seletiva, agrotóxicos, aterros sanitários, reservas e parques ecológicos, materiais reaproveitáveis, licenciamento de resíduos sólidos e de saneamento, obras sustentáveis, indicadores ambientais, fundos e investimentos ambientais, espécies ameaçadas e desenvolvimento sustentável. Secretarias Estaduais de Recursos Hídricos Fornecem dados sobre gestão das águas subterrâneas e superficiais, política de recursos hídricos, uso racional e controle de qualidade da água, outorga de direito de uso de recursos hídricos, licenciamento para obras hídricas, formação e coordenação de comitês de bacias, programas de produção e distribuição de água, desenvolvimento sustentável, sistema de informações de recursos hídricos e monitoramento hidrológico. Secretarias Estaduais de Saúde Fornecem dados sobre políticas de saúde, plano estadual de saúde, projetos prioritários, unidades estaduais e regionais de saúde, vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental, controle de zoonoses/vetores, cuidados em saúde, situação de saúde, indicadores e dados básicos sobre morbidade, mortalidade, recursos e cobertura, e, por fim, informações demográficas e socioeconômicas. Concessionárias Privadas dos Serviços Públicos de Água e Esgoto Fornecem informações sobre meio ambiente, ligações de esgoto, qualidade da água, tarifas, serviços, programas e projetos, hidrômetros, uso racional de água, leis e decretos. Departamentos de Limpeza Pública Disponibilizam informações sobre aterros sanitários, cadastro de geradores de resíduos, serviços previstos pelo setor de capina e varrição, rotas de coleta de lixo, usinas de reciclagem, dados estatísticos, coleta seletiva, programas, projetos e serviços. Secretarias Municipais de Meio Ambiente Disponibilizam informações sobre controle ambiental urbano, gestão territorial e ambiental, revitalização de parques e mananciais, políticas públicas, código ambiental do município, educação ambiental, balneabilidade dos corpos hídricos, planos de manejo, ações e programas. Serviços Autônomos de Água e Esgoto Fornecem informações sobre os indicadores de água e esgoto do município. Mostram, também, os sistemas de tratamento de água, relatórios de qualidade da água e programas de controle de perdas. Disponibilizam, ainda, dados sobre as tarifas cobradas para abastecimento de água e esgotamento sanitário, licitações em andamento e concluídas. Fonte: Galvão Junior, Basílio Sobrinho e Sampaio (2010) MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 35 É importante destacar que, ao realizar a coleta de informações para a elaboração do diagnóstico, a equipe técnica pode deparar-se com uma série de problemas. Um deles é a duplicidade de informações coletadas de fontes diferentes de um mesmo prestador de serviços e/ou de órgão da administração direta ou indireta do titular. Diante dessa situação, cabe aos técnicos, a seleção da base de dados mais confiável, o cruzamento das informações, a discussão conjunta com as várias fontes e/ou a checagem das informações in loco, a depender do caso. Além das informações disponíveis na internet, os órgãos públicos desenvolvem estudos que podem conter informações de interesse para o Plano de Saneamento Básico, cuja disponibilidade somente é possível mediante solicitação formal ao órgão público. Da mesma forma, as informações que remetem ao controle social são imprescindíveis para a validação do plano. Nesse sentido, conforme já foi ressaltado no Módulo 3, a população é considerada fundamental no diagnóstico, uma vez que ela fornece importantes informações quenão costumam estar disponíveis em outras fontes. Ocorre ainda que, em muitos casos, a memória da população residente consiste no único registro local disponível. Esse tipo de informação também é considerada válida, porém faz-se necessário sempre levar em conta certo teor subjetivo e possível grau de incerteza da informação. Na próxima seção, iremos tratar um pouco mais sobre como podemos desenvolver o diagnóstico em conjunto com a população. 3.2. Diagnóstico Participativo Caro capacitando, como vimos no Módulo 3, quando falamos em tomada de decisões em saneamento, é fundamental que o poder público se esforce em envolver fortemente a população nesse processo. Essa situação não é diferente no diagnóstico, durante o qual, conforme discutimos no decorrer deste módulo, a população fornece determinados tipos de informação indisponíveis em bancos de dados e estudos científicos. Se a população não estiver envolvida no processo de diagnóstico, ela acabará por não se interessar pelos processos e ações que virão a seguir, nas próximas etapas. Isso significa resistência e descontentamento, havendo grandes chances de os programas implantados falharem até por falta de aceitação. Desse modo, é fundamental que o município seja capaz de incentivar a participação da comunidade também no processo de diagnóstico. Assim, de forma a contribuir com seu processo de aprendizagem, vamos abordar um pouco mais a importância da participação social no diagnóstico e, após, você irá conhecer uma metodologia para auxiliá-lo durante as etapas de mobilização social. CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 36 Assim, podemos iniciar nosso estudo com a seguinte pergunta: Como deve ser feito o diagnóstico participativo? Primeiramente, torna-se fundamental que a comunidade seja estimulada a participar. Ao mesmo tempo, as opiniões expressas pelos membros devem ser respeitadas, sendo estimulada a manifestação dos diferentes conhecimentos e experiências dos atores sociais, garantindo a todos direitos iguais de se expressarem. O diagnóstico participativo é uma proposta que pode ser adotada, recriada ou ajustada para diferentes situações. Na Figura 1723 são apresentadas três etapas de uma proposta de diagnóstico participativo que você, capacitando, pode seguir para realizar o levantamento de informações junto à comunidade. Figura 17- Etapas de uma proposta de diagnóstico participativo Fonte: Adaptado de Brasil (2009, p. 31) Vale lembrar que você já leu a respeito do processo de mobilização social, bem como estudou algumas técnicas, as quais também podem ser utilizadas na condução de um processo de diagnóstico participativo. Antes de continuar, caso julgue necessário, retorne ao Módulo 3 para relembrar as técnicas apresentadas. A etapa de levantamento de informações e identificação de cenários consiste no processo de conhecer a realidade local e identificar os cenários apresentados. Para sua realização, são sugeridos oito temas geradores, os quais funcionam como ponto de partida para a elaboração do levantamento. Os temas apresentados no Quadro 3 são, na realidade, inter-relacionados, sendo que somente estão individualizados para facilitar a compreensão das informações. Porém, para a realização de um bom diagnóstico é fundamental que as relações de causa e consequência entre as partes sejam bem estudadas, uma vez que é impossível tratar cada um desses assuntos de forma individual. Entenda, capacitando, que esses oito temas geradores dizem respeito ao diagnóstico participativo. No decorrer do Módulo 2 e deste módulo, você verificou diversas outras etapas que fazem parte do diagnóstico, as quais devem ser realizadas através de levantamentos técnicos. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 37 Quadro 3 - Levantamento de informações para o diagnóstico participativo através da técnica dos temas geradores e seus objetivos TEMA GERADOR OBJETIVO I. Dotação de infraestrutura em saneamento Levantar o alcance e os déficits da infraestrutura sanitária existente (abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais). II. Qualidade dos serviços em saneamento Conhecer a qualidade dos serviços prestados e das estruturas e tecnologias utilizadas. III. Políticas públicas e programas sociais em educação ambiental e saneamento Levantar as políticas públicas e programas sociais em educação ambiental em saneamento que possam potencializar as ações desenvolvidas na comunidade. IV. Participação, controle social e saneamento Identificar o nível de organização da comunidade, conhecer os canais de participação existentes e o perfil do engajamento comunitário em tais espaços. V. Saneamento e conhecimento da legislação pertinente Conhecer as legislações e regulamentações relacionadas ao saneamento. VI. Saneamento e saúde pública Identificar os aspectos epidemiológicos, principais doenças e agravos relacionados à falta de saneamento, bem como a estrutura de promoção da saúde existente. VII. Impactos ambientais e saneamento Levantar os impactos positivos e negativos advindos da falta de saneamento ambiental ou relacionados aos empreendimentos feitos em saneamento ambiental. VIII. Tecnologias sociais em saneamento Realizar levantamento das tecnologias sociais existentes, as desenvolvidas na comunidade e pela comunidade, assim como as alternativas tecnológicas disponíveis. Fonte: Brasil (2009, p. 32) A escolha dos temas geradores que serão utilizados deve se basear na sua relevância dentro da comunidade analisada. Assim, é comum que outros temas venham a surgir durante o processo de interação com a população, variando conforme as observações, vivências, experiências e conhecimentos que a comunidade possui acerca da realidade local. É conveniente, então, que essas oito áreas sejam complementadas com outros temas que você e a comunidade considerarem importantes. Salientamos que as informações apresentadas no quadro anterior podem ser obtidas através de diagnóstico participativo. Para tanto, deve-se utilizar alguma das técnicas de mobilização social apresentadas no Módulo 3, ou qualquer outra que os técnicos julgarem adequada. 3.2.1. Priorização dos problemas Uma vez conhecidos todos os aspectos relevantes da comunidade para cada um dos temas geradores, pode-se proceder a análise dos problemas. Porém, ocorre, em muitos casos, a constatação de que uma grande quantidade de problemas precisa de solução, sendo então CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 38 necessário, com vistas a otimizar recursos, tempo e mão de obra disponíveis, priorizar os problemas a serem resolvidos. Nesse sentido, o Ministério das Cidades apresenta algumas questões orientadoras que auxiliam na priorização dos problemas, conforme descrito na Figura . Figura 24 - Questões para auxílio na priorização dos problemas Fonte: Adaptado de Brasil (2009) Com isso, é destacada a necessidade de que primeiro sejam estabelecidos critérios que sirvam para definir a prioridade de resolução dos problemas. É importante ressaltar que esses critérios devem ser estabelecidos em conjunto com a população, em conformidade com a relevância econômica, cultural, política, ambiental e técnica que eles venham a apresentar (BRASIL, 2009). Em muitos casos, é importante dispor de informações externas. Por exemplo, para definição da relevância econômica, é necessário conhecer os custos para resolução do problema, assim como as alternativas tecnológicas disponíveis. Ao se tratar da problemática econômica, a análise de custo-benefício é um item fundamental, devendo ser um fator chave na definição das prioridades. Já as soluções dos problemas sociais precisam ser avaliadas quanto à sua abrangência, ou seja: elas irão afetar toda a população ou apenas parte dela? No que diz respeito à questão política, é importante verificar seexiste apoio por parte das autoridades e da própria comunidade para a implantação das soluções propostas. Recomenda-se, ainda, averiguar quais são os conflitos existentes; em especial, buscar por aqueles ocultos e embasados por interesses pessoais, os quais, se revolvidos, podem resultar em ganhos para a coletividade. É necessário avaliar também o critério ambiental, observando se o investimento contribuirá com a proteção dos recursos naturais da região, em especial aqueles que já estão ameaçados. Nesse sentido, é importante, para atingir a sustentabilidade das intervenções, que essas tenham entre seus objetivos a preocupação com o meio ambiente, caso contrário, corre-se o risco de serem gerados novos problemas na tentativa de resolução do problema original. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 39 3.2.2. Rede de desafios Criar uma rede de desafios significa descobrir como funciona a rede de múltiplas relações que existe entre os problemas locais, desvendando quais problemas são, na realidade, causa ou consequência dos demais. Isso é importante, uma vez que as estratégias definidas para a solução do problema devem levar em conta os efeitos que ela irá produzir sobre os demais problemas inter-relacionados. Por tal motivo, é relevante que se conheça bem a rede de relações, estando esta desenhada de forma coerente, a fim de que ela possa ser utilizada de modo eficiente na definição das prioridades. No Quadro 4, exemplificamos uma rede de desafios hipotética. Quadro 4 - Exemplo de rede de desafios REDE DE DESAFIOS DESAFIO – realidade a ser enfrentada – POSSÍVEIS CAMINHOS – agenda positiva – Despoluição de corpos d’água e de bacias hidrográficas Adoção de medidas por parte dos agentes poluidores, por meio do princípio poluidor-pagador por exigência dos órgãos ambientais ou do Ministério Público. Erradicação de doenças de veiculação hídrica Busca por investimentos dimensionados às demandas locais para a redução do défecit de infraestrutura de saneamento e busca pela universalização do acesso aos serviços de saneamento. Realização de campanhas. Acesso a informações sobre saneamento e recursos hídricos Desenvolvimento de processos educativos direcionados ao esclarecimento sobre os serviços de saneamento, a infraestrutura necessária, as questões de saúde pública. Fortalecimento de processos de mobilização social - Constituição de grupos de atuação local. - Realização de reuniões comunitárias. - Realização de audiências públicas. - Fortalecimento dos conselhos municipais. - Realização de conferências municipais. - Fortalecimento do Fórum Lixo e Cidadania. - Fortalecimento das bases associativas (cooperativas, associações, comissões, entre outras). Criação de mecanismos de organização social Processos educativos voltados para a refexão sobre os direitos, deveres e as possibilidades de organização e participação social, trazendo para a pauta a importância da organização social para minimização das assimetrias sociais. Utilização de tecnologias socioambientais adequadas à realidade local Articulação e desenvolvimento de programas junto a: - universidades. - centros de pesquisa. - institutos de permacultura. - conhecimento popular. Recuperação de áreas degradadas Envolvimento da população adjacente no processo de estudo das condições locais, adequação e implementação de técnicas de recuperação. Exercício do controle social na fiscalização dos gastos públicos e no cumprimento da legislação vigente - Orçamento participativo. - Atuação nos conselhos existentes. - Fortalecimento dos comitês de bacia. - Articulação junto à Câmara de Vereadores. Fonte: Brasil (2009, p. 62) CURSO A DISTÂNCIA - PLANOS DE SANEAMENTO BÁSICO 40 3.2.3. Sistematização das informações Após a realização da priorização dos problemas e da elaboração da rede de desafios é necessário sistematizar as informações obtidas, facilitando assim o seu entendimento, e permitindo uma melhor análise dos dados. Da mesma forma que é fundamental que as informações levantadas sejam confiáveis, é necessário que a sistematização ocorra de forma planejada, caso contrário, corre-se o risco de se perder ou distorcer informações durante esta etapa. Você verá no Módulo 5 que, na etapa de elaboração do prognóstico, para fazer as análises críticas sobre cada um dos elementos do saneamento, bem como do serviço como um todo, essa sistematização de forma ordenada será muito útil. A consequente priorização de cada situação diagnosticada acaba sendo mais evidente quando da execução das análises críticas. 3.2.4. Socialização das informações Com a conclusão dos estudos técnicos e do consequente diagnóstico, devidamente sistematizado e preferencialmente com as priorizações estabelecidas é fundamental que as informações coletadas sejam socializadas. Para tal, é importante que sejam utilizados os meios de comunicação disponíveis, assim como garantir espaços para a divulgação de informações relevantes, como debates e oficinas. Devem também ser oportunizados encontros que permitam à comunidade participar na solução dos problemas, assim como no desenvolvimento de ações futuras e proativas. Agora que já vimos os elementos básicos para estruturar um diagnóstico, chegou o momento de debatermos quais informações precisam ser coletadas para se obter um panorama confiável da situação do município. Assim, no tópico a seguir serão apresentados os principais aspectos a serem avaliados durante o diagnóstico. 4. ENFOQUES DO DIAGNÓSTICO DO SANEAMENTO BÁSICO O diagnóstico dos serviços públicos de saneamento básico do município deve, necessariamente, englobar os seguintes enfoques: caracterização geral do município, situação institucional, situação econômico-financeira, situação dos serviços de saneamento básico e situação dos ATENÇÃO Socializar as informações não significa apenas divulgá-las, mas também esclarecer e sensibilizar a comunidade, colocando-a a par dos problemas a serem enfrentados e mobilizando-a de forma a contribuir na elaboração do plano de intervenção e na implementação das ações futuras. MÓDULO 4 - ESTUDOS PARA A ELABORAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 41 setores que têm inter-relação com o saneamento básico. Vamos ver mais detalhadamente os itens ou quesitos que compõem esses enfoques para a realização do diagnóstico. 4.1. Caracterização geral do município A caracterização local visa apresentar da melhor forma e maior abrangência possível o cenário que se quer planejar. A caracterização local é uma espécie de “registro fotográfico” que nos permite visualizar os mais diferentes cenários, permitindo, assim, analisar as interfaces destes com o saneamento, onde e como este deve se fazer presente. O Quadro 5 e o Quadro 6 apresentam os aspectos essenciais e complementares que devem ser contemplados nesta caracterização. Quadro 5 - Elementos essenciais a serem contemplados na caracterização dos municípios ELEMENTOS ESSENCIAIS Caracterização da área de planejamento: área, localização, distância entre a sede municipal e municípios da região, distância da capital do estado e distância entre distritos e sede municipal, dados de altitude, ano de instalação, dados climatológicos, série histórica de dados de população urbana e rural, taxas históricas anuais de crescimento populacional para o município, distritos e sedes, estudos populacionais recentes, população flutuante, quando significativa, com a indicação do período de ocorrência, fluxos migratórios, entre outros. Demografia urbana e rural por renda, gênero, faixa etária, densidade e acesso ao saneamento e projeções de crescimento no horizonte de tempo do Plano Municipal de Saneamento Básico. Caracterização geral dos seguintes aspectos: geomorfologia, climatologia, hidrografia, hidrogeologia e topografia do terreno. Caracterização das áreas de interesse social: localização,
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