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Introdução à hermenêutica jurídica

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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO À HERMENÊUTICA
1. Introdução
· A palavra hermenêutica jurídica é vista como interpretação jurídica. Contudo, o termo “hermenêutica”, até o século XIX era visto como um braço da Teoria Geral do Direito (não havia a ideia de uma hermenêutica como concepção filosófica);
· Quando se enxerga a Hermenêutica como pilastra filosófica, pode-se afirmar que não existe nenhum conhecimento que não resulte da interpretação feita pelo ser humano, do conhecimento humano;
· Aqui, nessa ideia da busca do conhecimento, a compreensão é feita pelo ser, pelo sujeito cognitivo (sujeito que busca compreender, sujeito que busca entender). O objeto buscado pelo ser, até o início do século XIX, se resumia a coisas (teorias, cálculos, entre outras);
· Sempre que possível, o sujeito cognitivo (que busca o conhecimento) é movido por hipóteses (suposição de como resolver os problemas), através de um método e de uma pesquisa (método tem relação com trajetória, caminho para se percorrer e achar um caminho digno de segurança);
· Para o universo jurídico, o sujeito autorizado a interpretar a norma jurídica é o juiz, conforme entendimento de Kelsen. Para Peter Haberle, qualquer pessoa pode interpretar a norma jurídica;
· Para Carlos Cóssio, o objeto de interpretação será a conduta humana (interpretada a partir das lentes da norma jurídica);
· Toda e qualquer operação humana, no entendimento de qualquer objeto, é uma forma de interpretação. É a partir dessa interpretação que se observa a existência da hermenêutica;
· Do ponto de vista filosófico, ao problematizar a hermenêutica, não havendo manuais de como interpretar, não haverá uma mesma forma geral, mas sim uma pergunta de como interpretar, partir de técnicas e meios;
· A Hermenêutica jurídica faz parte da teoria geral do direito (direito é uma ciência social que estuda o relacionamento do homem com a sociedade, bem como com a produção de efeitos que esse comportamento possui);
· Como se depreende, a hermenêutica começou com um entendimento filosófico sobre o ser humano, seu modo de vida e de interpretar, a problematização feita pelas questões trazidas. Contudo, não há somente hermenêutica dentro da filosofia, mas sim dentro de outras ciências.
2. Evolução histórica da hermenêutica
· Etimologicamente, como nos informa Richard E. Palmer, a palavra hermenêutica remonta ao verbo grego hermeneuein (=interpretar) e ao substantivo hermeneia (=interpretação). Há correntes que apontam a origem do nome ao deus grego Hermes, filho de Zeus com Maia, sendo, nesse caso, associado à função de transmutar aquilo que estivesse além do entendimento humano em uma forma que a inteligência humana pudesse compreender. Hermes traduzia as mensagens do mundo dos deuses para o mundo humano. Sua figura era tão marcante que foi atribuído a ele a descoberta da linguagem e da escrita, e sua função de mensageiro sugere, na origem da palavra hermenêutica, o processo de trazer para a compreensão algo que estivesse incompreensível;
· Já na Grécia antiga a hermenêutica estava voltada para a transmissão de uma mensagem, entendida muito mais como uma técnica, com a função de anunciar, esclarecer, traduzir algo que não estava claro. Para Platão, por exemplo, a hermenêutica estava em segundo plano, tendo em vista que as palavras estavam abaixo das ideias, sendo que apenas por intermédio destas é que se podia entender e conhecer a realidade. Aristóteles desenvolveu pensamento diferente e, em sua obra Peri hermeneias (Da interpretação), fez relação entre os conceitos e a realidade, pois entendia que o processo do conhecimento se faz por meio de abstrações mentais daquilo que é adquirido por meio da experiência sensível. No entanto, em Aristóteles, a hermenêutica é apenas uma derivação da lógica, preocupada com a relação entre a linguagem e o pensamento;
· Aristóteles defendia a ideia de que por intermédio da retórica e da linguagem, poderíamos verificar a verdade e conhecê-la;
· Em Roma, há uma alteração da visão retórica de Aristóteles, porque a Hermenêutica Topoica passou a ser desenvolvida, trazendo consigo a ideia de argumentos e pressupostos vinculados a casos concretos;
· Os romanos, admiradores da cultura clássica, mas com um viés muito mais prático que o dos gregos, passaram do conceito de hermenêutica para a interpretatio, principalmente devido ao trabalho dos prudentes, que não se contentavam em entender o texto da lei, mas buscavam compreender o seu significado nos efeitos práticos produzidos na vida das pessoas, formando a jurisprudência (juris prudente). Essa forma de pensar (interpretar) tipicamente romana retorna ao centro dos estudos jurídicos a partir do resgate do Corpus Iuris Civilis, de Justiniano, no séc. XII. Coube à denominada Escola dos Glosadores primeiramente estudar essa fenomenal copilação levada a cabo por Justiniano no séc. VI. Tinham como característica principal a fidelidade ao Corpus Iuris Civilis, interpretando-o de maneira analítica. Davam explicações sobre cada parágrafo dos textos clássicos, mas sem preocupar-se em relacioná-los com outras partes da obra. A Escola dos Glosadores foi essencial para fornecer a base na qual os juristas que vieram posteriormente fossem além do Direito Romano, interpretando os textos de Justiniano com maior liberdade;
· A escola que sucedeu e superou a dos Glosadores foi a dos Comentadores, estudiosos que passaram a interpretar o Direito Romano de forma mais livre, ao buscar soluções para casos concretos alicerçados no conjunto da obra, e não apenas em partes específicas do texto romano. Faziam uma interpretação com base filosófica, associando o Direito à Ética e buscando integrá-lo a um valor fundamental, a Justiça. Na sequência surgiu o movimento humanista que, apesar de não ser considerado propriamente uma escola, mesclava métodos históricos e filológicos para o estudo do direito e, a partir dessa metodologia, infringiu críticas aos juristas medievais a quem acusava de erros linguísticos e históricos. Essa hermenêutica baseada na racionalidade, que se inicia com os comentadores, foi reforçada não só pelo humanismo, mas também pelo iluminismo, cujo foco de estudo era a razão, recuperando o racionalismo grego antigo. Essa concepção acabou por dar origem à hermenêutica contemporânea, de base essencialmente filosófica, cujo expoente primeiro foi o teólogo protestante Friedrich Schleiermacher (1768-1834), seguido por outros importantes filósofos, como Wilhelm Dilthey (1833 - 1911), Martin Heidegger (1889 - 1976) e, principalmente, Hans-Georg Gadamer (1900 - 2002), cuja obra Verdade e Método (1960) é referência no entendimento da hermenêutica como filosofia;
· Com a queda do Império Romano, em 476 d.C., a tomada de Constantinopla pelos povos bárbaros exigiu que estes deixassem de ser nômades e se tornassem sedentários, fato que levou à busca de uma estrutura organizacional. Portanto, surge a ideia de unidade, quando a Igreja e o Estado se aliaram para que houvesse a estrutura almejada;
· O fim da Alta Idade Média foi provocado pelos seguintes fatos: os burgos começaram a se desenvolver, surgindo a burguesia. Além disso, as cruzadas trouxeram dois elementos espetaculares para o desenvolvimento da Hermenêutica Medieval: a redescoberta do Direito Romano e a redescoberta das obras de Aristóteles. Havia a ideia de que a jurisdição era a única fonte de poder. A Igreja fundou a faculdade de Bolonha e trouxe os professores do mundo todo com a finalidade de recuperar o Direito Romano;
· É importante ressaltar que, na Faculdade de Paris, São Tomás de Aquino fez uma releitura dos documentos de Aristóteles, incluindo o caráter divinatório. Portanto, ele será um elemento central para a construção da Hermenêutica no mundo medieval. Ele defendia a ideia de que o homem é regido por quatro leis: lei divina, lei da igreja, lei da natureza e lei do homem;
· No final da Idade Média, houve a consolidação do capitalismo, a revolução científica, a reforma protestante e a revolução filosófica. Os cientistas contestaram a ideia de que os sentidos revelavama verdade. A ciência passa a ser demonstrativa, surgindo o complexo de inferioridade das ciências humanas que não podiam ser demonstradas com experimentos;
· Ainda dentro do fim da Idade Média, até meados do século XVII, havia estreita ligação entre Igreja e Estado. Por conta disso, a tarefa da hermenêutica jurídica se centrava na difusão das escrituras sagradas por todo o meio social. Por conta disso, havia a necessidade de interpretar tais textos. Surge, então, a hermenêutica dentro da teologia;
· Nesse contexto, a Filosofia do Ser ou do Objeto (que possui como princípio o movimento vinculado aos sentidos para a busca das verdades, como saber de onde viemos, para onde vamos) foi colocada em segundo plano com as novas ideias trazidas por Descartes que afirmou que os sentidos enganam e que todos os aprendizados dos livros e da Igreja estavam sendo colocados em dúvida;
· Passa a haver a aplicação da Filosofia da Consciência ou do Sujeito, que possui como base o princípio da demonstração. Na filosofia da consciência ou do sujeito, através da capacidade de julgar, haveria o estabelecimento da cor, do tamanho, das características e dos atributos que o objeto e o mundo em torno de mim estabeleciam. A linguagem seria um instrumento de ação dessa consciência. Além disso, há o destaque da lógica cartesiana (demonstrar o caminho escolhido para se chegar ao resultado) e do método dedutivo (partir de grandes ideias para se chegar ao caso específico);
· Há uma nova revolução científica e todas as certezas científicas passam a ser tidas como incertas. Essa hermenêutica surge da mudança da sociedade, da nova revolução científica e de uma revolução filosófica denominada giro linguístico pragmático;
· Aqui, o homem não é somente consciência, ele também possui desdobramentos inconscientes. A verdade só poderá ser objeto da intersubjetividade por intermédio da linguagem. Tudo dependerá do contexto e do diálogo. A linguagem constitui o mundo evidenciando as verdades. Esta é a Filosofia da Linguagem. Existe aqui o método indutivo (caminho do caso específico para o geral);
· Iluminismo: movimento do final do século XVII e início do século XVIII (chamado de século das luzes). Esse movimento iluminista é conhecido como o difusor do conhecimento produzido pelo homem, através do conhecimento científico;
· Humanismo: homem que detinha o conhecimento científico era o centro do poder (de fato, é no humanismo que a hermenêutica se expandiu, passando a ter aplicabilidade em diversas áreas, como na filologia – estudo de selos -, na economia, no direito);
· Entretanto, é somente do século XVIII em diante que a hermenêutica será aprofundada no campo jurídico;
· É a partir do século XVIII que a hermenêutica jurídica passa a ter tratamento de ciência autônoma, responsável pelos métodos e técnicas de interpretação para as normas jurídicas.
3. Conceito de hermenêutica
· Ciência: conjunto organizado de “institutos” destinados à formação de um conhecimento “metódico” (sistematizado) com o objetivo de difundir o conhecimento em um determinado ramo do saber;
· Finalidade da hermenêutica: método de interpretação e compreensão das normas jurídicas;
· Hermenêutica Jurídica: relaciona-se com a interpretação do ordenamento jurídico. São os conjuntos de princípios e normas gerais que devem ser interpretados e relacionados ao caso concreto;
· Compreende-se, portanto, que hermenêutica é a ciência para a aplicação da interpretação. No âmbito jurídico, podemos dizer que, por meio da hermenêutica é possível interpretas normas e textos jurídicos, retirando-lhes o sentido objetivamente válido e determinando seus alcances;
· Para Carlos Maximiliano, a hermenêutica tem por objeto “o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do direito”;
· A hermenêutica se aproveita das conclusões da filosofia jurídica, criando novos processos de interpretação e organizando-os de forma sistemática. A interpretação é a aplicação da hermenêutica. A hermenêutica descobre e fixa os princípios que regem a interpretação”;
· Objetivos da hermenêutica jurídica: segurança e racionalidade à interpretação do direito (crítica à concepção metódica da interpretação, por haver ausência de hierarquia na sua utilização, ignorando a dimensão criativa do intérprete);
· Com isso, percebe-se que o termo hermenêutica, refere-se à ciência da interpretação, enquanto interpretação significaria determinar o sentido e o alcance da norma jurídica.
	CAPÍTULO 2: MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
1. Introdução
· A hermenêutica jurídica é uma parte da ciência do Direito ou uma teoria científica da interpretação jurídica. Por outro lado, observa-se sua sistematização, ou seja, uma exigência científica para se criar métodos;
· A hermenêutica jurídica possui como peculiar o alcance das expressões do direito. É desse alcance que se pode afirmar a ideia de trazer textos do passado para alcance no futuro, ou seja, é a partir desse ponto que haverá um termo de abrangência e seu respectivo limite no campo interpretativo;
· A interpretação jurídica é uma interpretação em função normativa. A característica dessa interpretação é a busca do entendimento com a finalidade de agir. A partir de um princípio diretivo, busca-se a máxima de uma ação ou de uma decisão;
· Em sentido estrito, pode-se dizer que a interpretação do direito tem por objeto as normas jurídicas.
2. Importância da interpretação
· Nem sempre o ordenamento jurídico se posta de forma clara, aparente, necessitando, assim, de trabalho por parte do operador jurídico no entendimento dos dispositivos normativos trazidos pelo ordenamento jurídico;
· Primeiramente, quanto às regras de interpretação, elas são classificadas em legais, jurisprudenciais e doutrinárias.
	Regras legais
	Regras jurisprudenciais
	Regras doutrinárias
	Descritas dentro dos textos de alguma lei.
Podem ser citados, como exemplos, as disposições da LINDB.
	São formadas pela adaptação que o juiz faz da lei ao caso concreto, às exigências fáticas e temporais.
	Criadas pelas obras jurídicas, a partir da análise que os jurisconsultos fazem do direito.
· Por sua vez, merece destaque os chamados brocardos jurídicos. Tais regras são oriundas da doutrina, em forma de máximas coletadas a partir do século XI;
· Os brocardos jurídicos, que já tiveram natureza de premissas absolutas, passaram a ser muito criticadas, por estarem desassociadas de todo o contexto histórico no qual são inseridas. Atualmente, a melhor interpretação parte da ideia de dar a eles um valor relativo, reconhecendo a sua utilidade;
· De todos os brocardos, merece destaque o brocardo da clareza (in claris cessat interpretativo). Para essa brocardo, os dispositivos de uma norma jurídica podem contar termos que são unívocos, completos em si, não necessitando que haja trabalho de interpretação a ser feito pelo operador jurídico;
· Por sua vez, o brocardo da clareza também sofre duras críticas das teorias mais modernas, partindo-se da premissa de que a norma jurídica, por mais clara que possa parecer, precisa se coadunar com a realidade jurídica na qual está inserida. Por conta disso, ainda necessita de interpretação a ser feita pelos reguladores jurídicos;
· Do ponto de vista de algumas escolas jurídicas, o brocardo da clareza significa a existência de condutas cuja qualificação jurídico-normativa seria óbvia, ou seja, seria refutável através de fundamentos de interpretação (tais fundamentos serial as razões pelas quais a interpretação é sempre necessária).
3. Fundamentos da interpretação
· Os fundamentos da interpretação dizem respeito aos motivos pelos quais a interpretação é sempre necessária. Nesse aspecto, pode-se citar o ontológico, o axiológico, o gnoseológico e o lógico.
	Ontologia
	Axiologia
	Gnoseologia
	Lógica
	Estuda o ser, o problema da existência do ser e da existência dos entes.
	Estuda os valores
	Estuda o conhecimento em si.
	Estuda as conexões, as compatibilizações e as adequações que dão coerência ao pensamento.
	A conduta humana é individualizada,irrepetível, não devendo o juiz reduzi-la, desde logo, a um modo simplório.
	Cada fato valorado, no mundo jurídico, é que será capaz de trazer a individualização.
	Os fatos praticados dentro da sociedade carecem de ser conhecidos no mundo do direito, para uma melhor interpretação, visto que um mesmo fato pode ter diversos significados.
	O fato precisa ser adaptado à norma, por meio de um raciocínio lógico.
	CAPÍTULO 3: ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
1. Introdução
· A classificação é um procedimento lógico, por meio do qual, estabelecido um ângulo de observação, o operador encara um fenômeno determinado, agrupando suas várias espécies conforme se aproximem ou se afastem uma das outras. Sua finalidade é acentuar as semelhanças e dessemelhanças entre as múltiplas espécies, de maneira a facilitar a inteligência do problema em estudo;
· A interpretação é uma operação que possui por fim fixar uma determinada relação jurídica, mediante a percepção clara e exata da norma estabelecida pelo legislador;
· A interpretação deve ser buscada, visto que faz parte, da atual dogmática moderna, a retirada de fórmulas mais adequadas de aplicação da lei aos casos concretos postos para análise dos operadores jurídicos.
2. Espécies de interpretação
· Os critérios (espécies) de interpretação podem ser divididos quanto ao agente, quanto à natureza, quanto à extensão.
	Quanto ao agente
	Quanto à natureza
	Quanto à extensão
	Órgão prolator do entendimento da lei, podendo ser dividida em pública ou privada.
	Tem como fundamento os diversos tipos de elementos contidos nas leis.
	Maior ou menor alcance das conclusões a que o intérprete chegue ou queira chegar.
2.1. Quanto ao agente
	Interpretação pública
	Interpretação privada ou científica
	Feita por órgãos do Poder Público, isto é, do Estado.
	Feita pelos doutrinadores e jurisconsultos (obras e pareceres).
· Há doutrina no Direito que coloca, dentro da interpretação quanto ao agente, a questão da interpretação social, feita pelo costume. Essa é a ideia defendida por Savigny. De acordo com esse iminente jurista, o direito seria a manifestação da vontade (espírito) do povo, que interpretasse os costumes segundo a lei (costume secundum legem);
· A interpretação pública pode ser dividida em interpretação autêntica ou legislativa, judicial e administrativa.
2.1.1. Interpretação pública autêntica
· Nesse tipo de interpretação, há a edição de uma lei, por parte do Poder Legislativo, seguindo o mesmo rito processual exigido pelo interpretado, além de ser procedente do mesmo órgão;
· Em outras palavras, nessa interpretação, há uma lei secundária (lei interpretativa) que exerce o papel de interpretar a lei primária (lei interpretada), ambas provenientes do mesmo órgão;
· Essa espécie de interpretação pública foi muito usada em épocas autoritárias do mundo, quando o detentor do poder editava regulamentações para explicar alguma outra norma que já existisse dentro do ordenamento jurídico. Atualmente, é uma espécie pouco recomendável, pelo embaraço que cria na tripartição dos poderes;
· Para Kelsen, interpretação autêntica é aquela feita por qualquer órgão público, incluindo órgãos do Poder Judiciário e do Poder Executivo.
2.1.2. Interpretação pública judicial
· É a interpretação feita pelos órgãos do Poder Judiciário, que pode levar a um costume judicial (precedente) ou normas jurisprudenciais (jurisprudências). A reiteração dessas decisões, sobre uma mesma matéria, que caminham no mesmo sentido, pode levar à edição de enunciados de súmula ou até mesmo enunciados de súmula vinculante (feita só pelo STF);
· Para a escola histórica do direito, a interpretação judicial também pode ser chamada de usual, por ter forte carga oriunda dos costumes (costume é um uso que encontra elevado grau de uniformidade e constância).
2.1.3. Interpretação pública administrativa
· A interpretação administrativa pode ser feita pelos órgãos administrativos, através de dois mecanismos: poder regulamentar e da casuística.
	Poder regulamentar
	Casuística
	Destina-se ao traçado de normas gerais (exemplos: decretos, portarias, resoluções) que serão usadas na aplicação do Direito.
	Destina-se a esclarecer dúvidas especiais, com ou sem controvérsias, que surgem da aplicação do Direito ao caso concreto.
2.2. Quanto à natureza
· Essa classificação se resume nas próprias técnicas de interpretação que a hermenêutica jurídica coloca à disposição do operador jurídico;
· Há que se falar que o método hermenêutico é um só, mas as técnicas são diversificadas, ou seja, as técnicas exteriorizam o método (os métodos estabelecem os princípios com base nos quais se dará prioridade a uma ou outra técnica interpretativa);
· O processo interpretativo é único, coeso, devendo cada técnica ser entendida e associada às demais, formando uma dinâmica própria para a interpretação.
2.2.1. Interpretação gramatical ou literal
· A escola gramatical parte do princípio de fazer uma interpretação morfológica e sintática dos termos da lei, ou seja, preconiza-se uma interpretação verba legis. Essa era a única interpretação admitida pela Escola da Exegese, na França;
· Em geral, nessa interpretação, a função do juiz é dilatar, completar e compreender o texto normativo. Não cabe ao operador jurídico alterar, corrigir, substituir o texto normativo;
· Trata-se da mais antiga forma de interpretar o texto normativo, havendo tempos na história (exemplo: Direito Romano) em que era a única permitida;
· Atualmente, essa interpretação é insuficiente para conduzir o operador jurídico a um resultado conclusivo, sendo necessário que sejam fornecidos novos elementos para que outras técnicas possam ser aplicadas em conjunto com esta.
2.2.2. Interpretação lógica
· A interpretação leva em consideração a perquirição do sentido das locuções e orações do texto legal, através do estabelecimento de conexão com os mesmos;
· A interpretação lógica pode ser dividida em interpretação lógica em sentido amplo e interpretação lógica em sentido estrito.
	Interpretação lógica em sentido amplo
	Interpretação lógica em sentido estrito
	Pesquisa do sentido da norma à luz de qualquer elemento exterior com o qual ela deve se compatibilizar.
	Interpretação da norma a partir do elemento exterior que está imediatamente ligado a ela (vontade do legislador).
· Na verdade, a interpretação lógica é uma projeção da interpretação técnica sugerida por Schleiermacher. Para esse autor, a compreensão de um documento depende da reconstrução do pensamento de seu autor, obtido através da compreensão empática e de técnicas de comparação;
· Historicamente, a interpretação lógica está enquadrada em um outro momento da evolução da ciência jurídica, a partir do qual se passa a adotar o preceito da máxima de Celso: conhecer as leis não é compreender as suas palavras, mas o seu alcance e a sua força;
· Por outro lado, na interpretação lógica, há que se falar em vontade do legislador. Ela pode ser entendida de dois modos: (1) corrente subjetivista e (2) corrente objetivista.
	Corrente subjetivista
	Corrente objetivista
	Intenção subjetiva original que motiva o surgimento da norma jurídica.
	Metáfora que se refere a uma vontade intrínseca à norma que encontra raízes na sociedade.
	Ligada ao psicologismo historicista
	Ligada ao sociologismo
· Há forte embate, dentro das duas correntes, sobre a questão da evolução da chamada mens legislatoris (vontade do legislador) ou mens legis (vontade da lei). Há um acorrente subjetivista que defende a atualização da vontade do legislador pela interpretação sem haver distorção. Por outro lado, há uma corrente objetivista que defende a evolução da vontade normativa, ao argumento da evolução histórico-social.
2.2.3. Interpretação sistemática
· É a interpretação responsável pela unidade e coerência do ordenamento jurídico. Trata-se de uma espécie de interpretação que objetiva sistematizar o trabalho do legislador, que faz, geralmente, normas desconexas. Portanto, cabe ao legislador pesquisar, dentro do próprio ordenamento jurídico oufora dele, meios para integrar o sistema jurídico;
· Nessa interpretação, há dois aspectos a serem considerados: (1) interpretação da própria lei tendo como parâmetro o sistema ao qual pertence, (2) interpretação da lei tendo por referência o próprio sistema jurídico;
· A interpretação sistemática clássica parte da norma à luz das outras normas e do espírito do ordenamento jurídico (síntese do ordenamento). Pode-se afirmar que há uma busca da compatibilização das partes entre si e das partes com o todo;
· A interpretação sistemática é uma forma de pensar relacional dentro do mundo estrito do direito positivo.
2.2.4. Interpretação filológica
· Essa classificação gera séria divergência na doutrina. Parte dos filósofos a estudam dentro da interpretação gramatical. Já outra parte da doutrina a relaciona com a interpretação histórica, como é o caso de Savigny;
· Trata-se de uma espécie que leva em consideração a tradição e o sentido histórico das palavras;
· Consideram-se as palavras no tempo, pois elas mudam de sentido com o passar dos ano, dentro da nova linguagem que vai sendo adotada. É preciso considerar o significado que as palavras possuíam quando houve a elaboração do texto.
2.2.5. Interpretação histórica
· Trata-se da interpretação, primeiro usada por Savigny, que constitui a indagação das condições de meio e de momento da elaboração da norma legal tendo em vista as causas pretéritas e até históricas que levaram o legislador a adotar tal regulamentação;
· Essa interpretação pode ser dividida em occasio legis e origo legis.
	Occasio legis
	Origo legis
	Circunstância histórica que da regra interpretada.
	Origens da lei, remontando às primeiras manifestações da instituição regulada.
	Causas históricas próximas.
	Causas históricas remotas.
· A interpretação histórica vem da Escola Histórica. Tal Escola vislumbrava a norma jurídica como uma objetivação de uma época. A interpretação deveria ser a reconstrução do sentido, assim como o historiador deve buscar o sentido de algo dentro da história;
· A interpretação histórica, por sua vez, tem por objetivo examinar a evolução temporal de determinado instituto do direito dentro de uma compreensão a ser feita na atualidade;
· Sem dúvida, os grandes materiais para se chegar a uma correta interpretação histórica está nas publicações e nos debates legislativos, arquivados junto ao Poder Legislativo.
2.2.6. Interpretação teleológica
· É a interpretação feita a partir do fim social a que ela se destina. É a interpretação capaz de fazer da norma jurídica um meio para e atingir um fim. Dentro dessa premissa, o sentido literal ganha maleabilidade para se subordinar ao fim social adotado;
· A interpretação teleológica é fruto das formulações de Rudolf Von Lhering. Para esse autor, o direito não evolui espontaneamente como Savigny pensou, mas sim através das lutas. As conquistas são manifestadas em interesses que passam a ser protegidos pela ordem jurídica, sob a forma de direitos subjetivos;
· Sob outro prisma, a interpretação teleológica pode ser vista sob a ótica da lógica do razoável. O que o juiz faz ordinariamente consiste em investigar quais os critérios hierárquicos de valor sobre os quais está fundado e pelos quais está inspirado o ordenamento jurídico positivo, servindo-se deles para resolver os casos submetidos à sua jurisdição;
· Na visão de Recaséns Siches, a norma jurídica é um pedaço da vida humana, que é objetivada. Entretanto, a vida humana é subjetiva e dinâmica. Não há como ver a vida em recortes, mas sim na sua totalidade. Assim, cabe ao intérprete da norma mergulhar ela no fluxo vital e situar ela nas relações da vida;
· Para Carlos Maximiliano, a interpretação teleológica deve ser baseada na equidade, na medida em que tal interpretação é conciliável com a letra da lei e o espírito das disposições legais.
2.2.7. Interpretação sociológica
· A interpretação sociológica possui, para ser explicada, três objetivos: (1) eficacial, (2) atualizador, (3) transformador.
	Eficácia
	Atualização
	Transformação
	Confere aplicabilidade às normas jurídicas em relação aos fatos sociais por ela previstos (interpretação que traga mais eficácia).
	Há aqui uma interpretação histórico-evolutiva que dá elasticidade à norma, permitindo que ela abranja novas situações não previstas pelo legislador.
	Há aqui uma menção às reformas sociais, à satisfação dos anseios de justiça e ao atendimento das exigências do bem comum.
· Essa interpretação abre o ordenamento jurídico para a realidade social, inviabilizando qualquer teoria autopoiética do Direito (a autopoiese é a previsão de que o sistema jurídico é um sistema autônomo em relação ao sistema social, muito embora tenha a sociedade como ambiente de trabalho);
· Mesmo que o direito possa ter a essência de ser completo, ele não se torna uma esfera impenetrável. O direito está submetido a um intenso intercâmbio com a vida. Essa abertura permite um caráter de troca, de moldura, fazendo com que os institutos jurídicos possam ser qualificados pela prática social;
· Dentro da interpretação sociológica, tem nascido uma forte corrente que expande a interpretação para outros campos da vida. Um bom exemplo se centra na intepretação econômica do direito, visto em áreas como o Direito Financeiro e o Direito Tributário, que se questionam qual o custo e qual o valor da realidade econômica para o Direito.
2.3. Quanto aos efeitos
· A interpretação pode ser declarativa, extensiva, restritiva, modificativa e ab-rogante.
2.3.1. Interpretação declarativa
· Identificação entre o espírito da lei e a letra da lei, ou seja, há concordância gramatical primária entre a lei e o sentido gramatical de outros fatores;
· Em outras palavras, a intepretação declarativa é aquela que o enunciado coincide, nas mesmas amplitudes, com o que está descrito no dispositivo normativo;
· Nesse ponto, o intérprete se limita a declarar que a mens legislatoris não possui outras balizas, se não aquelas que se depreende do texto da lei (a vontade do legislador pode ser vista dentro da letra da lei).
2.3.2. Interpretação extensiva
· Também chamada de ampliativa, é a interpretação segundo a qual a fórmula legal disse menos do que deveria, ou seja, o espírito da lei é maior do que a letra da lei (legislador disse menos do que gostaria);
· Através das técnicas interpretativas, cabe ao operador buscar um resultado mais amplo, utilizando mais do que a simples interpretação gramatical. Caberá ao intérprete ampliar a letra da lei;
· Deve-se diferenciar interpretação extensiva de analogia em razão de sua natureza, bem como de seus efeitos.
	Interpretação extensiva
	Analogia
	Espécie de interpretação.
	Espécie de meio de integração.
	A interpretação extensiva parte da norma existente para ampliar seu sentido e alcance.
	A analogia parte da inexistência de norma jurídica para regular determinado caso, aplicando-se outra norma.
	A interpretação extensiva resolve um problema de insuficiência verbal.
	A analogia resolve um problema de lacuna no direito.
	A interpretação extensiva está ligada ao inexato modo de expressão.
	A analogia está ligado à insuficiência do pensamento.
· Por outro lado, a interpretação analógica não se confunde com analogia e não se confunde com interpretação extensiva. A interpretação analógica se parece com a extensiva por partir de uma norma já existente, sendo verdadeira interpretação, e assemelha-se à analogia por não ser uma correção de defeito de insuficiência verbal, mas verdadeiro enquadramento de situações imprevistas;
· Há pensador que conceitua a interpretação extensiva quando a mens legislatoris (vontade do legislador) precisa ser deduzida dentro dos limites moderados pela legislação de regência, ou seja, quando há adaptação da norma a uma nova realidade social.
2.3.3. Interpretação restritiva
· É a interpretação cujo resultado leva a afirmar que o legislador, ao exarar a norma, usou expressões aparentemente mais amplas que o seu pensamento;
· Ocorre quando a letra da lei é mais ampla que o espírito da lei, havendoa necessidade de restringir o alcance das palavras contidas no texto normativo. Em termos subjetivistas, pode-se afirmar que o legislador falou mais do que era a sua intenção fazer;
· Alguns doutrinadores diferenciam interpretação extensiva de interpretação lata e interpretação restritiva de interpretação estrita.
	Interpretação extensiva
	Interpretação lata
	O sentido é mais extenso que a palavra da lei.
	É tomado o sentido mais extenso de uma palavra com vários sentidos.
	Interpretação restritiva
	Interpretação estrita
	O sentido é mais estreito que a palavra.
	É tomado o sentido mais estreito de uma palavra com múltiplos significados.
2.3.4. Interpretação modificativa
· Pode ocorrer de duas formas: (1) atualizadora e (2) corretiva.
	Interpretação modificativa-atualizadora
	Interpretação modificativa-corretiva
	Resultante da interpretação sociológica. Nessa modalidade, o intérprete é levado a atualizar a norma de frente para uma nova realidade, em razão de novos fatos não previstos pelo legislador.
	Resultante da interpretação sistemática. Nessa modalidade, há antinomias e critérios insuficientes. Havendo conflito de normas, de mesma hierarquia e da mesma época, sendo ambas gerais, cabe interpretação ab-rogante (uma norma derroga a outra).
2.3.5. Interpretação ab-rogante
· Marcada pela antinomia, a interpretação ab-rogante, advinda da sistemática, prevê que duas normas em conflito serão interpretadas tendo uma aplicação em detrimento da outra;
· Por outro lado, esse tipo de interpretação só ocorre quando houver duas normas gerais, de mesma hierarquia e da mesma época, ou seja, em caso de insuficiência de critérios;
· Na ab-rogante, não há os critérios próprios de especialidade, hierarquia e cronologia, mas sim opção própria do operador jurídico de afastar uma para aplicar outra, em decorrência da interpretação a ser feita;
· A doutrina criticamente fartamente esse meio de interpretação, alegando que somente a lei pode afastar a aplicação de outra lei, conforme preconizado pelo artigo 2º da LINDB.
	PRINCIPAIS AUTORES EM HERMENÊUTICA JURÍDICA
1. A contribuição de Friederich Schleiermacher
1.1. A obra de Friederich Schleiermacher
· A obra desse filósofo foi escrita durante os séculos XVIII até o século XIX. Schleiermacher foi protestante, professor de teologia e é considerado o pai da hermenêutica moderna;
· Foi o primeiro autor a indagar sobre o ato de compreensão em si, através de uma hermenêutica de cunho filosófico e não mais como mera disciplina auxiliar de outras áreas do conhecimento;
· Esse autor buscava um método, um caminho que pudesse ser aplicado a todos os ramos de conhecimento (ciências humanas e ciências exatas), não estabelecendo caminhos diferentes.
1.2. A proposta de Schleiermacher
· Na antiguidade clássica, mais especificamente nas obras de Aristóteles, já havia a discussão sobre a criação de regras de interpretação. Tais regras deveriam valorizar o valor formal dos textos, mediante regras de gramática e interpretação literal;
· Sua proposta era criar uma hermenêutica de cunho universal (filosofia da indagação).
1.3. O método desenvolvido por Schleiermacher
· Vivendo dentro da era iluminista, devidamente orientada pela razão, os métodos de interpretação de qualquer texto, não só jurídico, ganham em importância;
· Para Schleiermacher, o método a ser desenvolvido deveria estar pautado na utilização de regras gramaticais (tradicionais), mediante valorização do sentido que os termos possuem quando são empregados nos textos;
· Interpretação psicológica: toda obra deve ser compreendida como um momento vital do autor (baseado na reconstrução do pensamento interior do falante, de modo a tornar a interpretação a mais fiel possível);
· O texto deve ser analisado em função do todo (de toda a sua estrutura) e não de maneira isolada;
· Segundo Schleiermacher, todo aquele que vai interpretar o texto leva em conta a gramaticalidade (próprias palavras em si), valorizando a linguagem;
· Após constatar a insuficiência gramatical para fins de entendimento, Schleiermacher diz que o ato da compreensão seria uma análise de forma (a nível gramatical), somado a uma interpretação psicológica (ato da compreensão dos dizeres de um autor);
· O intérprete deve compreender o autor no sentido de quais eram as suas influências, quais os motivos (desvendar as influências sofridas na produção textual. Todo tipo de influência);
· Interpretar psicologicamente é reconstruir o pensamento interior do falante (gramatical que é o exterior + psicológico que é o interior);
· Defesa de um constante diálogo entre autor e intérprete (dialogar para extrair todas as informações possíveis. Desse modo, melhor será a interpretação).
1.4. O caminho do intérprete na interpretação psicológica
· Parte-se da ideia de reconstrução do todo, a partir da atividade criadora do autor de um texto. Basicamente, o método poderia ser chamado de divinação;
· Nesse método de divinação, deveria o intérprete se apropriar da “alma” do autor, da sua singularidade e do seu processo de criação, devendo, a partir desse ponto, interpretar o texto da melhor maneira possível, extraindo sentidos apropriados;
· Basicamente, visto de outra ótica, o método divinatório, como ficou conhecido, traz ao intérprete a faculdade de se colocar no lugar do autor no momento da criação de um texto e interpretar a partir da ideia que ele, autor, tinha sobre o que escreveu;
· Como se observa, para Schleiermacher, havia dois grandes grupos que eram muito importantes na interpretação: o sujeito e a linguagem.
2. A contribuição de Wilhem Dilthey
2.1. Introdução
· Wilhem Dilthey viveu nos finais do século XIX e início do século XX, sendo considerado um grande estudioso da obra de Schleiermacher, mas questionando os seus métodos de interpretação, visto que cada autor tenta cunhar a sua própria forma de interpretar;
· Momento histórico: resquícios do iluminismo (conhecimento de cunho cientifico), iluminismo (ganho de força das ciências naturais, hoje chamadas de exatas);
· O seu objetivo principal, como será visto nessa parte do estudo, é diferenciar a hermenêutica na lógica de produção do conhecimento, dividindo-a em dois grandes campos: ciências humanas (ciências do espírito) e ciências naturais (ciências exatas);
· Há uma necessidade de distinção entre tais ciências, principalmente para as ciências humanas (campo autônomo), sobretudo na diferenciação do objeto de estudo.
2.2. Divisão metodológica entre ciências naturais e ciências exatas
· Para Dilthey, haveria uma dicotomia entre dois grandes ramos de conhecimento: ciências naturais versus ciências humanas;
· Ciências naturais: ramo do conhecimento privilegiado, por ser prático (sempre tiveram uma produção do conhecimento muito metódica, muito formular, mais objetivo e lógico);
· Nas ciências exatas, há invariabilidade de resultados em qualquer lugar do mundo (possibilidade de leis gerais, com resultados previsíveis). Conhecimento, nas ciências naturais, é produzido pela observação (não há interação entre sujeito e objeto);
· Dilthey: existe um abismo entre o desenvolvimento das ciências exatas/naturais e o desenvolvimento das ciências humanas (nas ciências exatas, os métodos são claros e objetivos. Já nas humanas, não há clareza de métodos aplicáveis);
· Diante disso, dois fatores precisam ser esclarecidos em Dilthey: o ato de explicar e o ato de compreender;
· Explicação é ato de descrição de alguma coisa em suas fases evolutivas (descrição). Esse ato não exige interação entre o sujeito e o objeto (ato externo);
· A explicação não leva em conta aspectos históricos (a descrição é a mesma em qualquer época). A explicação é eminentemente associada com as ciências naturais;
· A compreensão parte da ideia de investigar os parâmetros, mediante observação mais acurada, com forte carga de diversos fatores históricos, culturais e sociológicos;
· Já nas ciências humanas, não há o mesmo método de conhecimento e de interpretação. Há necessidade, portanto, de desenvolver métodos mais fáceis e aplicáveis(papel mais eficaz entre sujeito e objeto, área do conhecimento é complexa, envolvendo diversos fatores ao exigir mais do intérprete);
· As ciências humanas são condicionadas por fatores históricos, culturais. Já as ciências exatas partem da ideia de descrição, de observação invariável, de estabilidade;
· As ciências humanas partem do estudo do homem, da sociedade em que ele vive, em um determinado espaço e um determinado tempo. O objeto de estudo é singular, individual, impossibilitando a criação de critérios e regras invariáveis;
· A história é definida como elemento condicionante no processo de evolução das ciências humanas;
· Dentro das ciências humanas (mais complexas, estudando o homem), a variabilidade é uma lógica mais complicada para se criar um método de interpretação;
· Não há possibilidade de uma ciência humana totalitária (fechada em si). As ciências são interligadas em si, ou seja, há uma noção do todo para se criar e interpretar os aspectos da vida humana.
2.3. Obra e teoria hermenêutica
· Com base no visto até o presente momento, na diferenciação lógica entre ciências naturais e ciências humanas, havia a necessidade de se criar métodos próprios para interpretação das ciências humanas (chamada aqui de ciências do espírito);
· Havia a necessidade de compreensão das ciências humanas, que se pautava na análise da situação do contexto de determinada ação, bem como na valorização das condutas historicamente construídas;
· Esse autor passa a ter relação com a escola histórica do direito, visto que a interpretação das ciências humanas se torna um produto histórico, que condiciona o entendimento;
· Proposta de um estudo das Ciências Humanas que leve em conta as experiências vividas pelo ser humano, a fim de se definir o resultado de qualquer ato interpretativo.
· Inserção da história como método interpretativo (Hermenêutica passa a ser, para Dilthey, um método de interpretação baseado em fatos e processos históricos);
· Dilthey fazia parte da escola histórica do direito (grupo de estudiosos que diziam basicamente sobre a história condicionar o direito). A escola histórica também debatia a codificação ou não do direito (codificação: sistematização ordenada de um ramo do direito).
2.4. Comparação com Schleiermacher
· Apesar de buscarem métodos de interpretação, Schleiermacher e Dilthey se diferenciam em 3 pontos:
· 1° ponto: quanto à busca da interpretação. Schleiermacher busca um modo de interpretação universal, aplicável a todos os ramos do conhecimento. Já Dilthey diferenciava as ciências naturais das ciências humanas. A hermenêutica, em Dilthey, seria aplicada somente para as ciências humanas;
· 2° ponto: quanto à forma de interpretação. Schleiermacher elaborou um método gramatical (baseado na linguagem) juntamente com o método psicológico. Já em Dilthey, o método de interpretação se baseia no processo histórico, fruto da evolução da sociedade;
· 3° ponto: quanto ao modo de compreensão. Schleiermacher preconiza um processo embasado na linguagem (gramática) mais psicológica (individual). Em Dilthey, a compreensão ocorre no fato concreto, na situação, no contexto e nas condutas sociais (processo histórico).
3. A contribuição de Martin Heidegger
3.1. Introdução
· O período histórico está entre o fim do século XIX e o início do século XX. É nessa parte histórica que se inicia a ruptura do pensamento construída sobre hermenêutica até então;
· A preocupação da hermenêutica estava basicamente ligada na criação de métodos para interpretação, com vistas na objetividade. Contudo, tais métodos se mostraram insuficientes, sendo necessário o giro hermenêutico;
· Heidegger é o precursor do movimento denominado reviravolta teórica (até então, alguns autores se preocupavam com o desenvolvimento de métodos e técnicas objetivas para desenvolver a interpretação dos textos);
· Após Heidegger, a hermenêutica sofreu uma reviravolta: indaga-se se, de fato, a busca de métodos é a melhor definição para a interpretação. Após Heidegger, há uma ruptura (abandona-se a parte clássica). Essa ruptura é denominada giro hermenêutico ou giro linguístico (virada na teoria da interpretação);
· Nenhum dos autores anteriores (Schleiermacher e Dilthey) inseria a linguagem na interpretação, nem a consideravam como um método de interpretação;
· A partir de Heidegger, há a aplicação da linguagem para todos os ramos do conhecimento (hermenêutica não é mais propriedade, não se faz mais através de métodos. A hermenêutica está ligada na experiência humana);
· A interpretação deixa de ser uma propriedade humana para se centrar em um ato de vivência (depende das experiências humanas). A existência, por sua vez, é o fruto de todas as experiências somadas;
· Por conta disso, para a ideia de Heidegger, a hermenêutica ocorre a todo momento, a todo instante, a partir do momento em que exista vivência e a prática de atos de experiência de vida.
3.2. Dimensão ontológica da compreensão
· Os objetos a serem interpretados são, na verdade, fenômenos que tem o potencial de se revelarem ou não. Essa revelação não é mais uma propriedade do homem, mas sim um modo de experimentar a vida;
· Objetos são fenômenos que estão sendo revelados a todo o momento. Na medida em que esses objetos se revelam, o homem dá sentido a eles. Por isso, a hermenêutica ganha sentido de existência, pois é nesse momento de existência que o homem aparece no mundo;
· O homem passa a ser um ser com capacidade de surgir no mundo, de forma consciente e dar sentido ao mundo que o envolve (homem começa a ter relação com o ser, eu seja, com a sua personalidade). É necessário dizer que o homem passa a interpretar fenômenos, entra em contato com o ente (ser, chamado de Sein) e surge no mundo (Ser-aí, chamado de Dasein);
· Portanto, na medida em que o homem passa a dar sentido às coisas, a hermenêutica como meio de interpretação passa a existir.
3.3. Linguagem e o papel fundamental na hermenêutica
· A linguagem não é simplesmente um “instrumento” de comunicação: ela permite a revelação do ser, ela tem o papel de esclarecer (tarefa de colocar luz naquilo que estava oculto), papel de desocultação;
· A linguagem passa a ser entendida como um mecanismo de revelação, atuando no seguinte sentido: a partir do momento que o homem não se expressa, não há revelação no mundo e a hermenêutica não ocorreu. A partir do momento que o homem se manifesta, há a hermenêutica, por ter ocorrido a linguagem;
· Linguagem não é simplesmente instrumento de comunicação (essa expressão é mais profunda, com formas mais apuradas). A linguagem coloca a luz no oculto, ou seja, retira o que está escondido;
· A linguagem, em uma analogia, é como uma casa: se a pessoa não se exprime, não faz uso dela, a casa se encontra trancada, acobertada. A partir do momento que o homem exprime a sua linguagem, ele se revela para o mundo, abrindo a sua casa;
· O homem passa, nesse giro, a não ser dono da linguagem (na verdade, o homem se torna fruto da linguagem).
· Heidegger serve de base para Gadamer iniciar seus estudos e aprofundar ainda mais o enfoque hermenêutico dentro da virada linguística.
3.4. Conclusão
· Ultrapassa-se a visão da hermenêutica como uma simples metodologia a ser apreendida pelo homem. A hermenêutica passa a ser a explicação da própria existência do homem;
· O homem existe à medida que dá significado às coisas, mediante revelação feita pela linguagem, condicionada pelo tempo.
4. A contribuição de Hans George Gadamer
4.1. Introdução
· Sem dúvida nenhuma, Gadamer é o ponto principal e culminante de toda da hermenêutica filosófica e jurídica;
· A sua teoria foi desenvolvida a partir da consciência estética (toda obra de arte deve ser vista não de forma isolada e estática, mas a partir de uma “rede” de compreensões entre objeto e intérprete) e da consciência histórica (inexistência de um conhecimento “puro” e “objetivo” da história);
· Gadamer é o autor que mais contribuiu para o desenvolvimento da hermenêutica (ele esmiúça o pensamento da hermenêutica). Sua contribuição parte dos estudos de Heidegger(autor que agrega valor na obra de outro autor).
	Consciência estética
	Consciência histórica
	Rede de sentimentos entre objeto e intérprete.
	A história, na verdade, é contada no presente, com o ponto de vista do que se sabe hoje. A História só é compreendida dentro da História (o homem é fruto da sua própria História).
· Crítica à hermenêutica tradicional: essa hermenêutica clássica buscava os métodos e técnicas de interpretação (estaticidade da hermenêutica). Entretanto, em Gadamer, com o giro linguístico, os métodos são deixados em segundo plano.
4.2. As estruturas da compreensão
· Para Gadamer, interpretar precisa de cinco elementos em conjunto: horizonte histórico, círculo hermenêutico, mediação, diálogo, linguisticidade.
4.2.1. Horizonte histórico
· Horizonte (conceito): acesso do homem ao mundo a partir de um determinado “ponto de vista”;
· Trata-se de uma noção de abertura, no qual se permite a visualização de qualquer fenômeno. Pode ser traduzido como o ponto de visão a partir do qual se olha os objetos;
· Por outro lado, o horizonte histórico pode ser associado com uma rede de pré-conceitos e de pré-compreensões na qual o intérprete já possui;
· O horizonte histórico é a compreensão de um objeto, olhado sob um ponto de vista, a depender o local, da posição, do âmbito. O horizonte depende da situação hermenêutica (raio de visão);
· Horizonte é abertura e vai se ampliando ao longo da vida. Não há uma compreensão certa ou errada dos objetos (as experiências contribuem para formar a visão das coisas);
· O horizonte é formado pela tradição, ou seja, as experiências, os pré-conceitos, a história. A noção de horizonte é aberta, pois no momento que a pessoa caminha, o horizonte é ampliado;
· Crítica à concepção do Iluminismo: utilização de métodos de compreensão busca uma objetividade da compreensão, ignorando a noção de pré-conceito (tradição) como condição do ato de compreender qualquer objeto;
· A eliminação do pré-conceito é a eliminação da história como parte da compreensão. Princípio da história efeitual (a história forma, “molda” nosso olhar sobre os objetos);
· Conclusão a compreensão é “condicionada” pelo “tempo”, pela “história” que forma o “horizonte” do observador.
4.2.2. Círculo hermenêutico
· Conceito: enlace dialético (discursivo) em que a compreensão se dá, na relação entre a “consciência histórica do intérprete” e a “abertura interpretativa permitida pelo objeto”;
· Relação entre parte e todo: compreensão da totalidade de uma obra a partir da compreensão de suas partes, ou seja, as partes de um texto só podem ser compreendidas em função de uma antecipação de sentido de toda obra;
· Noção de “espiral” e não de um “círculo”: resultado da compreensão vai formando “patamares” diferentes e mais apurados, formam novo pré-conceitos. Também há um círculo entre “passado” e “presente”, no qual há compreensão em função do momento presente, mas que tem o passado como condição;
· Gadamer: a fusão de horizontes implica em uma fusão de compreensão, interpretação e aplicação (não ocorrem em momentos distintos). A compreensão é a interpretação aplicada ao caso concreto (compreender e interpretar ocorrem no caso concreto);
· Crítica ao círculo hermenêutico: é uma espiral (nunca volta ao mesmo ponto e não um fim). A pessoa (intérprete) nunca sai dessa relação do mesmo modo que entrou (ampliação de horizonte para todos);
· O resultado da compreensão é uma fusão de horizontes (essa fusão permite um enlace), que passa a ser usado a partir da linguagem.
· Gadamer: essa fusão de horizontes também seria um círculo entre passado e presente (o entendimento do presente é condicionado pelo passado).
4.2.3. Mediação
· Os fenômenos a serem observados nunca se colocam à frente do observador, de maneira “objetiva” e “direta”. Para isso, é preciso que eles sejam apresentados, formando a rede de pré-compreensões;
· A compreensão é mediada, representada pelo olhar, em determinado foco, mediante acesso indireto, conseguido pelo linguagem.
· Há sempre uma camada de sentidos, plurais, tendo que ser baseados também em um conjunto de experiências. Em função disso, os preconceitos permitem a relação entre o intérprete o objeto, mediado pelo linguagem.
4.2.4. Diálogo
· Dialética da pergunta e da resposta: compreensão como diálogo. Diante disso, a pergunta é sempre mais importante do que a resposta, visto que ela terá o poder de sempre trazer diversas respostas para uma mesma situação;
· A pergunta, feita pelo diálogo entre as pessoas, permite diversas interrogações (abertura do conhecimento), mantendo relação entre o intérprete e o objeto a ser interpretado;
· Gadamer deixa claro a relação dialógica de compreensão (relação discursiva constante entre sujeito e objeto). A pergunta é mais importante que a própria resposta.
· Em Gadamer, o problema do método fica escancarado (separação entre sujeito e objeto). A nova proposta é alcançar a verdade pelo diálogo (a dialética é uma antítese do método).
4.2.5. Linguisticidade
· Possibilita o acesso aos fenômenos, pela compreensão. Desse modo, para que haja compreensão, é necessário a linguagem, que é anterior ao homem (ponto de convergência com Heidegger). A noção de linguagem traz uma noção de participação;
· Relação entre sujeito e objeto: mediação no qual as palavras são usadas em função da situação hermenêutica, sendo essa uma convenção baseada na experiência do observador;
· A linguagem possibilita acesso entre sujeito e o Direito, fruto de convenção e anterior ao homem. No Direito, o intérprete, o operador jurídico deve interagir com a norma que, por sua vez, possui um sentido construído dentro da situação hermenêutica (situação concreta em que a palavra é empregada).

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