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Revitalização Urbana: Entendendo o processo de requalificação da paisagem

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REVISTA DO CEDS 
Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB 
N. 1 agosto/dezembro 2014 – Semestral 
Disponível em: http://www.undb.edu.br/ceds/revistadoceds 
 
Revitalização Urbana: 
Entendendo o processo de requalificação da paisagem1 
 
Aline Maria Marques Bezerra2 
César Roberto Castro Chaves3 
 
Resumo: Quando ouvimos falar de Revitalização, somos imediatamente 
remetidos a uma ideia de restauração de Patrimônios Históricos Culturais, mas 
revitalização é um termo muito mais abrangente, trata de um conjunto de 
ações, a fim de permitir a um determinado espaço nova eficiência, novo sentido 
em seu uso, visando uma melhoria do espaço e do seu entorno. No estudo que 
se segue, compreenderemos o conceito proposto e também outros conceitos 
correlacionados a revitalização, mas que tem finalidades diferenciadas. 
Estudaremos o processo de revitalização atrelado à evolução urbana, seu uso 
em diferentes experiências no Brasil e em outros lugares do mundo. E por fim, 
veremos como se dá o processo de revitalização urbana, seus usos, pontos 
positivos e negativos. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica, 
buscando vários autores para a construção de uma visão crítica sobre o 
assunto. 
 
Palavras-chave: Requalificação. Renovação. Revitalização. Gentrificação. 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A palavra Revitalização sempre trás a mente a ideia de conjuntos de 
medidas e ações que surgem com o objetivo de aplicar a determinada área um 
novo valor, e dando vida econômica e social. O crescimento das cidades está 
acelerado, algumas cidades já alcançaram toda sua área e já não é mais 
possível encontrar espaços livres para construção. Há cidades também que 
cresceram sem atentar para o planejamento urbano e por isso começam a 
apresentar problemas no uso de algumas áreas, desvalorização de outros, mau 
uso e até abandono e marginalização de áreas. 
 
1 Paper apresentado à disciplina Metodologia de Pesquisa Científica da Unidade de Ensino Superior Dom 
Bosco 
2 Aluna do primeiro período de Arquitetura e Urbanismo da UNDB. 
3 Professor Mestre em Cultura e Sociedade, orientador. 
 
Essa degradação não é incomum, atingem cidades de médio e 
grande porte, suas áreas passam a serem substituídas por outras, que 
ofereçam opções atrativas para consumo e investimento. Em alguns lugares, a 
prefeitura deixa de lado determinadas regiões, principalmente o centro das 
cidades e dirigem sua atenção a outras. Para esses casos é que a 
revitalização vem como solução. 
Mas é de extrema importância relacionar o processo de 
requalificação arquitetônica a evolução urbana, considerando a sua cultura, a 
utilização socioeconômica. A Arquitetura e o Urbanismo têm produzido 
bastante sobre intervenções urbanas, que objetivam a revitalização e a 
requalificação de áreas urbanas, dando às cidades um aumento no seu grau de 
competitividade e valorização. 
Historicamente diversas intervenções têm ocorrido nas áreas 
centrais das cidades com intuito da melhoria estética o em busca de renovação 
urbana. Mas essa renovação vem alterando e muito a dinâmica dessas áreas 
exigindo altos investimentos, e tem como característica principal sobrepor sua 
função com interesses imobiliários, e a questão reside aí, o governo precisa 
estar atento à qualidade de vida do cidadão. Assim vem se fortalecendo a 
metodologia de revitalização urbana. 
Nesse estudo optou-se desenvolver o tema através da pesquisa 
bibliográfica, visando o entendimento fundamentado do assunto. Foram 
consultadas obras nacionais, artigos científicos, livros, periódicos, além de 
material disponibilizado na internet. 
Este paper se propõe a discutir o processo de Revitalização Urbana, 
bem como conhecer o conceito de Revitalização Urbana, identificar mudanças 
da Revitalização Urbana ao longo dos anos e estudar experiências de 
Requalificação Urbana no Brasil e no mundo. Identificando suas 
características, e atribuindo a ela a importância dela para a conservação das 
cidades. 
 
2. RENOVAÇÃO, REVITALIZAÇÃO E GENTRIFICAÇÃO: desvendando os 
conceitos 
 
 
 Revitalização é um termo bastante empregado quando se fala de 
intervenção urbana. Entretanto, a paisagem urbana pode sofrer diferentes tipos 
de intervenções, cada uma com sua característica, e para uma compreensão 
exata do que é possível infligir à paisagem, objetivando diferentes resultados. 
 Nesses últimos anos, tem havido um fenômeno mundial de 
revalorização das áreas urbanas, levando em conta principalmente, o uso da 
água, desenvolvimento sustentável, ocupação de áreas vazias, requalificação 
de espaços, otimização da mobilidade urbana destacando as potencialidades 
paisagísticas, logísticas e imobiliárias (GROSSO, 2008, p. 22). 
 Para termos ideia da mudança pela qual as cidades passam, 
usemos São Luís para visualizarmos esse processo. A capital maranhense é 
formada por um conjunto de cidades que foi sendo formada desde o início da 
década de 70. Começa ao longo da Estrada de Ferro Carajás e da Rodovia 
BR-222. A cidade foi fundada por franceses em 1612, mas os portugueses a 
tomaram em 1615, e a fim de construir fortificações de defesa – e, sobretudo, 
descaracterizar qualquer traço dos franceses - foi enviado para cá, o 
engenheiro-mor Francisco Frias de Mesquita, que além das fortalezas, deixou 
também um plano de urbanização para ser usado como referência na 
expansão da cidade. Ele deu ao centro de São Luís uma regularidade 
geométrica, talvez a primeira no Brasil. Um traçado urbano que se apresentou 
completamente diferente das ruas estreitas e irregulares que os portugueses 
usaram em cidades como Rio de Janeiro e Olinda, se tornando uma 
configuração muito moderna para a época. 
 A partir da década de 1990 a urbanização da capital sofreu grande 
aceleração, refletindo em aspectos demográficos, sociais e econômicos, 
também em outros municípios da Ilha de São Luís - Paço do Lumiar, São José 
de Ribamar e Raposa. Algumas áreas rurais tornaram-se urbanas, o que 
permitiu a criação da metrópole. São Luís também já sofreu outros diversos 
processos de intervenção urbana, uns mais antigos e outros mais recentes, 
alguns bastante divulgados, como o Projeto Reviver e o Projeto de 
Urbanização da Lagoa da Jansen, e outros nem tão conhecidos, como o 
Projeto Palafita Zero, que abrange os bairros Jaracaty, Vinhais e Cohafuma. 
Contudo, essas intervenções que podem parecer o mesmo processo, 
apresentam características e usos diferenciados. 
 
 Exemplificamos com São Luís, mas diversas cidades estão frente a 
grande complexidade que tem as intervenções urbanas, ainda mais se essas 
intervenções são feitas de formas isoladas, sem a preocupação de uma 
continuidade e abrangência de toda a cidade. É de suma importância 
compreender os meandros desse processo e suas consequências, para que se 
possa construir uma crítica responsável quanto ao uso de cada um, e avaliar os 
pontos positivos e negativos, levando em conta as consequências para a 
cidade e para a população. 
 Existem muitas transformações acontecendo, em centros históricos, 
em áreas de periferia, áreas de preservação, em espaços vazios e/ou 
degradados e lugares de usos comuns à população rica e pobre, todas essas 
intervenções são baseadas em projetos urbanos que almejam a requalificação 
urbana dessas áreas. 
 De uma forma ou de outra, as ações de requalificação tem aparecido 
em destaque para que se possa compreender toda essa dinâmica urbana 
contemporânea, ainda mais em se preocupando em assimilar a essa dinâmica 
todo o valor histórico, cultural e social. 
 Mas há também quem avalie esses processos de revitalização 
urbana como uma produção cultural das cidades visando lucro, retorno 
financeiro, como Arantes, Maricato e Vainer (2000, p. 47). Os autores 
entendem que esse processo é importante fator de evolução urbana, que é 
impulsionada pelanecessidade do mercado, afirmam assim: 
 
Tais iniciativas, sejam elas grandes investimentos em equipamentos 
ou culturais de preservação e restauração de algo, é alcançado pelo 
status do patrimônio, constituindo, pois uma dimensão associada à 
primeira, na condição de isca ou imagem publicitária. [...] A medida 
que a cultura passa a ser o principal negócio das cidades, fica mais 
evidente para os envolvidos que a cultura passa a ser o principal 
negócio das cidades. 
 
 Assim suscitam um paradoxo quanto a essas requalificações 
urbanas. Como essas intervenções vem sido feitas? Essas mudanças tem 
apenas um caráter contemplativo ou são motivados por interesses 
econômicos? 
 A necessidade de intervenção em centros urbanos se dá não 
apenas para que se conserve toda a estruturação existente, mas, sobretudo 
 
pela necessidade de restaurar a identidade dos espaços e das pessoas com 
que se relaciona. Assim compreenderemos essas diferenças e responderemos 
as essas questões, desvendando os termos envolvidos. 
 Existem termos específicos para diversas formas de intervenções 
urbanas, são eles: Revitalização Urbana, Renovação Urbana e Gentrificação. 
Segundo Vaz e Silveira (1999, p. 55) a Renovação Urbana se apoia nas ideias 
do modernismo e a Revitalização Urbana, desencadeado nas últimas décadas 
em confronto com os excessos do modernismo. O processo de intervenção dos 
centros urbanos pode ser dividido em três fases, de acordo com Vargas e 
Castilho (2006, p. 6), essas divisões históricas também definiram o termo, seu 
uso e significado, algumas ainda usadas até hoje. 
O período de Renovação Urbana abrange o período de 1950 até 
1970. Apoiado nos ideais do modernismo, principalmente os expressos na 
carta de Atenas de 1933 (VAZ; SILVEIRA, 1999, p. 52) prezava pelo novo, 
destruindo o que considerava antigo e ultrapassado, e construindo tudo novo 
visando uma renovação. Toda essa ânsia por renovação coincidiu com o que 
as elites da época desejavam e também com os interesses de quem 
patrocinava essas renovações. Nos EUA, esses conceitos de renovação 
urbana vêm em um momento importante e alcançou grandes espaços, 
considerando que muitos centros estavam completamente degradados, sendo 
substituídos por subúrbios. Mas na Europa, por exemplo, como os centros 
estavam fortemente atrelados e carregados de cultura, eles não foram 
destruídos e sim tiveram seus problemas solucionados, impedindo amplas 
destruições, além das causadas pelas guerras. 
A Revitalização Urbana, por sua vez, se destaca entre 1950 e 1970. 
E vem de encontro a tudo o que prega a corrente anterior. Apresenta como 
prioridade o resgate de edifícios históricos, reestruturando áreas centrais, 
desenvolvendo e privilegiando o comércio da área (ARANTES; MARICATO; 
VAINER, 2000, p. 44). A preservação e a restauração de centros históricos e 
de seus edifícios mostravam um desejo de criar um novo espaço, que fosse 
distinto. Essa forma de intervenção mostrava traços do que foi a fase de 
Renovação Urbana vivenciada na Europa, inserindo nessas edificações 
antigas, novos usos, ligados a atividades de cultura e lazer, e em alguns 
lugares, como em São Luís, até a moradia. Essas ações foram legitimadas pelo 
 
envolvimento da sociedade, e com parcerias do setor público e privado, tendo 
como coadjuvante nesse processo a preservação do patrimônio. Para garantir 
que os usuários certos seriam atraídos para esses centros, estabeleceu-se três 
passos importantes: 
 
1) a intervenção por projetos arquitetônicos 
(empreendimentos/comércio/residência); 
2) políticas públicas; e 
3) programa de gestão compartilhada (VARGAS; CASTILHO, 2006, p. 
36). 
 
A Gentrificação abrange o período compreendido entre 1980 a 2000. 
Tento como incentivo direto, a indústria da comunicação, especialmente a 
propaganda, transforma a cidade e a tira da posição de local de produção a 
mercadoria. Pois o mercado imobiliário junto com o poder público passa aplicar 
na região desejada, técnicas de planejamento estratégico e de mercado 
associando-o também ao marketing urbano (ARANTES; MARICATO; VAINER, 
2000, p. 66). 
Essa reinvenção urbana busca basicamente recuperar a economia 
da cidade, unindo o setor público, privado e, sobretudo os empreendedores 
imobiliários. Investindo em determinadas áreas, dando a ela caráter nobre, 
criando o emburguesamento de áreas antes consideradas pobres e/ou 
periféricas, expulsando os moradores da região. Um exemplo claro de 
gentrificação foi o projeto de urbanização da Lagoa da Jansen em São Luís do 
Maranhão, a área povoada por população com baixo poder aquisitivo, as 
residências eram palafitas, junto a lagoa mal cheirosa, logo com a urbanização 
da área, desapropriação desses cidadãos, a área ficou nobre e foi 
supervalorizada. Mas esse processo é oculto pelo discurso de melhoria da 
área, sendo as ações apresentadas sempre como revitalização. 
 
[...] usado como eufemismo: revitalização, reabilitação, revalorização, 
reciclagem, promoção, requalificação e até mesmo renascença e por 
aí a fora, mal encobrindo, pelo contrário, o sentindo original de 
invasão e reconquista, inerentes ao retorno das camadas afluentes 
ao coração da cidade [...] a gentrificação é uma resposta específica à 
máquina urbana de crescimento a uma conjuntura histórica marcada 
pela desindustrialização e consequente desinvestimentos das áreas 
 
urbanas significativas. (ARANTES; MARICATO; VAINER, 2000, p. 
30). 
 
 Embora esse processo esteja acontecendo mais nos últimos anos, 
foi em 1963 que o termo Gentrificação foi cunhado por Ruth Glass, na sua obra 
Introduction to London, aspects of change (BOTELHO, 2005, p. 55). Desde aí o 
termo vem sido utilizado para descrever inúmeros casos semelhantes de 
requalificação de áreas urbanas. O processo que no começo era espontâneo, e 
apenas acompanhado de leve interesse imobiliário, começou a partir da 
década de 90, assumir um caráter de política urbana, articulando uma 
conquista de uma classe sobre a outra. 
 Segundo Vaz e Silveira (1999, p. 57) cinco características básicas 
devem estar presentes nas intervenções de revitalização de centros urbanos: 
 
a) Humanização dos espaços coletivos produzidos; 
b) Valorização dos marcos simbólicos e históricos existentes; 
c) Incremento dos usos de lazer; 
d) Incentivo à instalação de habitações de interesse social; 
d) Preocupação com aspectos ecológicos e 
e) Participação da comunidade na concepção e implantação. 
 
 Assim, a requalificação de centros urbanos deve se caracterizar não 
somente por critérios funcionais, mas também políticos, sociais e ambientais. 
Esses critérios conferem às intervenções uma nova vitalidade não só 
econômica, mas também social. 
 
3. PERSPECTIVA HISTÓRICA DA INTERVENÇÃO URBANA 
 
A urbanização como um processo e a cidade como organismo 
concreto, são processos que marcam verdadeiramente a sociedade 
contemporânea. Pois se passou mais a compreender o espaço como uma 
construção histórica e que as cidades são resultado de todo um processo que 
vai acumulando transformações que acontecem ao longo do tempo, amarrada 
por todas as relações estabelecidas em cada momento histórico diferente, 
decorrente das necessidades específicas. 
 
A exemplo da revolução industrial que suscitou diversas 
transformações nas cidades, efetivas mudanças que reverberaram diretamente 
sobre as cidades, recebendo e fazendo mudanças. A indústria causa impacto 
sobre o urbano, por isso a expansão das cidades provocada pela 
industrialização causou o que Harduel chama de explosão demográfica, (apud 
PEREIRA, 2009, p. 39) “enquanto a população mundial quadruplica após 
1850, a população urbana se multiplica por dez”. Consequência dos progressos 
científicos e técnicos. Assim o que podemos perceber é que o crescimento das 
cidades ganha importância com a revolução industrial, permitindo que a cidade 
possa assumir uma ou vária funções.Após a II Guerra Mundial e até o último cartel do século XX, 
diferentes metrópoles ao redor do mundo, passaram por grande crescimento 
econômico de matriz fordista – produção e consumo massificado – onde o ideal 
positivista e a lógica racional-tecnicista do modernismo orientavam políticas 
urbanas equivocadas, numa renovação indiscriminada da cidade existente 
(PEREIRA, 2009, p. 46). Projetos inovadores vinham substituir a riqueza físico-
espacial e a diversidade sociocultural de áreas tradicionais, desvalorizadas e 
esvaziadas de suas funções originais e com uma arquitetura distanciada de 
valores da população. 
A revitalização de centros urbanos nos seus primórdios surge em 
confronto à renovação urbana que dominaram as intervenções urbanísticas 
entre as décadas de 30 e 70, marcadas pelo urbanismo modernista. Essas 
grandes intervenções em áreas do centro tinha um cunho de limpeza, pois 
eliminavam áreas e edifícios habitados por populações de baixa renda, 
destruíam grandes áreas para novos oferecer a elas novos usos, constituindo 
polos comerciais e de serviços, produzindo edificações e espaços públicos 
marcados pela monumentalidade. Os críticos desse tipo de intervenção no 
espaço urbano acusam-no de atender mais aos interesses do capital 
imobiliário. 
 A configuração da paisagem urbana no princípio do século XX, não 
levavam em consideração, ou se preocupavam com a beleza, buscavam mais 
a funcionalidade e por conta disso acabavam causando uma poluição visual, 
causada pela modernidade, telefones, eletricidade, mobiliário urbano e etc. e 
também cada vez mais a presença de automóveis. 
 
 Mas foi com a consolidação de uma sociedade capitalista, voltada 
para a indústria e consumo que aumentou os problemas enfrentados pelas 
cidades. Daí segundo RELPH (1985, p. 51) é que nasce o urbanismo moderno, 
visando procedimentos e ideias que objetivavam procedimentos que 
melhorassem as condições de vida, criando um sistema coerente, chamado 
“Planejamento da Cidade” De acordo com o autor: de início o planejamento das 
cidades foi concebido como meio de oferecer grandes soluções a todos os 
problemas urbanos, ou pela construção radical para o embelezamento da 
cidade ou pela construção de cidades-jardins completamente novas. Embora 
ele afirme que mesmo antes de surgir o planejamento moderno haviam surgido 
formas de enfrentar os problemas. 
 Relph (1985, p. 78) destaca como soluções da época: 
 
 - determinação de padrões de construção que visavam melhorar o 
desenvolvimento das habitações; 
 - arranjos das cidades que primava à revitalização das fachadas e 
tentando diminuindo o caráter industrial; 
 - criação de cidades modelos (séc. XIX), que contassem em áreas 
separadas, com casas, parque, biblioteca, lojas, teatros e circuito ferroviário. 
 
 Nesse sentido, as principais correntes do Urbanismo dos séculos 
XIX e XX, segundo Relph (1985, p. 54) são a Humanista, Naturalista e 
Progressista, as duas primeiras, eram basicamente anti-industrialistas, quem 
prezavam pelo bem estar do indivíduo e previam arborização e jardins. Já a 
Progressista, era absolutamente voltada para a modernidade, e fazia uso de 
vidro, concretos e armações. Embora tenha sido predominante, sempre sofreu 
críticas, pois favoreceu o crescimento da cidade, sem atenção a beleza e ao 
conforto, destruiu patrimônios arquitetônicos e fez-se perder até a estrutura 
antiga das cidades, como vielas e ruas. 
 Foi a partir da Segunda Grande Guerra, surgiram leis que 
efetivassem criação de planos oficiais de urbanização, oferecendo uma 
mudança significativa na paisagem urbana. Relph (1987, p. 62) chama atenção 
para três medidas que se tornaram padrões nesses planos, foram eles: 
Unidade de Vizinhança, que determinava que as escolas e outras instituições 
 
deveriam estar no centro das cidades e o comércio na periferia, as avenidas 
deveriam ser conforme o número de habitantes e deveria haver 10% de área 
livre; Princípio de Radburn, que adota os mesmo princípio da unidade da 
vizinhança, mas adaptando-as para veículos e por fim o Zoneamento das 
Áreas: que consistia em situar as diferentes áreas da cidade segundo as 
funções que desempenhavam, como lazer ou comércio, por exemplo, para 
controlar seus usos e determinar padrões específicos de construção. Essas 
ideias na prática não se apresentaram de maneira cabal, mas foram sendo 
adaptadas e podemos perceber sua influencia até hoje. 
 Já no Brasil, podemos identificar quatro períodos mais relevantes da 
gênese e evolução do urbanismo, citados por Ribeiro e Cardoso (apud Pereira, 
2009, p. 52). São eles: 
 
1) A Primeira República (1880-1930): carregada de resquícios 
escravagista e muito segregacionista tem predomínio do ruralismo. 
Acredita que para a constituição de uma nação, ela deve ser “purificada” 
ao máximo com a presença de indivíduos brancos, daí o incentivo 
também a imigração, não só visando atender a indústria cafeeira da 
época. Busca-se a cidade bela e limpa, e para que se consiga isso se 
fazia necessário a expulsão de todo e qualquer presença de negros e/ou 
índios. As intervenções da época são predominantemente higienistas, 
que iam desde o controle de epidemias quanto a exclusão social, 
enviando a camada pobre para os morros e outros lugares distantes. 
 
2) O Período Vargas (1930-1950): foi um período populista mas que via 
a pobreza como um entrave a modernização. Assim, tem o cuidado de 
conter conflitos sociais através de políticas públicas. Nessa época 
nasceu a “Marcha para o Oeste”, criada por Getúlio Vargas, para 
incentivar a ocupação e o progresso da região Centro-Oeste, pois havia 
muitas áreas desocupadas. Com o intuito de romper com os 
desequilíbrios regionais incentivando a migração. 
 
3) A Era do desenvolvimento (a partir de 1950): Foi marcada por uma 
acelerada modernização, baseada, sobretudo na internacionalização da 
 
economia – inicio das grandes dívidas externas – e na industrialização. 
Nessa fase a urbanização se intensifica, e gera problemas como o 
inchaço das cidades, migrações descontroladas, aumentando as 
desigualdades sociais e econômicas gerando um desequilíbrio no 
sistema liderando para o golpe militar. 
 
 Apenas no fim do século 20, que surge um novo padrão a se pensar, 
a questão ambiental. Esse tema começa a surgir como uma preocupação. 
Assim essas ideais começaram a ser desenvolvidas no Brasil, reflexo das 
influencias internacionais. 
 
 
4 REVITALIZAÇÃO: para além dos centro históricos 
 
 Com todo apanhado a cerca de urbanização feito no capítulo 
anterior, podemos perceber que o processo de revitalização pode ser parcial ou 
total. Pode em algumas situações gerar uma reconfiguração total da área, ou 
pode ser mantida algumas de suas funções. Nem sempre é um processo 
simples. Às vezes gera dúvidas e controvérsias quanto ao que se pode fazer 
ou não para se revitalizar uma área. 
 É importante que fique clara a compreensão que revitalização 
urbana não compreende apenas áreas de preservação histórica. Ela se faz 
sempre que é necessária a revitalização de uma área degradada, que 
apresenta uma subutilização ou começa a torna-se obsoleta. Essas 
revitalizações, geralmente estão ligadas ao planejamento estratégico da 
cidade, bem como ao plano diretor, surgem como projetos de modernização da 
cidade, de embelezamento e também aos interesses imobiliários. E embora as 
revitalizações possam a priori parecer atender grandes metrópoles, ela também 
um recurso utilizado por cidades de médio porte. Vejamos experiências de 
requalificação que atendem diferentes perfis de cidade e necessidade. 
 São Luís foi tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e 
Artístico Nacional) em dois momentos, o primeiro em 23 de dezembro de 1953, 
90 hectares, cerca de mil edificações foram consideradas de valor histórico. 
Depois em 6 de março de 1986 uma área maior de 160 hectares, 
 
aproximadamente2,500 imóveis passaram a ser protegidas. Foi estabelecido o 
Projeto Reviver, um projeto de intervenção gigantesco, que abrangia a Zona da 
Praia Grande, O convento das Mercês, o Centro de Criatividade Odylo Costa 
Filho e outros pontos, e mais tarde o Teatro Arthur Azevedo. Nessa fase surgiu 
também o plano piloto de habitação, adaptando e restaurando um sobrado na 
região que atendesse 10 famílias. 
 Já em Fortaleza, a principal experiência com revitalização foi com o 
Projeto de Revitalização Urbana e o Centro Dragão do Mar. O projeto visava 
recuperar uma parte da cidade e criar um centro de cultura. O projeto foi 
concebido para formar um circuito com a Avenida Monsenhor Tabosa, 
importante área comercial da cidade. A intenção desse projeto era recuperar 
essa área e dar a ela novo convívio, perdido ao longo dos anos. Perceba-se 
que nenhumas das edificações revitalizadas na área eram tombadas. 
 Em Vitória, capital do Espírito Santo, a revitalização veio como 
solução à área degradada do centro, em estado de abandono e desvalorização 
imobiliária, ausência de funcionalidade, segurança e beleza (BOTELHO, 2005, 
p. 59). Foram investidos em novas edificações e na modernização das 
existentes. 
 Temos também a experiência de Belo Horizonte, na revitalização da 
Praça Rui Barbosa, conhecida como a Praça Da Estação, o objetivo principal 
nessa intervenção foi atribuir a região um uso atual e recoloca-la na vida social 
urbana, gerando e atraindo capital cultural, criando um “produto” que pudesse 
ser vendido como capital cultural moderno e universal (ARANTES; MARICATO; 
VAINER, 2000, p. 67). 
 A revitalização pode ser realizada também através de construções 
de impactos, em lugares de localização estratégica, ou por visibilidade, 
aparência ou monumentalidade. Esses monumentos tornam-se ícones e assim 
servem de catalisadores de desenvolvimentos e ajudam a valorizar seu entorno 
e às vezes até a cidade onde se encontram. 
 Hazan (2003) aborda bastante esse lado da revitalização a partir de 
monumentos. Exemplos clássicos dessa monumentalidade gerando vitalidade, 
podemos citar o Partenon em Atenas e o Coliseu em Roma, pois geraram força 
e poder e as cidades foram crescendo ao seu redor. Na atualidade a autora, 
 
chama atenção para a França, com a construção do Arco de La Defense, a 
Ópera da Bastilha e a ampliação do Louvre, como alguns exemplos. 
 E no Brasil podemos observar o projeto do Museu Guggenheim, que 
nasceu como um empreendimento cultural que estimularia o processo de 
requalificação, recuperação e reabilitação de casas e ruas no Morro da 
Conceição e também a diminuição do tráfego de carros e ônibus, liberando 
para pedestres. 
 Em Niterói, os investimentos para gerar novos ícones se 
concretizaram através do Caminho de Niemeyer, que agrega vários projetos 
desenvolvidos pelo arquiteto, objetivando a revitalização geral do município, 
observe que no caso de Niterói o objetivo da revitalização não abrange apenas 
uma área, mas sim toda a cidade. 
 Na Inglaterra, podemos observar a revitalização da área do Soho 
em Londres, através da expulsão carente, da região, visando uma recuperação 
do valor imobiliário, perdidas por conta de degradação sofrida enquanto essa 
população menos abastada, viviam nesses locais. Deslocando essa população 
original, e atraindo residentes de mais alta renda e recuperando a atividade 
econômica do local. 
 Todas essas experiências citadas são experiências de revitalização 
urbana. Cada uma sendo utilizada de forma diferente, mas basicamente com o 
mesmo objetivo, dar um novo valor a área. Podemos perceber a diferença nos 
processos dependendo de onde são realizadas e também entre as cidades em 
que são desenvolvidas. Os projetos podem tem um lado grandioso e serem 
positivos por determinados ângulos para algumas cidades, mas em 
contrapartida, às vezes, essas políticas acabam por implantar uma segregação 
ainda maior entre a população de alta e baixa renda. 
 
 
5. CONCLUSÃO 
 
 A revitalização urbana é imprescindível para manter os edifícios 
históricos bem como a memória da cidade, mas não é só com esse objetivo. 
Com o crescimento das cidades, com constantes transformações sofridas por 
 
elas, diferentes áreas perdem visibilidades, são degradadas pelo mau uso ou 
pela má administração pública. 
 E com um mundo cada vez mais preocupado com o bem estar das 
pessoas no futuro, atrelado a questões ambientais, fazer com que todas as 
áreas possam ser aproveitadas, a requalificação urbana é cada vez mais 
exigida. 
 A concepção do urbanismo foi sendo gerada e modificada ao longo 
da história, dividiu-se em períodos bem marcados por características 
diferenciadas de acordo com o contexto da época, deixou marcas e legados, 
que foram incorporados ao urbanismo atual. O Brasil acompanhou essas 
transformações, embora com um atraso, em relação à Europa, mas venho 
caminhando para a criação e transformação do Urbanismo. 
 Assim utilizando de formas diferenciadas de requalificação urbana, 
como a Renovação, a Revitalização e Gentrificação, a paisagem vai sendo 
mudada e reutilizada, atendendo necessidades específicas para cada local. A 
preocupação com a dinâmica da cidade vem crescido, embora tenha sempre 
estado presente na construção das cidades, ainda que menos ou mais 
dependendo do contexto histórico. 
 Os casos vistos se enquadram no conceito de requalificação urbana, 
por visarem oferecer a área uma nova utilidade, criando oportunidades de 
comércio, promovendo uma imagem melhor para a cidade ou parte dela. Os 
resultados do urbanismo moderno vão sendo cada vez mais notórias na 
atualidade. Construção ou restauração levam a melhoria da paisagem. 
 Dentro do contexto da pesquisa, observamos que não é possível 
admitir apenas um conceito ou teoria de requalificação urbana, frente a tantas 
necessidades e possibilidades. Os espaços, públicos ou privados, 
desempenham funções urbanas. Assim o que é necessário é uma pesquisa 
maior, quanto a projetos de revitalização urbana, para que permita o 
desenvolvimento de novas perspectivas conceituais, formais e também formas 
de atuação, sempre questionando os modelos já existentes, pensando em 
geram melhores soluções. Lembrando também que esse processo deve estar 
inserido no contexto geral da cidade, no plano diretor, deve ser prioridade na 
expansão e melhora do ambiente. 
 
 Conclui-se também que o processo de requalificação da paisagem, 
traz benefícios a onde quer que seja implantada, quer reavivando áreas, 
prédios, oferecendo possibilidades de crescimento, ou mesmo aumento da 
visibilidade e aumento do turismo. E embora não possamos descartar alguns 
danos colaterais, como a expulsão, algumas vezes, de uma parte da 
população, para a periferia, segregando mais ainda a população de baixa 
renda. 
 Assim, espera-se que com essa pesquisa, sirva como um 
provocador de discussões no campo da requalificação da paisagem, 
suscitando interesse e pesquisas, buscando uma reflexão sobre as 
consequências e as possibilidades quanto se trata de mudar e dar nova vida a 
paisagem urbana. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.041/645>. Acesso em: 
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http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp091.asp>. Acesso em: 26 
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