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LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL DO INTERMEDIÁRIO COMERCIANTE DE PRODUTOS E SERVIÇOS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES 
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL DO INTERMEDIÁRIO 
COMERCIANTE DE PRODUTOS E SERVIÇOS NO 
COMÉRCIO ELETRÔNICO 
 
 
 
 
WANESSA LYSIANE MOREIRA DIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2018 
 
 
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES 
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
 
 
 
 
 
LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL DO INTERMEDIÁRIO 
COMERCIANTE DE PRODUTOS E SERVIÇOS NO 
COMÉRCIO ELETRÔNICO 
 
 
 
WANESSA LYSIANE MOREIRA DIAS 
 
 
 
Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes 
como requisito parcial para a conclusão do curso de pós-
graduação lato sensu em Direito do Consumidor. 
 
Professora orientadora: Amanda Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2018 
 
 
WANESSA LYSIANE MOREIRA DIAS 
 
 
 
 
LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL DO INTERMEDIÁRIO 
COMERCIANTE DE PRODUTOS E SERVIÇOS NO 
COMÉRCIO ELETRÔNICO 
 
 
Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação em 
Direito do Consumidor da Universidade Cândido 
Mendes, como parte dos requisitos para a obtenção do 
título de especialização. 
 
 
 
 
Aprovada pela Banca Examinadora em __________ 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
____________________________________________ 
Prof. 
UCAM/RJ 
 
 
 
____________________________________________ 
Prof. 
UCAM/RJ 
 
 
 
___________________________________________ 
Prof. 
UCAM/RJ 
 
 
Rio de Janeiro 
2018 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho teve como objetivo a análise e o estudo específico acerca limites à 
responsabilidade civil do intermediário comerciante de produtos e serviços no comércio 
eletrônico. Relevante e essencial se fez a abordagem de tal responsabilidade civil na vigente 
concepção processual, uma vez que a vulnerabilidade do consumidor se percebe ainda maior 
frente à cadeia de inúmeros eventuais fornecedores e intermediadores, bem como ao despreparo 
da legislação brasileira vigente a este fenômeno. Nesta esteira, primeiramente, verifica-se a 
exposição das pesquisas realizadas acerca dos temas da proteção ao consumidor na relação de 
consumo via comércio eletrônico e da legislação aplicável vigente, seguidamente da análise da 
responsabilidade civil nas relações de consumo, bem como suas vertentes quanto à 
responsabilidade civil pelo fato do produto e do serviço e à responsabilidade civil pelo vício do 
produto e do serviço. Por conseguinte, discorre-se a pesquisa realizada acerca dos limites à 
responsabilidade civil do intermediário comerciante de produtos e serviços no comércio 
eletrônico, assim como sobre a natureza jurídica da intermediação de produtos e serviços no 
comércio eletrônico, a responsabilidade civil objetiva e subsidiária do intermediário 
comerciante e a responsabilidade civil subjetiva do intermediário comerciante. Por derradeiro, 
para a realização deste trabalho de pesquisa foram utilizados os métodos monográfico e 
hipotético-dedutivo como métodos de procedimento e de abordagem, respectivamente, a 
documentação indireta como técnica de pesquisa, bem como tendo sido consideradas 
suficientes as fontes primárias e secundárias para o alcance do conteúdo proposto. 
Palavras-chave: Comércio eletrônico. Proteção do consumidor. Responsabilidade civil. Intermediário 
comerciante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The present paper aimed to analyze the specific study of the civil liability of the intermediary 
trader for products and services in e-commerce. Relevant and essential was the approach of 
such civil liability in the current procedural design, since the vulnerability of the consumer is 
perceived even greater in the chain of innumerable possible suppliers and intermediaries, as 
well as the lack of preparation of the Brazilian legislation in force to this phenomenon. Firstly, 
the research carried out on consumer protection issues in the relation of consumption through 
e-commerce and the applicable legislation in force, followed by the analysis of civil liability in 
consumer relations, as well as its aspects regarding the civil liability for the fact of the product 
and service and for civil liability for product and service addiction. Consequently, the research 
is conducted on the limits on civil liability of the intermediary trader of products and services 
in electronic commerce, as well as on the legal nature of the intermediation of products and 
services in electronic commerce, objective civil liability and subsidiary of the intermediary 
trader and the subjective liability of the intermediary trader. Finally, for the purpose of this 
research, the monographic and hypothetical-deductive methods were used as methods of 
procedure and approach, respectively, indirect documentation as research technique, as well as 
the primary and secondary sources for the scope of the proposed content. 
Keywords: E-commerce. Consumer protection. Civil liability. Intermediary trader. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 
2 
 
2.1 
 
2.2 
2.2.1 
3 
3.1 
 
3.2 
 
3.3 
4 
4.1 
 
4.2 
 
5 
 
 
5.1 
 
5.2 
 
5.3 
 
6 
 
INTRODUÇÃO 
DA PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO DE CONSUMO VIA 
COMÉRCIO ELETRÔNICO 
A BOA-FÉ OBJETIVA COMO PREVENÇÃO DE DANOS NO COMÉRCIO 
ELETRÔNICO 
O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
A TEORIA DA APARÊNCIA 
DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 
O CÓDIGO CIVIL E A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO 
BRASILEIRO 
A ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
(PLS Nº 281/2012) E O COMÉRCIO ELETRÔNICO (DEC. Nº 7.962/2013) 
O MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI Nº 12.965/2014) 
DA RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO E DO 
SERVIÇO 
A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO VÍCIO DO PRODUTO E DO 
SERVIÇO 
DOS LIMITES À RESPONSABILIDADE CIVIL DO INTERMEDIÁRIO 
COMERCIANTE DE PRODUTOS E SERVIÇOS NO COMÉRCIO 
ELETRÔNICO 
A NATUREZA JURÍDICA DA INTERMEDIAÇÃO DE PRODUTOS E 
SERVIÇOS NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E SUBSIDIÁRIA DO 
INTERMEDIÁRIO COMERCIANTE 
A RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO INTERMEDIÁRIO 
COMERCIANTE 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
6 
8 
 
12 
 
16 
19 
22 
22 
 
24 
 
26 
30 
31 
 
35 
 
39 
 
 
39 
 
41 
 
47 
 
51 
53 
 
6 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O comércio eletrônico ou e-commerce representa parte do presente e do futuro do 
comércio. Pela grande demanda de acesso e, consequentemente, negócios jurídicos praticados, 
torna-se necessário cada vez mais um olhar protetor ao consumidor tido como – ainda mais – 
vulnerável. Nesta seara se insere a questão da extensão da responsabilidade civil nos negócios 
realizados por meio da internet, sobretudo dos intermediários comerciantes. 
Neste contexto, a essência da presente monografia se dá na abordagem específica 
atinente limites à responsabilidade civil do intermediário comerciante de produtos e serviços 
no comércio eletrônico, promovendo o estudo dos contornos dispensados ao assunto. 
A escolha do tema se justifica por possuir grande relevância jurídica e social, eis que, 
com o advento do comércio eletrônico, a vulnerabilidade dos consumidores se percebe 
exponencialmente maior, principalmente ante à cadeia de fornecedores e intermediadores que 
eventualmente possa existir, bem como o despreparo da legislação brasileira para uma efetiva 
aplicação. Neste sentido, autores de distintos renomes se lançam às críticas e sugestões sobre a 
amplitude de responsabilização civil referente ao comércio eletrônico, motivo pelo qual, 
também, se agracia o presente estudo de abordagem. 
Para tanto, tendo em vista o possível desenrolar contextual, fora realizada pesquisa sobre 
a proteção dispensada ao consumidor na relação de consumo via comércioeletrônico, seu 
conceito e seus princípios de embasamento, assim como sobre a legislação aplicável existente 
no ordenamento jurídico brasileiro. Em sequência, fora elaborada análise acerca da 
responsabilidade civil nas relações de consumo, com enfoque na responsabilidade civil pelo 
fato do produto e do serviço e na responsabilidade civil pelo vício do produto e do serviço, 
análise esta que se faz fundamental para o possível cotejo referente ao tema principal. Por sua 
vez, e finalmente ao cerne do presente estudo, realizou-se pesquisa acerca dos limites à 
responsabilidade civil do intermediário comerciante de produtos e serviços no comércio 
eletrônico, abordando desde a natureza jurídica da intermediação de produtos e serviços no 
comércio eletrônico até a responsabilidade civil objetiva e subsidiária do intermediário 
comerciante e a responsabilidade civil subjetiva do intermediário comerciante. 
Cumpre referir que para a realização deste fora adotado o método de procedimento 
monográfico, posto que realizado estudo profundo acerca do tema referente à responsabilidade 
civil do intermediário comerciante de produtos e serviços no comércio eletrônico, abarcando a 
7 
 
análise dos temas que perfazem a justa aplicação da mesma pelo ordenamento jurídico, bem 
como entendimentos jurisprudenciais brasileiros, além da exposição do entendimento de 
manifesta doutrina conceituada. Nesta senda, refere-se que também fora adotado o método 
hipotético-dedutivo de abordagem, vez que se parte da análise do tema em sua concepção 
jurídica vigente frente ao comércio eletrônico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
2 DA PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR NA RELAÇÃO DE CONSUMO VIA 
COMÉRCIO ELETRÔNICO 
 
Inicialmente, registra-se que o comércio foi, é sempre será um fator de integração entre 
os países, principalmente como meio de manutenção à paz. Nas palavras de Frédéric Bastiat, 
“quando bens e serviços param de cruzar fronteiras, exércitos o fazem”. Longinquamente, essa 
integração fomentada pelo livre comércio demandava esforços incríveis, como no caso das 
“grandes navegações”. Entretanto, atualmente, o avanço tecnológico venceu todas as barreiras 
geográficas e a internet permite a negociação com indivíduos de qualquer parte do planeta, 
obviamente que tenha sinal.1 
A internet, conforme sua definição abaixo, é o cenário perfeito para aqueles 
consumidores que, por falta de tempo ou mesmo por escolha, celebrem negócios por meio do 
comércio eletrônico: 
A Internet pode ser definida como uma rede de computadores ligados entre si, 
perfazendo-se a conexão e a comunicação por meio de um conjunto de protocolos, 
denominados TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol), de maneira 
que a identificação das suas fronteiras físicas se torna impossível, em virtude da sua 
difusão pelo planeta.2 
Tradicionalmente, sabe-se que as negociações eram instrumentalizadas em meio físico 
– o papel, restando o contato pessoal imprescindível na maioria das vezes. Com o advento da 
internet, contudo, permite-se o contato e a manifestação de vontade por meio virtual, sendo 
denominado pela doutrina de comércio eletrônico.3 O doutrinador André Luiz Santa Cruz 
Ramos ilustra sobre o ponto em questão: 
 Assim, caracteriza-se o comércio eletrônico sempre que a venda de produtos ou 
serviços é instrumentalizada por meio de transmissão eletrônica de dados, o que 
ocorre no ambiente virtual da rede mundial de computadores (internet). Perceba-se 
que não importa se o objeto do negócio é virtual (uma música ou vídeo) ou físico (um 
relógio, uma geladeira ou uma roupa), mas se a manifestação de vontade é 
instrumentalizada em meio virtual ou físico. Neste caso, as partes costumam assinar 
de próprio punho os contratos (às vezes se exigindo o reconhecimento da assinatura 
por tabelião e até mesmo a assinatura conjunta de testemunhas). Naquele, as partes se 
utilizam de assinaturas digitais.4 
 
1 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 6ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p. 509. 
2 MARTINS, Guilherme Magalhães. Contratos Eletrônicos de Consumo. 3ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: 
Atlas, 2016. p. 24. 
3 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. op. cit. p. 509. 
4 Idem. 
9 
 
Na mesma perspectiva, Fábio Ulhôa Coelho5 comenta sobre o comércio eletrônico, já 
costumeiro nos dias atuais: “Comércio eletrônico, assim, significa os atos de circulação de bens, 
prestação ou intermediação de serviços em que as tratativas pré-contratuais e a celebração do 
contrato se fazem por transmissão e recebimento de dados por via eletrônica.” 
Em outro viés, para a correta aplicação do Código de Defesa do Consumidor, dos seus 
princípios e normas, faz-se necessária a caracterização de uma relação jurídica de consumo, a 
qual se caracterizará quando em polos opostos estiverem o consumidor e o fornecedor, tendo 
como objeto produtos ou serviços.6 
O Código de Defesa do Consumidor – Lei 8.078/90, em seu artigo 2º, 7 estabelece uma 
noção objetiva de consumidor, assentando que o consumidor é “toda pessoa física ou jurídica 
que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. Felipe Braga Netto agrega: 
Percebe-se que a legislação brasileira, tendo optado por definir a figura do 
consumidor, limitou sua configuração àqueles que adquirem ou utilizam produtos ou 
serviços como destinatários. Não é consumidor, assim, quem adquire o produto como 
etapa na cadeia de produção, como a empresa que compra cola para inserir no 
processo produtivo dos calçados que fabrica. Não é fácil nem simples definir o que 
seja o destinatário final.8 
Ao encontro, conforme bem narra o doutrinador Antonio Herman Benjamin,9 o 
consumidor, para efeitos jurídicos, caracteriza-se mormente pela destinação que dá ao bem do 
que pelo seu próprio status social, ou pela qualidade ou valor do bem em si, cabendo-lhe a 
expectativa no sentido de receber produtos e serviços de qualidade, a preço justo e com 
informação adequada. 
Já o fornecedor, exposto no artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor, 10 é definido 
de forma ampla a não deixar de abranger quem, com sua atividade, disponibilize produtos ou 
serviços mediante pagamento no mercado de consumo: “Fornecedor é toda pessoa física ou 
jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, 
 
5 COELHO apud BARBALHO, Anna Beatriz Cabral. Contratos internacionais de comércio eletrônico: 
características e regulamentação. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,contratos-
internacionais-de-comercio-eletronico-caracteristicas-e-regulamentacao,588687.html>. Acesso em: 30 mai. 2018. 
6 NETTO, Felipe Braga. Manual de Direito do Consumidor à luz da jurisprudência do STJ. 13ª ed. rev., atual. 
e ampl. Salvador: Ed. JusPodivm, 2018. p. 125. 
7 BRASIL. Lei º 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a proteção 
do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. 
Acesso em: 25 mai. 2018. 
8 NETTO, Felipe Braga. op. cit. p. 126. 
9 BENJAMIN apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit. p. 111-112. 
10 BRASIL. Lei º 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a proteção 
do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. 
Acesso em: 25 mai. 2018. 
10 
 
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” 
Ainda, de acordo à conceituação, explana Netto sobre a importância da habitualidade: 
Sem habitualidade no desempenho da atividade dificilmente teremos a figura do 
fornecedor. Nãoé fornecedor, por exemplo, o escritório de advocacia que, 
pretendendo remodelar o ambiente de trabalho, põe à venda os imóveis antigos. Será, 
à evidência, uma relação civil de compra e venda. Diferente, no entanto, seria se os 
imóveis fossem adquiridos em loja que os comercializa, porquanto a habitualidade, 
presente aqui, estaria ausente lá.11 
Ocorre que a despersonalização e massificação das relações jurídicas próprias da 
contratação eletrônica revisitam a figuram dos sujeitos de direito envolvidos no negócio.12 
Afinada ao entendimento, Claudia Lima Marques bem elucida sobre o sujeito 
fornecedor ser agora um ofertante profissional automatizado e globalizado, presente em uma 
cadeia sem fim de intermediários (portal, website, link, provider, empresas de cartão de crédito 
etc.), sem sede e sem tempo (a oferta é permanente, no espaço privado e público), falando todas 
as línguas (ou ao menos a língua franca, o inglês) e se utilizando ainda da linguagem virtual 
(imagens, sons, testos em janelas, textos interativos, ícones etc.) para marketing, negociação e 
contratação.13 
Nessa toada, não podem os contratos de consumo na internet serem vistos 
isoladamente, verificando-se, na prática moderna, que os agentes econômicos envolvidos 
tendem a se especializar visando cada etapa da produção em que sejam mais eficientes. O 
mercado se regula eficientemente, formando-se assim a corrente contratual, a partir da 
variedade de agentes nos diferentes níveis da cadeia produtiva.14 
Dito isto, afere-se uma maior complexidade na cadeia de fornecimento quanto a novas 
formas de atuação frente aos consumidores, possibilitada pela Internet, tornando a 
vulnerabilidade dos mesmos ainda mais evidenciada.15 Nas palavras de Guilherme Magalhães 
Martins: 
A ausência de uma regulação, tratando-se de relações de consumo cuja insegurança e 
risco avultam, num meio eletrônico reconhecidamente passível de violação, por meio 
de uma rede aberta, como a Internet, agrava o quadro da vulnerabilidade do 
consumidor, tido como a mais fraca das partes envolvidas. Diante disso não pode ser 
recusada aplicação às normas da Lei 8.078/1990, erigidas ao status de garantia 
constitucional e princípio geral da ordem econômica, respectivamente, na forma dos 
arts. 5º, XXXII, e 170, V, da CF/1988.16 
 
11 NETTO, Felipe Braga. op. cit. p. 131. 
12 MARTINS, Guilherme Magalhães. Responsabilidade Civil por Acidente de Consumo na Internet. 2ª ed. 
rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p. 65. 
13 MARQUES apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op.cit. p. 65. 
14 MARTINS, Guilherme Magalhães. op.cit. p. 142. 
15 Ibidem, p. 140-142. 
16 MARTINS, Guilherme Magalhães. op.cit. p. 44-45. 
11 
 
Consoante explanação de Cristiano Vieira Sobral Pinto, os sítios eletrônicos onde são 
realizadas as ofertas ou conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de 
destaque e de fácil visualização, informações referentes ao nome empresarial e número de 
inscrição do fornecedor, quando houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no 
Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda; endereço físico e eletrônico, 
além de demais informações necessárias para a sua localização e contato; salientar as 
características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança 
dos consumidores; a discriminação no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias, 
tais como as de entrega ou seguros, bem como as condições integrais da oferta, incluídas 
modalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da 
entrega do produto; e por fim, informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições 
à fruição da oferta.17 
Ademais, com o objetivo de garantir o atendimento facilitado ao consumidor no 
comércio eletrônico, o fornecedor deverá: 
I - apresentar sumário do contrato antes da contratação, com as informações 
necessárias ao pleno exercício do direito de escolha do consumidor, enfatizadas as 
cláusulas que limitem direitos; 
II - fornecer ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e 
correção imediata de erros ocorridos nas etapas anteriores à finalização da 
contratação; 
III - confirmar imediatamente o recebimento da aceitação da oferta; 
IV - disponibilizar o contrato ao consumidor em meio que permita sua conservação e 
reprodução, imediatamente após a contratação; 
V - manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, que 
possibilite ao consumidor a resolução de demandas referentes a informação, dúvida, 
reclamação, suspensão ou cancelamento do contrato; 
VI - confirmar imediatamente o recebimento das demandas do consumidor referidas 
no inciso, pelo mesmo meio empregado pelo consumidor; e 
VII - utilizar mecanismos de segurança eficazes para pagamento e para tratamento de 
dados do consumidor.18 
A contratação eletrônica de consumo por meio da internet certamente acentua a 
vulnerabilidade do consumidor, pois todo o controle informacional, técnico e de linguagem está 
plenamente concentrado do lado do fornecedor. Tal situação é ainda evidenciada por fatores 
como a própria autoria da mensagem, a identidade e a localização do fornecedor.19 
 
17 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito Civil Sistematizado. 9ª ed. rev., atual. e ampl. Salvador: Ed. 
JusPodivm, 2018. p. 397. 
18 BRASIL. Decreto 7.962, de 15 de março de 2013. Regulamenta a Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, 
para dispor sobre a contratação no comércio eletrônico. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/decreto/d7962.htm>. Acesso em: 28 mai. 2018. 
19 MARQUES apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit. p. 68. 
12 
 
Neste contexto, uma maior proteção ao consumidor se faz necessária quando do 
comércio eletrônico, demandando um fortalecimento da legislação consumerista e a 
observância dos princípios incidentes. 
 
2.1 A BOA-FÉ OBJETIVA COMO PREVENÇÃO DE DANOS NO COMÉRCIO 
ELETRÔNICO 
 
De acordo com Felipe Braga Netto, a boa-fé objetiva talvez seja o mais importante 
princípio do direito contratual contemporâneo, caracterizando-se por ser um dever, imposto a 
quem quer que tome parte em relação negocial, de agir com lealdade e cooperação, abstendo-
se de condutas que possam lesar a legítima expectativa da outra parte. 20 
O Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/1990, foi a primeira norma a prever 
expressamente a boa-fé objetiva e efetivamente aplica-la de modo correto no campo das 
obrigações entre consumidores e fornecedores.21 Em seu artigo 4º, inciso III, fixou a boa-fé 
como cláusula geral de abertura, a qual permite ao aplicador ou intérprete o teste de 
compatibilidade das cláusulas ou condições gerais dos contratos de consumo.22 No artigo 51, 
inciso IV, do referido diploma legal, a boa-fé está associada à equidade: 
Art. 4º, inciso III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de 
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de 
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos 
quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com 
base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; 
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao 
fornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas 
iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam 
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; 
Ante o dispositivo em comento, oportuno o comentário elaborado por Judith Martins-
Costa, que esclarece acerca da atuação do magistrado nos casos em que incidem os dispositivos: 
No caso concreto, o juiz deverá precisar o que a sociedade onde vive tem para si com 
“incompatibilidade com a boa-fé”, tarefa eminentementehermenêutica. Essa 
valoração determinará sua premissa. Uma vez configurada, o caso é simplesmente de 
aplicar a norma, havendo como consequência jurídica a nulidade de disposição 
contratual.23 
O atual Código Civil Brasileiro (2002) adota a dimensão concreta da boa-fé, como já 
fazia o Código de Defesa do Consumidor e, nesta seara, prevê o Enunciado nº 27 do CJF/STJ: 
 
20 NETTO, Felipe Braga. op. cit. p. 90. 
21 GARCIA, Leonardo de Medeiros. Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo. 13ª ed. 
rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2017. p. 61. 
22 NETTO, Felipe Braga. op. cit. p. 90. 
23 MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1999. p. 327. 
13 
 
“Na interpretação da cláusula geral da boa-fé objetiva, deve-se levar em conta o sistema do CC 
e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos”. Flávio 
Tartuce elucida que um desses estatutos normativos é justamente a Lei 8.078/1990, devendo-
se, pois, preservar o tratamento dado à boa-fé objetiva pelo CDC.24 
Fernando Noronha,25 diferenciando a boa-fé subjetiva da objetiva, doutrina que a boa-
fé subjetiva diz respeito a dados internos, fundamentalmente psicológicos, atinentes 
diretamente ao sujeito; ao passo que a boa-fé objetiva diz respeito a elementos externos, a 
normas de conduta que determinam como ele deve agir. Isto é, em um caso está de boa-fé quem 
ignora a real situação jurídica e, em outro caso, está de boa-fé quem tem motivos para confiar 
na contraparte. Uma é boa-fé estado, a outra, boa-fé princípio: 
O princípio da boa-fé, portanto, propugna o justo equilíbrio nas relações negociais 
consumeristas, em uma correta harmonia entre as partes, em todos os momentos relativos à 
prestação de serviços e ao fornecimento de produtos.26 
Na mesma linha, Cristiano Vieira Sobral Pinto27 aduz que a boa-fé objetiva consiste em 
um dever de probidade entre as partes, de transparência e lisura. Não está ligada ao ânimo 
interior das pessoas envolvidas na relação – na realidade, constitui um conjunto de padrões 
éticos de comportamento, devendo, inclusive, ser observada em todas as fases do contrato, seja 
na fase pré-contratual, seja na fase de conclusão do contrato, ou na fase pós-contratual. 
Em verdade, consoantes os ensinamentos de Cristiano Heineck Schmitt e Fernanda 
Nunes Barbosa,28 o dever de reparar gerado a partir da ideia de uma responsabilidade pré-
contratual não é o de uma obrigação de fazer decorrente de um contrato anterior (pré-contrato 
ou contrato preliminar) ao principal, mas de deveres decorrentes da boa-fé objetiva, de 
preservação das expectativas dos contratantes e de não-indução a gastos inúteis face à não-
firmação de um acordo por uma das partes: 
Os aspectos fundamentais para o estabelecimento da responsabilidade pré-contratual 
são a noção de boa-fé objetiva, de confiança, de contato social e a ideia de que a 
obrigação é um processo de atos destinados a um fim, e que é o perfeito 
adimplemento. [...]. No caso da responsabilidade pós-contratual, assim como ocorre 
no momento anterior à celebração do contrato, o fundamento ensejador da reparação 
do prejuízo auferido por uma das partes é a quebra de um dever da boa-fé objetiva. 
Tanto na responsabilidade pós-contratual como na pré-contratual, podemos observar 
 
24 TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 6ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; 
São Paulo: Método, 2016. p. 624. 
25 NORONHA apud GARCIA, Leonardo de Medeiros. op. cit., p. 61. 
26 LEHFELD, Lucas de Souza. Revisaço - Questões comentadas e organizadas por disciplina e assunto: 
Procuradoria do Estado. 4ª ed. rev., atual. e ampl. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 1124. 
27 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. op. cit., p. 362. 
28 SCHMITT, Cristiano Heineck; BARBOSA, Fernanda Nunes. Manual de Direito do Consumidor. Porto 
Alegre: [s.n.], 2016. p. 109. 
14 
 
deveres de omitir comportamentos que venham a macular o contrato, bem como 
deveres de agir que asseguram o melhor adimplemento ou o fim do contrato.29 
Os autores advertem, ainda, que o escopo da responsabilização posterior ao contrato é 
o de conferir segurança ao tráfico jurídico, e proteger a confiança, por meio de imposição de 
deveres acessórios independentes da obrigação principal. Trata-se a responsabilidade pós-
contratual como uma projeção para frente da responsabilidade pré-contratual.30 
 Não obstante, o atual Código Civil apresenta três funções importantes da boa-fé 
objetiva, as chamadas funções tríplices da boa-fé.31 
Flávio Tartuce32 explana com distinção sobre o tema: 1º) Função de interpretação (art. 
1 O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quandodo 
CC33) – os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar da 
sua celebração. A boa-fé é consagrada neste dispositivo como meio auxiliador do aplicador do 
direito para a interpretação dos negócios de maneira mais favorável a quem esteja de boa-fé; 
2º) Função de controle (art. 187 do CC34) – aquele que contraria a boa-fé objetiva comete abuso 
de direito. A quebra ou desrespeito à boa-fé objetiva conduz ao caminho sem volta da 
responsabilidade independentemente de culpa, seja pelo Enunciado nº 2435 ou pelo Enunciado 
nº 3736, ambos da I Jornada de Direito Civil; 3º) Função de integração (art. 422 do CC37) – 
relativamente à aplicação da boa-fé em todas as fases negociais, foram aprovados dois 
enunciados doutrinários pelo Conselho de Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, 
Enunciado nº 2538 da I Jornada e Enunciado nº 17039 da III Jornada. Tais enunciados, ainda que 
se pareçam, possuem conteúdos diversos, dirigindo-se o primeiro ao juiz, ao aplicador da norma 
no caso concreto e, o segundo, às partes do negócio jurídico. 
Assim, vê-se que da boa-fé objetiva decorrem múltiplos deveres anexos, deveres de 
conduta que impõem às partes, ainda na ausência de previsão legal ou contratual, o dever de 
 
29 SCHMITT, Cristiano Heineck; BARBOSA, Fernanda Nunes. op. cit., p. 109-111. 
30 Ibidem, p. 111. 
31 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. op. cit., p. 368. 
32 TARTUCE, Flávio. op. cit., p. 626. 
33 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
34 Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites 
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
35 Enunciado nº 24: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação 
dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. 
36 Enunciado nº 37: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se 
somente no critério objetivo-finalístico. 
37 Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os 
princípios de probidade e boa-fé. 
38 Enunciado nº 25: O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas 
fases pré-contratual e pós-contratual. 
39 Enunciado nº 170: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após 
a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. 
15 
 
agir lealmente.40 As obrigações principais, como as de fazer, de dar e não fazer, são os deveres 
principais. Já os deveres anexos (acessórios, laterais) não possuem lista certa, mas podem ser 
exemplificados pela proteção, informação, cooperação, lealdade e confiança.41 
Portanto, tem-se que os princípios que regem as relações de consumo dialogam entre si, 
estando, naturalmente, interligados. O dever de informarbem e lealmente decorre da boa-fé 
objetiva, pois, na ausência das informações, a própria aferição do cumprimento ou não dos 
padrões desejáveis resta prejudicada.42 
O Superior Tribunal de Justiça, atento a este ponto, firma jurisprudência: 
Direito do consumidor. Recurso especial. Ação de indenização por danos morais e 
materiais. Viagem ao exterior. Passageira boliviana que adquiriu bilhete aéreo com 
destino à França e teve seu ingresso negado naquele país por não possuir visto 
consular. Fornecedor que não prestou informação adequada sobre a necessidade de 
obtenção do visto. Vício do serviço configurado. 
- De acordo com o § 2º do art. 20 do CDC, consideram-se impróprios aqueles serviços 
que se mostram inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam. 
- A aferição daquilo que o consumidor razoavelmente pode esperar de um serviço 
está intimamente ligada com a observância do direito do consumidor à 
informação, previsto no inciso III do art. 6º do CDC. 
- Além de claras e precisas, as informações prestadas pelo fornecedor devem conter 
as advertências necessárias para alertar o consumidor a respeito dos riscos que, 
eventualmente, podem frustrar a utilização do serviço contratado. 
- Para além de constituir direito básico do consumidor, a correta prestação de 
informações revela-se, ainda, consectário da lealdade inerente à boa-fé objetiva 
e constitui o ponto de partida a partir do qual é possível determinar a perfeita 
coincidência entre o serviço oferecido e o efetivamente prestado. 
- Na hipótese, em que as consumidoras adquiriram passagens aéreas internacionais 
com o intuito de juntas conhecer a França, era necessário que a companhia aérea se 
manifestasse de forma escorreita acerca das medidas que deveriam ser tomadas pelas 
passageiras para viabilizar o sucesso da viagem, o que envolve desde as advertências 
quanto ao horário de comparecimento no balcão de "check-in" até mesmo o alerta em 
relação à necessidade de obtenção do visto. 
- Verificada a negligência da recorrida em fornecer as informações necessárias para 
as recorrentes, impõe-se o reconhecimento de vício de serviço e se mostra devida a 
fixação de compensação pelos danos morais sofridos. 
Recurso especial provido para condenar a recorrida a pagar às recorrentes R$ 
20.000,00 (vinte mil reais) a título de compensação por danos morais. Ônus 
sucumbenciais redistribuídos.43 (grifo nosso) 
 
40 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 90. 
41 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. op. cit., p. 366. 
42 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 91. 
43 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 988595/SP. Recorrente: Rosely Ortiz Chamma e 
outro. Recorrido: Compagnie Nationale Air France. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília/DF, 18 de 
setembro de 2017. Disponível em: 
<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?data=%40DTDE+%3E%3D+20091119&livre=%28%28cor
reta+presta%E7%E3o+de+informa%E7%F5es%29+E+%28%22NANCY+ANDRIGHI%22%29.min.%29+E+%
28%22Terceira+Turma%22%29.org.&&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 27 mai. 2018. 
16 
 
Por fim, a lição de Leonardo de Medeiros Garcia rememora que a boa-fé deverá ser 
utilizada com vistas a equilibrar as relações de consumo. A proteção conferida ao consumidor 
por meio do brocardo “tratar desigualmente os desiguais” deve ser realizada na medida a 
proporcionar equilíbrio entre as partes. Jamais poderá ser utilizada de forma a beneficiar 
desproporcionalmente o consumidor em detrimento do fornecedor, pois assim se estaria 
admitindo a permanência do desequilíbrio já existente, porém em favor do consumidor.44 Neste 
viés, sábias as palavras da Ministra Nancy Andrighi: 
Assim, embora haja o reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor nas relações 
de consumo – art. 4º, I, do CDC – os direitos a ele conferidos pela legislação 
consumerista não são absolutos, razão pela qual sua aplicação deve ser analisada 
sempre com as vistas voltadas ao desejável equilíbrio da relação estabelecida entre o 
consumidor e o fornecedor. A proteção da boa-fé nas relações de consumo, portanto, 
não implica necessariamente favorecimento indiscriminado do consumidor, em 
detrimento de direitos igualmente outorgados ao fornecedor.45 
 
2.2 O PRINCÍPIO DA CONFIANÇA NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
 
A boa-fé objetiva e a confiança são conceitos que se aproximam. A confiança é, em 
regra, a base de comportamentos sociais ou jurídicos individuais e, tendo-se em conta a 
perspectiva da comunidade, há nestes comportamentos a crença de uma conduta correra por 
parte dos demais, ou à falta desta, a ocorrência de sanções (consequências) na hipótese de 
violação. Daí porque a proteção da confiança abranger essencialmente as expectativas de 
cumprimento de determinados deveres de comportamento.46 
Cláudia Lima Marques clarifica que confiar é acreditar, manter com fé e fidelidade a 
conduta, as escolhas e o meio. A confiança é aparência, transparência, informação, diligência e 
ética ao exteriorizar vontades negociais. Nesse sentido, a autora, referindo-se ao novo espaço 
no comércio, via a internet, indaga sobre como conquistar a confiança dos consumidores nesta 
nova forma de fazer comércio e proteger suas expectativas normativas e legítimas.47 
Segundo a própria, o Direito pode auxiliar a estabelecer este novo paradigma se 
conseguir firmar a devida proteção ao usuário leigo, por meio da exigência de transparência; da 
 
44 GARCIA, Leonardo de Medeiros. op. cit., p. 68. 
45 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.120.113/SP. Recorrente: Ministério Público do 
Estado de São Paulo. Recorrido: Makro Atacadista S/A. Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília/DF, 15 de 
fevereiro de 2011. Disponível em: 
<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ITA&sequencial=1037248&num_re
gistro=200900161040&data=20111010&formato=PDF>. Acesso em: 27 mai. 2018. 
46 MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2016. p. 254. 
47 MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor: um estudo dos 
negócios jurídicos de consumo no comércio eletrônico. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 32. 
17 
 
redução da assimetria informacional; do respeito ao direito de o comprador se arrepender da 
compra; de mais segurança com os meios de pagamento no ambiente virtual; e de mais 
diligência com os dados coletados. Por isso, a confiança seria o paradigma necessário para 
adaptar o direito do consumidor ao comércio eletrônico.48 
Assim como a boa-fé objetiva, o princípio da confiança é incidente sobre cada fase dos 
contratos eletrônicos de consumo, desde o momento pré-contratual, formação e execução do 
negócio, até o momento pós-contratual, posterior ao cumprimento da obrigação principal por 
pelas partes.49 
No tocante às relações de consumo, Miragem traz que a proteção da confiança é antes 
de tudo uma resposta à massificação das contratações e das práticas negociais de mercado. Uma 
das consequências deste fenômeno nas relações de consumo é a crescente despersonalização do 
contrato, fazendo com que os consumidores sejam identificados pelos fornecedores não mais 
pessoalmente, senão a partir de toda a espécie de informação, como um número ou uma senha, 
por exemplo.50 Em adendo, Marques corrobora: 
[...] a fluidez ou a desmaterialização da contratação é um elemento adicional de 
insegurança a ser considerado, pois o fornecedor não aparece materializado na figura 
do vendedor; o fornecedor não tem mais “cara”, apenas uma marca, um nome 
empresarial, uma determinada imagem [um nome de domínio]; “o fornecedor não tem 
endereço comprovável, mas apenas “informável”.51 
Entretanto, o comércio eletrônico ainda desperta a desconfiança de alguns, 
especialmente consumidores que teriam receio de adquirir via internetpor não confiar no 
ambiente virtual, ou de outros que, embora já tenham adquirido, experimentaram alguma 
frustração com a negociação (como a não entrega do bem, a dificuldade de devolução em razão 
de arrependimento ou de troca por vício, o receio de fornecer dados bancários ou número do 
cartão de crédito etc.).52 
Neste cenário, os vendedores intermediários assumem um papel relevante no ambiente 
eletrônico, pois seus nomes (e marcas) dão credibilidade aos contratos realizados a partir de sua 
plataforma. É comum encontrar pessoas que apontam um ou alguns poucos sites de compras 
em que confiam e realizam negócios, ou simplesmente não confiam53. Nesse seguimento, cita-
se a jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro: 
 
48 MARQUES apud TEIXEIRA, Tarcísio. Comércio eletrônico: conforme o Marco Civil da Internet e a 
regulamentação do e-commerce no Brasil. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 45. E-book. 
49 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 109. 
50 MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista 
dos Tribunais, 2016. p. 254. 
51 MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção do consumidor: um estudo dos 
negócios jurídicos de consumo no comércio eletrônico. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. p. 95-96. 
52 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 43. 
53 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 47. 
18 
 
APELAÇÃO. RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE 
SERVIÇO. PACOTE TURÍSTICO. DANO MORAL. OCORRÊNCIA. VALOR DA 
VERBA. Sentença que julgou procedente a pretensão exordial, para condenar a ré a 
pagar à autora a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por danos morais, além do 
pagamento de custas e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da 
condenação. Incontroversa a falha na prestação do serviço. Lide que deve ser julgada 
à luz do Código de Defesa do Consumidor. Fornecedora que não produziu qualquer 
prova de que tivesse efetuado a reserva em nome da cliente na forma contratada. 
Desrespeito ao princípio da vinculação à oferta, previsto no artigo 35 do Código de 
Defesa do Consumidor. Dano moral, configurado, não só pela frustração da legítima 
expectativa do consumidor e da sensação de enganosidade, como também pelo 
desrespeito à boa-fé objetiva em suas vertentes de lealdade, confiança e transparência. 
Precedentes do desta Corte de Justiça. Verba reparatória fixada em R$ 5.000,00 (cinco 
mil reais), que não merece ser reduzida, por não ser exorbitante, mas sim irrisória, 
embora não possa ser majorada por força da vedação à reformatio in pejus. Artigo 
557, caput, do Código de Processo Civil. NEGATIVA DE SEGUIMENTO.54 
 Titulares de sites intermediários de vendas, denominados por Teixeira como 
comerciantes, têm trabalhado cada vez mais para conquistar a confiança de seus clientes, haja 
vista que sua clientela é seu maior patrimônio. Teixeira segue elucidando que esse fato está 
relacionado ao aviamento do estabelecimento empresarial.55 Nas palavras de Oscar Barreto 
Filho, “aviamento é a aptidão de produzir lucro conferido ao estabelecimento pelo resultado de 
variados fatores: pessoais, materiais e imateriais. Trata-se de um atributo do estabelecimento, 
sendo a clientela um dos fatores do aviamento.”56 
O aviamento pode ser classificado em objetivo e subjetivo. O aviamento objetivo 
relaciona-se a aspectos extrínsecos à atividade do empresário, como é o caso da 
localização do estabelecimento (local goodwill); por sua vez, o aviamento subjetivo 
decorre de aspectos intrínsecos e conceituais quanto à atuação do empresário, como a 
sua competência e a sua boa fama diante de seu negócio (personal goodwill).57 
É sob a perspectiva do aviamento subjetivo que os sites de intermediação estão 
almejando fortificar a relação com seus clientes, pois essas empresas, conforme bem evoca 
Teixeira, não gozam de grandes estruturas físicas patrimoniais, sendo que o seu aviamento 
(aptidão para produzir lucro) está pautado fundamentalmente na confiança da clientela. Para 
tanto, elas têm implantado práticas de melhor utilização da plataforma, bem como estão atuando 
junto aos seus fornecedores, a fim de aumentar o nível de segurança e a qualidade nas relações 
contratuais.58 
 
54 BRASIL. Apelação Cível nº 0045913-46.2013.8.19.0001/RJ. Apelante: Averiano Machado da Boa Morte 
Apelados: Mapfre Vera Cruz Seguradora S/A. Relator: Desembargador Alcides da Fonseca Neto. Rio de 
Janeiro/RJ, 11 de dezembro de 2015. Disponível em: 
<http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ProcessarConsJuris.aspx?PageSeq=1&Version=1.0.3.54>. Acesso em: 29 mai. 
2018. 
55 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., loc. cit. 
56 BARRETO FILHO apud TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., loc. cit. 
57 VERÇOSA apud TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., loc. cit. 
58 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 48. 
19 
 
Assim, acentua-se a ponderação de Tarcísio Teixeira sobre a conjuntura que se 
encontram os intermediários de compras pela internet: 
Quanto mais esclarecerem e informarem seus clientes e potenciais clientes acerca das 
peculiaridades da contratação eletrônica mais confiança obterão dos consumidores. 
Como se sabe, aqueles sites de negócios que insistem em omitir seus dados, como 
nome empresarial, endereço físico, formas alternativas de contato, entre outros, 
estariam perdendo espaço para aqueles que pretendendo ampliar a confiança de seus 
clientes procurariam ser o mais transparentes possível.59 
No mais, para além dos parâmetros da aplicação do princípio da boa-fé objetiva, o 
princípio da confiança, em alguns casos, funda-se em uma aparência de legitimidade jurídica,60 
que a doutrina denomina teoria da aparência, a qual trataremos a seguir. 
 
2.2.1 A TEORIA DA APARÊNCIA 
 
Antes mesmo à vigência do Código de Defesa do Consumidor, diante da insuficiência 
do Código Civil (então em vigor, 1916), doutrina e jurisprudência já desenvolviam soluções 
inspiradas no direito comparado, visando determinar o alcance da responsabilidade, mesmo 
sem existência de uma relação jurídica formal, mas decorrente apenas da confiança gerada na 
parte.61 
Sob tal inspiração, desenvolveu-se na doutrina e jurisprudência brasileira a teoria da 
aparência, fundamento da responsabilidade daqueles a quem, em face da boa-fé despertada na 
contraparte, no outro sujeito da relação negocial, ou por uma conduta social típica, ensejava 
responsabilidade daquele a quem se aparentava representar.62 Bruno Miragem, cobre o tema, 
complementa: 
A teoria da aparência, neste sentido, tem seu fundamento no princípio da confiança, o 
qual, de certo modo, objetiva o fundamento da responsabilidade das partes (excluindo 
a exigência de culpa), do mesmo modo como vai suprimir a importância sobre a fonte 
da responsabilidade, se contratual ou extracontratual, uma vez que sua proteção será 
exigível em qualquer um dos regimes, determinando-lhes um tratamento unitário.63 
Neste passo, Martins menciona sobre a identificação da aparência com o aparecimento 
do irreal como real, quando um fenômeno, por si mesmo, gera outro fenômeno, fazendo-o 
parecer real, embora seja, na verdade, irreal. 64 Sobre a função da aparência, o autor, 
distinguindo três concepções que divergem sobre o tema (a alemã, a francesa e a italiana), 
 
59 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 50. 
60 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 108. 
61 MIRAGEM, Bruno. op. cit., p. 263. 
62 Idem. 
63 Idem. 
64 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 112. 
20 
 
ressalta que é aquela de legitimar o terceiro a tratar com aquele que parece titular de uma 
situação jurídica, como se este o fosse realmente.65 
A aplicação da teoria da aparência supõe a existência de três pessoas: o titular real do 
direito, o titular aparente e o terceiro contratante (bem como um conflito de interesses entre o 
primeiro e o último).66 Já quantoao seu objetivo, em nome da proteção do sujeito de boa-fé, é 
desconsiderar o vício interno de uma situação aparente válida para fazer valer a situação como 
se perfeita e regular fosse – e para assegurar o agente que, de boa-fé, negocia com um falso 
titular do direito, a lei impõe a produção dos mesmos efeitos jurídicos que o negócio surtiria se 
ocorresse com o assentimento do verdadeiro legitimado.67 
Ainda sobre os comentários do autor Martins, essencial citar que, além da boa-fé do 
terceiro contratante, faz-se necessário o elemento objetivo consistente em uma aparência 
suficientemente forte, assim como a existência de algum tipo de ação ou omissão por parte do 
titular efetivo do direito, a justificar a exigibilidade da situação aparente.68 
Nesse tema, elucidativas são as palavras de Anderson Schreiber69 ao aduzir que a 
hipótese da representação aparente pode ser analogicamente aplicada ao caso concreto, 
devendo-se atentar se a confiança depositada pelo terceiro é legítima, de modo que, se este agiu 
de forma descuidada, não se pode vincular o representado. 
Ademais, essencial sedimentar o entendimento consoante o ilustre doutrinador Orlando 
Gomes: 
[...] deve-se permitir que tomem a aparência como realidade por três razões principais: 
1.ª para não criar surpresas à boa-fé nas transações do comércio jurídico; 
2.ª para não obrigar os terceiros a uma verificação preventiva da realidade do que 
evidencia a aparência; 
3.ª para não tornar mais lenta, fatigante e custosa a atividade jurídica. 
A boa-fé nos contratos, a lealdade nas relações sociais, a confiança que devem inspirar 
as declarações de vontade e os comportamentos exigem a proteção legal dos interesses 
jusformizados em razão da crença em uma situação aparente, que tomam todos como 
verdadeira.70 
As regras da aparência se justificam pela necessidade de atribuir uma obrigação a cargo 
da pessoa que, de uma forma ou de outra, contribuiu para criar uma situação enganosa.71 
 
65 Ibidem, p. 113. 
66 BÉNABENT apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., loc. cit. 
67 KONDER apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., loc. cit. 
68 BÉNABENT; RIZZARDO apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 114. 
69 SCHEREIBER apud TEPEDINO, Gustavo. A parte Geral do Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 
2002. p. 247. 
70 GOMES apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 118. 
71 CALAYS-AULOY apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 119. 
21 
 
Em vista disso, adequando o tema ao presente estudo, nota-se que, acerca da 
responsabilidade do fornecedor aparente, ou seja, o site comerciante, se este não quiser ser tido 
como fornecedor, com o ônus daí decorrente, precisará esclarecer por técnica de marketing 
adequada que não se trata do fabricante do bem, o que implicará confiança junto ao público.72 
Para Martins, enquanto perdurar a situação e o site intermediador não der publicidade à 
pertinente realidade, o mesmo deverá assumir os efeitos dos atos estipulados aos terceiros de 
boa-fé.73 
Ao final, essencial mencionar que a aplicação da teoria da aparência pressupõe rigorosa 
verificação dos seus pressupostos, como modo de se evitar a sua banalização, ou ainda sob pena 
de se atentar contra a própria segurança jurídica que a inspira. A teoria da aparência se trata se 
trata de uma solução excepcional, passível de aplicação em caráter residual, quando não houver 
tutela específica pelo ordenamento.74 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
72 SILVA, João Calvão da. Responsabilidade civil do produtor. Coimbra: Almedina, 1999 (Colecção Teses). p. 
550-552. 
73 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., loc. cit. 
74 Ibidem., p. 122. 
22 
 
3 DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL 
 
Como será visto, aos negócios celebrados pela internet se aplica, especialmente, o 
Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor, que em boa medida têm atendido aos 
problemas derivados de contratos celebrados no âmbito virtual. 
Ademais, cita-se a entrada em vigor do Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013, que 
regulamenta o Código de Defesa do Consumidor para dispor sobre a contratação no comércio 
eletrônico; bem como a vigência do Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965, de 23 de abril de 
2014, que, apesar de não tratar especificamente sobre o comércio eletrônico, traz uma série de 
regras e princípios que implicam maior segurança para consumidores via internet. 
 
3.1 O CÓDIGO CIVIL E A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO 
BRASILEIRO 
 
Considerando-se que a internet pode ser acessada de qualquer lugar do globo terrestre 
onde haja sinal e inexistam controles governamentais restritivos, o comércio eletrônico não 
encontra limites geográficos. 
Nesse diapasão, tratando-se de contrato celebrado eletronicamente entre partes 
contratantes em países diversos, é preciso ter em conta que se trata de um assunto que envolve 
o direito internacional privado. O Decreto-lei nº 4.657/1942, LINDB – Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro, em seu art. 9º, caput e § 2º, prevê que, nestes casos, se aplica a 
lei do país onde se constituírem as obrigações. Nesta perspectiva, o local da constituição da 
obrigação será tido como o lugar onde residir o proponente, isto é, daquele que estiver ofertando 
o produto ou o serviço na internet. 75 
Igualmente, as partes que contratam pela internet têm autonomia para eleição de foro e 
legislação aplicável, sem prejuízo da existência de cláusula compromissória pela qual as partes 
elegem a arbitragem como forma alternativa de solução de conflitos.76 
Referida autonomia, frisa-se, apenas poderá ser exercida quando da existência de 
contratos internacionais (externos), uma vez que nos contratos internos não há a possibilidade 
de escolha sobre o sistema jurídico que irá regular o contrato.77 
 
75 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 92. 
76 Ibidem, p. 93. 
77 BARBALHO, Anna Beatriz Cabral. op. cit. 
23 
 
Na seara de contratos internacionais, Teixeira repisa que, apesar de não tratar 
expressamente sobre comércio eletrônico, poderá ser aplicável a Convenção de Viena, em vigor 
no Brasil por força do Decreto Legislativo nº 538/2012, por meio do qual foi aprovado o Tratado 
sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias, no âmbito da Comissão das 
Nações Unidas para o Direito Mercantil Internacional.78 
Entretanto, a presente monografia concentra esforços nos estudos quanto ao 
ordenamento jurídico brasileiro, apreciando as relações jurídicas estabelecidas entre partes 
sediadas em território nacional. 
No Brasil, os contratos celebrados pela internet estão sujeitos às mesmas regras e 
princípios aplicáveis aos demais contratos firmados fisicamente no território brasileiro. Logo, 
sem prejuízo da aplicação de outras normas especiais, aplicam-se as regras do Código Civil e 
do Código de Defesa do Consumidor (neste caso, quando configurada uma relação de consumo) 
aos negócios concretizados eletronicamente, especialmente o regime da responsabilidade 
civil.79 
Ressalta-se que, em relação à forma do contrato celebrado no comércio eletrônico, o 
Direito Civil a classifica como essencialmente livre, visto que é regido pela autonomia da 
vontade (ainda que por vezes limitado pelas normas cogentes e de ordem pública), bem como 
em razão de o princípio da liberdade da forma ser norteador do sistema como um todo. Nesse 
passo, tem-se que o artigo 107 do atual Código Civil é expresso ao referir que a validade da 
declaração de vontade nos contratos apenas será requisitada por meio de forma especial quando 
a lei expressamente exigir. Destarte, mencionada liberdade concedida pela lei também há de ser 
validada quanto aos contratos pactuados no meio eletrônico.80 
Tarcísio Teixeira81 apresenta diversas posições acerca da necessidade de uma norma 
específicaa respeito do comércio eletrônico. Alguns doutrinadores afirmam que não há 
necessidade de uma norma específica para as relações de consumo travadas na internet, pois se 
tornaria obsoleta muito rapidamente ante à dinâmica da tecnologia da informação. Para demais 
doutrinadores, seria necessária uma regulamentação específica haja vista o grande crescimento 
do setor e a vulnerabilidade dos usuários. Outros ainda observam que a contratação por meio 
da internet não abre espaço a uma nova teoria das obrigações, permanecendo válidos os 
princípios clássicos do direito privado. 
 
78 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 93. 
79 CARVALHO, Ana Paula Gambogi. Contratos via internet segundo os ordenamentos jurídicos alemão e 
brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. p. 60. 
80 BARBALHO, Anna Beatriz Cabral. op. cit. 
81 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 95. 
24 
 
Para Ros,82 a internet seria apenas um novo espaço de contratação, devendo os 
princípios serem reavaliados e atualizados de acordo com essa nova realidade tecnológica que 
rompe uma tradição de séculos quanto ao modo pelo qual as pessoas se contatam, se relacionam, 
negociam, contratam, bem como modificam, extinguem, cumprem ou descumprem as 
obrigações e reclamam seus direitos. 
Ao encontro deste entendimento, Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa indaga se do 
ponto de vista jurídico teria havido uma mudança relevante por conta da internet: 
O que teria acontecido corresponderia a uma sofisticação técnica quanto aos 
mecanismos utilizados para a contratação em razão do advento da internet. É claro 
que há problemas sobre a formação e a caracterização do acordo, o momento da 
conclusão, do conteúdo e da prova das obrigações contratadas, sendo preciso verificar 
se as categorias jurídicas clássicas podem albergar esses negócios ou se será preciso 
construir novos institutos jurídicos para regrar a matéria.83 
Neste quadro, relevante a percepção de Tarcísio Teixeira, doutor e professor com forte 
experiência nas áreas de Direito eletrônico; digital; da informática; da internet; das Novas 
Tecnologias; relações de consumo; Código de Defesa do Consumidor:84 
Somos partidários da tese de que uma legislação específica sobre comércio eletrônico 
estaria fadada a uma rápida obsolescência, haja vista as constantes inovações e 
alterações de comportamentos que este ambiente proporciona aos agentes 
econômicos. Além do mais, o que se observa nas últimas décadas é que na medida em 
que o tempo evolui cada vez mais as mudanças são aceleradas, muitas vezes não 
possibilitando a sua maturação pelo ser humano. Por isso, compreendemos que o mais 
importante é o ordenamento jurídico dispor de princípios (cláusulas gerais) que 
possam ser interpretados conforme o tempo e a circunstância. Entretanto, normas que 
tratam sobre o comércio eletrônico podem até advir, mas não devem se desprender 
totalmente da construção consolidada, ao longo de séculos, dos institutos jurídicos 
clássicos, como o contrato e a responsabilidade civil; deverão elas estabelecer 
princípios gerais para o comércio eletrônico dadas as suas peculiaridades e constantes 
alterações.85 
 
3.2 A ATUALIZAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (PLS Nº 281/2012) 
E O COMÉRCIO ELETRÔNICO (DEC. Nº 7.962/2013) 
 
Trata-se o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/1990, de lei básica e 
significativa ao exercício da cidadania brasileira, devendo receber o aprimoramento que 
necessita para se reciclar e continuar a regular, efetivamente, as relações de consumo da 
 
82 ROS apud TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., loc. cit. 
83 VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Contratos mercantis e a teoria geral dos contratos – o Código Civil 
de 2002 e a crise do contrato. São Paulo: Quartier Latin, 2010. p. 292-293. 
84 TEIXEIRA, Tarcísio. Áreas de atuação. Disponível em: <http://www.tarcisioteixeira.com.br/novo/areas-de-
atuacao>. Acesso em: 30 mai. 2018. 
85 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 97. 
25 
 
sociedade atual - mais tecnológica e com maior acesso ao crédito.86 Neste diapasão, transcreve-
se o discurso de Antonio Herman de Vasconcelos Benjamin, Ministro do STJ e ex-Presidente 
do Brasilcon87: 
O CDC é uma grande conquista da cidadania brasileira, mas como toda lei, sofre os 
efeitos do tempo. Daí a necessidade de atualizar esta magnífica obra do legislador 
brasileiro, em especial no que concerne ao comercio eletrônico - que nem existia na 
época - as ações coletivas e a prevenção do superendividamento do consumidor. Estes 
temas são estratégicos para que o CDC continue efetivo e central na regulação do 
pujante mercado de consumo brasileiro. Saúde-se, pois, as iniciativas do Brasilcon de 
liderança e acompanhamento desse processo, como ponto de encontro entre as 
expectativas do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, dos esforços da 
Comissão de Juristas do Senado Federal, que tive a honra de coordenar e do 
Parlamento Brasileiro. É uma garantia de sucesso e transparência desta caminhada em 
direção a consolidação das conquistas da política e direito do consumidor no Brasil.88 
Do movimento de atualização do Código de Defesa do Consumidor, iniciado pela 
equipe de juristas, instalada no Senado Federal a partir de 07.12.2010 e sob a presidência do 
Ministro Herman Benjamin, espera-se que o mesmo traga o vigor e fortalecimento ao diploma 
legal em comento. Aprovado em novembro de 2015 pelo Plenário do Senado Federal, o trabalho 
resultou na edição do Projeto de Lei nº 281/2012, posteriormente convertido no Projeto de Lei 
nº 3.514/2015.89 
Ademais, o Código de Defesa do Consumidor é o regramento básico do mercado de 
consumo brasileiro, tendo por objeto assegurar direitos individuais e coletivos aos 
consumidores, tratando-se de norma de ordem pública e interesse social. Por conseguinte, não 
pode ser afastada pelas partes, sendo suas regras imperativas, obrigatórias e inderrogáveis. 
Quanto as normas cogentes de proteção do consumidor, as mesmas têm a função de intervir e 
garantir o equilíbrio e a harmonia das relações jurídicas entre fornecedor e consumidor.90 
Desenvolvendo-se paralelamente ao Projeto de Lei 281/2012, o governo brasileiro 
editou o Decreto nº 7.962/2013, o qual regulamenta a Lei nº 8.078/1990, para dispor sobre a 
contratação no comércio eletrônico, dispondo em sua principiologia aspectos referentes (i) a 
informações claras a respeito do produto, do serviço e do fornecedor; (ii) ao atendimento 
facilitado ao consumidor; e (iii) ao direito de arrependimento.91 
 
86 MORAES, Voltaire de Lima. Comissão de acompanhamento dos anteprojetos do Código de Defesa do 
Consumidor do BRASILCON. Disponível em: <http://brasilcon.org.br/atualizacao-do-cdc>. Acesso em: 1 jun. 
2018. 
87 Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (BRASILCON). 
88 BENJAMIM, Antonio Herman de Vasconcelos. Comissão de acompanhamento dos anteprojetos do Código 
de Defesa do Consumidor do BRASILCON. Disponível em: <http://brasilcon.org.br/atualizacao-do-cdc>. 
Acesso em: 1 jun. 2018. 
89 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 215. 
90 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 104. 
91 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 216. 
26 
 
Tem-se que o Decreto nº 7.962/2013 sofreu forte influência da redação dos dispositivos 
do Projeto de Lei nº 281/2012 – transcritos textualmente em grande parte. Consoante lição de 
Miragem, nas contratações via internet, não basta a incidência do direito à informação sobre o 
produto ou serviço, já tido como objeto do artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor, 
restando necessário que o próprio fornecedor seja abrangido. A vulnerabilidade específica do 
consumidor na internet exige informações claras sobre a identificação do fornecedor, assim 
como prescrito no artigo 2º, incisos I e II do Decreto nº 7.962/2013, o qual reproduz o artigo 
45-B do Projeto de Lei nº 3.514/2015.92Sob este prisma, o Decreto nº 7.962/2013 advém para propiciar maior segurança aos 
consumidores que compram via internet, bem como para estabelecer um comportamento mais 
adequado de vendedores, prestadores de serviço e intermediários, deixando assim as relações 
jurídicas mais seguras e transparentes, facilitando o acesso às informações sobre produtos e 
serviços, inclusive fornecedores.93 
Contudo, importante referir conclusão de Teixeira sobre o assunto, uma vez que referido 
decreto não cuida com precisão da extensão da responsabilidade civil nas compras pela internet, 
cujo tema está pautado fundamentalmente pelo Código Civil, arts. 927 e 931, e pelo Código de 
Defesa do Consumidor, especialmente os arts. 12 e 13.94 
 
3.3 O MARCO CIVIL DA INTERNET (LEI Nº 12.965/2014) 
 
O chamado Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014, tem sido louvado como 
significativo avanço quanto as práticas digitais, estabelecendo princípios, garantias, direitos e 
deveres para o devido uso da internet no país.95 
Em um primeiro momento, conforme analisa Teixeira, poderia se imaginar que a 
referida norma não trata claramente sobre comércio eletrônico em sentido estrito (quanto à 
compra e venda de produtos e prestação de serviços), mas apenas acerca de outras operações 
realizadas no comércio eletrônico em sentido amplo (como questões envolvendo a proteção à 
privacidade e a vedação da captação indevida de dados e da sua comercialização). Contudo, 
suas regras e princípios têm implicação direta em tudo o que ocorre na internet em âmbito 
brasileiro, inclusive o comércio eletrônico, enquanto operações envolvendo a produção e a 
 
92 MIRAGEM apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 216. 
93 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 131. 
94 Idem. 
95 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 135. 
27 
 
circulação de bens e de serviços. Também, o Marco Civil, ao definir o que vem a ser provedor 
de aplicações de internet, acaba permitindo a inclusão dos intermediários de negócios pela 
internet neste conceito.96 
Mencionada lei estabelece em seu artigo 2º como fundamento, ao disciplinar o uso da 
internet, o respeito à liberdade de expressão, assim como o reconhecimento da escala mundial 
da rede; os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania 
em meios digitais; a pluralidade e a diversidade; a abertura e a colaboração; a livre iniciativa, a 
livre concorrência e a defesa do consumidor; e a finalidade social da rede.97 
Referente ao seu objetivo, o Marco Civil busca promover o direito de acesso à internet 
a todos, tido como essencial ao exercício da cidadania, conforme artigos 4º e 7º, 
respectivamente. Já o artigo 6º dispõe que, na interpretação da lei, serão levados em conta, além 
dos fundamentos, princípios e objetivos previstos, a natureza da internet, seus usos e costumes 
particulares e sua importância para a promoção do desenvolvimento humano, econômico, social 
e cultural.98 
A iniciativa do Marco Civil acompanha a tendência atual da União Europeia, tendo em 
vista a aprovação, pelo Parlamento Europeu, de um conjunto de reformas na legislação sobre 
telecomunicações, definindo e protegendo a neutralidade.99 
Essencialmente, tem-se que a neutralidade da internet representa a garantia de que os 
dados receberão tratamento isonômico independentemente de seu conteúdo, dispositivo de 
acesso, origem e destino. De forma mais objetiva, vídeos, textos e imagens serão transmitidos 
de igual forma na internet.100 Sobre o tema, Teixeira esclarece: 
A neutralidade (ou princípio da neutralidade) no uso da internet consiste no fato de 
que o acesso à internet pelo usuário pode dar-se de forma livre para quaisquer fins: 
realizar pesquisas ou compras, estabelecer comunicações como por e-mail, utilizar 
redes sociais em geral, visualizar e postar textos, fotos e vídeos etc. Dessa forma, o 
tratamento deve ser neutro, não podendo haver diferenciação em razão do uso 
realizado pelo internauta, sendo possível apenas serem oferecidos pacotes com valores 
diversos para fins da velocidade na navegação. Dessa forma, o usuário pode usar a 
conexão à internet para o fim que desejar (e-mails, blogs etc.) sem precisar pagar 
valores distintos para tanto e sem estar sujeito à fiscalização do provedor.101 
 
96 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 137-138. 
97 BRASIL. Lei 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da 
Internet no Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. 
Acesso em: 1 jun. 2018. 
98 BRASIL. Lei 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da 
Internet no Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. 
Acesso em: 1 jun. 2018. 
99 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 326. 
100 ACTANTES, et. al. Neutralidade da rede no marco civil da internet. Disponível em: 
<http://marcocivil.cgi.br/contribution/neutralidade-da-rede-no-marco-civil-da-internet/139>. Acesso em: 2 jun. 
2018. 
101 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 140. 
28 
 
No tocante ao comércio eletrônico, Netto alude sobre a responsabilidade objetiva do 
prestador de serviço e registra: 
Convém registrar, aqui, uma diferença relevante: a) uma coisa são os provedores de 
serviço que, além de oferecerem o serviço de buscas de mercadorias, fornecem a 
estrutura virtual para a realização da compra (nesse caso, passa a fazer parte da cadeia 
de fornecimento, de modo solidário); b) outra situação, bem distinta, é aquela em que 
o prestador de busca de produtos se limita a apresentar ao consumidor o resultado da 
busca, após o que o consumidor é direcionado ao site do vendedor do produto (não 
haverá, nessa situação, responsabilidade solidária do site que ofereceu os resultados 
de busca). Não há, nessa hipótese, ademais, cobrança de comissões sobre as operações 
realizadas, sendo a remuneração desses sites oriunda das publicidades veiculadas em 
suas páginas.102 
Neste viés, importante trazer à baila o que diz respeito à atividade dos provedores. Via 
de regra, o Marco Civil não impõe responsabilidade objetiva aos provedores de conexão 
(acesso) ou de aplicações de internet (conteúdo), como convenientemente aborda Teixeira. De 
acordo com o art. 927, parágrafo único, do Código Civil, a responsabilidade objetiva tem lugar 
nos casos previstos em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por suas características, riscos a outras pessoas. Deste modo, pelas disposições da Lei 
nº 12.965/2014, a responsabilidade dos provedores de acesso e de conteúdo deve ser atribuída 
conforme as regras da responsabilidade subjetiva. Conforme prevê o VI do art. 3º do Marco 
Civil, a responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei, é um 
princípio que há de ser respeitado. Logo, Teixeira aduz que se a lei não prevê responsabilidade 
objetiva aos provedores, aplicar-se-ão as regras ordinárias da responsabilidade civil, isto é, da 
responsabilidade subjetiva.103 E segue articulando sobre o tópico no entendimento do Superior 
Tribunal de Justiça: 
Aliás, como já vem entendendo o STJ sobre a responsabilidade subjetiva dos 
provedores, como, por exemplo, nas decisões proferidas nos Recursos Especiais n. 
1.193.764-SP e 1.186.616-MG, em que ficou assentado que não cabe ao provedor de 
conteúdo o dever de fiscalização prévia do teor das informações que são postadas 
pelos usuários de suas páginas (redes sociais). Isso porque não é uma atividade 
intrínseca ao serviço prestado, ficando, portanto, o provedor de responsabilidade 
exonerado de responsabilidade ao considerar que esse fato não constitui risco inerente 
à sua atividade a fim de que lhe seja atribuída responsabilidade objetiva.104 
 Com isso, vê-se que o Marco Civilda Internet mantém o sistema da responsabilidade 
subjetiva, permitindo a livre manifestação de pensamento e de conteúdo sem prévio controle de 
provedores e/ou intermediários. A positivação de certas questões foi necessária, uma vez que o 
avanço tecnológico acabou criando situações que o ordenamento jurídico não tratava 
expressamente, permitindo assim interpretações variadas. Entretanto, uma norma por demais 
 
102 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 137-138. 
103 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 150. 
104 Idem. 
29 
 
específica no campo da internet (e da tecnologia da informação em geral) restaria fadada à 
obsolescência de forma muito rápida.105 
Assim, a promulgação do Marco Civil da Internet é vista com bons olhos, na medida em 
que se trata de lei principiológica, mas com a capacidade de promover uma maior transparência 
e confiança no uso da internet, bem como ampliar a segurança jurídica no país, produzindo 
consequentemente bons efeitos para o comércio eletrônico brasileiro.106 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
105 Ibidem, p. 157. 
106 Idem. 
30 
 
4 DA RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO 
 
Acorde ao abordado anteriormente, a relação jurídica de consumo possui o elemento 
subjetivo (referente às partes envolvidas na relação jurídica, ou seja, consumidor e fornecedor) 
e o elemento objetivo (referente ao produto ou serviço, ou seja, o objeto sobre o qual recai a 
relação jurídica propriamente dita. Nesse viés, a relação de consumo será efetiva quando ocorrer 
direta transação entre o consumidor e o fornecedor, assim como será presumida quando 
realizada por simples oferta ou publicidade inserida no mercado de consumo.107 Segundo lição 
de Pablo Stolze: 
Responsabilidade, para o Direito, nada mais é, portanto, que uma obrigação derivada 
— um dever jurídico sucessivo — de assumir as consequências jurídicas de um fato, 
consequências essas que podem variar (reparação dos danos e/ou punição pessoal do 
agente lesionante) de acordo com os interesses lesados.108 
A responsabilidade civil assume significativa relevância no sistema de consumo, 
inclusive, trazendo o advento do Código de Defesa do Consumidor (estando ainda em vigência 
no ordenamento jurídico o Código Civil de 1916) novos ventos ao direito privado,109 dotando-
se de instrumentos flexíveis à responsabilização nas relações de consumo. 
Na sistemática de consumo, a responsabilidade é objetiva, isto é, prescinde-se da culpa. 
O artigo 14 do CDC,110 nesse sentido, prescreve que “O fornecedor de serviços responde, 
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”; e consta, em seu parágrafo 4º,111 que 
“A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de 
culpa”, tornando-se essa uma exceção à responsabilidade objetiva. 
Ademais, informa-se que a responsabilidade, na sistemática do Código de Defesa do 
Consumidor, é solidária. Desta feita, o parágrafo único do artigo 7º do CDC112 aponta que 
“Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos 
previstos nas normas de consumo” e, mais adiante, o parágrafo 1º do artigo 25 do mesmo 
 
107 PINTO, Cristiano Vieira Sobral. op. cit., p. 681. 
108 STOLZE, Pablo. Novo Curso de Direito Civil: responsabilidade civil. Vol. 3, 10ª ed. rev., atual. e ampl. São 
Paulo: Saraiva, 2012. p. 47. 
109 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 170. 
110 BRASIL. Lei º 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a proteção 
do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm>. 
Acesso em: 06 jun. 2018. 
111 Idem. 
112 Idem. 
31 
 
diploma legal113 preceitua que “Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos 
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.” 
Consoante a lição de Guilherme Magalhães Martins,114 o Código de Defesa de 
Consumidor distingue a responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, consistindo o 
defeito em uma falha de segurança e, o vício, em uma falha na adequação e prestabilidade: 
Nos defeitos, não há a necessidade de vínculo contratual entre o consumidor 
prejudicado e o fornecedor responsável. Já nos vícios, apesar da ampliação do sistema 
de solidariedade (art. 25, §§1.º e 2.º, do CDC) entre os fornecedores, há necessidade 
de uma cadeia contratual a unir o consumidor e o fornecedor responsável. Finalmente, 
os vícios e os defeitos apresentam regimes jurídicos diversos. Nos vícios, a 
responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços é mais restrita: substituição do 
produto, reexecução do serviço, rescisão do contrato, abatimento no preço, perdas e 
danos. Nos defeitos, a responsabilidade é mais extensa, devendo ser reparada a 
totalidade dos danos patrimoniais e extrapatrimoniais sofridos pelo consumidor.115 
Neste diapasão, interessante também a doutrina de Sanseverino116, o qual assevera que, 
quanto ao defeito, o bem jurídico tuteado é a segurança física e patrimonial do consumidor, ao 
passo que, quanto ao vício, busca-se a proteção da adequação do produto ou serviço à finalidade 
a que se destina – e prossegue: 
Finalmente, os vícios e os defeitos apresentam regimes jurídicos diversos. Nos vícios, 
a responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços é mais restrita: substituição 
do produto, reexecução do serviço, rescisão do contrato, abatimento no preço, perdas 
e danos. Nos defeitos, a responsabilidade é mais extensa, devendo ser reparada a 
totalidade dos danos patrimoniais e extrapatrimoniais sofridos pelo consumidor. 
Ademais, nada impede que coexistam as responsabilidades pelo fato e pelo vício.117 
No campo do comércio eletrônico, tido como extensão do comércio convencional, é 
possível a ocorrência de fatos que gerem a aplicação da responsabilidade civil, não havendo 
qualquer impedimento para a aplicação do instituto conforme o Código Civil e o Código de 
Defesa do Consumidor.118 
Neste contexto, a responsabilidade civil demanda maior análise, posto que o escopo 
desta pesquisa é quanto à sua incidência referente aos sites de intermediação de negócios 
relativos a produtos e serviços existentes no comércio eletrônico. 
 
4.1 A RESPONSABILIDADE CIVIL PELO FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO 
 
 
113 Idem. 
114 MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 132. 
115 SANSEVERINO apud MARTINS, Guilherme Magalhães. op. cit., p. 133. 
116 SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade Civil do Consumidor e a Defesa do Fornecedor. 
São Paulo: Saraiva, 2002. p. 155. 
117 NETTO, Felipe Braga. op. cit., p. 172. 
118 TEIXEIRA, Tarcísio. op. cit., p. 260. 
32 
 
A responsabilidade civil pelo fato do produto e do serviço, também denominada 
responsabilidade por acidente de consumo,119 consiste no efeito de imputar ao fornecedor a 
responsabilização dos danos causados em razão de defeito na concepção, produção, 
comercialização ou fornecimento de produto ou serviço, devendo indenizar pela violação do 
dever geral de segurança inerente a sua atuação no mercado de consumo.120 
O artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre o fato do produto – “O 
fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, 
independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações 
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização

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