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práticas pedagógicas Transcrição práticas pedagógicas M3

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Curso 
Práticas pedagógicas 
para inclusão 
com Eugênio Cunha 
 
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Sumário 
 
 
Módulo 1 – Introdução .............................................................................. 3 
Módulo 2 – Pontos importantes sobre a inclusão ..................................... 3 
Módulo 3 – O currículo na educação inclusiva .......................................... 4 
Aula 1. Currículo adaptado I ...................................................................... 4 
Aula 2. Currículo adaptado II ..................................................................... 9 
Aula 3. Currículo funcional I .................................................................... 13 
Aula 4. Currículo funcional II ................................................................... 17 
Aula 5. A preparação do aprendente I .................................................... 21 
Aula 6. A preparação do aprendente II ................................................... 25 
Aula 7. A preparação do aprendente III .................................................. 29 
Aula 8. A preparação do aprendente IV .................................................. 33 
 
 
 
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Módulo 1 – Introdução 
 
Vídeo chamada 
 
Ementa: O curso propicia a compreensão de que a escola é um espaço essencialmente inclusivo, 
construído para atender à diversidade discente, contemplando a demanda educacional 
contemporânea e as suas práticas de ensino. O participante aprenderá sobre aspectos 
fundamentais para a inclusão, como a elaboração de currículo, o reconhecimento das 
necessidades do aprendente, o desenvolvimento da autonomia, a importância da afetividade e 
da atribuição de sentido à aprendizagem. São apresentados um breve histórico das políticas 
inclusivas, um panorama da educação especial, uma definição da atuação docente e da 
aprendizagem discente. O curso também apresenta sugestões de práticas pedagógicas 
(atividades e materiais) que podem ser desenvolvidas com alunos que têm dificuldades de 
aprendizagem. Ressalta que a escola tem o papel de buscar meios de atender às diferenças 
individuais. 
 
Módulo 2 – Pontos importantes sobre a inclusão 
 
 
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Módulo 3 – O currículo na educação inclusiva 
 
 
 
Aula 1. Currículo adaptado I 
 
Neste Módulo, trataremos inicialmente sobre currículo adaptado e sobre currículo 
funcional. 
 
No módulo anterior, tratamos resumidamente do histórico da educação inclusiva, 
quando assistimos àquele vídeo que falava sobre uma linha de tempo do atendimento 
educacional especializado, tratamos das primeiras preocupações que devemos ter para receber 
um aluno com deficiência ou com algum transtorno em nossa sala, da preocupação com a 
alimentação, com as questões ambientais, que agora são pesquisadas pela neurociência, e 
tratamos também da preparação do ambiente e dos critérios inicias para selecionarmos as 
atividades para a construção do currículo adaptado ou funcional. 
Agora vamos tratar especificamente desses dois tipos de currículo, que são muito 
comuns em escolas do ensino comum ou regular. Inicialmente nós vamos tratar do currículo 
adaptado, mas, antes disso, é importante salientar que essa adaptação é sempre necessária, 
que não há como inserirmos um aluno em sala de aula sem pensarmos em adequação curricular, 
sem pensarmos em uma modificação das práticas e em uma adaptação dos conteúdos. Imaginar 
que podemos incluir sem fazer algumas mudanças na nossa matriz curricular, nas nossas práticas 
de ensino, na nossa maneira de ensinar seria muita ingenuidade. Precisamos, sim, ter 
consciência de que será absolutamente necessário fazer essa adequação curricular. 
 
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O currículo adaptado é um currículo necessário, principalmente para aqueles alunos que 
estão inseridos no ensino comum ou regular e que têm boas condições, boas possibilidades de 
seguir adiante nessa modalidade de ensino. 
 
Para que o aluno possa superar suas dificuldades naturais, esse currículo se torna 
essencial, torna-se necessário, porque é por meio de uma adaptação curricular feita pela escola 
que se criam as possibilidades, as condições, para que o aluno possa progredir na sua vida 
acadêmica na escola. Muitos alunos têm condições de seguir em frente com a turma, mas 
precisam, de alguma maneira, de alguma forma que seja feito algum tipo de alteração no 
conteúdo. E esse conteúdo começa a ser pensado a partir do professor que está trabalhando o 
conteúdo. 
Nós tratamos nos vídeos anteriores sobre a questão da diferença de adaptações, das 
necessidades, das diferenças de condições que o aluno encontra no ensino infantil, na educação 
infantil, no fundamental 1, no fundamental 2 e no ensino médio. Normalmente, quando existe 
uma professora regente, como é o caso do fundamental 1, ou no caso da educação infantil, a 
adaptação curricular se torna mais fácil, porque se tem uma professora que vai lidar com aquele 
aluno durante todo o tempo, e é preciso, então, que esse educador faça uma adaptação com 
base naquilo que ele mesmo sabe que vai desenvolver. Mas, quando se está no fundamental 2 
e no ensino médio, o aluno vai encontrar várias disciplinas que serão desenvolvidas por 
professores diferentes. Então como é que fica essa adaptação? Ela se torna mais complexa em 
razão do fato de o professor, por exemplo, permanecer com aquele aluno durante apenas duas 
horas, ou uma hora durante uma semana inteira. E como ele vai fazer esse processo? É 
necessário que o professor tenha o apoio da coordenação, do professor da educação especial, 
de um pedagogo, de um psicopedagogo que esteja trabalhando em conjunto com a escola, com 
os demais atores da escola. Normalmente essas adaptações serão coordenadas pelo próprio 
coordenador, que tem o papel de fazer essa mediação com todos aqueles que estão trabalhando 
naquele segmento, para que haja viabilidade de se fazerem as adaptações necessárias. 
 
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O currículo adaptado tem a sua importância, uma vez que muitos alunos têm a 
possibilidade de aprender. Mas nós vivemos em uma cultura conteudista, tornando-se natural 
que muitas vezes o excesso de conteúdo afaste o nosso aluno. Em sala de aula, por exemplo, 
um aluno que tem dificuldade de se concentrar, vai ter dificuldade também de assimilar o 
conteúdo se ele for excessivo. Diante disso devem ser feitas as adaptações necessárias. De 
repente, seleciona-se desse conteúdo aquilo que é indispensável que ele aprenda e deixam-se 
em segundo plano os assuntos ou os temas que não são, necessariamente, tão importantes 
naquele momento. É evidente que, sabendo que retemos apenas uma pequena parte daquilo 
que lemos ou ouvimos na escola durante o período em que estamos estudando, não seria nada 
demais selecionar-se apenas alguma parte dos conteúdos, para que se possa fazer uma 
adaptação de acordo com as possibilidades do aluno. Mas também há uma outra questão que 
que precisa ser considerada: a forma de ensinar deve ser adaptada. Existe uma diferença 
pequena, mas existe, sim, uma diferença entre a didática e a pedagogia. A pedagogia se reporta 
mais ao aluno. Aquilo que é pedagógico faz o aluno aprender, mas nem sempre aquilo que é 
didático, aquilo que o professor usa para ensinar, permite que o aluno aprenda. 
Muitas vezes eu posso estar dando aula utilizando um livro, falando, lendo aquele livro, 
ou posso, por exemplo, usar a lousa digital para fazer algumas atividades e, para muitos alunos 
que estão em sala de aula, tudo isso pode ser muito pedagógico. Mas para outros alunos talvez 
isso não seja pedagógico. Então eu tenho que verificar se as minhas práticas, se a metodologia 
que eu uso, se a minha forma de ensinar, se os instrumentos que estão sendo utilizados por 
mim, que são didáticos para mim, que eu utilizo para ensinar, são efetivamente pedagógicos 
para o aluno. 
É uma questão importante que deve ser vista por nós quando vamos fazer as adaptações 
curriculares. Uma outra coisa importanteé que há dois vieses que eu tenho que observar 
quando eu for planejar as atividades. O primeiro é o das condições do aluno. As adaptações ou 
adequações, tanto do conteúdo quanto da metodologia, quanto dos instrumentos pedagógicos 
ou didáticos que eu for utilizar, precisam levar em conta as possibilidades, as características, as 
condições do meu aluno. Mesmo que eu pense que esteja fazendo alguma coisa de excelência, 
uma adaptação bem organizada, bem estruturada, preciso verificar se meu aluno tem condições 
de participar desse projeto de adaptação curricular, ou se aquilo vai ser inadequado para ele. 
Tenho que ter em mente esse aspecto importante que são as condições, as características, as 
necessidades do aluno. Outro viés importante é a questão do tema, dos assuntos que estão 
sendo discutidos em sala, do conteúdo que estou propondo para a turma. Se eu fizer uma 
adaptação em que não há um diálogo com esse conteúdo, eu posso excluir esse aluno de sala 
 
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de aula, quer dizer, excluí-lo de uma inclusão, mesmo ele estando em sala de aula. Quanto mais 
próximas da realidade do aluno estiverem as adaptações, mais possibilidades eu terei de incluir. 
 
Eu vou citar como exemplo uma situação vivida por nós em determinada escola em que 
havia um aluno com síndrome de down. Esse aluno, com oito anos, estava estudando em uma 
classe comum ou regular, e estava sendo proposta uma atividade ligada à coleta seletiva de lixo. 
A turma, de terceiro ano, precisava produzir um trabalho que demandava escrita, leitura e 
pesquisa, e o aluno com síndrome de down sentia muita dificuldade de acompanhar a leitura, 
de fazer a pesquisa, de escrever o texto, de produzir um material acadêmico dentro daquela 
proposta de atividade, isso em razão de sua deficiência intelectual. Para que não fosse excluído 
dessa atividade, foi dada a ele uma tarefa que ele tinha condições de fazer, e a fez muito bem. 
Ele foi incumbido de se dirigir à classe e oralmente explicar o porquê da necessidade de uma 
coleta seletiva, o que se faz com os materiais que são coletados, o motivo da existência daquelas 
lixeirinhas coloridas e o sentido de não se fazer essa coleta seletiva apenas na própria residência, 
mas zelar para que o município, o bairro, o local de moradia, a comunidade, todos esses espaços 
adotem realmente uma adequada política de coleta seletiva. 
Esse menino deu essa explicação oralmente, e o trabalho foi um sucesso. Assim, ele 
atuou dentro de uma proposta que foi feita para a turma, que foi feita para a escola. Ele atuou 
dentro das suas condições de participação nessa atividade. Houve, portanto, uma adaptação 
curricular do conteúdo, daquilo que se precisava ensinar. Essa é a nossa proposta de como fazer 
uma adaptação do currículo, de como produzir um currículo adaptado. Nós entendemos que o 
currículo adaptado não visa a excluir o aluno. Ao contrário, ele procura dar ao aluno condições 
de seguir com a turma, de aprender juntamente com a turma. Por isso, o currículo adaptado 
tem que ter essa preocupação de atender as necessidades, as demandas, as carências, as 
possibilidades e as características do aluno, bem como atender a demanda da turma, aquilo que 
se está ensinando à turma, aquilo que a turma está aprendendo. Essas duas condições são 
 
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essenciais para que possamos produzir um currículo que seja adequado para uma sala de aula 
inclusiva, levando-se em consideração as necessidades do aluno. 
Lembremos, porém, que não se trata apenas de adaptar o currículo, de fazer alterações 
no currículo. É preciso, principalmente, adaptar e adequar a forma de ensinar ao aluno. Então, 
é essencial que esse aluno tenha condições de entender aquilo que nós estamos falando, que 
tenha condições de compreender a nossa proposta. Voltemos ao exemplo do menino com 
síndrome de down. O importante foi realmente a maneira de levar a ele o seu papel nesse 
projeto. Foi uma maneira específica de lidar com a questão, indo ao encontro das suas 
necessidades. Um diferencial foi a linguagem que se usou para falar com ele. Então, nessa 
adaptação existem algumas questões importantes que precisam ser observadas, até mesmo no 
campo da postura do professor, da maneira como ele se dirige ao aluno para propor a ele o 
conteúdo que está sendo adaptado. Inicialmente é preciso, portanto, ter essa preocupação para 
se poder fazer um trabalho que seja adequado às condições do aluno. 
 
 
 
 
 
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Aula 2. Currículo adaptado II 
 
A proposta da adequação curricular busca determinar o que cada aluno precisa 
aprender dentro da proposta curricular da instituição. É, portanto, uma proposta que tem que 
contar com a maior participação possível de todos os atores que estão trabalhando na inclusão: 
coordenação, psicopedagogos, professores, entre outros. 
 
Algumas necessidades são imperiosas nas adaptações que vamos fazer. A primeira delas 
é a necessidade de adaptação da metodologia de ensino. Também é preciso considerar a 
adaptação de provas e avaliações. É bom lembrar que existe uma distinção: normalmente as 
escolas consideram, de um modo geral, que se deve utilizar as provas como instrumento de 
avaliação principal para determinar se um aluno vai progredir ou não nos estudos na etapa ou 
na série em que está inserido. Evidentemente que isso não é adequado, uma vez que não 
podemos pensar em uma avaliação apenas quantitativa, que se seja medida em números, mas, 
acima de tudo, em uma avaliação que seja qualitativa. Então, diante dessa situação, as provas 
ou a prova que eu considero um dia aplicar ao meu aluno tem que ser realmente pensada como 
um dos instrumentos de avaliação, não apenas como o único instrumento de avaliação; é por 
isso que nós colocamos adaptação de prova e adaptação de avaliação. A prova de que eu falo 
aqui é aquela prova que as crianças, os alunos, os adolescentes fazem na escola normalmente. 
Ela tem que ser adaptada, dependendo da necessidade do aluno, daquilo que eu proponho para 
ele. Tem que ter uma adaptação. Nós falamos já falamos sobre a questão daquele aluno que 
precisava de uma adaptação da prova, porque ele não conseguia fazer uma prova a contento 
por causa do estresse que lhe dava fazer uma prova de múltipla escolha. Então o professor criou 
outras estratégias para aplicar essa prova. 
A adaptação da prova também passa pelo tipo de questão: é dissertativa, demandará 
muita escrita, tem um texto longo para ser entendido? Todos esses aspectos devem ser 
pensados. Até mesmo nas questões relativas ao layout da página, à organização dos elementos 
da página. Às vezes, alunos que têm problemas ligados à leitura e à escrita podem ter 
 
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dificuldades de compreensão do texto, isto em razão da proximidade e do tamanho da letra. 
Além disso, é também necessário atentar para a questão da quantidade de perguntas, de 
questões. Todos esses aspectos devem ser adaptados. Mas a prova é o final da avaliação, um 
dos instrumentos avaliativos. E essa avaliação é o momento em que são considerados todos os 
aspectos ligados ao aluno. Por exemplo: tenho que entender que não posso pensar em avaliar 
esse aluno comparando-o com outro. Cada aluno tem a sua identidade, o seu ritmo de 
desenvolvimento próprio. Isso não é nada adequado dentro de uma turma em que eu tenho 
alunos neurotípicos. Tenho que fazer um trabalho que contemple alunos neurotípicos e alunos 
com deficiência ou com necessidades especiais. Eu não posso fazer comparações. Então, que 
tipo de avaliação eu faço? Quais são os critérios para eu avaliar esse aluno? Inicialmente, tenho 
que pensar que se trata de uma avaliação específica, conforme as condições daquele aluno. 
Tenho um conceito que tenta resolver essa pergunta e essa demanda. Pergunto para mim 
mesmo e para o aluno dentro dos contextos em que vivemos na educação: O que esse aluno 
tinha quando chegou à escola? O que ele tem hoje e o que ele pode ter amanhã? Isto é, o queele fazia ontem, o que ele faz hoje e o que ele fará amanhã? Dessa forma, essa avaliação está 
dentro das condições que ele traz, das condições em que se encontra e que desenvolve naquele 
momento e daquilo que eu projeto para ele. Assim, a avaliação acontece a partir dele mesmo, 
das suas próprias condições. Além disso, como vimos, há adaptações de materiais pedagógicos 
e didáticos. 
 
Já pontuamos o que é didático e o que é pedagógico. Didático é aquilo que está mais 
direcionado ao professor, à prática do professor, àquilo que ele utiliza para ensinar. Pedagógico, 
por sua vez, é realmente aquilo que faz o aluno aprender: muitas vezes um livro, apesar de ser 
didático, a leitura, a exposição oral numa sala de aula, em que se lê página por página ou se 
seleciona um trecho para ser lido, o que pode ser muito didático. O professor tem condições de 
 
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fazer isso de uma forma muito fácil, porque está dentro da prática do professor, mas pode não 
ser pedagógico para um aluno que tem um déficit de atenção e que precisa de um outro 
estímulo para poder aprender. Portanto, o professor tem que reavaliar e adaptar sempre a sua 
forma de ensinar. 
A adaptação da fala do professor é importante, porque muitos alunos, alguns deles que 
sentam na frente, têm o que chamamos de transtorno sensorial, principalmente alunos com 
autismo, com TEA. Esses alunos têm um aspecto sensorial que merece uma atenção, evitando-
se fazermos atividades que não sejam adequadas naquele momento. Por exemplo, um aluno 
que tem hipossensibilidade ou hipersensibilidade sensorial às vezes sente incômodos auditivos 
com a fala do professor. O jeito de falar, a maneira exagerada de se posicionar em sala de aula, 
tudo isso pode incomodar. Todos esses aspectos merecem muito cuidado. Alunos que são 
propensos a ter dificuldades de concentração também não se dão bem com professores muito 
agitados, muito irrequietos. Assim, o professor necessita vigiar o seu modo de agir, de falar e de 
ser. Ademais, é necessário realizar adaptações dos textos escritos, das cores e dos espaços. Isso 
é importante também, pois se o professor dá um texto para ser lido pela turma, para ser lido 
em conjunto com a turma, é necessário estar atento ao tipo de texto, ao tipo de letras, à 
formulação desses textos, às cores que são utilizadas, principalmente no campo do autismo, da 
hipossensibilidade ou da hipersensibilidade sensorial, em que, às vezes, algumas cores ficam 
confusas. Já os alunos com dislexia também têm dificuldades de entender textos que não são 
muito claros. 
Outro aspecto importante é a questão do currículo oculto. O que é o currículo oculto? 
Há dois entendimentos acerca do currículo oculto. Por um lado, há o currículo que se refere 
justamente ao conhecimento do aluno, aquilo que o ele sabe, que pode estar oculto, ou seja, há 
uma visão de que o aluno pode ter um saber que está oculto e que precisa ser desvendado pelo 
professor. Por outro lado, há outra concepção, que vê o currículo oculto como aquele 
conhecimento, aquele conteúdo que se dá, aquele conhecimento que se transmite ou que se 
leva ao aluno que não é estipulado, que não está dentro dos livros didáticos, que não está dentro 
da proposta pedagógica, isto é, são atitudes, modos de ser, maneiras de falar, jeitos de olhar. 
Muitas vezes o professor precisa ter esse cuidado para não ensinar aquilo que não está explícito, 
mas é implícito, que pode traduzir algum tipo de preconceito, de discriminação, de situação que 
não seja adequada em sala de aula. Esse currículo oculto está implícito na minha fala, pois posso 
demostrar insatisfação, certo desânimo e até mesmo a descrença no aluno. Os primeiros 
trabalhos escritos sobre educação especial informam que ela era realizada dentro do período 
da integração escolar. Foi o primeiro movimento que surgiu para tentar inserir esses alunos 
dentro de sala de aula. Um desses trabalhos foi escrito pela professora Olga Mazzoti, que 
 
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trabalhou nos Estados Unidos na década de 80 com crianças que eram aceitas nas escolas 
americanas dentro de um processo de integração escolar. O que ela descobriu foi que grande 
parte dos professores não acreditava na potencialidade daqueles alunos. Logo, naquele 
contexto havia um currículo oculto sendo ensinado para aquelas crianças. Era ensinado um 
sentimento de descrença, de descrédito nas suas possibilidades e capacidades. O professor 
precisa ter muito cuidado com esses aspectos, pois o professor pode estar ensinando sem saber, 
inconscientemente, algo que não deve ser passado para os alunos, como, por exemplo, a 
descrença nas possibilidades dos alunos. Se, realmente, o professor não acredita nesse aluno, 
se o professor tem uma dificuldade de crer no aluno, ele deve, então, realizar uma revisão crítica 
de suas práticas, de sua vida interior, de sua subjetividade, para perceber se isso não está ligado 
à sua própria vida, e não às condições do aluno, pois a inclusão é algo que se dá, efetivamente, 
na prática, quando o professor acredita no seu aluno e o vê como um ser capaz de aprender, 
isto é, alguém que tem totais condições de desenvolver a aprendizagem. 
 
Vemos na imagem uma atividade adaptada, na qual há uma criança montando palavras 
em um alfabeto móvel. Há, nessa situação, um exemplo, pois essa criança, por conta de suas 
dificuldades motoras, não adquiriu habilidades suficientes para escrever as letras e as palavras. 
Para não afastá-la do conteúdo que se passa para os demais alunos, enquanto a turma está 
aprendendo a escrever as palavras, a montar as primeiras palavras, a criança com dificuldades 
trabalha a maior parte do tempo com o alfabeto móvel. Dessa forma, essa criança faz a 
montagem das palavras que está aprendendo com o alfabeto móvel, que é uma adaptação. 
Porém, se, nessa adaptação, a sua dificuldade é motora, é o movimento de pinça, é o 
desenvolvimento da letra, todos esses aspectos devem ser trabalhados, para que a criança possa 
superar tudo isso, podendo, mais adiante, escrever com a própria mão as palavras que a turma 
já está escrevendo. Esse é um exemplo de uma atividade adaptada. 
 
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Aula 3. Currículo funcional I 
 
Vamos falar, agora, do currículo funcional. 
 
Inicialmente é preciso explicar o que significa a palavra funcional, o que é o currículo 
funcional. O currículo funcional trabalhará principalmente as habilidades sociais, as condições 
necessárias para que o aluno tenha vida social, interação, autonomia social e para que ele possa 
realizar as atividades cotidianas e dar um pouco mais de tranquilidade aos pais, para que ele 
possa ter certa autonomia nas refeições, na hora do banho, na hora da trocar a roupa, na hora 
de sair para passear com os pais, etc. É muito importante esse currículo, pois a funcionalidade 
não está ligada apenas a habilidades primárias, como dobrar roupa de cama, escovar os dentes, 
pentear o cabelo, etc., mas também a habilidades que são essenciais para a convivência, como, 
por exemplo, a habilidade no campo da interação social com o outro, a habilidade no campo da 
convivência, etc. Muitos alunos, principalmente aqueles com deficiência intelectual, terão 
dificuldades adaptativas de convivência, pois podem não entender muito bem os códigos 
sociais, as subjetividades das coisas ou ter uma mente muito liberal, como no caso do autismo, 
e podem, também, ter dificuldade de convivência em razão de sua baixa percepção do mundo 
social, das condições sociais, da convivência, daquilo que as pessoas falam normalmente. As 
crianças e os adolescentes que têm essa dificuldade tendem a ter constrangimentos e 
enfrentarão situações com as quais precisarão aprender a conviver. Portanto, o currículo 
funcional lidará com essas habilidades no campo da interação e das habilidades pessoais 
importantes para a autonomia diária. 
Evidentemente, há um aspecto nesse currículo funcional que é importante para ser 
trabalhado:é necessário que seja bem sintonizado com as necessidades da família. Uma das 
primeiras coisas que se pode fazer, quando se recebe um aluno com deficiência na escola onde 
se trabalha, é perguntar quais são as maiores necessidades da família, de que a família precisa 
e o que gostaria que o filho aprendesse de essencial, identificando quais as suas demandas mais 
 
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importantes. Muitas vezes os pais vão dizer: eu preciso que meu filho tenha autonomia nas 
refeições. Então o currículo funcional deve priorizar as refeições, de maneira que o filho possa 
manusear os utensílios e os objetos que estão sobre a mesa, para que consiga se servir e servir 
o outro. Em outro caso, os pais falam que gostariam que o filho tivesse autonomia de lhes falar 
ou de pedir as coisas e que lhes verbalizassem as suas necessidades. Sendo assim, o currículo ou 
a atividade deve permitir ao aluno exercer a sua condição de comunicação. Muitas vezes o aluno 
tem condições de verbalizar aquilo que sente e pensa, porém há certa inibição por conta de 
outras situações que ocorrem. Então, por exemplo, quando eu quero estimular a fala de uma 
criança, de um aluno, eu vou criar estratégias para que essa fala seja produzida normalmente 
em situações cotidianas. Vamos supor que esse aluno esteja com sede, querendo tomar água, 
eu vou verbalizar “você quer beber água? Fale comigo: quero beber água”. E, se eu estou agindo 
dessa forma na escola, é importante que a família aja da mesma forma também em casa, porque 
se em casa a família usar um comando diferente do comando que é usado na escola, pode haver 
uma confusão de informações, ficando o aluno em dúvida, e o processo que está sendo 
trabalhado para melhorar a fala poderá ficar prejudicado. 
Pode ocorrer também o inverso. Se os pais já usam uma determinada linguagem em 
casa, a escola deve acompanhar esse estímulo. Muitas vezes o aluno deixa de verbalizar alguma 
coisa porque apenas o apontar do dado já é suficiente para que seja atendida a sua necessidade. 
Então, o currículo funcional vai trabalhar essas funcionalidades sociais, melhorar a condição de 
convivência e participação do aluno nos diferentes ambientes sociais; por isso deve estar 
vinculado às necessidades da família. Tem que haver uma sintonia das ações. A forma como se 
lida com determinadas demandas na escola deve ser o mesmo que se usa em casa. O currículo 
deve ser construído com base nas necessidades da família, lembrando que ao mesmo tempo 
devemos observar se aluno possui outras carências que possam ser trabalhadas. Entretanto, 
esse olhar social deve estar muito mais ligado à família, que tem maior convivência, que passa 
mais tempo com o aluno e que tem maior percepção sobre ele. Esse currículo tem que ser 
desenvolvido em sintonia com a família. Após o diálogo com a família, devemos listar as 
atividades que consideramos importante realizar com esse aluno na escola, sendo que as 
atividades serão listadas de acordo com as condições desse aluno. 
É bom começar pelas atividades mais simples, aquelas que são mais fáceis de serem 
executadas, para que, na medida em que o aluno for ganhando confiança, gradualmente 
intensifiquemos o currículo com atividades mais complexas, como atividades externas à escola 
que possam colaborar com o seu desenvolvimento social. Em certos casos se levará certo tempo 
para que o aluno adquira determinada habilidade, como a fala, por exemplo, que precisa de 
apoio de fonoaudiólogos, ou até mesmo de neurologistas para nos auxiliarem no 
 
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desenvolvimento das atividades. Por conta da dificuldade dos alunos, vamos repetir várias vezes 
as atividades, até que a habilidade em questão seja desenvolvida. Com o passar do tempo será 
perceptível a evolução e o crescimento dos alunos, quando as habilidades forem conquistadas 
por meio das atividades e propostas que foram realizadas. É importante salientar que não 
existem habilidades que possam ser desperdiçadas e que um ganho, por menor que seja, é 
muito importante nesse mundo cheio de desafios, que é a educação especial. Será sempre 
priorizado o que é mais importante para o aluno e para a família. 
 
Exemplos de atividades para um currículo funcional: habilidades de higiene pessoal, 
autocuidado, aquisição de habilidades interpessoais (convivência com o outro), domínio da 
interação social, domínio do uso de utensílios domésticos, autonomia durante as refeições. É 
importante saber também que tanto o currículo adaptado quanto o currículo funcional podem 
ser desenvolvidos em conjunto. Não é necessário primeiro desenvolver um para depois 
desenvolver o outro. Há muitos casos em que o aluno chega com tantos déficits sociais, que a 
escola opta por aplicar somente o currículo funcional, mas com algumas adaptações do mundo 
acadêmico, por conta das necessidades de cada aluno, que naquele momento são importantes. 
Por exemplo, na educação infantil ou no primeiro ano do ensino fundamental é importante fazer 
trabalhos manuais que vão ajudar posteriormente no movimento da escrita, como o movimento 
de pega de pinça, pega de lápis, etc. Essas atividades não são apenas funcionais; são atividades 
que vão refletir posteriormente nas suas atividades acadêmicas. 
É importante saber que, mesmo aqueles alunos que têm uma adaptação curricular, 
muitas vezes precisam de uma adaptação funcional e que, da mesma forma, ocorre também de 
o aluno ter um currículo funcional que pode ter também uma adaptação curricular, podendo os 
dois currículos andarem juntos. Temos, como exemplo, um aluno que tem autismo leve que 
conseguiu sucesso durante o ensino médio. Quando estava se preparando para uma faculdade, 
precisou de adaptação curricular. O currículo foi todo adaptado para que ele pudesse seguir em 
 
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frente no ensino médio, mas ao mesmo tempo ele precisava de uma funcionalidade social. 
Então, juntamente com esse currículo adaptado acadêmico com os conteúdos dentro das suas 
possibilidades, com adaptação metodológica, ele também teve currículo funcional, que era 
justamente a questão crucial da sua relação com o outro, da compreensão dos códigos sociais, 
da subjetividade das coisas, da percepção não apenas literal do mundo, mas também subjetiva. 
Então esses aspectos foram trabalhados em conjunto com o currículo adaptado, ou seja, 
pudemos utilizar tanto a adaptação curricular quanto o currículo funcional caminhando 
juntamente. 
 
 
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Aula 4. Currículo funcional II 
 
Na construção curricular é preciso estabelecer algumas bases importantes, tanto no 
currículo funcional quanto no currículo adaptado. 
 
 
A primeira delas é uma aprendizagem personalizada (ligada à condição daquele aluno), 
sempre havendo uma relação positiva com o aluno. Quando é desenvolvido um trabalho 
pedagógico com algum aluno, temos que seguir uma posição positiva, não devendo pensar que 
não vamos conseguir, ou seja, essa relação positiva começa justamente no professor, que vê o 
aluno como alguém que é capaz de alcançar os objetivos que serão propostos. É importante 
também a organização do ambiente. É interessante, para quem convive cotidianamente nas 
escolas, observar o seguinte: quanto mais o ambiente é bagunçado, mais fica fácil para o aluno 
se perder, se distrair e ficar desestruturado, sem estabilidade emocional. Então a organização 
do ambiente é importante para que o próprio aluno se organize. Além da organização, devemos 
dispor de um ambiente seguro. Estamos falando de crianças e de adolescentes que muitas vezes 
 
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se auto agridem, que agridem outra criança, com dificuldade de locomoção, com deficiência 
visual e, para conviver com esse público que necessita de adaptação ambiental, é importante 
que o ambiente seja seguro. 
Hoje nós temos muitos aplicativos para celulares que nos ajudam a entender muitas 
coisas. Por exemplo, um deficiente visual, que tem dificuldade de leitura (baixa visão), ou que é 
cego, hoje podecontar com vários aplicativos que o ajudam a entender as mensagens que 
chegam escritas ou as imagens que são colocadas no face-book ou em outras mídias sociais. O 
que ocorre é que essas pessoas hoje têm muito mais condições de se comunicar e de entender 
o que está acontecendo no mundo, isto por conta desses aplicativos, mas continuam tendo as 
mesmas dificuldades de locomoção e de acessibilidade, porque os ambientes não são 
preparados para essas pessoas, e acontece de às vezes a própria escola não preparar 
adequadamente o seu ambiente. Não se trata apenas da acessibilidade da chegada da pessoa 
até a escola, da entrada dentro de um banheiro, mas também de a pessoa poder utilizar os 
espaços disponíveis. Então o ambiente precisa ser totalmente preparado e seguro. 
Nós tratamos no início sobre a organização e a sistematização das atividades. Na 
construção curricular tem que haver também a estruturação das atividades e, juntamente com 
essa estruturação, é necessário explorar os vínculos afetivos e os interesses do aluno, ou seja, 
respeitar e valorizar esses vínculos e esses interesses. E é importante também que esses 
conteúdos sejam adaptados ao contexto social, familiar e afetivo do aluno. Outros aspectos 
importantes que precisamos estabelecer na construção curricular: interação com a família, 
mediação e não tutoria (quando o professor faz a mediação entre o conhecimento que o aluno 
quer adquirir em seu estado real e seu estado potencial, estimulando, provocando, dando 
condições). Atualmente o conhecimento está socializado, não sendo mais de domínio exclusivo 
do professor. Hoje, para saber uma resposta, não precisamos mais esperar pelo professor; 
temos as respostas na internet, por exemplo. Então o professor não pode ser mais aquele 
detentor do conhecimento. Ele vai, sim, trabalhar como mediador, para de certa forma colorir 
esse conhecimento e dar um pouco mais de prazer à dinâmica da sala de aula. 
E outra coisa que a estruturação curricular, esse trabalho junto com o currículo funcional 
e o currículo adaptado, pode propiciar é a descoberta de prioridades e limites, aquilo que o 
aluno vai priorizar naquele momento para aprender e os limites de sua condição social. Uma 
atividade bem estruturada vai ensinar, também, para o aluno as regras, os limites, aquilo que se 
deve fazer, o início, o meio e o fim. Vai organizar, de certa forma, a sua estrutura social, a sua 
estrutura psíquica, porque, se a atividade é estruturada, tem o princípio, o desenvolvimento e 
o fim. Outra coisa também importante é respeitar a estrutura emocional do aluno, a sua 
condição psíquica e as suas necessidades, dando atenção também à estrutura emocional da 
 
19 
 
família. Uma família que tem uma pessoa com deficiência ou alguma dificuldade 
comportamental vive uma dinâmica diferente; as prioridades são outras. Por exemplo, na 
educação do próprio filho, muitas vezes a família precisa de acolhimento. A escola precisa 
entender a família, assim também como a família precisa entender a escola. Então, nessa 
dinâmica, podemos identificar situações em que a família precisa de um apoio emocional. É 
complicado lidar com uma relação familiar de conflitos; tem que haver o contrário, tem que 
haver colaboração e apoio; isso é importante. O educador, quando trabalha com alunos com 
deficiência, também lida com a família, e então é necessária essa preocupação. 
Outro aspecto é a generalização da aprendizagem, para que o conhecimento não fique 
restrito à escola. O objetivo da escola é preparar os alunos para o mundo, dar-lhe condições 
sociais, condições afetivas e emocionais para que ele lide com as demandas do mundo social. 
Então a escola não é um fim, e sim um meio para determinado objetivo desse aluno. 
Eis um exemplo de atividade funcional: criança cortando papel pautado, pauta de folha 
de caderno. 
 
Nessa atividade ela desenvolve a concentração, e a atenção permite a auto regulação 
da criança. A atividade é funcional, pois busca trabalhar esses aspectos (concentração, auto 
regulação, etc.). Essa atividade é indicada para os momentos em que as crianças estão mais 
agitadas, precisando voltar ao seu estado de concentração. Esse tipo de atividade demanda 
maior atenção. Assim como as atividades de pintura e de música, ela ajuda a retomar a 
concentração do aluno. Essas atividades, tanto do currículo funcional quanto do currículo 
adaptado, precisam partir da condição do aluno, nascendo também dentro da necessidade da 
 
20 
 
família. É importante sempre ter esse diálogo com a família, para que possamos desenvolver o 
currículo, com atividades, com trabalhos e com práticas que sejam produtivas e mais voltadas 
para quem aprende do que para quem ensina. Não adianta ensinar alguma coisa que não vá ter 
relevância, significado para o aluno. Dentro do mundo da educação especial, dentro do mundo 
da inclusão, é preciso olhar muito para o aluno. 
É preciso que enxerguemos o aluno como alguém que necessita de inclusão social e 
escolar e, para que isso aconteça, é preciso nos voltarmos para as suas necessidades e para as 
suas demandas. Temos duas situações importantes para observar: a primeira são as condições 
em que o aluno chega até o professor, o que ele traz de conhecimento, de carência, de 
habilidades, de potencialidades; e a outra situação é o que está sendo discutido pela escola, os 
temas, os materiais de trabalho, os conteúdos escolares, aquilo que está dentro da 
aprendizagem da turma. Se nós estamos falando de inclusão em classe comum, não podemos 
esquecer que temos que dialogar sempre de acordo com o que o aluno está aprendendo dentro 
da sala de aula. Por exemplo, se o aluno está estudando sobre a Revolução Francesa, o currículo 
adaptado deve ser elaborado considerando o mesmo assunto. Se ele está estudando sobre a 
literatura brasileira, deve acontecer a mesma coisa. Se é algo do começo do ensino fundamental 
I, como pronomes, artigos, também vamos trabalhar isso, dentro das suas limitações e das suas 
condições para que ele possa dialogar sempre com o conteúdo da turma e, dessa forma, 
buscamos uma construção curricular adaptada ou funcional, para que o aluno possa desenvolver 
com bastante sucesso as suas potencialidades. Lembrando sempre que podemos aplicar os dois 
currículos ao mesmo tempo, não necessariamente fazendo uma separação, e na maioria das 
vezes é isso que vai acontecer. Mesmo para aqueles alunos mais brilhantes para os quais é feita 
apenas uma pequena adaptação curricular, vai ser necessário também um currículo funcional. 
 
 
 
21 
 
Aula 5. A preparação do aprendente I 
 
Vamos tratar agora sobre a preparação do aprendente. É muito comum, ocorrendo de 
recebermos alunos, principalmente aqueles que têm um quadro mais severo de algum 
transtorno de aprendizagem ou alguma deficiência, esses alunos estarem despreparados para o 
ambiente da escola. Muitos deles estão entrando em uma sala de aula ou escola pela primeira 
vez, e então esses alunos não têm ainda as condições necessárias para poderem aprender, 
estarem em conjunto com a turma para aprender. O que ocorre na maioria das vezes é que nós 
tentamos ensinar, mas ele não está preparado para aprender, e então fica difícil, não há uma 
sintonia e, em muitos casos, não conseguimos fazer nem que esse aluno sente conosco, na 
mesa, na carteira, para poder aprender alguma coisa, porque ele não conhece aquela dinâmica, 
é algo novo e ele não tem condições de desenvolver um trabalho acadêmico. 
 
Normalmente quando o aluno chega na escola com esse quadro, são comuns quatro 
situações: 1ª) déficit de atenção (não consegue focar em determinada atividade porque não 
aprendeu a desenvolver a atenção, em consequência do déficit de atenção); 2ª) hiperatividade 
(não consegue ficar tranquilo e causa desconforto na hora da aprendizagem); 3ª) 
comportamentos disruptivos (comportamentos que interrompem o processo natural do 
desenvolvimentode uma aula, em que de repente o aluno se auto agride, agride o outro, sai da 
sala, não quer ficar sentado ou provoca tumulto, agressão e assume comportamentos rígidos, 
que geralmente ocorrem em autistas, entre alunos que não aceitam mudança de rotina); 4ª) 
acomodação sensorial (aspectos sensoriais que envolvem a atenção e o desenvolvimento do 
aluno em sala de aula). É importante observarmos esses quatro elementos para que possamos 
 
22 
 
trabalhar. Se não dermos atenção a essas situações, corremos o risco de fracassar na tentativa 
da construção curricular e das atividades adaptadas para determinado aluno, isso por conta de 
o aluno ainda não ter sido preparado para o ambiente da sala de aula. É importante observar 
esses aspectos e ter estratégias para lidar com essas situações. 
Estratégias comuns utilizadas em casos de déficit de atenção e hiperatividade: fazer um 
vínculo daquilo que vai ser ensinado com aquilo que é afetivo, que é interessante para o aluno, 
uma vez que a propensão de ficar atento brincando com dispositivos tecnológicos (celulares, 
computadores, vídeo games) é muito maior do que ficar atento às questões da sala de aula. 
Esses instrumentos se ligam afetivamente com o aluno. Então devemos identificar os elementos 
que fazem parte do mundo afetivo do aluno. Uma maneira de trazer a atenção do aluno para as 
atividades desenvolvidas na sala de aula é justamente fazendo algumas perguntas sobre quais 
as atividades que o aprendente gosta de fazer, definindo como utilizá-las para desenvolver a sua 
atenção. Então o princípio afetivo das atividades estimula a disciplina para realizá-las. Ou seja, 
se uma atividade dialoga com o mundo afetivo do aluno, tem-se grande chance de conseguir a 
sua atenção para realizar a atividade. Por exemplo, o caso de um garoto que tinha uma 
resistência muito grande para escrever. Ele estudava em uma escola que usava um método 
muito tradicional que impunha a ele a obrigação de escrever. Trata-se de um menino autista, 
com 6 anos, que resistia tenazmente ao ato da escrita. Ele não escrevia de forma alguma, porque 
para ele aquilo era uma imposição, era uma coisa muito ruim, e então foram criadas estratégias 
que o levassem a, voluntariamente, desenvolver a habilidade da escrita. Não adiantava forçar a 
barra pedindo para ele escrever, pois já tinha essa birra contra a escrita, e ficava difícil conseguir 
que ele tivesse a atenção e a concentração necessárias para escrever. O menino tinha paixão 
pelo personagem Woody, do filme Toy Story. Então foi adotada a seguinte estratégia: em 
determinado dia, todos os alunos iriam trazer os seus bonecos, personagens que amavam, e 
iriam falar, expressar o motivo de amarem o seu personagem. E todos eles fizeram isso. Após 
essa primeira parte foi solicitado que escrevessem uma pequena carta, uma pequena frase para 
esses personagens que eles tanto amavam. Então o menino com o boneco Woody escreveu a 
sua primeira linha, pois sentiu prazer de escrever para o boneco Woody. O que moveu esse 
garoto a fazer essa atividade, que se tentava com ele há muito tempo, foi justamente esse 
aspecto afetivo, essa ligação que ele tinha com o boneco. Estamos falando de alunos com 
extrema dificuldade de se concentrarem, de aprenderem, dizendo que é preciso usar o aspecto 
da afetividade para que eles possam desenvolver a atenção e a concentração. 
Outras dicas para minimizar a desatenção e a hiperatividade: diante de um contexto de 
preparação do aluno para aprender numa escola inclusiva, nós temos que propor algumas 
atividades que façam sentido para ele, como é o caso dessa atividade que foi proposta, em que 
 
23 
 
escrever a carta para o Woody fazia sentido, mas escrever uma frase imposta pela escola não 
fazia sentido nenhum para o aluno. Então é uma estratégia que nós utilizamos. Para minimizar 
a distração e a hiperatividade, devemos organizar as rotinas de trabalho. A primeira coisa que 
devemos fazer na preparação necessária para aprender é justamente organizar o seu dia, e essa 
organização deve começar em casa e implica ter horário para acordar, tomar café, se arrumar, 
tomar banho, preparar-se para ir à escola, etc. É uma rotina, e isso ajuda a criança a se organizar. 
Não adianta fazer isso na escola se em casa não existe essa rotina. Nesse caso acontece um 
choque que ocorre no momento em que a escola impõe uma rotina e limites à criança se a 
família não tem a mesma postura. A criança vai ter um choque constante na escola. Aí surgem 
os casos muito comuns de imposição: alunos opositores, que têm a percepção de que a escola 
proíbe tudo e que em casa pode tudo. Então não pode haver essa diferença de sintonia, essa 
diferença de atitude. Essa rotina, essa organização do dia, tem que valer para a escola e também 
para a família. 
 
Outra estratégia é privilegiar os trabalhos curtos, realizando apenas uma tarefa por vez, 
sempre que o aluno tem dificuldade de se concentrar, se ele tem dificuldade de ter atenção para 
a atividade da escola. Não podemos sobrecarregá-lo de conteúdo, dar muita atividade para ele 
fazer. É importante também oferecer sempre ao aluno um retorno positivo sobre o seu trabalho. 
Se damos um feedback para toda atividade que ele realiza, ele vai notar que prestamos atenção, 
que temos consideração pela atividade, que damos importância e, consequentemente, isso se 
torna importante para ele. Além disso, é importante estabelecer com o aluno uma comunicação 
fácil. Outras estratégias são: cooperar nas atividades do aluno, trabalhar em consonância com a 
família, permitir que o aluno faça sugestões (o que é muito importante, pois ele vai sugerir aquilo 
que ele considera interessante, uma vez que estamos lidando com alunos que precisam ser 
motivados, estimulados por alguém da escola, fazendo com que, na medida em que ele faz as 
 
24 
 
sugestões, ele está colocando também seu interesse e seus afetos dentro do trabalho 
pedagógico), estimular a organização do material e do trabalho e utilizar tecnologias que 
despertem interesse. 
Nem todas as escolas têm a possibilidade de ter tecnologias, mas vai chegar o tempo 
em que nós vamos ter muito mais equipamentos tecnológicos acessíveis do que temos hoje dia. 
Hoje existem mais dispositivos tecnológicos do que há 5 anos atrás, e muito mais do que há 10 
anos atrás. Há muitas escolas que realizam trabalhos utilizando tablets, celulares e outros 
artefatos tecnológicos, que são importantes para despertar a atenção e o interesse do aluno. 
Outra estratégia que podemos utilizar é trabalhar com música e artes. Tocar violão é um 
exercício que demanda bastante concentração, já que o aluno fará movimentos diferentes e ao 
mesmo tempo com cada uma das mãos. Além de assumir uma postura adequada e a 
coordenação fisiomotora, um conjunto de outros aspectos vão auxiliar a desenvolver a atenção 
e a concentração. Nem todos os alunos conseguirão manusear o violão. Então, nesses casos, 
podemos utilizar outros instrumentos que não exijam habilidades tão complexas como tocar 
violão, mas que vão produzir o mesmo nível de concentração e atenção. 
 
 
25 
 
Aula 6. A preparação do aprendente II 
 
No que tange aos comportamentos, há estratégias que podemos utilizar para solucionar 
essa situação que ocorre frequentemente na escola. 
 
A primeira coisa que se tem que fazer é não se alterar. Isso é fundamental quando 
lidamos com os comportamentos chamados disruptivos, os comportamentos que às vezes são 
assumidos por uma birra, uma situação de agressividade, de auto agressão, que às vezes o nosso 
aluno tem. O “não se alterar” não significa “não agir”. São duas coisas distintas. O “não se 
alterar” é não permitir que a situação retire de nós o equilíbrio necessário para intervir, isto é, 
se o aluno grita, se tem um movimento muito brusco, se ele trata de uma forma que pode se 
machucar ou machucar alguém, eu não posso agir do mesmo jeito. Ao contrário,eu tenho que 
ter uma postura que possa acalmar esse aluno. Ele tem que nos olhar e ver uma pessoa 
equilibrada. Se não tivermos uma postura de tranquilidade, pode ser que o aluno utilize isso 
outras vezes para chamar nossa atenção, que é isso que ele quer realmente, ou pode acontecer 
de a turma toda se desequilibrar diante da nossa postura. Então é muito importante manter a 
calma, o equilíbrio, e isso não significa se manter inerte diante da situação. Todas as minhas 
ações devem ser equilibradas e pensadas de forma que o aluno encontre certa tranquilidade ao 
me ver agir, e a primeira estratégia que devemos utilizar depois de não nos alterarmos é 
justamente procurar redirecionar a atenção e a ação do aluno. Muitas vezes existe alguma coisa 
de que o aluno gosta, que lhe dá prazer. Então devemos direcionar a sua atenção para essas 
coisas em que ele possa ter interesse e que de repente vão minimizar o foco daquilo que o está 
aborrecendo, aquilo que está alterando o seu comportamento. É importante também investigar 
por que esse comportamento está ocorrendo. 
Todo comportamento disruptivo, toda atitude agressiva do aluno, toda birra ou toda 
ação que gere situação inadequada em sala de aula precisa ser investigada, precisamos 
identificar por que ele agiu assim, quais foram os motivadores que o levaram a agir assim. Outra 
 
26 
 
estratégia é sempre falar baixo. Não precisamos levantar o tom de voz para lidar com essas 
situações, porque quanto mais barulho e tumulto na sala, mais a situação fica fora de controle. 
É preciso estabelecer uma concentração e ter condições de falar para que possamos ter o 
controle necessário para reequilibrar as ações do aluno. A melhor maneira de dizer “não” é 
mostrar um caminho melhor. Essas situações são muito comuns em alunos com TOD (transtorno 
opositor desafiador), e uma das maneiras de lidar com o TOD, além de se fazer um trabalho 
junto à família (porque a estratégia começa quando nós atuamos junto à família, para que a 
família estabeleça os limites, para que a família crie as regras e estabeleça as ações iniciais para 
modificar o comportamento do aluno). Podemos trabalhar com o TOD da seguinte forma: 
evitando sempre o confronto e mostrando alguma coisa que seja interessante, adequada para 
que aquele comportamento não ocorra mais. Então, em situações em que o aluno tem o 
comportamento agressivo, é possível intervirmos junto à família, para que a família crie os 
limites. A partir da família trabalhamos na escola, mas se isso for feito apenas na escola, a 
situação continua, porque na família ele pode tudo. No caso do autismo é comum a criança ter 
um comportamento disruptivo por conta de alguns fatores que nós já tratamos anteriormente, 
como a questão sensorial, como a questão da alimentação, alguma alergia alimentar, alguma 
situação que modifique o seu comportamento por conta da interferência que esses elementos 
químicos que às vezes estão no alimento vão provocar no aluno. Para cada situação teremos 
uma estratégia diferente para agir, porém a nossa postura tem que ser a mesma. Não devo me 
alterar, devo manter o tom de voz na mesma altura, redirecionar a ação e a atenção do aluno. 
A nossa postura inicial deve prevalecer. É assim que eu continuo estabelecendo uma atividade 
que seja mais produtiva, sem perder o foco no trabalho. 
 
 
27 
 
Outra coisa que podemos utilizar, para que esses comportamentos sejam superados, é 
aquilo que utilizamos para pessoas com TDAH, déficit de atenção, e para o aluno imperativo. 
São as rotinas de sala de aula, alguma coisa que ajude a estruturar o aluno. Por exemplo, em 
caso de autismo é muito importante a rotina. Nos casos de criança com deficiência intelectual é 
muito importante a rotina; no autismo é mais importante ainda, porque muitas vezes o autismo 
traz uma rotina obsessiva, uma necessidade de repetição, um comportamento repetitivo, 
obcecado, como no caso de crianças e adolescentes que se comportam sempre do mesmo jeito, 
que não conseguem superar um comportamento mais disruptivo quando são contrariadas. 
Então a rotina no autismo é importante para estruturar, até mesmo para dar previsibilidade ao 
trabalho, porém essa rotina tem que cumprir aquilo que é saudável, uma rotina na escola. Para 
quem está entrando no social, para quem está buscando a inclusão, é importante participar 
dessa rotina, uma rotina escolar saudável, em que o aluno chega na escola e sabe o que fazer 
antes de começar a aula e em que durante a aula já está bem claro para ele o que tem que fazer. 
Para uma criança com autismo esse grau de previsibilidade é muito importante. Para o aluno 
que tem deficiência intelectual, que não tem muitas vezes a percepção quando passa dos 
limites, esse grau de previsibilidade e organização é fundamental. Para o aluno com TDAH, 
hiperativo, esse grau de rotina e organização é fundamental. Para o aluno com TOD, por 
exemplo, que não respeita, não reconhece as regras, quando chega na escola e encontra as 
regras e limites, isso é muito importante para a interação social, porém no caso do TOD tem que 
haver também a participação da família, porque não adianta somente a escola criar as rotinas e 
normas se em casa ele não tem isso. Então é o contrário, quando se começa na família, no 
espaço da família, da casa, com as rotinas, as obrigações, com aquilo que ele tem que fazer, e a 
escola continua esse trabalho, normalmente esses comportamentos vão acontecer no TOD 
quando a família não tem nenhuma rotina de organização, e ele chega na escola e encontra uma 
estrutura rígida como uma estrutura escolar. Aí começa a ocorrer o choque. Então o ambiente 
da escola é muito interessante para fazermos esse trabalho de inclusão e trabalharmos esses 
aspectos que são ligados à rotina, a limites, à organização, à estruturação do dia do aluno para 
que ele possa desenvolver as suas habilidades e também ser inserido no mundo social. 
 
28 
 
 
As rotinas devem ser mantidas e quebradas, as rotinas vão ajudar muito essas crianças 
com esse tipo de transtorno, deficiência, quadros de autismo, TOD, hiperatividade, déficit de 
atenção, deficiência intelectual. São crianças que precisam de rotina para se organizar tanto na 
escola quanto em casa, porém no caso do autismo, essas rotinas obsessivas que existem, é 
preciso quebrá-las para que não se tornem uma obsessão. Aí acontece aquilo que é muito 
comum na criança quando tem a sua expectativa contrariada: entra em crise, entra numa 
situação disruptiva, e o comportamento aparece. Então é preciso trocar essa rotina obsessiva 
por uma rotina saudável. Para fazermos isso existem algumas estratégias que são muito comuns 
para evitarmos a rotina obsessiva. Temos como exemplo o caso de um adolescente que, antes 
de dormir, tinha a obsessão de arrumar todo o quarto. Muitas vezes a mãe ia até o quarto de 
madrugada, e ele estava arrumando nos mínimos detalhes todas as peças que havia no quarto. 
Ela tirou o máximo de objetos que pôde tirar e deixou só o mínimo necessário para ele poder 
dormir, e assim essa rotina obsessiva foi quebrada. Então nós podemos utilizar algumas 
estratégias para que isso não vire uma obsessão, e isso acabe prejudicando o desenvolvimento 
social do nosso aluno. 
 
 
 
29 
 
Aula 7. A preparação do aprendente III 
 
Sobre a preparação do aprendente na questão da rotina e como isso é importante, a 
organização do dia contribui para a melhora do aluno. Por exemplo, um aluno que tenha déficit 
de atenção, se ele tem o dia organizado, essa organização vai contribuir para que ele possa se 
lembrar das coisas que ele precisa organizar e o que ele precisa fazer para ter um desempenho 
escolar adequado. Isso também tem que ser feito em casa. A organização do dia não está 
somente na escola; precisa estar em casa. Temos algumas dificuldades de entender alguns 
mecanismos tradicionais da escola, mas esses mecanismos às vezes são importantíssimose 
funcionam como organizadores do aluno. Por exemplo, toda escola manda dever de casa, e isso 
funciona, porque muito aluno não tem essa organização familiar e hoje nós vivemos em uma 
sociedade em que a fragmentação familiar é evidente. Pais e mães trabalham, se ausentam 
muito de casa e às vezes essa necessidade do trabalho vai possibilitar uma desorganização do 
dia da criança e, quando a escola se ocupa de dar tarefas para casa ao aluno, ela possibilita essa 
condição de o aluno se organizar. Para ele fazer o dever de casa, tem que ter uma organização 
do dia. 
 
É importante também que essa organização ocorra em casa. A organização vai permitir 
também a auto regulação e nós já tratamos sobre a auto regulação, que é quando permito ao 
aluno que ele possa fazer e criar suas estratégias para se organizar socialmente e 
emocionalmente, principalmente emocionalmente, porque muitas vezes fica muito invasivo eu 
exigir do aluno que ele fique mais calmo, que ele fique mais tranquilo diante de uma situação 
que não propicia para esse aluno os instrumentos necessários para ele fazer isso, porque 
evidentemente vai haver situações em que ele vai estar sozinho, o professor não vai estar perto, 
 
30 
 
e ele precisa ter esses mecanismos pessoais para sua auto regulação. A organização do dia 
permite isso, principalmente em casos de alunos com déficit de atenção, e também vai 
contribuir para as funções cognitivas, aquelas funções que são essenciais para eu compreender 
as ações, os movimentos no social de forma mais madura, de forma mais equilibrada, porque, 
se temos um tipo de exigência em casa e na escola que faz entender melhor as regras e os 
limites, isso vai funcionar para uma compreensão mais ampla do mundo social e também vai 
ajudar na compreensão das regras sociais. 
Em muitos casos pensamos que a escola inventou as regras. As crianças saem de casa, 
vão para a escola, e a escola é cheia de regras, mas as regras estão na sociedade. A escola apenas 
replica aquilo que a sociedade impõe como o certo e o errado, como os limites, e é importante 
que isso ocorra, caso contrário ficamos sem parâmetros daquilo que é certo, daquilo que é 
errado, daquilo que é bom, daquilo que não é, o que se pode fazer, o que não se deve fazer, os 
direitos e os deveres. Então a escola vai ser esse primeiro elemento que vai colocar essa 
compreensão social das regras e dos limites e também e rotina, a organização do dia. Vai 
contribuir para a inclusão social escolar. Nós temos um dilema muitas vezes de pensar que 
devemos privar determinados alunos de fazer alguma coisa, por terem alguma deficiência ou 
limitação, mas eles têm que participar de todos os momentos, eles têm que entrar em uma 
rotina, de uma organização, porque isso inclui. O aluno está dentro de um grupo e todos estão 
trabalhando dessa mesma forma, todos estão percebendo, compreendendo e vivendo esses 
mesmos ambientes com esses limites, com esses deveres, com esses direitos. Muitos alunos têm 
o comportamento disruptivo, hiperativo, são mais desatentos, são mais de certa forma 
opositores, porque eles precisam de limites, eles não encontram esses limites em casa, então 
chegam na escola desejosos de limite, porque são esses limites que lhe trazem segurança. Uma 
coisa é o aluno que não tem parâmetro de certo e errado, e outra coisa é o aluno que sabe muito 
bem o que fazer, o que é certo e o que é errado. Então os limites da escola vão permitir ao aluno 
também compreender que é importante também para ele entender o seu papel social, a sua 
relação com o outro e a sua posição com o outro. 
Estratégias para lidar com comportamentos inapropriados: determinar a que função o 
comportamento atende, entender por que ele se comportou daquela forma, entender se esse 
comportamento está atendendo à exigência de alguma coisa, que pode ser uma disfunção 
sensorial, pode ser uma questão de alimentação, pode ser uma irritação por conta de um 
ambiente, pode ser a provocação de um colega ou pode ser o comportamento dele mesmo. 
Então eu tenho que tentar saber por que ele está se comportando assim, qual o motivador desse 
comportamento. É importante que eu faça a intervenção o mais precocemente possível. Eu 
tenho que ter a condição de agir de imediato para que a situação não determine a repetição 
 
31 
 
desses comportamentos. Quanto mais adiarmos a intervenção, pior fica, mais o aluno se sente 
mais à vontade para ter esses comportamentos. 
 
Há muitos casos em que é um teste que o aluno faz conosco. Ele se comporta de um 
jeito, esperando saber qual vai ser a reação do professor para saber se ele tem espaço para 
continuar esse comportamento, principalmente nos casos de alunos com TOD, que têm o 
comportamento mais opositor. Em casos de hiperatividade, por exemplo, ele precisa realmente 
se organizar. Nos casos de autismo precisamos fazer uma análise mais completa para verificar a 
que se destina determinado comportamento. De qualquer forma essa intervenção tem que ser 
o mais cedo possível. Aí vem o aspecto dos cuidados com a alimentação, que são cuidados que 
devemos ter para evitar que esse quadro se avolume por conta de um descuido que poderia ter 
sido evitado, de falar com a família, de cuidar do aluno. etc. A questão da hipersensibilidade 
sensorial e a última observação que é a ação profissional pode ser uma ação de extinção ou um 
reforçador para outra atitude. São dois aspectos que vão nortear ação do professor. Primeiro, 
pode utilizar uma atitude, uma ação de extinção desse comportamento, ou pode criar uma 
estratégia para que outra ação, outro comportamento, ocupe o lugar daquele comportamento. 
Por exemplo, quando se fala na extinção desse comportamento, o professor vai procurar 
descobrir no ambiente o que está provocando aquela situação. Vamos supor que seja uma 
criança com autismo e que há uma questão sensorial relacionada à luz que provoque uma 
irritação e ele tenha uma crise, uma situação disruptiva. Então cabe trabalhar em cima da 
iluminação, da troca do tipo de lâmpada. Geralmente as lâmpadas fluorescentes atrapalham por 
não serem ideais. Ou se pode imaginar uma outra situação: o aluno tem um comportamento 
por conta de uma provocação de um colega ou de uma atitude de um outro colega. O que se 
pode fazer para que o aluno tenha um outro comportamento? Pode-se conversar com o aluno, 
também, para ele não ceder à provocação. Em vez de se tirar o colega da sala, é melhor 
 
32 
 
conversar com esse aluno e explicar a ele: “Você precisa ter uma atitude mais social; isso 
acontece na escola; é comum as crianças terem essas atitudes umas com as outras. A escola nos 
ensina a viver uns com os outros, e é importante que você aprenda a lidar com esses desafios”. 
Ao mesmo tempo se deve também conversar com o outro aluno. 
Então eu tenho dois caminhos para tentar resolver essa situação, sendo que um é 
extinguindo o motivador daquela atitude e o outro procurando uma saída que seja mais 
adequada para que esse aluno não fique tão alterado nem tão incomodado com a situação a 
ponto de provocar o comportamento disruptivo. 
 
 
33 
 
Aula 8. A preparação do aprendente IV 
 
O último item da nossa fala sobre a preparação do aluno trata do transtorno de 
processamento sensorial, que é um quadro mais comum em autismo. As pesquisas e os estudos 
mostram que cerca de noventa por cento dos autistas têm algum tipo de transtorno sensorial. 
Então é bem provável que você, que tem um aluno autista em sala de aula, assim como eu, que 
tenho um aluno autista em sala de aula, temos grandes possibilidades de ter esse aluno com um 
tipo de transtorno sensorial. Mas não é somente autistas que têm transtornos sensoriais. Há 
outras situações dentro da educação especial que trazem esse quadro do processamento 
sensorial. É necessário, então, eu atentar para os aspectos que ligam a questão do 
comportamento do aluno à questão do transtorno sensorial.Então no próximo quadro pode-se ver que nós falamos de integração sensorial, com 
atenção para todo aluno que tenha a modificação sensorial (algum tipo de distúrbio de 
sensibilidade, hipossensibilidade ou hipersensibilidade). O “hipo” baixa a sensibilidade; já o 
“hiper” é uma aguçada sensibilidade sensorial, em que normalmente é necessário que se faça 
algum trabalho na área de integração sensorial. Quem faz esse trabalho geralmente é algum 
terapeuta especializado que vai criar as estratégias para poder fazer a dessensibilização 
sensorial do aluno. Mas em sala de aula, na escola, eu posso tomar algumas atitudes que vão 
ajudar o meu aluno a se organizar nesse campo sensorial. 
 
 
34 
 
 
Primeiro pode-se ver algumas coisas que eu posso evitar, por exemplo, trabalhar com 
roupas com cores fortes. Por vezes a roupa que eu estou vestindo, algum adereço que eu traga 
no corpo pode provocar um desconforto sensorial que vai provocar no aluno algum tipo de 
atitude repetitiva, falta de concentração ou irritação que irá prejudicar o seu aprendizado. Outro 
exemplo são os cheiros fortes. Até mesmo o perfume que eu uso, ou a questão do ambiente 
que às vezes é limpo e outras vezes tem um cheiro muito forte de produto de limpeza. Isto é 
muito ruim para muitos alunos, para nós também, mas para alunos que são hipersensíveis isso 
gera um dano terrível que provoca neles atitudes, muitas vezes, de irritação. Barulhos, gritos e 
ruídos constantes também podem desencadear desconforto. Então nós temos uma sala de aula 
comum na escola: o barulho, o ruído e gritos das crianças. Mas a escola não precisa ser 
extremamente barulhenta. Eu posso criar estratégias, pedir aos alunos e organizar o ambiente 
para que ele seja o mais organizado e silencioso possível dentro das limitações. Há algumas 
coisas na escola que eu posso evitar, como, por exemplo, aquela campainha que toca e todos 
escutam na escola. Há muitos casos de autistas, e isto eu já presenciei, que, quando chegava o 
final da aula em que iria tocar a campainha, eles entravam num estresse tremendo porque a 
grande expectativa deles era que o sinal ia tocar naquele horário. Então aquilo causava um 
desconforto muito grande, e isso pode ser evitado. 
 
 
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Outra coisa é que, quanto mais eu organizar a minha escola, tanto mais a minha sala de 
aula melhora. As crianças não precisam correr nos corredores, não precisam gritar. 
Evidentemente que esse é um trabalho que não depende só de mim, e sim de toda a estrutura 
escolar, da coordenação, da gestão... Mas na minha sala, se eu sou o professor regente, eu posso 
organizar o ambiente de tal forma que essas coisas sejam minimizadas. Por exemplo, na escola 
onde eu trabalho há um corredor, e as salas são todas ali. Então na hora do recreio imagine o 
que acontece: as crianças saem da sala e correm no corredor para irem ao recreio. Sempre 
haverá um aluno autista ali que se incomoda muito com aqueles gritos, que, quando as crianças 
saem correndo, ele coloca a mão no ouvido e começa a reclamar por causa dos gritos das outras 
crianças. Duas coisas podem ser feitas: a primeira é orientar os professores a não deixarem os 
alunos fazerem isso, não deixarem os alunos saírem daquele jeito. E a segunda é conversarem 
com os alunos para que eles, ao saírem no corredor, não gritem nem corram. 
Certa vez um aluno passou por mim correndo no corredor e aí eu falei para ele: “Espere 
um minuto! Por que você está correndo aqui?” Ele respondeu para mim: “O nome disso aqui 
não é corredor? Eu estou correndo”. Então eu falei: “vou colocar uma plaquinha com a palavra 
‘andador’.” Porque na verdade aquilo é um chamarisco para o aluno correr. Ele acha que pode 
correr porque é um espaço grande em que ele sai correndo. Mas nós podemos mudar essa 
cultura da escola. Essa cultura de que podemos gritar o tempo todo, de que podemos fazer 
movimentos bruscos, de que podemos criar um ambiente com mais gritaria... Não, nós podemos 
criar um ambiente o mais organizado possível. É lícito que a escola faça isso? Sim, no artigo 59 
da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), nós vemos que os sistemas de ensino devem 
organizar todo o instrumental necessário para a inclusão dos alunos com deficiência, TGP, altas 
habilidades... Então o aluno da educação especial tem direito. Nós podemos organizar a nossa 
escola de forma a permitir que esses alunos tenham melhores condições, principalmente nesse 
campo da questão sensorial. 
 
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Eu conheço casos de alunos que abandonaram a escola por conta do barulho, porque 
não suportavam o barulho da escola, alunos com autismo. E outra coisa que nós vemos também 
é a desorganização do ambiente de trabalho. O que é um ambiente desorganizado? Um 
ambiente confuso, que traz confusão sensorial. Um ambiente que não está organizado cria no 
aluno esse sintoma da desorganização sensorial. 
No próximo slide nós vamos ver o seguinte: a fala do professor precisa ser... 
 
Isso é importante porque é o meu papel enquanto docente. Claro, com segurança. Eu 
não preciso gritar para mostrar segurança naquilo que eu vou falar, mas eu posso falar com 
firmeza, com convicção daquilo que eu estou falando para o aluno, de forma objetiva. Isso quer 
dizer que a fala do professor precisa ser objetiva. Eu não posso ficar pensando que eu vou falar 
de qualquer maneira, de uma forma que não seja muito clara para o aluno. Se a minha fala tem 
que ser clara, ela também tem que ser objetiva. Sempre que possível, sempre que eu me dirigir 
ao aluno nessas situações, estamos falando da preparação do aluno, em que eu vou corrigir, 
chamar a atenção dele, tomar uma atitude para que ele possa entender que aquele 
comportamento é inadequado, como em casos de comportamentos repetitivos... Eu sempre 
tenho que olhar nos seus olhos, eu sempre tenho que voltar o olhar para ele. Porque isso 
transmite uma confiança para o aluno, transmite uma identificação maior com o professor. 
Outro aspecto importante, necessário, é eu ficar atento quando eu fizer toda essa 
estratégia para tentar superar esse quadro do aluno que inicialmente nós encontramos na 
escola. O aluno que não se adapta, o aluno despreparado para o trabalho escolar é justamente 
aquele que mostra isso ali, naquele momento. Então, quando o professor for propiciar alguma 
atividade importante, é necessário observar como o aluno se comporta diante dela. Porque a 
atividade vai ser um elemento avaliativo para saber se a estratégia que ele está adotando está 
funcionando. Se as estratégias utilizadas para minimizar ou eliminar os comportamentos que 
causam distúrbios funcionaram, se as estratégias usadas para cativar a atenção do aluno 
funcionaram... Então é necessário observar sempre o aluno para que ele possa dar o feedback 
daquilo que está sendo trabalhado. 
 
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Uma maneira de observar é vendo como ele está se comportando diante daquilo que 
está sendo proposto para a sua atividade. 
 
Outra estratégia também é disciplinar a atividade, e não imobilizar a criança. Isso é um 
ponto crucial de tudo aquilo que nós fazemos. Isso quer dizer que a disciplina tem que estar 
especificamente focada na atividade. É a atividade que vai condicionar o aluno a fazê-la. É a 
atividade que vai permitir o comportamento, a auto regulação e a aprendizagem. As atividades 
sem interesse, sem elementos afetivos, que não são condizentes com as necessidades do aluno, 
elas pouco vão contribuir para o seu desenvolvimento. É mais importante eu propiciar uma 
atividade interessante do que tentar imobilizar o aluno de alguma forma, como botando-o de 
castigo ou prendendo-o em algum lugar, como nós vimos naquele caso do menino da bola, em 
que ele ficava preso na sala, não podia sair para brincar no recreio porque as professoras não 
pensavam em atividades para que ele pudesse desenvolver outras habilidades, até o momento 
em que ele ficou diante de uma bola e viu ali uma possibilidadede criar atividades que fossem 
interessantes para ele. É a atividade que vai propiciar ao aluno o comportamento necessário 
para a aprendizagem escolar. 
 
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Por fim, o que se está observando agora na tela é corrigir ensinando, e não reprimindo. 
Toda correção tem que ter um fundo pedagógico, tem que ser uma ação de ensino. Eu não posso 
pensar em corrigir apenas para punir. A educação que pune é a educação antiga lá do século XIX 
e XX. A educação do século XXI pode corrigir, sim. Evidentemente isso faz parte do nosso 
trabalho. Mas com o objetivo educativo, com o objetivo pedagógico. A correção tem que ser 
sempre uma ação de ensino, uma maneira de educar, e não uma estratégia apenas para punir o 
aluno.

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