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AN02FREV001/REV 4.0 48 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE TRABALHO SOCIAL COM FAMILIAS Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 49 CURSO DE TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 50 MÓDULO III 3 OS PRINCÍPIOS DE DIREITO DA FAMÍLIA Deve-se entender que o Direito de Família, necessariamente, merece ser analisado sob o prisma da Constituição Federal, o que traz uma nova dimensão de tratamento dessa disciplina. Assim sendo, é imperioso analisar os institutos de Direito Privado tendo como ponto origem a Constituição Federal de 1988, o que leva ao caminho sem volta do Direito Civil Constitucional. Devemos analisar a Constituição em confronto com o Código Civil, e vice- versa. Para tanto, deve-se irradiar de forma imediata as normas fundamentais que protegem a pessoa, particularmente aquelas que constam entre os seus artigos 1º e 6º. Diante dessa realidade, será importante reconhecer a eficácia imediata e horizontal dos direitos fundamentais, a horizontalização das normas que protegem a pessoa, e que devem ser aplicadas nas relações entre particulares, dirigidas que são, também, aos entes privados. Em suma, deve-se reconhecer também a necessidade da constitucionalização do Direito de Família, pois grande parte do Direito Civil está na Constituição, que acabou enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir-lhes efetividade. A intervenção do Estado nas relações de direito privado permite o revigoramento das instituições de direito civil e, diante do novo texto constitucional, forçoso ao intérprete redesenhar o tecido do Direito Civil à luz da nova Constituição. Portanto, os antigos princípios do Direito de Família foram aniquilados, surgindo outros, dentro dessa proposta de constitucionalização, remodelando esse ramo jurídico. Como se sabe, na realidade pós-positivista, os princípios constitucionais ganharam um novo papel, plenamente aplicáveis às relações particulares. Dos princípios gerais do Direito saltamos à realidade dos princípios constitucionais, com AN02FREV001/REV 4.0 51 emergência imediata. Justamente por isso é que muitos dos princípios do atual Direito de Família brasileiro encontram substactum constitucional. Ademais, com o novo Código Civil brasileiro, os princípios ganham fundamental importância, eis que a atual codificação utiliza tais regramentos como linhas mestres do Direito Privado. Muitos desses princípios são cláusulas gerais, janelas abertas deixadas pelo legislador para nosso preenchimento, para complementação pelo aplicador do Direito. Em outras palavras, o próprio legislador, por meio desse novo sistema aberto, delegou-nos parte de suas atribuições, para que possamos, praticamente, criar o Direito. No que tange ao Direito de Família, é preciso sistematizar os princípios, visando à facilitação didática do tema. Essa sistematização serve também para demonstrar a mudança de paradigmas pela qual passou esse ramo do Direito Civil, o estado da arte da matéria. Passemos à análise desses regramentos básicos. 3.1 PRINCÍPIO DE PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Princípio este fundamental e primordial no ordenamento jurídico que dá base ao Estado Democrático de Direito, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988 que o nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Trata-se daquilo que se denomina princípio máximo, ou superprincípio, ou macroprincípio, ou princípio dos princípios. Diante desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga, atualmente entre nós, falar em personalização, repersonalização e despatrimonialização do Direito Privado. Ao mesmo tempo em que o patrimônio perde importância, a pessoa é supervalorizada. A dignidade da pessoa humana hoje incide sobre uma infinidade de situações é deste princípio que se irradia os demais princípios da liberdade, autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade. Segundo a renomada autora Berenice Dias (2009, p. 61): AN02FREV001/REV 4.0 52 Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa humana a fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela pessoa, ligando todos os institutos a realização de sua personalidade. Tal fenômeno provocou a despatrimonialização e a personalização dos institutos, de modo a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito. Percebemos que o princípio da dignidade da pessoa humana não representa apenas um limite à atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua ação positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos que atentem contra a dignidade humana, mas também deve promover essa dignidade por meio de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano. Assim, o direito das famílias está ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana, aos direitos humanos, pois este princípio significa igualdade para todas as entidades familiares. Portanto, é indigno dar tratamento diferenciado a várias formas de filiação ou a vários tipos de constituição de família, já que todas possuem igualdades de direitos e este ideal veio se consagrar com a Constituição Federal de 1988 e com a reforma do Código Civil de 2002 que no direito de família teve consideráveis alterações colocando fim em inúmeras discriminações presentes no antigo código. A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum –, permitindo o pleno desenvolvimento pessoal e social de cada indivíduo com base em ideias pluralistas, solidaristas, democráticas e humanistas. Entretanto, o grande obstáculo encontrado hoje é justamente manter estruturada a família. O direito busca dar a segurança jurídica necessária a esta, para que se mantenha e busque o desenvolvimento pessoal e social de cada indivíduo, mas não é suficiente. Hoje é preciso mais que leis que resguardem a família, é preciso uma estruturação que vai desde um ensino, educação de qualidade, informações, valores éticos e morais a serem passados entre cada membro da família. Entretanto, infelizmente, o que percebemos é que na correria do dia a dia cada um só tem tempo para si esquecendo-se do outro e AN02FREV001/REV 4.0 53 consequentemente levando este instituto, tão antigo e fundamental na estruturação e manutenção da sociedade, à crise e a sérios problemas. Assim, o que se busca na prática é que todas as famílias tenham iguais condições de criar seus filhos, dando educação, alimentação e moradia de qualidade. Hoje, outro grande problema, que de certa forma está correlacionadocom o problema mencionado acima, é justamente a desigualdade social que não só leva famílias à ruína como também deixa desamparadas milhares de crianças em razão da vulnerabilidade e fragilidade destas que sem uma educação e parâmetros de ética e moral entram para a vida do crime e das drogas, acabando com toda uma geração. Portanto, a dignidade da pessoa humana, sendo uma qualidade intrínseca e indissociável de todo e qualquer ser humano, deve ser preservada e garantida no direito de família já que a destruição de um implicaria a destruição do outro. Para Berenice Dias (2009, p. 63), “o respeito e proteção à dignidade da pessoa humana (de cada uma delas e de todas as pessoas) constituem (ou, ao menos, assim o deveriam) em meta permanente da humanidade, do Estado e do direito”. O que se busca hoje no direito de família é que este possa não só proteger o instituto da família, mas também que a família tenha efetivamente sua dignidade no dia a dia garantida perante os demais institutos da sociedade, buscando assim uma igualdade real na construção de uma sociedade mais justa e solidária. 3.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR A palavra solidariedade significa dependência mútua entre os homens, sentimento que os leva a se auxiliarem mutuamente, levando-se em conta a necessidade do ser humano em viver em sociedade, dependente de seus pares. Valendo-se do sentido de ajuda mútua. Adriana Scheleder e Renata Tagliari (2008) definem esse princípio em relação ao seu sentido no núcleo familiar: AN02FREV001/REV 4.0 54 O princípio da solidariedade familiar implica respeito e consideração mútuos em relação aos membros da família. O princípio da solidariedade, ao lado do princípio da dignidade humana, constitui núcleo essencial da organização sociopolítico-cultural e jurídica brasileira. A solidariedade familiar é fato e direito; realidade e norma. No plano fático, convive-se no ambiente familiar para o compartilhamento de afetos e responsabilidades. No plano jurídico, os deveres de cada um para com os outros sim puseram a definição de novos direitos e deveres jurídicos. Esse princípio, emanado do texto constitucional e contido em seu Artigo 3º, inciso I, visa à união entre as pessoas, no intuito de ajuda recíproca, quer seja na família, quer seja fora dela. No âmbito familiar, ele se manifesta por meio do afeto, cuidado, proteção, acarretando nos membros da família sentimentos de respeito e estima. Para Maria Berenice Dias (2009, p. 63), “esse princípio, que tem origem nos vínculos afetivos, dispõe de conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o próprio significado da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade e a reciprocidade”. Como é sabido, o ser humano existe se existir o outro, assim sendo, ele coexiste. É esse o cerne da solidariedade, a partilha das vivências, das emoções, das necessidades e responsabilidades, une o homem enquanto ser social, senhor de direitos e também de deveres. Assim define o princípio da solidariedade familiar: A solidariedade do núcleo familiar compreende a solidariedade reciprocados cônjuges e companheiros, principalmente quanto à assistência moral e material. O lar é por excelência um lugar de colaboração, de assistência, de cuidado; em uma palavra, de solidariedade civil. O casamento, por exemplo, transformou-se de instituição autoritária e rígida em pacto solidário. A solidariedade em relação aos filhos responde à exigência da pessoa de ser cuidada até atingir a idade adulta, isto é, de ser mantida e instruída e educada para sua plena formação social (LÔBO, 2002). Compreende-se que este princípio possui valor jurídico, incidindo principalmente nas organizações familiares, na maneira em que se apresentam na sua formação por meio de laços de afetividade, atingindo as relações homoafetivas, a família formada por tios, avós, irmãos, novas relações dos pais e novos irmãos, primos, fugindo da perspectiva de que a família que é formada por homem, mulher e filhos, podendo-se afirmar que na atualidade não se pode mais chamar de Direito de Família, mas de Famílias. AN02FREV001/REV 4.0 55 O Direito das Famílias abarca toda esta infinidade de estruturas familiares, surgidas de relacionamentos que antes eram vistos de modo pejorativo, excluídos da sociedade. O reconhecimento da união estável entre casais foi um grande passo na normatização de direitos anteriormente rechaçados. O Direito das Famílias, com certeza, foi o que mais evoluiu no direito brasileiro. Porém, caminha, ainda, a passos pequenos. Algumas relações, que já fazem parte do cotidiano, necessitam de amparo jurídico. As relações homoafetivas são um exemplo. Sobrevivem juridicamente por meio de outros meios jurídicos que garantem sua existência, como nos contratos. Todo vínculo que gera afeto é uma condição de vivência em família e deve ser reconhecido e amparado juridicamente. Isso também faz parte do princípio da solidariedade. Ao comentar acerca do afeto como sentimento integrante na família, Maria Berenice Dias (2008), diz: “A nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o afeto se pode deixar de conferir o status de família, merecedora da proteção do Estado, pois a Constituição Federal, no inc. III do art. 1º consagra, em norma pétrea, o respeito à dignidade da pessoa humana”. Dessa forma, é claro que a necessidade de assistência, de apoio entre os entes familiares transcende as fronteiras da relação de parentesco. O afeto entre estes entes é que faz da solidariedade algo possível. A solidariedade mostra-se um princípio basilar nas relações humanas, estando contida em várias normas do ordenamento jurídico, devendo ser compreendida e aplicada em todas as relações que envolvam pessoas e suas necessidades. Os direitos fundamentais individuais da vida e da igualdade, bem como os princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar fazem parte da nova ordem que se instala dentro do Direito das Famílias, permitindo uma convivência mais harmoniosa e responsável, principalmente no que tange à obrigação alimentar. Mas vale lembrar que a solidariedade não é só patrimonial, é afetiva e psicológica. Assim, ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo familiar, safa-se o Estado do encargo de prover toda a gama de direitos que são assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em se tratando de crianças e adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à sociedade e AN02FREV001/REV 4.0 56 finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade os direitos inerentes aos cidadãos em formação. Entretanto, mesmo assim, o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (art. 226, § 8º, da CF/88) – o que consagra também a solidariedade social na ótica familiar. Por fim, vale frisar que o princípio da solidariedade familiar também implica respeito e consideração mútuos em relação aos membros da família. 3.3 DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA O grande desafio que a presente abordagem impõe, na medida em que a aplicação dos princípios anteriormente estudados exige, tão somente, interpretação extensiva às uniões homoafetivas, cuja obrigatoriedade de aplicação exsurge dos próprios princípios inseridos no texto da CRFB/1988 – dignidade da pessoa humana e igualdade –, diz respeito a estabelecer a base constitucional acerca do princípio do melhor interesse da criança. Peres (2006, p. 126) enfatiza que o princípio do melhor interesse dacriança “vigora em nosso sistema jurídico por força do art. 5º, § 2º da Constituição da República e da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil através do Decreto n. 99.710/90”, sendo, portanto, norma cogente, de obrigatória observação. Este princípio, entrelaçado aos demais, dá respaldo jurídico a possibilidade jurídica de adoção por casais homoafetivos, porquanto traz entranhado em sua definição o sustentáculo do interesse de agir. Nesse contexto, a família, por ser instituição que recebe ampla proteção estatal, não tem somente direitos, mas tem, também, o dever, aliada à sociedade e ao Estado, de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da criança e do adolescente, enumerados no Artigo 227, da Constituição da República Federativa do Brasil (SILVA, 2008, p. 851). AN02FREV001/REV 4.0 57 Esses direitos estão descritos no texto da Carta Magna, e dizem respeito ao direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2009). Ao Estado, portanto, cumpre sua obrigação constitucional de promover programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e obedecendo a determinados preceitos. Para Silva (2008, p. 851) o reconhecimento constitucional da igualdade de direitos e qualificações aos filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, proibidas quaisquer discriminações a ela relativas, é norma de fundamental importância. O autor relembra que: [...] ficam banidas da legislação civil expressões como filhos legítimos, filhos naturais, filhos adulterinos, filhos incestuosos. Por outro lado, expressamente é admitida a adoção de crianças brasileiras por estrangeiros, desde que seja assistida pelo Poder Judiciário, na forma da lei e nos casos e condições por esta estabelecidos (art. 227, § 5º) (SILVA, 2008, p. 851). Nesse ínterim, começa a ganhar espaço a discussão a respeito de que as “crianças e os adolescentes são sujeitos de direitos, titulares de direitos fundamentais, reconhecidos pelo sistema jurídico pátrio e pela Doutrina da Proteção Integral” (PERES, 2006, p. 127) Dessa orientação, vê-se que os direitos expressos na CRFB/1988 têm por objetivo garantir especial proteção, salvaguardando os interesses das crianças e dos adolescentes, inclusive por meio da adoção, mormente considerando-se que a Constituição da República expressamente privilegia o vínculo familiar (art. 227), assim como o faz o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), embora enfatizando os laços biológicos, não afasta a possibilidade jurídica de a criança ou o adolescente ser criado e educado por família substituta (PERES, 2006, p. 130). Considerados tais aspectos, inúmeros fatores devem ser observados, quando se trata de adoção e guarda, com vistas ao melhor interesse da criança e do adolescente, por exemplo: AN02FREV001/REV 4.0 58 [...] o amor e os laços afetivos entre o titular da guarda e a criança; a habitualidade do titular da guarda de dar à criança amor e orientação; a habitualidade do titular da guarda de prover a criança com comida, abrigo, vestuário e assistência médica (os chamados alimentos necessários); qualquer padrão de vida estabelecido; a saúde do titular da guarda; o lar da criança, a escola, a comunidade e os laços religiosos; a preferência da criança, se ela tem idade suficiente para ter opinião (PERES, 2006, p. 131). Nesse norte, anota-se que em nenhum momento há expressa menção à sexualidade dos adotantes. A sexualidade não restou discriminada no rol acima transcrito porquanto “não inibe o seu potencial de prover a criança com os recursos materiais e pessoais, incluindo-se aspectos de ordem emocional e moral” (PERES, 2006, p. 131), conforme preceitua a Constituição da República, quando traz todo o aparato conceitual do que entende pertinente a título de proteção do melhor interesse da criança, disposto no Artigo 227 e parágrafos. Assim, verifica-se crescente o entendimento segundo o qual os aplicadores do direito devem optar por soluções que efetivamente representem maiores benefícios para a criança e para o adolescente, confrontando princípios constitucionais, de modo a aplicar com maior ênfase aquele que melhor se adeque ao caso concreto. Convém, em observância aos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da ampla proteção à família e no melhor interesse da criança e do adolescente, considerar-se a possibilidade de adoção a casais homoafetivos, utilizando-se de regra extensiva quanto ao reconhecimento de entidade familiar, a ver abrigos repletos de cidadãos impedidos de gozar de inúmeros direitos que a própria Constituição da República assegura. De outro norte, vislumbra-se ser juridicamente possível de apreciação os pedidos de adoção realizados por casais homoafetivos, na proporção em que buscam a ampliação de suas entidades familiares, que já se encontram devidamente estruturadas, com fundamento dos mesmos princípios acima lançados. Dias (2001, p. 117) esclarece que a adoção por casais homoafetivos representa não apenas “solução menos gravosa para o menor, mas a melhor solução em muitos casos, principalmente em um país como o nosso, pois retira o menor da marginalidade, dando-lhe um lar cercado de afeto e atenção”. AN02FREV001/REV 4.0 59 No mesmo sentido, enfatiza Peres (2006, p. 131-132) que a adoção por homossexuais, enquanto na compreensão de alguns não é vista como a situação ideal, menos ainda o é a permanência de crianças em instituições. Por fim, cumpre anotar peculiar comentário da autora, por meio do qual expõe que os parâmetros norteadores de uma decisão estão estreitamente atrelados aos valores culturais da sociedade, o que, de modo sistemático, permite efetiva flexibilização, na medida em que o entendimento evolui conforme a própria sociedade (PERES, 2006, p. 133). Assim, somados todos os aspectos acima delineados, impõe-se reconhecer a existência de fundamento jurídico suficiente para a análise jurídica de pedidos pelo reconhecimento de direitos, posto que alicerçados em preceitos constitucionalmente consagrados, aplicando-se meramente interpretação extensiva, com a finalidade maior de inclusão de cidadãos que permanecem à margem do ordenamento jurídico. Nesse contexto, a principiologia constitucional analisada – dignidade da pessoa humana, direito à igualdade, direito à ampla proteção da família e efetivação da defesa do melhor interesse da criança –, é de suma importância para dar embasamento jurídico ao reconhecimento de direitos inerentes a todo e qualquer cidadão enquanto inserido em um núcleo familiar, independentemente de sua orientação sexual. 3.4 PRINCÍPIO DA IGUALDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES Nenhum princípio da Constituição provocou tão profunda transformação do direito de família quanto o da igualdade entre homem e mulher, entre filhos e entre entidades familiares. Todos os fundamentos jurídicos da família tradicional restaram destroçados, principalmente os da legitimidade. O princípio geral da igualdade de gêneros foi igualmente elevado ao status de direito fundamental oponível aos poderes políticos e privados (art. 5º, I, da Constituição). A legitimidade familiar constituiu a categoria jurídica essencial que definia os limites entre o lícito e o ilícito, além dos limites das titularidadesde direito, nas AN02FREV001/REV 4.0 60 relações familiares e de parentesco. Família legítima era exclusivamente a matrimonializada. Consequentemente, filhos legítimos eram os nascidos de família constituída pelo casamento, que determinavam por sua vez a legitimidade dos laços de parentesco decorrentes; os demais recebiam o sinete estigmatizante de filhos, irmãos e parentes ilegítimos. Após a Constituição de 1988, que igualou de modo total os cônjuges entre si, os companheiros entre si, os companheiros aos cônjuges, os filhos de qualquer origem familiar, além dos não biológicos aos biológicos, a legitimidade familiar desapareceu como categoria jurídica, pois apenas fazia sentido como critério de distinção e discriminação. Nesse âmbito, o direito brasileiro alcançou muito mais o ideal de igualdade do que qualquer outro. O princípio constitucional da igualdade (a fortiori normativo) dirige-se ao legislador, vedando-lhe que edite normas que o contrariem, à administração pública, para que implemente políticas públicas para superação das desigualdades reais existentes entre os gêneros, à administração da justiça, para o impedimento das desigualdades, cujos conflitos provocaram sua intervenção, e, enfim, às pessoas para que o observem em seu cotidiano. Sabe-se que costumes e tradições, transmitidos de geração a geração, sedimentaram condutas de opressão e submissão, no ambiente familiar, mas não podem ser obstáculos à plena realização do direito emancipador. O princípio da igualdade está expressamente contido na Constituição, designadamente nos preceitos que tratam das três principais situações nas quais a desigualdade de direitos foi a constante histórica: os cônjuges, os filhos e as entidades familiares. O simples enunciado do § 5º do art. 226 traduz intensidade revolucionária em se tratando dos direitos e deveres dos cônjuges, significando o fim definitivo do poder marital: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e a mulher”. O sentido de sociedade conjugal é mais amplo, pois abrange a igualdade de direitos e deveres entre os companheiros da união estável. O § 6º do Artigo 227, por sua vez, introduziu a máxima igualdade entre os filhos, “havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção”, em todas as relações jurídicas, pondo cobro às discriminações e desigualdade de direitos, muito comuns na trajetória do direito de AN02FREV001/REV 4.0 61 família brasileiro. O caput do Artigo 226 tutela e protege a família, sem restringi-la a qualquer espécie ou tipo, como fizeram as Constituições brasileiras anteriores em relação à exclusividade do casamento. O princípio da igualdade, como os demais princípios, constitucionais ou gerais, não é de aplicabilidade absoluta, ou seja, admite limitações que não violem seu núcleo essencial. Assim, o filho havido por adoção é titular dos mesmos direitos dos filhos havidos da relação de casamento, mas está, ao contrário dos demais, impedido de casar-se com os parentes consanguíneos de cuja família foi oriundo, ainda que se tenha desligado dessa relação de parentesco (art. 1.626 do Código Civil). A regra de restrição ou de causa suspensiva a novo casamento, durante dez meses depois da viuvez ou da dissolução do casamento anterior (art. 1.523, II, do Código Civil), apenas diz respeito à mulher cujo casamento foi declarado nulo ou anulado, ou à viúva, para que não haja dúvida sobre a paternidade de filho cujo parto se der nesse período. Inexistindo hierarquia entre o casamento e a união estável não se justifica que o Código Civil tenha atribuído deveres distintos para os cônjuges e para os companheiros. A Constituição não desnivelou a união estável ao estabelecer que a lei deva facilitar a conversão dela em casamento. Cuida-se aí de faculdade ou de poder potestativo; é como dissesse que os companheiros são livres para manter sua entidade familiar, com todos os direitos, ou convertê-la em outra, se assim desejarem, para o que o legislador deve remover os obstáculos jurídicos. Do mesmo modo, o caminho inverso é possível, convertendo-se os cônjuges, após o divórcio, em companheiros. O Código Civil, no entanto, não facilitou a conversão; dificultou a, ao impor deveres aplicáveis apenas aos cônjuges e não aos companheiros (cf. arts. 1.566 e 1.724 do Código Civil). A igualdade e seus consectários não podem apagar ou desconsiderar as diferenças naturais e culturais que há entre as pessoas e entidades. Homem e mulher são diferentes; pais e filhos são diferentes; criança e adulto ou idoso são diferentes; a família matrimonial, a união estável, a família monoparental e as demais entidades familiares são diferentes. AN02FREV001/REV 4.0 62 Todavia, as diferenças não podem legitimar tratamento jurídico assimétrico ou desigual, no que concernir com a base comum dos direitos e deveres, ou com o núcleo intangível da dignidade de cada membro da família. Não há qualquer fundamentação jurídico-constitucional para distinção de direitos e deveres essenciais entre as entidades familiares, ou para sua hierarquização, mas são todas diferentes, não se podendo impor um modelo preferencial sobre as demais, nem exigir da união estável as mesmas características do casamento, dada a natureza de livre constituição da primeira. “Uma ordem democrática [incluindo a democratização da vida pessoal] não implica um processo genérico de ‘nivelar por baixo’, mas em vez disso promove a elaboração da individualidade”. Há situações em que os pais podem adotar medidas diferentes na educação de cada um dos filhos, ou mesmo um dos filhos. Por vezes, a satisfação do princípio da igualdade na filiação impõe o atendimento às diferenças individuais, o respeito ao direito de cada um de ser diferente. Outras vezes, um dos filhos apresenta necessidades especiais a demandar medidas especiais. Nessas situações, em que são tratados desigualmente os desiguais, os pais não podem ser acusados de discriminação. 3.5 PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR A Constituição Federal de 1988 provocou alteração na formação da entidade familiar, visto que antes da Constituição vigorava o Código Civil de 1916, que previa o casamento como o único meio legal de constituição familiar. A partir da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estado passa a ter obrigação de proteger a família, antes mesmo de proteger os menores de idade, justamente para garantir o seu direito à convivência familiar. No fato da vida, em projeção de transeficácia, hauriu o princípio normativo de seus elementos para assegurar direitos e deveres envolventes. A casa é o espaço privado que não pode ser submetida ao espaço público. Essa aura de intocabilidade é imprescindível para que a convivência familiar se construa de modo AN02FREV001/REV 4.0 63 estável e, acima de tudo, com identidade coletiva própria, o que faz com que nenhuma família se confunda com outra. O inciso XI do Artigo 5º da Constituição estabelece que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém podendo nela penetrar sem consentimento do morador”. Mas, a referência constitucional explícita ao princípio será encontrada no Artigo 227. Também no Código Civil, o princípio se expressa na alusão do Artigo 1.513 a não interferências “na comunhão de vida instituída pela família”. A Convenção dos Direitos da Criança, no Artigo 9º, estabelece que, no caso de pais separados, a criança tem direito de “manter regularmente relações pessoais e contato direto com ambos, a menos que isso seja contrário ao interessemaior da criança”. O direito à convivência familiar, tutelado pelo princípio e por regras jurídicas específicas, particularmente no que respeita à criança e ao adolescente, é dirigido à família e a cada membro dela, além de ao Estado e à sociedade como um todo. Por outro lado, a convivência familiar é o substrato da verdade real da família socioafetiva, como fato social facilmente aferível por vários meios de prova. A posse do estado de filiação, por exemplo, nela se consolida. Portanto, há direito à convivência familiar e direito que dela resulta. A convivência familiar também perpassa o exercício do poder familiar. Ainda quando os pais estejam separados, o filho menor tem direito à convivência familiar com cada um, não podendo o guardião impedir o acesso ao outro, com restrições indevidas. Por seu turno, viola esse princípio constitucional a decisão judicial que estabelece limitações desarrazoadas ao direito de visita do pai não guardião do filho, pois este é titular de direito próprio à convivência familiar com ambos os pais, que não pode restar comprometido. O senso comum enxerga a visita do não guardião como um direito limitado dele, apenas, porque a convivência com o filho era tida como objeto da disputa dos pais, quando em verdade é direito recíproco dos pais em relação aos filhos e destes em relação àqueles. O direito à convivência familiar não se esgota na chamada família nuclear, composta apenas pelos pais e filhos. O Poder Judiciário, em caso de conflito, deve levar em conta a abrangência da família considerada em cada comunidade, de acordo com seus valores e costumes. Na maioria das comunidades brasileiras, entende-se como natural a convivência com os avós e, em muitos locais, com os tios, todos integrando um AN02FREV001/REV 4.0 64 grande ambiente familiar solidário. Consequentemente têm igualmente fundamento no princípio da convivência familiar as decisões judiciais que asseguram aos avós o direito de visita a seus netos. 3.6 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE Antes de qualquer direito fundamental referente à família, está o direito que toda pessoa tem, desde que nasce até o dia de sua morte: o direito ao afeto, ao amor. É o direito mais importante para o melhor desenvolvimento da saúde física, psíquica e emocional das pessoas, assim como ao desenvolvimento material e cultural da família. Não sendo o afeto fruto da biologia, deriva da convivência familiar, não do sangue, pelo que se conclui que a chamada posse de estado de filho, por exemplo, nada mais é do que o reconhecimento jurídico do afeto, com o claro objetivo de garantir a felicidade entre as pessoas que compõem o núcleo familiar. Neste ponto, impõe-se apresentar uma definição do termo afeto. Para Abbagnano, afeto deve ser entendido como: [...] as emoções positivas que se referem a pessoas e que não têm o caráter dominante e totalitário. Enquanto as emoções podem referir-se tanto a pessoas quanto a coisas, fatos ou situações, os afetos constituem a classe restrita de emoções que acompanham algumas relações interpessoais (entre pais e filhos, entre amigos, entre parentes), limitando-se à tonalidade indicada pelo adjetivo “afetuoso”, e que, por isso, exclui o caráter exclusivista e dominante da paixão. Essa palavra designa o conjunto de atos ou atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a devoção, a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc. que, no seu todo, podem ser caracterizados como a situação em que uma pessoa “preocupa-se com” ou “cuida de” outra pessoa ou em que esta responde, positivamente, aos cuidados ou a preocupação de que foi objeto. O que comumente se chama de “necessidade de afeto” é a necessidade de ser compreendido, assistido, ajudado nas dificuldades, seguido com olhar benévolo e confiante. Nesse, o afeto não é senão uma das formas do amor (ABBAGNANO apud ANGELUCI, 2006, p. 96). Completa se mostra tal definição, vez que engloba todos os aspectos que as relações afetivas envolvem, com destaque para o sentimento de responsabilidade para com a pessoa amada, ou seja, o afeto envolve um dever de cuidado, entre pais AN02FREV001/REV 4.0 65 e filhos, avós e netos, companheiros e companheiras, enfim, entre todas as pessoas unidas pelo afeto familiar, que é o elemento definidor da família contemporânea, corolário do princípio da afetividade. A ideia do afeto como um elemento integrador na formação das entidades familiares surgiu no Brasil no final do século XX, com o advento da Constituição Federal de 1988, evidenciando a tendência contemporânea de ver a família na perspectiva das pessoas, e não mais sob a ótica da família patrimonializada, modelo adotado por legislações pretéritas. Lôbo (2000, p. 49) apresenta os fundamentos jurídico-constitucionais do princípio da afetividade, afirmando não ser mera “petição de princípio, nem fato exclusivamente sociológico ou psicológico”. No que respeita aos filhos, a evolução dos valores da civilização ocidental levou à progressiva superação dos fatores de discriminação entre eles, projetando-se, no campo jurídico-constitucional, a afirmação da natureza da família como grupo social fundado essencialmente nos laços de afetividade. Assim, encontram-se na Constituição Federal quatro fundamentos essenciais do princípio da afetividade, conformadores dessa evolução social da família, de acordo com interessante construção jurídica de Lôbo (apud DIAS, 2006, p. 60): a) A igualdade entre todos os filhos, independentemente de sua origem (art. 227, § 6º, CF); b) A adoção, como escolha afetiva, alçou-se integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 6º, CF); c) A comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo-se os adotivos, tem a mesma dignidade de família constitucionalmente protegida (art. 226, § 4º, CF); d) O direito à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do adolescente (art. 227, CF). O princípio da afetividade, "assentado nesse tripé normativo, especializa, no campo das relações familiares, o macroprincípio da dignidade da pessoa humana AN02FREV001/REV 4.0 66 [...], que preside todas as relações jurídicas e submete o ordenamento jurídico nacional" (LÔBO, 2000, p. 51). A família transforma-se na medida em que se acentuam as relações de sentimentos entre seus membros: valorizam-se as funções afetivas da família. Assim, a família e o casamento adquiriram um novo perfil, voltados muito mais a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes. Essa é a concepção eudemonista da família (DIAS, 2006, p. 61), que tem como função social realizar a felicidade das pessoas que integram a família, em detrimento de seu aspecto patrimonial. A comunhão de afeto é incompatível com o modelo único, matrimonializado da família, por isso, a afetividade entrou nas cogitações dos juristas, buscando explicar as relações familiares contemporâneas (LÔBO, apud DIAS, 2006, p. 61). Barros (2003, p. 149) destaca a importância do afeto para a condição humana, ou seja, é o afeto que caracteriza a pessoa como ser verdadeiramente humano, gerando em cada pessoa a solidariedade, "que é a única força capaz de construir - dignamente - a humanidade em todo o agrupamento humano, a partir de sua grei inicial: a família". Aponta o autor que o afeto não é somente um laço a envolver os integrantes de uma única família, já que possui um viés externo, entre as famílias, pondo humanidade em cada família e compondo, em seu dizer, "a família humana universal, cujo lar é a aldeia global, cuja base é o globo terrestre, mas cuja origem sempre serácomo sempre foi, a família" (BARROS, 2003, p. 149-150). Na esteira dessa evolução, o Direito de Família instalou uma nova ordem jurídica para a família, atribuindo valor jurídico ao afeto (DIAS, 2006, p. 61). No entanto, é essencial para a operacionalização e efetividade dos direitos fundamentais da família, como o direito ao afeto, que haja uma "ruptura dos paradigmas até então existentes para poder proclamar, sob a égide jurídica, que o afeto representa elemento de relevo e deve ser considerado para fim do princípio da dignidade da pessoa" (ANGELUCI, 2006, p. 131). Ademais, prossegue o autor analisando o descompasso do Direito com os valores oriundos do princípio da afetividade, no sentido de que não consegue a ciência jurídica acompanhar as transformações sociais, apegada que está a uma cultura legalista. Neste passo, o direito não acompanhou as alterações sociais, não AN02FREV001/REV 4.0 67 se atribuiu, no ordenamento, pelo menos expressamente, valor ao afeto, está a doutrina laborando intensamente para implantar esta nova visão independente e desvinculada do valor econômico apenas. Este trabalho é árduo e está no início, pois de um ponto de vista extremamente legalista, defender sua irrelevância, prevalecendo o elemento biológico, como ponto fundamental a sustentar a relação entre pai e filho, é ainda comum nos litígios que batem às portas do judiciário brasileiro (ANGELUCI, 2006, p.132). Assim, reafirma-se a natureza essencialmente humana do Direito, que reivindica uma renovação de seus pressupostos teóricos e, por conseguinte, de sua prática cotidiana. Para tal, alguns esforços vêm sendo empreendidos, a começar pelo interesse em estudos que integrem o valor dos sentimentos para o interior do Direito de Família, área peculiar que exige um tratamento interdisciplinar, vez que diz com os mais íntimos valores do ser humano. FIM DO MÓDULO III
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