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TrabalhoSocialcomasFamilias 03

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AN02FREV001/REV 4.0 
 48 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMILIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 50 
 
 
MÓDULO III 
 
 
3 OS PRINCÍPIOS DE DIREITO DA FAMÍLIA 
 
 
Deve-se entender que o Direito de Família, necessariamente, merece ser 
analisado sob o prisma da Constituição Federal, o que traz uma nova dimensão de 
tratamento dessa disciplina. Assim sendo, é imperioso analisar os institutos de 
Direito Privado tendo como ponto origem a Constituição Federal de 1988, o que leva 
ao caminho sem volta do Direito Civil Constitucional. 
Devemos analisar a Constituição em confronto com o Código Civil, e vice-
versa. Para tanto, deve-se irradiar de forma imediata as normas fundamentais que 
protegem a pessoa, particularmente aquelas que constam entre os seus artigos 1º e 
6º. Diante dessa realidade, será importante reconhecer a eficácia imediata e 
horizontal dos direitos fundamentais, a horizontalização das normas que protegem a 
pessoa, e que devem ser aplicadas nas relações entre particulares, dirigidas que 
são, também, aos entes privados. 
Em suma, deve-se reconhecer também a necessidade da 
constitucionalização do Direito de Família, pois grande parte do Direito Civil está na 
Constituição, que acabou enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para 
garantir-lhes efetividade. 
A intervenção do Estado nas relações de direito privado permite o 
revigoramento das instituições de direito civil e, diante do novo texto constitucional, 
forçoso ao intérprete redesenhar o tecido do Direito Civil à luz da nova Constituição. 
Portanto, os antigos princípios do Direito de Família foram aniquilados, 
surgindo outros, dentro dessa proposta de constitucionalização, remodelando esse 
ramo jurídico. 
Como se sabe, na realidade pós-positivista, os princípios constitucionais 
ganharam um novo papel, plenamente aplicáveis às relações particulares. Dos 
princípios gerais do Direito saltamos à realidade dos princípios constitucionais, com 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 51 
emergência imediata. Justamente por isso é que muitos dos princípios do atual 
Direito de Família brasileiro encontram substactum constitucional. 
Ademais, com o novo Código Civil brasileiro, os princípios ganham 
fundamental importância, eis que a atual codificação utiliza tais regramentos como 
linhas mestres do Direito Privado. Muitos desses princípios são cláusulas gerais, 
janelas abertas deixadas pelo legislador para nosso preenchimento, para 
complementação pelo aplicador do Direito. Em outras palavras, o próprio legislador, 
por meio desse novo sistema aberto, delegou-nos parte de suas atribuições, para 
que possamos, praticamente, criar o Direito. 
No que tange ao Direito de Família, é preciso sistematizar os princípios, 
visando à facilitação didática do tema. Essa sistematização serve também para 
demonstrar a mudança de paradigmas pela qual passou esse ramo do Direito Civil, 
o estado da arte da matéria. Passemos à análise desses regramentos básicos. 
 
 
3.1 PRINCÍPIO DE PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 
 
 
Princípio este fundamental e primordial no ordenamento jurídico que dá base 
ao Estado Democrático de Direito, previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição 
Federal de 1988 que o nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamento 
a dignidade da pessoa humana. Trata-se daquilo que se denomina princípio 
máximo, ou superprincípio, ou macroprincípio, ou princípio dos princípios. Diante 
desse regramento inafastável de proteção da pessoa humana é que está em voga, 
atualmente entre nós, falar em personalização, repersonalização e 
despatrimonialização do Direito Privado. Ao mesmo tempo em que o patrimônio 
perde importância, a pessoa é supervalorizada. 
A dignidade da pessoa humana hoje incide sobre uma infinidade de 
situações é deste princípio que se irradia os demais princípios da liberdade, 
autonomia privada, cidadania, igualdade e solidariedade. 
Segundo a renomada autora Berenice Dias (2009, p. 61): 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 52 
 
Na medida em que a ordem constitucional elevou a dignidade da pessoa 
humana a fundamento da ordem jurídica, houve uma opção expressa pela 
pessoa, ligando todos os institutos a realização de sua personalidade. Tal 
fenômeno provocou a despatrimonialização e a personalização dos 
institutos, de modo a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito. 
 
Percebemos que o princípio da dignidade da pessoa humana não representa 
apenas um limite à atuação do Estado, mas constitui também um norte para a sua 
ação positiva. O Estado não tem apenas o dever de abster-se de praticar atos que 
atentem contra a dignidade humana, mas também deve promover essa dignidade 
por meio de condutas ativas, garantindo o mínimo existencial para cada ser humano. 
Assim, o direito das famílias está ligado ao princípio da dignidade da pessoa 
humana, aos direitos humanos, pois este princípio significa igualdade para todas as 
entidades familiares. 
Portanto, é indigno dar tratamento diferenciado a várias formas de filiação ou 
a vários tipos de constituição de família, já que todas possuem igualdades de 
direitos e este ideal veio se consagrar com a Constituição Federal de 1988 e com a 
reforma do Código Civil de 2002 que no direito de família teve consideráveis 
alterações colocando fim em inúmeras discriminações presentes no antigo código. 
A dignidade da pessoa humana encontra na família o solo apropriado para 
florescer. A ordem constitucional dá-lhe especial proteção independentemente de 
sua origem. A multiplicação das entidades familiares preserva e desenvolve as 
qualidades mais relevantes entre os familiares – o afeto, a solidariedade, a união, o 
respeito, a confiança, o amor, o projeto de vida comum –, permitindo o pleno 
desenvolvimento pessoal e social de cada indivíduo com base em ideias pluralistas, 
solidaristas, democráticas e humanistas. 
Entretanto, o grande obstáculo encontrado hoje é justamente manter 
estruturada a família. O direito busca dar a segurança jurídica necessária a esta, 
para que se mantenha e busque o desenvolvimento pessoal e social de cada 
indivíduo, mas não é suficiente. Hoje é preciso mais que leis que resguardem a 
família, é preciso uma estruturação que vai desde um ensino, educação de 
qualidade, informações, valores éticos e morais a serem passados entre cada 
membro da família. Entretanto, infelizmente, o que percebemos é que na correria do 
dia a dia cada um só tem tempo para si esquecendo-se do outro e 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 53 
consequentemente levando este instituto, tão antigo e fundamental na estruturação 
e manutenção da sociedade, à crise e a sérios problemas. 
Assim, o que se busca na prática é que todas as famílias tenham iguais 
condições de criar seus filhos, dando educação, alimentação e moradia de 
qualidade. Hoje, outro grande problema, que de certa forma está correlacionadocom 
o problema mencionado acima, é justamente a desigualdade social que não só leva 
famílias à ruína como também deixa desamparadas milhares de crianças em razão 
da vulnerabilidade e fragilidade destas que sem uma educação e parâmetros de 
ética e moral entram para a vida do crime e das drogas, acabando com toda uma 
geração. 
Portanto, a dignidade da pessoa humana, sendo uma qualidade intrínseca e 
indissociável de todo e qualquer ser humano, deve ser preservada e garantida no 
direito de família já que a destruição de um implicaria a destruição do outro. 
Para Berenice Dias (2009, p. 63), “o respeito e proteção à dignidade da 
pessoa humana (de cada uma delas e de todas as pessoas) constituem (ou, ao 
menos, assim o deveriam) em meta permanente da humanidade, do Estado e do 
direito”. O que se busca hoje no direito de família é que este possa não só proteger 
o instituto da família, mas também que a família tenha efetivamente sua dignidade 
no dia a dia garantida perante os demais institutos da sociedade, buscando assim 
uma igualdade real na construção de uma sociedade mais justa e solidária. 
 
 
3.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR 
 
 
A palavra solidariedade significa dependência mútua entre os homens, 
sentimento que os leva a se auxiliarem mutuamente, levando-se em conta a 
necessidade do ser humano em viver em sociedade, dependente de seus pares. 
Valendo-se do sentido de ajuda mútua. Adriana Scheleder e Renata Tagliari (2008) 
definem esse princípio em relação ao seu sentido no núcleo familiar: 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 54 
O princípio da solidariedade familiar implica respeito e consideração mútuos 
em relação aos membros da família. O princípio da solidariedade, ao lado 
do princípio da dignidade humana, constitui núcleo essencial da 
organização sociopolítico-cultural e jurídica brasileira. A solidariedade 
familiar é fato e direito; realidade e norma. No plano fático, convive-se no 
ambiente familiar para o compartilhamento de afetos e responsabilidades. 
No plano jurídico, os deveres de cada um para com os outros sim puseram 
a definição de novos direitos e deveres jurídicos. 
 
Esse princípio, emanado do texto constitucional e contido em seu Artigo 3º, 
inciso I, visa à união entre as pessoas, no intuito de ajuda recíproca, quer seja na 
família, quer seja fora dela. No âmbito familiar, ele se manifesta por meio do afeto, 
cuidado, proteção, acarretando nos membros da família sentimentos de respeito e 
estima. 
Para Maria Berenice Dias (2009, p. 63), “esse princípio, que tem origem nos 
vínculos afetivos, dispõe de conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o 
próprio significado da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade e a 
reciprocidade”. 
Como é sabido, o ser humano existe se existir o outro, assim sendo, ele 
coexiste. É esse o cerne da solidariedade, a partilha das vivências, das emoções, 
das necessidades e responsabilidades, une o homem enquanto ser social, senhor 
de direitos e também de deveres. 
Assim define o princípio da solidariedade familiar: 
 
A solidariedade do núcleo familiar compreende a solidariedade reciprocados 
cônjuges e companheiros, principalmente quanto à assistência moral e 
material. O lar é por excelência um lugar de colaboração, de assistência, de 
cuidado; em uma palavra, de solidariedade civil. O casamento, por exemplo, 
transformou-se de instituição autoritária e rígida em pacto solidário. A 
solidariedade em relação aos filhos responde à exigência da pessoa de ser 
cuidada até atingir a idade adulta, isto é, de ser mantida e instruída e 
educada para sua plena formação social (LÔBO, 2002). 
 
Compreende-se que este princípio possui valor jurídico, incidindo 
principalmente nas organizações familiares, na maneira em que se apresentam na 
sua formação por meio de laços de afetividade, atingindo as relações homoafetivas, 
a família formada por tios, avós, irmãos, novas relações dos pais e novos irmãos, 
primos, fugindo da perspectiva de que a família que é formada por homem, mulher e 
filhos, podendo-se afirmar que na atualidade não se pode mais chamar de Direito de 
Família, mas de Famílias. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 55 
O Direito das Famílias abarca toda esta infinidade de estruturas familiares, 
surgidas de relacionamentos que antes eram vistos de modo pejorativo, excluídos 
da sociedade. O reconhecimento da união estável entre casais foi um grande passo 
na normatização de direitos anteriormente rechaçados. 
O Direito das Famílias, com certeza, foi o que mais evoluiu no direito 
brasileiro. Porém, caminha, ainda, a passos pequenos. Algumas relações, que já 
fazem parte do cotidiano, necessitam de amparo jurídico. As relações homoafetivas 
são um exemplo. Sobrevivem juridicamente por meio de outros meios jurídicos que 
garantem sua existência, como nos contratos. Todo vínculo que gera afeto é uma 
condição de vivência em família e deve ser reconhecido e amparado juridicamente. 
Isso também faz parte do princípio da solidariedade. 
Ao comentar acerca do afeto como sentimento integrante na família, Maria 
Berenice Dias (2008), diz: “A nenhuma espécie de vínculo que tenha por base o 
afeto se pode deixar de conferir o status de família, merecedora da proteção do 
Estado, pois a Constituição Federal, no inc. III do art. 1º consagra, em norma pétrea, 
o respeito à dignidade da pessoa humana”. 
Dessa forma, é claro que a necessidade de assistência, de apoio entre os 
entes familiares transcende as fronteiras da relação de parentesco. O afeto entre 
estes entes é que faz da solidariedade algo possível. A solidariedade mostra-se um 
princípio basilar nas relações humanas, estando contida em várias normas do 
ordenamento jurídico, devendo ser compreendida e aplicada em todas as relações 
que envolvam pessoas e suas necessidades. 
Os direitos fundamentais individuais da vida e da igualdade, bem como os 
princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar fazem parte 
da nova ordem que se instala dentro do Direito das Famílias, permitindo uma 
convivência mais harmoniosa e responsável, principalmente no que tange à 
obrigação alimentar. 
Mas vale lembrar que a solidariedade não é só patrimonial, é afetiva e 
psicológica. Assim, ao gerar deveres recíprocos entre os integrantes do grupo 
familiar, safa-se o Estado do encargo de prover toda a gama de direitos que são 
assegurados constitucionalmente ao cidadão. Basta atentar que, em se tratando de 
crianças e adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à sociedade e 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 56 
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade os 
direitos inerentes aos cidadãos em formação. 
Entretanto, mesmo assim, o Estado assegurará a assistência à família na 
pessoa de cada um dos que integram, criando mecanismos para coibir a violência 
no âmbito de suas relações (art. 226, § 8º, da CF/88) – o que consagra também a 
solidariedade social na ótica familiar. 
Por fim, vale frisar que o princípio da solidariedade familiar também implica 
respeito e consideração mútuos em relação aos membros da família. 
 
 
3.3 DO PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA 
 
 
O grande desafio que a presente abordagem impõe, na medida em que a 
aplicação dos princípios anteriormente estudados exige, tão somente, interpretação 
extensiva às uniões homoafetivas, cuja obrigatoriedade de aplicação exsurge dos 
próprios princípios inseridos no texto da CRFB/1988 – dignidade da pessoa humana 
e igualdade –, diz respeito a estabelecer a base constitucional acerca do princípio do 
melhor interesse da criança. 
Peres (2006, p. 126) enfatiza que o princípio do melhor interesse dacriança 
“vigora em nosso sistema jurídico por força do art. 5º, § 2º da Constituição da 
República e da Convenção Internacional dos Direitos da Criança, ratificada pelo 
Brasil através do Decreto n. 99.710/90”, sendo, portanto, norma cogente, de 
obrigatória observação. 
Este princípio, entrelaçado aos demais, dá respaldo jurídico a possibilidade 
jurídica de adoção por casais homoafetivos, porquanto traz entranhado em sua 
definição o sustentáculo do interesse de agir. 
Nesse contexto, a família, por ser instituição que recebe ampla proteção 
estatal, não tem somente direitos, mas tem, também, o dever, aliada à sociedade e 
ao Estado, de assegurar, com absoluta prioridade, os direitos fundamentais da 
criança e do adolescente, enumerados no Artigo 227, da Constituição da República 
Federativa do Brasil (SILVA, 2008, p. 851). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 57 
Esses direitos estão descritos no texto da Carta Magna, e dizem respeito ao 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2009). 
Ao Estado, portanto, cumpre sua obrigação constitucional de promover 
programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente, admitida a 
participação de entidades não governamentais e obedecendo a determinados 
preceitos. 
Para Silva (2008, p. 851) o reconhecimento constitucional da igualdade de 
direitos e qualificações aos filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por 
adoção, proibidas quaisquer discriminações a ela relativas, é norma de fundamental 
importância. 
O autor relembra que: 
 
[...] ficam banidas da legislação civil expressões como filhos legítimos, filhos 
naturais, filhos adulterinos, filhos incestuosos. Por outro lado, 
expressamente é admitida a adoção de crianças brasileiras por 
estrangeiros, desde que seja assistida pelo Poder Judiciário, na forma da lei 
e nos casos e condições por esta estabelecidos (art. 227, § 5º) (SILVA, 
2008, p. 851). 
 
Nesse ínterim, começa a ganhar espaço a discussão a respeito de que as 
“crianças e os adolescentes são sujeitos de direitos, titulares de direitos 
fundamentais, reconhecidos pelo sistema jurídico pátrio e pela Doutrina da Proteção 
Integral” (PERES, 2006, p. 127) 
Dessa orientação, vê-se que os direitos expressos na CRFB/1988 têm por 
objetivo garantir especial proteção, salvaguardando os interesses das crianças e dos 
adolescentes, inclusive por meio da adoção, mormente considerando-se que a 
Constituição da República expressamente privilegia o vínculo familiar (art. 227), 
assim como o faz o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90), embora 
enfatizando os laços biológicos, não afasta a possibilidade jurídica de a criança ou o 
adolescente ser criado e educado por família substituta (PERES, 2006, p. 130). 
Considerados tais aspectos, inúmeros fatores devem ser observados, 
quando se trata de adoção e guarda, com vistas ao melhor interesse da criança e do 
adolescente, por exemplo: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 58 
 
[...] o amor e os laços afetivos entre o titular da guarda e a criança; a 
habitualidade do titular da guarda de dar à criança amor e orientação; a 
habitualidade do titular da guarda de prover a criança com comida, abrigo, 
vestuário e assistência médica (os chamados alimentos necessários); 
qualquer padrão de vida estabelecido; a saúde do titular da guarda; o lar da 
criança, a escola, a comunidade e os laços religiosos; a preferência da 
criança, se ela tem idade suficiente para ter opinião (PERES, 2006, p. 131). 
 
Nesse norte, anota-se que em nenhum momento há expressa menção à 
sexualidade dos adotantes. 
A sexualidade não restou discriminada no rol acima transcrito porquanto 
“não inibe o seu potencial de prover a criança com os recursos materiais e pessoais, 
incluindo-se aspectos de ordem emocional e moral” (PERES, 2006, p. 131), 
conforme preceitua a Constituição da República, quando traz todo o aparato 
conceitual do que entende pertinente a título de proteção do melhor interesse da 
criança, disposto no Artigo 227 e parágrafos. 
Assim, verifica-se crescente o entendimento segundo o qual os aplicadores 
do direito devem optar por soluções que efetivamente representem maiores 
benefícios para a criança e para o adolescente, confrontando princípios 
constitucionais, de modo a aplicar com maior ênfase aquele que melhor se adeque 
ao caso concreto. 
Convém, em observância aos princípios da dignidade da pessoa humana, da 
igualdade, da ampla proteção à família e no melhor interesse da criança e do 
adolescente, considerar-se a possibilidade de adoção a casais homoafetivos, 
utilizando-se de regra extensiva quanto ao reconhecimento de entidade familiar, a 
ver abrigos repletos de cidadãos impedidos de gozar de inúmeros direitos que a 
própria Constituição da República assegura. 
De outro norte, vislumbra-se ser juridicamente possível de apreciação os 
pedidos de adoção realizados por casais homoafetivos, na proporção em que 
buscam a ampliação de suas entidades familiares, que já se encontram devidamente 
estruturadas, com fundamento dos mesmos princípios acima lançados. 
Dias (2001, p. 117) esclarece que a adoção por casais homoafetivos 
representa não apenas “solução menos gravosa para o menor, mas a melhor 
solução em muitos casos, principalmente em um país como o nosso, pois retira o 
menor da marginalidade, dando-lhe um lar cercado de afeto e atenção”. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 59 
No mesmo sentido, enfatiza Peres (2006, p. 131-132) que a adoção por 
homossexuais, enquanto na compreensão de alguns não é vista como a situação 
ideal, menos ainda o é a permanência de crianças em instituições. 
Por fim, cumpre anotar peculiar comentário da autora, por meio do qual 
expõe que os parâmetros norteadores de uma decisão estão estreitamente atrelados 
aos valores culturais da sociedade, o que, de modo sistemático, permite efetiva 
flexibilização, na medida em que o entendimento evolui conforme a própria 
sociedade (PERES, 2006, p. 133). 
Assim, somados todos os aspectos acima delineados, impõe-se reconhecer 
a existência de fundamento jurídico suficiente para a análise jurídica de pedidos pelo 
reconhecimento de direitos, posto que alicerçados em preceitos constitucionalmente 
consagrados, aplicando-se meramente interpretação extensiva, com a finalidade 
maior de inclusão de cidadãos que permanecem à margem do ordenamento jurídico. 
Nesse contexto, a principiologia constitucional analisada – dignidade da 
pessoa humana, direito à igualdade, direito à ampla proteção da família e efetivação 
da defesa do melhor interesse da criança –, é de suma importância para dar 
embasamento jurídico ao reconhecimento de direitos inerentes a todo e qualquer 
cidadão enquanto inserido em um núcleo familiar, independentemente de sua 
orientação sexual. 
 
 
3.4 PRINCÍPIO DA IGUALDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES 
 
 
Nenhum princípio da Constituição provocou tão profunda transformação do 
direito de família quanto o da igualdade entre homem e mulher, entre filhos e entre 
entidades familiares. Todos os fundamentos jurídicos da família tradicional restaram 
destroçados, principalmente os da legitimidade. O princípio geral da igualdade de 
gêneros foi igualmente elevado ao status de direito fundamental oponível aos 
poderes políticos e privados (art. 5º, I, da Constituição). 
A legitimidade familiar constituiu a categoria jurídica essencial que definia os 
limites entre o lícito e o ilícito, além dos limites das titularidadesde direito, nas 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 60 
relações familiares e de parentesco. Família legítima era exclusivamente a 
matrimonializada. 
Consequentemente, filhos legítimos eram os nascidos de família constituída 
pelo casamento, que determinavam por sua vez a legitimidade dos laços de 
parentesco decorrentes; os demais recebiam o sinete estigmatizante de filhos, 
irmãos e parentes ilegítimos. 
Após a Constituição de 1988, que igualou de modo total os cônjuges entre 
si, os companheiros entre si, os companheiros aos cônjuges, os filhos de qualquer 
origem familiar, além dos não biológicos aos biológicos, a legitimidade familiar 
desapareceu como categoria jurídica, pois apenas fazia sentido como critério de 
distinção e discriminação. Nesse âmbito, o direito brasileiro alcançou muito mais o 
ideal de igualdade do que qualquer outro. 
O princípio constitucional da igualdade (a fortiori normativo) dirige-se ao 
legislador, vedando-lhe que edite normas que o contrariem, à administração pública, 
para que implemente políticas públicas para superação das desigualdades reais 
existentes entre os gêneros, à administração da justiça, para o impedimento das 
desigualdades, cujos conflitos provocaram sua intervenção, e, enfim, às pessoas 
para que o observem em seu cotidiano. 
Sabe-se que costumes e tradições, transmitidos de geração a geração, 
sedimentaram condutas de opressão e submissão, no ambiente familiar, mas não 
podem ser obstáculos à plena realização do direito emancipador. 
O princípio da igualdade está expressamente contido na Constituição, 
designadamente nos preceitos que tratam das três principais situações nas quais a 
desigualdade de direitos foi a constante histórica: os cônjuges, os filhos e as 
entidades familiares. O simples enunciado do § 5º do art. 226 traduz intensidade 
revolucionária em se tratando dos direitos e deveres dos cônjuges, significando o fim 
definitivo do poder marital: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal 
são exercidos igualmente pelo homem e a mulher”. 
O sentido de sociedade conjugal é mais amplo, pois abrange a igualdade de 
direitos e deveres entre os companheiros da união estável. O § 6º do Artigo 227, por 
sua vez, introduziu a máxima igualdade entre os filhos, “havidos ou não da relação 
de casamento, ou por adoção”, em todas as relações jurídicas, pondo cobro às 
discriminações e desigualdade de direitos, muito comuns na trajetória do direito de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 61 
família brasileiro. O caput do Artigo 226 tutela e protege a família, sem restringi-la a 
qualquer espécie ou tipo, como fizeram as Constituições brasileiras anteriores em 
relação à exclusividade do casamento. 
O princípio da igualdade, como os demais princípios, constitucionais ou 
gerais, não é de aplicabilidade absoluta, ou seja, admite limitações que não violem 
seu núcleo essencial. Assim, o filho havido por adoção é titular dos mesmos direitos 
dos filhos havidos da relação de casamento, mas está, ao contrário dos demais, 
impedido de casar-se com os parentes consanguíneos de cuja família foi oriundo, 
ainda que se tenha desligado dessa relação de parentesco (art. 1.626 do Código 
Civil). 
A regra de restrição ou de causa suspensiva a novo casamento, durante dez 
meses depois da viuvez ou da dissolução do casamento anterior (art. 1.523, II, do 
Código Civil), apenas diz respeito à mulher cujo casamento foi declarado nulo ou 
anulado, ou à viúva, para que não haja dúvida sobre a paternidade de filho cujo 
parto se der nesse período. 
Inexistindo hierarquia entre o casamento e a união estável não se justifica 
que o Código Civil tenha atribuído deveres distintos para os cônjuges e para os 
companheiros. A Constituição não desnivelou a união estável ao estabelecer que a 
lei deva facilitar a conversão dela em casamento. 
Cuida-se aí de faculdade ou de poder potestativo; é como dissesse que os 
companheiros são livres para manter sua entidade familiar, com todos os direitos, ou 
convertê-la em outra, se assim desejarem, para o que o legislador deve remover os 
obstáculos jurídicos. 
Do mesmo modo, o caminho inverso é possível, convertendo-se os 
cônjuges, após o divórcio, em companheiros. O Código Civil, no entanto, não 
facilitou a conversão; dificultou a, ao impor deveres aplicáveis apenas aos cônjuges 
e não aos companheiros (cf. arts. 1.566 e 1.724 do Código Civil). 
A igualdade e seus consectários não podem apagar ou desconsiderar as 
diferenças naturais e culturais que há entre as pessoas e entidades. Homem e 
mulher são diferentes; pais e filhos são diferentes; criança e adulto ou idoso são 
diferentes; a família matrimonial, a união estável, a família monoparental e as 
demais entidades familiares são diferentes. 
 
 
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Todavia, as diferenças não podem legitimar tratamento jurídico assimétrico 
ou desigual, no que concernir com a base comum dos direitos e deveres, ou com o 
núcleo intangível da dignidade de cada membro da família. Não há qualquer 
fundamentação jurídico-constitucional para distinção de direitos e deveres 
essenciais entre as entidades familiares, ou para sua hierarquização, mas são todas 
diferentes, não se podendo impor um modelo preferencial sobre as demais, nem 
exigir da união estável as mesmas características do casamento, dada a natureza 
de livre constituição da primeira. “Uma ordem democrática [incluindo a 
democratização da vida pessoal] não implica um processo genérico de ‘nivelar por 
baixo’, mas em vez disso promove a elaboração da individualidade”. 
Há situações em que os pais podem adotar medidas diferentes na educação 
de cada um dos filhos, ou mesmo um dos filhos. Por vezes, a satisfação do princípio 
da igualdade na filiação impõe o atendimento às diferenças individuais, o respeito ao 
direito de cada um de ser diferente. Outras vezes, um dos filhos apresenta 
necessidades especiais a demandar medidas especiais. Nessas situações, em que 
são tratados desigualmente os desiguais, os pais não podem ser acusados de 
discriminação. 
 
 
3.5 PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR 
 
 
A Constituição Federal de 1988 provocou alteração na formação da entidade 
familiar, visto que antes da Constituição vigorava o Código Civil de 1916, que previa 
o casamento como o único meio legal de constituição familiar. 
A partir da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, do Estatuto da 
Criança e do Adolescente, o Estado passa a ter obrigação de proteger a família, 
antes mesmo de proteger os menores de idade, justamente para garantir o seu 
direito à convivência familiar. 
No fato da vida, em projeção de transeficácia, hauriu o princípio normativo 
de seus elementos para assegurar direitos e deveres envolventes. A casa é o 
espaço privado que não pode ser submetida ao espaço público. Essa aura de 
intocabilidade é imprescindível para que a convivência familiar se construa de modo 
 
 
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estável e, acima de tudo, com identidade coletiva própria, o que faz com que 
nenhuma família se confunda com outra. 
O inciso XI do Artigo 5º da Constituição estabelece que “a casa é asilo 
inviolável do indivíduo, ninguém podendo nela penetrar sem consentimento do 
morador”. Mas, a referência constitucional explícita ao princípio será encontrada no 
Artigo 227. Também no Código Civil, o princípio se expressa na alusão do Artigo 
1.513 a não interferências “na comunhão de vida instituída pela família”. 
A Convenção dos Direitos da Criança, no Artigo 9º, estabelece que, no caso 
de pais separados, a criança tem direito de “manter regularmente relações pessoais 
e contato direto com ambos, a menos que isso seja contrário ao interessemaior da 
criança”. O direito à convivência familiar, tutelado pelo princípio e por regras jurídicas 
específicas, particularmente no que respeita à criança e ao adolescente, é dirigido à 
família e a cada membro dela, além de ao Estado e à sociedade como um todo. 
Por outro lado, a convivência familiar é o substrato da verdade real da 
família socioafetiva, como fato social facilmente aferível por vários meios de prova. A 
posse do estado de filiação, por exemplo, nela se consolida. Portanto, há direito à 
convivência familiar e direito que dela resulta. 
A convivência familiar também perpassa o exercício do poder familiar. Ainda 
quando os pais estejam separados, o filho menor tem direito à convivência familiar 
com cada um, não podendo o guardião impedir o acesso ao outro, com restrições 
indevidas. Por seu turno, viola esse princípio constitucional a decisão judicial que 
estabelece limitações desarrazoadas ao direito de visita do pai não guardião do filho, 
pois este é titular de direito próprio à convivência familiar com ambos os pais, que 
não pode restar comprometido. 
O senso comum enxerga a visita do não guardião como um direito limitado 
dele, apenas, porque a convivência com o filho era tida como objeto da disputa dos 
pais, quando em verdade é direito recíproco dos pais em relação aos filhos e destes 
em relação àqueles. O direito à convivência familiar não se esgota na chamada 
família nuclear, composta apenas pelos pais e filhos. 
O Poder Judiciário, em caso de conflito, deve levar em conta a abrangência 
da família considerada em cada comunidade, de acordo com seus valores e 
costumes. Na maioria das comunidades brasileiras, entende-se como natural a 
convivência com os avós e, em muitos locais, com os tios, todos integrando um 
 
 
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grande ambiente familiar solidário. Consequentemente têm igualmente fundamento 
no princípio da convivência familiar as decisões judiciais que asseguram aos avós o 
direito de visita a seus netos. 
 
 
3.6 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE 
 
 
Antes de qualquer direito fundamental referente à família, está o direito que 
toda pessoa tem, desde que nasce até o dia de sua morte: o direito ao afeto, ao 
amor. É o direito mais importante para o melhor desenvolvimento da saúde física, 
psíquica e emocional das pessoas, assim como ao desenvolvimento material e 
cultural da família. 
Não sendo o afeto fruto da biologia, deriva da convivência familiar, não do 
sangue, pelo que se conclui que a chamada posse de estado de filho, por exemplo, 
nada mais é do que o reconhecimento jurídico do afeto, com o claro objetivo de 
garantir a felicidade entre as pessoas que compõem o núcleo familiar. 
Neste ponto, impõe-se apresentar uma definição do termo afeto. Para 
Abbagnano, afeto deve ser entendido como: 
 
[...] as emoções positivas que se referem a pessoas e que não têm o caráter 
dominante e totalitário. Enquanto as emoções podem referir-se tanto a 
pessoas quanto a coisas, fatos ou situações, os afetos constituem a classe 
restrita de emoções que acompanham algumas relações interpessoais 
(entre pais e filhos, entre amigos, entre parentes), limitando-se à tonalidade 
indicada pelo adjetivo “afetuoso”, e que, por isso, exclui o caráter 
exclusivista e dominante da paixão. Essa palavra designa o conjunto de 
atos ou atitudes como a bondade, a benevolência, a inclinação, a devoção, 
a proteção, o apego, a gratidão, a ternura, etc. que, no seu todo, podem ser 
caracterizados como a situação em que uma pessoa “preocupa-se com” ou 
“cuida de” outra pessoa ou em que esta responde, positivamente, aos 
cuidados ou a preocupação de que foi objeto. O que comumente se chama 
de “necessidade de afeto” é a necessidade de ser compreendido, assistido, 
ajudado nas dificuldades, seguido com olhar benévolo e confiante. Nesse, o 
afeto não é senão uma das formas do amor (ABBAGNANO apud 
ANGELUCI, 2006, p. 96). 
 
Completa se mostra tal definição, vez que engloba todos os aspectos que as 
relações afetivas envolvem, com destaque para o sentimento de responsabilidade 
para com a pessoa amada, ou seja, o afeto envolve um dever de cuidado, entre pais 
 
 
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e filhos, avós e netos, companheiros e companheiras, enfim, entre todas as pessoas 
unidas pelo afeto familiar, que é o elemento definidor da família contemporânea, 
corolário do princípio da afetividade. 
A ideia do afeto como um elemento integrador na formação das entidades 
familiares surgiu no Brasil no final do século XX, com o advento da Constituição 
Federal de 1988, evidenciando a tendência contemporânea de ver a família na 
perspectiva das pessoas, e não mais sob a ótica da família patrimonializada, modelo 
adotado por legislações pretéritas. 
Lôbo (2000, p. 49) apresenta os fundamentos jurídico-constitucionais do 
princípio da afetividade, afirmando não ser mera “petição de princípio, nem fato 
exclusivamente sociológico ou psicológico”. No que respeita aos filhos, a evolução 
dos valores da civilização ocidental levou à progressiva superação dos fatores de 
discriminação entre eles, projetando-se, no campo jurídico-constitucional, a 
afirmação da natureza da família como grupo social fundado essencialmente nos 
laços de afetividade. 
Assim, encontram-se na Constituição Federal quatro fundamentos 
essenciais do princípio da afetividade, conformadores dessa evolução social da 
família, de acordo com interessante construção jurídica de Lôbo (apud DIAS, 2006, 
p. 60): 
 
a) A igualdade entre todos os filhos, independentemente de sua origem (art. 
227, § 6º, CF); 
b) A adoção, como escolha afetiva, alçou-se integralmente ao plano da 
igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 6º, CF); 
c) A comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, 
incluindo-se os adotivos, tem a mesma dignidade de família 
constitucionalmente protegida (art. 226, § 4º, CF); 
d) O direito à convivência familiar como prioridade absoluta da criança e do 
adolescente (art. 227, CF). 
 
O princípio da afetividade, "assentado nesse tripé normativo, especializa, no 
campo das relações familiares, o macroprincípio da dignidade da pessoa humana 
 
 
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[...], que preside todas as relações jurídicas e submete o ordenamento jurídico 
nacional" (LÔBO, 2000, p. 51). 
A família transforma-se na medida em que se acentuam as relações de 
sentimentos entre seus membros: valorizam-se as funções afetivas da família. 
Assim, a família e o casamento adquiriram um novo perfil, voltados muito mais a 
realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes. 
Essa é a concepção eudemonista da família (DIAS, 2006, p. 61), que tem 
como função social realizar a felicidade das pessoas que integram a família, em 
detrimento de seu aspecto patrimonial. A comunhão de afeto é incompatível com o 
modelo único, matrimonializado da família, por isso, a afetividade entrou nas 
cogitações dos juristas, buscando explicar as relações familiares contemporâneas 
(LÔBO, apud DIAS, 2006, p. 61). 
Barros (2003, p. 149) destaca a importância do afeto para a condição 
humana, ou seja, é o afeto que caracteriza a pessoa como ser verdadeiramente 
humano, gerando em cada pessoa a solidariedade, "que é a única força capaz de 
construir - dignamente - a humanidade em todo o agrupamento humano, a partir de 
sua grei inicial: a família". 
Aponta o autor que o afeto não é somente um laço a envolver os integrantes 
de uma única família, já que possui um viés externo, entre as famílias, pondo 
humanidade em cada família e compondo, em seu dizer, "a família humana 
universal, cujo lar é a aldeia global, cuja base é o globo terrestre, mas cuja origem 
sempre serácomo sempre foi, a família" (BARROS, 2003, p. 149-150). 
Na esteira dessa evolução, o Direito de Família instalou uma nova ordem 
jurídica para a família, atribuindo valor jurídico ao afeto (DIAS, 2006, p. 61). No 
entanto, é essencial para a operacionalização e efetividade dos direitos 
fundamentais da família, como o direito ao afeto, que haja uma "ruptura dos 
paradigmas até então existentes para poder proclamar, sob a égide jurídica, que o 
afeto representa elemento de relevo e deve ser considerado para fim do princípio da 
dignidade da pessoa" (ANGELUCI, 2006, p. 131). 
Ademais, prossegue o autor analisando o descompasso do Direito com os 
valores oriundos do princípio da afetividade, no sentido de que não consegue a 
ciência jurídica acompanhar as transformações sociais, apegada que está a uma 
cultura legalista. Neste passo, o direito não acompanhou as alterações sociais, não 
 
 
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se atribuiu, no ordenamento, pelo menos expressamente, valor ao afeto, está a 
doutrina laborando intensamente para implantar esta nova visão independente e 
desvinculada do valor econômico apenas. 
Este trabalho é árduo e está no início, pois de um ponto de vista 
extremamente legalista, defender sua irrelevância, prevalecendo o elemento 
biológico, como ponto fundamental a sustentar a relação entre pai e filho, é ainda 
comum nos litígios que batem às portas do judiciário brasileiro (ANGELUCI, 2006, 
p.132). 
Assim, reafirma-se a natureza essencialmente humana do Direito, que 
reivindica uma renovação de seus pressupostos teóricos e, por conseguinte, de sua 
prática cotidiana. Para tal, alguns esforços vêm sendo empreendidos, a começar 
pelo interesse em estudos que integrem o valor dos sentimentos para o interior do 
Direito de Família, área peculiar que exige um tratamento interdisciplinar, vez que 
diz com os mais íntimos valores do ser humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO III

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