Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
3p Jornalismo Impresso - Regina Zandomênico 1 A importância da História Heródoto “pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”. Os primeiros registros da comunicação humana foram as pinturas rupestres: zoomórfico (animais), antropomórfico (homens) e símbolos (sem sentido aparente). As pinturas rupestres representam muito mais do que apenas o cotidiano dos povos primitivos. Elas podem ser entendidas como uma forma de linguagem visual, que acabam contribuindo significativamente para a compreensão dos primeiros passos dados pelo ser humano em direção da comunicação. A evolução da comunicação: - pinturas rupestres; - verbal; - pictografia (egípcios); - escrita (grego); - de massa/impressão (Gutenberg); - informática e multimídia. Gutenberg percebeu a possibilidade de unir um tipo móvel a outros para formar as palavras e frases, criando assim um modelo com menor custo econômico e com mais eficiência. O jornalismo impresso O jornalismo, como o conhecemos atualmente, só surgiu com o movimento de ascensão da burguesia ao poder, bem como graças ao movimento de eliminação da censura, no século XVIII. O primeiro registro do uso do termo jornal data de 5 de janeiro de 1665 por Jean-Baptiste Colbert, chamado Journal des Sçavans. O primeiro jornal diário do mundo foi o britânico The Daily Courant e utilizava somente a parte da frente de uma folha, no seu verso estavam anúncios. Em 10 de setembro de 1808, iniciou-se a circulação da Gazeta do Rio de Janeiro, tratava-se da publicação oficial da Coroa. O jornalismo, já naquela época, funcionava como estrutura de resistência ao modelo social imposto. A imprensa de oposição existente na época era o jornal denominado Correio Braziliense ou Armazém Literário. Uma publicação produzida fora do Brasil, mas que chegava ao nosso país clandestinamente por navio. O jornal era editado por Hipólito da Costa, um português que estava exilado em Londres. A publicação fazia grande pressão pela liberdade de imprensa, sendo contrário ao domínio de Portugal sobre a Colônia. Correio da Manhã, publicação do Rio de Janeiro criada por Edmundo Bittencourt, em junho de 1901. Diário de Pernambuco, de Recife, Folha de São Paulo e Estado de São Paulo, ambos da capital do estado de São Paulo. Era o meio pelo qual grande parte da sociedade se informava sobre os diversos acontecimentos. 2 Informação e Notícia Para exercer sua função com responsabilidade social, o bom jornalista precisa entender a informação e saber como interpretá-la para o seu público. Essa interpretação nada mais é do que a transformação de um fato ou de uma informação em notícia. A história do jornalismo impresso remonta a sua ligação com o publicismo, cuja principal característica era divulgar orientações e interpretações políticas de interesse comercial e político. As pessoas costumam avaliar o jornalismo por um único critério. Ele será bom quando o que for relatado apontar uma interpretação favorável e mal quando isso não acontecer. A vertente do jornalismo voltada ao sensacionalismo, diretamente ligado ao século XIX, começa a ser discutida quando na história da imprensa o jornal passa a preocupar-se com a emoção e a sensibilização. É no final do século XIX e início do século XX, nos Estados Unidos, que um novo modelo de jornalismo nasce e prospera. Estabeleceu-se, a partir daí, que a informação jornalística passaria a trazer dados colhidos juntos às fontes, testemunhos de um fato e confrontados com outros, a fim de uma aproximação com a realidade. Esse novo modelo é chamado de lei de três fontes por Nilson Lage (2001), isto é, uma mesma versão de um fato deve ser contada por três pessoas para ser tomada como verdadeira. A informação no jornalismo primeiramente precisa sobreviver ao processo de filtragem jornalística para então, após confirmada sua veracidade ganhar uma versão que chegará até os leitores. A informação tratada gerará a notícia que será consumida. Notícia é uma compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal que a publica (Neil MacNeil [1923-2008]). Para isso, o jornalismo torna-se o principal difusor de informações e notícias. 3 Critérios de Noticiabilidade É importante nos perguntarmos: o que torna um fato e/ou informação em uma notícia? Todos os acontecidos devem virar notícia? Há algum padrão para a escolha e seleção dos fatos noticiosos? Ou simplesmente é o jornal que escolhe o que quiser publicar? Noticiabilidade Conjunto critérios que julgam se determinado fato/acontecimento merece receber o tratamento jornalístico ou se possui valor como notícia. Uma notícia ganha valor porque ela precisa ter interesse do público, caso contrário não é lida e nem vendida. Os jornalistas ou “profissionais da notícia” atuam como porteiros da informação, deixando passar algumas e barrando outras, na medida em que escolhem o que é notícia e o que não é. Esse profissional nós – – – – – chamamos de gatekeeper. 4 Técnicas de Construção da Notícia Nilson Lage, 2001, “Trata-se, portanto, da produção cultural intrinsecamente relacionada à concretização da História.”. Diferente de outros tipos de linguagem, o estilo do texto jornalístico se pauta pela veracidade das informações, a ordem que os fatos são relatados e as informações complementares que dão credibilidade tanto ao texto quanto a quem o escreveu. Métodos de desenvolvimento textual: Boa apuração; Objetividade, buscando a imparcialidade; Proximidade com a temática; Linguagem simples. 5 Gêneros e formatos jornalísticos Perspectiva histórica dos gêneros e formatos jornalísticos Em 1953, o francês Jacques Kayser realizou uma pesquisa pioneira sobre o jornalismo semanal comparado, a pesquisa foi intitulada Une semaine dans le monde, de acordo com a nossa tradução “Uma semana no mundo”. Protagonistas na abertura dos caminhos em torno da observação do conteúdo e da formas dos jornais: José Fernandes (Quito), fundador do Centro Internacional de – – – – Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina (CIESPAL), apoiado pela UNESCO; Irene Tetelowska (Cracóvia) propôs uma classificação singular aos gêneros jornalísticos: informação pura, informativos e publicitários; José Luís Martinez Albertos (Pamplona), difundiu a proposta de Kayser; Luiz Beltrão (Recife), fundador do Instituto de Ciências da Informação na UNICAP, produzindo uma trilogia dos gêneros jornalísticos. Gêneros e formatos No Brasil, Luiz Beltrão foi o primeiro a dedicar-se à compreensão dos gêneros, categorizando em três: informativo (notícia), interpretativo (reportagem) e opinativo (editorial). José Marques de Melo, aluno de Beltrão, publicou o livro Jornalismo Opinativo no ano de 1985 baseando-se em dois critérios para pensar a classificação da produção jornalística: a intencionalidade do relato feito no texto jornalístico; e a natureza da estrutura do texto. Como furto de suas reflexões, Manuel Carlos Chaparro, pesquisador entusiasta de Melo, afirma que o jornalismo teria apenas dois gêneros: comentário e relato. 1. – – – A Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, popularmente conhecida com Intercom, que realiza anualmente o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, criou em 2009, um Grupo de Pesquisa em Gêneros Jornalísticos, onde anualmente pessoas de diversas regiões do Brasil apresentam seus trabalhos e pesquisa sobre o tema. Embora hajam muitos estudos e classificações, a mais utilizada pela doutrina é a de José Marques de Melo. Gêneros e formatos jornalísticos classificados por José Marques: Informativo: nota; notícia; reportagem; entrevista. É a articulação que existe, entre os acontecimentos cotidianos e reais da nossa sociedade e a produção jornalística sobre esses acontecimentos. Nota: relato de acontecimento cujas informações não são plenamente conhecidas; Notícia: acontecimentos cotidianos e fatos recentes, seu elemento definidor é o relatodo jornalista respondendo as perguntas do lead; Reportagem: aborda assuntos, diferentemente da notícia que trata de fatos. É um relato ampliado; – 2. 3. 4. 5. Entrevista: permite ao leitor conhecer opiniões privilegiando a versão de um ou mais protagonistas. Opinativo: editorial; comentário; artigo; resenha; coluna; crônica; caricatura; carta. Interpretativo: dossiê; perfil; enquete; cronologia Utilitário: indicador; cotação; roteiro; serviço Diversional: História de interesse humano; História colorida 6 Gêneros e formatos jornalísticos - Opinativo e Interpretativo Opinativo Todos nós somos constituídos a partir de um conjunto de diversas referências que de algum modo vão impactar em nosso processo de seleção e de organização das informações. José Marques de Melo propõe oito formatos para o gênero opinativo: 1) Editorial, interesses do grupo mantenedor; 2) Comentário, conteúdo de responsabilidade de quem o produz; 3) Artigo, especializado em um tema; 4) Resenha, relacionada a produtos culturais; 5) Coluna, avalia repercussões reais ou fictícias; 6) Crônica, brasileira, relato poético do real; 7) Caricatura, opinião ilustrada; 8) Carta, espaço do leitor em veículo impresso. Interpretativo Se estabeleceu no Brasil, na década de 1960, quando foi criado o Departamento de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil, segundo informações de Paulo Roberto Leandro e Cremilda Medina. A principal característica do gênero interpretativo é justamente o aprofundamento. Diante deste contexto, percebeu-se a necessidade da documentação, do arquivamento de jornais, para que essas publicações fossem usadas como fonte de pesquisa posteriormente. Os formatos do jornalismo interpretativo seriam: 1) Dossiê (mosaico de informações); 2) Perfil (relato bibliográfico); 3) Enquete; e 4) Cronologia (reconstrução dos fluxos do acontecimento). 7 Gêneros e Formatos Jornalísticos - Utilitário e dimensional Diversional Preencher o momento de ócio das pessoas, não tem intensão factual: por interesse humano e histórias coloridas. A história de interesse humano é um formato que constrói a narrativa a partir da exploração dos elementos da vida do personagem. Segundo Marques de Melo (2006), é a “Narrativa que privilegia facetas particulares dos “agentes” noticiosos. Apesar da apropriação de recursos ficcionais, os relatos devem primar pela ‘verossimilhança’ sob o risco de perder a ‘credibilidade’. À flor da pele de João Valadares. A história colorida é o formato que explora detalhes e cenários que envolvem o fato. De acordo com Marques de Melo (2006), é constituída por “relatos de natureza pictórica, privilegiando tons e matizes na reconstituição dos cenários noticiosos. Não obstante a presença do repórter no cenário noticioso, ele se comporta como um ‘observador distante’, enxergando detalhes não perceptíveis a olho nu”. O resgate das formas literárias de expressão que, em nome da objetividade, do distanciamento pessoal do jornalista, enfim, da padronização da informação de atualidade dentro da indústria cultural, foram relegadas a segundo plano, quando não completamente abandonadas, Marques de Melo, 2003. A preocupação mais centrada no estilo, na narrativa, na linguagem e na forma de escrita que deve ser atrativa do que de fato na própria informação. Entre as discussões propostas por Francisco de Assis está, por exemplo, a explicação sobre nomenclaturas. Aliás, quando explicamos acima que a preocupação do jornalismo diversional é mais estética do que informativa você deve ter se perguntado: mas isso não é jornalismo literário? Francisco de Assis (2011) esclarece que: “às vezes, utilizados de modo equivocado – para a mesma prática, como “novo jornalismo”, “literatura da realidade”, “escrita criativa de não-ficção”, “literatura do fato”, “jornalismo narrativo”, “jornalismo de livros”, “jornalismo degustativo”, “narrativa jornalística”, “jornalismo informativo de criação”, “parajornalismo” e “jornalismo literário” [...], sendo esse último, muito provavelmente, o mais conhecido ou mais bem aceito.” Gênero Utilitário Ele cresce e se desenvolve com a sociedade atual para atender as necessidades dela. As pessoas querem respostas rápidas e precisas daquilo que precisam. Segundo José Marques de Melo (2008), “o gênero utilitário tem marco no final do século XX, sua legitimação se dá com mais vigor nas sociedades povoadas pelos cidadãos consumidores”. Espaços onde se pode encontrar determinado serviço, horário de atendimento, documentos necessários e demais informações instrucionais são sempre abordados pelo gênero utilitário que visa a facilitar o dia a dia do cidadão. Isso acontece de diversas formas, dentre elas: Guias, listas, conselhos, mapas e ainda como complementos de matérias informativas. Formatos do jornalismo utilitário classificados por José Marques de Melo: Indicador Dados fundamentais para a tomada de decisão cotidiana (cenários econômicos, meteorologia etc.). Cotação Dados sobre a variação dos mercados: Monetário, indústrias, agrícolas, terciários. Roteiro Dados indisponíveis ao consumo de bens simbólicos. Serviço Informações destinadas a proteger os interesses dos usuários dos serviços públicos, bem como dos consumidores de produtos industriais ou de serviços privados. Análise dos formatos do gênero utilitário na Folha de S. Paulo: Indicador Corresponde aos indicadores econômicos e de mercado, também aparece como necrologia (avisos de mortes e missas de 7° dia), meteorologia, indicação de como deve funcionar o trânsito (rodízio de carros), entre outros exemplos. Cotação Dados monetários, agrícolas, cotação de moedas no dia, cotação de filmes (número de estrelas) e demais cotações. Muito presente nas chamadas de capa, mas também nos cadernos de economia. Roteiro A maioria das vezes é representado por informações sobre filmes que estreiam no cinema. Os roteiros são importantes para o leitor que busca futuramente consumir bens simbólicos. Mais representativo nos cadernos culturais. Serviço Este formato se apresenta de diversas formas e em vários cadernos dos impressos estudados. Um dos exemplos é quando o jornal presta serviço ao leitor, levando a ele uma resposta de uma reclamação ou dúvida, geralmente relacionada a um órgão público. Mas também se nota o serviço em suplementos, quando o jornal oferece informações sobre as novidades do mercado, ajuda o consumidor na escolha de produtos, apresenta uma série de informações, preços, onde comprar ou como adquirir certo produto. “Não raro, o gênero utilitário se manifesta em forma de nota, notícia, reportagem, e até mesmo em entrevista para expressar um conteúdo que vai além do informe, exerce função de orientar, aconselhar e prestar informação útil.” VAZ, 2013. O estagiário que entrevistava familiares para obituário e fez reportagem sobre uma violinista famosa internacionalmente. Classificação de gêneros feita por José Marques de Melo (2010) Informativo Nota; Notícia; Reportagem; Entrevista Opinativo Editorial; Comentário; Artigo; Resenha; Coluna; Crônica; Caricatura; Carta Interpretativo Dossiê; Perfil; Enquete; Cronologia Utilitário Indicador; Cotação; Roteiro; Serviço Diversional História de interesse humano; História colorida 8 Produção em jornalismo impresso A pesquisa para a construção da notícia É uma técnica primordial para a construção dos caminhos a serem seguidos na pauta. Trata-se, de uma maneira de entender o assunto, apontando informações prévias que facilitem a contextualização do fato e possibilite ao repórter argumentações suficientes para trabalhar no processo de apuração da notícia. A pauta nada mais é do que um caminho ou roteiro para uma boa produção de textos jornalísticos, a fim de organizar as ideias e a estrutura da notícia. Essa técnica surgiu na Revista Time com a intenção de programar as matérias quanto aos fatos que seriam apurados em acordo com a linha de orientaçãodo texto. No jornal, a pauta ganhou destaque por melhor estruturar o lead, coletando inicialmente as respostas para as seis perguntas básicas. O Diário Carioca causou uma revolução na imprensa justamente pelo uso dessas técnicas. Logo mais, O Jornal do Brasil trazia uma das primeiras pautas estruturadas e completas no início da década, fruto de uma reforma iniciada no Diário Carioca. Pauta Quente São aquelas que surgem de imediato e precisam ser apuradas o quanto antes. Geralmente são os casos policiais, escândalos políticos, mortes de figuras públicas, anúncios econômicos, jogos de futebol etc. Pauta Fria Geralmente, nascem de uma observação de quem a produz, ou que trabalham um tema que não necessariamente precisa ser veiculado. Podem também surgir como um desdobramento de alguma notícia factual. E mesmo que sejam trabalhadas de uma maneira diferente das pautas quentes, as frias não deixam de ser importantes. São exemplos de pautas frias: uma matéria sobre as pessoas que trocaram o carro por uma bicicleta; o micro empreendedorismo como uma nova forma de trabalho; o projeto social que reúne crianças de um determinado bairro para retirar o lixo dos rios. O bom repórter sempre irá pensar e propor pautas, independente se a sua função for fazer a cobertura e a apuração dos fatos. – – – – – – – Inteligência artificial faz reportagens em 11 países, filmes e isso foi tema de doutorado. Fazer levantamento de projetos aprovados pela Câmara nos últimos 6 meses, a pauta de aprovação do dia. Atendimentos no PROCON. Não há um modelo de pauta pré-estabelecido, mas geralmente traz os assuntos principais que serão abordados a respeito do tema escolhido. Não é necessariamente escrita e nem sempre premeditada. Definição do tema; Editoria a que a pauta se destina; Contextualização do assunto (fundamento, panorama histórico); Encaminhamento; Sugestão de perguntas; Fontes; Recursos. Para a construção de uma pauta, é importante se manter a par de todos os acontecimentos do dia, se informando em jornais concorrentes, programas noticiosos de rádio e TV, ou dando atenção às sugestões do público. As redes sociais digitais (Facebook, Instagram e Twitter, mais precisamente) também são boas fontes de informação. Geralmente, os acontecimentos surgem nestas plataformas e só depois, após uma apuração prévia, os meios de comunicação disseminam suas notícias. A pauta é uma proposta, um projeto de cobertura com o objetivo de planejar a edição, facilitar a interpretação dos fatos e viabilizar a pesquisa prévia. Além desses objetivos, é importante mencionar que a pauta busca diminuir gastos e esforços, já que se organiza melhor o tempo, a apuração e assegura quais serão as fontes a participar da apuração. Fonte jornalística As matérias jornalísticas, em sua maioria, não apenas contêm informações fornecidas pela pesquisa e observação direta do repórter, como também apresenta um conteúdo implementado por instituições ou personagens que testemunham ou participam de eventos de interesse público. Lembremos da lei de três fontes onde o fato de uma mesma versão contada por três pessoas pode ser tomado como verdadeira. O professor Nilson Lage (2001) incrementa que é dever do jornalista selecionar e questionar suas fontes, justamente pelo seu interesse em colher dados e depoimentos para apurá-los de acordo com as técnicas jornalísticas. É importante lembrarmos que a relação entre jornalista e fonte não pode ser de amizade. Ademais, essa relação será uma luta de poderes, já que muitas das fontes se articulam para divulgar uma informação que seja conveniente a elas. 1. De fato, o jornalista não deve julgar, e sim pautar a notícia de interesse público. Da mesma forma, todo cidadão tem direito à privacidade e, no jornalismo, no exercício da sua profissão, suas fontes podem ser preservadas. Essa proteção foi especificada na Constituição Federal de 1988 e no capítulo II do Código de Ética do Jornalista Brasileiro, o Art. 5º expõe que é direito do jornalista resguardar o sigilo da sua fonte e no Art. 6º, que especifica o dever do jornalista em não colocar em risco a integridade de sua fonte e, também, daqueles com quem trabalha. 9 Técnicas da redação jornalística A linguagem jornalística A simplicidade no texto jornalístico é um dos fatores primordiais para atividade do profissional na produção de notícias. O uso de adjetivos ou qualquer outra expressão que denote opinião e posicionamento do profissional que a escreve deve ser evitada. A principal diferença entre a linguagem jornalística e a literária é a função e o objetivo de quem a escreve. Os profissionais do jornalismo precisam estar atentos a três pontos específicos no que diz respeito à informação: Imparcialidade, é algo impossível, mas o jornalismo se leva em consideração o equilíbrio dos assuntos tratados, propondo sempre ouvir os dois lados; 2. 3. Objetividade, método de descrever os fatos da forma que eles aparecem, abandonando as interpretações; Veracidade. A pesquisa para a construção da notícia O levantamento do maior número de informações possível assegura a qualidade do trabalho final. O lide (lead), já abordado em nossas aulas anteriores, é considerado a principal técnica utilizada na produção de notícias, tendo em vista que ele se configura como o primeiro e/ou segundo parágrafo estruturado para apresentar o fato mais relevante da série de fatos que compõem a notícia. Essa técnica é a essência do jornalismo impresso adotada e exportada pelos Estados Unidos e, aos poucos, incorporada pelos jornais brasileiros. Seu objetivo é justamente informar imediatamente o leitor, através das primeiras linhas, o detalhe mais importante da notícia. A composição dos elementos textuais jornalísticos em veículos impressos Todo texto jornalístico publicado em um jornal impresso começa na capa. São reunidos, nesse espaço, os conteúdos principais que o leitor não pode ficar sem consumir. É um tipo de cartaz jornalístico, onde se chama atenção aos principais fatos e acontecimentos da publicação. Demonstra muito bem o posicionamento e a linha editorial do veículo. Todos eles, em sua maioria, reúnem os mesmos elementos textuais como espaço de síntese, para facilitar a leitura e trazer informações que chamem a atenção do leitor. A editoria trata-se de uma das seções, organizadas em equipes, que formam a redação do jornal. São responsáveis pela cobertura de fatos/assuntos/acontecimentos relacionados ao seu campo temático. Manchete é a notícia principal do jornal e recebe o título mais importante logo na primeira página do veículo impresso. Chapéu indica o assunto do texto que vem logo abaixo dele. Linha fina é a frase ou período sem ponto final que complementa o título e/ou dá outras informações. Chamada é o texto curto localizado na primeira página cuja função é resumir as principais notícias do dia. Olho é o trecho do texto destacado propositalmente no meio da página. Geralmente esse trecho é uma declaração marcante de alguma fonte específica, ou uma informação que traz um assunto de destaque na mídia. O título é mais um elemento importante para uma matéria jornalística. Na maioria das vezes, ele é dado pelo próprio jornalista que escreveu a matéria, mas é possível ser mudado pela responsável da edição final do jornal. Para tanto, o repórter precisa trabalhar em parceria com o diagramador, já que as imagens precisam fazer sentido e trazer complemento ao texto. É importante entendermos que nem todos os veículos impressos seguem esse modelo. Muitos deles não utilizam algumas técnicas, como é o caso da linha fina. Em O Globo, especificamente, podemos notar que o chapéu não foi utilizado na página em questão, já que a editoria ‘Rio’ classifica e declara sobre o que se trata a matéria jornalística. É uma prática jornalística colocar o verbo no presente para “dar um ar” de novidade, embora o acontecimento tenha sido no dia anterior.“Morre aos 87 anos” ou “Brasil vence”. Procurar verbos discentes. A produção em jornais impressos O jornalista Claudio Abramo (1923-1987) divide em dois grandes grupos de profissionais conforme as funções em que atuam nas redações. De um lado encontram-se os pauteiros, fotógrafos, chefia de reportagem, subeditores e estagiários. Do outro lado, restam os profissionais que recebem o material, fazem a organização do material recebido, seleciona, reescreve, titula e finaliza. Esses dois grupos se resumem em produção e edição. A edição final do trabalho dos repórteres que saíram a campo para fazer a apuração das notícias pautadas é realizada, finalmente, pelos editores que se encontram nas redações. Além disso, são relevantes na hora de avaliar títulos, legendas, composição textual e imagética da página. Portanto, é importante que o repórter esteja atento às mudanças propostas para não deixar que nada passe despercebido. Atualmente, por exemplo, as redações seguem cada vez mais enxutas. Os repórteres agora não só escrevem como também fazem as fotografias, titulam as matérias e participam das edições finais. O tempo para filtrar, checar e avaliar informações tem diminuído e isso é fator de preocupação na credibilidade e responsabilidade social do jornalismo. O release, enquanto subsídio das assessorias, é o material informativo de acordo com os interesses particulares das assessorias. ● ● ● ● Levando em consideração a responsabilidade ética do jornalismo, as assessorias serviriam, portanto, como reforços para a produção e construção de notícias. 10 Técnicas de entrevista em jornalismo A entrevista é um dos principais instrumentos usados pelos jornalistas para exercer a apuração das informações que são indispensáveis para a sua produção jornalística. É através dos dados obtidos nas entrevistas que o repórter constrói seu texto, seja com declarações citadas entre aspas ou em formato pingue-pongue, também conhecida como perguntas e respostas. O conceito de entrevista Em seu livro A imprensa informativa, Luiz Beltrão (1969) define a entrevista como a técnica de obter matérias de interesse jornalístico por meio de perguntas e respostas. José Marques de Melo define entrevista, em sua obra Gêneros de Comunicação Massiva como um relato que privilegia a versão de um ou mais protagonistas dos acontecimentos. Nilson Lage (2001), em seu clássico livro A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística, argumenta que a palavra entrevista é ambígua, pois significa tanto diálogo com a fonte, como matéria publicada. Luiz Amaral (1987) comenta que nos dois tipos de entrevista o jornalista funciona como um intermediário do leitor que tem interesse em ambas as abordagens. Diante do entrevistado, o jornalista é a própria representação do seu leitor, ou receptor, isso ● significa que o bom jornalista deve conhecer o seu público para que em ocasiões como a de realizar entrevistas faça perguntas que realmente representem o interesse da maioria. Trata-se de um exercício profissional trabalhoso. Muitas vezes, quanto maior é o interesse do jornal em conseguir a entrevista, menor o do entrevistado em concedê-la, e vice-versa., como matéria publicada. As tipologias da entrevista Diversos autores estruturaram propostas de tipologias para classificar entrevistas. Apresentaremos a seguir as principais. A primeira tipologia que vamos estudar é a proposta por Edgar Morin (1986), que define a entrevista como uma comunicação pessoal, realizada com objetivo de informação e propõe a seguinte classificação: Espetacularização Entrevista-rito, entrevista anedótica Compreensão Entrevista diálogo, neoconfissões Outra proposta de classificação é a desenvolvida por Cremilda http://simulado.estacio.br/alunos/template.asp?pagina=bdq_alunos_avaliacao_parcial.asp&nome_periodo=2020.1%20EAD# Medina (1986), que entende a entrevista como uma técnica de obtenção de informações que recorre ao particular: Espetacularização Perfil pitoresco, inusitado, da condenação e irônico Compreensão Conceitual, enquete, investigativa, confrontação e humanizado “Frank Sinatra está resfriado”, de 1965, é um perfil do cantor e uma referência neste modelo de entrevista. Nilson Lage (2001) também propõe uma classificação. Para ele a entrevista é o procedimento clássico de apuração de informações em jornalismo. É uma expansão da consulta às fontes, objetivando, geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos. Vejamos a classificação proposta por ele: Circunstâncias Ocasional, confronto, coletiva e diagonal Objetivos Ritual, temática, testemunhal e em profundidade Ocasional é a entrevista não programada, ou pelo menos, não combinada previamente com o entrevistado ou sua assessoria. O entrevistado pode dar respostas mais sinceras ou menos cautelosas do que tivesse se programado anteriormente. Confronto o jornalista assume um papel quase que de inquisidor. Essa é uma tática comum em jornalismo panfletário, quando se pretende "ouvir o outro lado" sem lhe dar, na verdade, condições razoáveis de expor seus pontos de vista. Coletiva é o momento em que um entrevistado é submetido a perguntas de vários repórteres, que por sua vez são oriundos de diferentes jornais. Dialogal são as entrevistas por excelência, pois são marcadas com antecedência, e reúnem entrevistados e entrevistador em um ambiente favorável para a realização da entrevista. Ritual foco no que ele tem a dizer sobre determinado tema. Nilson Lage (2001) comenta que as declarações colhidas durante essas entrevistas ou são irrelevantes, ou esperadas, ou ainda mera formalidade a que, por algum motivo, se atribui dimensão simbólica. Temática são as entrevistas que abordam uma temática específica, segundo Nilson Lage (2001), esse tipo de entrevista geralmente consiste na exposição de versões ou interpretações de acontecimentos. Testemunhal de acordo com Nilson Lage (2001), esse tipo de entrevista funciona como um relato do entrevistado sobre algo de que ele participou ou assistiu. Em profundidade não está em um tema específico, ou em um acontecimento em particular, o foco está centrado na figura do entrevistado. Nilson Lage (2001) afirma que a intenção deste tipo de entrevista é compreender a representação de mundo que o entrevistado constrói, uma atividade que desenvolve ou um viés de sua maneira de ser geralmente relacionada com outros aspectos de sua vida. É sempre imprescindível que o jornalista tenha um repertório, ou seja, não fique restrito à informações de uma editoria específica, mas tenha um conhecimento mais abrangente sobre as demais áreas.
Compartilhar