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TEORIA DA CONTABILIDADE 2º/2016 PROFª KEYLLA DENNYSE ESCOLAS DOUTRINÁRIAS 1. CONTISMO Escola Contista A escola contista foi a primeira escola do pensamento contábil, surgiu no século XV, especialmente com a obra de Pacioli e foi impulsionada pelos primeiros livros impressos. As teorias contábeis apresentadas nessa obra permaneceram praticamente inalteradas até o século XVIII. As principais obras relativas a esse período foram: 1458 – Manuscrito de Benedetto Cotrugli; 1494 - Livro de Luca Pacioli. Essa escola do pensamento contábil atravessou um período na qual surgiram muitas sociedades, ocorreu a criação da conta capital (dívida da empresa com o proprietário - passivo) em função da criação das sociedades, bem como a separação da entidade e do proprietário nessa conta. Em relação ao processo de escrituração contábil, o sistema de débito e crédito nessa escola era realizado da seguinte forma: quem recebe deve – débito; quem entrega tem a haver – crédito. Além disso, a escola contista foi impulsionada com os trabalhos dos contistas franceses, especialmente com a teoria das cinco contas de Degranges em 1795, seu principal foco era o comércio, que era considerado a atividade mais importante. As contas utilizadas nessa teoria eram: as mercadorias, o dinheiro, os efeitos a pagar, os efeitos a receber e lucros e perdas. Esse trabalho foi fundamentado no estudo sobre teoria geral da contas, apresentado em 1675 do francês Jacques Savary. Finalmente, nessa escola ocorreu ainda o Início da personificação das contas. Em relação à personificação das contas existiam duas corrente: uma que distinguia três espécies de pessoas: o proprietário, o gerente e os terceiros, e outra que distinguia as pessoas em: proprietário, correspondentes, empregados ou agentes depositários. Os defensores dessa corrente, adotaram como idéia básica o mecanismo das contas, centrando sua preocupação no seu funcionamento, esquecendo-se que a conta é apenas conseqüência das operações que acontecem numa entidade, e que essas operações devem merecer a máxima atenção da contabilidade. Para os criadores da escola contista, a preocupação central da contabilidade era com o processo de escrituração e com as técnicas de registro através das contas. O objetivo das contas era sempre o de registrar uma dívida a receber ou a pagar, coincidindo com a origem do crédito nas relações comerciais. Com o início do regime sócio-econômico, onde os meios de produção passaram a pertencer a qualquer pessoa que possuísse capital, as relações de crédito entre compradores e vendedores experimentaram um grande crescimento, fazendo com que as contas contábeis se constituíssem num dos mais hábeis instrumentos para o registro destas relações. Em 1796, Jones apresentou o modelo inglês de registro baseado em dois livros principais: o diário e o razão e dois livros auxiliares: caixa e armazém (existências). Este autor teve o mérito de ser o primeiro a admitir a necessidade de realizar-se um controle numérico entre os livros principais, somando-se separadamente o diário e o razão para verificar a igualdade de ambas somas. A preocupação com a fidelidade das informações contidas no diário e no razão, revelou a necessidade de uma maior sistematização do processo de registro das operações, com a conseqüente melhoria na qualidade do produto deste processo. Mais tarde, com o surgimento das sociedades com mais de um capitalista, criou-se a conta capital, considerada pelos contistas como uma dívida da empresa para com o capitalista. O Contismo perdeu influência entre os estudiosos da ciência devido à falta de suporte de sua enunciação. A conta não é a causa, mas o efeito que expressa o fenômeno patrimonial. Logo, uma ciência não se dedica ao estudo do efeito, mas da causa como objeto de observação, elaboração, exposição e análise. 2. ESCOLA PERSONALISTA Escola Personalista: Esta escola surgiu como uma reação ao contismo, durante a segunda metade do século XIX (1867), dando personalidade às contas para poder explicar as relações de direitos e obrigações. Para os teóricos do personalismo, as contas deveriam ser abertas tanto para pessoas físicas como jurídicas (pessoas verdadeiras), e o dever e haver representavam débitos e créditos das pessoas a quem as contas foram abertas. Um dos primeiros idealizadores desta teoria foi Francesco Marchi (1822/1871). Mas foi Giuseppe Cerboni (1827/1917) o verdadeiro construtor da teoria personalista. Justificava a personificação das contas por considerar que qualquer operação administrativa, correspondente à gestão de qualquer entidade, assume relevância jurídica em virtude do débito e crédito que provoca. Cerboni fundamentou a teoria personalista nos seguintes axiomas: 1º AXIOMA - Toda azienda deve ser administrada, todas possuem um ou mais proprietários, e estes não podem conseguir a gestão se não entram em contato com agentes e correspondentes. Corolários: 1. pode ser proprietário da azienda um só indivíduo ou diversos constituídos em sociedade; 2. o principal em uma azienda, se não for o proprietário, será sempre um representante seu, conservando este todos os poderes que àquele seriam pertinentes; 3. de direito é o proprietário que exercia a autoridade ou supremacia sobre a azienda. 2º AXIOMA – Uma coisa é desfrutar a propriedade, e outra é administrar. Corolário: quando o proprietário também administra, adquire a dupla qualidade de proprietário e administrador. 3º AXIOMA – Uma coisa é administrar a azienda, e outra é custodiar sua substância e por ela responder materialmente. Corolário: o administrador, tendo o encargo de dirigir e assumir por custódia a substância, será a um só tempo gestor e agente consignatário. 4º AXIOMA – Não se pode criar um devedor sem, simultaneamente, criar-se um credor e vice-versa. Corolário: toda soma derivada de qualquer operação da azienda deve ser registrada em débito e em crédito. 5º AXIOMA – O proprietário, administrando ou não a azienda, é, de fato, credor da substância e devedor das passividades pertinentes àquela, ao contrário do que ocorre com os agentes e com os correspondentes. Corolário: o crédito do proprietário corresponde ao débito dos agentes e dos correspondentes, e vice-versa; o administrador situa-se como em uma balança de débito e crédito, entre os proprietários de uma parte e os agentes e os correspondentes de outra; o administrador não pode ser devedor nem credor da azienda, senão junto como agente consignatário ou correspondente estranho àquela. 6º AXIOMA – O débito e o crédito do proprietário não variam senão em razão de perdas ou lucros, ou ainda por acréscimos ou reduções do capital originário. Corolário: a permuta de elementos do capital da azienda ou a soma de passagens de um agente ou correspondente a um ou outro, se estas forem idênticas, não modificam a situação do proprietário, nem aquela dos agentes ou correspondentes. Portanto, considerada uma disciplina ligada à gestão e ao processo de tomada de decisão. Os principais personagens foram Marchi, Cerboni e Rossi. Em resumo, no início, as contas referenciavam devedores e credores, tão somente, sem menção às variações do patrimônio, porquanto este estava sob a vigilância do dono. Com a evolução do comércio e o método das partidas dobradas, aplicaram-se os conceitos de dever e haver, como indicativos das variações positivas e negativas dos elementos componentes do patrimônio. A classificação das contas obedecia a uma estrutura muito simples, qual seja: PROPRIETÁRIO – todo o Patrimônio Líquido; AGENTES CONSIGNATÁRIOS – a quem eram confiados a entrega de bens e valores materiais - administradores; AGENTES CORRESPONDENTES – relação de débito e créditos com terceiros. 3. CONTROLISMO A Escola Veneziana de Fábio Besta, que seguiuos estudos de Villa, promoveu grande reação às idéias personalistas de Cerboni. O mestre Fábio Besta, antes de enunciar o Controlismo, já se valia de grande influencia com o Neocontismo, que, como corrente que retomava o Contismo, dando-lhe vestes novas (de caráter científico e não mais o empírico de Bornacinni) e como a primeira reação ao Personalismo, se preocupava mais em saber o que significava a conta e qual a sua verdadeira expressão em meio dos estudos contábeis do que com a forma de apresentação da mesma conta, ou seja, preocupava-se com o conteúdo da conta, reagindo contra os postulados de Cerboni. À medida que ganhava terreno, Fábio Besta abandonava a tradicional Escola do Contismo e estabelecia seus próprios princípios, os da Escola Controlista.13 Fábio Besta pôde propagar suas idéias nos debates do Congresso de Contabilidade realizado em 1879, em Roma, onde se encontravam, dentre outros, Giuseppe Cerboni e Giovanni Rossi. Em 1880, quando da abertura do ano acadêmico 1880-1881, em seu memorável discurso, apresentou a ciência contábil como aquela que trazia como objeto de estudo o “controle econômico das aziendas”, dividindo este em três funções a saber: controle antecedente, controle concomitante e controle subseqüente. Um dos grandes pontos de divergências entre as escolas de Besta e Cerboni era quanto à delimitação do patrimônio aziendal. Como já dito, para Cerboni o patrimônio não era apenas os Bens, somando-se a estes os Direitos e as Obrigações; para Besta, o patrimônio é o agregado de valores atribuíveis aos bens, negando o conjunto de direitos e obrigações como conceito, conforme podemos atestar: O direito de possuir uma coisa ou de havê-lo por isto só não vale. O legítimo proprietário conserva todos os direitos sobre as coisas ainda quando estas lhe são roubadas, mas, se não há nenhuma possibilidade de recuperá-las, aquelas coisas nada podem valer. Quem tem direito de exigir uma soma, conserva aquele direito integral ainda que o devedor seja insolvente, mas se não há nenhuma possibilidade de o credor recuperar em todo ou em parte o que lhe é devido, aquele direito em nada aumenta a sua riqueza. 14 As idéias de Besta, apesar de seus seguidores, dentre eles Vittorio Alfieri, Pietro Rigobon, Francesco de Gobbis, Vincenzo Vianelo, Pietro D’Alvise e o mais importante de todos, Carlo Ghidiglia, não encontraram grandes repercussões na Itália, berço de todas suas argumentações, nem em outros países. O maior mérito foi a reação provocada contra o Personalismo procurando dar o máximo à riqueza patrimonial como algo concreto, real, objeto de indagações próprias, ainda que, por finalidade, a entendesse como controle; a localização da Contabilidade no campo material e do valor enfatiza a necessidade de abandonar-se o raciocínio jurídico dos personalistas para situar-se em uma realidade materialista de maior significação. Assim como o Personalismo teve seu grande gênio, Giovanni Rossi, o Controlismo teve Carlo Ghidiglia, que admitia a Contabilidade como ciência, tendo a seu cargo regular todas as ações que se relacionam com a riqueza e com as necessidades humanas, estabelecendo uma hierarquia para o estudo dos fenômenos: estudo da riqueza, estudo das funções da riqueza e estudo dos agregados da riqueza. Esta escola é a base para a doutrina contábil de nossos dias e, também, para outras correntes do pensamento contábil, como o aziendalismo e o patrimonialismo. De acordo com tal corrente de pensamento, a contabilidade não cuida apenas de 3/5 contas, personalistas ou não. A Contabilidade, nessa ótica, é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação e de controle, relativas aos atos e fatos da administração econômica. Fundamento, pois, dessa corrente, é que a Contabilidade deve controlar a riqueza patrimonial. Para Fábio Besta (1880) a contabilidade representava a ciência do controle econômico. Este autor considerava que o controle econômico se compunha de duas partes: uma responsável pelo registro contábil dos momentos da administração econômica e sua efetivação por meio de escrituração e a outra representava a revelação das partidas dobradas dos fatos administrativos em conexão com os critérios organizacionais articulados de acordo com os mecanismos de controle inerentes à escrituração contábil. Na visão dos controlistas, os balanços, as contas, os orçamentos, as demonstrações de resultados, etc., representavam uma forma de controle da riqueza dos organismos econômicos. Besta entendia que a contabilidade tinha a missão de atender as seguintes três fases: primeiro estabelecer um ponto de partida para tornar possível a análise dos resultados da gestão; em segundo lugar acompanhar a gestão evidenciando os fatos ocorridos que julgar-se o trabalho administrativo e a terceira fase demonstrar os resultados finais da administração econômica para a devida aprovação ou rejeição da gestão. Igualmente considerava que o patrimônio deveria ser representado por uma grandeza mensurável e variável, isto é, demonstrado por uma soma de valores positivos e negativos. Besta classificou as funções de controle econômico (ou de contabilidade) conforme o momento em que ocorriam com referência aos fatos administrativos e de acordo com a sua natureza. Segundo o momento de ocorrência, as funções de controle são: antecedentes, concomitantes e subsequentes. Antecedentes são os contratos, estatutos, regulamentos, atas, inventários, etc. Concomitantes são os controles que se caracterizam pela vigilância das tarefas determinadas para cada pessoa. Esta deve ser feita por quem exerce a autoridade direta, pelos administradores ou outras pessoas indicadas para tal fim, visando a proteção da entidade. Para tal, podem ser utilizados cartões, apontamentos, medidores, etc. A função subsequente é o exame dos fatos em seus aspectos jurídicos e econômicos, ou seja, o confronto entre o que foi realizado com o que deveria ter sido feito. Os instrumentos usados são os documentos referentes aos dois controles anteriores, os registros contábeis, os balanços, as prestações de contas, o exame destas prestações e sua aprovação ou rejeição. O controle econômico pode ser considerado com uma das finalidades dos sistemas de escrituração, não abrangendo, contudo, em sua totalidade o objeto da contabilidade. Aspectos relativos à formação dos custos, realização de receita, equilíbrio financeiro e outros que provam variações patrimoniais, são objeto de operações de controle, porém, a contabilidade não se limita unicamente a esses aspectos. O controle é apenas um instrumento de apoio e não um fim ou objeto da contabilidade. As contribuições desta escola à comunicação contábil foram: o controle significava um melhor estudo substancial das operações da entidade para estabelecer se as mesmas estavam sendo desenvolvidas de acordo com critérios de conveniência econômica que devem guiar a conduta de uma entidade. A informação contábil servia como uma base para a análise da gestão passada e como instrumento de informação para previsões futuras. O desenvolvimento sistemático de princípios que informavam sobre o patrimônio das entidades, sobre seus inventários, avaliações de bens, orçamentos e demonstrações contábeis. Os principais personagens desta escola foram: Besta, Alfieri, Ghidiglia, D’Alvise e Lorusso. 4. REDITUALISMO Essa corrente de pensamento foi desenvolvida na Alemanha, produzindo efeitos em outros países da Europa. SÁ (1997:92) lembra que: “Os reditualistas tiveram como princípio admitir que o lucro é o que mais preocupa como objeto de estudo, sendo o fenômeno básico a ser observado, embora com a relatividade necessária.” Gobbis apud SÁ (1997:89) define redito como: “O redito é representado por aquela quantidade de riqueza que periodicamente aflui a unidade econômica ou pessoa determinadae que pode ser consumido sem diminuição da riqueza originária.” Dentre os estudos constatados nessa linha do pensamento contábil, destaca-se o feito por Eugen Schmalenbach, atinentes a: - Estudo das empresas e seus resultados; - Fluxos de comparações de diversos estados patrimoniais, com destaque para custos; - Destacar que o sucesso ou o fracasso de uma empresa depende da razão direta do volume de lucros que possa ser gerado; - Demonstrar que o tempo do lucro não coincide com o ano civil, posto que o lucro tem o seu próprio tempo, que é identificado como um fenômeno característico e essencial. 4/5 Schmalenbach apud SÁ (1997:93) enfatiza que: “Não é o balanço, mas a conta de Lucros e Perdas a quem corresponde a preferência na formalização do encerramento do exercício. É a conta de Lucros e Perdas a que determina o conteúdo do balanço e não o inverso.” Era a corrente de pensamento que enunciava ser o resultado (lucro ou prejuízo) o objeto de estudo da contabilidade, ou seja, o reconhecimento da perda ou do lucro como fonte principal da continuidade da atividade empresarial. Os reditualistas estudavam a dinâmica da riqueza patrimonial, mas desprezavam a estrutura dos elementos patrimoniais. Conseguiram desenvolver-se num país socialista, embora a corrente estivesse voltada para o capitalismo. Schmalenbach visualizava os fenômenos circulatórios da riqueza patrimonial em sua dinâmica, dando a essa dinâmica o aspecto temporal não coincidente com o ano calendário, mas com o ciclo operacional. O julgamento do rédito deve ser uma medida relativa entre o que o capital oferece ao empreendedor e o que a azienda oferece à sociedade em que se encontra. Os reditualistas tiveram a propriedade de reconhecer o valor da consideração dos fluxos em contabilidade, ou seja, do estudo de uma dinâmica patrimonial, da relatividade do lucro, da realidade empresarial. Eembora admitissem sob a denominação de economia da empresa todos esses princípios, em realidade não fizeram senão desenvolver seus principais raciocínios sob a ótica patrimonial, contábil, inclusive com um sem número de exemplos práticos. 15 O reditualismo não ganhou força como escola pois diversos apreciadores das enunciações de Schmalenbach criticavam seu objeto de estudo argumentando que o rédito é o efeito da dinâmica patrimonial e não a causa. 5. AZIENDALISMO Motivados pela ansiedade de se encontrar o campo e o objeto de estudos da Ciência Contábil, os pesquisadores da época evidenciaram o surgimento de nova corrente que enunciava existirem os sistemas de ciências que cuidavam de fenômenos ocorridos nesse mundo particular, o que inspirou o Aziendalismo. O Aziendalismo, antes de se desenvolver como grande escola de pensamento italiano, teve suas origens com pesquisadores de outras partes do mundo: da França, Courcelle- Seneuil; da Rússia, Leo Gomberg; da Suíça, Johann Friedrich Schar; e da Alemanha H. Nicklisch e Rudolf Dietrich. Courcelle acenou para um complexo entendimento de toda a empresa como objeto comum científico, que anteriormente já era preconizado por Cerboni e sustentado por Rossi, quando admitiam um raciocínio de unidade de funções dentro da azienda. Foi Gomberg o primeiro a despertar para uma economia aziendal, que mais tarde se tornaria, na Itália, a corrente aziendalista. Gomberg tomou como objeto de estudos a riqueza impessoal ou administrativa, deu foco à economia e denominou a Contabilidade como Economologia, tendo como função estudar todos os fatos da gestão patrimonial. Gomberg estabeleceu a relação de causa e efeito para os fenômenos patrimoniais, relacionando o efeito ao débito e a causa ao crédito. Enunciava também que o Ativo era o efeito do Passivo, que por sua estrutura era a causa. Rudolf Dietrich acrescentou, em seus estudos do aziendalismo socialista, a visão de dinâmica patrimonial. Em sua visão idealista, entendia que os fatores homem, natureza e trabalho só poderiam estar organizados para atender o social, e que o lucro deveria ser considerado como um fator patológico.16 Tendo como base a economia aziendal, a Escola Veneziana enunciava o Aziendalismo, com Alberto Ceccherelli e com seu principal líder italiano, Gino Zappa, que teve suas raízes nos pensadores alemães. Os aziendalistas se preocupavam em estudar o conjunto de ciências que tratavam da azienda como campo de aplicação. Compunha-se da Administração, da Organização e da Contabilidade, sendo cada ciência apenas parte desse conjunto. De acordo com seus adeptos, os fenômenos a estudar são os aziendais, e admite a Contabilidade apenas como levantamento de fatos patrimoniais, restringindo-lhe o campo. 17 Gino Zappa defendia a economia aziendal, limitando a Contabilidade aos levantamentos ou relevações da riqueza, mas não apresentou essência para justificar tal classificação. Considerava que isolar os fenômenos é um erro, pois se formam por meio de um complexo que deve ser estudado, bem como condenava a elevada importância dada à conta, que na realidade, por si só, não traz informação alguma, sendo simples instrumento de registro que deve ser agrupado com outros elementos para que se possa extrair a informação. Para Zappa, o capital é composto por um fundo de valores e não somente por moeda. Zappa ainda afirma que na Economia é o rédito que faz o capital e em Contabilidade é o capital que faz o rédito.18 Vincenzo Masi se revelou absolutamente contra o Aziendalismo, alegando que o objeto de estudo da Contabilidade é bem mais amplo do que apenas o levantamento quantitativo da riqueza administrativa. Assim como Masi, pensadores de diversos países não concordaram com a observação apenas quantitativa dos fenômenos, acenada pelos economistas aziendais: a qualitativa também deve ser considerada na análise contábil. Frederico Herrmann Jr. relata em sua obra Contabilidade Superior:19 GINO ZAPPA aparentemente regressou ao formalismo quando afirma que aceita como primeira aproximação o conceito vulgar de que a Contabilidade estuda os processos seguidos para a demonstração dos resultados da gestão. Entretanto, é preciso que se note que esse autor subordina as formas ao estudo prévio dos fatos e às condições em que eles se desenvolvem para que as formas reflitam exatamente as causas e os efeitos dos fenômenos da administração econômica. ZAPPA dedicou especial atenção ao estudo dos réditos aziendais. Embora esse aspecto ocupe lugar proeminente nos estudos contábeis, não é único. Se quiséssemos aceitar a premissa de que a Contabilidade deve adaptar-se aos fatos que se pretende demonstrar, encontraríamos tantos objetos especiais quantas fossem as variáveis que produzem mutações econômicas do patrimônio. Não teríamos a síntese da caracterização da ciência contábil. (...) GINO ZAPPA, como representante máximo da corrente aziendalista, cujos precursores foram CERBONI e FÁBIO BESTA, teve o mérito de fazer distinção entre as três doutrinas que formam o conteúdo da economia aziendal, colocando num plano só a Administração, a Organização e a Contabilidade. Não admite o estudo científico da Contabilidade sem o conhecimento concomitante das doutrinas que, ao seu lado, formam a economia aziendal. Considera como conteúdo verdadeiro da Contabilidade os fatos da gestão, representados mediante os métodos, sistemas e processos de escrituração, que constituem o instrumental da ciência. Como fim imediato da Contabilidade, ZAPPA coloca a determinação dos réditos, concepção que reputamos restrita, pois há outros fins importantes que a Contabilidade observa e estuda. Encontramos outro genial aziendalista italiano, Pietro Onida, que considerava objeto da economia aziendal o estudo da vida econômica da azienda relativo à organização e gestão. Para Antônio Lopes de Sá, os aziendalistas cometeram o mesmo erro dos personalistas,pois, enquanto os personalistas nos entregavam aos braços do Direito, os aziendalistas fazem-no aos da Economia. 20 Cerboni e Besta dirigiram seus estudos ao campo das aziendas, acrescentando a organização, administração e o controle, à parte científica da contabilidade. Gino Zappa, como máximo representante desta escola, colocou num só plano a Gestão, a Organização e a Contabilidade, não admitindo o estudo científico da contabilidade sem o conhecimento concomitante das doutrinas que, ao seu lado, formam a economia aziendal. A doutrina da gestão está voltada para a definição de um conjunto de princípios destinados a servir de instrumento de auxílio à ação da gestão. A doutrina da organização está direcionada para o estudo da constituição e harmonização do organismo pessoal da entidade. A contabilidade tem como função a demonstração dos resultados da gestão, através da observação adequada ao estudo quantitativo dos fenômenos empresariais. Outro ponto importante do pensamento doutrinário de Zappa foi o de desenvolver um sistema teórico contábil a partir do resultado. Segundo ele, a contabilidade deveria ocupar-se da demonstração dos fatos da gestão e não se resumir apenas a um simples método de registro. Para que esta demonstração fosse possível, todos os fatos a demonstrar deveriam ser conhecidos. Tais fatos são fenômenos econômicos que, normalmente, fazem parte de um fluxo de trocas monetárias entre a entidade e as economias externas. A vida econômica e financeira da entidade somente será plenamente conhecida a partir da total revelação destes fatos pela contabilidade. A finalidade desta demonstração é conhecer os custos e receitas provenientes da gestão empresarial, ou seja, conhecer o resultado. Na concepção de Zappa, o resultado é definido como o acréscimo ou decréscimo sofrido pelo capital em determinado período administrativo, como conseqüência das operações da gestão. O resultado e o capital representam duas diferentes visões do mesmo fenômeno. O capital é a representação do conjunto de elementos do ativo e do passivo que irão gerar o resultado da entidade, ao passo que o resultado é a representação das mudanças dos componentes patrimoniais em um determinado período. Conhecer periodicamente o resultado do período é indispensável para a análise do desempenho da entidade e de seus dirigentes, o que levou Zappa a dedicar grande atenção a este aspecto em seus estudos. Para ele, a gestão de cada exercício, é influenciada positiva ou negativamente pelos acontecimentos que tiveram lugar em períodos anteriores e do que venha a ocorrer em períodos subsequentes. Para Zappa tanto a separação exata dos resultados de vários exercícios como tentativa de determinar com exatidão os custos de produção, é uma utopia, já que existem operações em curso no fim do exercício e no início do próximo exercício, que colaboram com a formação do resultado, ou seja, operações que iniciaram em exercícios anteriores e operações que se encerrarão em períodos posteriores. Pode-se resumir as contribuições desta escola para a comunicação contábil mencionando que para seus representantes: A teoria contábil deveria ser capaz de interpretar os acontecimentos ligados a vida da entidade e demonstrar a formação do resultado e suas relações com os fatos administrativos e com todo o contexto em que a entidade está inserida. O resultado era considerado o mais importante fenômeno econômico de uma entidade. O conhecimento e demonstração do resultado da gestão empresarial representava o principal objetivo da contabilidade. Os expoentes máximos desta escola foram Zappa e Fibonacci. O aziendalismo considera que o verdadeiro conteúdo da contabilidade são os fatos da gestão, representados mediante os métodos, sistemas e processos de escrituração, que constituem o instrumental da ciência. É o primeiro momento em que se deixa de lado o foco em contas e em controles e se passa a observar a contabilidade dentro de uma unidade empresarial (azienda) que é impactada, constantemente, pelos fatos da gestão 6. PATRIMONIALISMO Sua primeira formulação se deu em 1923, com Vincenzo Masi, que considerava como objeto de estudo da Contabilidade os fenômenos do patrimônio aziendal, dividindo seus estudos em estática patrimonial, dinâmica patrimonial e relevação ou levantamento patrimonial. Para ele, a estática patrimonial examinava a estrutura do grande sistema da riqueza aziendal, a dinâmica patrimonial tratava da movimentação dessa estrutura, quer sob o aspecto quer de qualidade dos elementos, quer de suas expressões de valor, sendo o levantamento patrimonial, a base racional que permitia ter informações sobre tais relações e aspectos, mas de maneira científica. Em 1924 com seu artigo “A pretesa bancarotta scientifica della Ragioneria”, publicado na Revista Italiana di Ragioneria, escreveu: 21 Se examinarmos os fenômenos fundamentais de contabilidade, não podemos deixar de reconhecer que requerem indagações acuradas; não se pode negar que se torna necessário observá-los, expô-los procurar explicá-los; depois, munidos dos ensinamentos oferecidos pelas pesquisas feitas com o subsídio de métodos especiais de investigação, próprios das ciências experimentais, daí retirar normas de prática aplicação a casos concretos. Ora, os fenômenos dos custos, das receitas, do rédito, das entradas e saídas financeiras, para lembrar só alguns do mais evidentes fenômenos contábeis já por nós referidos, são todos investigados em suas fases de constituição e de evolução e apresentam problemas que sempre se apresentaram e sempre se apresentarão. Em 1926, na Revista Italiana di Ragioneria, publica o artigo “A Contabilidade como Ciência do Patrimônio”. Masi teve como inspiração as obras de Besta, embora enunciasse seu próprio objeto de estudo. O Patrimonialismo só tomou forma apurada e teve divulgação, que lhe foi peculiar, fora da Itália, pois o ambiente da época não lhe favorecia com tantas idéias preconizadas pelos aziendalistas que formaram uma forte escola. Masi adotava a posição de que o mais importante como objeto de estudo é a essência dos fatos e não a sua forma de apresentação, divergindo com essa idéia fundamental os estudos feitos pelas demais escolas de pensamento. Masi argumentava: 22 A concepção de Contabilidade como ciência do patrimônio não destrói, de fato, as pesquisas do passado mas, confiando a Contabilidade não só o estudo do levantamento patrimonial, mas também e sobretudo aquele do objeto deste levantamento - o patrimônio aziendal, observado nos seus aspectos estático e dinâmico -, acresce ao conteúdo a importância e a dignidade científica. A Contabilidade, de fato, sempre estudou o patrimônio, mas as suas indagações foram no campo teórico, primeiramente limitadas aos estudos dos instrumentos de levantamento patrimonial e sucessivamente se passou ao estudo do objeto de tais levantamentos. Masi enunciava que se deve dar importância não somente ao aspecto quantitativo do patrimônio como também ao qualitativo, evidenciando que muito se extrai da informação sobre o estado patrimonial se forem observados os aspectos citados cumulativamente, não se fazendo distinção entre eles. Outra importância dada por Masi era a distinção dos tipos de aziendas em empresas, aquelas destinadas à obtenção do lucro e as instituições com fins ideais. Também se preocupou em conceituar o capital como um fundo de riqueza em constante movimentação, dividindo sua estrutura em capital fixo, que é destinado ao uso produtivo, e circulante que é destinado à realização do objetivo aziendal, evidenciando as suas origens sob a forma de capital de terceiros ou de próprios. Outros pensadores se destacaram além de Masi, embora grande parte deles se referenciem às idéias precursoras do grande gênio dessa escola. Vejamos alguns destaques doPatrimonialismo. 2.8.1 Jaime Lopes Amorim e sua Escola do Porto Com características próprias, torna públicas suas idéias em 1929. Sua principal preocupação foi a função do equilíbrio patrimonial e tomou tal posição como a que forma o objeto de estudos da Contabilidade. Entendeu ele que o movimento que gera o fenômeno patrimonial nasce da ação administrativa e que a sua finalidade é a preservação de um estado de equilíbrio.23 O Patrimonialismo de Lopes Amorim considerava, além de suas leis, as hipóteses quanto ao que ocorria com a situação líquida da empresa, divergindo de Masi, pois enfocava como equilíbrio as situações de estática patrimonial, como podemos observar: Ao equilíbrio patrimonial expresso na situação líquida poder-se-á dar o nome de equilíbrio quantitativo integral, visto que é o somatório de todas as posições de equilíbrio quantitativo elementar ou parcial, isto é, dos diferentes elementos patrimoniais.” 24 2.8.2 Gonçalves da Silva, a Escola de Lisboa e o Patrimonialismo Seus conceitos doutrinários ficavam algumas vezes entre o Aziendalismo de Zappa e o Patrimonialismo de Masi. Gonçalves da Silva tinha convicção de que todas escolas se interligavam. Era de pensamento predominantemente patrimonialista, e enunciava: A Contabilidade – como é sabido – não se distingue apenas pelos processos de notação ou revelação utilizados. Caracteriza-se também pela natureza dos fenômenos que lhe cumpre revelar e pelos objetivos da mesma revelação. Ora, esta disciplina – demonstra-o toda a sua história – anda irreversivelmente ligada às idéias de riqueza, de gestão, de prestação de contas etc. Podemos defini-la como uma forma de observação econômica e, mais precisamente, como um conjunto de processos e de preceitos atinentes à classificação, ao registro e ao controle dos valores sujeitos a uma gestão, ou seja, dos valores integrantes de uma fazenda. As grandezas com as quais lidam os contabilistas (entradas, saídas e existências; custos, proveitos e resultados etc.) derivam de operações ou acontecimentos que, de qualquer modo, modificam a composição ou o valor de um patrimônio. Do ponto de vista do administrativo, o aspecto patrimonial das operações efetuadas sobreleva todos os demais. 25 2.8 3 O brasileiro Francisco D’Auria e seu Patrimonialismo Em 1929, enunciava em sua tese Tendências Positivas em Contabilidade suas idéias patrimonialistas, tomando como base as idéias de Fábio Besta (Controlismo). Admitia que a finalidade dos estudos devia ser a da administração econômica para um controle efetivo. Desde 1928 seus estudos se voltaram para a prática contábil com vestes patrimonialistas, mas somente em 1949, com sua obra Contabilidade Pura e, posteriormente, com a obra Cinqüenta Anos de Contabilidade, que pôde ele evidenciar, com bastante clareza, sua verdadeira vocação. Sua linha de pesquisa foi seguida por vários mestres e escritores brasileiros, dentre eles Frederico Herrmann Júnior, Hilário Franco, Alberto Almada Rodrigues, Américo Matheus Florentino, Álvaro Porto Moitinho, Tolstoi C. Klein, Olívio Kooliver. 2.8.4 Frederico Herrmann Júnior e o Patrimonialismo Com tendências iniciadas no Aziendalismo de Zappa, considerou ser o patrimônio o objeto de estudo da Contabilidade, aliando-se assim ao pensamento de Masi, embora tentasse conciliar as duas escolas de pensamento. Conceitua o patrimônio em sua obra Contabilidade Superior: 26 O patrimônio é uma grandeza real, cuja constituição íntima deve ser conhecida e que se transforma e evolui sob o influxo da atividade humana. O capital representado pela riqueza acumulada deve ser conservado e renovado para manter sua utilidade potencial. Considerado sob o ponto de vista da economia aziendal, o capital não se constitui de certo bem representativo. Sua expressão resulta da utilidade que todos os bens possuídos por um indivíduo, ou por uma união de indivíduos, têm como elementos de consumo ou instrumentos de produção de outras utilidades. Neste processo evolutivo a constante convencional é a medida monetária e, por conseguinte, o movimento consiste fundamentalmente numa procura de recursos financeiros a serem aplicados em bens destinados à circulação, mediante um acréscimo de utilidade a ser distribuído sob a forma de rédito entre os agentes da produção econômica.” Resumindo, representa a corrente do pensamento contábil que considera o patrimônio aziendal como objeto da Contabilidade, observado sob o aspecto da finalidade aziendal. Baseia-se no fato de ser o patrimônio uma grandeza real que se transforma e evolui constantemente sob o fluxo da atividade humana, de tal sorte que o patrimônio em sua marcha constante visa o engrandecimento da riqueza administrada, com aumentos sucessivos de réditos, produzindo novos réditos. De acordo com essa corrente do pensamento contábil, as contas dividem-se em: CONTAS PATRIMONIAIS – Contas do Ativo, Passivo e Patrimônio Líquido; CONTAS DE RESULTADO – Despesas e Receitas. No Brasil, a corrente de pensamento patrimonialista foi representada por Francisco D’Auria, Herrmann Jr., F.Nepomuceno, e Álvaro Porto Moitinho entre outros.
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